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Formação de competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

Formação de Competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório.

Ymira da Silva

Recife 2013

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YMIRA DA SILVA

Formação de Competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, pela mestranda Ymira da Silva, enquanto exigência para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Juliane Feix Peruzzo

Recife 2013

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Catalogação na Fonte

Bibliotecária Ângela de Fátima Correia Simões, CRB4-773

S586f Silva, Ymira da

Formação de competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório / Ymira da Silva. - 2013.

129folhas: il. 30 cm.

Orientadora: Prof.ª Dra. Juliane Felix Peruzzo.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA, 2013.

Inclui referências.

1. Formação profissional. 2. Diretrizes curriculares. 3. Estágio

obrigatório. I. Peruzzo, Juliane Felix (Orientadora). II. Título

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Ymira da Silva

Formação de Competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, pela mestranda Ymira da Silva, enquanto exigência para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Data da Aprovação: Recife, 30 de agosto de 2013

________________________________________________ Profª. Drª. Juliane Feix Peruzzo

(Orientadora e Examinadora Interna)

________________________________________________ Profª. Drª. Angela Santana do Amaral

(Examinadora Interna)

________________________________________________ Prof. Dr. Daniel Álvares Rodrigues

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RESUMO

O contexto de crise estrutural do capitalismo e de construção das saídas burguesas à crise, buscando a restauração dos índices de produtividade, lucratividade e competitividade capitalistas, determinam transformações nas várias esferas da vida social, donde a emergência do modelo das competências como parâmetro pedagógico da formação da força de trabalho. Consoante às características da lógica empresarial flexível e dos interesses privatistas dominantes na organização/gestão do trabalho, nos diversos ramos da economia e no âmbito do Estado, o modelo das competências requisita a formação de um “novo” perfil profissional o qual é marcado fundamentalmente por uma postura de aceitação das contradições da sociedade. As inflexões no trabalho são acompanhadas por mudanças na educação superior – locus privilegiado de formação das profissões especializadas, dentre elas a do Serviço Social –, concretizando um processo de consolidação modelo das competências, com repercussões na proposta contida nas Diretrizes Curriculares da categoria. O debate intelectual da área sobre a formação das competências e habilidades profissionais diverge do discurso dominante. As contribuições produzidas apontam que a formação generalista e crítica dos assistentes sociais, direcionada pelo projeto ético-político, não se restringe às demandas postas pelo mercado, mas enfatizam a relevância do ensino da prática em todas as suas dimensões, bem como a adoção de uma perspectiva de totalidade, visando a construção de respostas profissionais qualificadas às expressões da questão social. Segundo as Diretrizes, o estágio obrigatório constitui-se em uma atividade educativa, articulada aos objetivos e demais componentes da formação do assistente social. Contudo, essa direção é tensionada pelas requisições do mercado de trabalho na contemporaneidade, as quais apontam para uma formação funcional aos interesses hegemônicos, com ênfase na dimensão técnico-operativa da prática profissional, orientada por uma perspectiva instrumental conservadora.

Palavras-Chave: Formação profissional. Diretrizes Curriculares. Competências e habilidades. Estágio obrigatório.

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ABSTRACT

In the context of capitalism structural crisis in addition the construction of bourgeois ways out of the crisis, seeking the restoration of capitalist productivity; profitability; and competitiveness, has determine changes in the various spheres of the social life, whiter the emergence of competencies model as a pedagogical parameter to took forms for the labor force. Depending on the characteristics of the flexible business logic and the dominant privatizing interests in the organization / management of labor, in the various branches of the economy and under the State regulation, the competencies model requires the formation of some "new" kind of professional profile, which is fundamentally tagged by a posture of acceptance with the contradictions of society. Inflections in the work are accompanied by changes in higher education - a privileged locus of training of the specialized professions, among them Social Service -, materializing a process of model consolidation of competences, with repercussions on the proposal contained in the Curricular Guidelines of the occupational category. The intellectual debate around the area about the formation for professional skills and abilities diverges from the dominant discourse. The contributions produced indicated that the generalist and critical formation of social workers, guided by the ethical-political project, is not restricted to the demands placed by the market, but emphasizes the relevance of teaching practice in all its dimensions, as well as the adoption of a perspective of totality, aiming the construction of qualified professional responses to the expressions of the social question. According to the Guidelines, compulsory placement is an educational activity, articulated to the objectives and other components of the social worker's training. However, this direction is stressed by the demands of the labor market in the contemporary world, which point to a functional formation to hegemonic interests, with emphasis on the technical-operative dimension of professional practice, guided by a conservative instrumental perspective.

