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Manifestações do sagrado na Pré-História do Ocidente Peninsular. 1. Deusa(s)-Mãe, placas de xisto e cronologias: uma nota preambular

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Almansor- Revista de Cultura

ISS 0870-0249

Propriedade

Camara Municipal de Montemor-o-Novo

Redac~ao

e

Administra~ao

Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo

Largo de S. Jollo de Deus - 7050 Montemor-o-Novo

Compos~ao

PUBLIARVIS, Publicidade e Artes Visuais,

Ld~

Largo do Municipio, 35 - 1

0

-

7300 Portalegre

.Impressio

COGRAPOR, GrMica de Portalegre,

Ld~

Rua do Areo, nO 20 - 7300 Portalegre

Coordena~ao

Jorge Fonseca

(3)

MANIFESTA<;OES DO SAGRADO NA

PRE-HISTORIA DO OCIDENTE PENINSULAR:

1. Deusa(s)-Mae, placas de xisto e cronologias,

urna nota preambular

Victor S.

Gon~alves(*)

1 -0 enunciar da queslAo 2 - As primeiras data~Oes 3 - Discussao

1.

0 enunciar da questiio

Desde os primeiros momentos da arqueologia em Portugal que a queslAo das p~ votivas, frequentes nas anlas alentejanas, mas igualmente conhecidas a Norte do Tejo e no proprio Algarve, suscitou discussOes interessadas.

Como causa principal estava, naturalmente, 0 seu grande mlmero e 0 fascinio que 0 facto religioso sempre despertou nos investigadores. Ainda que tambCm nllo fosse errado apontar urn certo orgulho chauvinista:

a

parte raros exemplos do SuI de Espanha.. as placas de xisto sao urn fenomeno lAo «portugues» que

e

diffcil resistir-lhe. Esteja ou nDo a identidade nacional posta em causa pelo proverbial pessimismo luso (que Ortega

y

Gasset excelentemente caracterizou).

Estacio da Veiga (1887), Leite de Vasconcellos (1897), Virgilio Correia (1917. 1921), Frankowski (1920), Leisner e Leisner (1951. 1952). Pericot Garcia (1950). Albuquerque e Castro (1963), Arnal e Gros (1962), Victor Gon~lves (1970. 1978a, 1978b, 1980), Veiga Ferreira (1973), sao apenas alguns dos aulores que se preocuparam (*)

Director da UNIARQ (Unidade de Arqueologia

do

Centro de ArqlU!Ologia

e

Hist6ria

da

Universidade de Lisboa, INIC), Faculdade de Letras.1699 I...isboa.

Codex..

289

(4)

J

,

,j

com problemas de interpretaclIo. Houve quem tentasse seria-las em tipologias apertadas,}. o que foge

a

questllo principal que aqui abordamos. Outros ainda publicaram, melhor ou

l

pior. exemplares isolados. de imeresse especifico. Foi 0 caso de Zbyszewski. em 1957, .~

e Vila~ (1984). 4

Basicamente, nlIo parece relevantediv idir as teorias interpretativas quanto ao numero 1 e peso dos argumentos aduzidos. Numa pcrspectiva mais pragmalica, a essencia das explicacOes possfveis resume-se em dois grupos:

1. as placas silo representacOes de uma ou mais divindades (l) masculinas; (2) femininas. Neste ultimo caso, muito provavelmente de uma Deusa-Mile;

2. as placas representam 0 inumado.

NlIo parecendo cnveis os argumentos de Veiga Ferreira que, em 1973, confundiu uma figura~oesquematica dos grandes labios com a de um penis (0 que talvez seja de atribuir -' 11 raridade do tratamento grMico do scxo patente no exemplar em questao). e sendo ?'J pacificoaceitar-seque se trata de umarepresentacao feminina, osdados da questilo,a este ' . nlvel •. parecem resumir-sc numa simples dicotomia, no fundo, como veremos, mais

acadcmica que real.

