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Fanmade: Análise do Fansite como um Influenciador de Conteúdos Alternativos Dentro das Comunidades On-line. 1

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Academic year: 2021

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Fanmade: Análise do Fansite como um Influenciador de Conteúdos Alternativos

Dentro das Comunidades On-line.1 Silas William VIEIRA2

Alexandro Uguccioni ROMÃO3

Mirian Rita Lucena SILVA4

Centro Universitário Estácio de Brasília, Brasília, DF

RESUMO

Este artigo analisou o fansite como criador de produtos Fanmade, dentro das comunidades on-line. Foi realizada uma análise descritiva, após um acompanhamento diário, durante o primeiro semestre de 2020, das postagens realizadas pela página do RDT Lady Gaga, dentro do site da rede social Twitter. Buscou-se descrever o processo pelo qual os fãs deixaram o posicionamento de receptores passivos, para tornarem-se, também, produtores e influenciadores dentro das comunidades virtuais. Por meio deste trabalho, foi possível conhecer: a abordagem realizada pela fanpage com seus seguidores; os vínculos estabelecidos através dos elos de identificação; o comportamento dos fãs enquanto participantes de uma comunidade, especialmente, na realização de atividades conjuntas e na disseminação de conteúdo.

PALAVRAS-CHAVE: fansite; Lady Gaga; fanmade; comunidades on-line;

1. INTRODUÇÃO

Dentro do universo da cultura pop é comum encontrar diversos materiais produzidos por fãs, como artes gráficas, banners, edições de imagens, fanfiction, entre outros. Para Soares, a cultura pop está relacionada "[...] ao conjunto de práticas, experiências e produtos norteados pela lógica midiática, que tem como gênese o entretenimento;" (SOARES, 2014, p. 02). Compõem essa dimensão cultural, o consumo de programas televisivos, músicas, filmes e outras formas de lazer cultural e midiático,

1 Trabalho apresentado no IJ05 - Comunicação Multimídia da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica

em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universidade Estácio de

Brasília, e-mail: silaswilliam12@gmail.com

3 Orientador do trabalho. Professor Mestre do Curso de Publicidade e Propaganda e Jornalismo do Centro Universidade

Estácio de Brasília, e-mail: alexandro.romao@estacio.br

4 Coorientadora do trabalho. Professora Mestre do Curso de Publicidade e Propaganda e Jornalismo do Centro

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inseridas nas últimas décadas, também, em ambiente digital. A cultura pop relaciona-se com a indústria cultural, possuindo como foco a fabricação de produtos culturais para a grande massa, principalmente, com ênfase no consumo rápido desses produtos.

Esta pesquisa aborda o fansite como um canal alternativo de criação de conteúdo

fanmade, dentro de comunidades on-line. Especialmente, a respeito do processo de

convergência presente na produção e disseminação desses produtos relacionados à cultura pop dentro do ambiente virtual. Para Jenkins (2009), a cultura da convergência possibilita aos consumidores maior liberdade e autonomia criativa em relação aos produtos midiáticos que são distribuídos através dos meios tradicionais. Neste trabalho, são analisados registros de produção de conteúdos alternativos, que foram produzidos e compartilhados pelos próprios fãs para com outros fãs dentro do site da rede social Twitter.

O corpus desta pesquisa constitui-se na observação da fanpage RDT Lady Gaga5. Essa página da internet, possui destaque, pela grande produção de conteúdo feitos unicamente por fãs da cantora Lady Gaga. Através dos dados recolhidos, são analisados o funcionamento e o processo de troca de informações entre o fansite e seus seguidores. Paralelamente, observa-se como surgem os elos de identificação, incluindo o comportamento enquanto comunidade, dentro do ambiente virtual.

A justificativa para a realização dessa pesquisa está relacionada com a importância social e comportamental que a cultura pop – especialmente, no âmbito musical popular norte-americano – exerce sobre seus consumidores dentro da comunidade on-line de little

monsters6 brasileiros. Essa influência pode também resultar em condutas específicas, além de promover o alcance midiático, que está intimamente relacionado à visibilidade artística, dentro dos canais comunicativos.

Esse artigo tem como finalidade investigar as formas pelas quais os fãs se deslocam do posicionamento de receptores passivos, para tornarem-se também produtores e influenciadores ativos, dentro das comunidades on-line. Esse movimento acompanha a mudança em que as mídias tradicionais abre espaço para as mídias digitais, na centralidade da disseminação de conteúdo e influência, dentro do processo comunicacional, a respeito da cultura pop.

