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A vida universitária e a socialização estudantil: relação entre estudantes de pedagogia e outros cursos da UFRN

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Academic year: 2021

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MARÍLIA DO VALE GÓIS PACHECO MEDEIROS

A VIDA UNIVERSITÁRIA E A SOCIALIZAÇÃO ESTUDANTIL: RELAÇÃO ENTRE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA E OUTROS CURSOS DA UFRN.

Dissertação apresentada como requisito de conclusão do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Medeiros, Marília do Vale Góis Pacheco.

A vida universitária e a socialização estudantil: relação entre estudantes de pedagogia e outros cursos da UFRN / Marília do Vale Góis Pacheco Medeiros. - Natal, 2020.

152 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Adir Luiz Ferreira.

1. Sociologia da educação - Dissertação. 2. Socialização universitária Dissertação. 3. Vida universitária estudantil -Dissertação. I. Ferreira, Adir Luiz. II. Título.

RN/UF/BS Moacyr de Góes CDU 37.064.3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

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MARÍLIA DO VALE GÓIS PACHECO MEDEIROS

A VIDA UNIVERSITÁRIA E A SOCIALIZAÇÃO ESTUDANTIL: RELAÇÃO ENTRE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA E OUTROS CURSOS DA UFRN.

Dissertação apresentada como requisito de conclusão do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Adir Luiz Ferreira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (Professor Orientador)

Profa. Dra. Georgina Gonçalves dos Santos Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

(Examinador Titular Externo)

Profa. Dra. Elda Silva do Nascimento Melo Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

(Examinadora Titular Interna)

Profa. Dra. Maria Sacramento Aquino Universidade do Estado da Bahia - UNEB

(Examinador Suplente Externo)

Profa. Dra. Rosália de Fátima e Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (Examinadora Suplente Interna)

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AGRADECIMENTOS

Quando eu estava no final da minha graduação e pensando sobre a decisão de fazer ou não a seleção do mestrado, o meu professor orientador da Iniciação Científica (IC), professor Adir, olhou para mim e, percebendo a minha incerteza, disse que acreditava em mim, achava que eu era uma boa aluna e que seria uma boa pesquisadora, portanto, gostaria de me ter por perto. Porém, com um olhar dolorosamente sincero, Adir me disse que mais do que tudo, gostaria de me ver feliz e que se eu decidisse tomar outros caminhos, ele iria sentir minha falta, mas preferiria ver a minha felicidade. Naquele instante eu segurei as lágrimas, agradeci por tanto e por tudo e disse que iria pensar bem e fazer aquilo que me deixasse feliz.

Ao fim destes dois anos de mestrado, com o coração leve e seguro, posso dizer que eu fui feliz ao fazer tudo isso. Muito feliz. E por isso, agradeço tanto a todos que, direta ou indiretamente, ajudaram a fazer feliz esta jornada.

A todos que ao longo do semestre 2017.2 participaram do grupo de estudos da seleção do mestrado do Programa de PósGraduação em Educação (PPGED) -UFRN, 2018. Sem vocês, nada teria sido tão divertido ou tão possível.

Ao grupo do Trilhas Brasil - Moçambique, que, durante o mesmo período de 2017.2, partilhou comigo todas as longas etapas de seleção, torceu por mim e me proporcionou um das experiências mais incríveis de toda a minha vida, a qual foi muito importante para que eu pudesse a aprofundar os estudos sobre a socialização. A todos do Educandário Nossa Senhora das Graças, em Afonso Bezerra

-RN, que em janeiro e fevereiro de 2018, me acolheram na minha primeira experiência de trabalho temporário fora da cidade. Agradeço especialmente a Alacoque e sua família, Chica, Neta, Márcia, Andressa, Andreíse e minha amada amiga Laurinha. A experiência de viver o dia a dia do sertão me construiu como alguém que busca pesquisar com atenção e satisfação a vida humana.

À UFRN e ao PPGED, pela excelência. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), sou grata por ter sido bolsista durante o primeiro ano de mestrado e fazer o uso do recurso para chegar em experiências complementares que não teriam sido viáveis sem esse financiamento.

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A todos que fazem as secretarias do PPGED, do Centro de Educação, do curso de Pedagogia e aos funcionários terceirizados que colaboram e alegram os dias no nosso ambiente. Também aos professores que me deram aula e, especialmente, à Marta Pernambuco (em memória) que me deu a enorme honra de participar de sua última aula e o grande prazer de receber o seu carinho e aprender tanto mesmo em tão pouco tempo como sua aluna. Aos professores Moisés Sobrinho e Valter Pinheiro pelas contribuições no TCC e apoio para ingresso no mestrado; à professora Rosália, por sua entrega e dedicação em disciplinas e nos seminários de pesquisa; à professora Elda, pela contribuição nos seminários de pesquisa e, principalmente, por me dar confiança em seguir; à professora Alda Castro e ao professor Rubens Marimbondo por acreditarem em mim e apoiarem meu intercâmbio. E ao auxílio financeiro da Pró-reitoria de Pesquisa (PROPESQ) na viagem à França.

Aos professores de francês, Laurence e Philippe.

Aos professores e amigos que me ensinavam paralelamente, e faziam da realidade mais bela e suportável, com a arte, com a música, Rener Fraga e Ivson Martins (este um grande menino amigo meu) muito obrigada!

Aos amigos que tornaram o processo da pós graduação menos solitário e mais amoroso. Manoilly, Andrialex, Mariana, Felipe, Fabiana e Diego muito obrigada! Aos incríveis que tanto me ajudaram, suportaram e impulsionaram, especialmente na reta final, Marcos, Romão, Cadu, Artemisa, Louise. Nós somos os “Firulas” mais talentosos!

Às meninas tão amorosas do grupo de pesquisa Escola Contemporânea e Olhar Sociológico (ECOS), agradeço carinhosamente pelos momentos de estudo, de solidariedade e de partilha. O apoio de vocês é fundamental, Ana, Liana, Luciana, Maria Izabel, Dani, Dayse, Gisele, Franklandia, Patrícia, Natália, e Juliana.

Em especial, à Juliana eu gostaria de demonstrar minha gratidão por tamanha amizade, parceria, amor, confiança e muito mais do que as palavras podem demonstrar. Partilhar as aventuras da vida ao seu lado é muito bom!

Ao professor Saeed Paivandi, que com sua serenidade e entusiasmo, acreditou em mim, me acolheu, me ensinou e com muito carinho me deu e continua

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me dando grandes oportunidades de desbravar o mundo que habita em mim, na ciência e nas relações sociais.

Ao acolhimento, carinho e amor que inimaginavelmente recebi em Nancy. Audrey e sua família, as crianças, Gauthier, Lucas e Clara, Martine e seu marido, os quais me acolheram como uma verdadeira família; toda a turma do segundo ano do mestrado em educação da Université de Lorraine - Nancy, particularmente Amandine, Tristan, Mélody, Clémentine, Mehdi, pelo carinho e acolhimento especial; Mila, Geneviève, Rosa e todos os outros alunos das turmas de francês e inglês, que foram tão amorosos e alegres. Jéromine, que tanto me ensina com seu olhar peculiar de estudante e suas conversas filosóficas.

Separadamente, agradeço a Anaelle, pela amizade, receptividade, orientação, carinho e por ter aprendido e ensinado tão bem a palavra “saudade”! E ainda mais especialmente a Marisa e Ibrahima pela bela, valiosa e constante amizade, que não conhece a barreira da distância, da língua, da cultura ou qualquer de outra coisa para se manter viva e deixar a vida mais bonita.

Ao amigo, professor e orientador Adir! Obrigada por tudo, obrigada por toda sensibilidade nos momentos de dificuldade, obrigada por me colocar em situações em que a única saída era ser uma melhor pesquisadora, melhor estudante, melhor profissional e melhor ser humano. Agradeço por me dar abertura para as minhas “doideras artísticas”, por me suportar e impulsionar, por apostar em mim e me ajudar a ir longe sem esquecer de tudo que foi preciso para isso. Gratidão por ser um “painho” acadêmico e por toda bonita parceria. Gratidão por fazer com que todos os verbos conjugados na primeira pessoa do plural desta jornada sejam verdadeiros. Sem conseguir ter mais palavras para me expressar, muito obrigada!

