• Nenhum resultado encontrado

Destaque Depec - Bradesco

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Destaque Depec - Bradesco"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Apesar de ter sido implementado há poucos anos, o cumprimento do teto torna-se cada dia mais desafiador. Apesar do efeito positivo de médio prazo da aprovação da reforma da

previdência, as reformas adicionais necessárias para manter o teto tiveram suas discussões postergadas por conta da pandemia e, sem aprovações rápidas, há uma insuficiência potencial de cerca de R$ 15 bilhões para o seu cumprimento no próximo ano. Apesar de ações de curto prazo ainda serem possíveis, o quadro explicita a necessidade de se discutirem soluções para o gasto público no médio prazo. Sem comprometimento com esses ajustes, a preocupação com o endividamento público se agravará, com as consequências já conhecidas: aumento da percepção de risco soberano, depreciação da moeda, diminuição de investimentos estrangeiros, do crescimento potencial, elevação dos juros estruturais e do desemprego.

Existem três regras fiscais em vigor no Brasil: a regra de ouro, a meta de resultado primário e o teto de gastos, cada uma com um foco e com punições previstas em caso de descumprimento. Tanto a regra de ouro – que limita o financiamento de despesas correntes por

emissão de dívida - quanto a meta de primário não foram suficientes para evitar o quadro de deterioração fiscal no país, com aumento expressivo do gasto público. Com isso, mais uma regra foi criada, dessa vez atacando diretamente a fonte do problema. A regra do teto de gastos impede o crescimento real das despesas e, no médio prazo, leva a uma queda das despesas em relação ao PIB1. Em um cenário de carga tributária estável, essa queda dos gastos como proporção do PIB levaria ao aumento do resultado primário e redução da dívida bruta.

Desde o estabelecimento do teto, a despesa caiu de 19,9% para 19,5% do PIB. Trata-se de

um ajuste ainda incipiente, apesar do cumprimento do teto, uma vez que o crescimento decepcionou no período. Adicionalmente, esse ajuste inicial será interrompido neste ano por conta das necessárias medidas de combate à pandemia e suas consequências. No entanto, a partir de 2021, o ajuste deveria ser retomado, com queda da despesa para 17% do PIB até 2026, ano em que a regra poderia ser revista, segundo a Constituição.

Gráfico 1: Receita e Despesa Primária % do PIB

Fonte: Tesouro Nacional, Bradesco

12 de agosto de 2020

Destaque Depec - Bradesco

Cumprimento do teto e credibilidade das regras fiscais

Myriã Bast Fernando Honorato Barbosa

18,5% 17,2% 19,8% 16,7% 11% 13% 15% 17% 19% 21% 23% 25% 27% 29% 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020* 2022* 2024* 2026* Receita líquida Despesa total Teto dos gastos

(2)

186 141 155 123 118 157 95 105 115 125 135 145 155 165 175 185

ago-13 ago-14 ago-15 ago-16 ago-17 ago-18 ago-19 ago-20

pandemia

Destaque Depec - Bradesco

Mesmo que incipiente, o efeito desse ajuste sobre as contas públicas foi visível. O teto dos gastos está por trás da redução do juro real no país, após décadas de taxas acima da média dos emergentes, justamente porque o mecanismo criou uma âncora fiscal crível para o longo prazo, inclusive favorecendo o debate sobre a necessidade da reforma da previdência. Com isso foi possível projetar uma trajetória de endividamento público cadente, convergindo para níveis mais próximos daqueles registrados em outros países emergentes.

A reforma da previdência iniciou a agenda de ajuste fiscal, mas outras reformas precisam ser feitas para manter o teto viável nos próximos anos. Como cerca de 90% das despesas são obrigatórias no Brasil, há pouca margem para redução de gastos. Por isso, novas reformas tinham sido encaminhadas ao Congresso e atacavam temas como a reestruturação de carreiras e gastos administrativos, revisão de subsídios e de programas redundantes que não mais cumpriam sua função original. Com a pandemia, essas discussões foram postergadas, já que o tema de saúde pública se tornou mais urgente. Neste momento, no entanto, é necessário que esse debate retorne.