5 Disponível em: http://www.rdtladygaga.com/ acesso em 04/06/2020 às 16:09.

6 Grupo de Fãs da cantora estadunidense Lady Gaga. http://g1.globo.com/musica/fotos/2012/11/little-monsters-aguardam-show-de-lady-gaga-em-saopaulo.html. Acessado em 04/06/2020 às 19:25

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Após a análise dos dados recolhidos, é possível compreender de forma mais aprofundada, como funciona a abordagem do fansite com seus seguidores. Além disso, entender o processo de disseminação e consumo de produtos culturais. Por último, perceber os comportamentos dos fãs em atividades conjuntas, como as votações on-line e a realização de streaming party, nas plataformas musicais.

2. CULTURA DE MASSA E COMUNIDADES VIRTUAIS

Surgida após a Segunda Guerra Mundial, a cultura de massa, de acordo com Morin (2002), refere-se a uma terceira cultura que foi antecedida pela colonização da África e em seguida, pela industrialização do espírito. Funcionando como um produto global voltado para a produção e o consumo em grande escala, essa terceira cultura impactou, diretamente, seus consumidores em consequência da rápida substituição por novos produtos.

Rocha afirma que: "O consumo assume lugar primordial como estruturador dos valores e práticas que regulam relações sociais, que constroem identidades e definem mapas culturais" (ROCHA, 2005 p. 124). Justamente pela imposição que é criada devido a essa necessidade de consumo e descarte. A cultura de massa trabalha na vertente da quantidade e da produção. Ela prioriza a padronização dos produtos culturais, o rápido e extensivo modo de reprodução – voltado para o industrial sem obrigatoriamente ter um valor artístico por trás.

Em virtude dessa padronização, durante todo o processo de criação das mercadorias de cultura de massa, Morin relata que os modos de consumir esses produtos também são padronizados:

[...] nem a divisão do trabalho nem a padronização, são em si, obstáculos à individualização da obra. Na realidade, elas tendem a sufocá-la e aumentá-la ao mesmo tempo: quanto mais a indústria cultural se desenvolve, mais ela apela para a individuação, mas tende também a padronizar essa individualização. (MORIN, 2002, p. 31).

Sobre a individualização aplicada no contexto desta pesquisa, pode ser comparada a vasta disponibilidade de artistas dentro dos gêneros musicais. O largo consumo exige esta variedade de artistas e conteúdos disponíveis para que os indivíduos tenham total liberdade de escolha do que será consumido.

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Liberdade de escolha que trabalha lado a lado com a cultura do consumo. O resultado desse poder de escolha dentro das sociedades contemporâneas contribui para o aumento de lazer igualitário e individual dos consumidores. Justamente porque a sociedade utiliza-se desses múltiplos produtos para estabelecerem distinções sociais entre os indivíduos de acordo com o conteúdo que lhes interessa. Ao mesmo tempo, criam aproximações com seus semelhantes por meio de interesses e práticas em comum.

A interatividade entre os usuários proporciona liberdade de expressão, dando autonomia de discurso e idealizações através das participações dentro das comunidades

on-line, tanto em suas respostas e reações às mensagens recebidas pelos outros

participantes, quanto na interpretação individual de cada participante.

O termo “interatividade” em geral ressalta a participação do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo. [...] o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho. (LÉVY, 1999, p. 79, grifo do autor).

São muitos os locais disponíveis para encontrar grupos com os mesmos ideais e objetivos. Fanpages, blogs, fóruns, redes sociais – e muitos outros canais de comunicação dentro da internet – são utilizados como meios que favorecem essa ligação e conexão entre os internautas. Por tratar-se de um processo participativo, como Lemos e Cunha (2003) o descrevem, não existem protocolos oficiais a serem seguidos, ou que ditem como se portar em conjunto nesses espaços. Sendo livre a interação, o que irá ser opinado, quando o indivíduo deve apenas ouvir e conter-se, ou até mesmo quando ele deve se impor e expor o seu próprio ponto de vista a respeito de determinados assuntos.

