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Imigrantes Digitais: O Uso de Celulares Inteligentes por Idosos Chapecoenses. Mirella SCHUCH

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Academic year: 2021

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Imigrantes Digitais: O Uso de Celulares Inteligentes por Idosos Chapecoenses 1

Mirella SCHUCH 2

Ana Paula BOURSCHEID 3

Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Chapecó, SC

Resumo

O estudo averigua o consumo de smartphones e redes sociais digitais pelos4 participantes da Cidade do Idoso de Chapecó, a partir do método Estudo de Caso (MARTINO, 2018). Contextualiza-se o objeto de estudo a partir do conceito da cibercultura (LÉVY, 2015), percebendo que as construções culturais dos idosos são levadas para os meios digitais. Constata-se que mais da maioria dos idosos integrantes do projeto possuem ​smartphone ​e que, gradativamente, as redes sociais digitais fazem parte do seu cotidiano.

Palavras-chave

Cibercultura; Imigrantes Digitais; Smartphones; Cidade do Idoso; Estudo de Caso.

Telefones inteligentes. É assim que ​smartphones ​podem ser descritos, visto que possibilitam o acesso à internet, possuem câmeras para o registro de fotos e vídeos, rodam aplicativos e jogos, entre outras funcionalidades. De acordo com a 31ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas , realizada 5

pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) em junho de 2020, o Brasil possui atualmente 1,1 ​smartphone por habitante. São 234 milhões de telefones

1Trabalho apresentado na IJ05 - Comunicação Multimídia, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Estudante de Graduação 8°. semestre do Curso de Jornalismo da UNOCHAPECÓ. E-mail: mirella.schuch@unochapeco.edu.br

3 Orientadora do trabalho. Doutoranda em Comunicação Social pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social - PPGCOM/PUCRS. Mestra em Jornalismo pelo Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina - PPGJor/UFSC. Jornalista formada pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó. Professora no curso de Jornalismo da Unochapecó. E-mail: bourscheid@unochapeco.edu.br. 4 O artigo integra o Projeto de Pesquisa “Smartphones e a terceira idade” e contou com o apoio do Estado de Santa Catarina, através do Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (Uniedu) e da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).

5​Disponível em: <https://eaesp.fgv.br/sites/eaesp.fgv.br/files/u68/fgvcia2020pesti-ppt.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2020.

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inteligentes no país. Já no mundo, a cada 10 habitantes, nove possuem o aparelho. Quando comparadas as vendas de ​smartphones ​e televisões no Brasil e no mundo, a cada uma TV comprada, quatro telefones inteligentes são adquiridos.

O crescimento deste mercado vem sendo registrado anualmente e atinge todas as faixas etárias da população. Segundo matéria publicada no site da revista Exame, o6 estudo realizado em 2015 com cerca de 6 mil pessoas com mais de 50 anos pela ​AVG Techonologies​, apontou que 78% dos entrevistados afirmaram possuir ​smartphones​. Entre os pesquisados, 98% responderam que usam aplicativos, destes 79% afirmam que os mais utilizados são os ​apps ​para comunicação. Em relação às redes sociais digitais, os serviços mais acessados, conforme 76% dos pesquisados, são o ​WhatsApp ​e o Facebook​.

Em 2017, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - divulgados em matéria publicada no site da revista ISTOÉ , 8,6 milhões de 7 brasileiros que integram a faixa etária com mais de 60 anos, navegava na internet. Neste mesmo ano, 2,3 milhões de pessoas idosas usaram a web pela primeira vez. Este crescente consumo da internet pela terceira idade, entendida por Prensky (2010) como imigrantes digitais, uma vez que integram a geração que adotou a tecnologia em suas vidas ao longo dos anos, acompanhando a evolução das tecnologias de comunicação e informação, deve-se ao barateamento de alguns modelos de ​smartphones ​e também a diminuição no valor dos pacotes de acesso à internet móvel, fator que faz com que o crescimento nas vendas cresça de modo significativo e facilite o acesso à internet pela população, em especial ao grupo dos idosos.

Assim como no cenário mundial, estima-se um crescimento no número de idosos, e em especial de idosos inseridos na internet através do uso de ​smartphones​em Chapecó-SC, maior cidade da região Oeste Catarinense. Dados do último censo

6 Disponível em:

<exame.abril.com.br/tecnologia/57-da-populacao-brasileira-usa-smartphone-diz-estudo/​>. Acesso em: 25 mar. 2019.