Key-words: Professional qualification. Curricular Guidelines. Skills and abilities. Mandatory internship.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Requisitos do “novo” perfil do trabalhador competente

Quadro 2. Medidas voltadas à educação superior no Governo Lula (2003-2010)

Quadro 3. Competências Profissionais dos Assistentes Sociais - Artigo 4º da Lei N° 8.662/93

Quadro 4. Princípios da Formação Profissional - Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (ABESS/CEDEPSS, 1997)

Quadro 5. Competências Profissionais dos Assistentes Sociais - Diretrizes Curriculares (MEC/SESu/CEESS, 1999)

Quadro 6. Princípios Norteadores da Realização do Estágio - PNE/ABEPSS (ABEPSS, 2009)

Quadro 7. Ação Institucional e População Usuária nas Unidades Campos de Estágio - Amostragem

Quadro 8. Serviço Social Institucional e Usuários da Ação Profissional nas Unidades Campos de Estágio - Amostragem

Quadro 9. Elementos da Intervenção Profissional nas Unidades Campos de Estágio - Amostragem

Quadro 10. Referências Bibliográficas Utilizadas pelos Estagiários na Elaboração dos Projetos de Intervenção - Amostragem

Quadro 11. Dificuldades na Implementação dos Projetos de Intervenção - Amostragem

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Áreas de Atuação dos Estágios Obrigatórios - Dados Gerais (2008.2, 2012.1 e 2012.2)

Tabela 2. Natureza Jurídica das Unidades Campos de Estágio - Dados Gerais (2008.2, 2012.1 e 2012.2)

Tabela 3. Instituições Concedentes de Vagas para Estágio Obrigatório - Dados Gerais/Principais Áreas (2008.2, 2012.1 e 2012.2)

Tabela 4. Características Gerais das Unidades Campos de Estágio - Amostragem

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABESS - Associação de Ensino em Serviço Social BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD - Banco Mundial

CEESS - Comissão de Especialistas de Ensino em Serviço Social CEP - Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos CES - Câmara de Educação Superior

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CRESS - Conselho Regional de Serviço Social CNE - Conselho Nacional de Educação

ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social FHC - Fernando Henrique Cardoso

FMI - Fundo Monetário Internacional

GET - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho GT - Grupo de Trabalho

IES - Instituições de Ensino Superior

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social MEC Ministério da Educação

MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão OMC Organização Mundial do Comércio

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PNAS Política Nacional de Assistência Social PNE Política Nacional de Estágio

PPGSS Programa de Pós-graduação em Serviço Social ProUni Programa Universidade Para Todos

REUNI Reestruturação e Expansão das Universidades Federais SESu Secretaria de Educação Superior

SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SUS Sistema Único de Saúde

TCC Trabalho de Conclusão de Curso UFA Unidades de Formação Acadêmica UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

1 Introdução...12 2 O modelo das competências: contextualização, características e rebatimentos nos processos formativos da força de trabalho e na formação profissional em Serviço Social...21 2.1 Determinações universais que perfazem o contexto de emergência e consolidação do modelo das competências...23 2.2 A consolidação do modelo das competências como parâmetro para a formação da força de trabalho: particularidade e características internas...33 2.3 A reforma da educação superior como processo de adesão ao modelo das competências dominante e os rebatimentos na formação profissional em Serviço Social...40 3 Formação das competências profissionais e estágio obrigatório: a proposta pedagógica do Serviço Social, o debate intelectual e a concepção de estágio

frente aos tensionamentos postos pela

realidade...49 3.1 A discussão sobre as competências e habilidades profissionais e a construção da proposta pedagógica da categoria...51 3.2 Apontamentos e questões levantadas no debate intelectual da profissão sobre a formação das competências e habilidades...60 3.3 Estágio obrigatório em Serviço Social: a concepção inaugurada pelas Diretrizes Curriculares e os tensionamentos postos pela realidade social na atualidade...67 4 A Formação das Competências Profissionais no Estágio Obrigatório: um estudo a partir das experiências dos estagiários vinculados ao Curso de Graduação em Serviço Social da UFPE...76

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4.1 Reconhecimento geral das principais unidades campos de estágio onde se realizam os estágios obrigatórios...79 4.2 Experiências no estágio obrigatório: inserção dos estudantes nas instituições e a intervenção do Serviço Social nos campos de estágio...90 4.3 A implementação das propostas interventivas dos estagiários e o desenvolvimento das competências e habilidades nos estágios obrigatórios...99 5 Considerações...115 Referências...126

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1 Introdução

O texto que ora introduzimos constitui-se na nossa dissertação de mestrado, intitulada Formação de Competências e Serviço Social: uma análise do processo de formação das competências profissionais a partir do componente curricular estágio obrigatório. Trabalho este, que dá seguimento a uma trajetória de estudos dos quais tivemos a oportunidade de participar.

A temática discutida consiste na relação entre o modelo das competências, emergente no contexto das repostas à crise estrutural, enquanto novo parâmetro formativo da força de trabalho, e os impactos produzidos na formação profissional, especificamente na formação em Serviço Social. Impactos que analisamos na realização das experiências dos estudantes ao desenvolverem o componente estágio obrigatório.

Compreendemos, portanto, que a problemática que envolve esse tema requer a apreensão crítica de processos socioeconômicos e ídeo-políticos contemporâneos, desencadeados em resposta à crise estrutural do capitalismo, bem como reflexões sobre os processos de formação em geral e na profissão, neste último caso, levando em conta o referencial da proposta pedagógica contida nas Diretrizes Curriculares da categoria (ABESS/DECEPSS, 1997; MEC/SESu/CEESS, 1999).

Optamos por focar a investigação no estágio obrigatório, porquanto compreendemos a sua importância estratégica como atividade didática e educativa na formação dos assistentes sociais, contribuindo para assegurar o perfil generalista e crítico ao processo de ensino-aprendizagem da profissão, considerando os tensionamentos portos na atual conjuntura.

