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Estado, ideologia e educação no jornal "Tribuna dos Municípios" de Irati-PR (1954-1959)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA-UEPG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – MESTRADO. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Estado, Ideologia e Educação no jornal “Tribuna dos Municípios” de Irati- PR (1954-1959) Claudia Maria Petchak Zanlorenzi. Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Moura Nascimento. Novembro 2006 1.

(2) UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Estado, Ideologia e Educação no jornal “Tribuna dos Municípios” de Irati-PR (1954-1959) Autora: Claudia Maria Petchak Zanlorenzi Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Moura Nascimento. Este exemplar corresponde à redação final para defesa da dissertação de Claudia Maria Petchak Zanlorenzi. Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Moura Nascimento (UEPG) ______________________________________ Comissão Julgadora: Prof. Dr. José Carlos de Araújo (UFU). Profa. Dra. Maria José Subtil (UEPG) ______________________________________ Prof. Dr. Adair Dalarosa (UEPG). PONTA GROSSA – PR 2006 2.

(3) © by Claudia Maria Petchak 2006. Catalogação na Publicação elaborada pela biblioteca da Faculdade de Educação/UEPG. ZANLORENZI, Claudia Maria Petchak. N17p ESTADO, IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO NO JORNAL. “TRIBUNA DOS MUNICÍPIOS” DE IRATI-PR (1954-1959) [s.n.], 2006. Orientadora: Maria Isabel Moura Nascimento. Dissertação de (mestrado) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Faculdade de Educação. 1. Imprensa- Jornal (Irati, PR) – História da Educação. 2. Escolas públicas Imprensa. 3.Ideologia – Instituição Escolar. 4. Educação – Brasil – História. I. Maria Isabel Moura Nascimento. II. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Faculdade de Educação. III. Título. 04-004-BFE. 3.

(4) RESUMO. O presente trabalho refere-se à pesquisa do curso de Pós-Graduação da UEPG com o tema Estado, Ideologia e Educação na “Tribuna dos Municípios” de Irati (1954-1959). Este estudo teve por objetivo geral analisar a relação entre o Estado e a Educação através dos artigos publicados no jornal Tribuna dos Municípios de Irati – PR, no período de 1954 a 1959. No percurso da investigação, procurou-se investigar como o jornal expressa sobre a educação; analisar os interesses dos grupos sociais sobre a educação, como também analisar as vinculações ideológicas presentes nas matérias sobre a educação, veiculadas pelo jornal. Para tanto, a análise do presente estudo teve como enfoque o materialismo histórico, pois o mesmo proporciona uma visão de totalidade, interconexão de fatos e contextualização, como também permite enfatizar a dimensão histórica dos processos sociais. O procedimento metodológico adotado na pesquisa foi a coleta e classificação de reportagens de jornais, pertencentes à Casa da Cultura de Irati, que tiveram a educação como eixo central. Foram feitas cópias na íntegra das reportagens, digitalizadas e organizadas em um banco de dados específico à pesquisa, para então serem analisadas. A pesquisa está dividida em 3 capítulos: A Ideologia, Estado e Jornal (1950), A Educação na década de 50 e O Jornal Tribuna dos Municípios e os temas mais enfocados. A pesquisa permitiu uma melhor compreensão do poder da ideologia do Estado burguês e a sua continuidade, a partir das contradições típicas de uma sociedade liberal, que vinha se afirmando, na qual a educação e a imprensa foram palco para esta hegemonia.. Palavras - chave: Educação, Estado, ideologia, imprensa.. 4.

(5) ABSTRACT. The present study refers to the research conducted in the Post-graduation course at UEPG with the theme State, Ideology and Education in the "Tribuna dos Municípios" from Irati (1954-1959). This study it had as a general objective: to analyze the relation between the State and the Education through the articles published in the periodical Tribuna dos Municipios from Irati - PR, within the period from 1954 to 1959. In the course of the inquiry it is investigated how the periodical expresses on the education and it is also analyzed the interests of the social groups on the education, as well as the ideological links present in the topics on the education propagated by the periodical. To do so, the analysis of the present study had as approach the historical materialism, because it provides a vision of totality, interconnection of facts and contextualization, as also allows emphasizing the historical dimension of the social processes.The methodological procedure adopted in the research was the assessment and classification of articles in the periodical, owned by the House of the Culture in Irati that had the education as central axle. Complete copies of these articles were made, digitalized and organized in a specific data base to the research and then they were analyzed. The research is divided in 3 chapters: The Ideology, State and newspaper (1950); Education in the 1950’s through the periodical Tribuna dos Municípios, and, The newspaper Tribuna dos Municípios and the most focused themes. The research allowed a better understanding on the power of the ideology of the bourgeois State and its continuity, from the typical contradictions of a liberal society, that was affirming itself, in which the education and the press had been a stage for this hegemony.. Keywords: Education, State, ideology, press.. 5.

(6) A meu pai José Orlando Petchak (in memorian) jornalista de fato e à minha mãe, Nina, que me introduziu no caminho da Educação. Ao Alcione, Lígia e Guilherme, minha família, que com paciência, compreensão e apoio foram a força para seguir adiante. 6.

(7) AGRADECIMENTOS. À professora Maria Isabel Moura Nascimento que orientou esta pesquisa, mas que principalmente foi a amiga e o porto seguro para minhas inseguranças, minhas frustrações e meus receios. Aos membros da Banca Examinadora de qualificação e defesa deste trabalho: Prof. Dr. José Carlos de Araújo (UFU), Prof. Dra. Maria José Subtil (UEPG) e Prof. Dr. Adair Dalarosa (UEPG), pelas sugestões apresentadas. Aos colegas do Grupo de Pesquisa HISTEDBR - Campos Gerais da UEPG que me ouviram e auxiliaram com sugestões e materiais: Kátia Osinski Ferreira, Aracely Mehl, Sonia Aparecida Cordeiro, Solange Collares, Marta Beatriz Dalligna e Célia Gonçalves. Aos funcionários da Casa da Cultura de Irati que me acolheram como pesquisadora e forneceram as fontes para a pesquisa, em especial a Marili das Graças de Lara Teixeira, responsável pelo acervo histórico. À professora Zélia Marochi e seus familiares, no apoio final do trabalho e a fim de compreendermos o proprietário e redator do jornal, Antonio Lopes Júnior, seu pai. A todos os colegas que estiveram presentes nesta fase da minha vida.. 7.

(8) LISTA DE FIGURAS. FIGURA 1. 1ª edição do Jornal Tribuna dos Municípios. 12. FIGURA 2. Grupo Escolar de Irati-Pr – Jornal O Sul.. 26. FIGURA 3. Propaganda Ford – Tribuna dos Municípios -1955. 32. FIGURA 4. Artista de Hollywood – Revista O Cruzeiro – 1954. 34. FIGURA 5. Bolcheviques - Revista O Cruzeiro – 1954. 40. FIGURA 6. Artista de Hollywood – Revista O Cruzeiro – 1954. 44. FIGURA 7. Aranha: general da deflação - Revista O Cruzeiro – 1954. 53. FIGURA 8. Enterro de Getúlio Vargas – Revista O Cruzeiro – 1954. 53. FIGURA 9. Café bebe Café – Revista O Cruzeiro – 1954. 54. FIGURA 10 Jucelino e o Presidente do EUA – Revista O Cruzeiro -1956. 58. FIGURA 11 Irati em 1959. 62. FIGURA 12 Localização Geografia do município de Irati. 63. FIGURA 13 Estação Ferroviária de Irati – 1899. 64. FIGURA 14 Carregamento de batata na Estação Ferroviária de Irati. 65. FIGURA 15 Escolas de Irati – Jornal Tribuna dos Municípios – 1955. 67. FIGURA 16 Escolas de Irati – Jornal Tribuna dos Municípios – 1955. 67. FIGURA 17 Antonio Lopes Júnior lendo jornal. 89. FIGURA 18 Propaganda do jornal em 1954. 90. FIGURA 19 Propaganda do jornal em 1955. 91. FIGURA 20 Propaganda de eletrodomésticos - Revista O Cruzeiro -1959. 103. 8.