Outro ponto que norteia o modo de comportamento e vida dentro desses grupos, está relacionado às representações presentes nos produtos e personas criadas para nortear a produção e o consumo do irreal dentro do mundo virtual. “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos.” (DEBORD, 2003, p. 13). Para Sibilia, "Uma das manifestações dessa fome de veracidade na cultura contemporânea é o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia." (SIBILIA, 2012, p. 22). Os internautas tornam-se cada vez mais dependentes de fragmentos de distintas realidades, que são registradas e compartilhadas a todo momento. Além de buscarem viver a realidade de outras pessoas como se fosse a sua.

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Durante essa interação, também, surgem os aspectos referentes à relação fã ídolo. Monteiro (2005) afirma que a relação fã ídolo é dividida em três etapas: a primeira, é o ídolo em si, representando as escolhas dos fãs nos ambientes econômico, social e político; a segunda, é a incorporação dos seus valores sendo transmitidos aos fãs; e a terceira é a criação de novos conteúdos e significados que mantenham o percurso das suas relações em conjunto. Com os aspectos relacionados ao consumo de produtos midiáticos, há uma relação estreita em que o fã consume os produtos associados à imagem do ídolo, como um modo de participação da cultura e compartilhamento dos valores envolvidos nessa trama.

3. O PAPEL DO FÃ DENTRO DO UNIVERSO DA CULTURA POP

Para Soares (2014), os seguidores da cultura pop, além de consumidores, também são intérpretes dessa cultura por conseguirem ressignificar suas experiências, seja através de suas interpretações ou apoderações de artefatos apresentados durante o processo. Proporcionando, por esse raciocínio, a sensação de pertencimento, pois a cultura pop “estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de afinidades que situam indivíduos dentro de um sentido transnacional e globalizante”. (SOARES, 2014, p. 07).

Monteiro (2005) defende que, os estudos pioneiros a respeito do comportamento da figura do fã dentro da ciência não eram encarados com seriedade. Para o autor, os estudiosos promoviam uma compreensão distorcida a respeito da relação de idolatria entre os fãs e seus ídolos. Mascarenhas e Soares também ressaltam que o próprio fanatismo carrega consigo a sensação de alienação como consequência dessa ação. “Ser fã e pertencer a algum fandom traz estigmas que reforçam estereótipos ao relacionar a figura do consumidor à ideia de alienação.” (MASCARENHAS e SOARES, 2015, p. 154). Em especial pelo grau de influência de um ídolo para com seus fãs.

A cultura da convergência aponta o fã como peça fundamental dentro do processo comunicacional que envolve a disseminação de produtos oriundos da cultura pop. Estudada por Jenkins (2009), essa cultura possibilita o cruzamento entre mídias: a corporativa (tradicional) e a alternativa (independente), onde os poderes dos produtores e dos consumidores interagem de maneiras imprevisíveis.

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Essas interações, para o autor, impactam diretamente tanto no consumo quanto na produção dos produtos comercializados pelos meios corporativos. Assim, “[...] fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e da circulação de novos conteúdos.” (JENKINS, 2009, p. 378). As denominações de papéis dentro da cultura da convergência dão autonomia ao consumidor, com destaque para o ambiente virtual. Configura-se, assim, um papel em que o fã deixa de ser apenas um receptor passivo e torna-se, também, um produtor dentro do processo comunicacional.

A web é o local percebido como apropriado para o aumento da produção de materiais fanmade, por proporcionar um espaço que estimule a autonomia criativa do fã. Essa disseminação de conteúdo fanmade é estabelecida sem nenhum vínculo comercial envolvido. Conforme ressalta Jenkins, “Essas histórias são fruto do amor; elas operam numa economia de doação e são oferecidas gratuitamente a outros fãs que compartilham da mesma paixão [...]” (JENKINS, 2009, p. 242). Isso faz com que o fã se sinta confortável para colocar suas ideias dentro do processo criativo midiático.

4. PERCURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa foi realizada através de uma análise descritiva sobre o comportamento e o convívio dos fãs da cantora Lady Gaga dentro do ambiente virtual. O método descritivo “[...] têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. (GIL, 2002 p. 42). A escolha desse procedimento de coleta dos dados, contribuiu para analisar o comportamento e conhecer as atividades realizadas entre o

fansite e seus seguidores.

A escolha, do tema de pesquisa partiu da percepção inicial sobre a influência que o fansite exerce sobre seus seguidores e a importância de sua presença dentro do processo de consumo dos produtos midiáticos. O delineamento do corpus de análise foi definido em virtude da produção de conteúdo do fansite RDT Lady Gaga, dentro da página da rede social Twitter. A partir da combinação dos objetivos exploratório-descritivo foi possível aumentar o conhecimento e a compreensão a respeito da cultura do fã dentro de uma comunidade on-line.