A escolha desse tema justifica-se pelo nosso interesse da questão, pela importância da discussão para o Serviço Social e pelas contribuições que podem resultar da realização desse estudo.

A questão da formação tem nos acompanhado durante o percurso acadêmico desde a graduação. A inserção em atividade de pesquisa e a militância no movimento estudantil nos colocaram diante de discussões abordando o contexto das mudanças no mundo do trabalho, a contrarreforma neoliberal da aparelhagem do

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Estado e os impactos no âmbito da educação superior. Igualmente, éramos provocados a pensar acerca da repercussão desses processos na formação em Serviço Social.

Nosso contato inicial se deu com a participação como bolsista de iniciação científica, de uma pesquisa sobre o trabalho e a formação profissional, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (GET) – vinculado ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (PPGSS/UFPE).

Essa investigação teve o intuito de conhecer a estruturação, o conteúdo e o tratamento dispensado aos componentes curriculares na materialização dos assuntos previstos no Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional, conceituado nas Diretrizes Curriculares, em unidades de formação acadêmica (UFAs) localizadas em todo o território brasileiro.

A referida pesquisa foi apoiada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), que, no biênio 2005/06, avaliou nacionalmente a implementação das Diretrizes em diversas UFAs. Aqui, tivemos a oportunidade de integrar – na condição de representante estudantil – o Grupo de Trabalho (GT) responsável pela formulação e organização desse processo avaliativo. Estivemos presentes ainda em algumas das Oficinas Nacionais Descentralizadas, onde eram socializados os dados preliminares extraídos do instrumental de coleta da avaliação.

Na pesquisa avaliativa realizada pela ABEPSS, chamou nossa atenção, particularmente, as discussões referentes ao eixo “ensino da prática” (ABEPSS, 2005), objeto ao qual nos dedicamos no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

No nosso TCC, identificamos, nas disciplinas e outros componentes curriculares do Curso de Graduação em Serviço Social da UFPE, os conteúdos ministrados em sua relação com as requisições do exercício da profissão. Tais requisitos foram levantados mediante o mapeamento das áreas e organismos institucionais concedentes de vagas para estagiários.

Nas nossas considerações, verificamos a transversalidade do ensino da prática na formação dos estudantes e a correspondência para com as exigências e demandas profissionais. Contudo, apontamos a existência de possíveis lacunas no

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tratamento da perspectiva teórico-metodológica que, segundo as Diretrizes, deve nortear ação interventiva do assistente social.

A partir das “descobertas” feitas no processo de elaboração da referida monografia, pensamos que seria relevante aprofundar o debate acerca das vinculações estabelecidas entre o que é denominado “pedagogia” ou “modelo das competências” (RAMOS, 2001; RODRIGUES, 2007) e a formação profissional em Serviço Social, a partir de uma análise das experiências dos estudantes no estágio obrigatório, extraindo destas vinculações algumas implicações e possíveis tendências.

O conhecimento preliminar que possuímos no tocante à atividade de estágio, juntamente com a nossa própria percepção empírica, permite-nos afirmar que este componente curricular constitui um momento em que (re)aparecem, de modo recorrente, por ocasião das supervisões acadêmicas, questionamentos referentes às competências e habilidades – além das atribuições privativas – da profissão nas diversas instituições campos de estágio, aos conhecimentos necessários à construção das intervenções práticas, à suposta “dicotomia teoria-prática”, dentre outras indagações.

Por esses motivos, levando em conta a aproximação que o estágio proporciona à realidade do exercício profissional, através do contato direto com as condições objetivas e características sócio-ocupacionais dos organismos concedentes, a inserção dos estagiários na rotina de trabalho dos assistentes sociais e a proposição e desenvolvimento das intervenções nos campos, decidimos priorizá-lo.

A conjuntura atual, a qual tensiona a formação das competências e habilidades profissionais, estabelecendo o conflito entre a perspectiva da proposta pedagógica do Serviço Social e a perspectiva vinculada aos interesses hegemônicos, voltada ao atendimento das requisições do mercado de trabalho, revela a relevância da discussão.

Ademais, consideramos que esse estudo pode oferecer novos aportes no sentido de contribuir para a reafirmação do projeto ético-político frente ao cenário conjuntural contraditório de ofensiva do capital, marcado por iniciativas e discursos

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fortalecedores da fragmentação dos processos sociais e de trabalho (GUERRA apud ABEPSS, 2009).

Pressupomos de que a formação profissional generalista e crítica, ancoradas nas Diretrizes Curriculares da categoria, é tensionada pelas atuais demandas relativas à constituição de um “novo” trabalhador, as quais determinam o modelo das competências, o qual, por sua vez, ocasiona rebatimentos na educação de nível superior.

Acreditamos que essa tensão se reproduz no âmbito dos estágios por meio das demandas de trabalho, requeridas nos espaços institucionais e na própria inserção do estagiário junto ao trabalho implementado pelo profissional de campo.

Compreendemos que as tensões e o direcionamento predominante, verificados na análise dos estágios, representam fatores que repercutem no perfil da formação profissional e na internalização das competências e habilidades que legitimam socialmente a profissão.

