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No início do período moderno, a burguesia nascente sabia como fazer negócios, isto é, como retirar lucro de suas trocas mercantis; sabia

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Se iniciamos nosso texto falando de ‘trabalho prescrito’ e chegamos às normas antecedentes, é porque ambos conceitos se referem ao que é dado, exigido e apresentado ao trabalhador antes de a atividade ter início. Além dis-so, algo muito importante: com o con-ceito de normas antecedentes, pode-mos vislumbrar outros níveis de pres-crição do trabalho, que muitas vezes não são apreendidos como tal.

Para saber mais:

ALVAREZ, D. & TELLES, A. L. Interfaces ergonomia-ergologia: uma discussão sobre trabalho prescrito e nor mas antecedentes. In: FIGUEIREDO, M. et al. (Orgs.) Labirintos do Trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. DANIELLOU, F. Le travail des prescriptions. In: Actes du 37ème

Congrès de la SELF, “Les évolutions de la prescription” (Conférence inaugural), Aix-en-Provence, 2002. Disponível em: <http:// www.ergonomie-self.org/self2002/ daniellou.pdf>.

GUÉRIN, F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2001. LEPLAT, J. & HOC, J.-M. Tarea y actividad en en el análisis psicológico de situationes. In: CASTILLO, J. & VILLENA, J. (Orgs.) Ergonomía: conceptos y métodos. Madrid: Editorial Complutense, 1998.

MONTMOLLIN, M. Vocabulaire de L’Ergonomie. Toulouse: Éditions Octarès, 1995.

SCHWARTZ, Y. Le Paradigme Ergologique ou un Métier de Philosophe. Toulouse: Octarès, 2000.

TEIGER, C. El trabajo, ese oscuro objeto de la Ergonomía. In: CASTILLO, J. & VILLENA, J. (Orgs.) Ergonomía: conceptos y métodos. Madrid: Editorial Complutense, 1998.

TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO

Sérgio Lessa

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o início do período moderno, a burguesia nascente sabia como ‘fa-zer negócios’, isto é, como retirar lu-cro de suas trocas mercantis; sabia

como cobrar os juros e os preços. To-davia, não conseguia ainda entender muitas das ‘leis do mercado’; não com-preendia, acima de tudo, de onde pro-   pro-  pro-   pro-  pro-   pro-  pro-   pro-  pro-   pro-  pro-   pro-             

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veria a força do dinheiro para moldar o mundo à sua (do dinheiro) imagem e semelhança. Para se ter uma idéia, a lei da oferta e da procura, então já ativa há séculos, apenas foi desco-berta na Inglaterra por volta dos anos de 1580: até então os preços subiam ou desciam sem que se sou-besse explicar e, portanto, ‘prever’, estas variações. Foi para investigar questões como essa que surgiu a Economia Política Clássica. E foi com ela que surgiu a distinção entre o trabalho produtivo e improdutivo. Com o desenvolvimento das rela-ções mercantis, a burguesia começou a se dar conta de que há dois, digamos, ‘tipos’ de salários: um do qual advém lucro e, outro, que não. Numa manu-fatura, por exemplo, quanto mais artesãos o burguês puder contratar (e isto depende, claro, não apenas de sua vontade, mas fundamentalmente das condições do mercado) maior será o seu lucro. O salário dos artesãos é um salário que gera lucro. Por outro lado, um segundo contador, mais vigias, etc., são salários que não geram lucro, an-tes, são ‘custos’. Foi a partir de então que começou a fazer sentido a distin-ção entre trabalho produtivo e impro-dutivo. O primeiro é aquele ‘produti-vo de lucro’, o segundo representa o custo do negócio.

Na Idade Média, no escravismo ou no período primitivo, um trabalho ‘improdutivo’ seria a mais completa inutilidade. Isso porque, com todas as mediações cabíveis a cada formação social, o trabalho ainda estava muito próximo da produção de valores de uso e, por isto, falar em trabalho pro-dutivo não passava de tautologia. Foi com a expansão das relações mercan-tis entre os séculos XV e XVIII, isto é, com o crescimento da importância na reprodução social do valor de troca, que tivemos a gênese da distinção en-tre aquele trabalho assalariado que pro-duz lucro e aquele outro que não o produz. Um bom negócio deveria con-tar com o máximo de trabalhadores produtivos e o mínimo necessário de improdutivos, por exemplo.

