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O QUE VEBLEN ENCONTRA MURILL0 (1)

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Academic year: 2019

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O que Veblen encontra (Notas Introdutórias)

Prof. Murillo Cruz

O que Veblen encontra em seu período de formação intelectual (i.e., o último quarto do século XIX aproximadamente)?:

.1 Por um lado, um quadro intelectual e científico revolucionado e moderno (especialmente em função das obras revolucionárias de Kant e de Darwin), mas quadro este institucionalmente censurado e/ou deturpado pelos ´interesses investidos´ de uma classe

dominante predadora e ociosa (como por exemplo o “darwinismo social”). Veblen depara-se, assim, na literatura de ponta de sua época, com um conceito (moderno) de natureza humana, isto é, com uma psicologia e uma ´biologia´, ´radicalmente´ distintas do quadro institucional prevalecente.

Depara-se Veblen também com um quadro sócio-economico,

cientifico e tecnológico igualmente revolucionado, vis-à-vis o quadro material oitocentista e/ou da primeira metade do século XIX.

.2 Por outro lado, e concomitantemente, confronta-se Veblen com um quadro institucional filosófico, intelectual, cientifico e estético marcadamente reacionário e anacrônico:

.(i) Uma filosofia (moral) e uma teoria social claramente reacionárias, calcadas no “senso comum” e na teologia;

.(ii) Uma ´psicologia´ não cientifica, interesseira, anacrônica, dedutiva e, simplesmente, “errada”, baseada em supostos,

resumidamente, falsos: (a) de que o Homem é uma Tabula Rasa (q.v. o empirismo de Locke, Hume, Hartley, et. al.); (b) de que o Homem é definidamente Racional; (c) de que o Homem é Hedonista e Individualista, busca o prazer, a indolência, e seus interesses prioritariamente pessoais. Esta psicologia, sintetizada no ´selfish system´ oitocentista, organizou (e continua organizando) as bases do comportamento do típico e dedutivo homo oeconomicus dos economistas clássicos, neoclássicos e seus herdeiros

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.(iii), uma estética predominantemente barroca, mofada, indolente, bizarra, igualmente interesseira e reacionária (anti-econômica e tipicamente pecuniária).

O universo mental e intelectual institucionalizado e predominante que Veblen encontra resume-se, assim, em um universo

tipicamente Leibniziano (especialmente em teoria social e em economia). Uma economia puramente apologética em seus

enunciados e postulados teóricos, e anacrônica em suas análises descritivas estruturais. Uma teoria do Consumo inóspita e limitada, etc.

Com este quadro institucional marcadamente reacionário e

anacrônico, Veblen fará, inicialmente, 2 verificações, verificações estas importantíssimas para todo o prosseguimento de sua obra: (i) o desperdicio gritante e irracional de recursos; e

(ii) a desvalorização, ignobilidade, e indignidade atribuídas a todo o trabalho de serventia;

Ou seja, Veblen irá formular, inicialmente, 2 perguntas chaves:

(i) como é possível, nas sociedades contemporâneas, e mesmo durante séculos e séculos, tamanho desperdício de recursos sociais e materiais (importantes) SE, de acordo com a ciência moderna, SOMOS, por necessidade seletiva – biológica e psicologicamente – eficientes, econômicos, industriosos, objetivos e, em última

instância, funcionais?

E (ii): como é possível a cristalização e a generalização de uma idéia de que o trabalho de serventia é ´irksome´, maçante,

entediante, que deve ser evitado, etc., SE, assim como todas as demais espécies, SOMOS, por necessidade seletiva, levados, evolucionariamente, à ´luta´, à superação de nossas dificuldades diuturnas, etc., precisamente pelo ´trabalho´ e esforço de serventia?

Como afirmou Veblen muitas vezes: a aceitação ingênua da idéia de que o trabalho de serventia é irksome, maçante, etc., e que o Homem “busca a ociocidade, o prazer e o lazer como meta prioritária”, faria da espécie humana uma espécie única!!

