Regularização de vazões
A variabilidade temporal da precipitação e, conseqüentemente, da vazão dos rios freqüentemente origina situações de déficit hídrico, quando a vazão dos rios é inferior à necessária para atender determinado uso. Em outras situações ocorre o contrário, ou seja, há excesso de vazão.
Regularização
A solução encontrada para reduzir a variabilidade temporal da vazão é a regularização através da utilização de um ou mais reservatórios. Os reservatórios têm por objetivo acumular parte das águas disponíveis nos períodos chuvosos para compensar as deficiências nos períodos de estiagem, exercendo um efeito regularizador das vazões naturais.
Reservatório
Os reservatórios tem por objetivo acumular parte das águas disponíveis nos períodos chuvosos para compensar as deficiências nos períodos de estiagem, exercendo um efeito regularizador das vazões naturais.
Em geral os reservatórios são formados por meio de barragens implantadas nos cursos d‘água. Suas características físicas, especialmente a capacidade de armazenamento, dependem das características topográficas do vale em que estão inseridos.
Volume morto
nível mínimo operacional
Volume morto
parcela de volume que não está disponível para uso corresponde ao nível igual ao mínimo operacional
2) ocorre instabilidade no controle de vazão e pressão
na turbina diminuição da sua vida útil
Abaixo dele:
1) pode entrar de ar nas turbinas cavitação
Volume morto nível mínimo operacional nível máximo operacional Volume útil
Nível máximo operacional
Cota máxima permitida para operações normais no reservatório
O nível máximo operacional define o volume máximo do reservatório
Cota máxima permitida para operações normais no reservatório Níveis superiores a este ocorrem em Situações extraordinárias: comprometem a segurança da barragem
Volume morto nível mínimo
operacional nível máximo
operacional Volume útil
nível máximo maximorum
Volume útil
A diferença entre o volume máximo e o volume Morto
parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para regularização de vazão
Sistema WGS 84 Diferença +/- 5 m
Altimetria da área de um possível
reservatório no Rio Gravataí - RS
Cota: 6,5 m
Área inundada: 32 ha Volume: 0,1 Hm3
Cota: 7 m
Área inundada: 200 ha Volume: 0,7 Hm3
Cota: 8 m
Área inundada: 815 ha Volume: 5,7 Hm3
Vazão regularizada: 1,0 m3/s
Cota: 9 m
Área inundada: 1.569 ha Volume: 17,6 Hm3
Vazão regularizada: 1,5 m3/s
Cota: 10 m
Área inundada: 3.614 ha Volume: 43,6 Hm3
Cota: 11 m
Área inundada: 7.841 Volume: 101 Hm3
Cota: 12 m
Área inundada: 10.198 ha Volume: 191 Hm3
Cota: 13 m
Área inundada: 12.569 ha Volume: 305 Hm3
Cota: 14 m
Área inundada: 14.434 ha Volume: 440 Hm3
Cota: 15 m
Área inundada: 16.353 ha Volume: 594 Hm3
0 100 200 300 400 500 600 700 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Cota (m WGS84) V o lu m e (H m 3 ) o u Á re a (k m 2 ) Volume Hm3 Área (km2)
Cota (m) Área (km2) Volume (hm³) 772,00 0,00 0,00 775,00 0,94 0,94 780,00 2,39 8,97 785,00 4,71 26,40 790,00 8,15 58,16 795,00 12,84 110,19 800,00 19,88 191,30 805,00 29,70 314,39 810,00 43,58 496,50 815,00 58,01 749,62 820,00 74,23 1.079,39 825,00 92,29 1.494,88 830,00 113,89 2.009,38 835,00 139,59 2.642,00 840,00 164,59 3.401,09 845,00 191,44 4.289,81
Outras características importantes são as
estruturas de saída de água, eclusas para
navegação, escadas de peixes, tomadas de água
para irrigação ou para abastecimento, e eventuais
estruturas de aproveitamento para lazer e
recreação.
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica, abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a passagem de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.
Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a erosão excessiva.
A vazão de um vertedor livre (não controlado por comportas) é dependente da altura da água sobre a soleira, conforme a figura e a equação ao lado.
Q é a vazão do vertedor; L é o comprimento da soleira; h é a altura da lâmina de água sobre a soleira e C é um coeficiente com
valores entre 1,4 e 1,8. É
importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da água
Vazão de Vertedor
2 3h
L
C
Q
Onde A é a área da seção transversal do orifício; g é a aceleração da gravidade; h é a altura da água desde a superfície até o centro do orifício e C é um coeficiente empírico com valor próximo a 0,6.