Com base nesses pressupostos, estabelecemos, pois, como questão norteadora do nosso trabalho, a seguinte: as atividades desenvolvidas pelos estudantes, em suas experiências como estagiários nos espaços institucionais que oferecem campos de estágio, podem estar favorecendo a ênfase na dimensão técnico-operativa da prática profissional, de modo a restringir-se ao “saber fazer”?

Compreendemos que a possível predominância desse direcionamento compromete negativamente a proposta formativa e o perfil do assistente social que se pretende formar, limitando-a a uma formação funcional aos interesses do mercado.

Assim sendo, buscamos apreender o processo de formação das competências e habilidades profissionais dos assistentes sociais, analisando a realização deste processo formativo nos estágios obrigatórios de estudantes vinculados ao Curso de Graduação em Serviço Social da UFPE, no semestre letivo de 2008.2, quando se encontravam regularmente matriculados no componente curricular Estágio Obrigatório II.

Optamos por adotar como metodologia investigativa a pesquisa de caráter documental. Os materiais utilizados enquanto fonte de dados constituem-se em

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planos de atividades, projetos de intervenção e relatórios técnico-científicos, produzidos por 50 (cinquenta) estudantes estagiários.

No total, realizamos a leitura, sistematização dos dados e análise de 37 (trinta e sete) compilações/dossiês, elaborados individualmente ou em grupo pelos discentes. As compilações contêm o registro das experiências dos mesmos nos componentes curriculares Estágio Obrigatório I e II, nas diversas instituições campo de estágio. Estes documentos consubstanciam o “universo” (MINAYO apud MINAYO, 2010; DESLANDES apud MINAYO, 2010) da nossa pesquisa.

Na análise das informações que foram extraídas dos documentos supracitados – em um movimento de aproximações sucessivas, que nos permite desvendar as mediações explicativas da problemática-objeto de estudo –, debruçamo-nos sobre os seguintes aspectos:

a) A caracterização geral dos organismos institucionais que conformam os campos de estágio, destacando as áreas de atuação, a tipologia das instituições e a personalidade jurídica com maiores representatividades, de acordo com a distribuição do número de estagiários.

Nesse tópico, importa ressaltar o esforço de atualização destes dados, despendido mediante a realização de um levantamento referente aos estágios obrigatórios nos semestres de 2012.1 e 2012.2. O que viabilizou o reconhecimento dos campos que se mantiveram e daqueles que têm emergido enquanto espaços receptores dos estagiários.

Importa ressaltar o esforço de atualização dos dados apresentados, relativos ao semestre letivo de 2008.2, despendido na realização de um levantamento referente aos estágios obrigatórios em 2012.1 e 2012.2. O que viabilizou a identificação dos campos que mantiveram convênio com a universidade, dos que estão em retração ou fechamento, bem como daqueles que têm emergido enquanto campos de estágio de destaque.

b) A configuração da atuação institucional: foco da intervenção e população usuária.

A discussão acerca desses dois primeiros itens possui o intuito de identificar traços característicos das instituições concedentes de vagas, onde se realizaram os estágios obrigatórios dos estudantes vinculados ao curso estudado. Almejamos,

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destarte, obter uma visão panorâmica dos fatores que determinam concretamente as experiências dos discentes.

Após essa primeira aproximação, voltamo-nos a:

c) Intervenção do Serviço Social nos campos de Estágio: foco da intervenção, objetivos, principais ações desenvolvidas.

d) Projetos elaborados e implementados pelos estudantes sob “supervisão direta” (CFESS, 2008), acadêmica e de campo, atentando para aquilo em que consiste as intervenções propostas, as ações planejadas e os resultados/impactos alcançados. Expusemos ainda a bibliografia utilizada e as dificuldades encontradas.

O quadro ilustrativo dos projetos de intervenção, contendo tais elementos, possibilita um aprofundamento da reflexão ao oferecer subsídios para uma abordagem das competências, dimensões da prática do Serviço Social e dos perfis profissionais, os quais são fortalecidos nas experiências dos estágios obrigatórios.

Aqui, buscamos correlacionar as ações planejadas e executadas ao conjunto das competências dos assistentes sociais, definidas tanto na Lei de Regulamentação da Profissão, quanto nas Diretrizes Curriculares elaboradas pela Comissão de Especialistas do Ministério da Educação (MEC/SESu/CEESS, 1999). Estas últimas, de caráter marcadamente teórico-metodológico e político, enquanto as demais enfatizam, sobretudo, habilidades técnico-operativas de que deve dispor o futuro assistente social, visando uma atuação qualificada.

De outra parte, uma vez que, em consonância com a Política Nacional de Estágio – PNE (ABEPSS, 2009), determinadas condições devem ser garantidas na vivência dos estágios obrigatórios: flexibilidade de horário, treinamento acompanhado, levantamento de dados, pesquisas e realização de projetos, condições para o exercício da supervisão de campo, contemplando as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa da prática profissional.

A exposição dos resultados da investigação e da análise elaborada através dos tópicos mencionados consiste em um recurso didático para facilitar a organização dos pensamentos no texto.

