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A REDUÇÃO DE DANOS COMO MEDIDA ALTERNATIVA À POLÍTICA NACIONAL DE DROGAS: uma reflexão sobre a saúde do usuário | Anais do Congresso Acadêmico de Direito Constitucional - ISSN 2594-7710

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Anais do I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional da FCR Porto Velho/RO 23 de junho de 2017 P. 353 a 376 A REDUÇÃO DE DANOS COMO MEDIDA ALTERNATIVA À POLÍTICA

NACIONAL DE DROGAS: uma reflexão sobre a saúde do usuário

Arthur Lobo Braga1 Stênio Castiel Gualberto2

RESUMO

O propósito deste artigo é analisar a política de Redução de Danos como medida alternativa à política nacional de drogas, levando em consideração que as atuais ações se mostram retrógradas e ineficientes para tratar a questão do tráfico e consumo de substâncias psicoativas. A Redução de Danos se preocupa com o usuário e o dependente de drogas, independentemente de criminalização de uso ou venda, colocando a sua autonomia e a sua saúde em primeiro lugar. Desse modo, observaremos quais os princípios e fundamentos norteadores dessa política, os trabalhos realizados por alguns programas de Redução de Danos, e os principais problemas e obstáculos enfrentados junto ao poder público. E, por fim, verificaremos a viabilidade de sua implantação.

Palavras chave: Direito Constitucional. Direito Fundamental à Saúde. Drogas.

Redução de Danos.

ABSTRACT

The purpose of this article is analyze the Harm Reduction policy as an alternative measure to the national drug policy, considering that the current policy is retrograde and inefficient to treat the problem of psychoactive substances trafficking and consumption. The Harm Reduction worries about the drug users and drug addicts, regardless of criminalization of its use and sale, putting health and autonomy first. In this way, we will observe the principles and fundamentals that guide this policy, the work done by some harm reduction programs, and the main problems and obstacles faced in front of the public authorities. Finally, we will verify the viability of its implantation.

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Acadêmico do 9º período do curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: arthvrbraga@gmail.com

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Docente das disciplinas de Direito Penal e Processo Penal do Curso de direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: steniocastiel@gmail.com

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Keywords: Constitutional Right. Fundamental Right to Health. Drugs. Harm

Reduction.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, é notável que o uso de entorpecentes vem aumentando gradativamente no Brasil e no mundo, desencadeando problemas relacionados à saúde de usuários e dependentes.

O ordenamento jurídico pátrio é controverso, pois, apesar de prever medidas redutivas com o objetivo de cessar ou descontinuar o uso de drogas, ainda possui resquícios repressivos em seu cerne, a exemplo da Lei nº 11.343, que elenca atividades e estratégias educacionais de prevenção em parte de seu texto, tratando o “não uso” ou o “retardamento do uso” como resultando desejado, ao passo que define crimes e penas aos usuários em seus artigos seguintes.

Questiona-se se o Direito está adequado à realidade, haja vista que, apesar da adoção pelo Brasil da política de guerra às drogas, que tenta combater o tráfico e o consumo, sabe-se que nem o tráfico nem o consumo diminuíram na sociedade em razão da repressão. Em outras palavras, o usuário não deixa de usar por medo de ser preso, ele apenas toma os devidos cuidados para não ser flagrado.

Neste contexto, em razão do caráter repressivo com qual o uso de drogas é tratado, não há regulamentação acerca de estudos de substâncias potencialmente psicoativas, nem sobre a forma como devem ser consumidas, pelo menos não em caráter oficial, que seja realizado diretamente pelo Estado. Em decorrência disto, os usuários ficam desassistidos em relação a informações das substâncias que consomem ou seu modo de uso, o que ocasiona o aumento de danos à saúde causados pelo uso de elementos desconhecidos.

A importância da pesquisa se dá pela verificação de que a política adotada atualmente no Brasil para redução dos danos sociais decorrentes do uso e abuso de drogas não vem surtindo efeitos positivos. Pelo contrário: está agravando o problema, conforme tese defendida por Barroso (2015), em seu voto no julgamento do Recurso Extraordinário nº 635.659, com repercussão geral reconhecida.

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acreditar que reprimir é o caminho certo para a diminuição do uso, como se fechasse os olhos para a realidade: os usuários de drogas não deixam de usá-las por medo da lei, apenas evitam serem flagrados por policiais ou agentes que possam reprimi-los. E neste contexto, por falta de orientação e informação, acabam causando danos à sua saúde e sofrendo danos sociais.

Nesta pesquisa, pretende-se abordar o tema acompanhando a seguinte linha: primeiro uma breve explanação sobre o consumo, observado o caráter intrínseco que possui na sociedade, e um resumo contextual histórico; em seguida, uma síntese histórica de como o Estado enfrenta o fato social das drogas, com uma atenção maior às políticas adotadas em relação ao usuário; por fim, uma análise dos programas de redução de danos, seus princípios, forma de abordagem, linha de atuação, os problemas enfrentados em razão da política proibicionista e seus demais aspectos.

Ainda sobre os programas de redução de danos, pretende-se compreender o trabalho realizado em diversos deles, observando os métodos utilizados de orientação, as pesquisas possivelmente desenvolvidas, as informações obtidas e disseminadas; argumentar pela utilização da proporcionalidade pelo Estado, atentando para o limite de sua atuação quanto à interferência na vida do usuário, tomando medidas para reduzir os danos decorrentes do uso de drogas, sem cercear a sua autonomia privada; e, por fim, verificar a eficiência da adoção do programa de Redução de Danos e a sua viabilidade.

Importante observar que o trabalho não se debruçará sobre a discussão de proibição ou legalização do consumo e venda de drogas, mas tão somente nas políticas públicas e programas direcionados à saúde do usuário, desprendendo-se, portanto, de qualquer discussão criminalística acerca do assunto.