7​Disponível em:​<istoe.com.br/a-nova-onda-da-terceira-idade/>. Acesso em: 25 mar. 2019.

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realizado em 2010 pelo IBGE , apontam que Chapecó contava com uma população8

idosa de mais de 25 mil pessoas.

A partir destes dados, viu-se o propósito de investigar o uso de ​smartphones pelos idosos participantes do Projeto Cidade do Idoso, de Chapecó/SC, identificando para quais ações eles utilizam os telefones inteligentes e através de quais redes sociais digitais se comunicam. Para ancorar a pesquisa, utilizou-se como método o Estudo de Caso, que, como afirma Martino (2018), “é a pesquisa feita a partir da análise de uma situação, escolhida a partir de critérios definidos, para responder às perguntas propostas nos objetivos do trabalho” (MARTINO, 2018, p.140). Segundo o autor, o pesquisador foca sobre uma única situação, verifica todos os aspectos relacionados a ela para, então, elaborar a análise.

Geração Conectada

A cibercultura é a cultura, seja ela intelectual, material ou simbólica, que ocorre no ciberespaço (LÉVY, 2015). Ou, como o próprio autor diz, “é a transposição para um espaço conectado das culturas humanas em sua complexidade e diversidade” (LÉVY, 2015, p. 29).

Com sua estrutura técnico-operacional, a cibercultura também é o “conjunto de práticas levadas a cabo por pessoas conectadas a uma rede de computadores” (LÉVY, 2015, p.29). Desta forma, os idosos levam sua cultura, crenças, ideologias e ideais para o meio digital. Assim, as ações humanas não são determinadas pela tecnologia, mas sim as tecnologias criam condições para que algumas práticas possam ser exercidas.

O objeto de estudo desta pesquisa é o projeto Cidade do Idoso, que possui suas instalações no Parque de Exposições Tancredo Neves, no bairro Efapi de Chapecó/SC. A Cidade do Idoso é um ​serviço mantido pela Administração Municipal, por meio da Secretaria de Assistência Social de Chapecó e, em 2020, completa 12 anos de atividade. O projeto atende chapecoenses com mais de 60 anos e visa trazer qualidade de vida aos

8 Disponivel em:<cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/chapeco>. Acesso em: 24 mar. 2019.

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participantes, através de mais de 10 tipos de serviços fornecidos. Atualmente, o programa possui cerca de 2.000 idosos cadastrados, a maioria mulheres.

Hidroginástica, com piscina aquecida 24h, academia, pilates solo, aulas de violão e acordeon, grupo de música e cantoria, aulas de alfabetização, arteterapia, informática, dança, e a Hora Cultural. Essas são atividades proporcionadas aos idosos. A Cidade do Idoso conta com o apoio de parceiros, que prestam serviços gratuitos, como corte cabelo e momento religioso. O Grupo de Fortalecimento de Vínculo é outro importante serviço do projeto. Através dele, os idosos são acolhidos e participam de trabalhos coletivos e de estudos, sob orientação de uma psicóloga, uma assistente social e uma pedagoga. Nos encontros, todos discutem sobre o envelhecimento, o luto, a sexualidade, a família e temas relacionados à terceira idade. O restaurante da Cidade do Idoso fornece gratuitamente cerca de 250 refeições por dia aos participantes.

Para iniciar o Estudo de Caso, elaborou-se o referencial teórico da pesquisa. O segundo passo foi à ida até a Secretaria de Assistência Social, que faz a gestão da Cidade do Idoso para acordar a realização da pesquisa. Firmada a parceria, visitou-se a Cidade do Idoso para conhecer as instalações, os professores, a coordenadora do projeto e aproximar-se dos participantes. O próximo passo foi a ida à campo e aplicação do questionário com 100 idosos. A partir disto, as etapas finais foram a organização dos dados coletados, a análise, construção dos gráficos e elaboração deste artigo.