Nos próximos dias, o governo deve enviar o Orçamento de 2021 e o cumprimento do teto será a questão mais importante. É entendimento geral que a peça Orçamentária não pode incluir o descumprimento do teto; portanto, o governo terá que apresentar em que rubricas os cortes acontecerão2. Em nossas estimativas, há uma insuficiência de aproximadamente R$ 15 bilhões para que o teto seja cumprido no ano que vem. Para essa estimativa, estamos considerando gastos de R$ 718 bilhões com benefícios previdenciários e R$ 326 bilhões com pessoal (1% de alta comparado com 2020, variação menor do a média dos últimos anos, que foi de 4%). Para o salário mínimo, estamos considerando reajuste apenas para recomposição da inflação. Para as despesas discricionárias, que já foram bastante ajustadas nos últimos períodos, consideramos um total de R$ 118 bilhões, voltando para o mínimo alcançado nos últimos anos. Esse patamar, no entanto, é bastante baixo, e exigirá importantes ganhos de eficiência em curto espaço de tempo para que não venha a limitar a oferta de alguns serviços públicos.

Gráfico 2: Despesas discricionárias

Excluindo saúde e educação, R$ bilhões constantes

Fonte: Tesouro Nacional, Bradesco

2É pouco provável também que, para cumprir a regra orçamentária o governo adote premissas pouco realistas para a despesa. Essas

premissas seriam facilmente identificadas, o que torna “real” o esforço de cumprimento do teto – e, portanto, o debate das alternativas – já no encaminhamento da proposta orçamentária ao final deste mês.

(3)

Destaque Depec - Bradesco

A inflação mais baixa – um dos ativos mais positivos para o país nos últimos anos – reduziu, paradoxalmente, o espaço do teto de gastos. O choque sobre a atividade econômica causado

pela pandemia derrubou os indicadores de inflação, surpreendendo as previsões iniciais para o orçamento do governo. O IPCA até junho deste ano, que serve de referência para o cálculo do teto do ano que vem, acumulou alta de 2,20%. Em relação ao previsto no início do ano (alta de 3,35%), isso gera uma diferença de R$ 17 bilhões no espaço para as despesas. Essa redução, junto à carga elevada de despesas obrigatórias, tornou ainda mais necessário o avanço de reformas fiscais para cumprimento do teto em 2021.

Tabela 1: Acompanhamento do teto de gastos Em R$ bilhões correntes

Fonte: Tesouro Nacional, Bradesco

O equacionamento de R$ 15 bilhões dentro do orçamento de 2021 não é impossível, mas é relevante, por isso o debate em torno de reformas precisa ser retomado. A PEC Emergencial por exemplo, é uma

das medidas que poderiam economizar cerca de R$ 16 bilhões já no primeiro ano de vigência das novas regras, enquanto a Reforma Administrativa poderia economizar mais no longo prazo, uma vez que não há detalhes para avaliar a economia de curto prazo. Sem reformas constitucionais, algumas possibilidades de ajuste até podem (e devem) ser implementadas para permitir o cumprimento do teto em 2021 e, talvez, 2022, mas serão soluções de curto prazo, não recorrentes e não contribuirão para a percepção de viabilidade do teto e solvência da dívida no longo prazo3.

O momento pós pandemia será muito desafiador para o país e particularmente para as contas públicas. A tendência é que aumente a demanda por gastos assistenciais, seja de transferência unilateral

ou de proteção, como o seguro-desemprego. Nesse ambiente, para circunscrever a complexa discussão sobre corte de gastos, é possível, desejável e há boas propostas para de arranjos efetivos que envolvem a redistribuição de programas e verbas orçamentárias para proteger os mais vulneráveis dentro dos limites do teto, que, inclusive, contribuem para a redução da desigualdade no país. Ainda assim, sem um compromisso de médio prazo, seja com o teto ou com medidas viáveis de controle de gasto, a trajetória de endividamento pode ser muito pior. Em nosso cenário base, em que o teto é cumprido em todo o período, a dívida bruta chega a 98% do PIB em 2025, com crescimento de 3,0% da economia e juro real de 2%. Sem o teto, essas variáveis podem ser revistas e o juro real dificilmente se manterá em 2%, assim como um crescimento sustentado do PIB em 3% será mais difícil. A consequência seria uma trajetória mais elevada, se distanciando ainda mais da média dos emergentes.

A elevação do endividamento pode trazer de volta ao debate sobre aumento da carga tributária. A

elevação de impostos geraria um déficit primário menor no curto prazo, mas é preciso lembrar que essa é uma resposta menos eficiente do que o corte de gastos públicos, dada a já elevada carga tributária no país, especialmente comparada a países emergentes, dificultando ainda mais o crescimento de médio prazo.