1. O CONSUMO

O consumo de drogas acompanha a própria evolução da humanidade. A capacidade e necessidade da mente humana de alterar o seu estado de consciência é tão antiga quanto a própria ideia de existência humana. É possível observar este fenômeno desde o momento que o homem aprendeu a manipular plantas com finalidade alimentícia e medicinal, descobrindo empiricamente seus efeitos

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estupefacientes e, certas vezes classificando-as como “divinas”, adquirindo, por conseguinte, caráter espiritual e ritualístico. Com o passar do tempo, as técnicas foram se aprimorando. Conforme a sociedade evoluiu, o consumo das substâncias psicoativas disseminou-se com o homem, sendo aceito por determinados grupos sociais, enquanto é abominado por outros, o que não necessariamente impede o seu uso (COSTA, 1999 apud SILVA, 2005).

Ainda no contexto histórico de uso de substâncias psicoativas, observa-se diversos fatores que provocaram a disseminação destas ao redor do mundo: renascimento cultural, conflitos religiosos, revoluções científicas, comércio ultramarino, entre outros, os quais influenciaram na circulação humana e na interação do homem com seus semelhantes de outras regiões do globo (TORCATO, 2014).

Tal circulação disseminou, principalmente através do comércio, três substâncias que, embora permitidas e aceitas na sociedade moderna, são capazes de alterar a consciência: álcool, açúcar e tabaco. Sua globalização se deu de forma tão ampliada que se tornou impossível proibi-las. Por outro lado, restaram outras três que não tiveram sua disseminação planetária tão forte, o que tornou viável a intervenção do Estado para sua proibição, quais sejam o ópio, a canabis e os derivados da coca (COURTWRIGHT, 2002).

Passando à modernidade, o homem continua manipulando substâncias em busca de medicamentos para as mais diversas patologias. O que antes era em plantas passou a ser em moléculas e, por conseguinte, descobriu-se novas substâncias psicoativas. Dentre diversas destacam-se a dietilamida do ácido lisérgico (LSD), e a metilenodioximetanfetamina (MDMA), substância ativa do

Ecstasy. As duas foram descobertas na tentativa de produzir medicamentos, e até

mesmo tiveram comercialização com este fim, mas logo em seguida tornaram-se de uso recreativo e tiveram seu (ab)uso associado a transtornos mentais, o que as tornaram proibidas em diversos países.

Contudo, embora ilegal, estas substâncias não parecem ter seu consumo reduzido, pelo contrário, só aumentou, conforme levantamentos realizados em países da Europa (BROWN; JARVIE; SIMPSON, 1995) e nos Estados Unidos (CUOMO; DYMENT; GAMMINO, 1994), possuindo, inclusive, entusiastas que defendem a sua legalização.

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Nesse sentido, Gauer (2003, p. 683) traça um paralelo entre o consumo de drogas e a violência, afirmando ser esta “elemento estrutural, intrínseco ao fato social e não o resto anacrônico de uma ordem bárbara e vias de extinção. Esse fenômeno aparece em todas as sociedades; faz parte, portanto, de qualquer civilização ou grupo humano”. E compara os dois ao visualizar o consumo de drogas pelo mesmo ponto de vista, considerando tal fato como universal, uma vez que entende que poucas são as civilizações que não utilizam alucinógenos. Importante esclarecer que ao traçar este paralelo a autora apenas afirma que os dois fatos são inerentes à sociedade e não que um está diretamente ligado ao outro.

Neste contexto, para entender melhor o consumo propriamente dito, e como as substâncias afetam os usuários, influenciando na sua experiência, Zinberg (1986

apud MACRAE; SIMÕES, 2004, p. 29) afirma que:

É necessário considerar três fatores determinantes entre si: a droga em si, isto é, a ação farmacológica da substância incluindo a dosagem e a maneira pela qual é tomada (endovenosa, aspirada, fumada por via oral, etc.); o set, isto é, o estado do indivíduo no momento do uso, incluindo a sua estrutura de personalidade suas condições psicológicas e físicas, suas expectativas; e o setting, isto é, o conjunto de fatores ligados ao contexto no qual a substância é tomada, o lugar, as companhias, a percepção social e os significados culturais atribuídos ao uso.

Importa observar, portanto, que nem todos os efeitos dos psicotrópicos são negativos, visto que a qualidade dos efeitos sofre influência não só da substância, como também da situação do usuário e do meio contextual no qual ele está inserido no momento do consumo (BARATTA, 1988). Esse prisma permite visualizar as várias situações que as drogas representam na sociedade atual, afastando a ideia ilusória de que há fórmulas racionais, exatas e moralizadoras que permitam encontrar o caminho para erradicar o uso de drogas baseando-se na abstinência.

Desse modo, é preciso ter cuidado ao tratar a questão do consumo de drogas, devendo-se analisar de maneira contextualizada, evitando-se dimensionar de forma inadequada para mais ou para menos, afastando a possibilidade de tomar posturas preconceituosas e de adotar julgamentos ideológicos sem aprofundamento (VELHO, 1997 apud SILVA, 2005). Portanto, qualquer análise do tema deve considerar os seus infinitos significados socioculturais, transcendendo os aspectos medicinais e farmacológicos.

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Analisando os vários significados sociais e culturais das drogas, Szasz (1992) defende o uso de drogas como direito inalienável do cidadão na sociedade democrática, sob quaisquer circunstâncias, independente da natureza ou da finalidade, associando-o à liberdade de intoxicação ou de automedicação. O autor ainda equipara esses direitos à liberdade de propriedade e à liberdade de expressão, as quais são historicamente consolidadas nas Leis Fundamentais dos países ocidentais. Tal linha intelectiva contraria a maioria das medidas que foram historicamente adotadas pelos países no mundo em relação ao consumo de drogas, conforme se observa no próximo capítulo.