Àqueles que, paralelamente, dentro da UFRN, marcaram a minha trajetória como estudante de mestrado. Às equipes do Trilhas Potiguares - Serra Negra do Norte (2018 - 2019) e Totoró (2019) agradeço por tanta alegria, energia e por permitirem meu aprendizado sobre a história e a realidade da nossa gente. Tenho uma gratidão especial pelo professor Márcio Vieira, por Adri, Adson, Fernanda, Kilia, Pati, Mayra, Flora, Leylane, Alyrson, Rebeca, Francimar e minha grande amiga Bel. Além de ter uma gratidão enorme pela grande amizade, pelos ensinamentos e calor

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Ao grupo Capoeira Brasil, coordenado pelo contra-mestre Sidarta Ribeiro, que na reta final me acolheu com entusiasmo e alegria, me relembrando que há muito o que aprender na vida.

A todos que fazem o Projeto Acalanto Natal e particularmente àqueles que compõem a diretoria geral da instituição, por me permitirem ajudar na transformação de vidas e na construção de um mundo melhor. Mas agradeço especialmente às crianças e adolescentes acolhidos, que sem o aconchego de uma família, me abraçaram, sorriram, choraram, confiaram e me fizeram persistir, ter coragem e esperança.

Aos meus amigos, minha segunda família! Dentre eles, Ayrthon e família, pela inevitável parceria e papel nessa caminhada, Karol, Lucas, Paulinho e madrinha Taciana e Daniel pela presença constante. Aos Safos, André, Isis e Cris, pelo apoio. À Sarah por ter me acolhido nos primeiros segundos do intercâmbio e ter me apresentado Paris. Aos “Squares” (Anny, Nayara, Tiago, Kauê, Laysla, Katyanna, Viktor e Amanda), família de alma, agradeço profundamente o apoio.

À toda minha família amada, de sangue e coração. Cito Thor, meu amigo de 4 patas, companheiro de sempre que me faz sorrir genuinamente todos os dias. Ulla, tia de coração, que me acolheu com todo o amor do mundo em sua casa na chegada no intercâmbio e que me faz sentir um amor muito puro. Meus tios paternos e maternos, por acreditarem em mim, e especialmente àqueles que estão sempre muito próximos, Herlon e Veneide, Hérbert e Cecília, Socorro, João Bosco (em amor), Mônica, Antônio José e Maria das Graças, também minha grande madrinha. Agradeço por serem felizes com minha felicidade, por me apoiarem, por me educarem, por me amarem. Aos meus primos pela parceria, especialmente meus quase irmãos Paulo Rafael e Paulo Victor. Ao meu amado avô Severino Viana, que tanto me apoia e me ensina sobre a importância de ser uma mulher com direitos respeitados. E aos meus pais, Maria do Socorro e Hélcio… para quem não existem palavras para agradecer, por tudo, por tanto, por terem me ajudado sempre, terem dado condições favoráveis para este trabalho, terem me apoiado, por me educarem na fé e no amor, por tanto e muito mais do que posso dizer. Por me amarem.

Por fim, porque também é início, agradeço a Deus e aos Seus! Por tudo que é Inefável...

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RESUMO

O contexto das constantes transformações e ampliações da Educação Superior brasileira impele cada vez mais um olhar atento a esse meio, às suas características e seus integrantes. Nesse sentido, este estudo debruça-se sobre a socialização dos estudantes universitários, especificamente, dos que estão na formação de professores, no curso de Pedagogia; e tem como principal objetivo compreender, através das falas dos estudantes de Pedagogia da UFRN (curso presencial do campus Natal), como a socialização com estudantes de outras áreas os influenciam nas suas próprias jornadas universitárias. O principal lócus da pesquisa foi a UFRN, mas também a Université de Lorraine, campus Nancy, foi um importante espaço de investigação e compreensão de conceitos fundantes para o estudo. A partir de noções da fenomenologia social, desenvolveu-se uma abordagem metodológica qualitativa e também criativa, com elementos da etnometodologia e, especialmente da entrevista compreensiva. Inicialmente, foi aplicado um questionário com 80 estudantes (pouco mais de 10% do total) com matrícula ativa no período 2018.1 do curso de Pedagogia - UFRN Natal para levantamento de dados sobre a socialização desses estudantes com os demais de outros cursos. Desse grupo de respondentes do questionário, 12 foram selecionados, a partir de diversos critérios, para serem entrevistados. Ao longo das entrevistas foram utilizadas fotografias de diferentes espaços da UFRN como ferramenta para melhor compreensão da trajetória desses estudantes na universidade. Essas entrevistas, junto às observações, possibilitaram a elaboração de cinco elementos interpretativos, sendo esses: tempo, direcionamento, percurso, companheiros e “espírito viajante”. Esses elementos revelaram que a socialização dos estudantes de Pedagogia com os de outros cursos depende, em alguns momentos, do tempo disponível, da idade desses estudantes, da frequência de contato com o ambiente universitário; está relacionada ainda aos objetivos de vida, pessoais e acadêmicos; tal qual como com a própria relação com os espaços da universidade e com o que eles podem proporcionar; com as experiências vivenciadas junto aos demais colegas e professores; e com a própria postura de engajamento com essas relações, sejam elas mais localizadas aos estudantes da Pedagogia, mais disponíveis ou como desbravadoras das relações com os estudantes de outros cursos. Compreendeu-se, por fim, que a socialização entre estudantes de Pedagogia e de diferentes cursos corrobora tanto para um aprendizado ético de respeito e tolerância com os diferentes, quanto para o reforço e reconstrução identitária do estudante e do próprio curso a partir das experiências acadêmicas partilhadas.

Palavras-chave: Sociologia da Educação. Socialização Universitária. Etnometodologia e educação. Interciência e Ensino Superior. Jornada universitária estudantil.

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ABSTRACT

The brazilian Higher Education context is been changing and growthing in the lasts decades and propels an attentive view to this environment, its features and members. For that matter, this study elaborate on university students socialization, specifically on those who are in the initial teacher training, on Pedagogy formation; and the main purpose of this research is to comprehend, by UFRN’s Pedagogy students speech, how the socialization between them and with other university formations students might influence their own universitary journeys. The main locus of this investigation was the UFRN, but also the Université de Lorraine (France), Nancy campus, was an important space to search and comprehend founding concepts. Based on social phenomenological ideas, a qualitative and creatif methodological approach was developed, with some elements from the ethnomethodologie and the comprehensive interview. At first, a questionnaire about the socialization between the Pedagogy students and others courses students was applied to 80 Pedagogy students (around 10% of the amount) enrolled in the semester 2018.1. By differents standards, 12 of those 80 students were selected to the interview and over this methodological strategy photography pictures were utilized as a tool to figure out the trajectory of those students at the University. Combined, the interview and the observations, could help to elaborate five interpretatives elements which are: time, direction, path, partners and “trip mood”. Those elements show that socialization between Pedagogy students and others students depends, in some moments, on the time availability, on the age of these students, on the frequency of getting in touch with the University environment; is related to personals and academical aims; linked to college spaces and to what they can provide; associated to experiences with professors and others students; and also to attitude of involvement with these relations, more localized in Pedagogy formation, or availables or like pathfinders of relations with others formations students. At last, was comprehended that the socialization between students of Pedagogy and with differents others formations contributes to ethical learning of respect and tolerance to distincts, as much as to strengthen and to rebuild the student identity and also the identity of owner formation from academic shared experiences.

Key-words: Sociology of Education. Socialization in Higher Education. Interscience and Higher Education. Ethnomethodology and education. University’s student journey.