A extração dos dados foi realizada por meio de um acompanhamento diário dos conteúdos produzidos pelo RDT Lady Gaga, durante o primeiro semestre de 2020. A

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observação ocorreu de maneira mais intensa entre os meses de março e julho, em virtude do lançamento do sexto álbum de estúdio da cantora. Nesse, período constatou-se o aumento de produção de conteúdo na página pesquisada, assim como a realização de atividades conjuntas entre os fãs.

Como vetores de análise definiu-se os seguintes: 1) os registros que apresentavam as ações de divulgação de conteúdos no Twitter; 2) a presença dos elos de identificação entre os participantes; 3) o estímulo ao consumo de produtos oficiais; e, por último, 4) a união dos usuários para a realização das atividades conjuntas. Após a coleta dos dados, realizou-se a categorização do conteúdo recolhido de acordo com os objetivos pré-estabelecidos no início desse estudo.

5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

RDT Lady Gaga é um website construído e idealizado por fãs da cantora Lady Gaga. A sigla RDT vem do termo “redaction” – que em português significa redação. Está no ar desde julho de 2011, com perfis presentes dentro das maiores redes sociais – incluindo o Twitter, onde conta com aproximadamente 71,8 mil seguidores7 em sua página oficial. O website apresenta uma equipe com mais de 50 participantes que se dedicam à disseminação de informações, em tempo real, a respeito da artista Lady Gaga. Desde sua estreia em 2011, o fansite acumula mais de 34 milhões de visitas8.

Ele também dispõe de duas extensões no Twitter, além do perfil principal. Cada perfil tem uma especialidade dentro do Twitter: o @RDTLadyGaga é o perfil principal do fansite. O @RDTMutiroes é o perfil voltado para a realização de atividades on-line. E o @rdt_media é o perfil utilizado para a postagem de mídia como ensaios fotográficos, entrevistas e vídeos relacionados a artista. Para esta pesquisa, foram utilizados os dados oriundos apenas do perfil principal e da extensão RDT Mutirões.

5.1 DIVULGAÇÃO DE CONTEÚDO

A publicação de conteúdo é de responsabilidade do perfil principal. Como exemplo de divulgação foram recolhidos registros de uma ação específica que ocorreu

7 Consulta em 31/05/2020

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entre os dias 14 e 29 de maio de 2020. Um dos motivos para a escolha desta ação, em específico, foi a expectativa do fansite e dos seguidores para o lançamento do sexto álbum de estúdio da cantora Lady Gaga, o Chromatica9, lançado mundialmente em 29 de maio

de 2020.

Figura 1 - Ação de divulgação de conteúdo

Fonte: Print do Autor acessado em 30/05/2020

Na primeira parte da ação, o fansite iniciou uma contagem de quinze dias para o lançamento do álbum, logo após ao anúncio da data de lançamento. Foram realizados

posts diários acompanhados de uma arte gráfica que indicavam a quantidade de dias que

faltavam para o lançamento do álbum, como mostram os exemplos na Figura 1.

A segunda parte, trata-se do dia de lançamento do álbum. No tuíte publicado à meia-noite do dia 29 de maio de 2020, o fansite anunciou o lançamento oficial do álbum em todas as plataformas digitais, atrelando uma arte gráfica fanmade ao tweet postado, para chamar a atenção dos leitores e dar mais visibilidade ao lançamento do álbum.

9 Chromatica <https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2020/05/29/chromatica-tem-lady-gagaem-volta-as-origens-com-letras-diretas-e-eurodance-escapista-g1-ouviu.ghtml.> acessado em 21/06/2020 às 18:06

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Figura 2 - Arte gráfica fanmade

Fonte: Print do Autor acessado em 30/05/2020

Através do acompanhamento desta ação de divulgação de conteúdo, percebeu-se exatamente o que Jenkins (2009) destaca a respeito das consequências que essas transformações midiáticas exercem, impactando diretamente o processo midiático tradicional. Fazendo com que pessoas comuns tenham mais liberdade para contribuirem ativamente dentro da cultura da convergência. Como a criação de artes gráficas para destacar a espera e a disponibilidade do álbum nas plataformas oficiais.