2. A INTERVENÇÃO ESTATAL

Após um breve histórico e uma reflexão sobre o consumo de drogas, passamos ao contexto da intervenção estatal: como o Estado trata a “questão das drogas”. Aqui observaremos como o Estado trata o usuário no decorrer da história, as teorias adotadas, e como estas influenciaram nas políticas implementadas para tratá-los.

Em 1960, o uso de drogas tomou finalidade de protesto, associado a movimentos sociais e culturais contrários às guerras vigentes à época. Vinculado a posturas libertárias e reivindicatórias, o consumo, principalmente de maconha e LSD, se popularizou juntamente com elementos culturais como arte, música, cinema e sexualidade, o que tornou o domínio estatal mais difícil, principalmente o exercido pelas instituições de controle penal.

Neste contexto, com o apoio dos movimentos sociais favoráveis a políticas repressivas, aliados à mídia, ocorreram as primeiras medidas de controle transnacional de entorpecentes. Surge então a “Convenção Única sobre Entorpecentes”, assinada em 1961 na cidade de Nova Iorque, que tinha como objetivo combater o uso abusivo de drogas por meio de ações internacionais coordenadas.

Neste quadro, observa-se a adoção do modelo médico-sanitário-jurídico para controlar os sujeitos que se encontram envolvidos com drogas. Em tal discurso, equiparado ao discurso de diferenciação, o principal fundamento é diferenciar o usuário do traficante adotando a medida jurídico-penal a este, enquanto trata aquele

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no sistema médico-psiquiátrico pelo viés sanitarista, considerando a ideia de que todo usuário é dependente (CARVALHO, 2016). Em outras palavras, considera o traficante como culpado, inimigo, e o usuário como vítima.

Percebe-se neste modelo uma segregação social, visto que o traficante, geralmente pobre, que utiliza o tráfico como meio de sobrevivência, é tratado como criminoso, enquanto o usuário, por muitas vezes filho de pais ricos, é tratado como vítima, que se deixou influenciar pelo inimigo (BOITEUX, 2006).

Em atenção às tendências internacionais, o Brasil adequou-se editando o Decreto-Lei nº 159/67 que iguala as substâncias capazes de causar dependência química ou psíquica aos entorpecentes, aplicando inclusive no que coubesse o disposto no código penal.

Entretanto, em 1968, editou o Decreto-Lei nº 385/68 que, indo de encontro à postura adotada pela comunidade internacional e afastando o discurso da diferenciação, alterou o Art. 281 do Código Penal, criminalizando o usuário e o dependente com a mesma pena aplicada ao traficante, o que, segundo Ney Fayet de Souza (1972, p. 57): “Abalou a consciência científica e jurídica da Nação, dividindo juristas, médicos, psiquiatras, psicólogos e todos quantos se voltam para o angustiante problema da vertiginosa disseminação do consumo de produtos entorpecentes”.

Passados três anos, com o Decreto-Lei 385/68 ainda vigente, o ordenamento jurídico brasileiro, com a edição da Lei nº 5.276/71 volta a se adequar às orientações internacionais, redefinindo as hipóteses de criminalização e modificando o rito processual, trazendo inovações às técnicas de repressão às drogas. Inovou, também, ao diferenciar o dependente do usuário, tratando este ainda como criminoso e aquele como inimputável ou semi-imputável, a depender do grau de toxicomania que seria verificado pelo juiz, o que, para Souza (1972, p. 58):

Deixou a desejar porque quando todos esperavam que o tratamento punitivo para o consumidor da droga, que a trouxesse consigo, desaparecesse ou fosse bem menor do que o dispensado ao traficante – apenas para justificar a imposição da medida de segurança –, ambos continuaram a ter idêntico apenamento. E agora, com pena ainda maior: reclusão de 1 (um) a 6 (seis) anos e multa.

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semi-imputável, poderia o juiz absolver o agente e determinar sua internação pelo tempo necessário à sua recuperação no primeiro caso, ou substituir a pena aplicando-se a mesma sanção no segundo caso. Observa-se aí que não há previsão de tempo para a medida aplicada aos toxicômanos.

A ideia de globalização do controle penal sobre drogas ilícitas obteve seu êxito com a assinatura da Convenção Única sobre Entorpecentes em 1960, e restou consolidada com a aprovação do Convênio sobre Substâncias Psicotrópicas, em 1971 na cidade de Viena. Contudo, segundo as instituições norte-americanas, que se destacavam nas políticas adotadas, embora houvesse muito esforço repressivo no âmbito externo, o problema das drogas se agravava, observado o aumento no consumo e no comércio interno norte-americano. Tal ocasião fez com que as autoridades americanas adotassem posturas bélicas, endossadas pelo então presidente Richard Nixon em seu governo, que considerava os países periféricos da américa latina como culpados por produzirem e exportarem drogas aos Estados Unidos, responsabilizando-os pressionando-os para que criassem leis mais rigorosas neste sentido.

Essa conduta refletiu no Brasil, que também era considerado um país produtor-exportador, visto que ficava na rota de tráfico de outros países latinos, e, portanto, inimigo. Então, em 1976, o país instaura novo modelo de controle, acompanhando as tendências dos países centrais refletidas nos tratados e convenções internacionais. As condutas consideradas como crimes não se distinguem materialmente das já previstas na Lei 5.726/71. Entretanto, a diferença está na gradação das penas, que refletiu na caracterização do modelo político-criminal configurador do padrão de narcotraficante (CARVALHO, 2016). Com a Lei nº 6.368/76 o discurso jurídico-político de caráter bélico caracteriza oficialmente o repressivismo nacional. Observa Carvalho (2016, p. 62):

Assim, no plano político-criminal, a lei 6.368 76 manteve o hist rico discurso m dico-jurídico com a diferenciação tradicional entre consumidor (dependente e/ou usuário) e traficante, e com a concretização moralizadora dos estere tipos consumidor-doente e traficante-delinquente. Outrossim, com a implementação gradual do discurso jurídico-político no plano da segurança p blica, figura do traficante ser agregado o papel (político) do inimigo interno.

