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Caminhadas do MIRE vivido e por viver

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Caminhadas

do MIRE vivido

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – é autorizada a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio,

desde que creditada a fonte.

Pesquisa e redação

Gustavo Xavier

Revisão

Guilherme Salgado Rocha

Colaboração

Ana Paula Bellizia; Ana Rosa Carrara;

Ligia Mendes; Thomaz Ferreira Jensen

Projeto gráfico e diagramação

Pauliana Caetano

Ilustração de capa

Claudio Ferreira da Silva

MIRE – Mística e Revolução

mirebrasil@gmail.com misticaerevolucao

2014

(5)

SUMÁRIO

I - CAMINHOS DO NASCIMENTO ...6

II - CAMINHOS DA ORGANIZAÇÃO ...10

III - CAMINHOS DA FORMAÇÃO ...13

IV - CAMINHOS DOS NÚCLEOS ...18

V - CAMINHOS DA REVOLUÇÃO ...36

VI - CAMINHOS DA MÍSTICA ...43

VII – ExpRESSõES ARTÍSTICAS DOS MIRISTAS ...53

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I - CAMINHOS DO NASCIMENTO

A existência do MIRE foi fertilizada por experiências muito significativas, tanto do

pon-to de vista da espiritualidade quanpon-to da política. Como pon-todo acontecimenpon-to social, o MIRE é

tributário de um legado enorme de caminhos pelos quais homens e mulheres respondem às

condições que encontram em seu tempo de vida no mundo. Mais diretamente ligados às

influ-ências que inspiraram o MIRE, podemos nos referir aos movimentos decorrentes da Ação

Cató-lica, especialmente a Juventude Estudantil Católica (JEC) e a Juventude Universitária Católica

(JUC) e suas atuações mais politizadas entre o final da década de 1950 e os anos de 1960. Esses

movimentos utilizavam o método VER-JULGAR-AGIR, desenvolvido na década de 1920 pelo

padre belga Joseph Cardijn, que décadas depois seria nomeado cardeal. Tratava-se de fazer um

processo que seguia, respectivamente, os seguintes passos: constatar a realidade (VER);

anali-sar a realidade, sobretudo à luz dos textos bíblicos (JULGAR), e, por fim, transformar a

realida-de (AGIR). A presença da Ação Católica e suas seções específicas, entre as quais a JEC e a JUC,

demarcava uma das frentes de preocupação da Igreja em relação às contradições da sociedade.

No início dos anos 60, acontece o Concílio Vaticano II, que renovou a Igreja Católica e

le-gitimou ainda mais a aproximação dos fiéis às questões sociais que marcavam sua época. Para

os latino-americanos, as Conferências Gerais do Episcopado em Medellín, no ano de 1968,

e em Puebla, no ano de 1979, confirmaram e aprofundaram as posições da Igreja em relação

aos problemas sociais que submetiam tantos povos à pobreza e a sofrimentos de toda ordem.

Também é decisiva a emergência, desde os anos 60, das Comunidades Eclesiais de Base

(CEBs) no Brasil e em outros países da América Latina, especialmente presentes nas zonas

rurais e nas periferias das cidades. Essa maneira de se organizar como Igreja, em pequenas

comunidades, com uma espiritualidade encarnada na vida do dia a dia e, geralmente, engajada

nas lutas locais, foi uma das grandes inspiradoras de reflexões teológicas novas e profundamente

ligadas à prática das comunidades. Era a Teologia da Libertação, filha da América Latina e da

resistência de seus povos.

Nosso continente, em termos políticos, vivia fortes embates entre regimes autoritários e as

resistências populares que enfrentavam as classes dominantes e seus representantes políticos.

A Revolução Cubana, vitoriosa em 1959, foi emblemática da força do povo que fervia sua sede de

outra sociedade. Mas, para o MIRE, a Revolução Sandinista, vitoriosa em 1979, foi

diretamen-te influendiretamen-te. Isso porque todo aquele caldo de espiritualidade libertadora que se desenvolvia,

principalmente a partir dos anos 60, embebeu a luta política da Nicarágua. Pela primeira vez,

cristãos em massa apoiaram e participaram da luta popular, movidos por valores evangélicos.

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Frei Betto foi solicitado a assessorar a Frente Sandinista sobre marxismo e cristianismo.

Viu de perto a coexistência de cristãos e revolucionários marxistas na mesma luta e os

possí-veis dilemas que poderiam surgir desse encontro. A partir da experiência na Nicarágua, Frei

Betto foi germinando o MIRE. Primeiramente, pensando em um movimento que congregasse

cristãos com opção revolucionária e, assim, fertilizasse permanentemente a fé, ao mesmo

tempo alimentando suas lutas. Seria um movimento que buscaria a síntese entre a opção

revolucionária e o aprofundamento espiritual. Frei Betto buscou apoio de Ernesto Cardenal

(ver breve biografia no capítulo VI, página 51), na Nicarágua. Porém, tanto Ernesto Cardenal

quanto Frei Betto não dispunham de condições de levar à frente a criação e organização de

um movimento como o que se idealizava. Cardenal, além de padre e poeta, estava envolvido

na administração do governo sandinista. Frei Betto, repleto de atividades que envolviam

prin-cipalmente a Pastoral Operária, entre outros compromissos.

Mas a ideia ficou latente. Enquanto isso, no Brasil, Frei Betto criava grupos de oração no

início dos anos 80, reunindo pessoas que se aproximavam pela resistência à ditadura – como o

psicanalista Hélio Pellegrino, entusiasta da ideia do MIRE. E em um desses grupos, formado

por jovens, a ideia se acendeu novamente, muitos anos depois. E então, começaram a

organi-zar o lançamento do Movimento.

Em 2000 esse grupo de jovens deu à luz o MIRE, durante o I Encontro Nacional de Fé e

Política, em Santo André-SP. Lá, foi distribuído um folheto-convite, sobre o que propunham

com o movimento. O folheto ficou conhecido na história do MIRE como “folheto azul” e, com

algumas variações, seguiu como o cartão de visita que viajava pelo Brasil divulgando a

inicia-tiva. Eis o texto da primeira versão:

pARA QUEM BUSCA VIVER A ESpIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO (NA pROFUNDIDADE DA ORAÇÃO)

Há jovens em movimento no Brasil, hoje, que articulam a profundidade da busca espiritual à força do compromisso militante. Jovens que, inspirados pelo exemplo de dom Hélder Câmara e dom Pedro Casaldáliga, pela ação de Gandhi e orientados pelas obras de Leonardo Boff e pela experiência de Frei Betto buscam, nos jardins do Evangelho de Jesus Cristo, as sementes de uma revolução brasilei-ra que tbrasilei-ransforme brasilei-radicalmente este país numa terbrasilei-ra de justiça, liberdade e paz.

Como diz santa Teresa de Ávila, “...não é possível saber se amamos a Deus; já o amor ao próximo pode ser comprovado. E convencei-vos: quanto mais praticardes este último, tanto mais estareis praticando o amor a Deus”.

É fundamental o compromisso de organização da juventude cristã para resgatar ...o sentido de comunidade

Na sociedade individualista e midiática, redescobrir o prazer do encontro e da troca, a alegria da partilha, fruto de amor e esperança. Fazer contato, porque não há palavras que descrevam o sabor do vinho, nem telas que transmitam a força do afeto.

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O encanto da idade do sonho e da luta. A juventude como etapa de aprendizagem e solidificação dos valores éticos e espirituais, que norteiam a nossa experiência de vida e das gerações futuras. ...sentido da mística

Resgatar a naturalidade da dimensão espiritual no cotidiano da vida. Valorizar a contemplação cristã unida à ação, na dinâmica do saudável pulsar da vida.

...sentido da revolução

É preciso lutar por três revoluções no Brasil: democrática, com sua imensa tarefa de eliminar a exclusão social; nacional, buscando a soberania dos brasileiros sobre o Brasil; cultural, visando construir padrões de comportamento, consumo e arte com a cara do nosso povo e de nossas raízes. Se você também tem fome de pão e de beleza, idade entre 16 e 30 anos, e está interessado em in-tegrar um movimento fundado nos princípios acima, preencha a ficha, e entraremos em contato.1

No folheto havia os campos para preenchimento dos dados e o endereço para envio da

ficha. Logo começaram a chegar os contatos remetidos pelas pessoas. Os jovens que

organi-zaram o lançamento do MIRE começaram a catalogar os interessados e preparar encontros.