5.2 ELOS DE IDENTIFICAÇÃO

No dia 23 de maio de 2020 foi realizada uma postagem pelo fansite comemorando o 9° aniversário do álbum “Born This Way” – lançado em 2011. No tuíte foi perguntado aos seguidores qual era o significado do disco em suas vidas.

Figura 3 - Elos entre os usuários

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Nos comentários em resposta ao post, foi possível observar depoimentos extremamente pessoais, que foram compartilhados entre os fãs. Desde aspectos relacionados à superação de inseguranças, auto aceitação ou até mesmo a conquista de realizações acadêmicas.

Esse fato pode exemplificar, de acordo com o conceito proposto por Jenkins (2009), a importância dos elos de identificação entre os integrantes que fazem parte do processo de convergência, dentro das comunidades. Podendo ainda relacionar-se, também, à percepção de Recuero (2009) sobre como essas redes são mantidas pelos usuários, preservando os interesses em fazer novas amizades com seus semelhantes.

5.3 ESTÍMULO AO CONSUMO

O estímulo ao consumo de produtos midiáticos dentro das comunidades é muito importante. Jenkins (2009) cita a cultura da convergência como uma alternativa que auxilia para o aumento de consumo dos produtos fabricados pelos meios tradicionais.

Foi possível evidenciar a influência do fansite em parceria com a Universal Music Brasil em um tuíte realizado no dia 27 de maio de 2020, em que foi disponibilizado um cupom de desconto válido entre os dias 26/05 e 30/06 que poderia ser utilizado na compra de qualquer produto da artista no site da gravadora.

Figura 4 - Consumo de produtos oficiais

Fonte: Print do Autor acessado em 30/05/2020

Neste caso, a cultura da convergência é utilizada pelas grandes corporações como uma forma de autobenefício em cima da compra e do consumo de produtos oficiais.

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Especialmente porque a influência do fansite e a proximidade com seus seguidores servem como um mediador que conecta e estimula os fãs diretamente no consumo desses produtos.

5.4 ATIVIDADES ON-LINE

Este tópico apresenta o mapeamento de algumas atividades que foram registradas dentro do ambiente virtual em prol de finalidades específicas. A primeira delas é a união da comunidade em favor das votações on-line em que a artista concorreu. A segunda é a realização de mutirões para o aumento de streaming em músicas específicas nas plataformas digitais.

5.4.1 VOTAÇÕES

Uma das atividades realizadas pelo fansite é a divulgação de votações em que Lady Gaga está concorrendo. Através dos links compartilhados, a divulgação entre os seguidores proporciona maior visibilidade para que a artista vença as categorias indicadas.

Figura 5 - Chamadas para votações

Fonte: Print do Autor acessado em 09/04/2020

Na Figura 5 encontram-se exemplos de chamadas para votações on-line realizadas pela extensão RDT Mutirões, durante o primeiro semestre de 2020. Em todos as chamadas selecionadas, observou-se o uso de links atrelados aos textos. Além de instruções a serem seguidas para que os votos sejam contabilizados, como a mudança de IP no dispositivo utilizado, por exemplo. Além do emoji – caractere especial frequentemente utilizado em

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redes e mídias sociais – de sirene, usado neste contexto para chamar atenção dos seguidores.

5.4.2. STREAMING PARTY

Streaming party é um termo criado por fãs para definir um encontro on-line que

reúne diversos usuários, tendo como objetivo ajudar determinado artista a ter um melhor desempenho nas paradas musicais. O encontro acontece em data e horário pré-definidos. Durante a reunião, todos os participantes escutam em seus dispositivos determinada música ou álbum simultaneamente, que são pré-estabelecidos pelos organizadores.

Como exemplo, para apresentar como funciona uma streaming party, foi mapeada às 19 horas do dia 23 de maio de 2020, a Super Streaming Party Rain On Me. Inicialmente notou-se que para um maior alcance, foi divulgado aos seguidores um banner gráfico com a data e horário do evento.

Figura 6 - Chamada para Streaming Party

Fonte: Print do Autor acessado em 30/05/2020

A música pré-estabelecida pelos organizadores, que receberia as reproduções em massa, foi o single “Rain on Me” em parceria com a cantora Ariana Grande. O que possibilitou a união dos fãs de ambas as artistas durante a streaming party.

Simultaneamente, durante as reproduções acontecem interações entre o fansite e seus seguidores através do perfil do Twitter. Essas interações são denominadas desafios.

