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Projeto de Pesquisa:

ESTRUTURA INFORMACIONAL DA FRASE

E SEGMENTAÇÃO DO DISCURSO EM DRTNOVAMENTE

Modalidade: Produtividade em Pesquisa, 2011-2013 Proponente: Sergio Menuzzi, UFRGS/CNPq

Setembro de 2010

0. Objetivos e resultados do projeto anterior

Os objetivos do projeto anterior (Menuzzi 2007) eram os seguintes:

a) Objetivo geral: explorar, dentro do framework da DRT, a idéia de que as diferentes articulações informacionais da frase podem contribuir para a identificação dos segmentos temáticos do discurso, mas essa contribuição também depende da própria organização temática na qual a articulação informacional opera.

b) Principais objetivos específicos: (i) verificar se os diferentes componentes desenvolvidos por análises que tomam como base a DRT, quando articulados entre si, são capazes de dar conta de fenômenos relacionados à interação entre articulação informacional e estrutura do discurso; (ii) reformular a teoria, se necessário, e verificar novas conseqüências empíricas – por exemplo, quanto ao papel da articulação informacional na determinação dos domínios discursivos de anáfora.

Concretamente, as atividades relacionadas ao projeto anterior resultaram na seguinte produção: (a) quatro orientações concluídas, três diretamente relacionadas ao projeto – uma de iniciação científica (Fialho 2009), uma de mestrado (Rodrigues 2009) e uma de doutorado (Olioni 2009) – e uma indiretamente relacionada ao projeto (de pós-doutorado: Othero 2010); (b) um mini-curso (Menuzzi 2008) e cinco apresentações de trabalhos diretamente ligados ao projeto (Fialho & Menuzzi 2008, Rodrigues e Menuzzi 2008, Menuzzi & Rodrigues 2008, Menuzzi & Rodrigues 2009a, 2009b); e duas apresentações de trabalhos indiretamente relacionadas ao projeto (Othero & Menuzzi 2009, Menuzzi 2010); (c) três artigos concluídos diretamente relacionados ao projeto, dois a aparecer (Menuzzi & Rodrigues 2010, Rodrigues & Menuzzi 2010) e um submetido (Rodrigues & Menuzzi 2009), e um artigo publicado indiretamente relacionado ao projeto (Othero & Menuzzi 2009). Para uma síntese do conteúdo e das conclusões destes trabalhos, ver a discussão da seção 3.

2. Introdução

O projeto anterior partia de um conjunto de resultados obtidos no período de 2005-2007, resultados que levaram a duas conclusões gerais (ver Menuzzi 2007, seção 1, e trabalhos ali citados): (a) as estruturas informacionalmente marcadas (deslocamento-à-esquerda, topicalização contrastiva, ordem VS) são “multifuncionais” no que diz respeito à sua contribuição específica para a organização temática do discurso; (b) esta contribuição depende da interação entre a “articulação informacional” que expressam e a própria

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organização do discurso em que ocorrem. Para ilustrar estas conclusões, retomo em (1) e (2) abaixo algumas das estruturas discursivas que foram intensamente estudadas por mim e por Gabriel Roisenberg Rodrigues, um de meus orientandos no período de 2008-2010: 1

(1) [S1] Finalmente tá acabando o seminário sobre FOCO! [S2] Só que agora cada um dos alunos vai ter que apresentar um dos “CLÁSSICOS”… [S3] O livro do Jackendoff ficou com a MARIA. [S4] O da Selkirk ficou COMIGO. [S5] O do Lambrecht quem vai apresentar é o PAULO/??o PROFESSOR.

(2) [S1] Finalmente tá acabando o seminário sobre FOCO! [S2] Só que agora cada um dos alunos vai ter que apresentar um dos “CLÁSSICOS”… [S3] A Maria ficou com o livro do JACKENDOFF. [S4] Eu, com o da SELKIRK. [S5] O do Lambrecht quem vai apresentar é o PROFESSOR.

As sentenças que importam aqui são S5 em (1) e S5 em (2). Como se vê, ambas portam a mesma articulação informacional – topicalização contrastiva do objeto direto com foco no sujeito. Entretanto, conforme a organização (no caso acima, informacional) do contexto precedente, esta articulação informacional refletirá estruturas temáticas diferentes. Eu já observara este problema no período de 2005-2007 (cf. Menuzzi 2005, 2007), quando apontei para o fato de que se constituía um problema para a análise QUD proposta por Büring (2003). Vou descrevê-lo, aqui, utilizando a análise baseada em SDRT que eu e Gabriel Rodrigues discutimos (cf. Menuzzi & Roisenberg 2009a, 2010).

Em (1), como a articulação informacional de S5 é basicamente a mesma das sentenças precedentes, S3 e S4. A interpretação é de que S5 deve continuar a seqüência temática de S3 e S4, o que se revela pela incoerência do discurso no caso o elemento focalizado ser o professor, e não o Paulo. Assim, S5, em (1), forma com S3 e S4 um segmento de texto unido pela relação retórica de Paralelo, relação que poderia ser manifesta pela conjunção E.

Já em (2), a articulação informacional de S5 é o inverso da de S3 e S4 (estas, agora, possuem a articulação de tópico contrastivo do sujeito e de foco no complemento). E o resultado é que, em (2), S5 não forma um segmento por Paralelo com S3 e S4; antes, forma um segmento por Contraste com S2. De fato, a relação entre S5 e S2 poderia ser expressa por pela conjunção contrastiva Mas, mas não pelo conetivo E. A indicação de que a relação se dá entre S5 e S2 reside no fato de que, se mas está presente, o segmento S3-S4 poderia ser omitido em (2) sem afetar a coerência do texto. (Compare-se esta omissão com a omissão análoga em (1), no caso da presença do conetivo E, que resulta num enunciado inadequado.) Em resumo: vê-se, pela comparação de (1) com (2), que uma mesma articulação informacional pode, interagindo com seu contexto de ocorrência, indicar não apenas relações retóricas diferentes, mas estruturas hierárquicas diferentes entre os segmentos de texto. Do mesmo modo, é possível indicar casos em que articulações informacionais diferentes, interagindo com contextos apropriados, podem levar não apenas às mesmas relações retóricas quanto às mesmas estruturas hierárquicas entre segmentos. Este último problema, em particular, foi o que me levou a suspeitar que uma abordagem QUD como a de Büring (2003) – que prevê que as articulações informacionais de foco e de tópico contrastivo atuam em estruturas textuais diferentes – não estava no caminho certo (ver Menuzzi 2005, 2007; e Menuzzi & Rodrigues 2010). Assim, o projeto de 2007 propunha estudar fenômenos como o ilustrado em (1) e (2) na perspectiva da DRT.

Por que DRT? Como se sabe, a DRT é um dos frameworks que surgiram, a partir do começo da década de 80, na tentativa de incorporar aspectos dinâmicos do discurso à

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Como usual na literatura sobre articulação informacional, uso em (1) e (2) itálicos para sinalizar acento e entoação de tópicos contrastivos, e SMALL CAPS (isto é, VERSALHETE) para acento e entoação de FOCO.Sobre estes acentos e entoações relacionadas, ver Jackendoff (1972), Büring (2007); para o português, Ilari (1992).