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(1894 e 1898), bem como o seu primeiro livro (1899 – The Theory of the Leisure Class).

Em outras palavras, a indagação (i) acima, será objeto de

apreciação, entre outras, de seu primeiro trabalho em Economia, publicado em 1894 (The Economic Theory of Women´s Dress); e a segunda indagação acima será objeto de apreciação de seu famoso artigo de 1898 (The Instinct of Workmanship and the Irksomeness of Labor). Ambas possuem como base de referência, a “variável”

fundamental do modelo sócio-econômico de Veblen: the instinct of workmanship..

É certo que, antes destas indagações, Veblen bebeu em fontes da 3ª. Critica de Kant (A Critica do Julgamento), e em sua tese de doutorado, de 1884, para organizar a sua contribuição à teoria estética, bem como vincular esta sua contribuição (do campo da estética) ao seu “esquema básico” de pensamento sócio

-econômico. Senão vejamos:

[Para Kant, um juízo estético empírico  uma obra que Agrada; Um juízo estético universal  uma obra que é Bela;

E Veblen complementa: um juízo estético ´institucional´  uma obra que é Reputada; “adequada”.

Ou seja, a Beleza e o julgamento da Beleza pode ter (e tem) um:

.(i) Fundamento subjetivo; (para um determinado indivíduo, sem que os demais julguem efetivamente a partir do ângulo deste individuo; e sem que este individuo tenha como referência

(consciente e intencionalmente) o que a comunidade julga ou acha); neste sentido, é que se diz comumente ... De gustibus non

disputandum (gosto não se discute);

.(ii) Fundamento objetivo; (intrínseco à essência da obra); e um

.(iii) Fundamento institucional.

Veblen dirá que o fundamento subjetivo não interessa diretamente ao estudo da economia, na medida em que economia é uma ciência social; e também que o fundamento institucional (a obra reputada) muitas vezes (e quase sempre) suplanta e abafa (encobre –

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apreciações do gosto, e mesmo demais juízos, como a Moral e.g., que os teóricos e os filósofos não tinham percebido, e que Veblen percebeu e teorizou.

(obs.: é óbvio que este terceiro julgamento a contaminação institucional – pode ter uma leitura e explicação no julgamento

subjetivo. Entretanto, Veblen quis realçar uma contaminação social, que não se encontra explicitamente no conceito de julgamento subjetivo ... embora possa estar contido, ou mesclado,

efetivamente, neste ultimo conceito ... )

E mais, Veblen dirá que a presença de características objetivas do Belo em uma obra julgada bela pela reputação, ou simplesmente que agrada mas não é Bela, mas com evidentes acréscimos, “força”, obriga um equilíbrio instável de apreciação e julgamento, isto é, como SOU funcional e eficiente, tendo inconscientemente, na maioria dos casos - a encontrar a finalidade estrita no objeto em apreciação (sem os acréscimos e/ou os excessos), pois sinto uma repugnância natural pelo desperdício. Ao “não encontrar”

diretamente a expressão formal de funcionalidade, sinto, ou devo sentir, um desconforto inconsciente; mas tal desconforto pode ser suportado, conscientemente, em função das forças institucionais, pelos Hábitos, costumes, etc., que são fortíssimas!

Completar com minhas observações:

-julgamento estético subjetivo (o que “agrada”)

-julgamento estético objetivo (o que é “belo” – ver ... “beleza é a forma da conformidade a fins de um objeto, na medida em que ela é percebida nele sem representação de um fim” ....)

-Veblen incrementou esta teoria de Kant para um julgamento estético adicional, o julgamento estético institucional (pecuniário, por exemplo) ... (o que é “adequado”, “conveniente”) Reputado.

Somos funcionais, eficientes e econômicos. Construímos os objetos com tais qualidades, ou buscamos construí-los com tais

características .... ۩ . A contemplação de ۩ por qualquer outro

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sociobiologia moderna: Por que os velhos não são belos? R: Porque não são funcionais.

Os próprios sistemas cognitivos estão preparados para perceber, para discernir funcionalidades e adequações, etc., de não

funcionalidades, não adequações, etc.