(9) LISTA DE QUADRO. QUADRO 1-Temas mais vinculados no Jornal Tribuna dos Municípios...........82. 9.

(10) LISTA DE ANEXOS ANEXO 1. Fontes catalogadas na pesquisa e disponibilizadas em CD-ROM. 10.

(11) SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................... 11. I - ESTADO, IMPRENSA E IDEOLOGIA (1950). 23. 1.1. A imprensa na década de 50: uma instituição em transição................. 30. 1.2. O retrato da década de 1950................................................................. 36. 1.3. As conseqüências do posicionamento do Estado revelado pelo jornal. 38. 1.4. O jornal e a ideologia dominante nos meios intelectuais....................... 46. 1.4.1. A ideologia pelas instituições............................................................. 58. II - EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 50 RETRATADA PELO JORNAL. 62. TRIBUNA DOS MUNCÍPIOS 2.1. Os Interesses dos grupos sociais sobre a educação............................. 69. 2.2. A educação na década de 1950........................................................... 72. 2.3. As discussões da época e a relação do Estado e a educação.............. 76. III – O JORNAL TRIBUNA DOS MUNICÍPIOS E OS TEMAS MAIS. 88. ENFOCADOS 3.1 – O jornal Tribuna dos Municípios ...................................................... 88. 3.2 – Os temas mais abordados sobre a educação no jornal Tribuna do. 91. Municípios................................................................................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 105. BIBLIOGRAFIA GERAL................................................................................... 109. ANEXOS............................................................................................................ 114. 11.

(12) INTRODUÇÃO. Nasci e cresci entre laudas de jornal e giz branco. De meu pai, Orlando (in memorian), jornalista de fato e não de direito, dado que não tinha o curso superior de jornalismo, herdei, entre tantas outras coisas, a vontade de conhecer o mundo e a busca sem medo de ir além do dado, do óbvio. De minha mãe, Nina, e de minhas tias professoras veio a influência na escolha da profissão. Em meio a cadernos, cartilhas, diários de classe e avaliações, o mundo foi se mostrando para mim, na magia daquele ato, o ensinar. A mistura destas influências, aliadas à falta de informações sobre a educação em Irati, foram os motivos que me levaram a pesquisar a imprensa e a educação, entre 1954 a 1959, através do jornal Tribuna dos Municípios1. No Brasil, os jornais foram e são fortes instrumentos de divulgação de idéias e condutas que influenciaram e influenciam o desenvolvimento do país e exerceram e exercem essa influência de diferentes formas e níveis pelas diversas regiões brasileiras. A região Sul, como as outras regiões do país, viveu uma forte influência dos meios de comunicação como instrumentos para transmitir as idéias de uma determinada classe social. Sendo assim, constitui-se em um rico celeiro para investigação tratando-se de uma fonte expressa de um grupo social e “em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos de sua época.“ (MARX, 1979, p. 56) A presente pesquisa pretende apreender o posicionamento da imprensa sobre a questão educacional no período de 1954 a 19592, propondo-se a compreender os interesses presentes na imprensa local, bem como as preocupações de um grupo social específico, com relação à educação. A 1. O jornal Tribuna dos Municípios foi fundado em 24 de maio de 1954, pelo senhor Antonio Lopes Júnior. O jornal Tribuna dos Municípios encerrou suas atividades em 21 de maio de 1978, após o falecimento do seu proprietário. 2 A delimitação do estudo entre 1954 a 1959 deve-se ao fato de ser a única fonte de pesquisa completa encontrada, apesar de haver outros jornais no município com datas anteriores, mas que após levantamento só foi encontrado exemplares do ano de 1931 e que não poderiam dar subsídios ao estudo.. 12.

(13) pesquisa procura enveredar por um caminho que leve em conta os diversos contextos: político, social, e econômico. FIGURA 1 1ª edição jornal Tribuna dos Municípios – 24-05-1954. Fonte: Casa da Cultura Irati - PR. A relevância dos jornais relaciona-se com sua especificidade como veículo de circulação de idéias que representavam um determinado interesse, sendo este dependente do meio de vida dos homens. Assim como os indivíduos manifestam sua vida, assim são estes indivíduos, portanto o que são coincide com sua produção, com que produzem e como produzem. Enfim, o que os indivíduos são, depende de suas condições materiais de sua produção.(MARX, 1979, p. 27) E neste sentido, podemos identificar que a forma como produzem suas idéias está interligada com sua. atividade material e com relação entre os. indivíduos. Porém na perspectiva do pensamento de Hegel3 e de como pensavam seus seguidores, isso ocorre de forma contrária, pois o [...] que desce do céu à terra, aqui se ascende da terra ao céu. Ou, em outras palavras: não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam, e tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí, chegar aos homens em carne e osso; 3. Hegel interpreta a história como ‘progresso na consciência da liberdade’. As formas de organização social correspondem à consciência da liberdade e, portanto, a consciência determina o ser. A consciência de uma época histórica e de um povo se expressa sobretudo na religião, ‘que é onde o povo define por si mesmo o que considera como verdade [...]. A religião é a consciência de um povo daquilo que ele é, do seu ser mais elevado’ escreve Hegel. (BOTTOMORE, 2001, P. 174). 13.

(14) parte-se dos homens realmente ativos e, a partir do seu processo de vida real, expõe também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida. E mesmo as formações nebulosas no cérebro do homem são sublimações necessárias do seu processo de vida material, empiricamente constatáveis e ligado a pressupostos materiais [...]. (Idem, 1979, p. 37). As informações veiculadas na imprensa permitem perceber que as relações de produção constituem a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual (MARX, 1989, p.231), enfim a concepção estabelecida pela sociedade é norteada pelas suas práticas. Neste sentido, os jornais “[...] em nome da comunidade e não para promoção pessoal e política, são fontes de referência histórica [...].”(ORREDA, 1979, p. 181) que representam os interesses históricos de uma dada sociedade. Por este motivo, é preciso ler o que um dado grupo social foi capaz de criar, negar, recriar e instituir como procedimento padrão por um determinado período, com o objetivo de alcançar seu desenvolvimento humano e social, “[...] o estudo dos jornais é de extrema importância para a compreensão de um período histórico [...].”(CAPELATO, 1989, p. 11) Na história da educação, o uso da imprensa, como fonte e objeto de pesquisa, vem consolidando-se de maneira crescente, porém ainda muito tímida, não só no que diz respeito à produção da imprensa voltada para as questões educacionais, especificamente, como também da chamada grande imprensa que, não necessariamente, volta-se a um público especializado. Este estudo tem por objetivo geral: Analisar a relação entre o Estado e a Educação através dos artigos publicados no jornal Tribuna dos Municípios4 de 4. O jornal Tribuna dos Municípios, de Irati - Pr, foi fundado por Antonio Lopes Júnior, em 24 de maio de 1954. Apesar de não ser um jornal específico da área educacional, ou seja, um periódico educacional, este jornal dependente apenas da publicidade local e sem grandes tiragens, traz em cada publicação artigos, notícias e anúncios que tratam do tema. Natural de Irati, Antonio Lopes Júnior, era Bacharel em Direito, contador, fundador e professor do Colégio Irati e Escola Técnica de Comércio Iratiense, onde lecionou português, contabilidade pública e economia política. Foi também membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná e consultor Jurídico da Federação do Comércio Varejista do Paraná. No setor político, foi eleito vereador em 1947, 1951, 1955 e 1959, suplente de deputado 1963-1966, elegeu-se em 1967-1970 e 1971 e 1974. (ORREDA, 1977, P. 108). “Antonio Lopes Junior foi professor de. 14.