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abordagem referencial, baseada nas condições de verdade, do significado (ver Kamp & Reyle 1993, Kamp et al. 2005). Isto é, a DRT procura estender a análise referencial, “truth-conditional”, do significado para dependências que extrapolam o domínio da sentença e que possuem um “caráter incremental” sobre as representações do discurso. E os resultados deste programa vieram, eventualmente, a fazer da DRT não apenas uma das abordagens mais difundidas de semântica formal, mas também um framework especialmente desenvolvido para lidar com vários aspectos da interação entre semântica e pragmática do discurso.

Isso é particularmente verdade em relação aos elementos que parecem compor problemas como o ilustrado em (1) e (2). De um lado, a DRT possui vários trabalhos dedicados a diferentes aspectos da articulação informacional das frases (articulação foco-pressuposição, cf. van der Sandt 1992, Geurts e van der Sandt 1997, Geurts e van der Sandt 2004; articulação tópico-foco, cf. Bende-Farkas et al. 2003, Kamp 2004). Por outro, foi também estendida em direção a uma teoria mais articulada da estrutura hierárquica do discurso, a SDRT (Segmented Discourse Representation Theory), que busca identificar segmentos do discurso estabelecidos por meio de “relações retóricas” (elaboração, explicação, exemplificação, contraste, etc.) e “de coerência” (temporais, causais, espaciais, etc.) (cf. Asher 1993, Asher e Lascarides 2003).

Assim, a DRT parecia ser o framework adequado para investigar os problemas identificados na pesquisa do período de 2005-2007, razão pela qual serviu de base para o projeto de 2007. Como ficará claro pela discussão que segue, continuo acreditando que é uma teoria adequada: revelou-se interessante para a compreensão de vários problemas, bem como para formular de maneira relativamente precisa várias questões, que procurarei indicar.

Antes de iniciar a discussão que encaminhará minhas propostas de pesquisa para o período de 2011-2013, eu gostaria de fazer um breve esclarecimento preliminar. Do conjunto de trabalhos sobre a relação entre articulação informacional e estrutura do discurso que desenvolvi no período de 2011-2013, provavelmente aquele que mais progrediu, em termos de discussão empírica e teórica, foi o trabalho sobre tópicos contrastivos, que aprofunda a discussão sobre (1) e (2) acima (cf. Menuzzi 2005, Menuzzi 2007, Menuzzi & Rodrigues 2008, 2009a, 2009b, 2010). No entanto, este é exatamente o trabalho que pretendo colocar, temporariamente, de lado – razão pela qual não voltarei a discuti-lo no presente projeto. As razões para isso são duas. A primeira é, basicamente, de natureza metodológica: como ficará claro na discussão que segue, as pesquisas que vou propor são todas fortemente orientadas pelo estudo de ocorrências reais em textos escritos. Diferentemente de construções como a ordem VS e as clivadas, ocorrências de tópicos contrastivos são difíceis de identificar somente por inspeção do registro escrito: afinal, dependem, entre outras coisas, da entoação que caracteriza um dos constituintes da frase. Assim, preferi dar prioridade justamente àquelas construções cuja identificação é não problemática – exatamente a ordem VS e as clivadas. A segunda razão também é de ordem prática: o estudo destas duas construções, por si, já define uma agenda suficiente para cobrir o período de 2011-2013.

3. Desenvolvimentos em 2008-2010 – problemas e hipóteses para 2011-2013

O trabalho de pesquisa no período de 2008-2010 teve início em três frentes principais, duas das quais dando continuação de pesquisas anteriores. De um lado, persisti no estudo sobre foco e tópicos contrastivos, estudo que guiara o projeto de 2007 e no qual passei a ter a colaboração de Gabriel Rodrigues a partir de 2008. Neste mesmo momento, Gabriel ingressou no mestrado da UFRGS e iniciou, com minha orientação e colaboração, um estudo sobre a articulação informacional das clivadas, seus efeitos semântico-pragmáticos e sua distribuição discursiva. Também em 2008 teve começo, com minha orientação e colaboração, a pesquisa de iniciação científica de Guilherme Fialho, com o objetivo de levantar a

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distribuição da ordem VS em um corpus de textos escritos e identificar correlações entre posição textual e articulação informacional. Este trabalho também dava continuidade à pesquisa anterior que eu próprio realizei sobre as estruturas VS (Menuzzi 2004).2

Todas estas três frentes tiveram dois objetivos em comum: empiricamente, buscar correlações entre certas articulações informacionais da frase (expressas por “construções marcadas” do português) e “segmentos temáticos do texto”; e, com isso, constituir uma base empírica para explorar análises da estrutura informacional em DRT, especialmente articulando-as com a análise da estrutura temática do texto proposta pela SDRT. A meu ver, todas as três frentes de pesquisa obtiveram resultados empíricos e teóricos extremamente interessantes; mas pretendo manter e aprofundar, no período de 2011-2013, apenas as frentes relativas à ordem VS e às clivadas. No que segue, apresentarei de modo sintético os principais resultados de cada uma delas e as principais questões que colocam na agenda de pesquisa. A discussão presume algum conhecimento de DRT e SDRT, mas não procurarei fazer uma síntese destas teorias aqui. (Para apresentações autorizadas, ver Kamp & Reyle 1983 e Asher & Lascarides 2003, respectivamente; para brevíssimas sínteses introdutórias, ver Menuzzi 2007 e Menuzzi & Rodrigues 2010.)

3.1 A pesquisa sobre a ordem VS

No trabalho com Guilherme Fialho sobre a ordem VS, o objetivo era investigar a hipótese bastante difundida de que é utilizada para “apresentar referentes importantes para o discurso” (cf. Givón 1992, 1993, entre outros; ver Menuzzi 2004 para referências). Esta idéia é particularmente interessante à luz da DRT/SDRT, pois sugere que: (a) a construção ocorrerá com sujeitos que introduzem referentes no “topo” de um segmento discursivo – isto é, na “DRS mãe” do segmento; (b) neste segmento, o referente servirá de antecedente de expressões anafóricas – expressões pressuposicionais como pronomes e descrições definidas; e (c) em função das restrições de acessibilidade impostas pela DRT e pela SDRT3, algumas expressões anafóricas (pronomes e nulos) não ocorrerão em segmentos não dominados pela DRS na qual o referente foi introduzido. Ou seja: a ordem VS pode fornecer dados importantes para a DRT/SDRT; mas não encontramos tentativas de análise da ordem VS na literatura em DRT/SDRT.

Assim, eu e Guilherme Fialho procuramos identificar, em um corpus de textos escritos4, ocorrências da ordem VS em que o sujeito era parte do foco da frase, a fim de verificar as predições indicadas em (a, b, c) acima. Nosso trabalho limitou-se ao estudo das 20

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Há ainda dois outros trabalhos que, embora não diretamente relacionados com os objetivos teóricos do projeto de 2008-2011, contribuíram para fornecer idéias e dados para ele: no período de 2008-2009, Raymundo Olioni encerrou e defendeu, sob minha orientação, sua tese de doutorado (Olioni 2009) – um estudo das relações entre articulação informacional e estrutura textual sob a ótica da Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday; e, no período de 2009-2010, Gabriel Othero estudou, com bolsa de pós-doutorado do CNPq, a interação entre condições informacionais, prosódicas e sintáticas sobre a ordem de constituintes no VP. Deste estudo resultou um artigo com análise preliminar da estrutura do VP sob a ótica da Teoria da Otimidade (Othero e Menuzzi 2009).

