CURSO – TJMG – Nível Médio – Oficial de Apoio Judiciário Nº
DATA – 15/06/2016
DISCIPLINA – Interpretação de Textos
PROFESSOR – João Paulo Valle
MONITOR – Paula Moura
AULA – 01
Ementa
1 – Elementos da comunicação ... Erro! Indicador não definido. 2 – Tipologia textual ... Erro! Indicador não definido. 3 – Significações das palavras ... 5 4 – Figuras de linguagem ... 5 5 – Coesão e coerência ... 7
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No curso serão ministradas as seguintes matérias: - Elementos da comunicação
- Funções da linguagem - Tipologia textual
- Coesão e coerência
Quando se fala em linguagem trata-se também sobre a comunicação. A linguagem serve para possibilitar a comunicação entre sujeitos.
1 – Elementos da Comunicação
Emissor: quem fala.
Receptores: aqueles que recebem as mensagens.
Referente/contexto: todas as mensagens se baseiam em um fato/assunto.
Código: é utilizado para a criação da mensagem, ou seja, é o signo que transmitirá a mensagem. Ex. a língua portuguesa. O código não é a fala, mas sim qualquer meio de comunicação capaz de transmitir uma mensagem.
Ex. as cores do semáforo.
Mensagem: é a conversão do referente em algo textual/transmissível por meio do código. Canal: é o meio pelo qual a mensagem sai do emissor e chega ao receptor.
Para cada elemento evidenciado há a predominância de uma função específica da linguagem.
Função emotiva ou expressiva: o emissor colocado em evidência busca transmitir para o receptor a sua visão de mundo/sensação/estado de espírito. É um texto com alta carga de subjetividade.
Função apelativa ou conativa: quando o receptor é colocado em evidência. Tem natureza persuasiva.
Ex. comercial de margarina com uma família feliz.
Função denotativa ou referencial: o elemento predominante é o referente/contexto. A linguagem utilizada é objetiva e o autor se afasta do texto analisado. Ex. notícias.
Função metalinguística: quando o código é predominante. O texto é utilizado para fazer referência à linguagem, um dos elementos da comunicação. Texto que explica o significado de uma expressão.
Ex. Dicionário. Poeta escrevendo poema sobre a arte de escrever poemas. Cartaz escrito “não cole cartazes aqui”. O programa de tevê vídeo show que apresenta outros programas de televisão.
Função poética ou estética: a mensagem adquire status principal. A forma de dizer é tão importante quanto o próprio conteúdo, ou até mesmo mais importante. Muitas vezes o texto é mais difícil de ser entendido.
Função fática ou de contato: evidencia o canal. A intenção é demonstrar que a comunicação continua ativa ou meio de manter uma comunicação.
Ex. “Alô!”; “oi!”; “aham!”;
Normalmente, no texto não há a presença exclusiva de uma função, a questão é hierarquizar qual a função é mais evidente/predominante.
Exemplo de análise de elementos da comunicação em um texto: Catar feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a como o risco
(João Cabral de Melo Neto)
Existe um tratamento especial à forma, isso indica a presença da função poética. O assunto do texto é a própria arte de escrever, isto é, utiliza a função metalinguística. O autor aponta os paralelos entre catar feijão e escrever. Desse modo, percebe-se o uso de dois tipos de funções distintas, uma não exclui a outra.
Corresponde a uma série de características que o texto possui em abstrato de acordo com a intenção que o autor deseja alcançar no momento da produção textual.
Os tipos de textos existentes são:
a) Descrição: é um texto estático, possui a intenção de criar uma imagem por meio das palavras.
O tempo verbal predominante é o presente do indicativo ou o pretérito imperfeito do indicativo. Além disso, utiliza-se muito da adjetivação e uso do verbo de ligação com predicativo do sujeito para caracterizar.
b) Narração: texto de natureza dinâmica, existe uma mudança no estado das coisas. Narrar significa colocar fatos no tempo, podendo ser sobre algo real ou fictício. Há a predominância do pretérito perfeito.