(15) Irati – PR, no período de 1954 a 1959, e como objetivos específicos pretendese:  investigar como o jornal expressou sobre a educação na região de Irati – PR;  analisar os interesses dos grupos sociais sobre a educação no município de Irati- PR;  analisar as vinculações ideológicas presentes nas matérias sobre a educação veiculadas pelo jornal Tribuna dos Municípios. Para tanto a análise do presente estudo teve como enfoque o materialismo histórico, pois o mesmo proporciona uma visão de totalidade, interconexão de fatos e contextualização, como também permite enfatizar a dimensão histórica dos processos sociais. Com bases definidas em Marx e Engels, o materialismo histórico ressalta que a produção e o intercâmbio de seus produtos constituem a base de toda a ordem social, o que determina o processo, tanto social como político e espiritual. As premissas de que partimos não constituem bases arbitrárias, nem dogmas; são antes bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As nossas premissas são os indivíduos reais, a sua acção e as suas condições materiais de existência, quer se trate daqueles que encontrou já elaboradas quando do seu aparecimento quer das que ele próprio criou. (MARX; ENGELS, 1979, p.18). Nesta perspectiva, será utilizado o método dialético, pois fornece condições para que a pesquisa possa ter uma análise dinâmica e totalizante da realidade, considerando os fatos não isolados, mas influenciados pela política, pela economia e pelo social. Diante disso, não basta ao pesquisador apenas levantar os documentos, é preciso interrogá-lo e enxergar as evidências que são construídas socialmente.. português e matemática do ensino secundário. Lente de sociologia do ensino normal. Professor de Economia Política, Contabilidade Pública, Prática Jurídico – Comercial, do ensino técnico. Contador. Quartoanista de Direito, são qualidade que reforçam o exemplo do seu trabalho [...].”( Tribuna dos Municípios, 11-09-1954). Os textos coletados para a pesquisa são de vários autores, não apenas do proprietário Antonio Lopes Júnior.. 15.

(16) Este método caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, na qual ocorre sob a “[...] forma de interação – ainda que de forças desiguais, das quais o movimento econômico é, de longe, o mais forte, primordial, decisivo.” (MARX, In. FERNANDES, 1989, p. 463) Percebe-se a importância do historiador, como alguém que buscará a racionalidade que está contida, mas não explicitada, nos fatos apresentados em conjunto. O direcionamento é fundamental para que não nos percamos apenas no levantamento de curiosidades de época, que servem para a "ilustração" pura e que, entretanto não contribuem para o conhecimento da realidade ou para a construção de uma História onde todos os agentes se encontrem representados e participando. “Já não se trata mais de imaginar correlações na cabeça, mas de descobri-las nos fatos.”(Idem, 1989, p.480) Aqui devemos, contudo, tomar certos cuidados. As informações, ainda que "sem finalidade", conforme anotado acima, não são desvinculadas da realidade. Além dos aspectos subjetivos implícitos na pena do redator, os jornais contam com diversos outros mecanismos de controle para não permitir que o veículo de comunicação acabe por atuar contra os próprios interesses do jornal ou da classe que representa, no caso a burguesia. No entanto, a subjetividade do articulista ou a pretensa neutralidade da imprensa não devem levar ao descarte desta fonte, pois são itens que serão filtrados a partir da perspectiva do historiador. (CAPELATO, 1989, p.12) O procedimento metodológico adotado na pesquisa foi, inicialmente, a coleta e classificação de reportagens no jornal Tribuna dos Municípios que tiveram a educação como eixo central. Estes periódicos fazem parte do acervo da Casa da Cultura de Irati – PR. As notícias levantadas foram copiadas na íntegra das reportagens, digitalizadas e organizadas em um banco de dados específico, agrupadas por temas, para depois serem analisadas. Destas notícias foram elencadas as seguintes temáticas: alfabetização, ensino rural, educação e juventude, educação profissional, metodologia, educação e religião, professor, formação de professores, escolas, educação física, arte, merenda escolar, educação moral e cívica, ensino superior, prestação de contas.. 16.

(17) Para o estudo, proposto nesta pesquisa estamos privilegiando as categorias5 de análise, que a partir das notícias expressas no jornal foram identificadas as seguintes: Estado, política, ideologia, poder, classes sociais e educação. Nos levantamentos do estado do conhecimento aqui realizados a partir de teses e dissertações6, observaram-se as seguintes pesquisas que utilizam a imprensa escrita como fonte de pesquisa: Em 1980, a autora Mary Lou Paris, defendeu a tese de livre docência sob o título O Jornal: A Província de São Paulo (1875-1889), na Universidade de São Paulo - Faculdade de Educação, na qual faz um levantamento de notícias do referido jornal relacionadas com a educação nesta época. A autora discorre sobre a posição do jornal em relação ao ensino religioso nas escolas públicas e o embate entre a Igreja - que procura manter sua posição política tradicional de supremacia e autoridade - e os republicanos tentando opor a este sistema que identificam um outro mais voltado às tendências liberais e modernizantes. Analisa também a falta de seriedade demonstrada pelos poderes públicos em relação a educação, no fim da Monarquia e o modo como funcionava o sistema representativo da época. Conclui que é impossível desvincular o jornal A Província de São Paulo da propaganda republicana. O jornal lutou contra a utilização do aparelho educacional como máquina eleitoral e contra o regime de união entre a escola e a religião. Propôs, entre as soluções. para. a. “modernização”. do. país,. que. os. particulares. se. encarregassem, pelo menos provisoriamente, do ensino, e que atenção especial fosse dada, tanto à educação dos direitos e deveres como à formação prática e profissional dos membros da sociedade. Observa-se, nesta pesquisa, que o jornal foi porta voz de questões que permeavam a composição da sociedade. Numa época onde se afloravam as idéias liberais, o posicionamento do jornal estudado evidenciava aspectos ideológicos favoráveis à liberdade e à igualdade entre todos os cidadãos, mesmo que não ultrapassasse o limite do discurso.. 5. Categoria – em geral, qualquer noção que sirva como regra para a investigação ou para a sua expressão lingüística em qualquer campo.(ABBAGNANO, 2003, p. 121) 6 Estado de conhecimento – O levantamento aqui realizado foi em teses e dissertações no país, relativas ao tema.. 17.