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Trata-se da conhecida “restrição da fronteira à direita” (ingl. right frontier constraint), que afeta expressões anafóricas “menos informativas”. A restrição é bastante conhecida nos estudos de resolução anafórica baseados na estrutura segmental do discurso, cf., e.g., Webber (1991), Asher (1993), Asher & Lascarides (2003). Descrições definidas também são sensíveis à estrutura segmental do discurso, embora não exatamente como pronomes e nulos; ver Asher & Lascarides (1998, 2003) para discussão.

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O corpus é constituído de textos jornalísticos longos: matérias da Veja, IstoÉ, editoriais da Folha de São Paulo, etc. Ver Menuzzi (2007) para descrição detalhada. Ocorrências que não tiverem sua fonte indicada são provenientes deste corpus.

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ocorrências iniciais do corpus, já que não apenas sua análise demanda muitos cuidados5, como também o treinamento preparatório de Guilherme (que era bolsista de iniciação) ocupou a primeira metade da bolsa.

É bem sabido que, em textos narrativos prototípicos, segmentos textuais (por exemplo, episódios) tendem a impor limites de acessibilidade a expressões anafóricas. Este fato é freqüentemente analisado como um efeito epifenomênico de vários fatores determinantes do “grau de ativação” de um referente discursivo na memória dos interlocutores (ver Ariel 1990, entre outros). Este tipo de “explicação psicolingüística” acaba por se sobrepôr às predições feitas acima, baseadas na DRT/SDRT. Isso é particularmente problemático como relação à predição (c), pois indica que fatores psicolingüísticos podem perturbar sua verificação. De fato, é isso o que acontece no exemplo a seguir, em que a ordem VS aparece em seu uso típico de “introdução de um referente importante para o segmento narrativo”:

(3) [S1] Há muitos anos, num reino misterioso do Oriente, não se sabe exatamente se na Pérsia ou na Índia, vivia um alfaiate com a mulher e o filho, Aladim. [S2] Ele trabalhava muito, [S3] mas __ era pobre. [S4] O que __ ganhava mal dava para sustentar a família.

[S5] Aladim não quis aprender o ofício {do pai/??seu ofício}. [S6] __ Era alegre e carinhoso, [S7] mas também teimoso e desobediente...

Como se vê, a sentença com ordem VS aparece em S1, o período que começa um segmento discursivo (o parágrafo introdutório da história); e introduz, na posição de sujeito, o “referente mais importante” do segmento, o alfaite. Na verdade, a mesma sentença introduz outros dois referentes – a mulher do alfaite e seu filho, Aladim; entretanto, apenas o “referente importante” é retomado por pronomes e nulos nas sentenças seguintes do segmento (S2 a S4). Um novo segmento discursivo começa a partir de S5, em que o referente Aladim é reintroduzido (notar: não é retomado por expressão pressuposicional); neste novo segmento, o alfaiate é retomado (em S5) não por pronome, mas por descrição definida. Isso corresponde, exatamente, à predição (c) acima mencionada.

Na ótica de explicações psicolingüística, poder-se-ia alegar que a necessidade da descrição definida para retomar o alfaiate em S5 é determinada por um efeito de “intervenção” criado pela (re)introdução de Aladim. Mas é importante observar que há também um efeito da estrutura hierárquica do discurso em (3): se S5 é ligeiramente alterada para tornar-se, retoricamente, subordinada ao primeiro parágrafo do texto, o alfaiate se torna acessível ao pronome, cf. (3’) abaixo:

(3’) [S1] Há muitos anos, num reino misterioso do Oriente, não se sabe exatamente se na Pérsia ou na Índia, vivia um alfaiate com a mulher e o filho, Aladim. [S2] Ele trabalhava muito, [S3] mas __ era pobre. [S4] O que __ ganhava mal dava para sustentar a família. [S5] Por isso, Aladim não quis aprender seu ofício.

[S6] Aladim era alegre e carinhoso, [S7] mas também teimoso e desobediente...

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Por exemplo, a análise deve permitir não apenas a identificação da estrutura informacional das frases sob investigação, mas também da estrutura temática do discurso. O método que eu e Guilherme Fialho utilizamos para isso é baseado na teoria de Jan van Kuppevelt (1995) da estrutura do discurso. Nesta teoria, a estrutura do discurso resulta da tentativa do falante de responder de modo satisfatório a uma "pergunta principal" – explícita ou implícita. Isso pode exigir um “roteiro de subperguntas tópicas” subjacente ao texto; e cada enunciado do discurso é uma resposta a uma pergunta. Analisar tematicamente o texto é reconstituir o “roteiro de perguntas” que o constitui. A idéia fornece um teste para identificar a estrutura informacional do enunciado: afinal, é bem sabido que a segmentação foco/ground de uma sentença corresponde à informação solicitada ou fornecida pela pergunta à que a sentença responde. Para detalhes, ver van Kuppevelt (1995), Büring (2003), Menuzzi (2005), Menuzzi & Rodrigues (2010).

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Eu e Guilherme Fialho iniciamos nosso estudo das 20 ocorrências de ordem VS mencionadas tendo a expectativa de que, majoritariamente, ocorreriam em estruturas textuais como (3): a construção VS apareceria em início de segmento textual, introduzindo um “referente importante” para este segmento – o que se manifestaria pela retomada anafórica do referente dentro do segmento. Isso confirmaria as expectativas de uma análise DRT/SDRT.

De fato, esta expectativa se confirmou parcialmente, já que metade das 20 ocorrências em nosso corpus plausivelmente atestam este padrão – embora não exatamente. É preciso lembrar que nosso corpus é constituído de ocorrências reais em textos jornalísticos relativamente longos, isto é, em discursos planejados, complexos. No universo dos textos que estudamos, não havia casos como (3), em que a relação anafórica é de identidade dos referentes do discurso (isto é, em termos de DRT, o referente do discurso introduzido, por exemplo, pelo pronome em S2 é identificado pelo referente introduzido por um alfaiate em S1). Antes, encontramos vários outros tipos de relações que, argumentavelmente, são redutíveis a algum tipo de “relação anafórica” em DRT – mas isso constitui, em si, um novo tópico de pesquisa, como procurarei apontar mais abaixo.

Com relação à outra metade das ocorrências da ordem VS que estudamos, é constituída de casos diversos, de análise ainda mais difícil. Mas num subconjunto destes (5 ou 6 ocorrências), identificamos um fato interessante, especialmente à luz da predição de que relações com pronomes não cruzam fronteiras de segmentos textuais – predição discutida acima com relação ao exemplo (3). São casos em que a ordem VS ocorre não na “abertura”, mas no fim de um segmento temático. Em função da posição textual da ordem VS, não se esperaria que “introduzisse um referente importante” do segmento. De fato, as ocorrências que encontramos não o fazem. Mas introduzem um referente importante para o segmento subsequente. Eis um exemplo, cuja versão idealizada pode ser expressa por (4’):6

(4) [S1] Nos estúdios da Globo, no Projac, zona oeste do Rio de Janeiro, uma corda separa o quarto de Nazaré do galpão no qual a vilã se arrasta alquebrada pela surra que acaba de levar. [S2] Alguns passos adiante, Maria do Carmo e Dirceu sobem uma escada em direção a lugar algum, [S3] mas que, supostamente, desemboca na suíte armada para ser o ninho amoroso do casal. [S4] E assim, entre cenários finamente decorados, colados a outros bem mundanos, desenvolve-se a novela “Senhora do Destino”, [S5] o maior sucesso da Globo desde “O Rei do Gado”, em 1996. [S6] A cena em que Do Carmo bate em Nazaré por ter roubado seu bebê na maternidade deu à novela o maior Ibope até agora. (...)