Os idosos da Cidade do Idoso e o uso de ​Smartphones

Em entrevista com a coordenadora do projeto Cidade do Idoso, constatou-se que 70% dos participantes do projeto são mulheres. A partir da aplicação do questionário com os idosos, construiu-se gráficos que oportunizam fácil visualização e análise dos dados colhidos. Como previsto, 100 idosos foram entrevistados. Destes, 67% são mulheres e 33% homens, conforme mostra a figura 1.

Figura 1 - Identificação do gênero dos participantes.

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Fonte: elaborado pela autora.

A idade média destes idosos é de 70,9 anos. Questionados sobre o grau de escolaridade, 67% respondeu que têm ensino fundamental incompleto, como pode-se ver na figura 2. Dos participantes, 13% disseram ter o ensino fundamental completo; 3% ensino médio incompleto; 10 % ensino médio completo; 2% ensino médio completo; e 5% nunca estudaram. Ensino médio incompleto e “outros” não contabilizaram respostas.

Figura 2 - Grau de escolaridade dos idosos entrevistados.

Fonte: elaborado pela autora.

Na aplicação do questionário, foi possível perceber que alguns idosos são

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analfabetos, pois não tiveram oportunidades de estudar quando jovens. 5 participantes nunca estudaram e a maioria dos idosos têm ensino fundamental incompleto.

Frases como: “naquela época não tinha tempo para estudar, tinha que trabalhar”, e, “eu não pude estudar, porque era longe a escola”, foram ouvidas durante a aplicação do questionário. Estes dados têm relação com a dificuldade dos idosos em usar o smartphone​, visto que alguns não tiveram a oportunidade de aprender a ler e escrever, bem como foi perceptível a dificuldade dos idosos em manipular o celular inteligente, como veremos a seguir.

Em relação aos bairros/localidades/distritos em que estes idosos moram, verificou-se que 17,3% residem no bairro Efapi e 9,2% no Jardim América, como se vê na figura 3. 6,1% residem nos bairros Passo dos Fortes, São Cristóvão, Bela Vista e Presidente Médici. Já no Parque das Palmeiras, Santa Maria e Engenho Braun, residem 5,1%. No bairro Cristo Rei moram 4,1% dos idosos entrevistados. Palmital, Seminário, Eldorado e Centro, 3,1%. 2% residem nos bairros Líder, Universitário e Esplanada. Apenas 1% são moradores dos bairros São Pedro, Rodeio Chato, São Lucas, Vila Real, Marechal Bormann, Maria Goretti, Santo Antônio, Bom Pastor, Monte Castelo, Quedas do Palmital e Alvorada.

Figura 3 - Bairros/localidades/distritos em que os idosos residem..

Fonte: elaborado pela autora.

O Parque onde ficam as instalações da Cidade do Idoso localiza-se no bairro

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Efapi. Assim, é mais viável para os que residem neste bairro frequentarem o projeto, já que o restante necessita utilizar o transporte público para participar das aulas. Tratando-se do tipo de moradia que vivem, 78,9% dos idosos responderam moradia própria, 9,1% alugada, e, 10,1% cedida, como mostra a figura 4. Apenas 1% deles afirmaram ter a moradia financiada.

Figura 4 - Tipos de moradia em que os idosos residem.

Fonte: elaborado pela autora.

Como pode ser observado nas figuras 3 e 4, os resultados em relação à bairro/localidade/distrito e moradia não foram calculados com base em 100 respostas, mas em 98 e 99, respectivamente, pois no momento do questionário, o transporte público chegou e os idosos não puderam responder à estas perguntas dos respectivos gráficos. Outro questionamento feito aos idosos foi: “Você possui ​smartphone​?”, porém, no momento da entrevista, o substantivo foi substituído pela palavra “celular” e explicou-se o que é um celular inteligente de forma simples, visto que o contato com o termo em inglês não é do cotidiano do grupo entrevistado. Dos 100 idosos, 65% responderam possuir e 35% não ter, de acordo com a figura.

Figura 5 - Idosos que possuem ou não ​smartphones​.

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Fonte: elaborado pela autora.

Em relação aos que afirmaram possuir ​smartphone​, 78,5% responderam que compraram e 21,5% afirmaram ter ganho o celular inteligente, como pode-se perceber na figura 6. Nenhum dos questionados alegou ter o ​smartphone​ emprestado de alguém.

Figura 6 - Forma de aquisição dos ​smartphones​ pelos idosos.