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RÉSUMÉ

Le contexte d'élargissement et des constantes transformations dans l'Éducation Supérieure brésilienne incite de plus en plus un regard attentif pour ce l'environnement, ces caractéristiques et ses membres. En ce sens, cette étude s’agit sur la socialisation des étudiants universitaires, spécifiquement, des étudiants qui se préparent pour être professionnels de l’éducation, au cours de Pédagogie ; et le principal but c’est de comprendre à travers des discours des étudiants de Pédagogie de l’UFRN, comment la socialisation avec les étudiants des autres cours peuvent influencer leurs journées universitaires. Le principal locus de la recherche a été l’UFRN, mais aussi l’Université de Lorraine, campus Nancy, a été un important lieu d’investigation et compréhension des concepts de base de la recherche. Depuis des notions de la phénoménologie sociale, une approche méthodologique qualitative et créative a été développé, avec des éléments de l’ethnométhodologie et, spécialement de l’entretien compréhensif. Initialement, un questionnaire a été appliqué avec 80 étudiants (un peu plus que 10% du total) du semestre 2018.1 du cours de Pédagogie pour savoir plus sur la socialisation de ces étudiants avec les autres d’autres courses. De ce groupe, 12 ont été sélectionnés pour l’entretien, dans lesquelles la photographie a été utilisée comment un outil pour mieux comprendre la trajectoire de ces étudiants dedans l’université. Les entretiens avec la collaboration des observations ont possibilité l'élaboration de cinq éléments d'interprétation : temps, direction, parcours, camarades et “l'esprit voyageur”. Ces éléments montrent que la socialisation entre les étudiants de Pédagogie avec des autres des différentes courses dépend, quelquefois, du temps disponible, de l'âge des étudiants, de la fréquence du contact avec l'environnement universitaire ; est aussi lié aux buts de vie et académiques ; à la relation des étudiants avec les espaces de l’université e avec ce qu’ils peuvent offrir ; aux expériences vécues proches de professeurs et collègues ; et avec l’attitude d’engagement dans les relations, que soient-elles plus localisées aux collègues de la Pédagogie, plus disponibles ou des éclaireurs des relations avec des étudiants d’autres courses. Enfin, a été compris que la socialisation entre les étudiants de Pédagogie et d’autres cours coopère pour l'apprentissage éthique de respect et tolérance avec les différents, et aussi pour renforcer et reconstruire l’identité éthique d'étudiant et aussi du cours lui-même, au travers des expériences académiques partagées.

Mots-clés : Sociologie de l'Éducation. Socialisation universitaire. Ethnométhodologie et éducation. Interscience et Enseignement Supérieur. Journée universitaire de l'étudiant.

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LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Ingresso dos estudantes de pedagogia - UFRN. Por ano e período.

...49

Gráfico 02 - Escolha do curso de Pedagogia como primeira opção…...50

Gráfico 03 - Estudantes que já pensaram em fazer outro curso…...51

Gráfico 04 - Áreas de interesse dos estudantes…...52

Gráfico 05 - Estudantes com experiências em outras graduações…...53

Gráfico 06 - Contato com estudantes de outros cursos…...54

Gráfico 07 - Espaços de criação com estudantes de outros cursos…... 55

Gráfico 08 - Experiências acadêmicas com pessoas de outros cursos…...56

Gráfico 09 - Nuvem de palavras: interesses para além da Pedagogia GC…...81

Gráfico 10 - Nuvem de palavras: interesses para além da Pedagogia GF…...81

Gráfico 11 - Nuvem de palavras: pessoas conhecidas de outros cursos GC…...82

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 01: Sorbonne Université…...67

Fotografia 02: Humboldt-Universität zu Berlin…...67

Fotografia 03: Ceres Currais Novos…...70

Fotografia 04: Centro de Ciências da Saúde…...70

Fotografia 05: Centro de Biociências…...71

Fotografia 06: Escola de Música…...71

Fotografia 07: Departamento de Artes…...72

Fotografia 08: Centro de Ciências Humanas Letras e Artes…...72

Fotografia 09: Centro de Ciências Sociais Aplicadas…...73

Fotografia 10: Centro de Ciências Exatas e da Terra…... 73

Fotografia 11: Escola de Ciência e Tecnologia...74

Fotografia 12: Centro de Tecnologias…... 74

Fotografia 13: Centro de Educação…...75

Quadro 01: critérios gerais de seleção de entrevistados…...77

Quadro 02: relação dos entrevistados com os espaços da UFRN…...83

Quadro 03: informações básicas de cada entrevistado…...84

Esquema 01: guias de interpretação…...131

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO…...16 2. JORNADA SOCIAL E UNIVERSITÁRIA: UMA EXPLORAÇÃO TEÓRICA

2.1 - A socialização como elemento fundamental da jornada da vida social…... 22 2.2 - A Universidade e sua identidade: mais um espaço de socialização…... 29 2.3 - Uma nova Universidade para um novo mundo: a expansão universitária brasileira e suas adaptações à realidade contemporânea…...35

2.4 - Interdisciplinaridade como experiência

social… 40

3. UM PERCURSO METODOLÓGICO CRIATIVO E SEUS DADOS 3.1 - Compreendendo o campo: o questionário como

bússola…... 46 3.2 - Além dos números: a observação participante e a lógica

universitária…...57 3.3 - Observando a arquitetura universitária e utilizando a fotografia como elemento metodológico…...64 3.4 - As entrevistas e o desvelamento dos viajantes…...75 4. A SOCIALIZAÇÃO ESTUDANTIL COMO BAGAGEM INDISPENSÁVEL

PARA EXPLORAR A UNIVERSIDADE

4.1 - O tempo: os tempos dados e os tempos construídos no ambiente universitário…...88 4.2 - Os mapas: os direcionamentos e interesses estudantis na Universidade…... 96 4.3 - O percurso: por onde a experiência universitária acontece para os estudantes…...102 4.4 - A tripulação: a viagem com companheiros de outras terras e outros mares…...115 4.5 - “Espírito viajante” do estudante universitário ao longo de seu

percurso estudantil: localista, turista e

andarilho…...128 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS…...139 6. REFERÊNCIAS…...142

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1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação, resultante de uma pesquisa de mestrado, teve sua inquietação originária numa vivência pedagógica estudantil inusitada ocorrida numa escola pública estadual da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, em 2016. Nessa experiência, estudantes de Pedagogia e de Ciências Biológicas realizaram uma intervenção com alunos de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental sobre o tempo. Para substituir o relatório entregue aos professores da universidade sobre a intervenção, os então graduandos produziram um documentário protagonizado pela fala e reflexão das crianças sobre a temática trabalhada.

Eu fui uma das estudantes que participou dessa experiência e como integrante do grupo de pesquisa Escola Sociológica e Olhar Contemporâneo (ECOS), busquei analisar a atividade em meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o foco da socialização universitária.

Este processo me conduziu à elaboração de um projeto de pesquisa de mestrado cujo foco estava voltado a compreender o papel da Universidade para a socialização entre estudantes de Pedagogia e os de outras licenciaturas, para se pensar, assim, a temática da socialização universitária no contexto da formação de professores.

Todavia, ao longo da pesquisa, respostas nos questionários aplicados nas turmas de Pedagogia, observações e vivências junto aos estudantes me conduziram a uma mudança de perspectiva. Compreendi que uma visão mais abrangente sobre o papel da Universidade estava imbricada na vivência desses estudantes, que cada um iria experimentá-la de forma diferente e que o foco na socialização com estudantes de outras licenciaturas poderia ser limitante. Diante disso, surgiu de forma mais clara, a questão de fundo desta pesquisa:

Como a socialização com estudantes de outras áreas influencia a jornada universitária dos estudantes de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)?

Portanto, diante da questão de fundo e tendo como base princípios da fenomenologia sociala qual salienta que

[...] todas as explicações científicas sobre o mundo social podem, e para determinados propósitos devem, referir-se ao significado

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subjetivo das ações dos seres humanos a partir do qual tem origem a realidade social (SCHUTZ, 2012, p. 297),

e que esses significados subjetivos são relativos a cada ator social, o objetivo desta pesquisa é:

Compreender, através das falas dos estudantes de Pedagogia da UFRN (curso presencial do campus Natal), como a socialização com estudantes de outras áreas os influenciam nas suas próprias jornadas universitárias.

Junto a esse objetivo central, estão também os objetivos específicos, os quais colaboram para o percurso da pesquisa e para chegar ao objetivo:

- identificar interesses e interações de pessoas de Pedagogia com estudantes de outros curso;

- reconhecer a influência institucional da UFRN para a socialização dos estudantes de Pedagogia com os de outros cursos;

- entender como os estudantes de Pedagogia percebem a sua relação com pessoas de outros cursos na UFRN.

A fim de responder a esses objetivos, questionários, observações e entrevistas foram feitos. Esses procedimentos metodológicos por sua vez, inspiraram e conduziram a construção desta dissertação, em todos os seus capítulos. Nesse sentido, o texto traz consigo algumas peculiaridades ao longo dos próximos três capítulos. No início de cada subitem, são apresentados relatos impressionistas sobre uma experiência de intercâmbio internacional que vivenciei na minha jornada de mestrado. O intercâmbio aconteceu entre os meses de janeiro e fevereiro de 2019 na cidade de Nancy, na França, mais especificamente, na Université de Lorraine, no Laboratório Interuniversitário de Ciências da Educação e da Comunicação (LISEC). Durante esse período de intercâmbio fui co-orientada pelo professor Saeed Paivandi, que desenvolve largos estudos sobre a socialização universitária na França e em outros países.

