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Especial Específicas

1. (UEL 2014) Leia os quadrinhos e os textos a seguir.

(Disponível em: <http://www.filosofiahoje.com/2012/05/filosofia-em-quadrinhos-tales-de-mileto.html>. Acesso em: 7 out. 2013.)

“Nesse conceito grego, estavam, inseparáveis, o problema da origem – que obriga o pensamento a ultrapassar os limites do que é dado na experiência sensorial – e a compreensão, por meio da investigação empírica, do que deriva daquela origem e existe atualmente”.

(Adaptado de: JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p.135.)

“Os primeiros filósofos passaram a substituir todas as divindades míticas pelo ser impessoal, chamado princípio ou, em grego, arché. Àquela arché atribuíram tanto a origem de todas as coisas quanto a capacidade de compô-las e estruturá-las. Assim, ela representa uma racionalização das forças divinas, da sua causalidade”.

(Adaptado de: TÜRCKE, C. O nascimento mítico do logos. In: DE BONI, L. A. (org.) Finitude e

transcendência. Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: PUCRS, 1996. p.89.)

Com base na tirinha e nos textos e a partir dos conhecimentos sobre o surgimento e o desenvolvimento progressivo da Filosofia, explique o significado filosófico da proposição enunciada por Tales de Mileto de que a água é o princípio de todas as coisas.

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2. (UNESP 2012)

Texto 1

“2012 começa sob a vibração positiva de uma Lua crescente em Áries logo no dia 1.º. Áries é o signo que tem tudo a ver com o início de algo e traz muita garra, coragem e esperança. Ainda na primeira semana, Mercúrio, das comunicações, forma um aspecto harmonioso com Saturno e Netuno, evidenciando um momento de descobertas, diálogo e de primeiros passos coletivos na consolidação de um sonho ou projeto comum, de muitos povos e sociedades. Acordos internacionais e negociações de paz podem ser feitos em um momento feliz e que promete bom desenvolvimento”.

(Barbara Abramo. Céu de janeiro de 2012. http://horoscopo.uol.com.br, 01.01.2012.)

Texto 2

“O Irã lançou ontem mísseis de cruzeiro melhorados, que podem ameaçar navios americanos, durante um exercício naval que simula o fechamento do estreito de Hormuz – por onde passa cerca de um sexto da produção de petróleo mundial. O míssil Ghader (capaz, em farsi) foi desenvolvido com o objetivo de atacar navios de guerra e proteger o litoral do país. Duas unidades foram disparadas ontem da costa iraniana em um teste”.

(Irã testa míssil que ameaça frota dos EUA. Folha de S.Paulo, 03.01.2012.) Os dois textos, publicados no início de 2012, apresentam incompatibilidade lógica entre as formas pelas quais abordam a realidade. Responda quais são os pressupostos ou pontos de vista assumidos por cada um deles e explique os motivos dessa incompatibilidade.

3. (Unesp 2014)

Texto 1

“Você quer ter boa saúde e vida longa para você e sua família? Anseia viver num mundo onde a dor, o sofrimento e a morte serão coisas do passado? Um mundo assim não é apenas um sonho. Pelo contrário, um novo mundo de justiça logo será realidade, pois esse é o propósito de Deus. Jeová levará a humanidade à perfeição por meio do sacrifício de resgate de Jesus. Os humanos fiéis viverão como Deus queria: para sempre e com saúde perfeita”.

(A Sentinela, dezembro de 2013. Adaptado.) Texto 2

“Assim, tenho de contradizê-lo quando prossegue argumentando que os homens são completamente incapazes de passar sem a consolação da ilusão religiosa, que, sem ela, não poderiam suportar as dificuldades da vida e as crueldades da realidade. Sem a religião, terão de admitir para si mesmos toda a extensão de seu desamparo e insignificância na maquinaria do universo; não podem mais ser o centro da criação, o objeto de terno cuidado por parte de uma Providência beneficente. Mas não há dúvida de que o infantilismo está destinado a ser superado.

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Os homens não podem permanecer crianças para sempre; têm de, por fim, sair para a “vida hostil”. Podemos chamar isso de “educação para a realidade””.