Nllo hesito, com efeito, em aceitar que se trate de uma figuracllo de uma (ou mais) divindade(s) feminina(s), mais concretamente de uma «Deusa-Mlle», por razOcs que se me afiguram de forca indiscutfvel:

1 - se estivessemos perante uma representaclio do inumado, nlio sc compreenderia a _ uniformidade iconol6gica. Essa uniformidade conduz mesmo a que existam placas de uma extraordimiria semelhanca, ainda que em monumentos d i f e r e m e s ; i

2 •

estando, em quase todas as placas,

palcn.te

uma simbologia fcminina, e sendo elas .~

.

"

tao numerosas num mesmo monumento, dificilmeme se aceitaria que a desproporclio

J

funeniria mulher/homem fosse tao exagerada. Por outro lado, uma escavaclIo recentei (ainda inedita) confirmou a associacllo de uma pJaca a um indivlduo de sexo masculino i1!

~i

(Cova das Lapas, Alcobaca, escavacllo do autor); III

3 - a famosa placa do Bugio (Goncalves, 1970) indui a iconografia de doiSj personagens, um contendo 0 outro, 0 que coincide com os mitos mediterranicos conhecidos para a evoluclio do culto da Deusa-Mlle

e

a emergcncia do Jovem Deus

(ibid.). Jovern Deus que, no Ocidente peninsular, considerei identificavel com 0 fdolo «chato» almenense (ibid.).

(5)

As quest.Ocs ainda efcctivamente em aberto dizem respcito

ja

nao essencialmente

a

representacao que as placas consubstanciam mas a trcs outros problemas:

1 - existe diferenca cronologico/cultural entre as placas de xisto com rcprcsentacoes geometricas, as placas de xisto antropomorficas e as de gres?

2 - em que momen~o do mcgaIitismo se situa a prescric;llo ritual que detennina a deposiC;ao votiva de placas junto ao inumado?

3 - qual a cronologia absoluta das placas?

Em relac;ao

a

primeira das questoes, nenhuma escava~llo de meu conhecimento pcnnitiu uma resposta difercnte de urn nuo quase categorico. Na Peninsula de Lisboa. a situacao eslillonge de ser clara, mas tambCm nao e excessivamente confusa. Na Gruta da Marmota, urn e outro tipo de placas estllopresenles (ainda que muito fragmentadas). 0 mesmo se pode dizer das grutas de Alcobac;a. Mas no Alentejo a situac;ao

e

ligeiramente diferente: existem antas so com placas de gres (no Grupo de Crato/Nisa), outras s6 com placas de xislO (caso do Grupo de Reguengos de Monsaraz) e ainda outras com ambas (Anta dos Penedos de S. Miguel, no primeiro dos grupos citados).

Se a iconografia fosse idcntica (e nao 0 e) poderiamos arriscar que as variacOes no suporte coincidiriam eventual mente com disponibilidades locais de aproyisionamento em materia prima.

Se a cronologia absoluta estivesse

ja

disponfvel . para urn numero suficiente de monumentos, a situac;llo estaria, pclo menos parcialmente, em vias de esclarecimento. Mas nenhuma das situac;oes ideais esm correctamente verificada nem qualquer indicador aponta para que 0 venha a estar em prazo curto. Por isso, a duvida mantCm-se. agravada ainda por alguns faclos evidentes.

Com efeito, a distribuic;ao das placas de gres, quase todas elas ou «anepigrafas. OIl com figurac;oes antropomorficas, parcce coincidir com urn largo corredor ao longo do Tejo, ligando 0 litoral ao interior, liga~ao que corresponde a uma provavcl via comercial que levaria 0 srIex da costa para 0 Alentejo, dar trazendo as pedras duras, nomcadamente os anfibolitos, necessarios

a

manufactura de machados e enxOs. Mas a este corrcdor

corresponde tamrem, ainda que estravasando-o para Norte e, rnais pronunciadamcnte. para Sui, a distribuic;ao das placas de xisto com rcprcscnta~oes gcometricas.

Assim, scm abandonarmos uma das certezas mais elementares em iconologia magico-religiosa (uma divindade e scmprc a mesma quer seja representada em madeira.