Fonte: elaborado pela autora.

Quando se trata dos participantes que disseram não possuir celulares inteligentes, 45,7% dos 35 idosos que não os possuem afirmaram não dominar as funcionalidades, 28,6% disseram não ter interesse, e, 17,1% não possui condições financeiras, como pode-se conferir na figura 7. As respostas “não tem necessidade”, “não gosta” e “não quer se viciar” contabilizaram 2,9%, cada uma.

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Figura 7 - Motivos pelo qual os idosos não possuem ​smartphones.

Fonte: elaborado pela autora.

Entre um questionário e outro, informações complementares foram coletadas. Um dos entrevistados disse que gostaria de ter um celular, mas um ​smartphone ​não. Outro, contou que tinha um ​smartphone​, mas não aprendeu a mexer e, por isso, se desfez dele. Um idoso chamou a atenção ao relatar que não utiliza o celular inteligente por conta da dificuldade na audição. Foi perceptível que a perda e a baixa audição são circunstâncias que influenciam na relação entre usuário e dispositivos. A falta de apoio familiar foi outra questão exposta por um dos participantes, quando questionado sobre não usar ​smartphone​.

Uma das perguntas principais foi sobre as finalidades do smartphone para o idoso(a). As mídias sociais foram citadas por 87,7% dos entrevistados, ficando atrás apenas da realização e recepção de ligações, que contabilizou 95,4%, como ilustra a figura 8. A finalidade de fazer fotos e vídeos foi a terceira opção mais apresentada, somando 56,9% dos idosos. Calendário, despertador e calculadora também tiveram respostas significativas, com 36,9; 30,8; e 21,5%, respectivamente. As usabilidades que obtiveram menor incidência entre os idosos foram: ver o horário (10,8%); fazer pesquisas (6,2%); previsão do tempo (4,6%); informar-se (4,6%); jogos (3,1%); dicionário (1,5%); e escutar músicas (1,5%).

Figura 8 - Finalidade de uso dos smartphones pelos idosos.

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Fonte: elaborado pela autora.

No decorrer da pesquisa, constatou-se que há idosos que possuem ​smartphone​, mas o utilizam apenas para fazer e receber ligações, o que poderia ser feito com o celular simples. Quanto ao acesso das mídias sociais, o “zap”, como referiram-se ao Whatsapp, foi citado várias vezes e gerou diálogos entre os idosos. Mesmo com a quantidade de entrevistados que afirmaram possuir e utilizar mídias sociais, apenas sete deles disseram usar o​ smartphone​ com a finalidade de informar-se.

Por mais que as fotos e os vídeos tenham sido mencionados por 37 dos 100 idosos, foi possível perceber a dificuldade dos entrevistados ao realizar estas ações. Uma das idosas chamou a atenção ao utilizar o dedo médio para tocar os ícones da tela do smartphone.

Ainda em relação ao uso do celular inteligente, uma idosa comentou que liga para a amiga e a convida para jogar o tradicional jogo de cartas, conhecido como canastra. Outra participante frisou que utiliza o ​Gmail ​e que só usa o despertador para lembrar de tomar o remédio. O uso da mídia social ​Twitter foi citada por uma entrevistada, que faz uso de praticamente todas as funcionalidades que o ​smartphone oferece, principalmente o ​Whatsapp​. Esta mídia, porém, não é preferência de uma outra participante. Já o ​e-mail​ foi respondido por pelo menos três idosos.

Para complementar as perguntas previstas no questionário, foram colhidas

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informações sobre as atividades que os idosos participam. Os resultados estão apresentados na figura 8. Como consta no gráfico, quase a metade dos entrevistados pratica musculação (45%), pilates e hidroginástica foram a segunda e terceira atividades mais desenvolvidas, com 32% e 20%, respectivamente. Dança contabilizou 6%, música/ canto 4%, e arteterapia 1%.

Figura 9 - Atividade(s) que os idosos praticam na Cidade do Idoso.

Fonte: elaborado pela autora.

Os novos hábitos criados pelo acesso ao ​Smartphone

No decorrer da aplicação do questionário realizado com os participantes da Cidade do Idoso, dados complementares puderam ser colhidos, visto que se estabeleceu uma relação de proximidade com os participantes e o diálogo abriu espaço para que contassem histórias.