À exceção das características gerais, no tratamento da atuação institucional, da intervenção do Serviço Social e das propostas interventivas dos discentes, as

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informações foram extraídas das compilações selecionadas ao delimitarmos o “grupo de pesquisa” (MINAYO apud MINAYO, 2010; DESLANDES apud MINAYO, 2010): 14 (quatorze) dossiês elaborados por 21 (vinte e um) estudantes.

Os critérios eleitos a fim de demarcar o grupo de pesquisa passam, primeiramente, pela disponibilização, nos trabalhos entregues às supervisoras acadêmicas para avaliação dos estágios obrigatórios, dos três documentos: planos de estágio, projetos de intervenção e relatórios finais (técnico-científicos) ou a presença de conteúdos que nos permitissem extrair as informações que procuramos para responder aos objetivos da investigação.

Em segundo lugar, verificamos, através de levantamento dos estudantes matriculados no componente curricular Estagio Obrigatório 2, nos semestres 2012.1 e 2012.2, os campos de estágio que mantiveram firmados convênios com a UFPE, concedendo vagas para realização da atividade curricular em questão.

É importante salientar que o nosso protocolo de pesquisa foi devidamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP) da UFPE, nele constando a Carta de Anuência da Coordenação do Curso de Graduação em Serviço Social, que autoriza a utilização do material documental. Recebemos a liberação deste órgão fiscalizador para o início do trabalho de campo em setembro de 20091.

Acreditamos que a conclusão da dissertação de mestrado, resultado que esperamos alcançar após finalizarmos o processo de investigação, poderá contribuir com fecundas considerações, que venham a enriquecer o conhecimento acumulado e fomentar as discussões em torno do exercício e da formação profissional.

Quanto a organização da dissertação, no primeiro capítulo, partimos da crise estrutural e do movimento de restauração do capital, destacando algumas

1

Relembramos que a aprovação e classificação na seleção do mestrado em Serviço Social da UFPE, para a turma de 2011, consiste em segunda entrada no Programa de Pós-graduação deste departamento. O encaminhamento do protocolo de pesquisa ao CEP realizou-se na primeira entrada, no período entre os anos de 2008 e 2009.

O reingresso no curso de mestrado nos proporcionou, em decorrência da extensão do prazo de conclusão da pesquisa, a oportunidade para amadurecer a discussão sobre a temática abordada, para melhor definir/delimitar o objeto de estudo do projeto – originalmente apresentado sob o título de Estágio e Formação em Serviço Social: articulação teórico-prática e desenvolvimento de competências e habilidades profissionais –, para levantar pressupostos e hipóteses, além de estabelecer a metodologia adequada para a operacionalização do trabalho.

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características que apontam para a necessidade de conformação de um novo trabalhador, parte integrante de um processo mais amplo de reafirmação e renovação da sociabilidade capitalista.

Após essa breve contextualização, adentramos na discussão relativa à forma como o modelo das competências consolida-se enquanto parâmetro da formação de um novo perfil profissional, mais subsumido e tecnicista, para a força de trabalho, compondo o elenco das saídas burguesas às tendências de declínio dos níveis de produtividade e lucratividade, fazendo frente também ao recrudescimento das tensões produzidas pelas lutas e movimentos das classes trabalhadoras.

Abrimos espaço para pontuar as implicações da contrarreforma da educação superior – a qual concretiza uma adesão às tendências mundialmente hegemônicas – na formação em geral e na proposta pedagógica da categoria, em especial quando da aprovação das diretrizes curriculares do curso pelo Ministério da Educação (MEC) em 2001, como exigência da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

No segundo capítulo, expusemos os conteúdos presentes na proposta pedagógica básica das Diretrizes Curriculares elaboradas pela categoria, extraindo os elementos da discussão dos instrumentos jurídico-legais de normatização do exercício profissional: o Código de Ética Profissional do(a) Assistente Social e a Lei de Regulamentação da Profissão, ambos aprovados no ano de 1993; bem como da proposta pedagógica básica contida nas Diretrizes Curriculares (ABESS/DECEPSS, 1997; MEC/SESu/CEESS, 1999).

Posteriormente, apresentamos alguns aportes do debate intelectual do Serviço Social sobre a formação das competências e habilidades profissionais, enfatizando as distinções existentes com relação ao que propõe a perspectiva dominante.

Por fim, voltamo-nos à problemática em torno do estágio obrigatório. Problemática que está relacionada aos tensionamentos sofridos pela formação direcionada pelas Diretrizes Curriculares da categoria – estando nela incluído o estágio – em função das determinações postas pelo mercado profissional de trabalho e pelos novos parâmetros formativos da força de trabalho (elementos constitutivos do modelo das competências).

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No terceiro capítulo, apresentamos os resultados da pesquisa documental, bem como das reflexões elaboradas no processo de análise do nosso objeto de estudo, qual seja: a formação das competências e habilidades profissionais no desenvolvimento do componente curricular estágio obrigatório.

Nas nossas considerações finais, retomamos o percurso traçado no desenvolvimento da nossa discussão sobre o modelo das competências e seus rebatimentos na formação profissional em Serviço Social, destacadamente no estágio obrigatório.

Após essa retomada, apresentamos nossos achados, levantamos questionamentos e dificuldades, indicando alguns elementos os quais podem ser desenvolvidos em estudos posteriores.

