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Palavras-chave: PIBID; Ditadura civil-militar; História Oral; memória; entrevistas.

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2756 “A DITADURA LÁ EM CASA”: APRENDENDO HISTÓRIA A PARTIR DE

ENTREVISTAS

Heloisa Pires Fazion Rebecca Carolline Moraes da Silva (PIBID/História/UEL)

Resumo: A ditadura militar tornou-se um fato marcante na história brasileira e sua efeméride este ano completa 50 anos. Certamente, muitas são as histórias que cada cidadão que vivenciou aquele momento pode contar; qualquer pessoa que tenha a partir de 40 anos tem alguma lembrança, por menor que seja, dos anos do comando militar. A partir de uma contextualização mais geral a respeito da ditadura (1964-1985) e supervisionadas pela professora Sandra Regina Denipoti no projeto de imersão escolar, buscamos as memórias de familiares dos alunos do 9º ano do Colégio Hugo Simas em Londrina, através da coordenação da professora Marlene Caineli, do PIBID de História da UEL. Como metodologia para o trabalho, utilizamos entrevistas que os alunos realizaram em suas casas com o objetivo de descobrir um mundo que, aparentemente, não faria parte de sua realidade cotidiana, figurando apenas nos livros didáticos e conteúdos escolares. Além disso, o objetivo foi trabalhar o conceito de memória, procurando fazer com que os mesmos percebessem que as experiências e lembranças variam de indivíduo para indivíduo. A partir do desenvolvimento das aulas sobre o regime militar e da ideia de memória, elaboramos, juntamente com os alunos, um roteiro para o trabalho com entrevistas, que foram usadas como fonte neste estudo. É importante ressaltar que na aplicação de todas as atividades, procuramos sempre trabalhar com os conhecimentos prévios dos alunos, tentando realizar um diálogo com os mesmos, para, assim, proporcionar uma apredizagem significativa.

Palavras-chave: PIBID; Ditadura civil-militar; História Oral; memória; entrevistas.

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2757 PIBID é a sigla para Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, que visa a aproximação dos estudantes de graduação com a sala de aula. As atividades desempenhadas neste projeto são de importância decisiva para um bom aproveitamento do curso e fundamental para as atividades profissionais futuras de quem se forma com habilitação em licenciatura. É algo além do estágio curricular, que foge ao ensaio ou programação do que ocorrerá em sala e possibilita o contato com as salas de aula e a interação com professores que já são experientes na área, estimulando o trabalho em equipe. Nas nossas atividades, temos como coordenadora a professora Marlene Cainelli e como supervisora a professora de ensino fundamental e médio Sandra Regina Denipotti, que sempre nos auxiliam no preparo e realização das atividades.

As atividades do PIBID este ano estão voltadas para a efeméride nacional relacionada à Ditadura Militar. Este ano o golpe completou 50 anos de seu acontecimento, o que faz com que os debates acerca dele voltem à tona, colocando a historiografia em xeque, frente a novas abordagens e revisões,esse fato foi usado pelo PIBID como abertura à possibilidade de se trabalhar a ditadura brasileira nas salas de aulas.

A Ditadura Militar foi um período em que os militares assumiram o governo do Brasil, durou de 1964-1985. É necessário compreender o período anterior a este episódio, entendendo quais foram os movimentos que o possibilitou. Quando Jânio Quadros deixou a presidência da República em 1961, seu vice, João Goulart, mais conhecido como “Jango”, assumiu o poder. Nesta época várias alianças políticas haviam se formado, de modo que muitas delas, não apoiavam o governo do então presidente. Na internet é rápido e fácil encontrar textos referentes a essa questão e que também contribuem para a formação da bagagem de conhecimentos prévios dos alunos, inclusive Rainer Souza, que é professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, contribuiu com o site Brasil Escola nas seguintes palavras:

“Tendo sérias desconfianças sobre a trajetória política de Jango, alguns membros das Forças Armadas alegavam que a passagem do cargo colocava em risco a segurança nacional. De fato, vários grupos políticos

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2758 conservadores associavam o então vice-presidente à ameaçadora hipótese de instalação do comunismo no Brasil”.