Com a Revolução Industrial (1776-1830), junto com o conjunto da sociedade burguesa, a distinção entre o trabalho produtivo e o improdutivo atingiu a sua maturidade. A indústria se tornou o pólo mais dinâmico da re-produção do capital e o lucro comer-cial ou os juros deixaram de ser o seu momento predominante (que é distin-to do seu momendistin-to fundante, como veremos mais à frente). Com isso, as categorias de trabalho produtivo e im-produtivo também adquirem sua ma-turidade histórica: é produtivo o

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balho assalariado que produz mais-va-lia e improdutivo aquele que não pro-duz mais-valia.

Até esse ponto foi a Economia Política Clássica. Da perspectiva do capi-tal – e tão somente dessa perspectiva – a distinção fundamental a ser feita é entre as atividades assalariadas que pro-duzem mais-valia e aquelas que não produzem mais-valia. Dessa perspec-tiva – muito restrita – os trabalhado-res assalariados se dividem em dois grandes agrupamentos. O primeiro é composto: 1) pelos trabalhadores que, no agrobusiness, nas fábricas e no trans-porte, transformam a natureza; e, 2) também por aqueles trabalhadores que, no setor de serviços, produzem mais-valia, como o professor da escola pri-vada e outras atividades assemelhadas (mais sobre isto à frente).

O segundo agrupamento é com-posto: 1) pelos trabalhadores que, no interior das fábricas, agrobusiness, trans-porte e serviços que produzem mais-valia exercem as atividades de contro-le e vigilância dos trabalhadores: os engenheiros, que concebem como e o que será produzido, os funcionários do departamento de pessoal, do departa-mento jurídico, os executivos que ad-ministram o negócio, os assistentes sociais, os vigias e toda a hierarquia que compõe o ‘despotismo’ do capital

so-bre o trabalho, etc.; 2) os trabalhado-res dos serviços que não produzem mais-valia (os empregados domésti-cos, etc.); 3) os trabalhadores do Esta-do (sempre o aparelho especial de re-pressão com que as classes dominan-tes contam para manter a reprodução de sua propriedade privada); e, 4) por fim, os empregados do comércio e dos bancos (sobre eles, voltaremos mais abaixo). Todos esses trabalhado-res não produzem mais-valia: repre-sentam ‘custos’.

Os trabalhadores improdutivos compõem uma enorme massa de as-salariados, muito mais numerosa e he-terogênea do que a dos trabalhadores produtivos. Todavia, imediatamente (ou seja, não é esta toda a história), o capital se valoriza pela produção da mais-valia. Se isso é assim, por que então necessita o sistema do capital de tal quantidade de assalariados que não produzem mais-valia? Porque o siste-ma do capital é perdulário em sua es-sência. Ele precisa de um sistema de controle hierárquico sobre o trabalho que é um gigantesco desperdício: des-de as carteiras des-de ides-dentidades-de e passa-portes, até o controle minucioso das ações dos operários no interior das fá-bricas, a sociedade burguesa vai se de-senvolvendo em um enorme mecanis-mo de controle da sociedade. Essa

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perdularidade é o que torna imprescin-dível a gênese, o crescimento e hipertrofia do setor improdutivo.

A perdularidade essencial ao sis-tema do capital torna o trabalho im-produtivo indispensável à sua repro-dução. Esse fato gera a ilusão de que, por serem ‘necessários’ à reprodução do capital, os trabalhadores improdu-tivos seriam igualmente produimprodu-tivos: a distinção entre trabalhadores produti-vos e improdutiproduti-vos teria desaparecido, ou perdido importância, nos dias de hoje. Braverman, com Trabalho e Capi-tal Monopolista(1981), é o mais clássico representante dessa vertente. Para Marx, a distinção entre o trabalho pro-dutivo e impropro-dutivo não se radica no fato de serem necessários ao capital – ambos o são, como vimos – mas sim nas distintas funções sociais que exer-cem: o primeiro produz mais-valia, o segundo não o faz (Marx, 1985).

É essa distinção – ontológica – en-tre as funções que exercem na reprodu-ção do capital que faz com que, do ponto de vista da reprodução do capital (e esta não é, repetimos, toda a história), Marx adote criticamente a distinção da Economia Política Clássica: os trabalhadores se di-videm entre aqueles que geram mais-va-lia e aqueles que não o fazem.

Essa não é, todavia, toda a história.