O folheto azul foi a primeira sistematização da proposta do MIRE. Sua divulgação,

mão a mão, nesse Encontro de Fé e Política, pretendeu chegar a jovens que já tinham

proxi-midade com as esferas pastorais e de Comunidades Eclesiais de Base, a fim de vivenciarem

uma proposta que comungava as mesmas raízes.

Aos jovens que responderam ao folheto azul, foi enviada uma carta que

apresenta-va em mais detalhes os pontos ali constantes: breve histórico da ideia do MIRE, os

com-promissos do participante, sugestão para organizar um encontro de núcleo. E foi enviado

ainda o convite para uma primeira vivência da proposta, que aconteceu em uma tarde de

sábado, em março de 2001, no Centro de Formação do MST em São Paulo. A vivência foi

organizada pelos jovens que então participavam de um núcleo pioneiro, iniciado um mês

antes. O núcleo se converteria, alguns meses mais tarde, no Tenda.

Nesse primeiro encontro não se falou sobre o MIRE, apenas se vivenciou a proposta: o

ambiente foi cuidadosamente preparado, com incenso, caminhos de serragem, bandeiras;

houve acolhida aos participantes; motivou-se um momento de meditação; foi feita leitura e

partilha, em pequenos grupos, de um texto do teólogo Leonardo Boff. Aconteceu uma

cele-bração de partilha no encerramento, além de convite para um encontro no fim de semana

seguinte, este sim para conversar sobre a proposta.

E o MIRE começou.

Nas páginas seguintes, uma caminhada será feita por algumas das experiências e

as-pectos do MIRE. Formação, organização, vivência dos núcleos, desenvolvimento das

ex-periências místicas e das concepções de revolução serão veredas de uma caminhada que,

tomara, se estenda adiante. E que se una a outras caminhadas. Caminhadas do MIRE vivido

1 http://bit.ly/1hJzzuq

(9)

e do MIRE por viver. Caminhadas de jovens distintos, uns mais voltados à espiritualidade,

outros mais à política. Caminhadas de militantes de outros espaços. Caminhadas de

since-ros buscadores da verdade. Caminhadas que desaguem e caminhadas que acolham o fluir

das experiê ncias. Aqui se trata da história de um começo. Aqui se trata, quem sabe, do

vislumbre de um porvir...

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II - CAMINHOS DA ORGANIZAÇÃO

O grupo de jovens responsável pelo lançamento, em dezembro de 2000, começou o ano

de 2001 catalogando os contatos feitos no Encontro de Fé e Política e realizando as primeiras

viagens para formar núcleos. Em março, foi instalada uma estrutura de secretaria em São

Paulo, graças ao apoio financeiro obtido por meio de um projeto aprovado. Foi possível liberar

três militantes para as atividades de organização inicial do MIRE.

As iniciativas de apoio institucional e financeiro foram precursoras da Associação

Nacio-nal de Formação Juvenil (ANFJ), que, iniciada em março, foi formalmente criada em junho,

para ser a personalidade jurídica do MIRE, além de se comprometer a respaldar outros

movi-mentos e ações de juventude com perspectiva libertadora.

Como afirma seu texto de apresentação, redigido em 2001, a ANFJ

é uma sociedade civil destinada a apoiar os movimentos sociais de organização popular (...) desenvolve e apoia projetos destinados a promover organização popular da juventude, criando condições para a efetiva reunião de lideranças populares jovens em todo o Brasil. (...) Orientada no sentido de promover o diálogo entre as religiões em uma perspectiva de paz, a ANFJ organiza cursos e atividades de formação nas áreas política, espiritual ecumênica, ecológica e na promoção e defesa dos valores humanos, realizando encon-tros, debates e seminários, que possam contribuir para a promoção e difusão dos temas da associação.2

Todo membro da ANFJ deveria ser, obrigatoriamente, membro de núcleo do MIRE, mas

a composição da ANFJ não se confunde com a da Coordenação Nacional. Esta última se

carac-teriza como um coletivo responsável pela articulação geral do movimento. E foi no I Encontro

Nacional do MIRE, em novembro de 2001, que se elegeu a primeira Coordenação Nacional,

no lugar da provisória, que, desde meados do ano, assumia as tarefas iniciais do movimento.

Na primeira eleição, oito jovens passaram a representar as regiões nas quais o MIRE se

con-solidava – Sul, Sudeste e Nordeste.

No ano seguinte, além da nova eleição para a Coordenação Nacional, agora composta por

11 membros, foram eleitas as primeiras coordenações regionais, que cumpririam o papel de

integrar os núcleos de suas regiões, fazer a ponte entre os núcleos e a Coordenação Nacional,

apoiar os núcleos com dificuldades e levar as propostas do MIRE a outros jovens.

(11)

Nesse movimento dialético, a base e as instâncias de coordenação deviam estar sempre

co-nectadas umas às outras. Por isso, além da Coordenação Nacional e das coordenações regionais,

havia o papel fundamental do monitor de núcleo, que deveria animar os encontros, orientar os

participantes e ser o responsável pela integração do núcleo ao Movimento.

Claudia, do Núcleo Itaquera-SP, foi monitora por cerca de três anos. Escreveu sobre o

papel do monitor:

Entendo que o papel de uma monitora ou monitor deve estar centrado no cuidado, pois o cuidado é algo que se encontra na raiz de todo o ser humano; é algo que faz parte da constituição humana. E é por este motivo que neste momento venho a assumir esta função novamente, por acreditar que nos movimentos sociais é muito necessário, sempre, cultivarmos o cuidado entre os companheiros e companheiras. Porém, esse cuidar não é somente se fazer presente na vida do outro, mas sim amar, se desvelar pelo outro, se sentir inquieto pelo seu companheiro e se preocupar com ele(a). (...)

tento levar meu papel de monitora como aquela que cuida do núcleo e das pessoas que dele fazem parte, nas suas particularidades, não como uma mãe super-proteto-ra, mas sim como uma pessoa que também faz parte do movimento e traz o núcleo para movimentar-se consigo. (Mirante, abril-julho 2008). 3

A formação dos monitores e o aprofundamento de suas experiências de vida e de

nú-cleo se davam em encontros denominados MIRIM, cuja dinâmica incluía palestras

temáti-cas, partilha de experiências acumuladas pelos núcleos, história e agenda do movimento,

além das vivências características do MIRE até então, como a meditação e os momentos

celebrativos.

Em 2004, a estrutura de eleição e composição da Coordenação Nacional foi debatida

profundamente durante a Assembleia Nacional do MIRE, que ocorreu no terceiro dia do IV

Encontro Nacional do MIRE, em Valinhos-SP. Ficou estabelecido que o voto para eleger os

representantes da Coordenação seria regional, ou seja, cada região teria direito a um voto;

que o número de representantes na Coordenação Nacional seria igual para todas as regiões,

independentemente do número de núcleos; e que cada representante teria mandato de dois

anos, sendo que 50% da coordenação deveria ser renovada anualmente. Foi deliberada uma

modificação na dinâmica do Encontro Nacional, para ser dividido em Assembleia em um ano

e Retiro no outro, sucessivamente. A Assembleia seria um momento de debates e decisões

mais voltadas à própria organização do MIRE, e o Retiro como momento de reflexões dirigidas

à formação política e espiritual de seus militantes.

Ainda em 2004, avaliou-se que a abrangência do MIRE e suas progressivas relações com

outros movimentos exigiam um esforço organizado e sistemático de comunicação. Por isso, foi

3 http://bit.ly/1n8XK3a

(12)

criada uma equipe específica, que se ocuparia com os materiais e canais de divulgação,

espe-cialmente o boletim mensal Mirante e o site da internet.

O VI Encontro Nacional do MIRE, que ocorreu em 2006, em forma de Assembleia

Na-cional, foi precedido pelo texto Travessia do deserto, escrito pela Coordenação Nacional. O

texto visava provocar os militantes a refletir sobre a inserção do MIRE na sociedade, seu papel

concreto nas lutas dos oprimidos, seus entendimentos sobre juventude, sua identidade.