Todo texto narrativo será apresentado por um narrador que poderá ser de 3º (terceira) pessoa, como narrador observador ou onisciente, ou em 1ª (primeira) pessoa, esse é o narrador personagem da história.
O narrador onisciente tem ciência de tudo que acontece durante a narração, até mesmo o que se passa na mente das pessoas narradas.
O narrador observador apenas aborda o que é visível, isto é, sem adentrar nos pensamentos dos personagens narrados.
A narrativa em primeira pessoa estará eivada de subjetividade, pois a pessoa narra a sua vivência e participa da história. Ex. Dom Casmurro.
c) Dissertação: caracteriza-se por ser um texto temático, em regra, os elementos abordados serão abstratos, porque os elementos concretos, como ocorre quando se adiciona um exemplo, serão utilizados para complementar o texto,
Em alguns momentos a doutrina utiliza o termo dissertação como sinônimo de texto argumentativo. Portanto, se não houver a diferenciação entre dissertação expositiva e argumentativa adote texto dissertativo como sinônimo de argumentativo.
c.1) Expositiva (exposição): possui intenção de conceituar ou explicar, sem contudo apresentar posicionamentos/teses evidentes.
c.2) Argumentativa (argumentação): apresenta uma tese e os argumentos para defendê-la. Esses podem aparecer como forma de: explicações; comparações (paralelo ou contraste); exemplos/ilustração; argumento de autoridade (traz para o texto a opinião de uma terceira pessoa que é referência na área), entre outras.
d) Injunção: texto que apresenta comando (ordem, pedido, sugestão, instrução). Ele será dirigido diretamente ao receptor. Normalmente será apresentado através de um verbo
imperativo. Ex. Não fume neste local. A placa com um cigarro cortado ao meio indicando que é proibido fumar também é um texto injuntivo.
Gêneros textuais são diferente de tipos textuais, pois aqueles dizem respeito a situação comunicativa e a produção concreta de um texto. Ex. e-mail, carta, romance, crônica, piada.
3 – Significações das palavras
a) Denotativo: possui sentido literal. Traz uma segurança maior para transmitir a informação, pois se trabalha com o sentido exato que a palavra foi criada.
b) Conotativo: assume sentido figurado. Está relacionado a um sentido específico/contextual dentro de um contexto.
Ex. chá; cadeira; Tomei um chá de cadeira. O sentido conotativo do “chá de cadeira” significa esperar muito.
Conotação negativa: certas situações/palavras carregam um sentido que vai além da sua significação.
Ex. Feder e cheirar mal. A segunda expressão é mais adequada para falar com o gerente do restaurante que algo está cheirando ruim. Portanto, a conexão negativa irá alterar de sentido dependendo de contexto.
4 – Figuras de linguagem
a) Comparação:
Existem dois elementos e há explicitamente uma comparação entre eles. Ex. Seus olhos, que eram como um par de brasas, impressionavam-me.
b) Metáfora:
É uma mudança/transposição de um termo; uma comparação implícita. O significado da palavra tomará outro sentido e só terá significado no contexto em que a metáfora está contida.
Exemplo:
Seus olhos eram um par de brasas. (Transfere-se a característica de um par de brasas aos olhos.)
Se eu pudesse roubar as gotas de luar que vi brilhar nos olhos seus...
c) Metonímia:
É a substituição de um termo por outro termo relacionado a ele. Exemplos:
Aquele par de brasas me espiava atentamente. (Há o uso de duas figuras de linguagens simultaneamente. Conforme dito anteriormente, par de brasas é uma metáfora; é uma metonímia ao falar que o par de brasas (os olhos) espionava atentamente.)
Meus olhos não receberam bem as notícias. (a pessoa como um todo não recebeu bem a notícia)
O estádio aplaudiu o jogador. (as pessoas do estádio)
Eu gosto de ler Monteiro Lobato. (as obras de Monteiro Lobato)
Meus ouvidos não queriam acreditar naquilo. (a pessoa não queria acreditar)
d) Perífrase:
Substituição de um termo por outro equivalente em sentido, falar mais para dizer a mesma coisa.