Como a relação entre o capital e a humanidade não é uma relação de iden-tidade, mas de alienação (Entfremdung), a reprodução do capital não é idêntica à reprodução do ser social. A sociabi-lidade, se Marx estiver correto, tem no intercâmbio orgânico com a natureza (o trabalho) sua categoria fundante. Se o trabalho funda o ser social em sua universalidade, o trabalho primitivo funda as sociedades primitivas, o tra-balho escravo funda o escravismo, o trabalho servil o feudalismo e, por fim, o trabalho proletário funda o modo de produção capitalista. E a razão decisi-va dessa situação ontológica é que sem a transformação da natureza nos mei-os de produção e de subsistência não há qualquer reprodução social possí-vel. Portanto, se a produção da mais-valia é a mediação pela qual se dá ime-diatamente a reprodução do capital, isto não cancela o fato de que a reprodu-ção da sociabilidade capitalista depen-de depen-de sua capacidadepen-de em continuar re-tirando da natureza os meios de pro-dução e subsistência a ela imprescin-díveis. Ou seja, a distinção entre o tra-balho produtor de mais-valia e não produtor de mais-valia não é a única na reprodução do sistema do capital. Há também a distinção entre o traba-lho fundante que retira da natureza os meios de produção e de subsistência e

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o trabalho abstrato, ou seja, a totalida-de das atividatotalida-des assalariadas. É essa distinção que particulariza os proletá-rios frente aos demais assalariados: proletários (ou operários) são os tra-balhadores assalariados que, ao conver-terem a natureza, fundam a sociabili-dade burguesa. São eles, nas palavras de Marx, os “produtores” do capital (Marx, 1985, p. 188, n. 70).

A complexidade do conjunto des-sas relações reside no fato de que duas dimensões da vida social –igualmente reais - sobrepõem-se pela mediação dos complexos alienantes oriundos do capital. A primeira: se quase toda con-versão da natureza se transformou em trabalho assalariado, nem todo traba-lho assalariado converte a natureza em meios de produção e de subsistência. A segunda: se toda conversão da natu-reza em meios de produção e de sub-sistência por meio do trabalho assala-riado produz mais-valia, nem toda a geração de mais-valia ocorre no inter-câmbio com a natureza. Vejamos cada uma dessas sobreposições:

- O trabalho proletário do cam-po e da cidade: produz a mais-valia pela conversão da natureza em meios de produção e de subsistência. Produz novos produtos (ferro, alimentos, rou-pas, casas, carros, estradas, etc.) que, por advirem da transformação da

na-tureza, continuam existindo após o fim do processo de trabalho. Assim, a cada instante trabalhado, o proletário acres-centa um novo quantum de riqueza ao já acumulado pela sociedade, amplian-do a riqueza geral da sociedade. Uma sociedade com mais estradas, ferro, ali-mentos, etc. do que no passado acu-mulou uma riqueza que corresponde ao montante de trabalho humano plas-mado nos novos produtos. Do ponto de vista da reprodução do capital, essa ampli-ação da riqueza da sociedade compa-rece como a ampliação do capital soci-al totsoci-al, para empregar a expressão de Marx (1985). Ao produzir um novo meio de produção ou de subsistência, o proletariado produz um novo quantum de capital: ele valoriza o capital ao pro-duzi-lo. E como a transformação da natureza requer a atuação da “corporalidade” (Marx, 1983, p.149-50) dos humanos, este é necessaria-mente um ‘trabalho manual’. “... Como o homem precisa de um pulmão para respirar, ele precisa de uma ‘criação da mão humana’ para consumir produti-vamente forças da natureza” (Marx, 1985, p. 17).

- O trabalho produtivo de mais-valia fora do intercâmbio com a na-tureza: com o desenvolvimento das relações mercantis, expande-se uma nova possibilidade de valorização de

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capital pela exploração de alguns ser-viços (nem todos os serser-viços, eviden-temente). O exemplo de Marx é o do professor em uma escola privada (Marx, 1985). Outros muitos exemplos podem ser dados, inclusive os dos pro-fissionais da saúde que trabalham nos planos de saúde e hospitais privados. Nessa esfera, temos a geração da mais-valia ao o capital vender o serviço por um valor maior do que o valor da for-ça de trabalho empregada: o preço da aula que os pais pagam é muito supe-rior ao valor da hora-aula do salário do professor, etc. Nisso, as coisas são aná-logas ao que encontramos no trabalho proletário. A distinção fundamental está na função social que exercem tais trabalhadores produtivos não operári-os: eles geram mais-valia, eles ‘valori-zam’ o capital e, todavia, não ‘produ-zem’ capital. O montante de mensali-dades que os pais pagam ao burguês dono da “fábrica de ensinar” (Marx, 1983, p.106) é idêntico à soma da mais-valia apropriada pelo patrão acrescida dos salários e dos custos de manuten-ção da escola (incluindo as propinas aos funcionários públicos, etc.). O di-nheiro (isto é, a riqueza empregada para as despesas pessoais) dos pais dos alu-nos se transfere para o cofre do bur-guês. O que os pais dos alunos perde-ram de um lado, o burguês ganhou de