(Sigmund Freud. O futuro de uma ilusão, 1974. Adaptado.) Comente as diferenças entre os dois textos no tocante à religião.

4. (Unesp 2011)

Texto I

“Por isso também nós, desde o dia em que soubemos, não cessamos de rezar por vós e pedir a Deus que vos conceda pleno conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligência espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo, dando fruto de toda obra boa e crescendo no conhecimento de Deus, animados de grande energia pelo poder de sua glória para toda a paciência e longanimidade. Com alegria, agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de participar da herança dos santos no reino da Luz. Que nos livrou do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção: a remissão dos pecados”.

(Bíblia Sagrada. Epístola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no século I.)

Texto II

“Olhe ao redor deste universo. Que imensa profusão de seres, animados e organizados, sensíveis e ativos! Examine, porém, um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida, os únicos seres dignos de consideração. Que hostilidade e destrutividade entre eles! Quão incapazes, todos, de garantir a própria felicidade! Quão odiosos ou desprezíveis aos olhos de quem os contempla! O conjunto de tudo isso nada nos oferece a não ser a ideia de uma natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou cuidado materno, sua prole desfigurada e abortiva”.

(David Hume. Diálogos sobre a religião natural, texto escrito em 1779. Adaptado.) Compare ambos os textos e comente uma diferença entre eles no que diz respeito à concepção de natureza humana e uma diferença referente à concepção de moralidade.

5. (UNESP 2012) “A ciência moderna tem maior poder explicativo, permite previsões mais seguras e assegura tecnologias e aplicações mais eficazes. Não há dúvida de que a explicação científica sobre a natureza da chuva comporta usos que a explicação indígena não comporta, como facilitar prognósticos meteorológicos ou a instalação de sistemas de irrigação. Para a ciência moderna, a Lua é um satélite que descreve uma órbita elíptica em torno da Terra, cuja distância mínima do nosso planeta é cerca de 360 mil quilômetros, e que tem raio de 1 736 quilômetros. Para os gregos, era Selene, filha de Hyprion, irmã de Hélios, amante de Endymion e Pan, e percorria o céu numa carruagem de prata. Tenho mais simpatia pela explicação dos gregos, mas devo reconhecer que a teoria moderna permite prever os eclipses da Lua e até desembarcar na Lua, façanha dificilmente concebível para uma cultura que continuasse aceitando

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a explicação mitológica. Os astronautas da NASA encontraram na superfície do nosso satélite as montanhas observadas por Galileu, mas não encontraram nem Selene nem sua carruagem de prata. Para o bem ou para o mal as teorias científicas modernas são válidas, o que não ocorre com as teorias alternativas”.

(Sérgio Paulo Rouanet, filósofo brasileiro, 1993. Adaptado.) Cite o nome dos dois diferentes tipos de conhecimento comentados no texto e explique duas diferenças entre eles.

6. (Unesp 2014)

Texto 1

“Foi assim que, com Paracelso (1493-1541), nasceu e se impôs a iatroquímica. E os iatroquímicos, em certos casos, chegaram a alcançar grandes êxitos, muito embora as justificações de suas teorias, vistas com os olhos da ciência moderna, apareçam-nos hoje bastante fantasiosas. Assim, por exemplo, com base na ideia de que o ferro é associado ao planeta vermelho Marte e a Marte, deus da guerra coberto de sangue e de ferro, administraram com sucesso sais de ferro a doentes anêmicos - e hoje conhecemos as razões científicas desse sucesso”.

(Giovanni Reale e Dário Antiseri. História da filosofia, vol. 2, 1991. Adaptado.) Texto 2

“A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo”.

(Maria Lúcia de A. Aranha e Maria Helena P. Martins. Temas de filosofia, 1992.) Baseando-se na descrição do método científico do texto 2, explique por que as fundamentações da iatroquímica podem ser caracterizadas como fantasiosas.