(4’) [S1] Nos estúdios da Globo, zona oeste do Rio de Janeiro, uma corda separa o quarto de Nazaré do galpão no qual a vilã se arrasta alquebrada pela surra que acaba de levar. [S2] Alguns passos adiante, Maria do Carmo e Dirceu sobem uma escada em direção a lugar algum, [S3] que, supostamente, desemboca no ninho amoroso do casal. [S4] E assim, entre cenários finamente decorados, colados a outros bem mundanos, desenvolve-se a novela “Senhora do Destino”. [S5] {“Senhora do Destino”/??Ela/??__} é o maior sucesso da Globo desde “O Rei do

Gado”, em 1996. [S6] A cena em que Do Carmo bate em Nazaré por ter roubado seu bebê na maternidade deu à novela o maior Ibope até agora. (...)

O caráter de ocorrências como S4 em (4) é inusitado na perspectiva da literatura sobre a ordem VS: são casos em que a ordem VS tem, sim, “função apresentativa”, mas não ocorre no começo do segmento textual em que o referente é introduzido, e sim no final; ainda assim,

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(4) ilustra um dos problemas que se enfrenta na análise de ocorrências reais: nem sempre a “segmentação real”, “de superfície”, do texto em períodos e orações corresponde, diretamente, a “organização temática subjacente” dele. Em (4), S5 não só não tem a forma de uma oração, como pertence ao período de S4; tematicamente, no entanto, é claramente a abertura do segmento que se desenvolve com S6 e os períodos subseqüentes. (4’) é uma “versão idealizada” porque simplifica o texto, eliminando este problema.

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o referente é “importante”, mas para o segmento textual seguinte – fato inobservado pela literatura. Este caráter atípicos destas ocorrências fez delas nosso foco inicial de análise, o que resultou no trabalho que apresentamos no VIII Celsul (Fialho & Menuzzi 2008). Neste trabalho, discutimos justamente o fato de que não há referência a ocorrências como (4)-(4’) na literatura, e analisamos a estrutura temática destas e das outras cinco ocorrências que, potencialmente, apresentam a mesma situação.

A pesquisa conjunta com Guilherme Fialho em relação a ordem VS foi até este ponto. Não pudemos continuar o estudo – explorando ocorrências como (4)-(4’) na ótica da DRT/SDRT – em função do término do projeto de iniciação científica.7 Assim, um de meus objetivos com o projeto sendo aqui apresentado é, precisamente, continuar esta pesquisa.

Voltemos, em primeiro lugar, a (4)-(4’). Observe-se que S4 em (4) tem, plausivelmente, a função retórica de encerrar o segmento temático correspondente ao primeiro parágrafo do texto.8 Mas o faz introduzindo um referente, a novela “Senhora do Destino”, que é importante para o segmento seguinte (correspondente ao segundo parágrafo). Com efeito, na versão original, S4 termina com um comentário apositivo ao sujeito a novela “Senhora do Destino”; pois este comentário (o maior sucesso da Globo…) é uma proposição que é elaborada pelo segmento seguinte. É isso o que a versão idealizada em (4’) expressa (cf. a nota 6).

No que diz respeito à DRT/SDRT, este padrão é importante porque, como já apontei, parece testar uma predição: expressões anafóricas pouco informativas não deveriam ser capazes de retomar um referente introduzido numa DRS não acessível. S4 mantém uma relação retórica “conclusiva” com o segmento composto por S1-S3; é, portanto, subordinada a este segmento e, por hipótese, inacessível ao segmento seguinte. De fato, o uso de pronome ou nulo para retomar o referente introduzido por a novela “Senhora do Destino” é inadequado não apenas na versão idealizada em (4’) como também na ocorrência original em (4). E isso é verdade de outros 4 ou 5 casos que encontramos em nosso corpus: em todos eles, embora o referente introduzido esteja ao final do que parece ser um segmento textual e seja importante para um segmento imediatamente seguinte, precisa ser “reintroduzido” por uma expressão nominal informativa (descrições, nomes próprios, etc.).

A conclusão a que chego é que o estudo de casos como (4)-(4’), a partir de uma análise da estrutura temática do discurso baseada em SDRT, pode elucidar o “domínio textual” pelo qual a chamada “função apresentativa” da ordem VS pode se estender. Isso, me parece, é uma porta para compreender melhor tanto a estrutura informacional da ordem VS, quanto a interação entre ela e estrutura temática do discurso. Assim, um de meus objetivos com o presente projeto é investigar de modo mais sistemático casos como (4)-(4’), especialmente quanto aos seguintes fatores: (a) o tipo de expressões (descrições, pronomes, etc.) que estabelecem “relações anafóricas” com referentes introduzidos pela ordem VS em posição final de segmento textual; (b) o “tipo semântico” das relações anafóricas (identidade de indivíduos singulares, relações meronímicas entre indivíduos, relações meronímicas entre eventos, etc. – ver discussão de (6) abaixo); (c) correlações entre tipos de relações anafóricas e tipos de “fronteira retórica” entre o segmento que contém a ordem VS e o segmento seguinte; por exemplo: há casos de “anáfora pronominal” cruzando a fronteira de segmento textual? Coincide com algum tipo particular de relação retórica entre o segmento que contém o enunciado com ordem VS e o segmento seguinte?

Mas há mais a ser investigado no que diz respeito à ordem VS. Como eu disse acima, entre as 20 ocorrências de ordem VS com sujeito focalizado que estudamos, em torno de 1/2

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Devo observar aqui que eu e Guilherme redigimos uma versão inicial do trabalho, baseada no hand-out da apresentação no VIII Celsul; mas esta versão não foi finalizada e, portanto, não resultou, até o momento, em publicação ou mesmo submissão de artigo.

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parecem confirmar as seguintes predições: (a) a ordem VS ocorre em começo de segmento textual, e (b) introduz um referente no topo da DRS correspondente que é retomado anaforicamente dentro daquele segmento. Também disse que as ocorrências não revelam exatamente este padrão anafórico; na verdade, são casos “mais complicados”. Um exemplo é a abertura de parágrafo em (3) abaixo, cuja versão idealizada pode ser expressa por (5’):9 (5) [S1] Nas casas de papelão do Projac está o Brasil de verdade, na expressão de sua cultura e de

seus dramas, [S2] como o da protagonista, uma mulher honesta que sai do Nordeste para vencer na cidade grande. [S3] Adriana Lessa é Rita, uma moradora de favela; [S4] Raul Cortez é o Barão, ex-nobre falido que rememora um antigo tempo de delicadeza; [S5] Eduardo Moscovis é Reginaldo, o político corrupto que todos odeiam…

(5’) [S1] Nas casas de papelão do Projac está o Brasil de verdade, com sua cultura e seus dramas: [S2] a protagonista é uma mulher honesta que sai do Nordeste para vencer na cidade grande; [S3] (a personagem) Rita é uma moradora de favela; [S4] (o personagem) Barão é ex-nobre falido que rememora um antigo tempo de delicadeza; [S5] e (o personagem) Reginaldo é o político corrupto que todos odeiam…

Parece claro qual deve ser a estrutura discursiva resultante da resolução das relações de referência em (5’): S1 introduz, por meio do sujeito em foco, o referente expresso por O Brasil de verdade, com sua cultura e seus dramas; subseqüentemente, S2 a S5 introduzem referentes que são analisados como “casos particulares” do referente expresso por O Brasil de verdade, sua cultura e seus dramas.