(18) Pela Universidade Federal de Uberlândia, em 1999, Carlos Henrique de Carvalho, defende a dissertação de mestrado com o título. Imprensa e. Educação: o pensamento educacional do professor Honório Guimarães (Uberabinha – MG, 1905-1922). Trata-se de um estudo sobre o pensamento educacional na forma de artigos no jornal O Progresso redigidos pelo professor Honório Guimarães. O trabalho compõe-se de três capítulos, sendo que no primeiro capítulo, O Brasil republicano, o autor busca compreender a ambiência histórico-educacional do Brasil republicano, procurando identificar, nesse contexto, as transformações pelas quais passava a sociedade brasileira, bem como as reformas educacionais que foram levadas adiante pela República, na tentativa de minimizar os índices de analfabetismo maculares da imagem do país e que, ao mesmo tempo, impediam sua marcha à civilização. No segundo capítulo, A imprensa enquanto objeto de análise histórica, é realizada uma discussão a respeito de como os jornais foram se constituindo em objeto de análise histórica, isto é, como o historiador se comporta perante esses novos documentos. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o assunto, com o objetivo de salientar a importância da imprensa, enquanto fonte de pesquisa, dando destaque aos trabalhos que estão sendo desenvolvidos por estudiosos na linha temática Imprensa e Educação. Com o título A dimensão política do pensamento educacional, o terceiro capítulo compõe-se de um estudo dos artigos e editoriais publicados pelo professor Honório Guimarães, buscando identificar três aspectos fundamentais: as concepções educacionais no período republicano; a influência do positivismo em seu pensamento e o papel do ensino religioso perante a República. Finalizando, entre as considerações relatadas, conforme os objetivos da sua pesquisa, o autor diz que os jornais se constituem em fontes de pesquisa extremamente ricas para a História. Essa dissertação nos possibilita verificar como o jornal é um aparato ideológico, amplamente utilizado. A análise dos artigos veiculados proporciona pistas dos pensamentos da classe que dominava o palco das discussões, neste caso específico, o positivismo7. Inserindo-se na perspectiva História 7. O positivismo surge, em fins do século XVIII-princípio do século XIX, como uma utopia crítico revolucionária da burguesia antiabsolutista, para tornar-se, no decorrer do século XIX, até nossos dias, uma ideologia conservadora identificada com a ordem ( industrial-burguesa) estabelecida. Augusto Comte é considerado o fundador do positivismo. Ele inaugura a transmutação da visão de mundo positivista em ideologia, quer dizer, em sistema conceitual e. 18.

(19) Nova, a pesquisa é um ponto de referência para trabalhos que utilizam a imprensa como fonte de pesquisa. Também pela Universidade Federal de Uberlândia, em 2002, Sirlene de Castro Oliveira, defende a dissertação de mestrado Embates entre o Ensino Religioso e o Ensino Laico na Imprensa de Uberaba, MG (1924-1934). Dividida em quatro capítulos, a dissertação constitui um estudo sobre o ensino religioso e o ensino laico em Uberaba, empreendido na imprensa, mais precisamente nos periódicos Correio Católico e Lavoura e Comércio. No primeiro capítulo, Igreja e Educação nas origens da modernidade, a autora procurou resgatar a trajetória histórica das duas instâncias diretamente ligadas ao objeto em questão, ou seja, o embate entre o ensino religioso e o ensino laico, realçando os aspectos que o circunscreveram. Com o título A laicização da educação na República Velha, o segundo capítulo procura apresentar o papel da educação em face dos interesses das instituições em questão e como a laicização implantada com a república em 1891 provocou mudanças no contexto educacional, analisa também a infiltração do pensamento liberal na educação e o acirramento dos debates entre os defensores deste e os representantes da Igreja Católica. O terceiro capítulo, Uberaba: origem e desenvolvimento, consiste na contextualização sócio-econômico-religiosa de Uberaba, com ênfase na educação e o seu processo de consolidação, bem como para a imprensa e a sua relevância no desenvolvimento local e regional. Ocupando-se da análise das publicações sobre o ensino religioso e laico, no quarto capítulo, O embate entre o ensino religioso e o ensino laico na imprensa, a autora busca enfocar as propostas para se implantar o ensino religioso nas escolas públicas, entre elas: o laicismo, o protestantismo, a liberdade de consciência, a moral, a educação e a instrução, a formação de. axiológico que tende à defesa da ordem estabelecida. O método positivo visa afastar a ameaça que representam as ideais negativas, criticas anárquicas, dissolventes e subversivas da filosofia do iluminismo e do socialismo utópico. O positivismo - em sua figuração “ideal típica” – está fundamentado num certo número de premissas que estruturam um “sistema coerente operacional”: 1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humanas; na vida social, reina uma harmonia natural.2. A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (o que classificaremos como“naturalismo positivista”) e ser estudada pelos mesmos métodos, demarchés e processos empregados pelas ciências da natureza. 3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se à observação e à explicação casual dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos e de valor ou ideologias, descartando previamente todas as prenoções e preconceitos (LÖWY, 1998, p. 17-23).. 19.

(20) professores e patriotismo. Nas considerações finais, são abordos os temas de cada capítulo e uma conclusão de cada um. A autora apresenta que o debate do estudo configura-se em um só, tanto nos dois periódicos quanto na literatura consultada, apontando um Estado laico ministrando uma educação laica. Aí se impõe a Gênese do conflito, como diz a autora, pois, legalmente, destituía-se a igreja do poder de “mestra”, o que na realidade não se efetivou. Entretanto, esta usou de todos os meios, principalmente a imprensa, para defesa de seus princípios. Todos os esforços foram revidados no sentido de se introduzir o ensino religioso nos currículos das escolas oficiais. O trabalho realizado por Sirlene de Castro Oliveira nos mostra como dois jornais, dentro de suas perspectivas ideológicas, retratam um assunto instigante no fim da Primeira e início da Nova República. Época de grandes acontecimentos e discussões, entre eles os rumos da educação, a autora embasada na Escola de Annales, analisa o posicionamento de cada jornal comparando-os. Também é um trabalho que serve de exemplo para futuras pesquisas que pretendem utilizar a imprensa como objeto de estudo. Na tese de doutorado, Imprensa Pedagógica: um estudo de três revistas mineiras destinadas a Professores, Isabel Cristina Alves da Silva Frade, pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 2000, analisa a produção mineira de três revistas pedagógicas, contrastando-as, em algumas situações, com outras revistas ou materiais pedagógicos produzidos no Brasil, tendo em vista pontos-chave como o objeto revista e sua forma de apresentação, com a descrição analítica de alguns de seus aspectos materiais e de conteúdo. São abordadas, também, algumas modalidades específicas de sua produção, circulação e venda, assim como as motivações editoriais para a sua edição, mediante a observação de elementos presentes no impresso e entrevistas com seus editores. Procura-se uma breve abordagem de algumas características de leitores-professores virtuais das revistas, bem como de alguns processos concretos de aproximação das editoras com o seu público. Busca-se, dessa forma, relacionar as modalidades de produção, o produto e seu pertencimento a determinada empresa de edição, para buscar uma visão relacional dos múltiplos determinantes que fazem com que as revistas pedagógicas sejam o que são. Assim, o estudo se localiza numa área multidisciplinar da educação, da comunicação, da linguagem, nos estudos da 20.