4

Dentre as reflexões do VI Encontro Nacional, estava a de que a formação da juventude

era o ponto central. E de que um dos aspectos da formação era a práxis organizativa e

revolu-cionária, o que incluía a articulação com outros movimentos. E havia a reflexão sobre o próprio

espaço organizativo do MIRE. Além de incentivar a militância e articular-se com outros

mo-vimentos, ponderava-se que o MIRE necessitava de organicidade, já que era constituído não

apenas como núcleos, mas como movimento. Ou seja, a dinâmica de organização também

contribuía para a formação militante, pois a atuação em tarefas como a nucleação de mais

jo-vens trazia experiência organizativa.

5

No Encontro de 2006 definiu-se que haveria alternância entre Assembleia e Encontro,

confirmando a decisão do Encontro Nacional de 2004 - apenas com a variação de “Retiro”

para “Encontro” -, sendo que a Assembleia discutiria as questões de organicidade. E,

em-bora prevista a cada dois anos, a discussão da organicidade poderia ser antecipada pela

Coordenação Nacional de acordo com a necessidade.

Porém, em 2007, o refluxo político do Brasil pareceu permear o MIRE. Isso se refletiu no

cancelamento do VII Encontro Nacional, em decorrência da grande dificuldade de articulação

entre as regiões. Em São Paulo, cinco núcleos se reúnem na Assembleia Regional, que se

pro-longa em uma segunda reunião, em janeiro de 2008. Preocupados com a retração do MIRE,

decidem fazer um esforço de ampliação. Formam um grupo permanente de acolhida de

jo-vens interessados; criam um Coletivo de Ampliação; e formam um Coletivo de Monitores,

que passa a exercer o papel de Coordenação Nacional, buscando interlocução com as demais

regiões. A criação dos coletivos visava superar as maiores fragilidades naquele momento: o

encolhimento do movimento e o esfacelamento de sua organicidade.

4 http://bit.ly/1qbnbWI 5 http://bit.ly/1joIgW9

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III – CAMINHOS DA FORMAÇÃO

A revolução se faz através do homem, mas o homem tem de forjar, dia a dia, o seu espírito revolucionário.

(Ernesto Che Guevara)

O MIRE foi espaço privilegiado para formação humana, política e espiritual de seus

par-ticipantes e dos que dele se aproximaram. A proposta inicial enfatizava a formação como eixo

principal. Seu papel, na conjuntura da fundação era, sobretudo, formar homens e mulheres

novos. Assim refletiam os militantes nos primeiros textos:

Neste momento em que a utopia é colocada na defensiva, voltamo-nos para trabalhar na cozinha da revolução, que é a transformação do homem, ator da história. Em out-ras palavout-ras, vive-se uma conjuntura mundial de refluxo dos movimentos de massa, nos quais as forças populares estão aquém da amplitude trágica dos desafios que nos estão colocados.

(...)

Esse momento histórico é de preparar gente para encarar os desafios. Os valores da vida estão sendo oprimidos de modo geral, em todos os campos da atividade humana, o que nos deixa com duas alternativas: mudar a sociedade como um todo, de cima a baixo, ou trabalhar para mudar o homem, que pode lutar e construir essa mudança.

O MIRE, naquele momento inicial, escolhia a segunda opção. Mas enxergava seu papel

formativo dentro de uma dialética que, no seu todo, devia igualmente transformar a sociedade.

Portanto, o MIRE escolhe trabalhar no homem, mas de um jeito que o leve natural-mente a trabalhar na sociedade. É esse movimento que constitui o jeito de viver difun-dido pelo MIRE, a essência da sua espiritualidade. (Filosofia do MIRE, junho de 2002).6

Toda forma de participação carrega um potencial formativo. Organizar, lutar, fazer

tra-balho de base, preparar encontros são, todas essas, experiências que formam quem a elas se

dedica. Portanto, não são formativos apenas os momentos de estudo. São todas as diferentes

formas de dedicação. E assim foi sendo entendido pelos participantes do MIRE ao longo de

6 http://bit.ly/1joIgW9

(14)

sua trajetória. É o que se nota no relato do VI Encontro Nacional do MIRE. Um dos consensos

sobre o que é “revolução” partia do entendimento de que

é um movimento de inter-relação tanto das esferas subjetivas e objetivas quanto da individual e coletiva, sem uma ordem de causa e efeito. Só a revolução interior não bas-ta, tampouco só a exterior basta. Justamente por ser constituído de uma inter-relação individual e coletiva, ela não deve partir das relações interpessoais para alcançar as es-truturas sociais, mas sim ser um processo dialético dessas duas esferas.

E assim, em consonância com esse entendimento, o MIRE identificava a formação da

ju-ventude como “estudo, vivência, partilha, acúmulo teórico, prático e organizativo. Formação

é experiência, é práxis”. (Relato do Encontro Nacional do MIRE, 2006).

7

Alguns momentos, porém, são condensadores. É quando a formação se adensa, ganha

corpo, as experiências se organizam, sistematizam-se os aprendizados na companhia de

ou-tros e, juntos, militantes sincronizam os passos de seu avanço. Entre dezembro de 2001 e

agos-to de 2002, as participações em alguns momenagos-tos formativos foram registradas: Encontros

Nacionais do MIRE, Fórum Social Mundial, Formação de Monitores, Encontro Nacional de Fé

e Política, encontros sobre a Filosofia do MIRE, o que demonstra a ênfase em promover, desde

o começo, a participação de seus militantes em experiências fortemente formativas.

Os Encontros Nacionais e os Retiros – nacionais e regionais, sendo os retiros voltados

mais especialmente à esfera da mística – foram alguns dos momentos de maior ênfase

for-mativa. Além disso, criaram-se dois Internúcleos, o de Espiritualidade e o de Política. Os

Internúcleos visavam aprofundar a formação de seus participantes em cada um dos temas, a

partir de leituras, encontros de estudo, oficinas, partilhas de questões e debates. E os frutos

das reflexões cultivadas nos Internúcleos deveriam ser compartilhados com os demais,

con-tribuindo para a formação dos militantes e com a identidade do movimento nos dois pilares.

Para os monitores dos núcleos, havia uma formação específica que os preparava para

assumir a função. Tratava-se do MIRIM, com proposta de aprofundar vivências de núcleo e

proposta do Movimento. Nesses encontros, tomava-se contato com o contexto e a história do

MIRE, sua filosofia, sua estrutura e planejamento, além de trabalhar reflexões sobre mística,

militância e valores, incluindo as ponderações desenvolvidas nos Internúcleos.

Eventualmen-te, os encontros eram assessorados por pessoas próximas ao MIRE.

Em relação à esfera da mística, é preciso destacar os Desertos de Carnaval. Em

contras-te com o clima efusivo dessa época do ano, reuniam-se os militancontras-tes incontras-teressados e dispostos a

uma vivência profunda de espiritualidade, silêncio e meditação. Em alguns dias do feriado, os

Desertos propunham uma formação mística calcada na experiência e na reflexão. Por exemplo,

no Deserto de Carnaval de 2003, o tema era “Presença do Ser no silêncio da brisa suave”. Ali,

so-prava a inspiração de que o calor abrasador do deserto espiritual realçasse o gosto da Água Viva

que emanava do silêncio; de que a ausência das coisas destacasse a presença de Deus; de que o

7 http://bit.ly/1itZvVY

(15)

encontro entre companheiros e companheiras bordasse os pontos iniciais da trama do infinito.

8

Ao lado dos momentos de oração e meditação havia a comunhão em torno da limpeza da casa, das

refeições, além do aprofundamento de temas como “a experiência do amor e do perdão”, “orar com a

Criação”, “compaixão e militância”, acompanhados da presença constante da amiga chuva.

9 10

Seguiram-se os Desertos, e a experiência parecia reavivar a espiritualidade dos

participan-tes. Às vezes, na simplicidade de momentos plenos de espontaneidade. Como conta Valéria, de

Alfenas-MG, sobre o Deserto de 2005:

Queria dizer que o Retiro foi um alimento para a minha vida espiritual, não apenas pelo aspecto dos temas discutidos, pelo estudo bíblico empolgante com o Edmar, a riqueza dos testemunhos dos companheiros, mas também pelo aspecto sim-bólico: estar ali, comungando com parceiros na luta e na espiritualidade, nas suas mais diversas formas de expressão... (...) Aquela noite em que ficamos cantando, espontaneamente, muitas vezes sem acompanhamento, foi mágica. Reacendeu a centelha da mística que há dentro de mim e, certamente, dentro do movimento.

(Mirante, março de 2005). 11

O MIRE também colaborou com a formação de pessoas que dele não participavam.