É importante ressaltar o papel dos Estados Unidos neste período, que mantinha a preocupação de que o governo brasileiro pudesse seguir uma linha hostil ao seu país transformando-se em uma nova Cuba. Desse modo, o governo norte-americano apoiou e auxiliou os grupos que estavam contra o governo de João Goulart. O documentário “O dia que durou 21 anos” é bem incisivo em sua abordagem sobre a participação dos Estados Unidos no planejamento do golpe no Brasil. Conforme Peter Kornbluh neste documentário, o Brasil era uma superpotência regional e tinha um vasto potencial econômico, os Estados Unidos não poderiam se dar o luxo de perdê-lo para o comunismo, não suportariam uma nova Revolução Cubana. Por este motivo, Lincoln Gordon, embaixador estadunidense no Brasil, se tornou uma importante personagem no desenrolar do pré-golpe – ele tinha como missão barrar todas as ações de cunho esquerdista que João Goulart pudesse querer promover.

“Recebendo de seu antecessor uma difícil situação econômica, marcada por grave crise financeira, Goulart viajou, em abril de 1962, para os Estados Unidos. Os objetivos eram buscar recursos e discutir temas que dificultavam as relações entre os dois países, sobretudo no tocante a nacionalização e à questão cubana” (FERREIRA, 2003, p.05).

Desse modo, em 1964 os militares aplicaram um golpe e passaram a governar o Brasil. É importante destacar que durante este período, o governo não permitia que os indivíduos expressassem suas ideias e opiniões e, dessa maneira, ocorreram diversas formas de contestação, por meio, das canções de protesto, mobilizações estudantis, produções cinematográficas e luta dos movimentos sociais e organizações clandestinas.

Tendo este recorte temporal, o recorte espacial que todos os integrantes do PIBID fizeram diz respeito a este período na cidade de Londrina, a fim de aproximar o aconteicmento da realidade dos alunos. Realizamos no começo do mês de agosto de 2014 uma oficina com o nono ano do Colégio Estadual Hugo Simas, que teve como temática principal a memória e a história oral e com base no roteiro de aula-oficina de Isabel Barca (2004). Na preparação das aulas-oficina, tencionamos alguns objetivos

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2759 que deveriam ser alcançados pelos alunos, sendo que o primeiro deles era de compreenderem em qual contexto a Ditadura Militar se desenvolveu, procurando valorizar a memória de alguns indivíduos (no caso, de parentes dos alunos) que participaram de forma ativa ou não das ações deste período. Buscamos também demonstrar aos estudantes que a respeito de um determinado assunto existem diferentes perspectivas e que isto forma a individualidade de cada um. Além disso, esperamos que os alunos vissem que as fontes com as quais o historiador pode trabalhar não apresentam-se apenas na forma escrita, mas também podem ser fontes orais e materiais ou mesmo ambientais.

O nosso objetivo, portanto, foi o de aproximar os alunos desse acontecimento, procurando demonstrar que a Ditadura Militar não ocorreu apenas em áreas isoladas do país. Dessa maneira realizamos uma contextualização mais geral a respeito da Ditadura Militar e, por meio das entrevistas, os alunos tiveram contato com indivíduos que se lembravam, pelo menos vagamente, deste fato histórico. Também utilizamos, para trazer Londrina ao cerne da questão, uma reportagem do jornal Folha de Londrina publicada neste ano, a respeito justamente dos 50 anos do Golpe e de como estes dias se passaram nesta cidade, apresentando, por exemplo, o importante acontecimento da “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, ocorrido em São Paulo, o qual foi, de acordo com o jornal, “uma reação às medidas sociais promovidas pelo governo João Goulart e à ameaça comunista que supostamente rodava o País naquele momento” e que teve uma organização de uma versão londrinense, que estava marcada para o dia 02 de abril de 1964, porém não ocorreu devido ao golpe no dia anterior.

Jaime Pinsky e Carla Pinsky (2003) escrevem que os professores de história tem o dever de ensinar seus alunos de modo consciente, mas este tipo de formação entrou em crise quando a internet começou a substituir a pesquisa em livros, professor e material didático se tornaram menos importante para os alunos. Eles defendem que esse tipo de substituição prejudica a relação entre o patrimônio cultural e o universo cultural do aluno (conhecimentos prévios), que seria uma das funções do professor.