Esta análise intuitiva pode ser expressa termos de DRT/SDRT. Simplificadamente: (5’) possui, no universo de sua DRS principal, um “referente importante” – o indivíduo introduzido por O Brasil de verdade, com sua cultura e seus dramas; esta DRS contém uma sub-DRS a ela subordinada pela relação retórica de Elaboração, sub-DRS esta resultante da integração de S2-S5 ao discurso; e os indivíduos singulares introduzidos nesta sub-DRS – denotados por a protagonista, Rita, etc. – são interpretados como incluídos no indivíduo plural introduzido por O Brasil de verdade, sua cultura e seus dramas.

Esta descrição preliminar é suficiente para colocar os problemas que me interessam neste ponto. É possível unificar o padrão textual ilustrado por (5)-(5’) com o caso típico da função apresentativa da ordem VS, ilustrado por exemplo por (3) acima; mas, para isso, precisaremos admitir que a relação entre O Brasil de verdade e a protagonista, Rita, etc. é, em um nível adequado de abstração, uma “relação anafórica”. Indiquei que isso é possível, dentro do arcabouço da DRT – precisamos admitir que relações meronímicas entre indivíduos estão entre aquelas que, semanticamente, suportam “relações anafóricas”. Creio que isso, em si, não é um problema, já que encontramos, por exemplo, relações anafóricas entre NPs plurais e NPs singulares. Mas isso não resolve completamente a situação.

Em DRT, “relações anafóricas” normalmente são o resultado da resolução de “condições pressuposicionais” de certas expressões – pronomes, descrições definidas, etc. (cf. van der Sandt 1992, Geurts & van der Sandt 2004); entretanto, não há, evidentemente, qualquer “condição pressuposicional” das expressões o protagonista, Rita, etc., que precise ou possa

9

Tal como (4) (cf. a nota … acima), (5) também ilustra a complexidade envolvida na análise de ocorrências reais. Como (4), a segmentação em períodos e orações de (5) também não corresponde, diretamente, a “organização temática subjacente” do texto. Além disso, o texto se organiza em “níveis de relações de referência”: o tópico introduzido em S1 (o Brasil de verdade) é desenvolvido pelas predicações relativas às personagens da novela (a protagonista, Rita, etc.); ao mesmo tempo – e de modo irrelevante a este “tópico local”, mas vinculado ao tema maior do texto –, (5) informa as relações de identidade entre personagens e atores. A versão (5’) simplifica o texto eliminando estes problemas. Há outras simplificações que esboço: por exemplo, assumo que O Brasil de verdade, sua cultura e seus dramas introduz apenas um referente do discurso.

(9)

ser satisfeita pelo referente introduzido por O Brasil de Verdade. Na verdade, casos como (5)-(5’) sugerem outra coisa: o que a “função apresentativa” da ordem VS parece presumir é que a “relação anafórica” pertinente é um requisito da própria ordem VS; isto é, é ela mesma que “sinaliza que o referente introduzido como importante”. De fato, Givón (1992, 1993) fala da “importância catafórica” das construções apresentativas. Mas como expressar isso por meio das “condições pressuposicionais” admitidas pela DRT? Esta é uma das questões que pretendo investigar.

Mas há outras. Consideremos mais um caso em que, plausivelmente, estamos diante do padrão básico da VS – mas que, para podermos enquadrá-lo como tal, precisamos recorrer a uma análise abstrata da dinâmica textual. O exemplo em questão é (6) abaixo:

(6) [S1] No Brasil, o que costuma presidir as relações entre os cidadãos e o Estado é o princípio da instabilidade. [S2] Todo ano trocam-se as normas para o financiamento das safras. [S3] Modificam-se também as regras de financiamento habitacional, [S4] tornando-se a casa própria um sonho distante. [S5] Altera-se a declaração do imposto de renda [S6] e reduzem-se as possibilidades de dedução. [S7] E o cidadão é obrigado a adaptar-se a cada solavanco.

Observe, em primeiro lugar, que o que estou tomando aqui como um “caso de ordem VS”, a sentença S1, é na verdade uma pseudoclivada; mas satisfaz praticamente todos os critérios de uma construção de ordem VS: há um NP gramaticalmente dependente que ocorre em posição pós-verbal; este NP é focalizado e, se não fosse, poderia ocorrer na posição pré-verbal; o NP introduz um referente do discurso, o “princípio da instabilidade”, no início de um segmento textual; e este referente é o “referente importante” do segmento, sendo elaborado pelas sentenças subseqüentes (S2 a S6), que expressam “casos particulares” deste referente. Assim caracterizado, (6) parece reproduzir, no essencial, o padrão textual encontrado em (5)-(5’). (Quanto às propriedades informacionais da pseudoclivada em S1, ver também discussão dos exemplos (13) e (14) abaixo.)

Mas há diferenças importantes. Uma delas, que não explorarei aqui, é que as sentenças S2-S6, que elaboram o referente “princípio da instabilidade”, aparecem todas, também, na ordem VS. Isso muito provavelmente tem a ver com outra diferença,10 que é a que explorarei: os “casos particulares” que compõem o indivíduo plural identificado por o princípio da instabilidade não são os referentes expressos pelos sujeitos das sentenças subseqüentes. Por exemplo, não é o referente introduzido pelo sujeito de S2, as normas para financiamento das safras, que é interpretado como um caso particular do “princípio da instabilidade”; antes, o caso particular correspondente é a troca anual das normas para financiamento das safras – isto é, o evento (genérico) expresso por S2 como um todo.11 O mesmo é verdade, mutatis mutandis, para as demais sentenças que elaboram S1 (isto é, S3 a S6).

10

Ver a nota 11 abaixo, em que apresento outro exemplo basicamente com as mesmas propriedades de (6).

11

O padrão informacional expresso pela seqüência de S2-S6, em que sentenças com sujeito posposto são interpretadas como eventos genéricos instanciando um “referente plural”, não depende da genericidade: o exemplo abaixo mostra o mesmo padrão, mas as sentenças em seqüência introduzem eventos particulares:

A morte de um papa faz pensar nos maiores mistérios, o da fé e o da vida. Um homem escolhido por homens torna-se o representante de Deus na Terra e converte-se na expressão mesma da idéia que deve simbolizar. Em quase 27 anos, o mundo mudou. Caiu o Muro de Berlim. Nasceu e morreu a era Reagan. Apagou-se a utopia comunista. Imperou o neoliberalismo. Já começam a soprar outros ventos em busca da valorização do humano. Nesses tempos de tanta transformação, só João Paulo II permanecia no posto, incontornável. Há uma diferença entre este trecho e (6): a seqüência de elaboração não é introduzida pela ordem VS. As razões disso são compreensíveis e, na verdade, confirmam, por oposição, as linhas gerais de análise da ordem VS que esboço no texto. Mas não poderei não discutir o caso aqui. Em face do exemplo acima, simplifico também a discussão de (6), tratando-a como uma caso de anáfora que relaciona um “evento plural” a “eventos singulares”.