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penas exacerbadas tanto na quantidade quanto na forma de execução.

Quanto ao usuário, a referida lei, em seu segundo capítulo, trazia normas que regulamentavam o tratamento e recuperação dos dependentes, sendo de aplicação universal a todos os indivíduos que abusavam de drogas ilícitas, visto que deveriam ser observadas independentemente de prática de crime.

O Art. 10 da Lei 6.368/76, por exemplo, determinava o regime de internação hospitalar de forma obrigat ria “quando o quadro clínico do dependente ou a natureza de suas manifestações psicopatol gicas assim o exigirem”, exceto quando não houvesse necessidade, caso em que se aplicava o § 1º do mesmo artigo. Nas lições de Salo de Carvalho (2 16, p. 67), esta medida solidifica o discurso m dico-jurídico sanitarista “na medida que (a) associa dependência-delito, (b) abandona a ideia de voluntariedade no tratamento, e, subliminarmente, (c) amplia as possibilidades de identificação do usu rio como dependente”.

Ademais, a ideia sanitarista, quando amplia os meios de intervenção e aproxima o sistema de saúde das práticas penalizantes de repressão, se abre à outra vinculação temerária: o usuário esporádico como potencial toxicômano. O que faz regular a imposição de tratamentos a pessoas não dependentes, se apresentando como medida de segurança atípica, pois ignora a instauração do devido processo penal.

Por fim, em 2006, é editada a Lei 11.343/2006, vigente atualmente, que se mostra controversa nas medidas que prevê para tratar o problema do consumo de drogas. Como já citado introdutoriamente, o diploma prevê medidas educativas e preventivas com o fim de combater ou reduzir o uso de substâncias psicoativas, e, na sequência, define crimes e penas aos usuários. Verifica-se na pesquisa bibliográfica entendimentos diversos acerca da lei, dos quais se destacam os que seguem.

Maurides de Melo Ribeiro (2013) entende que a lei apresentou diversos avanços a respeito do usuário, embora tenha mantido a criminalização, ainda que não penalizada com privação da liberdade, de pessoas que portam drogas com a finalidade de consumo próprio, pois reconhece estratégias caracterizantes da redução de danos. Aponta ainda que a lei inovou em vários aspectos de balizamentos éticos:

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[...] que representam importante avanço principiológico e permeiam toda a formulação da nova legislação, afastando-a da famigerada doutrina de segurança nacional, que era substrato ético-político adotado pelas legislações anteriores, opção que aproxima a nova lei de drogas do sistema de proteção dos direitos humanos, fundamentos que lastreiam as estratégias de redução de danos (RIBEIRO, 2013, p. 37).

O autor ainda menciona fragmentos dos artigos da Lei 11.343/06 que fundamentam sua tese, como o respeito aos direitos fundamentais como autonomia e liberdade, o respeito à diversidade e especificidade de cada região, e a necessidade do fortalecimento da autonomia e responsabilidade individual em relação ao consumo indevido de drogas. Por fim, argumenta que tais balizamentos não podem ser vistos como enunciados abstratos meramente programáticos, e devem ser observados por juristas penais como parâmetro para a solução dos conflitos supervenientes à vigência da lei(RIBEIRO, 2013).

Por outro lado, Salo de Carvalho (2016), entende que os princípios e diretrizes previstos na Lei 11.343/06 que caracterizam medidas de redução de danos são turvados por sua lógica de proibição, representando meras cartas de intenções ao sistema de saúde pública:

É notório que em matéria de direitos sociais, sobretudo aqueles relativos às áreas da educação e da saúde, se a legislação não determinar claramente as ações e os órgãos competentes, prevendo mecanismos de responsabilização administrativa, a tendência é de as pautas programáticas restarem irrealizadas (CARVALHO, 2016, p. 225, grifo nosso).

O doutrinador ainda reforça que a referida Lei frustrou as expectativas dos grupos antiproibicionistas, pois embora transmita a ideia de possuir intervenções redutoras, predita posturas desvirtuantes que são consumidas pela lógica da punibilidade:

Fato que propicia identificar na base argumentativa da nova lei a inversão ideológica do discurso de contração de riscos, ou seja, é enunciada formalmente política de redução de danos, mas sua instrumentalização reforça a lógica repressiva (CARVALHO, 2016, p. 190, grifo nosso).

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usuários tende a fracassar quando é administrada dentro de um modelo proibicionista, tal qual ocorre no país, observados os efeitos que a intervenção penal produz ao afastar naturalmente os sujeitos envolvidos com drogas de quaisquer programas ou medidas de atenção à saúde, pois o estigmatiza, marginalizando-o (CARVALHO, 2016). Do mesmo modo, entende Lúcia Karam (2006, p. 7):

[...] a nova Lei 11.343/06 não traz nenhum avanço nesse campo do consumo. Uma lei que repete violações a princípios e normas constantes das declarações universais de direitos e das Constituições democráticas jamais poderá ser considerada um avanço.

Encerra-se, portanto, este capítulo, levando-se em consideração o entendimento destes dois últimos autores para prosseguir na ideia da redução de danos e entender a sua necessidade, reiterando a noção de que o uso de certas substâncias visando alterar a consciência é inevitável, bem como determinado nível de consumo de drogas é natural na sociedade, motivo pelo qual usualmente é mais frutífero conter os danos do que tentar estabelecer uma guerra contra as drogas.