Uma das participantes, Maria* , ao sair da aula de pilates, foi direto ao9

restaurante vinculado ao projeto, sentou-se, pegou o ​smartphone ​, e com o dedo do meio tocou no ícone do ​Whatsapp​ e leu a mensagem que uma amiga a havia enviado. Contou que assistiu uma série de 70 capítulos: Na ​Netflix​, tem tudo que você quer. Já em outro momento, Maria disse que pesquisou muito nas férias sobre os países da Ásia e da

9 Utiliza-se codinomes para referir-se aos participantes da pesquisa. Uma vez que o estudo primou por preservar a identidade dos idosos..

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África, para “ver a miséria e dar valor ao que a gente tem”.Em outro dia, a professora fez a chamada no início da aula pelo ​smartphone​. O sinal do ​wifi caiu e iniciou-se a conversa entre os idosos: E o dia que faltar o sistema, vamos ficar sem chamada?!; Vamos usar o papel, daí!; A internet aqui é muito boa, né? (em tom de ironia); Aí, vamos voltar para a era dos dinossauros; Tem que desligar e ativar o 3G, professora. Os participantes se divertiam com os comentários uns dos outros.

Maria chamou a atenção da pesquisadora, pois utilizava o ​smartphone ​por um bom tempo. Ela contou que tem várias mídias sociais e que “o mundo está dentro do celular, basta você querer aprender a mexer nele e procurar as coisas”. A participante utiliza com frequência o ​Google ​para fazer pesquisas, bem como para atualizar-se das notícias.

Outras duas senhoras que atraíram a atenção da pesquisadora foram as amigas Ana e Beatriz. As duas se ajudam e aprendem juntas a utilizar o celular inteligente. Beatriz já desliga o celular antes de iniciar a aula. Enquanto acompanhava Ana na arteterapia, outra idosa comentou: Esses dias me atrapalhei. Ao invés de atender, desliguei. Tratava-se de uma chamada que havia recebido. Uma senhora, ainda, entrou na conversa e mostrou fotos dos trabalhos artesanais que faz, tiradas com seu smartphone. Ela teve dificuldade para abri-las, mas após algumas tentativas, conseguiu. Ana é muito ligada no tema política. Mostrou vídeos de políticos com os quais simpatiza e compartilhava-s com os amigos no ​Whatsapp​. Também deu ​play em um vídeo de outro político, que tinham compartilhado com ela, este ela afirmou que não gostava das ideias. Durante um dos encontros do Grupo de Fortalecimento de Vínculo, que as duas participam nos mesmos dias e horários, Beatriz emprestou seu ​smartphone para Ana ligar para o seu próprio aparelho, pois havia deixado em outro espaço do parque. Ana mexia no ​smartphone​, confirmou horário para ver se já era hora da aula de musculação e ligou para sua irmã, pedindo que colocasse o gato para dentro de casa. Ela demonstrou facilidade em utilizar o ​smartphone​, fazer e receber chamadas, realizar buscas no ​Google e usar as mais diversas mídias sociais, como o ​Whatsapp​, o ​Twitter e o ​Facebook​. Ao desligar a chamada, foi para a aula e deixou seu celular em cima da mesa do professor.

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Na academia, Ana questionou: A gente está vivendo mais, então tem que dividir a terceira idade, porque é diferente pra quem tem 60 e quem tem 90, tu não acha? Você e eu vamos viver 100 anos!. Por recém ter entrado na terceira idade, Ana compreende que as gerações anteriores à dela não tiveram contato com as tecnologias, mas que ela não é tão “antiga”, visto que está conectada e ligada nas notícias através do ​smartphone​.

Beatriz, que estava na aula de arteterapia, contou sobre suas férias. Disse que usou o “ ​Zap​” e o “​Face​” para se comunicar e compartilhar com a família e amigos o que estava fazendo. Só não usava quando estava na praia. Até que foi tentar abrir a conta do seu ​Facebook e ele havia “sumido”: Aí pensei em criar outro ​Face​. Se todo mundo consegue, por que eu não posso conseguir? Tentei criar um novo e consegui. Meus sobrinhos me disseram ‘tia, tu já tá com seis ​Face​’. Aonde que não aparece pra mim?