7. (UNESP 2010) “Em 399 a.C., o filósofo Sócrates é acusado de graves crimes por alguns cidadãos atenienses. (...) Em seu julgamento, segundo as práticas da época, diante de um júri de 501 cidadãos, o filósofo apresenta um longo discurso, sua apologia ou defesa, em que, no entanto, longe de se defender objetivamente das acusações, ironiza seus acusadores, assume as acusações, dizendo-se coerente com o que ensinava, e recusa a declarar-se inocente ou pedir uma pena. Com isso, ao júri, tendo que optar pela acusação ou pela defesa, só restou como alternativa a condenação do filósofo à morte”.

(Danilo Marcondes. Iniciação à História da Filosofia, 1998. Adaptado.) Com base no texto apresentado, explique quais foram os motivos da condenação de Sócrates à morte.

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8. (UNESP 2011) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna de Platão (A República), que se refere ao célebre mito da caverna e seu significado no pensamento platônico.

“Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas as coisas; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública”.

(Platão. A República, texto escrito em V a.C. Adaptado.) Explique o significado filosófico da oposição entre as sombras no ambiente da caverna e a luz do sol.

9. (UEL 2013) Observe a charge a seguir.

(Adaptado de: <http://jarbas.wordpress.com/2010/10/04/platao-mito-da-caverna-e-ti/>. Acesso em: 30 ago. 2012.) Após descrever a alegoria da caverna, na obra A República, Platão faz a seguinte afirmação:

“Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reconhecereis cada imagem, o que ela é e o que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem”.

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a) Segundo a alegoria da caverna de Platão e com base nessa afirmação, explique o modelo político que configura a organização da cidade ideal.

b) Compare a alegoria da caverna e a charge, e explicite o que representa, do ponto de vista político, a saída do homem da caverna e a contemplação do bem.

10. (UEL 2012) Leia os textos a seguir.

“Projeto de lei quer tornar ‘busca pela felicidade’ uma obrigação do Estado”.

(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/787567-projeto-de-lei-quer-tornar-busca-pela-felicidade-uma-obrigacao-do-estado.shtml>. Notícia de 23 ago. 2010. Acesso em: 3 jul.

2011.)

“A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou ontem um índice de “vida melhor” para medir a felicidade dos países, que vai bem além das cifras do Produto Interno Bruto (PIB)”.

(Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/valor-economico/2011/05/25/ocde-cria-indice-de-felicidade-nacional>. Notícia de

25 maio 2011. Acesso em: 3 jul. 2011.)

“A felicidade, mais do que qualquer outro bem, é tida como o bem supremo, pois a escolhemos por si mesma e nunca por causa de algo mais. Por sua vez, a honra, o prazer e a razão, embora os escolhamos por si mesmos (pois os escolheríamos, ainda que nada resultasse deles) escolhemo-los por causa da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade tendo em vista algum destes, tampouco, de um modo geral, qualquer outra coisa que não seja ela própria. Se a felicidade é a atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja em conformidade com a mais alta de todas as virtudes, a qual se refere à melhor parte de cada um de nós. Não só é a razão a melhor coisa que existe em nós, como também os objetos da razão são os melhores entre os objetos passíveis de ser conhecidos. É a mais contínua, já que a contemplação da verdade pode ter uma continuidade maior que a de qualquer outra atividade que possamos exercer”.

(Adaptado de: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.15; 188. Coleção Os Pensadores.)

Pelas notícias acima, percebe-se que o tema felicidade está em voga. Para a filosofia, esse tema se impôs ainda na antiguidade clássica. Para Aristóteles, é insuficiente dizer que a felicidade – eudaimonia – é o maior bem

para os seres humanos, pois há variações acerca do que cada um identifica por felicidade. Por essa razão, o filósofo afirma que é preciso compreender que tipo de vida ou bem viver está subjacente à felicidade.

A partir dos conhecimentos sobre o tema felicidade em Aristóteles, explique em que cada um dos três tipos principais de vida (honra, prazer, razão) se aproxima ou se afasta da felicidade

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11. (UEL 2014) Leia o texto a seguir.