Esses relatos são chamados de “impressionistas” porque “[...] a arte impressionista foi conspiradora contra a ordem estabelecida, uma rebelião viva, disfarçada na sutileza poética da expressão. Falava da natureza, da vida amena em sociedade, da intimidade, de aspectos superficiais urbanos, da paisagem” (REIS, 1999, p. 22) e não mais da nobreza, não mais de forma a tentar reproduzir fielmente

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a realidade. Assim, esses relatos têm a intenção de partilhar as experiências e reflexões facilitadas pelo intercâmbio e também imergir o leitor na essência da reflexão que segue no subitem.

De forma geral, os próximos capítulos os quais antecedem as considerações finais estão organizados, respectivamente, em uma discussão teórica que embasa a construção científica da resposta à questão de fundo da pesquisa (capítulo 2); uma exposição da construção metodológica da pesquisa e dos dados preliminares (capítulo 3); e uma elaboração interpretativa das falas dos estudantes.

No capítulo 2, discute-se, basicamente quatro grandes ideias que facilitam a compreensão da jornada humana e universitária em aspectos de sociabilidade, de peculiaridade do ambiente acadêmico, do contexto contemporâneo das Instituições de Ensino Superior (IES), e da complexidade do conhecimento.

Para a discussão da socialização como elemento fundamental da jornada de vida social, estabeleceu-se um diálogo com autores como Alfred Schutz (2012), Zygmunt Bauman e Tim May (2010), Berger e Luckmann (1997), Pierre Bourdieu (1983), Richard Sennett (2012) e François Lyotard (1986). No concernente à discussão sobre a identidade universitária como espaço de socialização, fez-se uso dos importantes achados de Adir Ferreira (2014), Saeed Paivandi (2015), Alain Coulon (1997), Entwistle (1986), Lizzio, Wilson e Simons (2002). Para discussão sobre as exigências contemporâneas que pesam sobre as Universidades e sobre como, especialmente as IESs brasileiras, buscam uma correspondência com essa realidade, apoiou-se nas discussões de François Lyotard (1986) novamente, e, principalmente de Cabral Neto e Alda Maria Castro (2018), Joseneide Santos e Cabral Neto (2010), Maria Goretti Barbalho e Alda Maria Castro (2010), Adir Ferreira (2019) e Saeed Paivandi (2019). Por fim, para discutir sobre a complexidade do conhecimento e sobre a interdisciplinaridade como experiência social, tomou-se como apoio Ivani Fazenda (2008) e Akiko Santos (2008). No quarto subitem do capítulo ainda foi trazido um novo termo que diferencia-se de “interdisciplinaridade”, trazendo uma noção mais fluida para essa ideia, o termo “interciência”; um neologismo cuja intencionalidade está disposta a pensar as interações entre estudantes de diferentes cursos para além das estruturas disciplinares, mas pensá-las como experiência social de interação de saberes.

(20)

O capítulo 3 também está disposto em quatro subitens, os quais corroboram para discussão sobre um percurso metodológico criativo e seus dados. No primeiro deles mostram-se os resultados do questionário, que foi o primeiro procedimento metodológico desta pesquisa. O questionário foi aplicado com 10% dos estudantes com matrícula ativa no curso de Pedagogia presencial, campus Natal, da UFRN, no semestre de 2018.1. Os dados desse questionário revelaram dados interessantes sobre a abertura e disponibilidade dos estudantes de Pedagogia para o curso e também para outras áreas do conhecimento, bem como revelam uma significativa quantidade de estudantes vindos de outras experiências, em outros cursos no ensino superior (parciais ou integrais). No segundo subitem, debruça-se com mais afinco no intercâmbio na Université de Lorraine, onde o percurso metodológico assumiu um aspecto mais etnográfico. Observações em salas de aula, participação em turmas de mestrado, entrevistas informais e visitas a alguns espaços diversos da Universidade francesa foram alvo dessa segunda etapa metodológica. O terceiro subitem diz respeito à construção de uma estratégia metodológica criativa para a construção do próximo procedimento metodológico, as entrevistas. A partir da experiência na França. Surgiu-me o desejo de utilização de imagens da UFRN ao longo da elaboração da entrevista, assim essa estratégia consistiu na produção e uso de fotografias de diferentes espaços da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) durante as entrevistas com os estudantes. Essa estratégia apoiou-se na reflexão sobre a relação entre a arquitetura das universidades e socialização, bem como sobre a função social da fotografia. Por fim, no quarto subitem, são apresentados, de forma geral os 12 estudantes que se disponibilizaram a participar das entrevistas e “emprestar” suas perspectivas sobre a Universidade para o desenvolvimento desta pesquisa. Os 12 entrevistados dividiram-se em 2 subgrupos, um Grupo Foco (GF) e outro Grupo Controle (GC); os integrantes do GF foram 8 estudantes os quais apresentaram maior interação com pessoas de outros cursos em suas respostas no questionário, já os integrantes do GC foram 4 estudantes que não apresentaram interação com pessoas de outros cursos em suas respostas no questionário. Essa subdivisão foi feita para que a compreensão sobre a socialização dos estudantes de Pedagogia com os de outros cursos pudesse ser feita de forma

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passou por critérios como de tempo de curso, gênero e experiência anterior em outros cursos.

Antes de chegar às elaborações das considerações finais, no capítulo 4 são tecidas as interpretações, baseadas nas falas dos estudantes, que encaminham as noções de resposta para a questão de fundo deste estudo de mestrado e contribuem para a compreensão da socialização estudantil como bagagem indispensável para se explorar a Universidade. Na elaboração dessas interpretações usou-se uma metáfora de viagem, de jornada universitária. Percebeu-se que nessa viagem haveria cinco linhas de orientação, no sentido de guias de interpretação:

Tempo, no qual inserem-se elementos como a idade, a disponibilidade e também as socializações e adaptações contínuas que acontecem nos diversos espaços do meio ambiente universitário;

Direcionamento, que relaciona-se com “onde” se quer chegar com a experiência universitária, mais como resultado acadêmico situacional e pessoal do que no sentido espacial ou curricular. Este, por sua vez, apesar de ser sempre flexível, em função da Universidade ser espaço de construção criativa do futuro, mostrou a possibilidade de ser mais focado numa área ou mais adaptativo aos conhecimentos e curiosidades que surgem no caminho;

Percurso, o qual pode ser feito por diversos espaços pelos estudantes, tanto de maneira paroquial e centrada no seu curso, quanto de maneira extensiva por outros “lugares de saber”;

Companheiros, no qual inserem-se as socializações, sobretudo, com outros estudantes, através de atividades de ensino, pesquisa, extensão e convívio extra acadêmico, as quais podem acontecer de forma mais paroquial, no próprio curso, ou de forma mais extensiva, com estudantes de outros cursos;

Espírito viajante, que numa integração das outras quatro linhas

interpretativas interpretativos anteriores, relaciona-se à postura assumida pelo estudante perante a sua jornada universitária, e foi construído em três grandes perfis: localista, turista e andarilho.

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Assim está disposto o texto desta dissertação de mestrado na qual a vivência dos estudantes que, de alguma forma, passaram pelo processo investigativo deste estudo, ajuda a compreender um pouco mais a Universidade e a perceber qual a relevância da socialização estudantil para a vivência da jornada universitária.

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2. JORNADA SOCIAL E UNIVERSITÁRIA: UMA EXPLORAÇÃO TEÓRICA 2.1. A socialização como elemento fundamental da jornada da vida social

Inicialmente, pela natureza da pesquisa, cujo cerne está na socialização entre estudantes universitários, é importante apresentar algumas ideias que serão balizadoras para a discussão do tema e do objeto de estudo em si, a socialização dos estudantes de Pedagogia com os de outros cursos. Essas ideias circundam noções sobre os aspectos da sociabilidade humana, das peculiaridades do contexto e da historicidade do meio ambiente universitário e também da interdisciplinaridade como experiência social.

Falar sobre os aspectos sociais, relacionais e coletivos dos seres humanos como indivíduos e membros de grupos e de uma sociedade, por sua vez, é demandar do leitor e de quem escreve um relativo chamado, relato ou retomada narrativa (em algum grau), sobre as próprias experiências individuais e aquelas de outros, as quais, segundo Alfred Schutz (2012) estão, inevitavelmente, inseridas no mundo social no qual o ser humano nasce.

