A pandemia de covid-19 trouxe para a suinocultura brasileira um cenário de incertezas e de muitos desafios em 2020. Depois de caírem com força entre março e abril, quando as recomendações de distanciamento social e decretos municipais e estaduais impactaram significativamente a demanda por produtos suinícolas, os valores tanto do suíno vivo quanto da carne iniciaram um movimento de
recuperação em todas as praças
acompanhadas pelo Cepea, atingindo recordes
reais em setembro, impulsionados
principalmente pelas exportações, pelo auxílio emergencial do governo federal e a gradativa retomada das atividades econômicas. Contudo, a recuperação dos preços foi interrompida em dezembro, mês que foi marcado por quedas nas cotações.
Contrariando a expectativa dos agentes do setor, os preços médios do suíno em dezembro apresentaram forte recuo frente aos do mês anterior, interrompendo sete meses de altas consecutivas. A pressão veio da diminuição das vendas internas, principalmente na primeira quinzena do mês, movimento atípico para o período do ano. De novembro para dezembro, as maiores desvalorizações, acima de 20%, ocorreram no Sudeste do País.
Na média de dezembro, o animal vivo se
desvalorizou 21,41% na região SP-5 (São Paulo, Campinas, Sorocaba, Bragança Paulista e Piracicaba), com a média passando de R$ 9,50/kg em novembro para R$ 7,46/kg no último mês do ano.
Em Avaré/Fartura (SP) e São José do Rio Preto (SP), as quedas foram ainda maiores, de 23,1% e de 24,3%, respectivamente, com o animal cotado a R$ 7,35/kg e a R$ 7,22/kg, na mesma ordem. Em Ponte Nova (MG) e Belo Horizonte (MG), as médias foram de R$ 7,28/ kg e de R$ 7,29/kg em dezembro, recuo de 20,7% para ambas as regiões frente às observadas em novembro.
Na região Sul, as desvalorizações foram menores, mas, ainda assim, intensas e atípicas para a época do ano. Em Erechim (RS), o quilo do animal foi cotado a R$ 7,63 na média de dezembro, queda de 14,6% em relação a novembro. Na Serra Gaúcha (RS), a baixa foi de 12% no período, com o animal cotado na média de R$ 7,71/kg em dezembro, e no Oeste Catarinense, o recuo foi de 17,3%, com o suíno vivo passando para R$ 8,02/kg em dezembro.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Gráfico 2 - Indicadores do Suíno Vivo CEPEA/ESALQ - Preços pagos ao produtor (dezembro/19 a
dezembro/20 - R$/kg) Fonte: Cepea-Esalq/USP. 4,00 4,50 5,00 5,50 6,00 6,50 7,00 7,50 8,00 8,50 9,00 9,50 10,00 10,50 11,00 11,50 12,00 12,50 13,00 13,50 14,00 14,50
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
R $ /kg 2016 2017 2018 2019 2020 2,50 2,80 3,10 3,40 3,70 4,00 4,30 4,60 4,90 5,20 5,50 5,80 6,10 6,40 6,70 7,00 7,30 7,60 7,90 8,20 8,50 8,80 9,10 9,40 9,70 10,00 10,30 02/ 12/ 2019 12/ 12/ 2019 26/ 12/ 2019 09/ 01/ 2020 21/ 01/ 2020 31 /01 /20 20 12/ 02/ 2020 26 /02 /20 20 09/ 03/ 2020 19/ 03/ 2020 31/ 03/ 2020 13/ 04/ 2020 24/ 04/ 2020 07/ 05/ 2020 19/ 05/ 2020 29/ 05/ 2020 10/ 06/ 2020 23/ 06/ 2020 03/ 07/ 2020 15/ 07/ 2020 27/ 07/ 2020 06/ 08/ 2020 18/ 08/ 2020 28/ 08/ 2020 10 /09 /20 20 22/ 09/ 2020 02/ 10/ 2020 15/ 10/ 2020 27/ 10/ 2020 09/ 11/ 2020 19/ 11/ 2020 01/ 12/ 2020 11/ 12/ 2020 23/ 12/ 2020 R $ /kg MG SP PR SC RS
Ao longo de 2020, os embarques de carne suína permaneceram elevados, atingindo
volumes recordes. Em dezembro,
especificamente, a quantidade embarcada recuou, sendo a menor em oito meses, mas, ainda assim, foi a mais elevada para o mês.