“A família é a associação estabelecida por natureza para suprir as necessidades diárias dos homens. Mas, quando várias familias estão unidas em certo número de casas, e essa associação aspira a algo mais do que suprir as necessidades cotidianas, constitui-se a primeira sociedade, a aldeia. Quando várias aldeias se unem em uma única comunidade, grande o bastante para ser autossuficiente (ou para estar perto disso), configura-se a cidade, ou Estado – que nasce para assegurar o viver e que, depois de formada, é capaz de assegurar o viver bem. A cidade-Estado é a associação resultante daquelas outras, e sua natureza é, por si, uma finalidade: porque chamamos natureza de um objeto o produto final do processo de aperfeiçoamento desse objeto, seja ele homem, cavalo, família ou qualquer outra que tenha existência. Por conseguinte, é evidente que o Estado é uma criação da natureza e que o homem é, por natureza, um animal político”.

(Adaptado de: ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p.145-146.) Tendo como referência o pensamento político de Aristóteles na obra A Política, disserte sobre a relação entre o cidadão e a Cidade (pólis).

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Gabarito

1. (Gabarito oficial) A proposição enunciada por Tales de Mileto de que a água é o princípio de todas as coisas inaugura um conhecimento que concebe racionalmente o mundo determinado por uma ordem intrínseca à natureza (physis) e não governado pelo divino. Nesse aspecto, esta proposição marca uma transição gradativa de um pensamento forjado pelas representações míticas para o pensar racional (logos) que formula uma explicação racional sobre o princípio originário e não originado de todas as coisas (arché). Essa proposição afirma a existência de um princípio único, causa de todas as coisas que são. Implica, pois, uma compreensão racional da

physis fundada nas ideias de unicidade, de totalidade e de causalidade, distanciando-se da

dispersão das narrativas míticas de suas representações que encaravam o mundo como um agregado de fragmentos diferenciados, longe de qualquer unidade. Abre-se uma nova racionalidade – analítica e reflexiva – que esboça a ideia de uma legalidade ou de uma ordem universal no mundo concebido como physis: tudo está interligado e, desse modo, se revela como um Cosmos desmitizado.

2. Estamos diante de dois textos muito diferentes. O texto I é um horóscopo, já o texto II uma reportagem de jornal. Estamos, pois, diante de perspectivas e construções textuais bastante diferentes, que implicam na admissão de pressupostos não apenas conflitantes, mas contraditórias entre si. Sendo um horóscopo, o texto I, naturalmente, admite a validade da astrologia como mecanismo de interpretação da realidade e procura observar os fatos aos seus olhos. Assim, do ponto de vista deste texto, o posicionamento dos astros é um elemento decisivo para a compreensão da política internacional, das possibilidades de acordos ou negociações de paz. Em suma, trata-se de um texto que assume como pressuposto a existência de elementos sobrenaturais que guiam a vida humana. O texto II, por sua vez, tendo caráter informativo e jornalístico, assume uma visão meramente natural dos fatos e procura descrevê-los fazendo recurso somente a elementos que podem ser verificados, seja pela razão ou pelos sentidos, tais como a presença de mísseis em certa localidade e suas consequências geopolíticas. O conflito entre os dois textos é, em certo sentido, um conflito entre uma explicação sobrenatural e uma explicação meramente natural da existência humana.

3. É fácil já perceber a diferença entre os dois textos, antes mesmo de lê-los: basta verificarmos os seus autores. Enquanto o texto I é um excerto de uma famosa revista de proselitismo das Testemunhas de Jeová, o texto II é um trecho de uma obra de o Freud, o pai da psicanálise, intelectual famoso por sua verve antirreligiosa. Ora, sendo um escrito cujo objetivo é expandir uma comunidade religiosa específica, o texto I apresenta a religião como um bem, aliás, como o grande bem para a vida humana. Na perspectiva da Sentinela, ao unir o homem a Deus, a verdadeira religião é o único meio genuíno pelo qual o ser humano pode satisfazer plenamente seus anseios de felicidade. Por sua vez, vendo na prática religiosa um elemento de infantilização do homem, Freud a condena veementemente. Para o pensador psicanalítico, a crença em Deus e em sua Providência impede o ser humano de enfrentar a realidade tal como ela de fato é, com todas as misérias e crueldades. Em suma, a religião não passa, na perspectiva freudiana, do cultivo de uma ilusão.