3. A REDUÇÃO DE DANOS

A redução de danos, também referida como RD, segundo a Associação Internacional de Redução de Danos (2016), é um conjunto de políticas e práticas com o objetivo de reduzir os danos relacionados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas. A entidade toma como princípios o compromisso com a saúde pública e com os direitos humanos.

Os projetos de Redução de Danos têm como um de seus fundamentos deixar o usuário livre para decidir sobre o uso e abuso das substâncias, importando-se, portanto, com a sua autonomia privada. Defende-se que o usuário é uma pessoa de direitos e deve participar do diálogo, se submetendo a qualquer medida de redução de danos somente a partir da sua vontade, sem coerção do Estado ou de qualquer outra entidade. Neste sentido, ensina Carvalho (2016, p. 375), que os projetos possuem como requisito de intervenção:

O reconhecimento do envolvido com drogas, usuário ou dependente, como sujeito com capacidade de diálogo, ou seja,

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dotado dos atributos da fala e da escuta. Abrem, pois, espaço para novas formas de ação cujo objetivo principal o de minimizar os efeitos danosos gerados pelo (ab)uso das drogas, abdicando de qualquer intenção moralizadora decorrente do ideal de abstinência (grifo nosso).

A ideia é reforçada por Weigert (2008, p. 94), que afirma que as políticas de redução de danos:

Partem do princípio de que existem e sempre existirão usuários, dependentes ou não, que, seja pelo motivo que for, não abandonarão as drogas. Optam pelo consumo e assim permanecerão, razão pela qual defini-los como delinquentes ou doentes no lugar de meros consumidores significa frear o movimento no sentido de respeitar seus direitos como cidadãos (grifo nosso).

Fica claro, portanto, que a principal preocupação da RD é a autonomia da vontade: o sujeito, portanto tem o direito de escolha, devendo procurar as medidas de redução quando quiser e achar necessário, sem imperatividade de quem quer que seja.

O direito penal reproduz uma falsa imagem sobre os usuários ao criminaliza-los, pois desta visão surge um pensamento social equivocado, que associa o consumo à dependência, acreditando que esta é irreversível. E ainda: que o usuário necessariamente está incluído no mundo do tráfico e do crime e, por consequência, isolado da vida produtiva; que não possui a capacidade de trabalhar, se sustentar, ter uma vida digna. No entanto, tal visão vem sendo gradativamente descontruída por meio de estudos das mais diversas correntes da criminologia (CARVALHO, 2016).

Por isso, outro princípio importante para a redução de danos é diferenciar o dependente do usuário, pois enquanto este usa drogas ou altera o estado de consciência por mero prazer ou deleite, ou em momentos de angústia, aquele ab(usa) de forma crônica, caracterizando um quadro clínico distinto. A principal diferença é caracterizada pela compulsividade da ingestão das substâncias (WEIGERT, 2008). Da mesma forma entende Birman (2000, p. 223):

Os usuários de drogas podem se valer da droga para seu deleite e em momentos de angústia, mas a droga nunca se transforma na razão maior de suas existências. Os toxicômanos, porém, são compelidos à ingestão por forças físicas e psíquicas

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poderosas. As drogas passam a representar, para esse grupo, o valor soberano de sua existência.

Além disso é preciso observar que a maioria dos usuários não apresenta dependência, não vive em subculturas marginalizadas, nem no submundo do crime, tampouco está doente (BARATTA, 1999). Com essa premissa, é possível entender que o tratamento dado ao dependente não deve ser o mesmo dado ao usuário comum.

Neste sentido, entende-se perfeitamente possível criar programas de tratamento de toxicomania fora do viés punitivo. Observa-se por exemplo, as proposições de assistência aos dependentes químicos elaboradas pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos, que objetivam reduzir as arbitrariedades e lesões aos direitos dos indivíduos condenados e submetidos à medida de segurança, representando o surgimento de uma inovação ao buscar medidas que respeitam a diversidade e autonomia individual, se aliando com as normas de ética da medicina.

Dentre estas preposições, destacam-se: a) a elaboração de leis que estabeleçam um estrito procedimento de internação, diagnóstico e tratamento de enfermos mentais, garantindo o controle da autoridade judicial; b) considerar violador dos Direitos Humanos a administração indiscriminada de tratamentos que sejam dolosos, que afetam a integridade psíquica e física do paciente, sem instâncias judiciais permanentes de controle; c) elaborar uma legislação psiquiátrica sólida, sobre a base de um controle judicial estrito, com o menor número possível de internação e tratamentos dolorosos; e d) estabelecer, em qualquer caso, o mais amplo dever de explicação do médico ao paciente ou sua família, e o consentimento prévio para sua internação e tratamento.

Diversas são as práticas associadas aos fundamentos e políticas de redução de danos. As medidas compreendem desde projetos educativos e informativos sobre os riscos aos consumidores, acolhimentos de dependentes em locais de tratamento até a distribuição de materiais esterilizados para consumo. Uma intervenção mais radical envolve a própria aplicação de drogas em dependentes como forma de ressocialização e aumento na qualidade de vida. A nível mundial, é possível observar diversas medidas de redução de danos adotadas por países que tiveram resultados interessantes nos seus objetivos. Destacamos a seguir alguns exemplos,

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conforme dados extraídos da obra de Salo de Carvalho (2016, p. 233-241).

Na década de 1980, com o surgimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), os países começaram a se preocupar com os riscos de exposição ao vírus HIV que os dependentes de heroína sofreriam durante o consumo, em razão do compartilhamento de seringas e demais objetos de uso. Contudo, as políticas se tornaram mais concretas nas I e III Conferências Internacionais de Redução de Danos, que ocorreram em 1990 e 1992 respectivamente.