(10)

Há um modo, em DRT/SDRT, que nos permite admitir que, abstratamente, o padrão textual apresentado por (6) é o mesmo do apresentado por (5)-(5’): precisamos reconhecer eventos denotados por sentenças podem entrar em uma “relação anafórica meronímica” com o indivíduo introduzido pela ordem VS. Isso, certamente, se confirmado, forneceria forte evidência para uma das motivações clássicas da DRT/ SDRT: a de que a dinâmica temporal e a segmentaçào retórica dos discursos exige a postulação de entidades como os eventos, bem como a extensão a tais entidades das mesmas relações meronímicas existentes entre outros tipos de “indivíduos particulares”.12

De qualquer modo, o que esta discussão tem por objetivo é colocar, agora de modo geral, a outra questão que a análise acima esboçada de casos como (5)-(5’) e (6) levanta: exatamente quais seriam as relações semânticas entre referentes do discurso que teríamos de admitir para analisar a “função apresentativa” da ordem VS? Eis uma outra questão que guiará o projeto que estou propondo aqui.

3.2 A pesquisa sobre as clivadas

No trabalho com Gabriel Rodrigues sobre o papel da articulação informacional das clivadas no discurso, nosso ponto de partida foi o fato de que as clivadas possuem características informacionais salientes, bem conhecidas e muito estudadas: (a) o caráter pressuposicional da oração clivada (Delin 1992, 1995, entre outros) e (b) os efeitos de exaustividade sobre o constituinte clivado (Kiss 1998, entre outros). Assim, a idéia era investigar na literatura sobre estas duas características, bem como na literatura em DRT e SDRT, trabalhos que procurassem vincular tais características à organização hierárquica do discurso. Para nossa surpresa, não encontramos nenhuma observação de caráter geral sobre tal vinculação naquela literatura. Antes, percebemos que o foco da literatura era o de tentar determinar o status daquelas características: por exemplo, se a “pressuposição” da oração clivada correspondia à noção de “informação compartilhada no contexto” (Atlas & Levinson 1981, Delin 1995); ou se os efeitos de exaustividade eram pressuposições, implicaturas ou acarretamentos da construção clivada (Atlas & Levinson 1981, Kiss 1998, Wedgwood 2005).

A observação que nos forneceu uma pista inicial sobre o que começar a olhar nas ocorrências textuais das clivadas veio de Givón (1993): freqüentemente as clivadas são asserções denegativas, isto é, negam uma afirmação ou uma pressuposição contextual. Esta característica, juntamente com o caráter pressuposicional da oração clivada e o efeito de exaustividade sobre o constituinte clivado, é ilustrada por (6) abaixo (de Prince 1978, p.895): (6) “O presidente mentiu ao povo americano quando afirmou que a falta de ação do Congresso

impediu a aprovação desta legislação”, disse Waxman. “Na verdade, foi o presidente que obstruiu a votação no Congresso.”

Note-se que Waxman pressupõe, juntamente com o presidente, a verdade da proposição “alguém obstruiu a votação no congresso”; mas, ainda assim rejeita, ou denega, a asserção do presidente: para Waxman, não é a falta de ação do Congresso, mas o próprio Presidente, o referente que satisfaz a predicação "x obstruiu a votação no Congresso".

A observação de Givón permitiu-nos uma primeira hipótese a ser investigada: o conhecido caráter “contrastivo” do elemento clivado – expresso pela exaustividade –, juntamente com o caráter denegador da construção como um todo, é semelhante ao que se encontra na relação retórica de Contraste expressa pela conjunção mas (cf. Umbach 2005, Spenader & Maier

12

Para uma discussão detalhada do caráter problemático destas hipóteses, originárias da análise davidsoniana da das sentenças de ação, ver Basso (2009).

(11)

2009); logo, hipotetizamos, a clivada deve, essencialmente, ocorrer em contextos em que se estabelece uma relação retórica de Contraste. Assim, propusemo-nos a investigar um conjunto de ocorrências reais a fim de verificar se, de fato, os efeitos de exaustividade e o caráter denegador eram constantes. Para esta investigação, o corpus já estava recolhido: os artigos clássicos de Prince e Delin sobre as clivadas continham compilações de várias ocorrências reais, muitas com contexto adjacente incluído.

Feita a análise destas ocorrências e de outras que recolhemos da literatura, nova surpresa: embora a exaustividade e a denegação sejam características freqüentes, não são necessárias; aparentemente, apenas o “caráter pressuposicional” da oração clivada é constante nos usos reais de clivadas. É isso que a análise de casos como (7)-(8) abaixo revela:

(7) É com grande prazer que anuncio nosso conferencista desta noite, o Prof. Carlos Franchi. (adaptado de PRINCE 1978, p.902)

(8) Quem fez este molde? Foram os professores (que o fizeram)? Foram os alunos? (adaptado de PRINCE 1978, p.897)

A análise destes e de vários outros casos, bem como a discussão crítica da literatura, foi apresentada no VIII Celsul (Rodrigues & Menuzzi 2008, Rodrigues e Menuzzi 2009); e uma versão mais desenvolvida do trabalho foi submetida, em 2009, para publicação na Revista de Estudos da Linguagem (UFMG, Belo Horizonte) e está em fase de correção. Nossa conclusão mais geral, com este trabalho, é a de que nem os efeitos de exaustividade nem o caráter denegador são aspectos “convencionalmente” associados à construção clivada – isto é, devem ser inferências conversacionais calculadas a partir de informação contextual; por outro lado, o caráter pressuposicional das construções parece ser, sim, um traço convencional da construção.13

No que precedeu, apresentei os principais resultados de minha cooperação com Gabriel Rodrigues no estudo das clivadas. No que segue, discuto as questões que tais resultados colocam para a agenda de pesquisa – e que pretendo estudar com o presente projeto.

Comecemos pela observação de que os resultados apresentados em Rodrigues & Menuzzi (2008, 2009) parecem eliminar a possibilidade de que as clivadas estejam necessariamente associadas à relação retórica de Contraste tal como expressa por mas. Permanece, entretanto, o fato de que muitas ocorrências reais podem ser analisadas deste modo; de fato, algumas ocorrem inclusive com uma expressão explícita de Contraste, como é o caso do exemplo abaixo, em que a clivada ocorre com entretanto:

(9) [José Dirceu] É um articulador por excelência, elogiado até pelos inimigos, com uma visão única e completa do governo, do conjunto da sociedade e da classe política, com quem lida diariamente. "O Congresso é a coisa mais complicada do Brasil. Do ponto de vista do governo, evidentemente, não está resolvido", diagnostica. Foi diante deste tripé – sociedade, Congresso e governo –, entretanto, que ele viveu seu dia de bambu.

Problema - Em fevereiro deste ano, quando o PT fazia aniversário de 24 anos, irrompeu a

mais forte ventania sobre Dirceu.