4. A passagem da Carta aos Colossenses e o excerto de Hume representam, antes de tudo, tipos de escrito radicalmente diferentes. Com efeito, enquanto no primeiro caso estamos diante de uma

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obra religiosa e, portanto, fundada na fé, no segundo, estamos diante já de um escrito filosófico, cuja base de sustentação é a reflexão racional. Só isto já nos dá certa perspectiva necessária para avaliar as divergências entre os dois textos selecionados. Expressando a perspectiva cristã a respeito do homem, a Carta aos Colossenses apresenta o ser humano como criatura predileta de Deus, destinada por Ele a uma vida realizada e feliz. Por sua vez, profundamente pessimista, Hume vê no homem um ser cheio de misérias e que não parece passar, a um olhar criterioso, de um fruto do acaso. Essa diferença no aspecto antropológico, naturalmente, também recai em diferenças no campo da moralidade. A Carta aos Colossenses, privilegiando o relacionamento do ser humano com Deus, vê no homem um ser que, não obstante todos os seus pecados, pode, com a ajuda da graça divina, comportar-se de maneira digna e justa, obtendo, inclusive, a salvação eterna. Por sua vez, Hume, cético que era em relação ao sobrenatural, vê no home um ser hostil e destrutivo, incapaz de obter uma vida feliz.

5. As duas formas de conhecimento citadas pelo pensador brasileiro Sérgio Paulo Rouanet são o conhecimento mítico e o conhecimento científico. Naturalmente, sendo duas formas de conhecimento, ambos procuram construir explicações satisfatórias para a realidade. Seus métodos e perspectivas, porém, são radicalmente diferentes. O conhecimento mítico, como o próprio nome indica, explica a realidade através de mitos, isto é, de narrativas religiosas que, mediante o apelo a seres e elementos sobrenaturais, procuram dar conta das grandes angústias humanas, tais como a morte, o sentido da vida, a origem do homem, etc. A base do conhecimento mítico é a fé, ou seja, a crença mesmo sem provas, mas motivada pela confiança na autoridade daquele que enuncia o mito. Por sua vez, e nisto ambos se opõem, o conhecimento científico é de ordem racional. Além disso, sendo baseado na razão, ele não se expressa por meio de narrativas, mas sim de argumentos, sejam meramente racionais ou vinculados a experimentos. Na ciência, o elemento motivador da crença não é a confiança na palavra daquele enuncia mas sim a qualidade de seu argumento.

6. Ao confrontarmos os procedimentos dos iatroquímicos com a metodologia científica moderna, vemo-nos diante de duas atividades de ordens bastante distintas. De um lado está a ciência, um conhecimento racional específico que procura, mediante uma meticulosa observação dos fatos, extrair deles leis gerais, capazes de explicar o funcionamento da natureza. Sendo, além de racional, experimental, a ciência moderna só considera como provadas ou ao menos válidas, hipóteses que tenham sido submetidas a sucessivos testes. De outro lado, naturalmente, está a iatroquímica, que, não obstante ser uma importante predecessora da ciência moderna, não tinha compromisso como uma explicação exclusivamente racional da realidade e nem se submetia ao método experimental, admitindo, assim, pressupostos que um cientista moderno consideraria fantasiosos e supersticiosos precisamente por não se submeterem à metodologia científica. O nexo entre o ferro, um planeta e uma divindade, por exemplo, jamais poderia ser provado por meio de argumentos racionais ou de testes experimentais.