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2 O modelo das competências: contextualização, características e rebatimentos nos processos formativos da força de trabalho e na formação profissional em Serviço Social

A discussão sobre o modelo das competências e seus rebatimentos na formação profissional, notadamente na formação em Serviço Social, a partir da perspectiva materialista histórico-dialética – assentada no arcabouço heurístico marxiano e marxista – a qual possibilita a compreensão crítica das relações de produção e reprodução da sociedade capitalista, bem como a construção de uma intervenção profissional consequente, socialmente referenciada, pressupõe a apreensão das mediações universais e particulares que determinam a emergência/consolidação desse novo parâmetro pedagógico dos processos formativos da força de trabalho especializada.

Trata-se de um esforço teórico que visa a ultrapassagem do mundo da “pseudoconcreticidade”, dimensão esta em que “o aspecto fenomênico da coisa, em que a coisa se manifesta e se esconde, é como a essência da mesma, e a diferença que separa fenômeno e essência desaparece” (KOSIK apud RODRIGUES, 2007, p.12).

As referidas mediações são capturadas na dinâmica própria da conjuntura de crise do capitalismo, mas também de construção das saídas para essa crise implementadas pelos segmentos hegemônicos da burguesia nacional e internacional em contraposição às alternativas de luta, resistência e defesa dos interesses das classes trabalhadoras.

A intensidade e abrangência da crise caracteriza-a enquanto crise estrutural, que requisita transformações na esfera da economia e da política em nível mundial. As mudanças operadadas conformam o movimento de “restauração do capital” (BRAGA, 1997; DIAS, 1997) numa dupla ofensiva expressa na reestruturação da esfera produtiva e na contrarreforma neoliberal da aparelhagem do Estado, trazendo profundos impactos para as condições de trabalho e de vida do conjunto dos trabalhadores.

Percebem-se mudanças na organização dos processos de trabalho nos espaços públicos e privados, a diminuição da intervenção do Estado, acompanhada da perda de direitos sociais e precarização das políticas sociais, bem como um

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espraiamento das estratégias e práticas da administração empresarial consoantes aos moldes `da acumulação flexível.

O fenômeno denominado “pedagogia” ou “modelo das competências” (RAMOS, 2001; RODRIGUES, 2007) possui nexos intrínsecos com as configurações flexibilizadas assumidas no âmbito do trabalho.

Levando-se em conta o fundamento da sua relação com a divisão e organização dos processos de trabalho, ganha destaque as características internas das competências manifestas no perfil profissional requisitado pelo mercado, incidindo nos processos de formação dos profissionais especializados, especialmente no que tange à captura da subjetividade do trabalhador.

O modelo das competências, superando dialeticamente as qualificações, intensifica a subsunção da força de trabalho ao capital, contribuindo para a agudização das contradições capitalistas obscurecidas por um discurso ideológico individualizante.

Por fim, evidencia-se o terceiro traço peculiar ao modelo das competências, qual seja: as implicações que repercutem na formação profissional em geral e consequentemente no processo formativo dos assistentes sociais. Tais implicações materializam-se nas mudanças advindas da reforma da educação superior, componente integrante do processo mais amplo da chamada “contra-reforma” neoliberal do Estado (BEHRING, 2008).

As novas requisições do mercado e a adesão às competências realizada mediante a reforma universitária acarretam profundos tensionamentos para a proposta pedagógica contida nas diretrizes curriculares do Serviço Social elaboradas pelo conjunto da categoria.

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2.1 Determinações universais que perfazem o contexto de emergência e consolidação do modelo das competências

A crise estrutural do sistema capitalista irrompe por volta de meados da década de 1970 nos países centrais, irradiando-se pouco a pouco por toda a periferia da economia global. No Brasil, esse processo tem início com o fim do chamado “milagre econômico”, permanecendo até os dias atuais não obstante as reformas e medidas de orientação neoliberal implementadas na tentativa de reversão desse quadro pelos governos eleitos (NEVES e FERNANDES, 2002).

Os principais efeitos da crise, quais sejam: a queda das taxas de produtividade e lucratividade, acompanhada do recrudescimento das tensões decorrentes dos antagonismos e conflitos sociais, requisitam como resposta profundas transformações operadas tanto no plano da produção quanto da reprodução da sociedade. Assim sendo, o intervalo entre os anos 1970 e 90 representa um período marcado por significativas inflexões que repercutem mundialmente, atingindo a economia e a política dos Estados nacionais2.

No bojo das inflexões realizadas, consubstanciadas no movimento de “restauração do capital” 3

, é possível localizar a reestruturação da esfera produtiva e a contrarreforma neoliberal do aparelho do Estado.

Conforme Harvey (2009), a reestruturação produtiva é impulsionada em face do esgotamento do modelo de produção fordista-taylorista, juntamente com seu respectivo regime de regulação keynesiano, constitutivos do padrão “rígido” de acumulação capitalista.

O autor de A Condição Pós Moderna (idem) afirma que, já no final da década de 1960, eram visíveis entraves existentes no fordismo-keynesianismo, dentre eles:

2

Para além dos efeitos da crise estrutural do capitalismo, a década de 1990 é marcada pelo desmantelamento do chamado “socialismo real”, processo sinalizado, dentre outras manifestações, pela queda do muro de Berlim em 1989, causando impactos no movimento das esquerdas nacionalmente (NEVES e FERNANDES, 2002).