(21) leitura em seus aspectos sociológicos, na história do livro e das edições, na bibliografia. A convergência entre pontos de vista tão diversificados e, ao mesmo tempo, complementares, é buscada mediante o interesse pedagógico de. compreensão. da. "imprensa. pedagógica". e. de. seus. modos. de. funcionamento. Esta outra pesquisa utiliza, especificamente, periódicos de cunho educacional e, nesta perspectiva, se junta a maioria de pesquisas que utilizam a imprensa. Aborda o funcionamento da imprensa periódica, não se prendendo apenas nos discursos vinculados sobre a educação. Maria. Therezinha. Nunes. em. Gestos,. Imagens. e. Ação. das. Professoras Primárias Mineiras: uma leitura do Jornal O Diário na Greve de 1959, dissertação de mestrado defendida em 2000, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Educação, analisa, em perspectiva histórica e cultural, uma greve de professoras primárias ocorrida no Estado de Minas Gerais, em 1959. A fonte escolhida para a pesquisa foi O Diário, jornal pertencente à Igreja Católica. O objetivo era compreender o comportamento das professoras numa situação em que poderia ser percebida alguma resistência, embora aparecesse de forma ambígua e contraditória, como de fato aconteceu. Considerando a análise do discurso do jornal e a ausência de falas das próprias professoras, presumiu-se que a imprensa com freqüência apresenta sua própria versão dos acontecimentos, escolhendo e classificando os fatos. Como o jornal escolhido para a pesquisa tinha uma forma de missão pedagógica e formativa, de acordo com a ideologia e a doutrina da Igreja Católica, a interpretação do papel e comportamento das professoras só foi possível com a "leitura" das entrelinhas e omissões na narrativa jornalística. Mesmo assim, as professoras mostraram com presenças, imagens, gestos e ações, a convicção e tenacidade com que estavam dispostas a defender seus interesses e objetivos. Apesar de tudo, elas agiram como protagonistas. A dissertação de Maria Therezinha Nunes é uma fonte rica para se verificar a relação da imprensa e a ideologia dominante. Trata-se de uma pesquisa que serve de embasamento para futuros trabalhos, pois proporciona verificar o contexto histórico e os interesses da sociedade estudada.. 21.

(22) Marcília Rosa Periotto8 em A “espiral do progresso e a felicidade da nação”: a instrução do povo para o advento do trabalho livre no Brasil de 1840 a 1850, tese de Doutorado, pela Faculdade de Educação - UNICAMP, em 2001, procura discutir metodologicamente a utilização da imprensa enquanto predominantemente educativa a partir da revista O Progresso. Esta escolha se explica pelo entendimento que a pesquisadora tem de que educar é tarefa de toda uma sociedade, e se realiza através de todos os meios disponíveis. A imprensa, mais especificamente a revista O Progresso, não se limitava apenas a anunciar os problemas nacionais, mas também despontava como um dos únicos meios disponíveis para a propagação das grandes debates que versavam sobre as causas dos empecilhos que revestiam as atividades econômicas no país. A preocupação da pesquisadora durante o decorrer desse trabalho, foi demonstrar que a educação permeia os homens, mesmo antes das iniciativas educacionais propriamente ditas, moldando-lhes a vida e o pensamento, construindo o homem necessário à época a que se refere. Sendo assim, interessou-lhe demonstrar o discurso pedagógico subjacente. ao debate promovido pela revista,. e analisar o sentido. profundamente educativo exigido por uma época da história que tem a primazia da sua classe mais importante e que tão bem O Progresso soube expressar. A opção pela imprensa local, para a presente pesquisa, Estado, Ideologia e Educação no jornal “Tribuna dos Municípios” de Irati-PR (19541959), vem do pressuposto de que os meios de comunicação, através da imprensa escrita, asseguram a transmissão de informações e opiniões em função dos interesses de um grupo determinado, pois estes através das mensagens jornalísticas, “bem como os demais meios de reprodução simbólica, são “aparatos ideológicos”, funcionando se não monoliticamente, atrelados ao Estado [...]” (MELLO, 1985, p. 57), atuando, assim na consciência da sociedade. A. pesquisa, utiliza-se dos seguintes recursos gráficos para a. identificação do tipo de fonte (primária ou secundária) que está sendo utilizada:. 8. A apresentação deste trabalho está diferente dos demais, pois a professora Marcília Rosa Periotto forneceu à pesquisadora um artigo que retrata sua pesquisa e não o trabalho por inteiro, o qual contribuiu de forma expressiva, pois trata-se de uma professora da Universidade Estadual de Maringá que realiza pesquisas utilizando a imprensa.. 22.

(23) •. “itálico” - para as fontes primárias. As citações de fontes primárias. mantiveram a redação original, sem qualquer atualização ortográfica. •. “sem itálico” - para as fontes secundárias (NASCIMENTO, 2004,. p.10) O presente trabalho está estruturado em três capítulos, sendo que, no primeiro buscamos entender o posicionamento da imprensa no contexto da década de 50, tanto como aparato ideológico como também o seu processo de transição para uma época em que o país estava efetivamente inserido no capitalismo e a industrialização, bem como a modernização do país, os quais eram os objetivos do Estado. O segundo capítulo trata especificamente as discussões da época sobre a educação e o posicionamento do Estado, a partir das notícias vinculadas no jornal Tribuna dos Municípios. O terceiro capítulo traz a história do jornal Tribuna dos Municípios e os temas mais vinculados que traduzem os interesses ideológicos da época do país e o reflexo no contexto local.. 23.

(24) CAPÍTULO I ESTADO, IMPRENSA E IDEOLOGIA (1950) O único mal e a exploração do homem pelo homem; a única tarefa, instaurar uma ordem social em que não haja lugar para essa exploração; o único dever, contribuir para a luta em prol da nova ordem social; a única pauta para julgar a conduta humana, verificar se cada um contribui ou se opõe à causa [...]. (LÊNIN). A imprensa, desde sua oficialização no Brasil, em 18089, até o século XXI, vem caracterizando-se como instrumento de disseminação e manipulação de idéias. A ideologia presente nas notícias demonstra as concepções das classes que dominavam e ainda dominam o palco político, econômico e social, caracterizando-se como uma inversão de imagens e idéias que pretendem representar a realidade. Essas idéias, no imaginário social, tornam-se ideologia, dependendo do modo de produção econômica vigente na sociedade. A produção dessas idéias, das representações e da consciência está ligada diretamente com a atividade material e o intercâmbio dos homens, pois não “[...] é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.”(MARX; ENGELS, 1979, p. 26) Tais idéias representam o modo como essa realidade aparece ao homem e, se, por acaso, esta representação não demonstra a realidade efetiva é conseqüência do modo limitado de agir deste homem e das relações limitadas que surgem a partir disso. A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente; e o Ser dos homens é o seu processo da vida real. E se em toda a ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece numa câmera obscura, isto é apenas o resultado do seu processo de vida histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objectos que se forma na retina é uma conseqüência 9. A imprensa oficial surge, no Brasil, em 1808, com a vinda da Corte de Dom João VI à Colônia, quando Antonio de Araújo, conde da Barca, trouxe um material tipográfico que seria instalado no Rio de Janeiro, futura capital do Reino. (BAHIA, J. 1972, p. 106). 24.