Ao tratar-se sobre o ​Whatsapp​, Beatriz disse que a chamada de vídeo é interessante, porque existe a possibilidade de falar, ouvir e ver as pessoas pela tela do smartphone​: Até meus cinquenta anos eu não tinha celular. O primeiro que tive era bem pequeninho, só dava pra fazer ligação, não dava pra ver ​zap​, ​face​, nada. Se eu fico sozinha em casa eu esqueço de comer. Não como nada. Só bateria! Beatriz compartilhou que sua irmã manda foto do almoço para ela e lhe pede o que havia comido naquele dia. Em certo momento, Ana convidou Beatriz: Vamos sair sábado? É três quadras, não precisa nem de ​Uber​.

Na academia, Antônio praticava musculação. Ao final da conversa, disse: Pode me acompanhar no ​Face​, que lá eu tô conectado com o mundo! Eu tenho 3 mil seguidores. Na foto eu tô trajado de gaúcho. Ele não estava com seu ​smartphone​, pois havia deixado no carro. Na aula, o aparelho toca e distrai sua atenção. Antônio contou que em um dia que não iria na aula, mandou mensagem para o professor pelo smartphone​, mas resolveu ir pessoalmente até a Cidade do Idoso avisá-lo.. Percebe-se que por mais que a tecnologia o auxilie, ele precisa da presença “real” para ter certeza de que sua mensagem chegou até a pessoa. Antônio tinha o aplicativo ​Whatsapp​em seu smartphone​, mas comentou que desativou e usava o aparelho somente para receber e fazer ligações: Não sinto falta da internet no celular. Internet só tenho no computador e

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uso o ​Face ​para divulgar meus trabalhos”. Ele é artesão e também utiliza o ​email para se comunicar.

Considerações Finais

A pesquisa nos indaga a refletir sobre o senso comum que se têm em relação ao contato dos idosos com a tecnologia. Através do estudo, foi possível constatar que os participantes da Cidade do Idoso estão, gradativamente, inseridos no universo digital e cada vez mais se aprimorando de suas ferramentas. Os idosos estão se familiarizando com os ​smartphones​. Alguns procuram mexer no celular inteligente para tentar aprender, outros têm medo de usá-lo e maior dificuldade para dominar suas funcionalidades.

Como mostram os dados apresentados, as mulheres são a maioria em relação ao uso dos ​smartphones​. Ressalta-se que a pesquisa não teve a intenção de aprofundar questões socioeconômicas e que, inclusive, alguns idosos sentiram-se desconfortáveis ao responder que não possuem ​smartphone por conta da condição financeira. Entretanto, foi possível perceber que o contexto econômico também influencia na aquisição de celulares inteligentes.

O uso das mídias sociais digitais, como o ​Instagram​, ​Twitter​, ​Email​, ​Gmail​, YouTube​, ​Facebook e ​Whatsapp​, é predominante no grupo de idosos entrevistados - principalmente os dois últimos citados. Ao mesmo tempo que muitos deles as utilizam, constatou-se o baixo conhecimento sobre as mídias digitais. Entretanto, a vontade de aprender a usá-las foi perceptível. Alguns participantes ainda têm medo de mexer no smartphone ​e desistem de usá-lo, mas muitos os utilizam até aprender e se encantam com as descobertas do universo virtual.

Contata-se que os imigrantes digitais, podem ser compreendidos como uma geração que, ao longo dos anos, adotou a tecnologia em suas vidas e, consequentemente, vem acompanhando a evolução das mesmas. Ao estar inseridos no ambiente digital, os idosos levam à rede suas bagagens culturais e as compartilham neste meio que é complexo e plural.

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Referências Bibliográficas

MARTINO, Luís Mauro Sá. Métodos de pesquisa em Comunicação: projetos, ideias,

práticas.​ Rio de Janeiro: Vozes, 2018.

LÉVY, Pierre.​Cibercultura, tecnologia e inteligência​. IN: MARTINO, Luís Mauro Sá. ​T​eoria

das Mídias Digitais: linguagens, ambientes, redes. 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

PRENSKY, Marc.​Digital Natives, Digital Immigrants. SEK: Albatros, 2010. Disponível em:

<www.marcprensky.com/writing/Prensky-NATIVOS%20E%20INMIGRANTES%20DIGITAL

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