Exemplos:
Fui à Cidade Maravilhosa. (Rio de Janeiro)
O homem do Baú está em Belo Horizonte. (Sílvio Santos)
Ontem, quando cheguei, meu irmão estava cozinhando. (pode ser substituído por cozinhava).
e) Eufemismo:
Falar de algo de forma atenuada. Exemplos:
Fulano de tal descansou/ não está mais entre nós. (Morreu) Ele foi convidado a se retirar. (Foi expulso)
f) Antítese:
Aproximação de palavras de naturezas opostas. Não há contradição entre elas. Exemplo: O jardim tem vida e morte.
- Paradoxo: Parece haver uma contradição, contudo ela é desfeita pelo contexto. Ex. O Brasil é um país rico e cheio de pobreza.
g) Hipérbole:
Sempre que houver exagero intencional para enfatizar alguma informação que se deseja passar. Pode envolver números, mas não é a regra.
Exemplos:
Eu já li mil vezes esse livro. Chorou um rio de lágrimas.
h) Personificação:
Exemplo:
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante. / As margens tranquilas do rio ouviram o brado retumbante, contudo a margem não escuta.
i) Sinestesia:
Quando houver a mistura de sentidos diferentes (visão, olfato, paladar, tato, audição). Exemplos:
Não gosto de cores (visão) berrantes (audição). Sentiu (tato) a luz (visão) do sol.
j) Hipérbato:
Inversão da ordem sintática da frase. A ordem sintática direta da frase é: sujeito, verbo, complemento, adjunto adverbial.
Exemplo: Feliz eu era.
k) Ironia:
Autor diz uma coisa querendo falar outra, geralmente, com a intenção de criticar algo.
5 – Coesão e coerência
A coerência deve ser externa e interna.
A coerência interna de sentido significa uma conexão lógica entre os pedaços do próprio texto. A coerência externa está baseada no sentido que o texto adquire relacionado ao mundo em que está inserido.
Coesão diz respeito à ligação entres os trechos do texto.
a) Coesão pode ser apresentada em dois grupos:
a.1) Coesão referencial: trabalha-se com um termo referido e um referente. O termo referido é aquele que indica outro vocábulo no contexto da frase.
Exemplo: “Maria ligou. Ela precisa falar com você” neste caso “ela” é o referente e “Maria” o referido.
Pode acontecer para dentro do texto: - Anáfora: retoma o termo anterior.
Maria ligou. Ela quer falar com você.
Comprei apenas isto: duas canetas. Para fora do texto:
- Dêixis: indica algo que está fora do texto. Comprei isto.
Vamos sair hoje. (sem a especificação da data)
Utiliza-se para criar a coesão referencial:
- Pronomes: pessoais; demonstrativos; possessivos; indefinidos.
- Alguns advérbios, ex. sinônimos; hiperônimos1; nominalização abstrata2; etc. Exemplos:
Procurou bem no quarto, mas não havia nada lá.
Observe o céu; nada viu, o firmamento estava tranquilo.
Saí para comprar maçã, mas, como a fruta estava muito cara...
Cheguei ao centro e vi lojas depredadas, pessoas feridas, fogo nos canteiros e policiais armados brigando com manifestantes. A confusão, conforme me disseram uns estudantes, começara por causa de...
b.1) Coesão sequencial (conexão): não se trabalha com a ideia de referido ou referente, mas sim com uma continuidade lógica do texto.
Geralmente utiliza-se de: conjunções; locuções conjuntivas; advérbios; expressões de conexão; articuladores do discurso em geral.
[Será necessário estudar na gramática as ações coordenadas e as ações subordinadas adverbiais.]
Exemplos:
Eles são uma gracinha, alegram a casa e, para muita gente, são companhias indispensável. Mas há também quem não tem paciência...
1
Palavra com significado mais amplo que engloba as demais. Ex. Fruta que engloba maçã, morango, mamão... Possuem uma relação, mas não são sinônimas.