Fo-ram diversas presenças ativas em espaços como Fóruns Sociais Mundiais (FSMs), Encontros

de Fé e Política, Encontros Intereclesiais de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Encontros

Estaduais de Jovens do Campo e da Cidade (EEJCC), entre outros.

No Fórum Social Mundial, logo em 2002, o MIRE ficou responsável pela oficina Mística e

Revo-lução no eixo Poder Político e Ética na Nova Sociedade. Em 2003, houve três oficinas sobre a filosofia do

movimento, com lançamento dos Cadernos de Mística e Revolução, conhecido entre os militantes

como “Caderno Azul”. Em 2005, foram organizados momentos de meditação durante todas as

manhãs do FSM no “Espaço de Saúde e Cultura Ernesto Che Guevara”.

Outro encontro de grande afinidade foi o Intereclesial de CEBs, cuja participação do MIRE

foi especialmente destacada em sua 11ª edição. O MIRE contribuiu na oficina sobre como as

CEBs podem construir homens e mulheres novos, dando ênfase aos aspectos de gênero e

geração, discutindo o papel das mulheres e dos jovens na dinâmica das comunidades e na

semeadura de outro mundo possível.

E ainda há o Encontro Nacional de Fé e Política, marcante na história do MIRE, já que

ali, em 2000, foi lançado publicamente. Pouco mais de um ano depois, na segunda edição do

Encontro, o movimento já tinha irradiado seu carisma e lançado raízes em diferentes terras do

País. Uma sensação de grata constatação: o MIRE, de fato, era uma realidade vigorosa. Assim foi

descrito pelo texto da Secretaria Nacional à época:

8 http://bit.ly/TtdlBP 9 http://bit.ly/1v3ahbj 10 http://bit.ly/UHk8Zu 11 http://bit.ly/1wu6NRJ

(16)

O Encontro Nacional de Fé e Política foi um verdadeiro banho de ânimo para todos os que participaram. Para nós do MIRE foi um momento muito especial. Quando nos reunimos - cerca de 80 participantes de muitas cidades diferentes - em um vestiário do ginásio, pudemos nos olhar e constatar: construímos um movimento. O MIRE já não é mais projeto, mas realidade. (O Mirante, abril de 2002)12

O MIRE seguiu contribuindo nos Encontros Nacionais de Fé e Política, principalmente

na formação e animação da esfera da mística.

Além disso, colaborou com textos em edições da Agenda Latino-Americana,

importan-tíssimo instrumento de formação para movimentos sociais e populares, pastorais,

congre-gações religiosas, organizações políticas, grupos de educação popular, entidades diversas de

todo o continente. Em 2003, Frei Betto publica texto sobre o MIRE. Em 2006, como parte

da temática geral da Agenda – “Para outra Humanidade, outra comunicação” - o texto

“Li-nha direta com Deus?”, elaborado pelo MIRE, provoca a rever a concepção de comunicação

humana com Deus, alçando a relação entre homens e mulheres que se salvam mutuamente

como campo de encontro com Ele. Em 2007, a Agenda Latino-Americana é lançada com o

tema “Exigimos e fazemos uma outra Democracia”, e o MIRE publica o texto “Juventude e

construção da Democracia”, no qual levanta as diversas contradições vividas pelos jovens na

atualidade da sociedade capitalista; o texto anuncia outra concepção de democracia,

explici-tamente socialista, como alternativa à sua constituição burguesa; e lembra que já há jovens,

em diferentes espaços, que vivem experiências de sociabilidade alicerçada na solidariedade,

cooperação, partilha e serviço.

É possível destacar alguns encontros voltados para fora do movimento que, ao mesmo

tempo, cumpriam missão formativa e o semeavam para pessoas que ainda não tinham

con-tato direto com sua proposta. Como o Mística e Militância, realizado na Universidade de

São Paulo (USP), em 2001 e 2002, que trazia as experiências de referências como Frei Betto,

Alfredo Bosi, Adélia Prado, Plínio de Arruda Sampaio, Augusto Boal, João Pedro Stédile,

Fábio Konder Comparato, entre outros. Ou o Seminário Oração & Revolução, igualmente

aberto e organizado no Rio de Janeiro, com depoimentos de pessoas como o índio Thiniá, da

Tribo Fulniô; pastor Mozart, da Igreja Luterana; deputado Chico Alencar; além de atividades

desenvolvidas por Augusto Boal; leituras feitas pelas atrizes Cássia Kiss e Tuca Morais e

apre-sentações artísticas. Na mesma linha, vale destacar o encontro Arte e (R)existência: diálogos

sobre o poder transformador da arte, que aconteceu no Teatro da USP (TUSP), em São Paulo,

em maio de 2004, visando suscitar discussão sobre o potencial político da arte e seu papel

como manifestação de resistência libertadora às pressões mercadológicas da sociedade

ca-pitalista. O encontro foi organizado com outros coletivos, como o MST, Ativismo Midiático,

Cineimperfeito, Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie

e o Grêmio da FAU-USP.

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Enfim, a formação foi um dos principais pontos de convergência das atividades e

expe-riências. Ressalta Pedro Nathan:

O MIRE representou um momento crucial de compromisso em minha formação com as grandes causas populares, da classe trabalhadora e dos oprimidos em geral, dentro de uma perspectiva socialista e revolucionária (...). No momento atual em que me en-contro, muitas dessas questões legadas pelo MIRE adquirem um novo vigor, senão na forma de realizações concretas, ao menos no sentido de uma consciência crítica (...).

(Depoimento de Pedro Nathan, 2013) 13

E João Laet, do Rio de Janeiro, que a partir de seu mergulho no MIRE, passou a

conhe-cer melhor sua realidade local, conheceu outros estados, participou de ocupações, esteve

presente no FSM e no Encontro de Fé e Política, visitou presídio, trabalhou para o MST, além

de tomar parte em espaços do próprio MIRE, como retiros nacionais e reuniões da

coorde-nação. E, sobretudo, fez amizades profundas. “Vivi e vivo pequenos grandes momentos que

não é preciso contar, mas que vieram por essa ‘porta’ chamada MIRE”. (João Laet; O Mirante,

novembro de 2003)

14

A porta de entrada foi significativa para muitos outros militantes, que se formaram e

desenvolveram potencialidades. Quanta descoberta e força vocacional em cada chamado

silencioso em meio dos encontros. Carlos Eugênio, de Teresina-PI, pode sintetizar em sua

experiência, quem sabe, a trajetória de muitos:

(...) Reconheço que essa ‘escola’ chamada MIRE tornou-se uma pedra angular na minha vida. Costumo dizer, sem exagero, que o movimento é meu caso de amor. Agradeço especialmente aos companheiros e companheiras do MIRE que no casamento sagrado da mística e revolução movimentam-se de ‘olhos abertos e mãos operosas’ nas entra-nhas da Nossa América.

(Carlos Eugênio; Mirante, outubro de 2006) 15

13 http://bit.ly/1pL7fsU 14 http://bit.ly/1yL9jW0 15 http://bit.ly/TtjEVN

(18)

IV – CAMINHOS DOS NÚCLEOS

Os núcleos são o alicerce do MIRE. Conforme documento de apresentação, de 2001,

“nú-cleo é a célula de base do Movimento, constituída por 9 a 12 pessoas que se reúnem a cada

quinzena na casa de um integrante para meditar, partilhar a palavra e celebrar, no espírito das

primeiras comunidades cristãs”. (Apresentação, 2001)

16

Essa definição, após alguns anos, incorporou uma gama maior de possibilidades que

um núcleo pode expressar em termos de referências de espiritualidade, número de pessoas e

variedade de dinâmicas. Todas dentro da perspectiva de mística com caráter revolucionário e

de compromisso militante animado por uma busca mística.

Se o núcleo é o alicerce, o monitor é o elo do núcleo. Em sua trajetória, o MIRE

procu-rou estimular e formar monitores. São diversas as suas funções. Seu trabalho de base

pri-mordial é cultivar o núcleo. Ao monitor cabe integrar os participantes do núcleo entre si, o

núcleo aos demais da cidade e da região e em nível nacional. O monitor ajuda a organizar o

núcleo, estimula a participação de seus membros, facilita a partilha de concepções e ideias.

O monitor, com frequência, é encarregado de falar pelo núcleo, embora não pense por ele.