Com essa inspiração analítica, além do relato da minha vivência na UFRN, como estudante e pesquisadora, trago também o primeiro, de uma série de relatos impressionistas sobre a minha experiência na Université de Lorraine, em Nancy, na região francesa da Alsace-Lorraine. A partir dos relatos sobre uma estadia acadêmica nesta universidade, de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019, umas das mais modernas na França contemporânea, busquei trazer a genuinidade da vivência que ambienta a reflexão sobre a socialização como elemento fundamental da jornada da vida social humana.

Era uma tarde ainda um pouco cinza no meio da semana, eu e Ibra (colega da turma do mestrado) nos encontramos para irmos resolver umas coisas no centro da cidade e aproveitamos para almoçar fora da universidade. Depois que saímos do almoço em que meu sanduíche (é, sentia saudades de feijão todos os dias) tinha um pão absurdamente duro que nos fez rir o almoço inteiro, na volta para universidade conversamos sobre a vida, o universo e tudo mais. Ibra me contou que estava se dispondo a ser meu amigo, pois sentiu muita falta disso quando ele chegou (seu país de origem é a Guiné). Ele disse que se sentia isolado e que depois encontrou algumas pessoas (uns amigos que ele partilhou comigo também) que fizeram isso com ele. Pessoas que se dispuseram a

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ser amigas dele. E porque pessoas o acolheram, ele acolhia também as outras pessoas. Eu agradeci e acrescentei à reflexão uma coisa que vivenciei numa das aulas de inglês em que ia fazer observação: num dia, a professora separou uns papéis com palavras que deveriam sugerir um tema sobre o qual cada um deveria falar. Num dos papéis tinha escrito a palavra “família”, uma das alunas pegou e, simplesmente, começou a chorar. Ela morava distante da sua família, de seus amigos e contou como era difícil permanecer nessa situação, disse, inclusive, como era difícil ter forças para estudar assim. Ibra comentou que era isso mesmo, que era muito difícil até mesmo ter forças para seguir os sonhos e planos sem amigos ao lado. Eu agradeci mais uma vez a parceria e amizade, mas nós dois sabíamos que podíamos nos compreender e conectar para muito além do que conseguiríamos falar.

A intensidade das emoções que surgem quando se pensa sobre a importância e o papel das pessoas e das relações em nossas vidas, evidencia o fato de sermos, ao mesmo tempo, seres individuais e inteiros em nós mesmos, e também coletivos, interligados e acrescidos pelos outros.

Os eventos e processos da vida dos indivíduos, por mais particulares e íntimos que possam parecer e inclusive ser, são também, em algum grau, permeados, influenciados e delineados pelas interações e relações estabelecidas entre os indivíduos e seus semelhantes.

Nessa teia complexa de relações entre humanos, para Schutz (2012, p. 181) “Não poderíamos ser pessoas para os outros, nem mesmo para nós mesmos, se não pudéssemos encontrar um ambiente comum como contrapartida da interconexão intencional de nossas vidas conscientes”. Sendo assim, acrescentam Berger e Luckmann (1997, p. 240) que o ser humano é “[...] biologicamente predestinado a construir e habitar um mundo com os outros”.

Perante essa predestinação ou, simplesmente, condição sem escapatória da vida humana, a via pela qual podemos existir como tal dentro dessa premissa é a via da socialização. É através da socialização que aprendemos a ser com os outros. Para Zygmunt Bauman e Tim May (2010, p. 32)

O processo de formação de nosso self e de como nossos instintos podem ou não ser suprimidos costuma ser denominado socialização. Somos socializados – transformados em seres capazes de viver em sociedade – pela internalização das coerções sociais. Considera-se que estamos aptos para viver e agir em grupo quando adquirimos as

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somos considerados livres para assumir a responsabilidade de nossas ações

Para os autores, portanto, o processo que nos torna preparados para agir com certa segurança nos grupos é o processo de socialização; e este ainda é um processo de formação não apenas para atuação em conjunto, mas também um processo de formação individual e de condução consciente dos impulsos pessoais para a vida coletiva. A socialização está também na base da construção da minha subjetividade, pois esta experiência de convívio com os outros e com a sociedade genérica é a matéria vivida, como costumes e valores comuns, de onde provêm as minhas interpretações próprias sobre o mundo e a minha existência dentro dele.

Não obstante, exatamente por ser um processo, a socialização não se configura como um estado acabado ao qual se espera que os indivíduos de uma sociedade possam eventualmente atingir, como uma condição estável e definitiva.“A socialização nunca cessa em nossas vidas. [...] os sociólogos distinguem estágios de socialização [...] que produzem formas de interação complexas e transformadoras entre liberdade e independência” (BAUMAN; MAY, 2010, p. 34)

Nessa dinâmica, a socialização também pode ser entendida “[...] como a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela” (BERGER; LUCKMANN, 1997, p. 175). Sendo, pois, esse um processo contínuo em diversos setores da sociedade, a qual reúne subjetiva e objetivamente momentos e elementos propulsores e condicionadores da socialização.

De acordo com o olhar de Berger e Luckmann (1997), as socializações acontecem num determinado e específico contexto da estrutura social, a qual abarca três importantes momentos para essa estrutura; são esses: exteriorização, objetivação e interiorização.

No curso dialético da vivência social, esses momentos não seguem uma linearidade temporal, mas entremeiam-se. Assim, a exteriorização está ligada às intencionalidades vindas dos indivíduos nos atos sociais; a objetivação relaciona-se com a concretude desses atos, experienciada pelos atores sociais; e a interiorização, cuja compreensão é fundamental para uma maior apreensão da socialização, constitui-se como a base primeira “[...] da compreensão de nossos

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semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo como realidade social dotada de sentido” (BERGER; LUCKMANN, 1997, p. 174).

Nessa perspectiva, para os autores, a interiorização é um momento fundamental da vivência social para que um indivíduo compreenda a realidade do grupo, de seu próprio grupo, e possa, finalmente, virar membro dele. Afinal, apenas quando se atinge um grau mais elevado e profundo de interiorização é que uma pessoa pode ser considerada membro efetivo de um grupo, de uma sociedade (BERGER; LUCKMANN, 1997).

Logo, torna-se evidente que não se nasce como um membro pronto para a sociedade, se nascendo com um potencial para ser, mas é preciso tornar-se (BERGER; LUCKMANN, 1997). Todavia, uma vez membro e tendo uma interiorização da sociedade, da identidade e da realidade, a socialização não se faz para sempre e nem por completo, “A socialização nunca é total nem está jamais acabada” (BERGER; LUCKMANN, 1997, p.184).

Ter atingido um certo grau de maturidade social dentro de um grupo, porém, implica na maior liberdade de ação dentro dele, uma vez que já existe uma série de experiências e aprendizados acumulados acerca da dinâmica que se vive nesse espaço social. Contudo, apesar de existir essa maior liberdade para um membro de um grupo, Bauman e May (2010) advertem que essa liberdade também é delimitada pelo próprio grupo, o qual ensina e contorna desejos, comportamentos e ações uns dos outros. Logo, a liberdade dos membros de uma sociedade tem um custo e está atrelada às circunstâncias em que essa liberdade é vivenciada.

O que se vive, portanto, dentro da experiência social, é uma tensão entre liberdade e dependência, que implica uma constante negociação entre seus membros e impele também às constantes transformações desse espaço social (BAUMAN; MAY, 2010). No sentido desse movimento constante de transpassar e construir fronteiras para as liberdades individuais, Bauman e May (2010, p. 35) alertam que a intensidade de transpassar ou construir essas fronteiras são variantes para diferentes grupos sociais;

Podemos dizer que a proporção entre liberdade e dependência é um indicador da posição relativa ocupada na sociedade por uma pessoa ou por toda uma categoria de pessoas. O que chamamos de

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Por conseguinte, aqueles que possuem uma posição mais privilegiada perante à sociedade, têm maior possibilidade de ir além das fronteiras delimitadas pelo grupo, sendo o oposto para aqueles que estão numa posição de menor privilégio. Nesse sentido, acrescendo às interpretações sobre essas fronteiras e limitações sociais, Pierre Bourdieu (1983) considera que para interpretar a realidade social, tanto há o aspecto subjetivista, em que a sociedade constrói-se a partir das representações e vivências dos indivíduos, quanto há o aspecto objetivista de que os indivíduos são plasmados por essa sociedade.

Então, dessa forma, nem totalmente frutos da sociedade, nem total construtores desta, os indivíduos, em um movimento de interiorização da exterioridade (das lógicas sociais) e de exteriorização da interioridade (de suas individualidades e peculiaridades de vivenciar o mundo), constroem um escopo individual e coletivo, o qual Bourdieu denomina de Habitus. E é a partir dessa coexistência nas práticas sociais comuns que Bourdieu propõe a noção de Habitus, como base da vida social cotidiana.