(ver o texto de Bruce Lipton – a mente inconsciente processa 20 milhões de estímulos por segundo; enquanto que a mente

consciente precessa somente 40 estimulos por segundo).

Em 1894 Veblen expõe 2 conceitos fundamentais de sua obra, e que irá carregar em diversas passagens de todas as suas exposições:

.(1) Seu “esquema básico” (estático), logo ao inicio do artigo; e

.(2) a (sua) norma do desperdício conspícuo (e sua correlata reputação pecuniária) = que significa que a obtenção ou a elevação de prestigio ou reputação de um individuo no grupo é proporcional ao grau de desperdício

(conspicuo) que executa (= a sua “ability to pay”). E o individuo atua com este propósito através de 2 procedimentos ou comportamentos: (i) um, tangível material, ao portar objetos que contemplam (conspicuamente) excessos materiais valiosos (ou complementos materiais à função manifesta dos mesmos que sejam considerados valiosos para o grupo) que indiquem que ele pagou ou comanda valores supérfluos, e logicamente caros;

(riquezas em ultima instancia.*

E um segundo procedimento (ii), intangível comportamental, ao

comportar-se afastando-se das atividades econômicas que indicam a função manifesta e objetiva dos produtos, objetos, e processos, (dado a indignidade institucional atribuída ao trabalho de serventia de longa época).

No primeiro caso, Veblen irá desenvolver a sua teoria do Consumo

Conspícuo. E no segundo caso, Veblen irá desenvolver a sua teoria do Ócio Conspícuo.

Notar que no primeiro caso, os objetos pecuniariamente reputados, e que são utilizados ou consumidos, podem e devem possuir também

(materialmente) uma indicação de ineptitude para todo o trabalho ou

atividade de serventia de quem os porta e/ou os utiliza; o que reforça, ainda mais, a condição citada em (ii).

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por serem ´baratos´ e não satisfazerem mais a norma da reputação pecuniária.

Subjacente ao raciocínio acima (e a todo este artigo de 1894) encontra-se uma indagação central da obra de Veblen, e que será exposta, inicialmente, em 1898 (em seu famoso artigo ´The Instinct of Workmanship and the Irksomeness of Labor). Esta indagação encontra-se presente no cerne de toda a sua teoria, e que identifica-se como a principal “variável” de seu modelo sócio econômico, o instinct of workmanship, que é a seguinte:

Como é possível – nos dias presentes -, e como foi possível, durante milênios igualmente, o Homem comportar-se desta forma e com tais

valores e “principios” (esbanjador, perdulário, etc. + dignificador de atividades de ócio, lazer e demais indolências correlatas) SE encontra-se atrelado, por necessidade seletiva, à uma norma de valor vital consolidado (q.v.), que demonstra, explica e afirma que somos, como todas as demais espécies, seres ativos, e absolutamente funcionais para a consecução das finalidades necessárias ao sucesso biologico, isto é, à adaptação, à

sobrevivência, e à reprodução)? Somos, assim, objetivos, industriosos, econômicos, eficientes, e possuímos uma repugnância natural ao

desperdício, MAS comportamo-nos como que contrariando e negando estas condições essências de nossa natureza.

Em outras palavras, a norma do desperdício conspícuo, e seu epifenomeno, a ignobilidade atribuída a toda a atividade, esforço, e trabalho de serventia, que Veblen encontra presente e disseminados por longo período, parece contradizer, paradoxalmente, as características biológicas, psicológicas e comportamentais de nossa natureza e de toda a historia da evolução.

Obs.: Uma das possíveis soluções do exposto acima, reside no fato de que a teoria de Veblen, assim como a teoria estética de Kant, baseia-se em uma antinomia essencial: tese: (i) Os Instintos e as Propensões são

determinantes de nosso comportamento (sobre as forças institucionais, costumes e Hábitos); e antitese (ii) As instituições, Hábitos e Costumes são determinantes de nosso comportamento (sobre as forças instintivas).

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