(25) do seu processo de vida directamente físico.[...] Mesmo as fantasmagorias correspondem, no cérebro humano, as sublimações necessariamente resultantes do processo da sua vida material que pode ser observado empiricamente e que repousa em bases materiais. (Idem, p. 25). Os homens diante das limitações da sua atividade material, incapazes de resolver as contradições existentes na sociedade, projetam as formas ideológicas como soluções que disfarçam tais contradições. A ideologia, assim, é um processo de inversão e uma forma particular e intencional de interpretar a luta social. Esta inversão aparece como eterna e imutável, com o objetivo de ocultar a dominação e as divisões sociais, dando-lhe aparência de diferenças naturais, impedindo que idéias diferentes manifestem-se, pois “[...] os pensamentos da classe dominante são também em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual.” (MARX; ENGELS 1979, p. 55) Para tanto, a classe dominante a partir do poder econômico, do capital10, possibilita a difusão de suas idéias, regulamentando a produção e distribuição destas, e a sua perpetuação, dando continuidade à sua dominação, enfim, mantendo a hegemonia11. Na medida que as idéias da classe dominante são apresentadas como universais, diante do seu interesse privado, há um mascaramento das contradições presentes no contexto histórico que impede a tomada de consciência da classe dominada, permitindo com isso,. 10. Em linguagem comum, a palavra “capital” é geralmente usada para descrever um bem que um indivíduo possui como riqueza.[...] A ciência econômica burguesa amplia mais o uso desta expressão, entendendo-a também, como qualquer bem, de qualquer tipo, que possa ser usado como fonte de renda, ainda que apenas potencialmente. [...] De um modo geral, portanto, o capital é um bem que pode gerar um fluxo de renda para seu dono. (BOTTMORE, 2001, p. 44) 11 O termo hegemonia deriva do grego eghestai, que significa “condizer”. “ser guia”, “ser líder”; ou também do verbo eghemoneuo, que significa “ser guia”, “preceder”, “conduzir”, e do qual deriva “estar à frente. “comandar”, “senhor”. Por eghemonia, o antigo grego entendia a direção suprema do exército. Trata-se, portanto, de um termo militar. Hegemônico e era o chefe militar, o guia e também o comandante do exército. Na época das guerras do Peloponeso, falou-se da cidade hegemônica para indicar a cidade que dirigia a aliança das idades gregas em luta entre si. ( GRUPPI, 1978, p. 1) Qualquer definição de hegemonia é complicada pelo uso da palavra em dois sentidos diametralmente opostos: significando domínio, como em “hegemonismo”, ou significando liderança e tendo implícita alguma noções de consentimento. [...] O segundo significado é mais comum na tradição marxista. (BOTTOMORE, 2001, p. 177). 25.

(26) [...] representar o seu interesse como sendo o interesse comum a todos os membros da sociedade, ou exprimindo a coisa no plano das idéias, a dar aos seus pensamentos a forma de universalidade, a representá-los como únicos, razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos. (Idem, 1979, p. 57). É nessa falsa unificação que se processa a divisão da sociedade em classe e a dominação vinculada ao trabalho, condição necessária para a existência da ideologia que está a serviço da classe dominante. Todavia para que esta ideologia não seja desmascarada, é necessário que a distribuição destas idéias seja concretizada num conjunto organizado de instituições políticas, jurídicas, administrativas, econômicas e sociais, através de um governo e dentro de um território autônomo e independente, o Estado. Assim, o Estado não é um poder imposto, nem a imagem da moral e da razão, é sim um produto da sociedade, em certa fase de desenvolvimento, que se enredou numa contradição insolúvel consigo, em antagonismo de classe. Para que esse antagonismo -classes com interesses contrários - não se entredevorem e não devorem a sociedade, tornou-se necessário um poder pairando aparentemente acima da sociedade e que tem que abafar o conflito mantê-lo dentro dos limites da “ordem”. O Estado se caracteriza pelo agrupamento dos cidadãos de acordo com o território e a instituição de uma força pública. (MARX In. FERNANDES, 1989, p. 323) O Estado que resulta da necessidade de conter os conflitos de classe, é um órgão da dominação de classe, de submissão de uma classe para outra, o Estado da classe mais poderosa. É através das instituições no qual é organizado (políticas, jurídicas, administrativas, econômicas e sociais), que o Estado desempenha a função de organização e dominação, conforme os diferentes tipos de relações de produção. É um aparelho para o exercício de poder, no qual não visa ao interesse geral, mas sim de um grupo específico – a classe economicamente dominante e que por meio do Estado torna-se também classe politicamente dominante, com novos meios de exploração. “O poder (ou seja, o poder do Estado) também é uma potência econômica.” (Idem, 1989, p. 463) Pode-se observar a ideologia do Estado e o seu poder, muito presente na imprensa, neste texto do jornal “O Sul” - Irati-PR, quando na 1ª República. 26.

(27) disseminava-se a idéia de renovação da sociedade pela educação, e no qual o analfabetismo era a marca de entrave para o progresso, lema positivista exposto na bandeira do Brasil. FIGURA 2 Grupo Escolar Irati – PR – Jornal O Sul-1929. Fonte: Casa da Cultura Irati - PR. Na sociedade de classes, o Estado burguês12 tem a função social a cumprir: assegurar a coesão da sociedade, mantendo sob o controle o conflito entre as classes sociais antagônicas e impedindo dessa forma que tal conflito não deságüe na destruição desse modelo de sociedade. (SAES, 2001, p. 96) Tendo como suporte uma estrutura jurídica-política específica, o que torna possível esta reprodução, mantém esta organização através da criação de condições ideológicas segundo os princípios do pensamento liberal13 que será. 12. O Estado burguês opera por diferentes modos a unificação política dos agentes da produção, já isolados, no povo-nação. Isso nos permite distinguir diferentes formas de Estado burguês: a forma ditatorial, a forma liberal (representação puramente fundada no sufrágio universal), a forma fascista ou corporativa, a forma plebiscitária. Estas são as formas que o Estado burguês pode assumir numa formação social em função do nível de desenvolvimento da luta de classes. (SAES, 1985, p. 46) 13 Liberalismo - doutrina que tomou para si a defesa e a realização da liberdade no campo político. Nasceu e afirmou-se na Idade Moderna e pode ser dividida em duas fases: 1ª do sec.. 27.