O Habitus, por sua vez, está construído e impregnado nas essências, nos corpos e nas vivências dos indivíduos e grupos; ele “[...] traduz estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é também um meio de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas” (VASCONCELLOS, 2002, p. 79); o Habitus é a história feito corpo. E cada corpo, cada ser é agente de sua história, da história de seu grupo, ao mesmo tempo em que as suas ações estão atadas às distintas heranças sociais (VASCONCELLOS, 2002).

O elo do ser humano com essas heranças, para Bourdieu, é muito intenso e faz com que a reprodução social aconteça de forma sutil e avassaladora. Até mesmo os gostos, as preferências e as escolhas, para o autor, são influenciadas pelas pertenças (reais ou desejadas) aos grupos sociais (VASCONCELLOS, 2002).

Apesar de ainda destacar, em maior parte, o aspecto determinista da sociedade, Bourdieu não desconsidera as possibilidades de trânsfugas; nem muito menos considera que essa forte relação grupal e histórica do ser humano é, de todo, limitante da pessoa. Afinal, para além de ter um aspecto determinante da própria condição humana, as interações que os indivíduos estabelecem uns com os outros

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podem atingir patamares de benefícios e satisfação pessoal os quais não conseguiriam ser atingidos isoladamente.

Nessa perspectiva, Richard Sennett (2012) destaca a dimensão da cooperação como um elemento importante na experiência grupal humana. Para ele, “A cooperação lubrifica a maquinaria necessária para fazer as coisas e a coparticipação pode compensar aquilo de que carecemos individualmente” (SENNETT, 2012, p. 10)1. Assim, “Em poucas palavras, a cooperação podedefinir-se como um intercâmbio no qual os participantes obtêm benefícios do encontro”. (SENNETT, 2012, p. 18)2.

Desse modo, mesmo diante das já fadadas co-dependências vividas na coletividade, é possível encontrar nessa mesma experiência coletiva elementos que acrescentem e ampliem a experiência de vida individual.

Sendo assim, quando os atores sociais interagem em um intercâmbio dialógico os interlocutores tomam maior consciência de seus pontos de vista próprios e aumentam sua compreensão mútua. Esse processo é capaz de, ao mesmo tempo, produzir conhecimento e prazer nos que dele participam, sem exigir uma adaptação de um ao outro (SENNETT, 2012).

Dessa forma, os seres humanos dialogam entre si, se enriquecem einteragem sem, necessariamente, gerar uma adaptação e padronização para a unificação. Essa possibilidade de intercâmbio dialógico, portanto, torna-se fundamental nas sociedades mais complexas nas quais coabitam pessoas de diversas etnias, religiões, sexualidades, organizações familiares, costumes evalores.

Para Sennett (2012, p. 16)3

Forçar a toda essa complexidade a encaixar-se em um único molde cultural seria politicamente repressivo e uma falácia a respeito de nós mesmos. O ‘eu’ é um complexo de sentimentos, afiliações e comportamentos que raras as vezes se ajustam claramente entre si; qualquer chamamento à unidade tribal minará esta complexidade pessoal.

Portanto, padronizar os atores das sociedades é restringir a complexidade das próprias sociedades em si, comprometendo, inclusive, a sua dinâmica contemporânea, a qual está calcada na heterogeneidade dos seus elementos

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(LYOTARD, 1986). É na pluralidade, nos seus mais diversos âmbitos, que se constitui boa parte do quadro social atual. Logo, compreender como esses diversos dialogam (ou não) entre si, é compreender a dinâmica e a tônica do tempo presente nos mais variados âmbitos e instituições.

De algum modo, este trabalho busca compreender um fragmento dessa dinâmica dialógica entre indivíduos de diferentes “tribos” em um só espaço; uma vez que se debruça sobre essas questões perante uma instituição complexa em sua natureza, vanguardista e também conservadora, cujo papel e importância são substanciais para a história, cultura e economia da sociedade atual: a Universidade.

E em termos gerais da socialização, voltar os olhos para a instituição universitária, é voltar-se para um estágio característico de socialização; diferenciado, por exemplo, do estágio da socialização primeira que acontece na infância de uma pessoa.

Dentro dessa perspectiva, Berger e Luckmann (1997), indicam dois significativos e delineados processos de socialização: socialização primária e socialização secundária. A socialização primária caracteriza-se por ser “[...] a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, e em virtude da qual tornar-se membro da sociedade” (BERGER; LUCKMANN, 1997, p. 175). Já a socialização secundária “[...] é qualquer processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade” (BERGER; LUCKMANN, 1997, p. 175), impulsionando esse sujeito a interiorizar “submundos” institucionais e adquirir conhecimentos e habilidades específicas (BERGER; LUCKMANN, 1997).

Os autores explicam ainda que a socialização secundária é menos firmemente arraigada nas estruturas psíquicas e mentais do que a primária. Isso, por sua vez, possibilita uma maior flexibilidade nas relações e nas próprias estruturas institucionais. Eles ressaltam também a existência da ressocialização, a qual difere da socialização secundária por configurar-se como uma reconstrução da realidade (BERGER;LUCKMANN, 1997). Ao ressocializa-se o indivíduo reinventa o mundo e a si mesmo.

Portanto, ao trazer essas noções para a cenário no qual se desenvolve esta pesquisa, torna-se notável que o ambiente universitário é um espaço onde pessoas,

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no fim da sua adolescência ou já adultas, se veem na proeminência de uma nova socialização. A Universidade, como instituição de estímulo à produção cultural e científica, de formação de profissionais de diversas áreas, será um “submundo” institucional no qual os novos integrantes terão de viver uma secundária socialização; e terão também possibilidades de se reinventar, se ressocializar.

2.2. A Universidade e sua identidade: mais um espaço de socialização

Uma nova socialização que acontece no ambiente universitário, bem como se dá em qualquer outro espaço, é, em muitos aspectos, delineada pela própria estrutura institucional, pelas relações estabelecidas com os pares, com a própria dinâmica do espaço e pelo caminho que cada pessoa pode e deseja traçar.

A forma como essas relações se estabelecem e o caminho que cada indivíduo assume, porém, não é, simplesmente, uma postura ou colocação unilateral de cada um. A experiência com os outros, de algum modo, nos constrói e delineia os nossos caminhos sem que, algumas vezes, tenhamos consciência disso. A organização e as estruturas da instituição, por sua vez, têm também poder de influenciar a maneira como as relações se estabelecem e os percursos individuais são traçados.

Nessa perspectiva, apresento o segundo relato impressionista da minha experiência na Université de Lorraine, que nos ambienta na noção de como a Universidade e sua identidade característica, que podemos considerar como comum no ambiente acadêmico do Brasil e da França, é o de ser esse espaço de socialização, no qual as relações que estabelecemos conduzem nosso percurso na instituição.

Depois de uma observação numa aula sobre educação especial, uma menina resolveu falar comigo e me pediu um contato para que a gente pudesse se comunicar. A menina era Marion, uma jovem muito simpática de 21 anos, estudante do terceiro ano de psicologia. Ela me enviou um e-mail dizendo que, provavelmente, eu só devia estar vendo coisas adoráveis sobre a universidade e a socialização dos estudantes, mas que, se eu quisesse, ela poderia conversar comigo sobre muitas coisas não positivas que aconteciam por lá. Diante do desejo dela de falar e da minha curiosidade, não pude recusar. 7 dias depois, nos

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Ela disse que sonha em ser professora e explicou que, geralmente, quem cursa ciências da educação, tem que, antes, no primeiro ano, fazer outro curso, como história, letras, psicologia… inclusive, psicologia e ciências da educação, parece o caminho mais comumente traçado pelos alunos. E assim Marion pretendia fazer. Porém, ao longo desse primeiro ano de curso, Marion encontrou com pessoas com quem teve inimizades e isso a fez permanecer em psicologia, já que essas outras pessoas partiram para ciências da educação. Hoje, Marion ainda lida com essas pessoas em aulas coletivas, como foi a de educação especial, e ainda vive momentos ruins. Ela contou que no dia da aula, por exemplo, duas meninas chutaram, por trás a cadeira dela, só porque ela tinha se virado para pedir silêncio. Os planos de Marion são de traçar outros caminhos mais difíceis para chegar ao seu sonho. E isso me fez pensar profundamente como as relações podem influenciar as trajetórias universitárias e de vida uns dos outros. Parei para me questionar o quanto meu percurso é audácia minha e influência dos outros… Intrigante, né?!