Sua função não é hierárquica, mas de serviço. Procura personificar a memória do núcleo e

suas perspectivas, mas também se responsabiliza por trazer a pele do movimento para

den-tro do núcleo. Como lembra o manual do monitor, pela voz de dom Helder, “não fosse o fio

discreto que se imola anonimamente, lindas pedras preciosas jamais formariam um colar”.

(Manual do Monitor, 2002)

17

Talvez esteja aí a síntese do papel do monitor na história do MIRE.

Lançado em dezembro de 2000, o MIRE brota seu primeiro núcleo em fevereiro de 2001. Era o

Núcleo Tenda que, não por acaso, foi inicialmente conhecido como Núcleo Pioneiro, de São Paulo.

Em seguida, do outro lado do País, mais um núcleo assume o entusiasmo místico e revolucionário

e se forma. É o Núcleo de Teresina-PI. E assim o MIRE vai se irradiando pelo Brasil e inspirando a

prática de grupos em outros países, como a Associação Cristã de Jovens (ACJ), da Guatemala.

Ainda em 2001, já havia núcleos em nove estados e em outros três estados estavam em

processo de formação.

18

Daí em diante, o movimento se desenvolveu e o número de núcleos variou constantemente.

16 http://bit.ly/1nOr8gX

17 http://bit.ly/TwMGUI 18 http://bit.ly/1lpGc4W

(19)

O núcleo, como espaço de comunidade, partilha da vida, cumplicidade, encontro,

vi-vência mística e convergência de militâncias, é o ponto de partida do movimento. Para

muitos, foi o início da participação em outros espaços. Foi também a sustentação e o ânimo

para a atuação dos que se engajavam em alguma luta. Foi espaço de acolhimento das

inquie-tações de jovens tocados pelas contradições da sociedade. O núcleo era fonte de inspirações

e aspirações. Refletindo sobre sua experiência, Pedro Nathan enxerga a “cultura do grupo”,

adotada pelo movimento, como

um lugar que possibilite uma identidade entre seus membros a partir de seus respectivos problemas enfrentados no cotidiano, como partes de um problema maior, bem como de seus projetos pessoais e coletivos.

Percebendo a falta que espaços assim fazem às outras organizações com as quais teve

contato, Pedro avalia:

O fato é que esse tipo de mediação que o grupo possibilita - e o MIRE insistia nisso de um modo enfático - faz-se importante para a sustentação de uma perspectiva militante, es-pecialmente para quem não esteja organizado politicamente; entendendo, no entanto, que essas duas esferas cumprem papéis distintos. Por essas e outras, poderíamos dizer que essa cultura do grupo é uma das ‘bases mínimas’ de sustentação da mística mili-tante. (Depoimento de Pedro Nathan, 2013) 19

As experiências de núcleo podem ser tão ricas que, mesmo hoje, depois da interrupção

do movimento, ainda há encontros entre nucleados. É o caso do primeiro núcleo, o Tenda.

Seus integrantes continuaram se reunindo regularmente depois de atingir a idade limite de

30 anos, e assim permanecem. Já o último núcleo formado antes da interrupção, em 2009, foi

o Núcleo Novo, assim denominado provisoriamente, que não teve tempo de “batizar-se” com

um nome definitivo.

A grande notícia é que, após a interrupção do movimento, a inspiração fumegou e não

se apagou. Pelo contrário, a chama começa a dançar novamente, com cores de entusiasmo.

Enquanto estas páginas estão sendo escritas - entre 2013 e 2014 -, jovens do Rio de Janeiro-RJ,

Mossoró-RN e interior de São Paulo dão os primeiros passos para reavivar o MIRE

20

.

Para eles e para outros que vierem, aqui estão registros de núcleos que contaram um pouco

de sua história e seus desafios. São apenas alguns entre tantos outros núcleos e documentam,

so-bretudo, perfis publicados no boletim Mirante, por vezes assumindo mais fortemente a história

pessoal de quem conta, outras vezes priorizando o enfoque coletivo do núcleo.

19 http://bit.ly/1pL7fsU

20 Em 1º de maio de 2014, os três núcleos se reuniram em Fortaleza-CE. Foi considerado o primeiro Encontro Nacional após a retomada do MIRE e teve a presença de Frei Betto.

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Núcleo PioNeiro-SP

Com alegria e esperança completamos em agosto um ano e meio de caminhada. Nascemos praticamente juntos com o MIRE e temos participado da construção do movimento desde então. Do pioneiro, já brotaram dois outros núcleos em São Paulo.

Somos 13 pessoas no núcleo, oito moças e cinco rapazes, mais duas menininhas que participaram de nos-sas reuniões junto com suas mães. Encontramo-nos a cada quinze dias. Ao longo do ano passado, percorremos o livro dos Atos dos Apóstolos, refletindo seu significado e buscando inspiração nas primeiras comunidades cristãs para a formação do núcleo. Partilhamos esta reflexão em grupo a partir de questões sobre o texto, preparadas a cada encontro por uma dupla diferente de participantes. Frei Carlos Josaphat esteve conosco para assessorar nos-sa leitura dos Atos. Desde o ano pasnos-sado, abrimos espaço em nossos encontros para partilhar nosnos-sa caminhada na meditação. A cada encontro, um participante contava sua experiência de busca espiritual, desde a infância até a vivência da proposta do MIRE. Esses momentos contribuíram grandemente para que nos constituíssemos uma fraternidade.

Em 2002, estamos estudando o livro de Êxodo, procurando seguir a mesma dinâmica de partilha. Em feve-reiro e em julho realizamos animadas festas no núcleo e gostamos de sair juntos para ir ao cinema, conversar. Vários participantes do núcleo estiveram no I Retiro Nacional e em atividades de formação de monitores. Juntamente com os demais núcleos de São Paulo, ajudamos a realizar os Encontros sobre Mística e Militância e a organizar rifas e saraus. E assim seguimos, pelos caminhos da mística.

Escrito por Thomaz Jensen; O Mirante, agosto de 2002

Núcleo GoiâNia-Go

O núcleo de Goiânia teve início no dia 12/05/2002, começou com 5 integrantes: Jaciara Pires, Josiane Emi-lia, Carmem de Jesus, José Marcelo e Wadna Audiane; atualmente estamos em 8: Marta Follman, Hugo Leonar-do, Devanir Rodrigues, Renata Rosa, Jaciara Pires, Josiane Emilia, Carmem de Jesus e Wadna Audiane.

Nossas reuniões acontecem quinzenalmente, na casa dos integrantes, aos domingos, por volta das 17h30. Parte dos componentes do grupo está engajada na PJ, outra parte é de universitários (as).

Percebemos que o ser humano tem se acostumado a um ritmo alucinante, agitado, em meio aos ron-cos de motores, buzinas, fumaças, explosões, tiros, correrias constantes: como se estivessem desesperados numa busca sedenta por algo.

No entanto, observamos que não é no cerne dessa agitação toda que o ser humano encontrará o que busca, pois sua sede, na verdade, não é de tecnologia, modernidade, onde se refugia, mas sim de respostas para seus questionamentos existenciais sobre si e o mundo em que vive. E tais respostas só serão obtidas através da quietude, da reflexão, do diálogo sensível e calmo com os demais, e para isto é preciso parar, se olhar, olhar os outros, contemplar e deixar as respostas fluírem.

E o MIRE nos traz esta belíssima oportunidade de quietar, sentir, pensar, dialogar, partilhar e compar-tilhar; essa experiência nos torna mais serenos e fortes, nos ajudando a estar na sociedade de forma mais amadurecida, comprometida e terna.

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Sabemos que ao cultivar esses valores estamos buscando viver em profundidade a Mística e a Revolução. Um grande abraço a todos (as)!!

Escrito por Wadna Audiane; O Mirante, setembro de 2003

Núcleo de FloriaNóPoliS-Sc Os primeiros passos

A experiência desse núcleo do MIRE pode ser traduzida como um longo percurso, repleto de novidades, portador de sonhos, sorrisos, diálogos, telefonemas e e-mails.

Quero registrar os vários telefonemas do André, a preocupação e a disponibilidade dele em inúmeros diálogos comigo sobre o movimento. Longas conversas que foram de muita importância para impulsionar a articulação em busca dos possíveis membros do núcleo.