7. Sem dúvidas, difícil é a tarefa de reconstruir fidedignamente as razões que conduziram Sócrates à morte, visto que este não deixou nada escrito e tudo o que sabemos a seu respeito é fruto da informação de terceiros. De qualquer modo, segundo o relato de Platão, que se tornou canônico na história da filosofia, Sócrates foi condenado à morte acusado de dois crimes: a corrupção da juventude, isto é, a influência negativa sobre os jovens, e a impiedade, ou seja, a descrença em relação aos deuses da cidade. Estas, de fato, foram as acusações formais, porém, confrontado com elas, o Sócrates platônico as considera meros pretextos. Na realidade, segundo

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ele, o verdadeiro motivo das acusações era a enormes raiva que as grandes personalidade públicas de Atenas tinham dele, simplesmente pelo fato de Sócrates haver demonstrado muitas vezes a todos que todos aqueles homens que se consideravam grandes sábios eram, na verdade, ignorantes. Foi a incapacidade dos grandes “figurões” de Atenas em admitir sua própria ignorância que tornou Sócrates alguém odioso a eles, que deveria ser calado a qualquer custo e, se necessário, com a morte.

8. Talvez o mais importante filósofo de todos os tempos, Platão é particularmente conhecido por ter elaborada uma teoria ontológica conhecida como Teoria das Ideias, segundo a qual a realidade está dividida em dos planos: um mundo inteligível, onde se encontram as essências imutáveis das coisas, e o mundo sensível, reflexo imperfeito desta realidade superior. Procurando expor sua teoria de maneira simbólica, Platão elaborou a alegoria da caverna, que opõe, de um lado, a escuridão na qual vivem os prisioneiros de uma caverna e, de outro, a luz radiante do mundo exterior que os prisioneiros não podem ver. Há, porém, na alegoria um nexo entre a caverna escura e a realidade exterior iluminada: trata-se das sombras formadas pelos objetos do mundo exterior conforme a luz do Sol incide sobre o fundo da caverna. Essa simbólica relação entre luz e sombras é, obviamente, para Platão, um signo da relação entre o mundo inteligível e o mundo sensível. Na perspectiva platônica, o mundo material no qual vivemos e o qual acessamos pelos sentidos não passa de uma sombra, de um reflexo perfeito e diminuto da autêntica realidade, viva e iluminada, a inteligível, a qual só poderemos alcançar mediante um longo processo de ascensão racional. De todas as Ideias, naturalmente, a que mais corresponde ao Sol que tudo ilumina é a Ideia do Bem, visto ser posta por Platão como fundamento tanto do mundo sensível quanto do próprio mundo inteligível.

9. A) (Gabarito oficial) Platão dedica boa parte da obra A República para desenvolver o projeto da cidade ideal, local onde está contido o seu projeto político. Em primeiro lugar, Platão rejeita as cidades existentes como modelos de cidades justas, afinal não podemos esquecer que foi a Atenas democrática que permitiu a morte de Sócrates. Em segundo, para vislumbrar a justiça no indivíduo, antes necessitamos enxergar o conceito de maneira ampliada, isto é, na cidade. A cidade justa de Platão contempla trabalhadores, soldados e governantes realizando as funções para as quais possuem as competências necessárias. Assim como na cidade platônica é o guardião que governa, também no indivíduo é a razão que deve guiá-lo.

B) Na charge os personagens estão presos por correntes ao televisor. Consequentemente, a realidade é filtrada pela tela da TV. Da mesma forma, os homens que na caverna contemplavam sombras como se fossem verdades, quando libertos, passam a enxergar a realidade sem o filtro das imagens enganosas. Essa saída da caverna significa a contemplação do bem e o acesso às ideias. No âmbito político, representa a possibilidade do exercício do governo à luz da justiça e o afastamento das formas de dominação.

10. (Gabarito oficial) (Gabarito oficial) Aristóteles revela que o ser humano pode escolher três espécies fundamentais de vida: vida dos prazeres, a vida política e a vida contemplativa. A maioria busca o prazer – vida dos prazeres –, pois é uma inclinação natural buscar o prazer e fugir da dor. A vida dos prazeres não se restringe apenas aos seres humanos, mas faz parte da vida de todos os animais, pois esses sentem apetites e desejos. Os apetites ou as coisas apetecidas não são boas nem más; os apetites só se tornam maus se não estiverem mediados pela racionalidade sendo, assim, imoderados. A vida política é escolhida pelos melhores, pois esses visam à honra. A honra é o objeto da vida política. O problema é que a honra depende mais