Semelhante à equação do vertedor, destaca-se que a vazão de um orifício tem uma relação não linear com o nível da água.
h
g
2
A
C
Q
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. A equação de vazão de um descarregador de fundo é semelhante à equação de vazão de um orifício, apresentada abaixo:
e
H
Q
P
P = Potência (W)
= peso específico da água (N/m3)
Q = vazão (m3/s)
H = queda líquida (m)
e = eficiência da conversão de energia hidráulica em elétrica
e depende da turbina; do gerador e do sistema de adução
0,76 < e < 0,87
Energia Assegurada é a energia que pode ser suprida por uma usina com um risco de 5% de não ser atendida, isto é, com uma garantia de 95% de atendimento.
Numa usina com reservatório pequeno, a energia assegurada é definida pela Q95
A empresa de energia será remunerada pela Energia Assegurada
40 m3/s
Curva de permanência
de vazões
O volume útil está diretamente relacionado à
capacidade de regularizar a vazão.
Se o volume útil é pequeno, o reservatório
não consegue regularizar a vazão e a usina é
chamada “a fio d’água”
• Equação da continuidade
Q
I
t
S
Balanço Hídrico de reservatórios
• Intervalo de tempo curto: cheias
e
H
Q
γ
P
excesso déficite
H
Q
γ
P
Vazão Q95 – energia assegurada
O volume útil está diretamente relacionado à
capacidade de regularizar a vazão.
Se o volume útil é pequeno, o reservatório não
consegue regularizar a vazão e a usina é chamada
“a fio d’água”
Volume útil x Vazão média afluente
O regime hidrológico naquele trecho
praticamente não é alterado
• Equação da continuidade
I
Q
t
S
Balanço Hídrico de reservatórios
• Intervalo de tempo curto: cheias
• Intervalo de tempo longo:
dimensionamento
Lei de Regularização:
Costuma-se chamar de lei de regularização a função:
Onde:
Qr (t) = vazão de regularização = Qdemanda Qm = vazão média = (1/n). Qnaturais,
para n = no de meses
Conhecidas as vazões naturais [Qi(t)] e a lei de regularização y(t), a vazão Qr e a capacidade mínima do reservatório podem ser determinadas.
m r
Q
t
Q
t
y
(
)
(
)
y(t) ≤1Regularização de Vazões
Na figura acima o período entre Abril e Setembro as vazões naturais Qi são menores que a vazão de regularização Qr.
Há necessidade de se armazenar água para atender a vazão de regularização no período mencionado
J F M A M J J A S O N D
Qr Qi
Regularização de Vazões
O volume de armazenamento deve ser igual ao volume do período Abril a Setembro que é a área achurada na figura abaixo.
J F M A M J J A S O N D
Qr Qi
Regularização de Vazões
Matematicamente, a capacidade do reservatório é a área achurada que é dada pela área do retângulo – a área sob a curva das vazões, i.e.,
Área do retângulo = O volume necessário Vn para manter a vazão Qr durante estes meses é :
Área sob a curva das vazões: O volume afluente Va ao reservatório neste período é:
E a capacidade (Cr) mínima do reservatório:
)
( ABR MAI JUN JUL AGO SET
r n Q t t t t t t V set set ago ago mai mai abr abr mai mai abr abr a Q t Q t Q t Q t Q t Q t V a n r V V C
Regularização de Vazões
Considerando o tempo do mês constante, pode-se escrever:
Onde:
Q é em m3/s;
t é o tempo de um mês em segundos, ou seja, t=2,592 . 106 s = 30x24x3600 s;
n é o número de meses em que Qr > Qa.
)
(
r ar
t
n
Q
Q
Regularização de Vazões
A máxima vazão que pode ser regularizada é a
vazão média da bacia ou y(t) = 1.
Suponha que as vazões naturais fossem
acumuladas no tempo N (figura abaixo).
t (mês)
Qa acumuladas Q
a
N
Regularização de Vazões
A tangente do ângulo é a vazão média tg() = Qa / N = Qm t (mês) Qa acumuladas Qa N 1 Qr1 2 Qr2 Se Qr > Qm então o reservatório não vai atender a demanda total todo o tempo porque Qr > Qa
Volume do Reservatório
• O volume necessário deve ser o ideal para que a demanda seja suprida em todo o ano.
• O volume em azul é o que sobra por mês;
• O volume em vermelho é que falta por mês.
J F M A M J J A S O N D
Vmorto Vi Vnecessário
Diagrama de Massas ou de Rippl
O diagrama de massas ou diagrama de Rippl é definido como a integral do hidrograma mensal.
É um diagrama de vazões ou volumes acumulados, resultando, geralmente, num gráfico como o mostrado na figura abaixo, o qual é conhecido como
diagrama de massas ou de Rippl. VAC(m3)
Diagrama de Massas ou de Rippl
• As tangentes em cada ponto do diagrama de massas, em volume, dão as
vazões médias no intervalo de tempo considerado.
t (meses) t1 t 2 T A C Período crítico B D Va, Vr acumulados
Diagrama de Massas ou de Rippl
• Supondo que y(t) = 1 ou Qr = Qm, pode-se ver que as retiradas acumuladas de B a C são maiores que as afluências, deplecionando o reservatório no período; • Desse modo, os pontos B e C são críticos e podem ser utilizados para definir a
capacidade do reservatório t (meses) t1 t 2 T A C Período Crítico B D Va, Vr acumulados
Diagrama de Massas ou de Rippl
• O Volume do reservatório para regularizar Qr = Qm é dado por:
Vr = 1 + 2 t (meses) t1 t2 T 1 2 1 A C Período crítico B D Va, Vr acumulados
onde
e
representam valores médios da
vazão afluente e defluente de reservatório ao
longo do intervalo de tempo ∆t.