Para isso, os autores dizem que os professores precisam manter-se atualizados (ideia do „fazer-se professor‟), buscando sempre as melhores formas de articular os conhecimentos prévios dos alunos ao conhecimento histórico, sendo claros na hora de

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2760 explicar o conteúdo que escolheram. Os autores chamam a atenção para os vícios de ensino, que não devem ser seguidos, para que o passado não se torne manipulado, sempre resguardando-se com fontes seguras, sem dar brecha às críticas sem fundamentos.

Ana Maria Monteiro nos apresenta em seu texto “Ensino de História: entre história e memória” (2013), publicado em CD pela UFRRJ, uma divisão entre história e memória para que história vivida e conhecimento histórico possam ser distinguidos. A autora defende que no ensino essas dois conceitos não são, na maioria das vezes, diferenciadas e questiona também qual a natureza do ensinar história. Ela defende o ensino de história como „lugar de fronteira‟ apontando a mistura de saberes que o saber histórico infere, que deve ser trabalhado com os alunos a partir da reflexão, significação dos sujeitos. Citando Forquin (1992), a autora fala sobre a diferença entre exposição teórica e exposição didática: exposição teórica tem relação com o estado do conhecimento, já a didática relaciona quem conhece, quem aprende e quem ensina. Neste contexto, ensinar é ajudar a produzir significados diferentes a partir dos diferentes receptores do ensino que sintetizam o aprendizado a partir dos conhecimentos prévios. Para Monteiro, o ensino de história é lugar de fronteira por permitir essas relações híbridas do conhecimento.

A autora também fala sobre a importância de relacionar história e memória, pensando no ensino de história, pois seria onde as memórias podem se transformar dialeticamente. Há para Monteiro (2013) uma „fronteira‟ entre história e memória – porque é lugar de reflexão e ressignificação sobre os usos do passado, proporcionando novas compreensões. Monteiro ressalta a dificuldade que os professores têm em sala de lidar com alguns assuntos que tocam a memória, para ela, é essencial ouvir os alunos, observar o que eles têm de conhecimentos prévios para, assim, superar alguns preconceitos.

Para atender a essa demanda, no início das oficinas aplicamos um questionário de conhecimentos prévios aos alunos para que percebêssemos quais conhecimentos e concepções os mesmos já possuíam. Os alunos demonstraram gostar da atividade e sentiram-se mais envolvidos nas aulas-oficina, pois não era somente mais uma aula expositiva e eles não eram meramente expectadores. Notamos que a grande maioria já

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2761 sabia que no Brasil havia ocorrido uma ditadura militar, mesmo sem saber a datação exata. Uma das grandes dificuldades foi com relação aos conceitos. Perguntamos, por exemplo, se eles sabiam o que era cidadania e democracia; ao lermos os questionários, percebemos que 80% dos alunos não sabiam o significado desses conceitos.

Também utilizamos como parte dos conhecimentos prévios dos alunos um trabalho que eles desenvolveram em conjunto sobre História Oral. Com entrevistas que os alunos realizaram em suas casas com o objetivo de descobrir um mundo que, aparentemente, não faria parte de sua realidade cotidiana, figurando apenas nos livros didáticos e conteúdos escolares, pudemos trabalhar o conceito de memória, procurando fazer com que os mesmos percebessem que as experiências e lembranças variam de indivíduo para indivíduo.

A História Oral tem tido mais espaço nas pesquisas desde 1980 e a razão disso é que a partir dela podemos obter o passado que está no presente. Não se pode confundir história oral com oralidade ou com fontes orais; oralidade é, conforme Meihy (1996), o conjunto mais amplo das expressões verbais, falas improvisadas ou discursos premeditados. Da oralidade para as fontes orais, a principal diferença é que estas estão gravadas a partir da tecnologia moderna. As fontes orais são os objetos da história oral, entretanto, esta só é possível mediante projeto pré-estabelecido, com etapas claras, como planejamento, gravação, transcrição e eventual análise.