(6)

OSSO, marfim, cerrunica, cobre ou bronze), nlio nos afastamos tambCm da 16gica elementar que nos leva a sublinharque a materia suporle nlio e necessariamente um factor de identidade ou sinoni'mia simb6lica. Com efeito, se todas as placas de xisto com representa~ geometricas tcm indisculiveis scmelhan~as, 0 mesmo se pode tambCm dizer das placas de gres. 0 caso das placas ditas «fcncstradas» tem, porem, de ser encarado com precau~lio, pela sua indiscutivel carga rcgional.

A questllo pode agora centrar-se nos

componentes da simb6iica.

No que as placas de xisto diz respeito, pres~mes em muitas estilo os triangulos «simb6licos», representa~Oes nlio exactamente do triangulo pubico mas do pr6prio principio feminino, ceramica calcoHtica, mas qlmbCm a um espectro geografico-cultural tilo vasto que vai do Paleolltico Superior aos nossos dias. Outro componente, que rarameme varia, tem sido habitualmente interpretado como «tatuagens» ou «pinturas faciais» e encontra-se inva­ riavelmente na parte superior da placa, Iadeando ou dispondo-se logo abaixo dos «olhos». Eo terceiro componente slio naturalmeme os pr6prios

olhos.

quer coincidam quer nlio com os orificios de suspenslio.

Claro que existem variantes, e numerosas, mas 0 essencial resume-se aqui. E sobre esse essencial regiSlaremos as,diferen~as ou indicadores de mudan~aque representam 0

tratamento do ultimo dos trcs componcntes que enumerei. Particularmeme 0 apareci­ memo de placas com os olhos em forma de sol, indfcio de uma acullura~lio magico­ religiosa ou de uma evolu~no inlerna da simb6lica. Pessoalmente, prefiro aprimeira das duas possibilidades, uma vez acredilar que 0 aparecimento dos olhos em forma de sol coincide efectivamente com uma de duas situa~Ocs, scnlio com ambas: (l).emerg8ncia de novas divindades; (2) uma fuslio de fig ura~Ocsque assinala uma nova fase na evolu~lio do sub-sistema rcligioso a nfvel do Ocideme Peninsular.

As placas de gres trazem consigo um componenle novo na simb6Iica, ainda que nlio rejeilem os que integram as placas de xislo. Os

bra(;os

(e particularmenle as

maos)

encontram-se entre as represcnta~Ocs mais eficazmcntc gravadas ou, mesmo, esculpidas. ,Representados Iinearmcntc ou com uma innexlio adcquada a quem segura 0 pr6prio ventre (gravido?), convergem, no primeiro dos casos, para um triangulo de vertice invertido, no qual significativamcnte se apoiam. 0 cxagero proporcional da representa­ \tno das mnos, patenle na conhecida placa de Montcmor, foi objecto de eSludo em outro contexto ,(Val Camonica) e traduz, scm duvida, cargas simb6licas desconhecidas anteriormente.

A segunda questllo e de mais diffcil rcsposta. E compreensivelmente, quando dois

(7)

investigadores. numa mesma e recente publicacoo, chegam a conclusOes exactamente

opostas sabre a evolu\rllo arquitect6nica

das

eslruturas megaliticas (Kalb e Tavares

da

Silva. 1987).

Tudo quanto nos e possivel adianlar. no estado actual dos nossOs conhecimentos.

e

que os mais pequenos monumentos ainda nao tcm (ou ja nao tcm...) placas de xisto. No

entanto, se a sua prescn\ra

e

constante ao longo do tempo, diria que, no megalitismo. as

placas sao urn fen6meno posterior

a

sua emergcncia, perdurando ate

as

estruturas

de

conslru\rllo mais recenle nele inclufdas. os

tholoi.

Dentro das redutoras categorias que se tern vindo a manter, dina tambem que as

placas de xisto com decoraciio geometric a seriam pr6prias de urn momento

medio

e

finoJ.

do megalitismo. sendo

0

seu limite mais recente

0

menos polemico, uma vez que as

encontramos em povoados calcolfticos do Centro/S ul de Portugal (Vila Nova de S.