_ _
Q
I
t
S
S
t t t
Discretizada
_ I _ Qsaídas
entradas
S
S
tt
t
sujeita às restrições 0 < S
t+∆t< V
máx;
t
Q
t
I
V
V
t
Q
t
I
V
i 1 i
V = volume (m3)I = vazão afluente ao reservatório (m3/s)
Q = vazão defluente do reservatório (m3/s)
Q inclui vazão que atende a demanda e vazão vertida
• Balanço Hídrico num reservatório
Simulação: equação discretizada
Sujeita às restrições 0 < S
t+∆t< V
máxonde V
máxé o volume útil do reservatório
Evaporação
Vazão vertida
(S
t+∆t> V
max)
t
t
t
t
t
t
Δt
t
S
P
I
D
E
Qv
S
Demanda
Armazenamentos
Precipitação
Vazão
afluente
Simulação: equação discretizada
Somente ocorre se S
t+∆t> V
máxt
t
t
t
Δt
t
S
I
D
Qv
S
Desconsiderando a precipitação e a evaporação:
t
t
t
t
t
t
Δt
t
S
P
I
D
E
Qv
S
• Problema: dimensionar um reservatório com o
volume necessário para regularizar uma vazão D
(constante ou variável)
Passos:
1. Estime um valor de V
max2. Em um mês qualquer, se S
t+tfor menor que zero, a
demanda D
tdeve ser reduzida até que S
t+tseja igual
a zero, e é computada uma falha de
entendimento
Dimensionamento de reservatório
t t t t Δt tS
I
D
Qv
S
Quanto à vazão disponível desejável que a série tenha
várias décadas)
Quanto à demanda D pode variar com a época do
ano
Dimensionamento de reservatório
3. Calcule a probabilidade de falha dividindo o número
de meses com falha pelo número total de meses. Se
esta probabilidade for considerada inaceitável,
aumente o valor do volume máximo V
maxe
reinicie o processo
t t t t Δt tS
I
D
Qv
S
Q é considerado igual à demanda
• Equação de Balanço Hídrico do reservatório pode ser aplicada recursivamente
Simulação em planilha
I
Q
t
V
V
i1
i
conhecidos• Com a equação recursiva de balanço podem ocorrer duas situações extremas: max 1 i
V
V
min
1
i
V
V
É necessário verter água
A demanda é excessiva ou o volume é insuficiente
Vazões do rio Tainhas de 1970 a 1980
Exemplo: dimensionamento de reservatório com
simulação em planilha
Para levar em conta a evaporação, tem-se que
observar que ela depende da área do espelho do
líquido no reservatório e esta depende do
armazenamento
Simulação: equação discretizada
E
t= f(A) e A = f(
S)
t t t t t t Δt tS
P
I
D
E
Qv
S
f(A
t)
f(S
t+t-S
t)
Qual é a vazão que pode ser regularizada no rio Tainhas com um reservatório de 100 milhões de m3?
Exemplo: dimensionamento de reservatório
com simulação em planilha
Qual é o volume necessário para regularizar a vazão de 15 m3/s?
Curvas de Permanência
natural regularizado
Curvas de Permanência
natural regularizado
• Limite teórico:
Q regularizada = I média
• Regularização intersazonal
• Regularização interanual
• Perdas por evaporação
• Demandas variáveis no tempo
• Reservatórios de uso múltiplo
• Impactos ambientais
I
Q
t
V
V
i1
i
Complicações
• Usinas hidrelétricas e térmicas
• Custo energia hidrelétrica 30 US$ por MW.hora
• Custo energia térmica > 45 US$ por MW.hora
• Custo de não abastecimento !!!!!!!
Defina a melhor operação para um sistema que conta com uma usina hidrelétrica (máximo de 100 MW) e uma usina térmica (40 MW) para atender uma demanda de 100 MW, sujeito à variabilidade das vazões.
O reservatório de Sobradinho tem cerca de 320 km de extensão, com uma superfície de espelho d’água de 4.214 km2 e uma capacidade de armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos em sua cota nominal de 392,50 m, constituindo-se no maior lago artificial do mundo.
Ele garante, através de uma depleção de até 12 m, juntamente com o reservatório de Três Marias/CEMIG, uma vazão regularizada de 2.060 m3/s nos períodos de estiagem,
permitindo a operação de todas as usinas da CHESF situadas ao longo do Rio São Francisco.