13

Diante da idéia, persistente na literatura, de que há “vínculo convencional” entre as clivadas e seus efeitos de exaustividade, Gabriel Rodrigues propô-se a estender a discussão de Rodrigues & Menuzzi (2009) em sua dissertação de mestrado (Rodrigues 2009). Em nosso trabalho, demonstramos que os efeitos de exaustividade não poderiam ser acarretamentos das clivadas. Gabriel discute outras possibilidades – especialmente a de que seriam uma implicatura convencional (cf. Potts 2005); sua conclusão é a de que este também não é o caso.

(12)

Por outro lado, também é um fato claro que as clivadas podem ser associadas a seu contexto por outras relações retóricas. Por exemplo, em (10) abaixo a compatibilidade da clivada com a expressão portanto sugere que se trata de uma relação de Explanação; em (11), a compatibilidade com na verdade sugere que se trata de um caso de Comentário ou Correção; e, finalmente, (12) (parágrafo do presente projeto, composto inconscientemente) atesta ainda uma quarta relação retórica (difícil de precisar porque o enunciado não parece aceitar facilmente expressões diagnósticas):

(10) Pela primeira vez em sua história, o escritório regional do Unicef estabeleceu vias para donativos dirigidos a outros povos. “O Unicef Brasil tem uma tradição que é aplicar exclusivamente no país os fundos arrecadados aqui. Mas, em função da enorme vontade do povo brasileiro em ajudar, nós abrimos uma exceção e estamos com três operações de coleta. Foi a enorme pressão popular (, portanto,) que originou esta mudança”, disse José Afonso Braga, chefe do setor de mobilização de recursos da organização.

(11) "Eu lutei contra Deus e o mundo para o PT assumir a eleição direta", relembra ele [José Dirceu]. Depois disso foi deputado federal mais duas vezes (a segunda, em 2002, com mais de 500 mil votos) e o principal estrategista na vitoriosa campanha de Lula. Foi ele (, na verdade,) que enquadrou os sectários do partido e convenceu o candidato a ampliar a aliança com o centro. (12) Feita a análise destas ocorrências e de outras que recolhemos da literatura, nova surpresa:

embora a exaustividade e a denegação sejam características freqüentes, não são necessárias; aparentemente, apenas o “caráter pressuposicional” da oração clivada é constante nos usos reais de clivadas. É isso que a análise de casos como (7)-(8) abaixo revela.

Definitivamente, as clivadas não estão necessariamente associadas a uma relação retórica particular. Aparentemente, também não estão associadas a alguma “família” particular de relações retóricas: afinal, a construção é compatível tanto com Contraste (que é uma das relações retóricas “estruturais”), quanto com Explanação e Comentário (que são relações retóricas “de conteúdo”; ver Asher & Lascarides 2003, 2005 para discussão).

Mas há um traço comum às ocorrências em (9)-(12), traço que também é freqüente em clivadas utilizadas em textos maiores, planejados: ocorrem todas ao fim de um certo segmento temático (de fato, no fim de parágrafo nos casos acima) e adquirem, dentro deste segmento, uma função poderia ser caracterizada, intuitivamente, de “conclusão” e/ou de “síntese”. Minha hipótese de trabalho, no momento, é a de que esta observação tem muito a esclarecer tanto sobre a natureza da articulação informacional das clivadas quanto sobre o papel desta articulação na estrutura do discurso. Minhas razões para esta crença são duas. A primeira delas é a de que a função de “conclusão” e/ou “síntese” parece estar ligada ao reconhecido caráter “identificacional” das clivadas e, portanto, a seus efeitos de exaustividade. Em todos os casos acima, a clivada ocorre após um certo segmento cujo desenvolvimento temático acaba por sugerir – ora implicando, ora pressupondo – que um certo referente satisfaz – ou não satisfaz – uma certa proposição; mas o desenvolvimento temático é tal que, por alguma razão, acaba por não permitir o reconhecimento ou a identificação correta do referente. E a clivada conclui o desenvolvimento precisando, identificando exatamente o referente evocado pelo desenvolvimento temático.

Considere (9) acima. O trecho é extraído de uma seção de matéria da IstoÉ sobre José Dirceu. O segmento que precede a clivada sugere que Dirceu jamais “teria um dia de bambu” diante do “tripé sociedade, Congresso e Governo”. Mas a seção da matéria em que o trecho aparece começa com o seguinte enunciado: “Diz um provérbio oriental que o bambu enverga, mas não quebra.” Isto é, o leitor já pressupõe que José Dirceu “teve seu dia de bambu”; o segmento que precede a clivada sugere que ele não teria “um dia de bambu” diante do

(13)

mencionado tripé. Assim, o leitor aguarda que o autor do texto precise a identidade do x diante do qual José Dirceu “teve seu dia de bambu.” E, contrariamente à expectativa criada pelo segmento que a precede (razão pela qual se trata de uma relação de Contraste e, portanto, envolve “denegação”), a clivada identifica x como sendo exatamente o tal tripé. Ao enfatizar o caráter de “identificação exata” do valor de uma variável contextualmente indeterminada, o fiz na intenção de ressaltar esta noção. É que, a meu ver, ela parece ser um correlato mais adequado para os chamados “efeitos de exaustividade” do que a idéia da “identificação por exclusão” (cf. Kiss 1998 e outros). A literatura já apontou que caracterizar tais efeitos por meio da “identificação por exclusão” significaria que são equivalentes à semântica de somente; mas isso é incorreto, em particular porque clivadas com e sem somente não são equivalentes semanticamente (cf. Horn 1981, Wedgwood 2005, Rodrigues 2009). De fato, não é possível modificar com o advérbio somente os constituintes clivados em (9), (10), (11) e (12) sem alterar o significado dos enunciados. Por outro lado, é possível modificá-los com exatamente. Além disso, e curiosamente, exatamente é incompatível com as clivadas em (7) e (8) – que são casos de clivadas em que os “efeitos de exaustividade” estão suspensos.

Assim, a idéia de que uma função proeminente da clivada é “fechar” desenvolvimentos temáticos “identificando exatamente” o valor de uma variável indeterminada por estes mesmos desenvolvimentos parece ser interessante: fornece uma hipótese plausível acerca do que está por trás dos “efeitos de exaustividade” das clivadas e, simultaneamente, vincula tais efeitos a uma certa estruturas discursivas. Um de meus objetivos será buscar explicitar, dentro do framework da DRT/SDRT, a idéia de “identificação exata do valor de uma variável indeterminada por um segmento de discurso”. Evidentemente, com isso, não quero apenas esclarecer a “função textual” das clivadas, mas também a natureza de seus “efeitos de exaustividade”.