(28) propulsor das idéias que reforçam a dominação sob uma aparente liberdade individual. Tais princípios trazem o indivíduo como o elemento a partir do qual se organiza o social. Cada homem individualmente tem na liberdade um direito natural que lhe garante viver e pensar da forma como queira. Para tanto, a sociedade é organizada a partir de regras e normas consensuais criadas pelo e para os indivíduos. O direito natural é institucionalizado no Estado por obra da organização dos indivíduos livres, com direitos e deveres civis, isto é com leis. O princípio deste direito burguês é a igualdade aos desiguais, e para tanto, o Estado cria condições ideológicas para a reprodução das relações de produção capitalista14, enfim uma forma para que esta produção continue ocorrendo. Nesta perspectiva, capitalismo utiliza-se do discurso democrático, da individualização e da meritocracia15- um dos principais princípios da ideologia liberal- criando a ilusão de que as oportunidades são iguais para todos, a ilusão de que triunfam os melhores, os mais “econômicos”. (MELLO; NOVAIS,1998, p. 581) No liberalismo, o Estado tem por finalidade organizar o poder político e propiciar as condições para o livre desenvolvimento das atividades dos cidadãos, individualmente ou organizados conforme interesses comuns. A visão liberal clássica separa o Estado da sociedade civil, considerando-a esfera exclusiva da política, enquanto que a sociedade civil seria o espaço das atividades econômicas e sociais. Assim sendo, essa sociedade não pode intervir nos mecanismos administrativos do Estado, em contrapartida, o Estado XVIII, caracterizada pelo individualismo, 2ª do séc. XIX, caracterizada pela estatismo. (ABBGANANO, 2003, p. 604) 14 Capitalismo – Denominação do modo de produção em que o capital, sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção. O capital pode tomar a forma de dinheiro ou de crédito para compra da força de trabalho e dos materiais necessários à produção, a forma de maquinaria física (capital em sentido restrito), ou , finalmente, a forma de estoques de bens acabados ou de trabalho em processo. Qualquer que seja a sua forma, é a propriedade privada do capital nas mãos de uma classe, a classe dos capitalistas, com a exumação do restante da população, que constitui a característica básica do capitalismo como modo de produção. (BOTTOMORE, 2011, p. 51) 15 Em uma meritocracia o indivíduo é considerado como tendo “livre escolha”, capaz de ir tão alto quanto sua motivação, desejo e habilidade o levem. Um indivíduo que não alcance o sucesso só tem a si próprio para culpar, dede que não tirou vantagens dos meios a ele disponíveis. Estas são crenças profundamente arraigadas. Não é surpreendente que aqueles que conseguem sucesso em qualquer sociedade, orientem seu pensamento para louvar o sistema que lhes permitiu vencer, antes do que para questioná-lo ou condená-lo. (ROSSI, 1978, p. 71). 28.

(29) não interfere nas atividades sócio-econômicas, restritivas à esfera privada. (OLIVEIRA, 2001, p. 111-148) Diante disso, fazendo-se valer dos interesses da classe dominante, a transformação jurídica – política do Estado é condição necessária ao modo de produção capitalista, pois através desta transformação irá legalizar, administrar e regular a luta de classes, assegurando a ordem social, onde o [...] Estado não é mais do que a forma de organização que os burgueses constituem pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os seus interesses, tanto no exterior como no interior. [...] Sendo portanto o Estado a forma através da qual os indivíduos de uma classe dominante fazem valer os seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil da época, concluise que todas as instituições públicas têm o Estado como mediador e adquirem através dele uma forma política. Daí a ilusão de que a lei repousa sobre a vontade e, melhor ainda sobre uma vontade livre, desligada de sua base concreta. (MARX; ENGELS, 1979, p. 95). Nessa organização, o Estado, além de ser instrumento de dominação e exploração, contribui para reprodução das relações de produção, através de suas instituições, os aparatos ideológicos. E para que haja a continuidade do capitalismo, a reprodução das relações de produção que se coloca na sociedade dividida em classe é fator primordial, para qualquer [...] que seja sempre a forma social do processo de produção ele tem de ser contínuo ou periodicamente percorrer, novamente, as mesmas fases. Assim como uma sociedade não pode parar de consumir, também ela não pode parar de produzir. Todo o processo social de produção, considerado na sua continuidade e no constante fluxo de sua renovação, é, portanto, ao mesmo tempo, processo de reprodução. (MARX In. FERNANDES, 1989, p. 376). São os aparelhos ideológicos atrelados ao Estado, independente de sua forma, que contribuem para a reprodução das relações de exploração capitalista, utilizando-se assim de outros meios para disseminar as idéias dominantes. Designamos pelo nome de aparelhos ideológicos do Estado um certo número de realidades que apresentam-se ao observador imediato sob a forma de instituições distintas e especializadas. [...] podemos, pelo momento, considerar como aparelhos ideológicos do Estado as seguintes instituições (a ordem de enumeração não tem nenhum. 29.

(30) significado especial): aparelho religioso (o sistema das diferentes igrejas), aparelho escolar (o sistema das diferentes “escolas” públicas e privadas), aparelho familiar, aparelho jurídico, aparelho político (o sistema político, os diferentes Partidos), aparelho sindical, aparelho de informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.), aparelho cultural (Letras, Belas Artes, esportes, etc.). (ALTHUSSER, 1985, p. 68). Neste sentido, a imprensa e os demais meios de reprodução simbólica, incluída nestes a educação, são instituições que estarão a serviço da classe dominante, e esta só conseguirá a hegemonia se exercer poder nas instituições que fazem parte do Estado. Todos os aparelhos ideológicos do Estado concorrem para a reprodução das relações de produção e Cada um deles concorre para este resultado de maneira que lhe é própria. O aparelho político sujeitando os indivíduos à ideologia política do Estado, a ideologia “democrática”, “indirecta” (parlamentar) ou “directa” (plebiscitária ou fascista). O aparelho de informação embutindo, através da imprensa, do rádio, da televisão, em todos os “cidadãos”, doses quotidianas de nacionalismo, chauvinismo, liberalismo, moralismo, etc. (ALTHUSSER, 1980, p. 78). A imprensa no Brasil, como aparelho ideológico, mais especificamente o jornal, desde o absolutismo expresso na imprensa áulica16 da fase imperial, passando pelas idéias liberais republicanas, o imperialismo americano e o capitalismo através das publicidades até a censura com o golpe militar, tornouse um órgão vivo do movimento das idéias conforme o contexto histórico, visto nas notícias, nos editoriais, publicidades e artigos. Este é um veículo de informação, como também porta voz do pensamento dominante que utilizou forma direta ou indireta o jornal. A imprensa tem um papel fundamental na formação de opiniões, expressando os projetos político-ideológicos da elite para o país. Procurando sedimentar tais idéias dentro da sociedade, transformando seus interesses em interesses gerais, criando uma ideologia própria, a oligarquia e a grande imprensa acabam utilizando-se dos mais diversos meios para isso, dos diretos aos indiretos.. Áulico - Próprio de cortesão. FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. A imprensa áulica “[...] deveria ser imparcialmente a favor do absolutismo e constituir-se em órgão de sua louvação.” (SODRÉ, 1999, P. 29) 16. 30.

(31) 1.1- A imprensa na década de 50: uma instituição em transição A imprensa, representada pelo jornal, tem a função de ultrapassar os interesses de ocultar os fatos e sim de dizer primordialmente e efetivamente a verdade, pois é “[...] o cão-de-guarda público, o denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade.”(MARX, 1980, p.68) É função primordial da imprensa perseguir sempre a verdade, porém diferente desse modo de conceber o sentido da imprensa, as notícias por ela organizadas, são como um véu espesso que as impedem de revelar a verdade. Eu, de minha parte, asseguro-lhes, cavalheiros, eu prefiro acompanhar os grandes acontecimentos mundiais, analisar o rumo da história, do que pelejar com ídolos locais, com policiais, com tribunais. Não importa o quanto esses cavalheiros podem se considerar grandes em suas próprias imaginações, eles não são nada, absolutamente nada nas titânicas lutas dos dias de hoje. Considero um verdadeiro sacrifício quando decidimos medir forças com estes oponentes. Mas, de uma vez por todas, é o dever da imprensa tomar a palavra em favor dos oprimidos à sua volta [...]. O primeiro dever da imprensa, portanto, é minar todas as bases do sistema político existente. (Idem, p. 70). Esse véu espesso foi bem utilizado pela classe dominante que, no decorrer dos anos, usufruiu do poder ideológico da imprensa para revelar seus interesses a partir dos discursos veiculados, das publicidades, bem como pela repercussão das notícias. Nos jornais de cada época, podem-se observar as contradições existentes e o caráter ideológico disseminado por um grupo social numa sociedade determinada. Usufruindo então do poder da informação e da opinião que lhe é peculiar, a imprensa foi palco de idéias e concepções vinculadas à elite capitalista e ao Estado burguês, pois mesmo que a intenção fosse de se posicionar contra, esta dependia da regularização do Estado que não mediu esforços para mostrar sua força e sua ideologia, até mesmo com repressão. Na década de 50 e após a II Guerra Mundial17, as mudanças ocorridas relacionadas com o momento histórico, político e econômico, no qual o Brasil 17. A Segunda Guerra Mundial aconteceu de 1939 a 1945. A contribuição à tensão das décadas de 20 e 30 deve-se à emergência dos Estados Unidos como potência, transformada no. 31.