De acordo com dados da Secex
compilados pelo Cepea, foram exportadas 81,3 mil toneladas de carne suína em dezembro, queda de 6% na comparação com novembro, mas 8,7% acima do volume de dezembro de 2019. Esse recuo
mensal esteve atrelado aos menores
envios a Hong Kong e ao Vietnã,
importantes destinos da proteína
brasileira. De novembro a dezembro, as
exportações a Hong Kong recuaram
18,9%, somando 10,25 mil toneladas no último mês. Ao Vietnã, foram embarcadas 1,15 mil toneladas, forte queda mensal de 49,7%.
Com recuo dos demais destinos, as
vendas à China representaram 55,3% das exportações totais de carne suína, a maior
da série – foram 44,95 mil toneladas
enviadas ao país asiático, ainda segundo dados da Secex. Ressalta-se que os embarques brasileiros à China estiveram aquecidos ao longo de todo 2020, uma vez que as recentes crises sanitárias
enfrentadas pelo país influenciaram
fortemente a suinocultura chinesa, que precisou aumentar as importações de
carne e diversificar seu rol de
fornecedores.
Com o impulso chinês, as exportações brasileiras de carne suína encerram 2020 somando 1,01 milhão de toneladas, 36,7% acima do total de 2019, quase 60% a mais que em 2018 e um recorde, ainda tendo-se como batendo-se os dados da Secex. A receita foi favorecida pelo dólar elevado e
somou R$ 11,71 bilhões em 2020,
expressivo crescimento de 86,3% na
comparação com o ano anterior e um recorde.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA
Estado Média mensal Variação no mês Mínimo mensal Máximo mensal
Minas Gerais 7,31 -6,3% 6,69 7,59
São Paulo 7,46 -4,9% 6,74 8,01
Paraná 6,92 -10,4% 6,69 7,35
Santa Catarina 7,27 -7,0% 7,11 7,59
Rio Grande do Sul 7,49 -6,3% 7,34 7,87
Tabela 1 - Indicadores do Suíno Vivo CEPEA/ESALQ - Preços pagos ao produtor - dezembro/20 (R$/Kg)
Região Média mensal Variação no mês Mínimo mensal Máximo mensal
Patos de Minas 7,32 -6,8% 6,69 7,59
Belo Horizonte 7,29 -7,8% 6,67 7,58
Sul de Minas 7,38 -11,7% 6,69 7,60
Ponte Nova 7,28 -1,8% 6,69 7,60
São José do Rio Preto 7,22 -16,0% 6,58 7,73
Avaré 7,35 -16,2% 6,66 7,99 SP-5 7,46 -4,5% 6,74 8,03 Arapoti 7,39 -13,8% 6,98 7,94 SO Paranaense 7,20 -18,2% 6,90 7,65 Oeste Catarinense 8,02 -5,8% 7,80 8,23 Braço do Norte 6,95 -11,3% 6,74 7,39 Erechim 7,63 -5,1% 7,44 7,94 Santa Rosa 7,83 -6,6% 7,59 8,13 Serra Gaúcha 7,71 -7,6% 7,51 7,94
Tabela 2 - Médias regionais do preço do suíno vivo - dezembro/20 (R$/Kg)
Estado Média mensal Variação no mês Mínimo mensal Máximo mensal
Carcaça Comum 10,49 -12,3% 9,30 11,85
Carcaça Especial 11,15 -10,6% 9,99 12,83
Lombo 16,95 -7,5% 15,87 17,99
Pernil com osso 13,78 -13,8% 13,04 15,17
Costela 16,11 -7,5% 15,64 17,09
Carré 13,36 -5,3% 13,01 13,92
Paleta sem osso 14,80 -11,1% 13,96 15,71
Tabela 4 - Relação de troca de suíno por milho e de suíno por farelo de soja (kg vivo/kg de insumo) – média dezembro/20
vivo/milho Variação mensal vivo/farelo Variação mensal
SP 5,95 -16,9% 2,87 -18,7%
MG 6,37 -12,8% 2,96 -9,6%
Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Tabela 3 - Médias dos preços das carnes - atacado da Grande São Paulo - dezembro/20 (R$/kg)
Fonte: Cepea-Esalq/USP. Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Gráfico 3 - Preços internos (carcaça - Grande SP) e externo (carne in natura), deflacionados pelo
IPCA - R$/kg
Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Gráfico 4 - Exportações de carne suína in natura entre dezembro/19 e dezembro/20, volume e receita
Fonte: Cepea-Esalq/USP. 3,00 5,00 7,00 9,00 11,00 13,00 15,00 d ez /18 ja n /19 fe v/19 ma r/19 ab r/19 m a i/19 ju n /19 ju l/19 ag o /19 se t/19 o u t/19 n o v/19 d ez /19 jan /20 fe v/20 ma r/20 ab r/20 ma i/20 ju n /20 ju l/20 ag o /20 se t/20 o u t/20 n o v/20 d ez /20 R $/k g
Preço Interno Preço Externo
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 d e z/ 19 jan /20 fev /20 m ar /2 0 ab r/ 2 0 m ai /20 ju n /20 ju l/ 2 0 ag o /20 set /20 o u t/ 20 n o v/ 20 d e z/ 20 1.000 t US$ milhões
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA No mês de dezembro, a desvalorização do
suíno no mercado interno foi mais intensa do que a observada para os principais insumos consumidos na atividade, milho e farelo de soja. Com isso, o poder de compra dos suinocultores frente a esses produtos recuou, chegando, inclusive, ao menor patamar dos seis meses anteriores.
Considerando-se o milho negociado na região de Campinas (SP) e o suíno no mercado independente da região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), foi possível ao suinocultor a compra de 5,95 quilos do cereal com a venda de um quilo de suíno na média de dezembro, recuo de 16,9% na comparação com a de novembro. Quanto ao farelo de soja, foi possível ao produtor a compra de 2,87 quilos do derivado, 18,7% a menos que em novembro. Essas são as piores relações de troca ao suinocultor paulista desde junho/20.
No Oeste Catarinense, foi possível ao suinocultor a compra de 6,03 quilos de milho com a venda de um quilo de animal na média de dezembro, queda de 13,3% na comparação com novembro. Frente ao farelo de soja, o recuo mensal foi de 14,4%, sendo
possível ao produtor a compra de 3,13 quilos
do derivado, também as menores
quantidades dos últimos seis meses.
No mercado de milho, enquanto compradores se mantiveram retraídos, a parcela vendedora permitiu maior flexibilização nas negociações, situação que pressionou os valores do cereal no mercado interno. Em Campinas, a saca de 60 kg foi cotada a R$ 75,33 na média do mês, queda de 5,4% frente a novembro. Em Chapecó (SC), o recuo foi de 4,7%, a R$ 79,82/sc na média de dezembro.
Para o farelo de soja, a baixa disponibilidade do grão no mercado interno levou parte da indústria a intensificar as importações de soja, aumentando a oferta doméstica dos derivados e, consequentemente, pressionando as cotações. Na média de dezembro, o farelo foi cotado a R$ 2.600,88/tonelada em Campinas, queda de 3,3% frente ao mês anterior. Em Chapecó, o recuo foi de 3,4%, com a média a R$ 2.562,99/t no mês de dezembro.