Finalmente, a segunda razão que me faz crer que as ocorrências em (9), (10), (11) e (12) registram propriedades importantes das clivadas é que confirmam, por oposição, uma outra observação importante de Givón (1993) – que não exploramos em Rodrigues & Menuzzi (2008, 2009). A observação é a de que clivadas – diferentemente das pseudoclivadas –não constituem boas “aberturas de discurso”. Os exemplos (adaptados) de Givón são os seguintes (Givón 1993, vol. II, p.186):

(13) [Abertura de um aula ou palestra:]

O que {pretendo apresentar/vamos ver} hoje é o estado atual da DRT. (…) (14) [Idem:]

#É o estado atual da DRT que {pretendo apresentar/vamos ver} hoje. (…)

Note-se, antes de mais nada, que o ponto observado por Givón com respeito as pseudoclivadas e ilustrado por (13) é confirmado pelas propriedades de S1 em (6) acima. “Aberturas de discurso” são “inícios absolutos” de segmento textual, no sentido de que não apenas iniciam um segmento mas também não há segmento que as preceda. A incompatibilidade com tais “inícios absolutos” sugere que o “caráter pressuposicional” das clivadas é “anafórico estrito senso”, exigindo um “antecedente” – explícito ou evocado – pelo discurso precedente. Esta idéia, evidentemente, é compatível com a hipótese que apresentei acima (segundo a qual a função das clivadas é a de “identificação exata do valor de uma variável indeterminada por um segmento de discurso”). Mais que isso, poderia explicar o fato, atestado pelos exemplos acima, de que a clivada se torna adequada após um certo desenvolvimento discursivo, ocorrendo por isso em posição final de segmento.

(14)

Note-se, por outro lado, que o contraste entre (13) e (14) indica que o conhecido “caráter pressuposicional” das pseudoclivadas não é exatamente igual ao das clivadas – afinal, é suficiente que seja “(conhecimento ou) expectativa prévia compartilhada”. Como expressar esta diferença em um framework como a DRT? Uma de minhas hipóteses de trabalho, quanto a esse problema, é a de que as pressuposições associadas às pseudoclivadas são, por alguma razão, facilmente “acomodadas” – razão pela qual podem ocorrer em “início absoluto” do discurso (do mesmo modo que descrições definidas como o presidente do Brasil ou a capital da França); e as pressuposições associadas às clivadas, ao contrário, não seriam facilmente acomodáveis – razão pela qual seriam, necessariamente, “anafóricas”.

Curiosamente, os “efeitos de exaustividade” de pseudoclivadas como (13) acima também não são os mesmos de clivadas típicas como (9)-(12): a modificação do constituinte pseudoclivado em (13) pelo advérbio exatamente não resulta num enunciado adequado. O fato é confirmado pela ocorrência em (6) acima. Portanto, clivadas e pseudoclivadas parecem diferir não apenas no que diz respeito ao tipo de “condição pressuposicional” que impõem às suas respectivas orações clivadas, mas também quanto ao “efeito de exaustividade” que acionam sobre o constituinte clivado. Em termos mais práticos, para a agenda de pesquisa que proponho aqui, isso impõe uma limitação às hipóteses a serem consideradas. Especificamente: a noção de “identificação exata do valor de uma variável indeterminada por um segmento de discurso”, a ser desenvolvida na análise de clivadas como (9)-(12) e diagnosticada pelo uso de exatamente, não pode ser capaz de ser estendida a ocorrências de pseudoclivadas como (6) e (13).

Em resumo: os exemplos de clivadas em (9)-(12) formam um “par mínimo” com o uso das pseudoclivadas exemplificado em (6) e (13). Também por isso os exemplos (9)-(12) parecem ser fundamentais – neste caso, oferecendo uma chave para distinguir o que há de característico na articulação informacional das clivadas, por oposição à articulação informacional das pseudoclivadas.

5. Objetivos do projeto – Síntese

Pode-se resumir os objetivos da proposta apresentada neste projeto do seguinte modo:

Como objetivo geral, o que se pretende é dar continuidade ao objetivo geral do projeto de 2007, qual seja: explorar, dentro do framework da DRT/SDRT, a idéia de que diferentes articulações informacionais da frase portuguesa podem contribuir para a identificação dos segmentos temáticos do discurso; mas essa contribuição só parcialmente é determinada pela articulação informacional da frase em si; parte de sua função depende da própria organização temática na qual opera. Este objetivo geral, agora, adquire um foco mais circunscrito: para o período de 2011-2013, pretendo estudar apenas as articulações informacionais da ordem VS e das clivadas, e a contribuição destas articulações informacionais para a organização hierárquica do discurso.

Quanto aos objetivos específicos, procurei mostrar, ao longo do projeto, que em virtude dos resultados do trabalho no período de 2008-2010, estou em condições de formular várias tarefas e questões específicas na tentativa de elucidar, sob a ótica de DRT/SDRT, as propriedades informacionais e textuais da ordem VS e das clivadas. São elas:

• Quanto aos casos de ordem VS em que o enunciado ocorre em final de segmento textual, introduzindo um referente do discurso “retomado” no segmento subsequente (isto é, casos como (4)-(4’)): investigá-los sistematicamente, especialmente quanto aos seguintes fatores:

(15)

(a) o tipo de expressões (descrições, pronomes, etc.) que estabelecem “relações anafóricas” com referentes introduzidos pela ordem VS em posição final de segmento textual;

(b) o “tipo semântico” das relações anafóricas (identidade de indivíduos singulares, relações meronímicas entre indivíduos, relações meronímicas entre eventos, etc.); (c) correlações entre tipos de relações anafóricas e tipos de “fronteira retórica” entre o segmento que contém a ordem VS e o segmento seguinte; por exemplo: há casos de “anáfora pronominal” cruzando a fronteira retórica? coincidem com algum tipo particular de relação retórica entre o segmento que contém o enunciado com ordem VS e o segmento seguinte?

• Quanto aos casos de ordem VS (como (5) e (6)) que podem ser caracterizados, mas apenas “abstratamente”, como manifestações do “padrão normal” de uso apresentativo (enunciado em início de segmento introduz referente “retomado anaforicamente” pelos enunciados subseqüentes, como em (3)): investigá-los sistematicamente, procurando responder as seguintes questões:

(a) a fim de analisar tais casos como “abstratamente” análogos ao “padrão normal” da ordem VS: quais seriam as relações semânticas entre referentes do discurso (além de identidade de indivíduos singulares: relações meronímicas entre indivíduos, relações meronímicas entre eventos, etc.) que teríamos de admitir que licenciam “relações anafóricas” numa análise em DRT/SDRT?

(b) diante do fato de que, ao menos em alguns casos (como (5)), a dependência anafórica a ser estabelecida não está vinculada as expressões que “retomam” o referente introduzido, mas antes parece ser um requisito da própria ordem VS: como expressar este caráter “catafórico” da ordem VS por meio das “condições pressuposicionais” admitidas pela DRT?

• Com relação às propriedades informacionais e textuais das clivadas ocorrendo em final de segmento temático (como (9)-(12)), em particular em sua oposição as propriedades de pseudoclivadas ocorrendo em início de segmento temático (como (6) e (13)): investigá-las sistematicamente, procurando responder as seguintes questões: (a) é possível explicitar, dentro da DRT/SDRT, a noção de “identificação exata do valor de uma variável indeterminada por um segmento de discurso”?

(b) uma vez explicitada esta noção, ela é capaz de explicar os “efeitos de exaustividade” associados à articulação informacional das clivadas?

(c) é possível explicitar a oposição entre “pressuposições dificilmente acomodáveis” vs. “pressuposições facilmente acomodáveis”?

(d) uma vez explicitada esta oposição, ela é capaz de dar conta dos diferentes comportamentos pressuposicionais das clivadas (por oposição às clivadas)?

(e) as respostas oferecidas para as questões anteriores fornecem uma explicação adequada para a distribuição textual das clivadas (vs. pseudoclivadas) – em particular, sua ocorrência em final de segmento temático (por oposição à ocorrência em começo de segmento temático das pseudoclivadas)?

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Referências

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