3

O movimento de “restauração do capital”, em seus diversos processos constitutivos, foi discutido em profundidade por Braga (1997) e Dias (1997). Outras contribuições para a compreensão dessa categoria são encontradas igualmente nas seguintes produções: Behring (2008), Harvey (2009), Mota (2008), Neves e Fernandes (2002), Paulani (apud NEVES, 2007).

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o aumento da competitividade intercapitalista4, bem como a “rigidez” na produção – particularmente no que tange aos investimentos de capital, ao funcionamento dos mercados e às leis/relações trabalhistas – e na destinação dos gastos públicos com a ação interventiva do Estado nas políticas sociais. Igualmente, o poder de reivindicação das classes trabalhadoras organizadas era considerado forte obstáculo às tentativas de superação da característica “rigidez” fordista.

Destarte, o cenário conjuntural que se instaurou em 1973/74 5

pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em consequência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e reajustamento social e político [com abrangência mundial] (idem, 2009, p. 140).

O “padrão rígido” é, nesse movimento, substituído pela “acumulação flexível”, cujos principais aspectos distintivos residem na flexibilização das estratégias de organização e gestão da produção, dos processos de trabalho e dos mercados, juntamente com a procura por novos produtos e modalidades de consumo (idem). Ou seja, junto à flexibilização, verifica-se o incentivo à inovação através do crescente emprego do conhecimento científico e tecnológico enquanto estratégia para o alcance de um maior incremento da produtividade e lucratividade do capital, elemento que termina por acirrar ainda mais as condições de competitividade.

Antunes (apud FONSECA, 2012), referindo-se mais estritamente à organização da produção e do trabalho, compreende que esses são reestruturados com base no modelo toyotista o qual se origina na indústria japonesa.

A difusão da acumulação flexível e do toyotismo na esfera produtiva, em razão dos seus delineamentos específicos, implica “no aumento do nível de produtividade, sem a necessária equivalência no aumento do emprego da força de trabalho: produz-se mais, com menos operários” (idem, p. 11).

Diante dessas mediações, importa reter dois aspectos fundamentais para a reflexão sobre o processo de emergência e consolidação das competências os quais

4

O aumento da competitividade intercapitalista resulta da reconstrução de países europeus e asiáticos devastados após a Segunda Guerra Mundial e, ainda, da política de substituição de importações desenvolvida por países ditos do Terceiro Mundo (HARVEY, 2009).

5

Trata-se da forte recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, que evidenciou ao mundo o estado de “estagflação” – estagnação da produção de bens e alta inflação de preços –, o qual “sufocava” a acumulação capitalista (Idem).

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se refletem nas características internas das mesmas e nos impactos que provocam na formação. O primeiro está relacionado à presença dos fatores flexibilização e inovação – por meio do emprego do conhecimento e das novas tecnologias –, repondo a necessidade (do capital) de (re)constituir um “novo” perfil para o trabalhador, ajustando a este os perfis profissionais das diversas profissões especializadas.

Por sua vez, o segundo aspecto se reporta à economia na utilização da força de trabalho, que se traduz no aumento do desemprego, na crescente precarização do trabalho e na consequente realidade de rebaixamento das condições de vida das classes trabalhadoras6, realidade que tende a ser naturalizada sob o discurso ideológico dominante que impõe sua aceitação.

Rodrigues (2007) esclarece que a introdução de inovações na produção não constitui o fator central das mudanças impostas, assim como do aprofundamento da exploração da força de trabalho com a elevação da produtividade. Segundo o autor, os fundamentos determinantes encontram-se no interesse das classes dominantes em relação ao processo produtivo voltados para responder à tendência de aumento do capital constante e diminuição do capital variável na composição orgânica capitalista.

É precisamente o conjunto das modificações científicas e tecnológicas articulado com os interesses das classes dominantes que resulta no direcionamento assumido pelas inflexões nas esferas produtiva e reprodutiva, contudo justifica-se o desemprego e a precarização com o discurso de que se trata de reflexos das respostas necessárias do capitalismo em face da crise.

As novas formas organizacionais e técnicas gerenciais do trabalho implantadas com a acumulação flexível e a produção nos moldes do toyotismo têm ênfase na “solução de problemas, nas respostas rápidas e, com frequência, altamente especializadas, e na adaptabilidade de habilidades para propósitos especiais” (HARVEY, 2009, p. 146). Tais contornos têm rebatimentos no perfil do trabalhador requerido pelos empregadores no âmbito do mercado de trabalho, o que

6

Não se deve perder de vista que a flexibilização do trabalho é acompanhada da flexibilização das relações e direitos trabalhistas e sociais. Com frequência, o propósito da flexibilidade implantada é satisfazer as necessidades de aumento da produtividade/lucratividade de cada empresa (HARVEY, 2009; BEHRING, 2008).

(27)

demanda mudanças nos processos formativos voltados à qualificação nas distintas especializações profissionais.