Acompanhamento teto de gastos

2017 2018 2019 2020 2021

Despesa Total 1.279.008 1.351.757 1.441.890 1.984.168 1.527.589

Despesa Teto 1.258.928 1.287.761 1.373.260 1.453.224 1.500.175

Limite Teto (EC 95/2016) 1.308.622 1.347.859 1.407.043 1.454.410 1.485.420

Folga/Insuficiência do Teto 49.694 60.099 33.783 1.186 -14.755

3No último ano, chegou-se a discutir algumas mudanças no tratamento de repasses da União para Estados e municípios, que abririam

(4)

Destaque Depec - Bradesco

Neste segundo semestre, há foco na reforma tributária e esses temas devem ter destaque. Por ora, há resistência a uma elevação da carga tributária, com preferência por uma

simplificação do complexo sistema tributário nacional, o que é bastante desejável. Contudo, as reformas do lado da despesa precisam avançar.

Gráfico 3: Dívida Bruta/PIB

Diferentes cenários de crescimento, com juro real de 2% e teto dos gastos mantido em todo o horizonte

Fonte: Tesouro Nacional, Bradesco

É importante lembrar porque, historicamente, as regras anteriores não foram suficientes para evitar a deterioração fiscal. É possível fazer críticas ao formato das regras e sugerir melhorias para cada uma delas. De um modo geral, entretanto, essas regras possuíam desenhos muito apropriados, mas que, na prática, nem sempre foram cumpridos rigorosamente. A regra de ouro era mais facilmente cumprida quando havia inflação elevada e investimentos eram contabilizados sem restrição do teto. Quando se tornou mais restritiva, a saída foi aprovar pedido de crédito extraordinário todos os anos. As metas de primário podiam ser revisadas para que fossem cumpridas. Assim, não chegaram a ser restrições reais por tempo suficiente. Houve inúmeras interpretações alternativas ao espírito original da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), de ajuste fiscal. O teto dos gastos começará a ser realmente restritivo a partir de 2021 e tentativas de flexibilização reforçarão a visão de que há uma dificuldade crônica de cumprimento de regras fiscais no país, mesmo quando elas são bem desenhadas e constitucionais. Tivesse o Brasil uma dívida PIB bem mais baixa, estaríamos hoje em condições de responder de forma contracíclica, do ponto de vista fiscal, também em 2021. A pandemia apenas nos alerta para a importância de uma boa gestão fiscal para que o país tenha capacidade de resposta em momentos como esse. Não cumprir o teto nesse nível de endividamento tende a ser contraproducente para o objetivo de expandir o crescimento. Espera-se que as difíceis circunstâncias da pandemia ao menos favoreçam o debate sobre uma alocação mais eficiente dos gastos e subsídios públicos dados os limites ao orçamento e ao endividamento nos próximos anos.

98 104 110 40 50 60 70 80 90 100 110 120 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 PIB 3% PIB 2% PIB 1%

(5)

Equipe Técnica

O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO)

economiaemdia.com.br

Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa

Economistas Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancsó / Fabiana D’Atri / Myriã Tatiany Neves Bast / Priscila Pacheco Trigo / Robson Rodrigues Pereira / Thiago Coraucci de Angelis / Thomas Henrique Schreurs Pires

Estagiários Gustavo Rostelato de Miranda / Henrique Monteiro de Souza Rangel / Lucas Daniel Duarte / Lucas Oliveira Costa da Silva / Marcelo Henrique Leite Alonso

Referências

Documentos relacionados

O treinamento de enduro determina um impacto marcante nas características do músculo esquelético de cavalos tanto nas fibras musculares, como no músculo glúteo médio como um todo;

O estresse pelo frio associado à limitação no consumo de alimento determinou redução no crescimento e alterou a composição dos tipos de fibras no músculo flexor longo do hálux

Embora o complexo do agronegócio do cavalo seja de grande importância para o Brasil e inúmeras pesquisas em vários países estejam sendo publicadas na

Quando se fala em documentação da Federação Eqüestre Internacional (FEI), deve se ter o domínio instrumental dos idiomas inglês e francês. E quando se fala em

Estudar a influência de diferentes doses do Decanoato de Nandrolona associado ao treinamento resistido sobre o perfil fenotípico e a área de secção transversa das fibras musculares

Estudos prévios mostraram que o decréscimo da concentração de testosterona após o esforço abaixo dos valores pré-exercício está relacionado com o estresse imposto

O desdobramento da interação entre programa de alimentação e idade para peso do músculo da perna direita (Tabela 4) mostrou que, dentro de idade, o peso do músculo foi menor nas

Licenciada em Psicologia pela FPCE – UP; Doutoranda na Universidade de Salamanca, na área da Neuropsicologia Clínica; Doutoranda em Ciências Biomédicas pela Universidade do