Muitos estudantes, ao longo da jornada acadêmica, podem não perceber a influência que os colegas (e também professores) exercem sobre o seu percurso e escolhas acadêmicas e até mesmo profissionais e pessoais. Mas essa influência existe.

E todas essas relações se passam num meio ambiente universitário muito característico, cuja história construiu as atuais estruturas que comportam os integrantes dessa instituição (professores, alunos, funcionários administrativos, etc.) e suas relações.

A Universidade que conhecemos hoje no Brasil é reflexo de um longo percurso histórico e as marcas desse percurso são, inevitavelmente, partícipes da vivência estudantil.

As universidades brasileiras são hoje baseadas em 3 grandes pilares: o ensino, a pesquisa e a extensão. Todavia, nem todas as universidades no mundo são assim e nem mesmo a própria Universidade nasceu com todos esses pilares no Brasil.

Historicamente, temos o registro de que ainda antes de Cristo, com outra estruturação, surgiu uma instituição semelhante ao que chamamos hoje de Universidade, em Alexandria, em uma cultura bem distinta da nossa sociedade ocidental contemporânea. Mas a primeira instituição universitária cujo modelo foi o

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berço do que conhecemos hoje, foi a de Bolonha, fundada em 1088, seguida pela de Paris (BORTOLANZA, 2017).

Nesse período inicial a relação das universidades com o poder da Igreja, o qual se fundia com as outras formas de poder das sociedades européias da idade média, era bastante intensa e o foco das atividades universitárias era o ensino.

Um só pilar, o do ensino, sustentou a Universidade do século XI até o século XIX, quando surgiu a moderna pioneira Universidade de Humboldt, em Berlim, na Alemanha. Esse novo modelo direcionava o foco universitário para uma formação pela ciência e para a pesquisa (PAIVANDI, 2015).

Já a extensão universitária dá os seus primeiros sinais no fim do século XIX, na Inglaterra, espalha-se um pouco pela Europa, mas só com uma experiência nos Estados Unidos, junto ao governo de Theodore Roosevelt, no início do século XX, é que a extensão universitária passa a ter mais prestígio e visibilidade (PAULA, 2013).

E assim, aos poucos, nasceram os 3 grandes pilares que compõem o que conhecemos hoje como a nossa universidade. Portanto, diante desse percurso histórico, nos parece evidente que alguns desses pilares tenham mais espaço e prestígio do que outros, e que, também naturalmente, ocupem maior ou menor espaço na vivência estudantil. Hierarquicamente, nas universidades brasileiras, de forma geral, o ensino e a pesquisa têm maior prestígio social do que a extensão, por exemplo.

Porém, o que é indubitável é que, para um estudante, a entrada num ambiente tão histórico e complexo como é a universidade, se configura como uma “aventura”, um desafio diante da sociedade e de si mesmo. Para o iniciante da vida universitária, esta nova instituição é um novo mundo a se desbravar.

Esse é um novo espaço que

“[...] constitui um momento crucial na construção de um tipo de aprendizado complexo, variado, pensado em função de uma articulação de diferentes tipos de saberes e de suas mobilizações posteriores nas situações reais”4(PAIVANDI, 2015, p. 10)

Ou seja, quando se entra na universidade, é preciso aprender muito sobre diversas coisas e ainda vislumbrar o processo explícito de formação para o exercício

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profissional a partir desses conhecimentos. Em acréscimo a isso, a entrada no ambiente universitário ainda exige significativa autonomia para que esses diferentes saberes sejam mobilizados, articulados e direcionados. Mas essa consciência se inicia com um choque inicial, pois é preciso efetuar uma rápida mudança no status de educando, do ambiente escolar do ensino médio, como estudante imaturo e tutelado para a autodeterminação do estudante universitário autônomo. E disso decorre um sentimento de incapacidade que precisa ser superado. “Passada a euforia pelo ingresso no curso superior, os estudantes têm a impressão de que foram ‘promovidos’ para um nível avançado de incompetência escolar” (FERREIRA, 2014, p. 117) e nessa nova jornada, o estudante descobre e constrói um novo mundo e um novo si mesmo, uma nova identidade.

Nesse mesmo sentido, segundo Saeed Paivandi (2019), os estudos feitos por diversos pesquisadores em diversos países apontam que a saída do ensino médio e a entrada no ensino superior, especialmente nas universidades, é uma ruptura no plano cognitivo e grande desafio enfrentado pelos estudantes.

Ainda com essa mesma perspectiva de carreira de estudante, Alain Coulon (1997) identificou um claro processo de adaptação e afiliação do novo estudante no meio universitário. Para ele, inicialmente, os novos estudantes passam por uma série de rupturas simultâneas diante de seus antigos hábitos escolares; diante de sua vida familiar; da sua organização do tempo, que agora implica e permite muito mais autonomia; da sua relação com o espaço, o qual é infinitamente maior do que as salas e corredores das escolas de ensino médio; das regras, que são mais complexas do que nas escolas; e das relações com os saberes, os quais são mais complexos em si mesmos e ainda estabelecem uma relação com uma atividade profissional futura. Enfim, perante tudo isso, Coulon (1997) denomina essa fase inicial como o tempo de estranhamento.

Num segundo momento, Coulon (1997), diante de seus estudos, indica que acontece um período doloroso, feito de dúvidas e incertezas. Nele o estudante não tem mais, tão fortemente, as memórias do seu passado escolar, mas também ainda não vislumbrou o futuro mais claramente. É um estágio de aprendizado complexo e indispensável para a sua passagem para a vida universitária mais ampla, e a esse período o autor denomina como tempo de aprendizagem.

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Por fim, viria, para o autor, um tempo de maior segurança diante da vivência institucional e da desistência, por exemplo, viria o momento da agregação, da passagem definitiva para um novo status, reconhecido não apenas por uma matrícula ativa, mas por pares, o status de: estudante. Viria, então, para Coulon (1997, p. 2), “[...] a maneira pela qual qualquer pessoa adquire um novo status social”: a afiliação; portanto, esse novo tempo é o chamado tempo de afiliação. E este é o “ponto de chegada” desejado, pois segundo o autor, “[...] a entrada na universidade de nada serve se ela não é acompanhada de um processo de afiliação”. Diante desse processo afiliativo que os estudantes fazem, os autores especialistas ainda nos evidenciam que existe todo um contexto universitário cheio de nuances próprias que fazem esses processos serem ainda mais característicos diante dos demais processos sociais.

Paivandi (2015) faz uma breve retrospectiva de como o contexto universitário é esboçado na pesquisa internacional e levanta alguns pontos fundamentais desse cenário. Um deles é que a percepção e a apreciação estudantil são elementos importantes no engajamento intelectual significativo e também numa implicação mobilizadora. Nesse sentido, Lizzio, Wilson e Simons (2002, p. 28) reforçam ainda que “[...] é a percepção estudantil de seu meio ambiente de aprendizagem, diante de suas motivações e expectativas, que determina como os fatores situacionais influenciam as abordagens de aprendizagem e os resultados dessa aprendizagem”5.

Outro elemento levantado na breve revisão feita por Paivandi (2015) é o dessa aprendizagem não ser, simplesmente, um processo cognitivo, nem o estudante reduzido a um ser discreto e estático. Ferreira (2014) acrescenta ainda que o processo de aprendizagem é indivisível em seus aspectos subjetivos, individuais e os aspectos sociais e culturais. Portanto, a abordagem fomentada pelos professores pode influenciar de forma direta como os estudantes aprendem (PAIVANDI, 2015).

Por fim, Paivandi (2015) ressalta ainda que os autores os quais se debruçam a pensar o ensino superior evidenciam uma contribuição intensa e positiva (não apenas, simplesmente, única) para permanência, sucesso e adoção de uma

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abordagem mais autônoma e cooperativa de aprendizagem, dos laços e das relações dos estudantes com o meio ambiente de estudos e, especialmente com seus pares.

Para além desses elementos do ambiente mais geral do ensino superior, para nós também é importante destacar que dentro desse contexto, e diante desses diversos elementos, os estudantes desenvolvem diferentes tipos de abordagens de aprendizado. Para Entwistle (1986), por exemplo, existem três grandes diferentes tipos: a superficial, a profunda e a estratégica. A abordagem superficial estaria ligada ao foco na atividade e na memorização mecânica; a abordagem profunda seria ligada a uma compreensão intencional com busca ao significado subjacente das coisas estudadas; e a abordagem estratégia se configura como uma mescla entre ambas, com diferentes ênfases em diferentes circunstâncias.