Destaca-se, nessas políticas, duas principais medidas iniciais de redução de danos: a) distribuição de material higiênico para o consumo de drogas; e b) criação de programas de aplicação de uma droga análoga à heroína, a metadona. Essas ações visavam desintoxicar gradualmente os dependentes, retirando-os da marginalização social.

O programa funcionava basicamente desta forma: os dependentes devidamente cadastrados recebiam, junto a uma assistência médico-social, doses diárias gratuitas de metadona, para consumo em locais preestabelecidos. Ao ministrar substâncias com quantidade e qualidade controlada, o sistema estaria reduzindo a possibilidade de contaminação por doenças infectocontagiosas, tais como AIDS e hepatite, e ao mesmo tempo reduzindo danos diretamente ligados à substância, como a overdose.

O objetivo principal era retirar esses indivíduos de locais insalubres e imediações do tráfico, promovendo o contato destes com o sistema de saúde e restringindo dois processos de intervenção penal: a criminalização secundária, qual seja a prática de pequenos delitos para a aquisição da droga; e a vitimização, ocasionada pela permanência nos ambientes de risco.

Entretanto, apesar dos resultados relativamente satisfatórios dessa medida, a percepção do fato de usar drogas como uma ação em busca de prazer, ainda que momentâneo, possibilitou a observância de uma limitação da abrangência da referida política. Verificou-se, principalmente em razão do alto índice de abandono do tratamento, a ineficácia da metadona em possibilitar uma experiência prazerosa ao indivíduo, quando comparada à heroína.

Sob esta perspectiva, a Suíça inovou ao lançar um programa de saúde no qual se subministraria heroína para dependentes graves da substância, em moldes semelhantes ao da aplicação de metadona, acrescido de requisitos mais rigorosos.

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Historicamente, a Suíça possuía as maiores taxas da Europa Ocidental de dependência em drogas pesadas, em especial a heroína. Em razão disso, adotou políticas em diversas circunstâncias de intervenção, dentre elas a redução de danos.

Inicialmente, adotou a medida de distribuição de agulhas estéreis que, segundo pesquisas, permitiu a redução drástica de novas infecções do vírus HIV entre os dependentes, entretanto, houve um efeito imprevisto, qual seja a queda na qualidade de vida da população das cidades onde ocorria a distribuição, em razão da alta concentração de toxicômanos e, consequentemente, aumento da criminalidade.

Por essas razões o país se viu ainda mais tendente a realizar a implantação da política de prescrição de heroína. A política ensejou diversas pesquisas investigativas que buscavam analisar a eficácia da medida, obtendo-se resultados satisfatórios em relação à diminuição da criminalidade e aumento na qualidade de vida, o que fez com que países da Europa como Alemanha, Espanha e Reino Unido, e da América do Norte como o Canadá aderissem à política, também obtendo resultados satisfatórios.

Por outro lado, estudos no Brasil caminham em sentido contrário, utilizando-se a abstinência como medida redutiva de danos. Uma t cnica chamada “Manejo de Contingência” começou a ser realizada no Estado de São Paulo, a partir de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (2016), a qual consiste em oferecer uma retribuição sempre que um indivíduo apresenta um comportamento considerado desejável, no caso, a abstinência e adesão ao tratamento.

Esta pesquisa, liderada por André Constantino Miguel (2016) funcionou da seguinte maneira: foram convidados 65 dependentes de crack a participar de um experimento em ambulatório médico psiquiátrico de São Paulo, durante 12 semanas, no qual 32 selecionados de modo aleatório receberam tratamento tradicional do ambulatório, com direito a consultas médicas individuais de variadas especialidades, e à participação em atividades em grupo com o fim de prevenir recaídas. Esse era o grupo de controle e as pessoas que o integravam eram encorajadas a coletar amostras de urina três vezes por semana para auferir a presença de cocaína e maconha. Já as outras 33 integravam o grupo experimental, no qual além de receberem o tratamento padrão e serem incentivadas a coletar amostras de urina para exames toxicológicos, elas recebiam uma recompensa na forma de

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compras toda vez que o exame apresentasse resultado negativo para presença de tóxicos. Interessante observar que no caso de recaída - o que já era esperado - não havia qualquer postura repressiva ou obrigação de devolver o que já havia recebido, apenas deixava-se de ganhar novos vale-compras.

Ao fim da pesquisa, das 33 pessoas do grupo experimental, 20% ficaram as 12 semanas sem usar crack e 27% conseguiram ficar dois meses abstêmias, ao passo que ninguém do grupo controle se manteve abstinente durante todo o período, sendo 8 semanas o maior tempo que apenas um integrante deste grupo conseguiu se manter sem recaídas. As pessoas que recebiam retribuição também consumiram menos álcool e maconha de modo geral. Observou-se, ainda, que os integrantes do grupo experimental não utilizaram a retribuição arrecadada para adquirir mais drogas, pelo contrário, destinavam à compra de alimentos e pequenos presentes para a família.

Percebe-se, portanto, que há várias formas de se alcançar o objetivo do “não uso” e “retardamento do uso” previsto na Lei de Drogas, sendo pela abstinência ou pela aplicação regulada da substância, as quais infelizmente são ofuscadas pelo viés repressivo.

Ademais, analisando a Lei 11.343/06, e observando a premissa de que a mesma prevê medidas redutivas e preventivas, buscou-se pesquisar quais medidas o Estado tem tomado junto aos usuários de drogas para reduzir danos decorrentes do consumo. Verificou-se que, no âmbito federal, existe a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD), vinculada ao Ministério da Justiça, responsável por executar as políticas direcionadas ao tratamento de uso e abuso de substâncias psicoativas.