(32) estava passando, entre elas a industrialização, urbanização e a influência do capitalismo americano, obriga o jornalismo tomar novas formas de veiculação. Diante disso, novas técnicas jornalísticas de origem norte americana foram sendo implantadas nos periódicos brasileiros. Entregando-se aos ditames do capitalismo de uma sociedade que se inseria em novos padrões de consumo, os jornais - agora dependentes do mercado e visando lucro - deixam seu caráter opinativo e literário para informativo e empresarial, dando prioridade à notícia em detrimento à opinião. Esse jornalismo de opinião tinha forte influência francesa e foi dominante desde os primórdios da imprensa brasileira até a década de 60. Foi gradualmente substituído pelo modelo norte americano: um jornalismo que privilegia a informação e a notícia e que separa o comentário pessoal da transmissão objetiva e impessoal da informação. (RAMOS, 1996, p. 15). Com a dependência do mercado, os periódicos são obrigados a ficar mais interessantes ao maior número de leitores e conseqüentemente ao maior número de eleitores. Sendo assim, foi necessário organizar formas de levar as notícias, o marketing das empresas, as promoções, os classificados, enfim a ideologia capitalista, mais rapidamente à população e com maior objetividade. Inicia-se a era jornalística da produção em escala industrial e empresarial. Com a passagem gradativa de um jornalismo de opinião para um jornalismo informativo, o próprio veículo é reformulado: aumenta o número de páginas cobrindo os eventos cotidianos; artigos, até então curtos e numerosos, cedem lugar às informações selecionadas; os debates filosóficos e literários que eram numerosos declinam e passam a ocupar as páginas das edições de domingo; temas como moda, restaurantes, consumo, agora suplantam as informações sobre eventos culturais; e, por fim, a divisão entre informação e opinião, procurando garantir um tipo de escrita normativa e analítica em detrimento das opiniões mais pessoalizadas. (ORTIZ, 2001, p. 193) principal pólo do desenvolvimento capitalista mundial. O socialismo triunfante da União Soviética também teve seu papel no crescimento das tensões do período ao provocar um clima de ameaça aos poderes constituídos, nas nações capitalistas, levando-as, muitas vezes, a políticas internas e externas contra o que chamavam de “perigo vermelho”, buscando conter o avanço das idéias socialistas. As dificuldades financeiras, as divergências ideológicas e as ameaças nazifacistas geraram tensões entre os diversos países, os quais, incessantemente, procuravam aparelhar-se militarmente. No final dos anos 30, impasses sucessivos entre as potências, em função especialmente da expansão territorial da Alemanha nazista, desembocaram no mais violento conflito da História: a Segunda Guerra Mundial. (VICENTINO, 1994, p. 179). 32.

(33) O jornal de opinião, então, ficava relegado aos pequenos jornais das cidades do interior, que ainda utilizavam, em seus artigos, opiniões pessoalizadas como é o caso do Jornal de Irati a Tribuna dos Municípios, o qual demonstra a seguinte posição em relação à função da imprensa: Faz-se mister na vida de todos os municípios progressistas, órgãos de imprensa que sintonizem todas as suas energias, que ascultem todos os seus problemas, que faça público e defenda todos os seus interêsses18 (Tribuna dos Municípios, 24-05-1954).. Como também denuncia como esta tem se colocado diante dessa função em uma época em que o jornalismo é reformulado: A imprensa afastada de suas verdadeiras finalidades, procura sensacionalismo para levar escândalos de tôda a sorte, contados nos seus mínimos detalhes, para dentro dos lares brasileiros. (Tribuna dos Municípios - 13-06-1954). Os jornais passam por um momento de transição nos grandes centros urbanos, enquanto no interior do Brasil, ainda existiam os pequenos jornais de caráter opinativo, dependente dos favores do Estado, de pequenos anúncios populares e da publicidade de lojas locais. Entretanto, por mais que mantivessem as características opinativas estes já demonstravam as conseqüências do capitalismo nas publicidades das grandes redes de empresas, que teria sua concretização até os anos 60. FIGURA 3 Propaganda Ford – Tribuna dos Municípios-23-05-1955. Fonte: Casa da Cultura - Irati- PR 18. Os fragmentos de notícias estão digitados na íntegra.. 33.

(34) Nos grandes centros, a imprensa já com estrutura empresarial, vai demonstrar. com. evidência,. influências. do. imperialismo. americano,. principalmente nas publicidades que mantêm os jornais em circulação. O grande interesse sobre o modelo americano, principalmente sob a inspiração do cinema, teve presente nas cidades, tanto aos olhos dos “inferiores” como do consumo moderno dos “superiores”, dos ricos e privilegiados. (ALMEIDA, 1998, p. 605) Esses jornais, nos anos que se seguiram, dependiam das grandes agências de publicidades estrangeiras para manter a sua circulação. As propagandas. de. grandes. redes. e. as. reportagens. antinacionalistas19. demonstram o quanto a imprensa estava dependente dos ditames capitalistas. Nesse ideário, no qual a industrialização e o desenvolvimento econômico seriam “a ordem do dia” nos discursos políticos, a imprensa tentou garantir o seu trabalho e em certos casos usufruindo o seu poder de persuasão para criticar governos e ao mesmo tempo apoiarem ideais contrários ao nacionalismo. Por trás de toda a publicidade, colocava-se a questão de sobrevivência dos periódicos, as suas condições materiais e a dependência das agências de publicidade que direcionavam o caminho que deviam seguir, era o imperalismo americano na imprensa. Consagrava-se a época das grandes corporações que viriam a manipular as opiniões na imprensa com campanhas gigantescas e reduzir a possibilidade de multiplicação de jornais resumindo-se as grandes empresas, dependentes do papel importado e das agências estrangeiras de publicidade e de notícias. Era a ideologia do capitalismo estrangeiro sendo disseminado nas publicações jornalísticas, tanto em artigo que implicitamente lançavam mão de idéias do liberalismo econômico como nas propagandas de grandes empresas estrangeiras. A imprensa, que até os anos 30-40 dependia de favores do Estado, de pequenos anúncios populares ou domésticos e da publicidade das lojas comerciais. Nos anos 50 começaram os investimentos no setor. 19. A corrente de pensamento de maior influência nos anos 50 foi a nacionalista. A tese central dos nacionalistas apoiava-se na possibilidade de desenvolvimento independente do Brasil através da industrialização comandada pela burguesia e por capitais nacionais. Isto, no entanto, não significava uma aversão absoluta ao capital e tecnologia estrangeiros, aceitos na medida em que se submetessem ao controle nacional. (RODRIGES, 1992, p. 20). 34.

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