Relatos de experiências individuais ou coletivas sempre têm o quê acrescentar à história. A história oral abre espaço para que as experiências de minorias discriminadas e pessoas anônimas ganhem sentido social, de maneira que sua memória documentada agora pode ser objeto de estudo de diversas áreas.

“A história oral respeita as diferenças e facilita a compreensão das identidades e dos processos de suas construções narrativas. Todos são personagens históricos, e o cotidiano e os grandes fatos ganham equiparação na medida em que se trançam para garantir a lógica da vida coletiva” (MEIHY, 1996, p. 21).

Para possibilitar um envolvimento dos alunos com os temas de memória e história oral, elaboramos um roteiro de entrevistas, com o objetivo de fazer com que os alunos fossem historiadores por um dia, percebessem a importância do relato oral, que

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2762 compreendessem que essas entrevistas poderiam ser tomadas como fonte de estudo para produção de conhecimento histórico sobre a ditadura militar. Nesta atividade, os alunos buscaram pessoas maiores de 45 anos para perguntar sobre suas vivências no período da ditadura brasileira. Para eles pareceu um pouco difícil, alguns conseguiram entrevistar duas pessoas, outros entrevistaram apenas uma. Interessante foi perceber que a maioria deles se deu o trabalho de ir atrás de alguém, o que mostra que se envolveram com a atividade que os colocava como agentes e não apenas receptores.

Ao visualizar as entrevistas percebemos que a maior parte dos entrevistados não se lembrava com muita exatidão da época abordada, não tendo conhecimento a respeito. Muitos deles vivenciaram sua infância no período ditatorial e não tinham muita noção do que acontecia na política do país. Uma característica interessante que muitos ressaltaram foi sobre a censura, havendo relatos de que não podiam falar e fazer o que queriam, pois se as ideias fossem de oposição ao governo os mesmos acabariam sofrendo punições severas, como torturas. Tortura é um tema que envolve os alunos. Passamos um pequeno vídeo sobre alguns tipos de tortura e o espanto deles ficou evidente, o que fez com que se engajassem mais no apoio à “não-ditadura”.

Considerando esta experiência, podemos ressaltar o valor dos conhecimentos prévios dos alunos e a vantagem que é colocá-los como agentes do conhecimento histórico. Pudemos perceber que eles se sentiram muito mais envolvidos com a temática, participando das aulas e fazendo as atividades. O trabalho com a reportagem da Folha de Londrina também foi muito interessante, pois os alunos se espantaram com a repercussão da fatídica semana em Londrina, pois seus entrevistados não se lembravam de muitas coisas na cidade e alguns chegaram a dizer que apenas as grandes cidades haviam sido atingidas pelos acontecimentos. Por fim, vale ressaltar que ao termos apresentado novas possibilidades de fontes aos alunos, evidenciamos que “a coleta de representações por meio da história oral, que é também história de vida, tornou-se claramente um instrumento privilegiado para abrir novos campos de pesquisa” (POLLAK, p.207, 1992) abrindo novos horizontes do conhecimento histórico com os alunos.

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2763 Referências

MONTEIRO, Ana Maria. Ensino de História: entre História e memória. 2013. Disponível em: <www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia >. Acesso em: 15 de maio de 2014.

FORQUIN, J-C. Saberes escolares, imperativos didáticos e dinâmicas sociais.In: Teoria & Educação nº 5.Porto Alegre: Pannonica Editora, 1992. (28-49). p.34.

PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. Por uma História prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula – conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003, pp. 17-37.

SOUSA, Rainer. João Goulart. Disponível em

<http://www.brasilescola.com/historiab/joao-goulart.htm>. Acesso em 12 de junho de 2014.

TAVARES, Camilo; TAVARES, Flávio. O dia que durou 21 anos. Brasil, 2012, Documentário, Histórico.

FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o golpe civil - militar de 1964. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.) O Brasil republicano: o tempo da ditadura - regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilizacão Brasileira, 2003, pp. 344-405.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Edições Loyola, 1996, 4. ed.

POLLAK, Michel. História e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.

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