outro: não houve a produção de ne-nhum novo quantum de riqueza, nem o capital social total se ampliou. Houve, apenas, a conversão da rique-za que já existia sob a forma de di-nheiro no bolso dos pais dos alunos na riqueza sob a forma de capital no cofre do burguês. Esse é o exemplo clássico da geração de mais-valia sem a ‘produção’ do capital.

De onde, todavia, se originou esse dinheiro que estava no bolso dos pais dos alunos? Sempre do trabalho pro-letariado, o que varia apenas é a me-diação. Se o pai do aluno for um bur-guês que expropria diretamente os ope-rários, veio da riqueza produzida por estes últimos. Se ele for um burguês do comércio e dos bancos, veio da mais-valia produzida pelos operários, como veremos logo abaixo. Se ele for um assalariado não-proletário da indús-tria, ou um assalariado dos bancos ou do comércio, a riqueza que é converti-da em seu salário também advém converti-da riqueza produzida pelos proletários. O mesmo ocorre com o funcionário pú-blico, pela mediação dos impostos. Portanto, a origem de toda a riqueza sob a forma de dinheiro presente na sociedade é o trabalho proletário.

O trabalho produtivo de mais-va-lia exerce, portanto, duas funções so-ciais distintas: o trabalho proletário

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‘produz’ o capital, o trabalho produti-vo não proletário apenas gera mais-valia pela conversão da riqueza já exis-tente sob a forma de dinheiro para a forma capital. E, de um ponto de vista mais amplo que a mera reprodução do capital, temos aqui a relação entre o trabalho fundante da sociabilidade (tra-balho proletário que realiza o intercâm-bio orgânico com a natureza) e a por-ção fundada da vida social (os demais complexos da sociedade burguesa): o trabalho proletário produz o capital, gera toda a riqueza da sociedade capi-talista. Funda, por isso, a sociabilidade burguesa madura. O trabalhador pro-dutivo não-proletário, como o profes-sor da escola privada, não produz o capital, apenas converte a riqueza já produzida pelos proletários e que se encontra sob a forma de dinheiro, para a forma capital. Concentra a riqueza já produzida e difusa na sociedade nas mãos da burguesia. A mais-valia pro-duzida pelo professor faz parte, por-tanto, da porção da sociedade burgue-sa fundada pelo trabalho proletário.

- O trabalho assalariado do co-mércio e dos bancos. Como prome-tido, vamos agora aos bancos e ao co-mércio. O desenvolvimento do capi-talismo torna mais lucrativo ao indus-trial ceder a venda de seus produtos aos comerciantes do que ele,

indus-trial, vendê-los diretamente. Como a mercadoria terá de ser vendida pelo seu valor, o comércio apenas se encarre-gará de sua venda se uma parte da mais-valia produzida na indústria for a ele transferida. Para tanto, o comerciante compra do industrial por 8 unidades uma mercadoria cujo valor é, digamos, 10 unidades. Ao vendê-la, em seguida, por 10, se apropria de 2 unidades que correspondem à mais-valia expropria-da do trabalho proletário pelo indus-trial e transferida ao comerciante. Mutatis mutandis, o mesmo ocorre com o pagamento de juros aos bancos (Marx, 1985). A riqueza que se con-verte em salário dos trabalhadores des-ses setores não inclui, portanto, nenhu-ma produção de nenhu-mais-valia. Por isso, tais trabalhadores são trabalhadores improdutivos.

Por fim, a distinção entre traba-lho produtivo e improdutivo só faz sentido, como vimos, do ponto de vista do capital. As categorias de trabalho pro-dutivo e impropro-dutivo são – esperamos que esteja claro – subcategorias do tra-balho abstrato. Ser trabalhador produ-tivo ou improduprodu-tivo significa, portan-to, imediatamente, ser explorado pelo capital. Do ponto de vista da contra-dição mais genérica entre o capital e o trabalho abstrato, se desdobra uma exploração que se expressa ao redor

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dos salários (ou da jornada de traba-lho). Na perspectiva da reprodução do capi-tal – e, novamente, esta não é toda a história – todos os assalariados se equi-param no sentido de que lutam por au-mentar o preço de sua força de traba-lho enquanto os burgueses fazem de tudo para rebaixá-lo.