Pedro.

Pc da Ecra, Pedrllo. Mangancha, Sala nO

1...).

Quanto ao limite antigo. haveria que

escavar mais monumentos megaHticos para que uma proposta minimamente fundamen­

tada pudesse avancar.

Seja como for,

e

indispcnsavel sublinhar a vasta extensiio cobcrta por estes artefactos

ideotecnicos, traduzindo uma ampla aceitacao que s6 pode ser devidamente entendida

mobilizando meios que a arqucologia nao esta ainda habilitada a fomecer. Redes

de

troca, areas de influencia cultural, urn fundo comum, urn complexo magico-religioso

partilhado, noo sllo explicacoes desprezfveis e numa delas (scnao em

todas)

poderemos

encontrar a chave da queslilo. E sem elas, nao me parcce que se possa, efcctivamente.

progredir.

A terceira e ultima quesllio permanecia sem resposta ate

ha

pouco tempo. Ocupar-me­

ei dela no ponto seguime.

(8)

2. As primeiras data~oes

I·C

o

problema das cronologias para as diversas fases ou momentos da Pre-Hist6ria de Portugal residiu, durante muito tempo, na exiguidade das datas absolutas disponiveis. Hoje, possuem-se alguns bons conjuntos e numerosas datas avulsas e a questao ja nllo reside exclusivamente na sua raridade, mas nos seus para metros de utiliza~llo e fiabili­ dade. Datar urn povoado pode ser complexo, mas urn monumento megalftico, ocupado, reocupado, remexido, violado, ao longo de centenas e milhares de anos, nao

e

caso simples e, salvo em casos de registo muito recente e rigoroso, os dados disponiveis deverllo seratentamente criticados, triados e, em caso de duvida, por pequena que seja, colocados sob reserva.

De escava~Oes (muito) recentes existem, porcm, trcs data~Oes que se afiguram de grande interesse, por screm praticamente as primeiras data~oes absolutas de niveis ou

deposi~Ocs que continharn placas de xisto. (Para localiza~ao, ver Fig. 1).

A primeira delas (ICEN-463) foi obtida na Cova das Lapas (Alcoba~a), numa gruta com uma grande homogeneidade cultural e que inclura urn enterramento em que uma placa com decora~ao geomctrica e caracterrsticas peculiares se encontrava sobre 0 peito do inumado.

A scgunda (ICEN-66) foi obtida por Jorge Oliveira para 0 nrvel de base da Anta da Bola da Cera (Marvao). Vivamente Ihe agrade~o ter permiLido que a usasse aqui.

A terceira foi obtida atravcs dos meus pr6prios trabalhos no povoado da Sala nO 1 (pedr6gao, Vidigueira) e provcm do nrvel 3 do locus I, onde foi recolhida uma placa de xisto aneprgrafa e fragmentos de outras, com representa~oes gcomctricas.

Sao elas:

Cova das Lapas (CLl): ICEN-463 4550 ± 60 BP

Anla da Bola da Cera (ABC): ICEN-66 4360 ±50 BP

(9)

I'

altitudo .uporior a liD ..

IIOk.. ' - ­_ _. . . L ­_ _----'

Fig. 1 - LocaIizalrao dos trcs sftios referidos no texto. 1: Cova <las Lapas (Montes, Alcobalra). 2: Anta da Bola da Cera (Marvao). 3: Sala nl! 1 (pedrogao, Vidigueira) .

(10)

Calibrando-as pcla curva de Pearson et aI., terfamos, para urn intervalo de confian~a

a dois sigmas:

ICEN-463 (Cova das Lapas) 3497 - 3041 cal. AC

ICEN-66 (Bola da Cera) 3100 - 2900 cal. AC

ICEN-448 (Sala nO 1) 3018 - 2460 cal. AC

3. discussao

A representa~110 gnifica de estas datas (as primeiras que, com fiabilidade, se referem a deposi~Oes de placas votivas em monumentos megalfticos) evidencia, quer em anos de carbona 14 quer em anos de calendario, uma aprechivel dura~aopara esta pnitica magico­ religiosa (Fig. 2.1 e 2.2). Outras observa~oes pareccm, porem, indispensaveis.