Os contatos se iniciaram pela Secretaria Nacional, na pessoa do André, comigo, Clarice, que citava algumas garotas interessadas no MIRE. Duas dessas residiam na Grande Florianópolis: Luciana (no bairro Campinas, que pertence ao município de São José) e Aline (no bairro Saco Grande, que pertence ao município de Florianópolis). Uma outra residia em Blumenau, mas estava de mudança para Florianópolis, a Louisiana Waleska (reside atualmente no bairro Kobrasol, que pertence ao município de São José).

A Louisiana foi uma pessoa que sempre respondia aos e-mails e entrou em contato por telefone assim que eu lhe forneci o número. Parecia que Ruah - fonte de vida - agia nela, impulsionando-a a entregar-se ao caminho do MIRE.

O contato com as outras duas garotas era sempre fragmentário por e-mail; por telefone me pareceram um pouco desinteressadas, mas mesmo assim marquei um dia para nos encontrarmos e conversar um pouco, mas elas, que a principio concordaram, não apareceram sob argumentos vagos.

Falei com os demais interessados: Daniel, Cris e Louis, e marcamos um encontro do núcleo, sendo que comu-niquei às outras garotas por e-mail, a fim de que pudessem ir se pudessem e desejassem, porém não apareceram.

Enfim, no dia 01/06 o encontro ocorreu no apto da Louis. Lá estávamos: Daniel, Clarice, Louis e Cris. O contato foi maravilhoso. Conhecer-nos, saber um pouco de cada um, os sorrisos, a ternura. A presença do Espírito era perceptível no ar. Ali naquele local e instante o Espírito Santo pairava, e creio que todos sentiam isso no ânimo e ternura presentes no ambiente. Cada um falou um pouco de si e falamos sobre o sentir Deus e os registros dessas experiências com o apoio de alguns trechos bíblicos, apresentados pelo Daniel.

Saímos e fomos à beira da praia, e cada um de nós, olhando a imensidão do mar, questionou-se: qual o desafio que Deus nos propõe, enquanto aspirantes do Reino, aqui e agora?

Voltamos para o local de início do encontro e cada um comentou o que sentiu com esse nosso primeiro contato e pudemos perceber que todos estamos andando com passos tímidos, porém com uma certeza dentro de nós: que esse núcleo deve acontecer pela ternura, pelo ânimo, anseio de cada um e de todos juntos.

Despedimo-nos na certeza de que o mais breve possível voltaremos a nos encontrar para juntos trilhar o caminho da Fonte e beber a água que sacia a sede da alma, que dá força, que impulsiona a partilha da ação diária e que nos fortalece na luta pelo Reino de Deus agora e já.

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O encontro seguinte aconteceu na casa da Congregação Religiosa (feminina) Fraternidade e Espe-rança, que está localizada num dos bairros da periferia do município de Florianópolis-SC, denominada Vila

Aparecida. É nessa casa que reside nossa companheira Cristiane, que chamamos de Cris; e nos reunimos nesse local para conhecer um pouco de sua experiência diária e a fundamentação da Congregação Fraternidade e Es-perança; estávamos: Daniel, Louisiana, Clarice, Lílian e a pequena Bárbara (de 3 meses), Cris e a Irmã Cacilda. Irmã Cacilda é a responsável religiosa pela casa, a Cris está na casa fazendo a experiência e o “namoro”, como ela mesma diz, para compreender se é realmente esse caminho de vida que quer seguir. Uma das características, que eu diria é maravilhosa e carrega uma essência pura, é que as pessoas que aderem a essa Congregação têm que trabalhar para se manter, e realizam os trabalhos de auxilio à comunidade, que são efetuados nos finais de semana ou nas horas vagas, entre o trabalho e a faculdade (no caso da Cris). A experiência de viver e sentir a realidade é de fundamental importância para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora; o que nós sentimos é que lá há muito do Reino presente no meio de tanto abandono por parte da oficialidade: igrejas, prefeitura, governos.

Fomos acolhidos de forma extremamente carinhosa pela Cacilda e pela Cris. Queríamos entender como elas estavam naquela periferia e como as coisas se passavam por ali. A Cris começou a nos contar como ela conheceu essa congregação e como veio morar ali, afinal sua família é de Itapiranga-SC, que fica no Extremo Oeste do estado catarinense.

Irmã Cacilda juntou-se a nós e contou-nos como surgiu a Fraternidade e Esperança há 25 anos atrás, sendo

que ela foi uma das que enfrentaram todos os impedimentos burocráticos que a Igreja Católica e a Congrega-ção das Irmãs da Divina Providência de Florianópolis, de que essas descendem, criaram para que essa ideia, germinada com o Documento do Vaticano II e Medellín, não se efetivasse. E foi nesse clima de amizade e curiosidade regado a um bom chimarrão, ao nosso estilo do Sul e dos costumes de cada um dos presentes, que ela nos falou das inúmeras dificuldades que enfrentaram, porém em nenhum momento se via arrependimento em seus olhos ou se podia sentir isso em suas palavras; muito pelo contrário, havia certeza e paz em suas pa-lavras, e uma força a qual só o Espírito Santo é portador, e com certeza ele está presente nessa irmã.

Se o Reino é possível? Lá naquele local e ouvindo o que Cacilda nos contava tivemos certeza: sim, o Reino de Deus aqui e agora pode acontecer, pelas nossas mãos e pela nossa luta, tendo sempre presente que a fé sem obras é morta (Tg 2,26).

Saímos no final da tarde, com um fogo ardendo dentro de cada um, uma vontade, um impulso, não sei definir, mas um fogo ardendo dentro do coração, talvez seja a melhor definição. Sim, foi isso, e tenho

cer-teza que era o Espírito agindo em cada um, nos desafiando a trilhar um caminho que seja calçado na justiça e amor do Reino.

Escrito por Clarice Bianchezzi; O Mirante, setembro de 2003

Núcleo itaquera-SP Celebrando a Caminhada

O núcleo de Itaquera-SP completa 2 anos em 28 de julho, e é com alegria que partilhamos e celebramos com todos nossa caminhada

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André, em dezembro de 2000; no entanto, nosso processo de enamoramento durou 6 meses, até que ocorreu o 1º Encontro de Formação de Monitores (MIRIM) em Vinhedo e que recebemos a visita da companheira Carla. Assim, deslanchamos.

Já éramos um grupo de amigos engajados em uma comunidade eclesial de base localizada na periferia de São Paulo, e a busca de uma prática libertadora se enfatizava cada vez mais em nossos bate-papos. Porém, para nós, nossas tentativas de colocá-la em ação eram pequenas frente à realidade que enfrentávamos, e nos sentíamos isolados. O cansaço e as dificuldades, por vezes, venciam nosso ânimo.

Algo faltava, só não sabíamos o quê.

Assim, a proposta do MIRE veio pra encher nossos corações de esperança. Era isso! Faltava valorizar a mística da luta, do sonho, do desejo de libertação, justiça e solidariedade. Faltava não sermos somente ami-gos e sim companheiros. Faltava não falarmos sobre o que fazíamos e sim partilharmos o que sentíamos, o que nos movia e o que nos abatia.

Enfim, hoje já não somos sós. Somos comunidade caminhante na busca de nos recriar homens e mulhe-res novos, engajados cada vez mais nas lutas de nosso povo e movidos pelo sonho de uma nova terra, liberta dos males que massacram a vida.

Com alegria, continuaremos caminhando, animados pela mística e pela luta, alimentados pelo pão e vida partilhados e acompanhados por companheiros e companheiras que nem mesmo conhecemos, mas que, de cima a baixo da Pátria Amada, fazem do sonho a força para recriar a vida.