Observou-se haver dois cursos direcionados a profissionais da área da saúde e demais pessoas que demonstrem interesse em atuar na prevenção do (ab)uso de drogas. Um deles se chama “Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas”, criado pela SENAD em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina. O curso apresenta vários módulos e se destina à contribuição da “ampliação, diversificação e articulação dos conhecimentos alinhados ao debate nacional sobre as políticas e ações para a promoção da saúde, prevenção, redução de danos e cuidado aos problemas relacionados ao uso de drogas” (ABERTA, 2017).

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O outro se chama “Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento – SUPERA”, e executado pela SENAD em parceria com a Universidade Federal de São Paulo, na modalidade de Educação à Distância e gratuito. Segundo o portal do curso, ele se destina a:

[...] capacitar profissionais das áreas de saúde e assistência social para a correta identificação e abordagem dos usuários de álcool e/ou outras drogas, familiarizando-os com diferentes modelos de prevenção e instrumentalizando-os para trabalharem formas adequadas de intervenção e encaminhamento, respondendo às demandas existentes em seu cotidiano de trabalho, sempre em consonância com as orientações e diretrizes da Política Nacional sobre Drogas (PNAD) e da Política Nacional sobre o Álcool (PNA) (SUPERA, 2017).

Verifica-se, até este ponto, alguns trabalhos realizados visando os cuidados com os dependentes, ou seja, aqueles que apresentam quadro clínico mais severo em relação ao (ab)uso de drogas, para os quais as drogas se tornaram o maior, senão o único, propósito de sua vida. Constata-se também que, embora o Governo Federal possua mecanismos que visam à Redução de Danos causados pelo uso de drogas, a noção utilizada ainda é a de que o melhor caminho é o não uso, a abstinência, ignorando, portanto, que o dependente pode estar em dada situação que não possa deixar de consumir determinadas substâncias, que se manter abstêmio possa causar-lhe mais danos físicos e psicológicos que o próprio uso.

Por outro lado, observa-se na sociedade civil pessoas engajadas na política de Redução de Danos, que atuam principalmente junto a usuários não dependentes, e possuem como princípios o respeito à autonomia privada e aos Direitos Humanos, a importância do autocuidado, e o antiproibicionismo. Neste quadro, buscou-se verificar os trabalhos realizados por alguns coletivos de Redução de Danos que atuam em diferentes regiões do país, são estes o É de Lei, ResPire, Lótus, Balanceará.

Sobre o “É de Lei” buscou-se informações institucionais através de seu portal na internet, no qual consta que suas ações “são voltadas para o desenvolvimento da cidadania e para a defesa dos Direitos Humanos de pessoas que usam drogas, sobretudo as que vivem em vulnerabilidade”. A associação organizada em cinco núcleos, cada um voltado a uma área de atuação, sendo eles: Campo, que realiza

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acolhimento e intervenções em campo e desenvolve projetos para promoção de redução de danos, inclusive testagem de substâncias; Ensino e Pesquisa, que coordena cursos, formação e supervisão de profissionais, e organiza eventos técnicos e científicos; Cultura que organiza oficina e atividades culturais para a população atendida; Comunicação, que atua na promoção e visibilidade da causa, além de publicar materiais e gráficos da associação; e Gestão, que desenvolve estratégias para a sustentabilidade da entidade, responsável pela interlocução com financiadores e oferece suporte aos demais núcleos.

Com os outros coletivos, realizou-se uma entrevista por meio de um questionário, precedido do devido termo de consentimento, da qual pôde se extrair informações importantes para a construção da ideia de Redução de Danos em usuários que não são dependentes. Estes grupos basicamente atuam em eventos objetivando atender o público, por meio de intervenções que vão desde testar drogas levadas por pessoas que desejam saber o que estão consumindo – a substância ativa, sua qualidade, quantidade, procedência, modo de consumo –, até acompanhamento psicológico e terapêutico em pessoas que casualmente estejam passando por experiências negativas decorrentes do seu uso.

Vale ressaltar que suas ações são principalmente voltadas a reduzir danos relacionados ao uso de drogas no contexto do entretenimento, festas e festivais de música, entretanto, possuem ramificações que atuam em eventos culturais, acadêmicos, debates e seminários, buscando sempre disseminar informações sobre a importância de reduzir danos, mesmo quando se prefere não deixar de usar drogas.

Primeiramente, observou-se que suas equipes são compostas majoritariamente por pessoas voluntárias, de variadas formações profissionais, tais como psicólogos, biólogos, psicofármacos, cientistas sociais, além de outras profissões ligadas à área de comunicação e à área da saúde. Ao atuarem em eventos de entretenimento, recebem remuneração módica, ou as vezes apenas ajuda de custo com deslocamento e alimentação. Nota-se, portanto, que o que move estas pessoas é muito mais a intenção de cuidar e disseminar informações, do que a retribuição financeira.

Ato contínuo, verificou-se que os coletivos oferecem cursos, debates e grupos de estudo, sempre buscando capacitar seus agentes e novos indivíduos

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interessados em participar da causa, para uma melhor intervenção junto ao público alvo. Ademais, notou-se que também organizam capacitações externas, promovendo workshops, encontros, debates e rodas de conversas em universidades, com o fim de expandir a informação.

Sobre controle estatístico, apenas dois dos três grupos entrevistados mantêm registros das intervenções realizadas. No levantamento sobre testes, estes informaram que na maioria das vezes as drogas apresentam substâncias diferentes da que foi indicada ao usuário, cabendo a ele a decisão de prosseguir consumindo ou não. Esta é uma maneira interessante de reduzir danos, visto que, ao saber que a substância que possuem em mãos não vai oferecer o efeito desejado, acompanhados das orientações dos agentes redutores, os usuários podem descartar a droga e evitar complicações à sua saúde física e mental. Neste sentido, remete-se às lições de Carvalho (2016), o qual aduz que a ausência de controle possibilita que o mercado ilegal produza drogas com menor custo econômico e maior concentração do princípio ativo, ou ainda, com princípio ativo análogo que oferece efeitos colaterais diversos do pretendido, e tal variação da qualidade e do nível de concentração é responsável pelas elevadas dosagens que ocasionam problemas de saúde e até a morte.