3.1 A primeira del as diz respeito as categorias de placas assim datadas. Sendo as da Cova das Lapas e do nfvel 3 do locus 1 da Sala nil 1 rigorosamente do mesmo tipo, nao ha duvida que existem placas de xisto com figura~oes geomctricas na segunda metade do 411"milenio e na primeira do 311, em anos de calendario.

As data~Oes 14C confirmam, assim, como ja se dissera (Gon~alves, 1980 e 1987-88) que popula~oes calcolfticas ou contemporancas dos calcolfticos (0 que nao

e

exacta­ mente 0 mesmo) ainda usam placas. 0 «atelier» do Cab~o do PC da Erra (Coruche), ainda n110 datado pelo carbona 14, poderia natural mente confirmar esta proposi~ao.

De onde partem exactamente estas placas, em termos cronoI6gico-culturais,

e

menos seguro, sendo de algum modo natural a tendcncia de alguns investigadores em as colocarem no hoje quase mftico Ncolftico «final», urn conceito onde parcce querer-se arrumar tudo 0 que se nao sabe muito bern a que perfodo pertence (dentro de uma faixa relativamente restrita, claro).

(11)

4700

,onj

I

4500 44001 4300

1

anos 14 C BP 4200 4100 4000 3900 3800 3100 ell abc sl1.n3 3500 3400 3300 3200 anos cal 3100 3000 AC 2900

I

2800 2'00 2600 2500 2400 ell abc sl1.n3

Fig. 2 -Rcprcsenta~ao grafica das datas "C. CLl: Cova das Lapas ABC: Anla da Bola da Cera. SL 1.03: Sala nOl, oivcl3 (do locus 1. Datas BP e cal AC represeOladas a doi~

sigmas.

(12)

Segundo Jorge Oliveira, a placa associada aos enterramentos da Anta da Bola da Cera pertenceria ao tipo antiopom6rfico, mais propriamente ao grupo das placas de xisto «recortadas,., em que a «cabe~a" e intencionalmente diferenciada do «corpo" da placa. Como vimos pela representa~llo gnifica das datas "C, ela seria possivelmente algo posterior

a

placa geometrica da Cova das Lapas e anterior

as

pJacas da Sala nil 1. Uma mesma larga faixa cronol6gica parece, portanto, ser compartilhada por urn e outro tipo de placas. Mas ainda nllo e Ifcito afirmar que essa situa~llo e generalizavel a tod~ 0 periodo longo em que elas foram utilizadas.

Na escava~llo da Anta dos Penedos de S. Miguel (Crato), a equipa luso-francesa registou placas de gres com representa~oes antropom6rficas (entre elas dois notaveis exemplares), no mesmo nivel de base que continha deposi~Oesde placas de xisto. Placas de xisto identicas, peJos componentes da sim b6lica as da Cova das Lapas e da Sala nil 1. Cronologicamente, existe indubitavelmente coexistencia. Culturalmente, a utiliza~llodo

mesmo n(vel

do

mesmo monumento

poderia confrrmar 0 dado anteriormente adquirido.

E quanta ao que elas representam?

3.2 Como ja se viu, as questOes, no que diz respeito a interpreta~llo das placas, nllo sOO muitas: uma mesma divindade, uma mesma fun~llo, vanas representa~oes, de acordo (ou nllo) com suportes diferentes? Dificil e, porem, uma escolha fundamentada.

Nllo sei se

tratara

sempre

de uma mesma divindade, mas se a sua flin~llo for a mesma entilo poderemos aceitar que a variabilidade das representa~oes tern menor significado que a sua presen~a especifica junto aos inumados .