“Sonho que se sonha só, pode ser pura ilusão. Sonho que se sonha junto é sinal de solução. então vamos sonhar, companheiros,

sonhar bem ligeiro, sonhar em mutirão”

(Zé Vicente)

Paz e Bem!!! Escrito por Ligia Mendes; O Mirante, setembro de 2003

PAnOrAMA dO riO dE JAnEirO A caminhada do MirE no rio

O primeiro passo do MIRE no Rio aconteceu no dia 23 de junho de 2001. Foi então que eu conheci o To-más, o Fábio e a Renata e, nos fundos da sede do PT, nosso companheiro paulista trouxe um rosto e uma voz aos seis meses de contatos que antecederam este encontro. As reuniões de núcleo (como manda a “cartilha”) ainda demoraram a acontecer e ainda enfrentam uma dificuldade natural. Todavia, neste momento, surgiu um grande amigo, irmão e companheiro, que é o Fábio Pereira. Essa amizade é fruto de uma identificação po-lítica e religiosa, além da mística natural e inexplicável da vida. Desde então (depois que a “porta” do MIRE foi aberta) tenho uma visão muito mais ampla do Rio de Janeiro; conheci Brasília “pegando fogo”; vi a Av. Paulista sem carro; participei de duas ocupações; estive presente no FSM e no Fé e Política; fiz amizades que são para a vida toda e até vou ser padrinho do Marighela, filho da Vânia e do Vitor; visitei presídio e vi de perto o “poder paralelo” em Vigário Geral; trabalhei para o MST na Semana da Cultura Brasileira e da Reforma Agrária. Isso

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sem contar os retiros nacionais e reuniões da coordenação. Vivi e vivo pequenos grandes momentos que não tem por que contar, mas que vieram por essa “porta” chamada MIRE.

Quanto ao objetivo/meta que fala no engajamento social do jovem, a minha experiência pessoal foi e é muito feliz. É este engajamento que chamo de “porta”. Quanto à experiência espiritual, ela caminha junto. É a paixão que carrego por ter encontrado o meu “rebanho”. A emoção/mística/afeto têm que estar presente no dia a dia e, mais ainda, no nosso sonho maior, que é o projeto Brasil. Se o movimento conseguir abrir essa “porta” para cada jovem que ingressar com fome de vinho, de pão e de beleza, estaremos perto da revolução.

Estou contando minha experiência pessoal para dizer que, apesar de todas as dificuldades que a gente tem, o MIRE no Rio caminha. Mesmo sem ter informações mais detalhadas de cada núcleo, arrisco dizer que nossas maiores barreiras são a comunicação e a real vivência da meditação. Para superar essas dificuldades, nada melhor do que ouvir os companheiros de São Paulo e, claro, reunir a turma (internúcleos).

No momento, o Rio tem o núcleo da PUC, batizado de Núcleo São João Batista, o núcleo do Antonio Pedro, batizado de A DEUS, dois núcleos em Caxias e um em andamento em Xerém. “Quem tem pressa vai devagar”.

Um grande abraço do João Laet (Núcleo da Gávea/RJ).

Escrito por João Laet; O Mirante, novembro de 2003

Núcleo São João BatiSta-rJ

Eram 19h quando soubemos através de um guichê da rodoviária de Juiz de Fora, que só teria passagem para o Rio às 3h. Fazia frio e estávamos muito cansados e desiludidos com a notícia que acabávamos de receber.

O cansaço das atividades do fim de semana era superado pelo entusiasmo que enchia nossos corações. Estava difícil acreditar na grande empatia em um grupo de pessoas que se conheceram há apenas 3 dias. Talvez os sonhos, as utopias ou os anseios vivenciados fossem a explicação de tamanha acolhida entre nós.

Johny tentou meditar no banco da rodoviária. Auderi, Francisco e Cristiane discutiam sobre o livro “O indivíduo e o socialismo”. Edmilson, Adriana e Simone, que já se conheciam, estavam discutindo sobre os problemas do mandato do vereador Tafarel. Fagner peregrinava por toda a rodoviária buscando soluções para o nosso retorno.

Alguém está com fome?, pergunta um companheiro, esperando uma resposta positiva e em coro. Quan-do nos demos conta, estávamos em uma mesa comenQuan-do pão de queijo e fazenQuan-do nossa primeira reunião de núcleo, mais tarde batizado de Núcleo São João Batista.

O interessante foi que a maioria de nós não conhecia a proposta do movimento, motivo que nos levou ao 1o Retiro Nacional, em Cachoeira do Campo, e causa dos primeiros parágrafos citados.

Hoje, dois anos depois, nos reunimos na PUC, quinzenalmente, às quartas-feiras. O núcleo cresceu. Vie-ram somar a nós Camila, Lindara, Bruno, Carlos Bruno, Patrícia, Aline, Paulo e Pedro, semente de esperança para um futuro MIRE Latino-Americano.

Em nossas reuniões, entre discussões, meditações, críticas e orações, crescemos juntos em amizade e afeto, alimentando nossa utopia na espera de um Reino que também é nosso.

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Núcleo da Vila iNduStrial-SP

“Nas coisas necessárias, unidade, Nas duvidosas, liberdade. e em tudo, caridade”.

Sto. Agostinho

Nós, da Vila Industrial, já trabalhávamos na mesma comunidade havia muito tempo, em catequese, crisma, outras pastorais e em projetos sociais. Mas além de cristãos militantes... sempre fomos amigos. Mas sentíamos falta de um momento em que pudéssemos conversar, refletir e debater sobre nossa realidade.

Um dia vimos um artigo do Frei Betto na Caros Amigos falando sobre o MIRE. Algum tempo depois ouvimos algo parecido no Encontro de Fé e Política em Minas. Entramos em contato e começamos os encontros. A perio-dicidade varia pelos desencontros de agenda. Nem todas as pessoas que começaram estão presentes hoje, e nem todas que estão hoje estavam no início. Temos oito integrantes que são constantes nos encontros.

O nosso núcleo baseia-se, além da militância, em laços de amizade. Buscamos sempre mística e espiritu-alidade. Tentamos participar dos eventos na medida do possível. Esse é o nosso núcleo.

escrito por Hélio, ronaldo e tiago; O Mirante, janeiro/fevereiro de 2004

Núcleo teNda-SP

No dia 18 de fevereiro de 2001 fizemos o nosso primeiro encontro. Entregues ao mistério daquilo que, um dia, seria um movimento, nos dedicamos ao amor fraterno, inspirados pelas primeiras comunidades cristãs. Formávamos, então, o núcleo pioneiro do MIRE. No início deste ano celebramos, com alegria e esperança, três anos de partilha e comunhão no MIRE e no núcleo, agora batizado como TENDA.

O nome não é uma sigla. Refere-se à própria forma: a tenda que acolhe e abriga, sem nunca estar fechada. Ao invés de paredes, a tenda é feita de janelas, que anunciam o que está dentro para os de fora, atraindo-os, con-vidando-os a entrar e comungar. E ventilam, sopram para dentro, tristes e alegres sofrimentos da realidade exterior. A tenda carregamos para qualquer lugar; é itinerante. Viaja em busca de Deus e de justiça.

Hoje, nossa TENDA abriga 12 pessoas que, partilhando o pão e a vida, tornaram-se companheiros. Nesta edição do Mirante, gostaríamos de lembrar o contentamento de estarmos juntos nos últimos três anos, quando muita coisa importante aconteceu na vida de cada um de nós e que, por virtude, puderam ser partilhadas e viven-ciadas coletivamente. Os encontros do grupo proporcionam a construção de relações privilegiadas entre as pes-soas. Pois é difícil e raro hoje em dia dedicarmos tempo e trabalho para construir fraternidade. Logo, é preciosa e mística a formação de um Núcleo.

Que bela a TENDA armada pela virtude do Altíssimo.

Escrito pelo núcleo Tenda; O Mirante, abril de 2004

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No mês de junho de 2003 plantava-se mais uma semente neste jardim chamado MIRE. Seis jovens oriundos do Alto Tietê, com militância em sua essência cristã, encaravam e aceitavam para sua vida esta empreitada, rumo à civilização do amor. No primeiro encontro, vimos o quanto nosso mundo é pequeno e quantos outros jovens querem e necessitam de companheiros para persistirem na caminhada.

Neste quase um ano de vida, o núcleo Alto Tietê (nome provisório, porém sem presciência de alteração) participou dos retiros regional e nacional, trazendo, além das experiências místicas, propostas pelo movimento e novas amizades.

Hoje contamos com nove membros e outros jovens, que por ventos ouviram falar do movimento e se inte-ressaram em conhecer o núcleo.

O núcleo analisa a sociedade moderna, em seu modo capitalista, como a detentora dos meios de degradação da vida e pontífice da exclusão e antissocialização do ser humano.

Pintamos em nossa bandeira a vontade e o desejo de construir uma sociedade justa e fraterna, onde o ser humano seja tratado verdadeiramente como imagem e semelhança do Deus da vida. escrito por alexandre, daniela, Fabiana, Fernando, Julio, Mauro, Miguel, Paula e regiane; O Mirante, maio de 2004

Núcleo Nicolau VerGueiro-rS

Nós, do município de Nicolau Vergueiro, no Rio Grande do Sul, ficamos sabendo sobre o MIRE no Fórum Social de 2003, ocorrido em Porto Alegre, quando participamos de uma palestra com o Frei Betto e alguns membros do MIRE.