Acerca do custeio e sustento, os grupos informam que recebem ajuda de custo da produção dos eventos nos quais atuam, e quando estão atuando em locais diversos dos eventos de entretenimento, utilizam de recursos do próprio caixa, que é composto basicamente por doações dos membros e simpatizantes da causa.

Por fim, quanto à intervenção do poder público, notou-se serem raras as intervenções positivas e parceiras, sendo a atuação dos coletivos dada de maneira predominantemente autônoma e independente. Já em relação a intervenções negativas, os coletivos afirmam não haver interferência negativa diretamente em suas atuações, entretanto, queixam-se das ações nos locais onde atuam, tanto nos eventos quanto nas ruas, e de como o poder público e a sociedade lida com a questão das drogas de modo geral, com controle exacerbado e proibição.

Além da entrevista, realizou-se uma visita a um festival de música em Santa Catarina, que ocorreu entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, no qual havia a intervenção dos Coletivos Lótus e ResPire. Nessa visita foi possível observar a montagem de um espaço que oferecia ao público colchões para descanso, água

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gratuita, massagens, aula de yoga, atendimento terapêutico com agentes redutores de danos, testagem de substâncias, cartilhas informativas, preservativos e um curioso kit higiênico para substâncias inaláveis, que consistia em um papel rígido laminado e um canudo de plástico e possuía a finalidade de evitar a transmissão de doenças como hepatite e AIDS. Observou-se, ainda, que os agentes redutores faziam intermediação entre o público do evento e a equipe médica presente.

Já em âmbito internacional, com o fim meramente comparativo e demonstrativo de posturas tomadas em outros países para redução de danos em usuários que não apresentam quadro de dependência, trazemos aqui o exemplo da Holanda, onde há uma lei rígida sobre consumo e venda de drogas, a Ópium Act, que divide as drogas em soft drugs, de consumo permitido e venda controlada, e

hard drugs, de venda proibida.

O país ao constatar que traficantes estavam vendendo como cocaína uma substância conhecida como heroína branca, e que esta ocasionou a morte de três turistas e a internação de vários outros, adotou postura redutiva junto a população: disponibilizou testes de substâncias para os turistas a preço módico nos conhecidos

smart shops, que vendem drogas leves, além de espalhar cartazes pelas ruas

advertindo sobre a venda da cocaína falsa e indicando telefone do serviço público de saúde caso alguém constatasse que tenha consumido a droga e estivesse passando mal. Os cartazes ainda informavam que os turistas não seriam presos por consumir drogas e que não deveriam hesitar em procurar ajuda médica (HOLANDA..., 2014). Importante mencionar que a postura foi tomada mesmo com a cocaína constando na lista de drogas pesadas.

Outro exemplo, ainda na Holanda, é a existência de um programa transmitido pela internet, no qual jovens, assistidos por equipe médica, consomem variados tipos de drogas para mostrar quais são os seus efeitos. Os vídeos são produzidos por um canal da rede pública holandesa de televisão, apesar de não serem usados recursos públicos para produzir este programa em específico, que é chamado de

Drugslab. A intenção dos produtores é demonstrar os efeitos negativos e positivos

do consumo de determinadas substâncias, além de alertar sobre os danos decorrentes de seu consumo excessivo, e mescla informações técnico científicas a uma linguagem lúdica para atingir este fim.

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legalização ou liberação do uso de drogas para que sejam tomadas medidas que reduzam danos. Contudo, é essencial a mudança cultural acerca da visão que se tem sobre o usuário e o dependente de drogas, para que se tomem medidas pragmáticas, que busquem resolver o problema de maneira que se obtenha o resultado mais eficiente possível, independente do que a Lei permite ou proíbe.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, depreende-se que primeiramente é necessário entender que a busca por alterar a consciência é um comportamento intrínseco à condição humana, e que a maneira mais comum de alcançar esse estado é por meio do uso de substâncias psicoativas, sendo estas lícitas como álcool, cafeína e medicamentos, ou ilícitas, como maconha, ópio e cocaína. Por conseguinte, é imprescindível considerar que para tratar a questão do consumo de drogas, deve-se olhar o usuário e o dependente como sujeitos de direitos e com capacidade de manifestar a sua vontade, e ainda, respeitar a autonomia privada destes. Desse modo, é possível manter diálogo e buscar meios não punitivos que se mostrem eficazes ao tratamento. Ademais, é importante visualizar que nem todo usuário de drogas é dependente e que, às vezes, o uso se faz por mero deleite ou para recuperar-se de uma angústia, e o consumo não afeta sua vida pessoal e profissional, tampouco impede a sua capacidade de produção.

Além disso, nota-se que as normas proibitivas e punitivas não produzem efeitos positivos, fracassando em suas pretensões, levando ao insucesso a chamada “guerra s drogas”. O mesmo pode se afirmar sobre as normas que preveem medidas preventivas e redutivas, mas que não apresentam instrumentos que permitam efetivar tal prevenção e redução, se mostrando como carta declaratória, com efeitos meramente programáticos, que permanecem apenas no campo das ideias.

Por fim, sob o prisma mencionado, verifica-se que as ações e estudos direcionados à Redução de Danos junto aos usuários e dependentes de drogas, que se preocupam principalmente com a sua saúde, se revelam eficientes ao cumprir os objetivos aos quais se propõem. Entretanto, é essencial compreender que as posturas devem se manter constantes, visando à disseminação de informações e à

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mudança cultural da sociedade, para que, assim, o Direito também mude.

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