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de quem a dá do que daquele que a recebe. Se a felicidade deve ser constituída por algo que seja próprio a cada indivíduo e não por algo que dependa de um terceiro, a vida de honra não pode proporcionar a mais alta felicidade. A felicidade mais perfeita para os seres humanos reside no exercício da inteligência teorética, isto é, na contemplação. É a vida contemplativa que realiza o fim próprio do ser humano. A vida contemplativa é uma espécie de vida: auto-suficiente, aquele que a possui já não deseja mais nada, embora isso não o impeça de desfrutar de outros bens; que buscamos por si mesmo e não como meio para outra coisa; é uma atividade contínua e duradoura. Mas Aristóteles reconhece que o ideal de uma vida contemplativa contínua é apenas possível para os deuses; os seres humanos têm necessidades ligadas ao corpo. Portanto, a felicidade também pode ser encontrada mediante o exercício da sabedoria prática, que consiste em dominar as paixões e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social.

Espera-se que o candidato apresente os três tipos principais de vida para Aristóteles: a vida dos prazeres – prazer; a vida política – honra; e a vida contemplativa – razão. Aristóteles assevera que a maioria das pessoas busca a vida dos prazeres – o prazer –, pois é uma inclinação natural buscar o prazer e fugir da dor.

• A vida dos prazeres não se restringe apenas aos seres humanos, mas faz parte da vida de todos os animais, pois esses sentem apetites e desejos.

• Os apetites ou as coisas apetecidas não são boas nem más; os apetites só se tornam maus se não estiverem mediados pela racionalidade sendo, assim, imoderados.

A vida política é escolhida pelos melhores, pois esses visam à honra.

• A honra é o objeto da vida política, no entanto, o problema é que a honra depende mais de quem a dá do que daquele que a recebe.

• No entanto, a felicidade deve ser constituída por algo que seja próprio a cada indivíduo e não por algo que dependa de um terceiro, assim, a vida de honra não pode proporcionar a mais alta felicidade.

A felicidade mais perfeita para os seres humanos reside no exercício da inteligência teorética, isto é, na contemplação.

• A vida contemplativa realiza o fim próprio do ser humano.

• A vida contemplativa é uma espécie de vida autosuficiente, aquele que a possui já não deseja mais nada, embora isso não o impeça de desfrutar de outros bens; uma espécie de vida que buscamos por si mesma e não comomeio para outra coisa; uma atividade contínua e duradoura.

Aristóteles reconhece que o ideal de uma vida contemplativa contínua/duradoura apenas é possível para os deuses, pois os seres humanos têm necessidades ligadas ao corpo. Portanto, a felicidade também pode ser encontrada mediante o exercício da sabedoria prática, que consiste em dominar as paixões e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social.

Alguns ainda procuram a riqueza, mas a riqueza é apenas um meio, nunca um fim. A riqueza é algo externo ao ser humano e é desejada por aquilo que pode proporcionar e não em si mesma. A riqueza é uma condição prévia, pois oportuniza ao ser humano a possibilidade de se dedicar e a exercitar a atividade própria da felicidade.

11. (Gabarito oficial) Como ressaltado pelo texto de Aristóteles, a família e a aldeia satisfazem as necessidades em sentido amplo, mas não atendem de forma plena as exigências para o “viver bem”. “O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o conjunto é necessariamente mais importante do que as partes” (p.146). Tais condições somente

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são atingidas com a cidade-Estado, que é “uma forma natural de associação” que engloba as formas anteriores. Em A Política, Aristóteles defende o vínculo entre Estado e natureza de forma intensa, ao contrário dos Sofistas que advogavam a tese de que a pólis resultava de mera convenção. Nesse sentido, “o Estado é uma criação da natureza e o homem é, por natureza, um animal político” (p.146). É nesse contexto que se insere o indivíduo (cidadão). Ele partilha com a cidade a mesma espécie de bem, apenas em grau menos elevado (o cidadão é menos importante do que a pólis). É na pólis que o homem vive, mas não meramente como espectador, pois é nela que ele se autoconstitui a partir da participação política na condução dos negócios públicos. O homem é, portanto, um animal político que vive em uma sociedade organizada politicamente.

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