No encontro eles nos passaram as informações de como formar um núcleo e os contatos para maiores es-clarecimentos. Na primeira oportunidade que tivemos, entramos em contato com o grupo e nos propusemos a ser um contato aqui no Sul. Enquanto isso, mobilizamos um pequeno grupo que passou a se encontrar semanalmen-te. O grupo partilhou milhares de experiências e textos sobre a fé cristã. Em nossas atividades práticas, visitamos pessoas carentes levando alimento e roupas e organizamos uma missa de jovens para chamar mais pessoas.

Todas essas atividades tiveram sua parcela de sucesso. Então, no dia 2 de novembro de 2003 recebemos a vi-sita, em nosso município, do Frei Helton e do André. Nesse encontro, pudemos vislumbrar e compreender melhor o que é o MIRE e sua finalidade de existir.

Para o nosso núcleo, essa experiência foi um fortificante para nossa caminhada. Finalmente, conse-guimos participar do encontro em Minas Gerais, quando percebemos mais profundamente que o MIRE é um movimento de juventude consciente e comprometida com a sociedade, e que nós aqui do Sul também fazemos parte de tudo isso.

escrito por Janaína e everton; Mirante, junho de 2004

Núcleo itiNeraNte-SP

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que é tão antigo quanto o próprio MIRE. O nome “Itinerante” veio em virtude das reuniões ocorrerem sempre em casas diferentes. Bom instrumento para conhecer a realidade de cada pessoa e aprofundar nosso carisma.

Lembro-me que na primeira reunião de que participei - que também não lembro quando foi - éramos apenas três pessoas. Eu, Fábio Luís e a Patrícia. Primeira reunião, primeira experiência de meditação e muita relutância em enxergar no silêncio uma prática revolucionária. E foi mais guiado pela intuição despertada no silêncio do que pela racionalidade utilitarista que continuei participando dos encontros. Aos poucos, percebi que a meditação nos dá o que mais necessitamos: paciência. Quando nos engajamos num projeto de transfor-mação histórica, ela é indispensável.

A intensidade das reuniões desperta rapidamente o espírito militante. Foi assim que, participando do Encon-tro Nacional Universitário, promovido pelo MST, conheci José Damião. Com o convite, “Zezinho” passou a fazer parte do nosso núcleo. Daniel, Sílvia, Elton, Jacques, Cíntia, Andréia, Taís... não recordo com precisão a ordem em que as pessoas foram chegando. Algumas deixaram de participar por adversidades do dia a dia, as quais muitas vezes superam a vontade pessoal. Outras tiveram pequeno contato com o núcleo. Mas todas deixaram suas se-mentes, sonhos e sorrisos, e levaram a certeza de que nossos braços estão sempre abertos a acolhê-los a qualquer momento, quando for a hora de voltar.

Aos poucos, fomos vestindo a roupa do MIRE. A afinidade política e espiritual nos irmana na luta e nos alimenta mutuamente. Entre os alimentos do espírito, buscamos em nossas reuniões contemplar pessoas que admiramos e imitar seus exemplos: Cristo, São Francisco, os Teólogos da Libertação, e agora Che. Mas nenhum exemplo é tão bonito e concreto quanto os testemunhos pessoais dos “itinerantes”, procurando aplicar no cotidia-no todo o amor e comunhão exercitados cotidia-nos encontros.

Em nossas celebrações não é raro ficarmos em silêncio absoluto por vários minutos, ao redor da chama de uma vela. Fonte de luz em meio à escuridão, assim como os próprios núcleos.

A partilha do pão e do vinho simboliza a justiça e a comunhão em Cristo. A benção final é um abraço fraterno entre todos os “itinerantes”, que nos dá a certeza do reencontro e a inspiração necessária para cons-trução de um mundo mais humano.

Escrito por Fábio Machado; Mirante, julho de 2004

Núcleo Frei tito-SP

Depois de muitos convites, finalmente encarei o desafio de escrever para o Mirante. E não havia tempo mais

propício, já que neste mês lembramos os trinta anos do martírio de Frei Tito, inspiração para o nosso núcleo. No final de 2000, participando do I Retiro Nacional de Fé e Política, tomei contato com os famosos “pa-peizinhos azuis”. Em sua palestra, Frei Betto falou sobre a ideia de formar um movimento diferente, que seria o MIRE. Fiquei entusiasmado com a novidade e, dias depois, numa conferência realizada pela revista America Libre, lhe devolvi o papel azul, agora preenchido com os meus dados.

Em fevereiro ou março (agora não me lembro bem) de 2001 recebi uma carta me convidando a participar de uma reunião. De imediato chamei o Valter, companheiro de PJ, e juntos fomos ao local. Lá vivenciamos, sem saber, uma experiência de reunião de núcleo do movimento. Lembro de algumas pessoas que conheci nesse dia: Fábio Luiz, Frei Paulo, Carla Dozzi e, entre outras, a Adriana que, para minha surpresa, era minha

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quase vizinha. Após a reunião o Valter, a Adriana e eu conversamos muito e, mesmo sem entender direito a proposta do MIRE, vimos que oferecia algo que sentíamos falta em nossa militância pastoral e, assim, seria interessante trazê-la para Carapicuíba.

Semanas depois, no dia do aniversário da morte de Dom Oscar Romero (lembro-me até hoje da encena-ção desenvolvida por Frei Paulo e Fábio Luiz), ficamos sabendo que a ideia do movimento era se dividir em núcleos; decidimos então, os três, formar um núcleo aqui na região onde moramos.

Se não me engano, em abril do mesmo ano realizamos a primeira reunião do nosso núcleo. Apesar da expectativa inicial, no decorrer da caminhada sempre tivemos pouca participação. O pouco número de parti-cipantes, em vários momentos, chegou a ser um problema. Com o passar do tempo, algumas pessoas entraram e saíram do núcleo, outras continuam conosco até hoje.

Depois de algum tempo de vida, ao perceber que alguns núcleos estavam escolhendo um nome para se identificar e se diferenciar dos outros, decidimos também adotar um. Como, desde o começo, a história de Frei Tito foi algo muito presente em nossas leituras e discussões (até assistimos a um filme sobre sua vida), decidimos, em sua homenagem, batizar o núcleo com seu nome, alguém que é exemplo na nossa caminhada de MÍsticos REvolucionários.

Escrito por Alexandre Lopes; Mirante, agosto de 2004

Núcleo altaNeira-ce

Localizada na microrregião do Cariri, a 58km do Crato e 68km de Juazeiro do Norte, Altaneira tem hoje cerca de 5.700 habitantes. Tendo como referência o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Altaneira está entre as 4 (quatro) cidades menos desenvolvidas do Ceará. Para a grande maioria da população, a única fonte de renda provém da prefeitura da cidade e das aposentadorias. Prefeitura esta que, por meio de seus governan-tes, sempre alimentou uma cultura fundada no paternalismo e no assistencialismo como fonte mantenedora e controladora do voto e do poder.

Em meio a essa realidade nasceu a ARCA (Associação Raízes Culturais de Altaneira), com uma proposta de transformação social. Como sempre, os primeiros a idealizar uma Altaneira mais justa foram os jovens, e são alguns desses jovens revolucionários que se identificaram com a proposta do MIRE e renovam suas forças, dia a dia, na persistente luta.

Hoje temos na sede da ARCA uma biblioteca, na qual contamos com um acervo riquíssimo de so-ciologia, filosofia e principalmente de regionalismo - livros e revistas da história do Cariri que alguns conhecedores do assunto dizem ser raros. Se possuímos hoje essa riqueza temos que agradecer aos nossos companheiros do MIRE, em especial aos que muito se empenharam para nos doar essa preciosidade.

O fato de fazermos parte do movimento nos anima, pois, em meio a tantas dificuldades e perseguições que sofremos, sentimos a presença e o carisma dos companheiros que por aqui passaram e daqueles que mes-mo sem nos conhecer estão enviando suas boas energias.

Quão animador é irmãos estarem juntos através de um projeto que supera a distância geográfica. As orações quebram todas as barreiras e enchem de vida nossas almas, e ao mesmo tempo nos aproximam do que

Referências

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