Gráfico 5 - Relação de troca (kg de suíno/kg de milho e kg suíno/kg do farelo de soja - dezembro/19 a
dezembro/20
Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Gráfico 6 - Preços da carcaça casada bovina, carcaça especial suína e frango inteiro resfriado, no
atacado da Grande São Paulo (R$/kg) - novembro/19 a dezembro/20
Fonte: Cepea-Esalq/USP. 0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 7,5 9,0 10,5 d e z/ 19 jan /20 fev /20 m ar /2 0 ab r/ 2 0 m ai /20 ju n /20 ju l/ 2 0 ag o /20 set /20 o u t/ 20 n o v/ 20 d e z/ 20
SP Suíno/Milho SP Suíno/Farelo MG Suíno/Milho MG Suíno/Farelo
2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 13,00 14,00 15,00 16,00 17,00 18,00 19,00 20,00 n o v/ 19 d e z/ 19 jan /20 fev /20 m ar /2 0 ab r/ 2 0 m ai /20 ju n /20 ju l/ 2 0 ag o /20 set /20 o u t/ 20 n o v/ 20 d e z/ 20 R $/k g
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA
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O Boletim do Suíno é elaborado mensalmente pelo Cepea - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP. Interessados em reproduzir o conteúdo devem solicitar autorização.
Coordenador: Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, Ph.D
Pesquisador responsável: Prof. Dr.
Sergio De Zen
Equipe: Juliana Ferraz, Matheus do
Valle Liasch, Luccas Bavaresco, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Ferdynanda Silva e Victoria de Castro Mendonça
Jornalista responsável: Alessandra da Paz - Mtb: 49.148 Revisão: Bruna Sampaio - Mtb: 79.466 Flávia Gutierrez - Mtb: 53.681 Nádia Zanirato - Mtb: 81.086
O atípico movimento de diminuição das
vendas internas de carne suína – e de
consequente queda no preço do animal vivo,
principalmente na primeira quinzena de
dezembro– fez o valor médio da proteína cair
fortemente no último mês do ano. Assim, as altas mensais, que vinham sendo observadas desde abril/20, foram interrompidas, o que, por sua vez, elevou a competividade da proteína suína frente às concorrentes (bovina e de frango).
Conforme levantamento do Cepea, de
novembro para dezembro, a carcaça especial suína se desvalorizou 19,7%, em termos reais (deflacionados pelo IPCA de dez/20), indo para R$ 11,15/kg. Os preços das carnes
concorrentes, bovina e frango, também
caíram, mas em menor intensidade, em 8,4% e 6,5%, respectivamente, com as médias de dezembro a R$ 17,57/kg para a carcaça casada bovina e a R$ 5,86/kg para o frango
inteiro resfriado – todos negociados na
Grande São Paulo.
No caso da carne de frango, a demanda tradicionalmente se desaquece em período de festas de fim de ano. Esse movimento,
somado à perda de competitividade da proteína, diminuiu a liquidez da carne avícola e resultou em desvalorizações da maioria dos produtos acompanhados pelo Cepea. Na média de dezembro, a carcaça suína foi cotada 5,29 Reais/kg acima do frango inteiro, queda de 30,6% frente à diferença observada em novembro, de 7,63 Reais/kg.
Quanto ao mercado de carne bovina, apesar do período de festas, a demanda não se aqueceu como o esperado, o que pode estar atrelado ao menor poder de compra da população. Vale mencionar, também, que,
embora as exportações dessa proteína
apresentem bom desempenho, o ritmo de
embarques diário em dezembro esteve
abaixo do verificado em meses anteriores, contexto que pode ter resultado em aumento na disponibilidade doméstica. Mesmo com a desvalorização da carne bovina, também
houve perda de competitividade dessa
proteína frente à carne suína. Em dezembro,
a carcaça casada bovina esteve 6,42
Reais/kg mais cara que a carcaça especial suína, aumento de 21,6% em relação ao mês anterior, quando a diferença era de 5,28 Reais/kg.