Esses aprendizados, por sua vez, acontecem todos num meio ambiente pedagógico, o qual, segundo Paivandi (2015), divide-se em três níveis e possui quatro grandes componentes. Para o autor, os três níveis que compõem o meio ambiente pedagógico são: o meio global da universidade, com suas dimensões históricas, disciplinares, sociais, culturais e simbólicas (1); a categoria do próprio departamento ou curso, podendo ser em níveis de pós graduação, bacharelado ou licenciatura, tecnólogo, técnico, etc (2); e o microcontexto das componentes curriculares, em aspectos de diálogo, tensão, cooperação, respeito, direito de cometer erros, descoberta de si, responsabilidade, autoconfiança, avaliação, engajamento, que compõem o meio ambiente pedagógico local (3).

Ainda para Paivandi (2015), os quatro grande componentes desse ambiente pedagógico são: o conteúdo, composto pelo programa, exercícios propostos, tipos de saberes ofertados e o próprio conteúdo (1); a concepção de ensino, que se expressa também na natureza e no tipo de avaliação, nas condições materiais e nas técnicas e métodos pedagógicos (2); o contexto humano, que se faz visível nos tipos de comunicação, nas interações entre os parceiros, entre os estudantes e as relações fora do contexto das componentes curriculares e do próprio curso (3); e o status, que está ligado ao tipo de curso e ao lugar que se ocupa dentro da organização dos diferentes níveis desse contexto pedagógico (4).

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Diante de tudo isso exposto, podemos perceber o quanto as universidades constituem-se, de fato, um vasto universo para a pesquisa e reflexão. Apesar de terem passado tanto tempo sem olhar para si mesma como objeto de estudo (ALAVA; ROMAINVILLE, 2001), agora os pesquisadores conseguem, aos poucos, desenvolver um amplo e articulado processo de investigação do que é a universidade, as característica do seu ambiente e, especialmente, como se estabelecem as relações que os seus principais atores (estudantes, professores, gestores e demais funcionários) vivenciam dentro do contexto universitário.

Nessa lógica, o interesse aqui explorado de aprofundar os conhecimentos acerca da relação dos estudantes de um curso com os de outras áreas, amplia ainda mais a noção de como os universitários experimentam a realidade da educação superior para além das provas, do currículo e das estruturas fixas.

As pesquisas nessa ótica vêm acontecendo porque, aos poucos, se é entendida a função singular e catalisadora que a universidade exerce na vida das pessoas que passam por ela, em especial, dos estudantes; e também porque o seu papel diante da sociedade vem, a cada dia se difundindo e se transformando. Mas sempre, a universidade, caracteriza-se como uma instituição de função imprescindível perante o desvelamento do mundo, seja para compreendê-lo ou para recriá-lo.

2.3. Uma nova Universidade para um novo mundo: a expansão universitária brasileira e suas adaptações à realidade contemporânea

As instituições universitárias e o próprio conhecimento nos tempos atuais passam por modificações em sua natureza pelo impacto das transformações tecnológicas sobre o saber (LYOTARD, 1986) e também pelo impacto do contexto econômico, “O saber é e será produzido para ser vendido” (LYOTARD, 1986, p. 5).

Nessa dinâmica, a Universidade, instituição para qual o saber é objeto de ação primordial, põe-se num movimento flutuante entre o conservador e o vanguardista. Até mesmo a própria convivência entre estudantes mais experientes e os calouros contribua para a intensificação desse cenário dinâmico. E talvez todo esse contexto não salte aos olhos daqueles que vivem e fazem diariamente as

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Às vezes é preciso se desacostumar um pouco com as práticas diárias e ter um olhar mais afastado para perceber o impacto dessas questões na vivência universitária.

Assim, trago o terceiro relato impressionista da minha experiência na UL -Nancy, que me fez notar, distante de minhas práticas diárias, o quanto a Universidade está posta para o mundo e como a expansão universitária brasileira diferencia-se da francesa e adapta-se à realidade contemporânea nacional.

Quando entrei a primeira vez para a observação de uma aula de graduação na UL, fiquei um pouco chocada com o ambiente. Era uma aula sobre educação especial e a turma era composta por pessoas de diversos cursos, distribuídas num auditório com mesas e cadeiras fixas no chão. Eram 324 cadeiras, quase 200 alunos presentes e um alto palco com um birô, cadeira e microfone para a professora. Ela, a adorável Anaelle, chegou, montou seu computador com o slide da aula, testou o microfone e começou a falar. A partir daquele instante, fiquei perplexa com o que veio a acontecer: o silêncio tomou conta da sala e como que uma onda do mar ou uma chuva repentina… a esmagadora maioria dos estudantes começou a digitar o que a professora estava falando. O ambiente sonoro daqueles teclados frenéticos foi, simplesmente, surpreendente! Bem como muitas outras histórias de situações, para mim, “bizarras” que acontecem na universidade francesa com o seu grande número de estudantes. Ouvi relatos de que os cursos de psicologia na UL, por exemplo, começavam com 1000 estudantes! As aulas eram dadas para os 500 primeiros alunos e depois repetidas para os 500 restantes. Vi aulas em que, basicamente, uma professora leu um artigo e os alunos ouviam e copiavam. Ouvi ainda que dentro desse sistema de se copiar, praticamente, tudo do que é dito na aula pelo professor, alguns alunos vendem uns aos outros cópias do que foi dito nas aulas, em caso de faltas. Alguns, diante do clima de competição, vendem até mesmo cópias com informações erradas para que o colega se prejudique, obtenha nota menor e seja uma concorrência a menos. Afinal, no curso de psicologia, por exemplo, apenas 25 vão alcançar o mestrado na UL, dos 1000 que entraram. E isso é porque o mestrado é, praticamente, uma formação “complementar obrigatória” para esses profissionais. Além disso, professores e estudantes me disseram que na área biomédica, nas turmas precedentes às de medicina, algumas aulas eram dadas nos anfiteatros, mas os alunos nem viam o professor, pois ele estava rodeado de luzes, microfones e câmeras, para que o que ele falasse pudesse ser transmitido, ao vivo para outros anfiteatros lotados, de estudantes completamente atentos. Nesses anfiteatros teriam inclusive seguranças que tirariam de sala os estudantes que resolvessem

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incomodar os demais. Confesso que fiquei chocada com os relatos e com o que vi com meus próprios olhos. Uma forma totalmente diferente de vivenciar as aulas, mesmo nas áreas de humanas. Bom, isso foi o que precisava para entender o que o professor Saeed falou na nossa última orientação individual: “o Brasil não conheceu a expansão universitária como muitos outros países conheceram”. E sim… é verdade, para nós é imaginável uma situação dessas em cursos de humanas. Se já achamos um absurdo nas exatas… mas, enfim, diante de tudo isso, fiquei muito pensativa sobre o que é, afinal, a Universidade… instrumento para alimentar o mercado de trabalho? Entidade desconectada do mundo capitalista? Uma tentativa de equilíbrio? Uma tentativa de ser mais?... Não sei ao certo, eu só contemplei o belo som dos teclados todos juntos e pensei como existem muitos universos dentro da ideia geral de Universidade.

A formação de diplomados em massa, a espera de profissionais mais bem qualificados no mundo do trabalho, as tecnologias avançando abruptamente, o conhecimento sendo um “[...] um desafio maior, talvez o mais importante, na competição mundial pelo poder” (LYOTARD, 1986, p. 5), a Universidade na tentativa de se manter templo e propulsora de conhecimentos e o estudante, no meio disso tudo, tentando inserir-se nesse contexto, um pouco perdido diante de tantas variáveis e construindo, aos poucos, o seu próprio percurso, construindo um pouco o percurso do mundo, é um trecho das faces da realidade complexa da vida universitária.

Mesmo que tenha sido fundada no século XI, a Universidade e, mais especificamente, a noção de ensino superior vem ganhando uma importância ímpar não, simplesmente, na vida das pessoas que por ela passam, mas também na vida das sociedades contemporâneas.

O ensino superior, diante da atual dinâmica mundial de globalização e de organização dos países “desenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”, ganha um papel fundamental na empreitada desenvolvimentista. A condição pós-moderna, a qual “Designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX” (LYOTARD, 1986, p. xv), “[...] vem mostrando que sem saber científico e técnico não se tem riqueza” (LYOTARD, 1986, p. xi).

Referências

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