Tais lutas ocupam um lugar im-portantíssimo no desenvolvimento da sociedade burguesa, todavia, não são expressões da contradição antagônica entre o proletariado e a burguesia ao redor da propriedade privada, do Es-tado, do casamento monogâmico (do patriarcalismo) e das classes sociais. O fundamento ontológico dessa distin-ção entre o proletariado e os demais assalariados está no local distinto que ocupam na estrutura produtiva. O tra-balho proletário funda a sociedade burguesa. Com as devidas mediações, os trabalhadores não-proletários, pro-dutivos ou não, têm a origem da rique-za que se converte em seus salários na exploração, pela burguesia, do traba-lho proletário. Apenas e tão somente os proletários vivem da riqueza que eles mesmos produzem. Ou seja, como em todas as sociedades de classe, também o capitalismo se subdivide em uma classe que produz toda a ri-queza da sociedade e os outros seto-res que a parasitam.

Os trabalhos produtivo e impro-dutivo, portanto, correspondem a uma distinção específica às sociabilidades regidas pelo capital; são subcategorias do trabalho abstrato. Servem para par-ticularizar o trabalho produtor de valia do trabalho que não produz mais-valia. A essa distinção se sobrepõe, sem que a cancele, uma outra: a relação en-tre o trabalho abstrato e o trabalho fundante do ser social. O trabalho fundante da sociabilidade burguesa – que corresponde, nos dias de hoje, ao trabalho “condição eterna” (Marx, 1983, p. 153) da vida social – é o inter-câmbio com a natureza realizado pelo trabalho proletário. Esse produz o ca-pital pela conversão da natureza em meios de produção e de subsistência; os demais trabalhos assalariados, ge-rando ou não mais-valia, não produ-zem nenhuma nova riqueza e, por isto, tal como a burguesia, parasitam o tra-balho proletário. O que distingue a burguesia desses setores assalariados parasitários é o fato dela extorquir di-retamente o trabalho proletário – e, com isto, ficar com a maior parte da riqueza produzida. Aos assalariados não-proletários resta a disputa pela di-visão do extorquido dos operários pe-las lutas ‘econômicas’ (Lênin, 1978) ao redor do valor dos salários. Apenas o proletariado reúne, por isso, as

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ções históricas para se converter no sujeito da revolução pela abolição da propriedade privada, do Estado e do casamento monogâmico (o patriarcalismo). Por isso, tal revolução, para distinguir das revoluções burgue-sas, é cientificamente denominada de Revolução Proletária.

Para saber mais:

BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

LENIN, V. I. Que fazer? São Paulo: Hucitec, 1978.

MARX, K. O Capital. São Paulo: Abril Cultural, vol. I, 1983, Tomo I, 1985, Tomo II.

N APOLEONI, C. Lições sobr e o capítulo sexto (inédito) de Marx. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1981.

NETTO, J. P.; BRAZ, M. Introdução à E c o n o m i a P o l í t i c a. S ã o Pa u l o : Cortez, 2006.

TEIXEIRA, F. Pensando com Marx. São Paulo: Ensaio, 1995.

TRABALHO REAL

Jussara Cruz de Brito

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omo uma primeira definição de ‘trabalho real’ (‘atividade’), pode-se di-zer que é aquilo que é posto em jogo pelo(s) trabalhador(es) para realizar o trabalho prescrito (tarefa). Logo, tra-ta-se de uma resposta às imposições determinadas externamente, que são, ao mesmo tempo, apreendidas e mo-dificadas pela ação do próprio traba-lhador. Desenvolve-se em função dos objetivos fixados pelo(s) trabalhador(es) a partir dos objetivos

que lhe(s) foram prescritos. A parte obser vável da atividade (o comportamental) é apenas um de seus aspectos, pois os processos que geram a produção deste comportamento não são diretamente observáveis.

O esforço conceitual sinalizado na expressão ‘trabalho real’ está vincula-do ao pressuposto de que as prescri-ções são recursos incompletos, isto é, que desde a sua concepção elas não são capazes de contemplar todas as situa-

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