. Acaso mais datas estivessem disponiveis, teriamos talvez a possibilidade de discutir uma possivel anterioridade das placas com representa~oes geometricas em rela~llo

as

de xisto e gres com figura~Oes claramente antropom6rficas. Ou a sobrevivencia das representa~Oes geometricas em rela~llo a estas ultimas. No presente contexto, ha que esperar, ainda que a escava~llode povoados (onde as placas, nllo 0 esque~amos, tambem eram feitas) possa apressar a resolu~llo dos problemas em apr~o.

3.3 Se em meados do 411 milenio (em anos de calendario) ja existiam placas votivas

com representa~Oes geometricas, ate meados do 311 a sua presen~a parece igualmente

estar atestada. S6 que e exactamente em tomo a dobragem da primeira metade do 311

milenio que factos novos ocorrem no Ocidente peninsular. Urn deles sera. muito provavelmente, 0 aparecimento das fortifica~Oes com torres ocas, respondendo a uma situ~llo de agita~llo e inseguran~a cuja explica~llo avancei noutro lugar (Gon~alves 1989). De acordo com 0 que ja e possivel entrever, e este urn periodo de rasgados

m

~

.~

(13)

contactos inter-regionais. em escala ampla. e a metalurgia do cobre. urn dos componentes peninsulares a acrescentar ao saito econ6mico-social provocado pela Revolu~ao dos Produtos Secundarios. descmpenha agora papcl nao negligenciavel. Com ela. novas figura~Oes vao surgir (os fdolos-falange. os fdolos cilindro). mas tambCm as antigas receberao a influencia da «Deusa com olhos de sol». Placas pe xisto. cedimicas. falanges talhadas ou simplesmente afei~oadas. vao registar este momento. incluindo na antiga gramatica diversas figura~Oes dos olhos-sol.

Seria interessante saber se nao

c

exactamente nesta altura que no menir da Bulhoa. em Reguengos de Monsaraz.

c

gravado 0 seu sol unico. sendo 0 monumento. possivel- , mente. de feitura anterior.

3.4 Se fosse obrigado a concluir. diria que a conclusao nao

e

volumosa. ainda que a sua fiabilidade scja praticamente indiscutfvel.

Signifiquem 0 que signifiquem as placas -votivas. duram pelo menos mil anos. 0 que

nao

e

excessivo sc considerarmos a dura~ao media dos grandes complexos magico­ religiosos e as considerarmos parte de urn deles.

Como todos os sfmbolos magico-religiosos. a sua dura~no

e

indepcndente da que foi pr6pria as sociedades ou grupos que as geraram. nao sendo nada improv<ivel que tenham sido anteriores e contemporancas das grandes transforma~ocs que a Revolu~ao dos Produtos Secundarios desencadeia no Ocidente Peninsular. Ainda existem. por outro lado. quando no territ6rio hoje portugucs se levantam as fortifica~ocs de Zambujal. Vila Nova de S. Pedro. Monte Novo dos Albardeiros. Monte da Tumba. Cerro do Castelo de Santa Justa.

E uma das mais interessantes questoes nno residini exactamente. tambCm. em sabermos de que lado das muralhas clas se enconteavam? Denteo delas ou de fora (e contra elas). Nno possuo elementos que me levem a considerar invalida esta ultima

explica~ao.

-Completamente exterior as inten~oes de este trabalho fica outra discussao famosa: a «das origens». Mas bastara ler Karageorghis (1977) ou Renfrew (1985) para nos apercebermos quao longe esm. por enquanto e neste contexto. 0 mundo do Meditenineo oriental.

Lisboa, Inverno de 1989

(14)

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\

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Codtparaison entre une plaque de schiste gravee

de

Lisbonne et une

de

la province

de

Hu;ja.

eSGP, XXXVIII, Lisboa.

Imagem

Fig.  1  - LocaIizalrao  dos  trcs  sftios  referidos  no  texto.  1:  Cova &lt;las  Lapas  (Montes,  Alcobalra)
Fig. 2 - Rcprcsenta~ao  grafica das datas &#34;C. CLl: Cova das Lapas ABC: Anla da Bola  da  Cera

Referências

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