Esse tipo de evento virtual tem em média entre uma e duas horas de duração. Nesse evento citado acima, que duas horas de duração, contou com a realização de sete desafios que solicitavam a interação dos usuários durante as reproduções.

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Quando iniciada a streaming party, todos os usuários começam a reproduzir a música diversas vezes em uma plataforma de sua preferência, até que o fansite anuncie o término do evento. As reproduções podem ser realizadas por meio de dispositivos eletrônicos como computador, celular, notebook, entre outros.

Figura 7 - Desafios da Streaming party

Fonte: Print do Autor acessado em 24/05/2020

Cada desafio tem uma duração aproximada de 20 minutos, até que surja um novo. Os pedidos de cada atividade são prints que o RDT Lady Gaga vai solicitando como o exemplo da Figura 7. Onde foi solicitado aos participantes 300 comentários com prints de reproduções em alguma plataforma de streaming.

Um ponto interessante, é o uso das hashtags notuíte, e também nos comentários em resposta ao desafio como mostra o exemplo da Figura 7. O uso delas contribui e muito para um maior alcance da ação, e principalmente, para a divulgação da música para os não seguidores da página. Assim como para os usuários da rede que não são fãs da artista. Esta streaming party teve um engajamento final de aproximadamente 50 mil tweets10.

5.5 INCENTIVO PARTICIPATIVO

Como formas de incentivo participativo às atividades entre os seguidores, o RDT Lady Gaga utiliza duas formas de abordagens. A primeira forma é – fazendo o uso das

10 Disponível em https://twitter.com/RDTLadyGaga/status/1264352189994188800?s=20 – Acesso em 22/09/2020 às 12:34

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conquistas obtidas como motivo para os seguidores continuarem participando e contribuindo para vitórias seguintes.

A segunda forma é – utilizando brindes que são sorteados como forma de recompensa para quem participa das atividades propostas. Dessa forma, os participantes realizam as atividades propostas para concorrerem ao prêmio.

Figura 8 - Incentivo através de sorteios

Fonte: Print do autor acessado em 30/05/2020

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho iniciou-se a partir da percepção sobre o fansite como um criador de produtos fanmades dentro das comunidades on-line. Especialmente dentro da comunidade de little monsters brasileiros, presente na rede social Twitter.

Diante disso, esta pesquisa buscou analisar a influência do RDT Lady Gaga sobre os seus seguidores, em que foi possível constatar o impacto direto do fansite no que deve ser consumido por seus seguidores, na produção e divulgação de conteúdo alternativo e na realização de atividades conjuntas em prol de finalidades específicas.

Por meio da metodologia utilizada e dos conhecimentos obtidos com o referencial teórico, durante a avaliação verificou-se que a criação de laços e elos de identificação entre os envolvidos é de extrema importância para manter a frequência participativa e o consumo de produtos midiáticos – tanto tradicionais quanto alternativos – presentes entre os participantes.

Também notou-se a presença das grandes corporações como a Universal Music Brasil, utilizando a influência do fansite com seus seguidores para estimulá-los no

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consumo de seus produtos. Respondendo assim aos objetivos geral e específicos propostos por este trabalho.

Por fim, espera-se que esta pesquisa contribua tanto no ambiente acadêmico – possibilitando a realização de futuros estudos comportamentais dentro das comunidades virtuais – quanto no ambiente mercadológico, propiciando uma melhor compreensão da influência comercial de fansites em seus seguidores.

REFERÊNCIAS

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009.

LEMOS, A.; CUNHA, P. Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. LÉVY, P. Cibercultura. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.

MASCARENHAS, A.; SOARES, T. Estética do fandom: experiência e performance na música pop. Esferas, Brasília, n. 6, p. 153-161, JAN/JUN 2015. ISSN 24466190.

MONTEIRO, T. J. L. Entre a Patologia e a Celebração: a Questão do Fã em uma Perspectiva Histórica. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Rio de janeiro, Set. 2005.

MORIN, E. Cultura de Massas no Século XX: Neurose. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, v. 2 reimp., 2002.

RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

ROCHA, E. Culpa e prazer: imagens do consumo na cultura de massa. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 2, n. 3, 2005.

SIBILIA, P. A construção de si como um personagem real: Autenticidade intimista e declínio de ficção na cultura contemporânea. ECO-pós, Rio de Janeiro, v. 15, n. 03, 2012. ISSN 21758689. SOARES, T. Abordagens teóricas para estudos sobre a cultura pop. Logos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 24, 2014.

Referências

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