Mais que mero processo de atualização da qualificação da força de trabalho – não se trata de uma simples adequação técnica –, pretende-se que a formação possa viabilizar determinadas posturas, atitudes e comportamentos diante de um contexto marcado por “níveis relativamente altos de desemprego ‘estrutural’ (em oposição a ‘friccional’), ganhos modestos (quando há) de salários reais e o retrocesso do poder sindical” (ibidem).

Essas primeiras transformações abordadas incidem não apenas nas condições objetivas de trabalho e de vida dos diversos profissionais especializados, mas também no plano da sua subjetividade, sendo, portanto, integrantes de um movimento mais amplo e complexo que visa modificar a forma pela qual se apresenta a sociabilidade capitalista, embora não haja verdadeira mutação de sua essência relacionada à exploração e dominação do capital sobre o trabalho.

A lógica empresarial flexível norteadora da organização/gestão da produção e do trabalho propaga-se em princípio pelo setor industrial, extrapolando o interior das fábricas e se estendendo gradativamente aos demais ramos da economia e ao âmbito do Estado.

Alguns estudiosos, tais como Netto (2001) e Behring (2008), apontam que, por intermédio de um conjunto de medidas de cunho neoliberal as quais repercutem no sucateamento da aparelhagem estatal, no desmonte dos direitos sociais e na precarização das políticas públicas, incorpora-se, ademais, princípios e práticas da lógica empresarial flexível – à semelhança do que acontece na esfera da produção – à administração pública. Esse conjunto de medidas implementadas é chamado por Behring (2008) de “contra-reforma do Estado”.

Para que se entenda a contrarreforma neoliberal do aparelho do Estado brasileiro, em toda a sua amplitude e complexidade, faz-se necessário considerá-la a partir da ingerência do receituário formulado no Consenso de Washington, realizado no ano de 1989. Tal receituário é divulgado junto aos países ditos “em desenvolvimento”, preconizando uma série de ajustes aperfeiçoados/atualizados nas orientações elaboradas e difundidas – leia-se: imposta – pelos organismos multilaterais: Banco Mundial (BIRD), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco

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Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organização Mundial do Comércio (OMC), dentre outros.

Nesse sentido, a contrarreforma tem como horizonte o objetivo de adequação da função e do aparato das instituições públicas às exigências e demandas do “novo” ordenamento econômico mundial com dominância financeira (PAULANI, 2007)7.

O artigo de Netto (2001), publicado na Revista Temporalis nº1, explica que as mudanças operadas no âmbito estatal concretizam-se em uma dupla ofensiva, compreendendo um movimento de ajuste macroeconômico e outro relativo à reforma administrativa “gerencial”. Ambos os movimentos conformam um único processo, visto que – intrinsecamente vinculados – são direcionados pelos interesses privatistas e mercadológicos exacerbados que dão tônica dos processos hegemônicos contemporâneos.

No que diz respeito ao ajustamento da economia nacional aos preceitos do neoliberalismo, as medidas voltadas à sua implementação8 resultam na constituição de um “Estado mínimo” (NETTO, 1993), isto é, mínimo para o social, com baixa capacidade interventiva quanto à regulação da relação capital-trabalho (em prol do trabalho) e ao enfrentamento das múltiplas refrações da “questão social”.

O Estado mínimo desobriga-se de uma série de responsabilidades quanto à garantia de direitos e políticas sociais, tais como a Previdência Social, a Saúde e a Educação Superior. Áreas definidas no Plano Diretor da Reforma enquanto “serviços não exclusivos” (BRASIL/MARE, 1995).

Desta feita, a contrarreforma promove um significativo corte nos gastos estatais com o social, sob a justificativa de que esta era uma medida necessária para a superação da crise que abate o país na primeira metade da década de 1990.

7

De acordo com Paulani (2007), essa é outra maneira de se referir ao padrão de acumulação flexível. A autora identifica, nas reformas neoliberais, o processo em que o papel do Estado transforma-se em “business administration”. É o que pode-se deduzir a partir da assertiva: “administra-se hoje o Estado ‘como se fosse um negócio” (idem, p. 78).

8

Destacam-se três medidas mais decisivas: a primeira centrada na reposição da estabilidade monetária, rompendo com o ciclo da alta inflação; a segunda, objetivando a liberalização da economia e dos mercados por meio da abertura descontrolada das barreiras nacionais ao fluxo de capitais financeiros estrangeiros no interior do país e à livre circulação de produtos importados; e, por fim, a terceira medida consubstanciada no programa de privatização brasileiro que empreendeu acelerada desnacionalização de setores econômicos estratégicos (Netto, 2000).

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Crise que é concebida pelos ideólogos defensores das saídas neoliberais enquanto “crise fiscal” do Estado (BEHRING, 2008).

O objetivo (ideológico) desse corte de gastos consiste no suposto restabelecimento do “equilíbrio das contas públicas”.

As políticas sociais entram neste cenário caracterizadas por meio de um discurso nitidamente ideológico. Elas são: paternalistas, geradoras de desequilíbrio, custo excessivo do trabalho, e devem ser acessadas via mercado. Evidentemente, nessa perspectiva deixam de ser direito social. Daí as tendências de desresponsabilização e desfinanciamento da proteção social pelo Estado, o que, aos poucos [...], vai configurando um Estado mínimo para os trabalhadores e um Estado máximo para o capital (NETTO in BEHRING, 2008, p. 64). A delimitação dos serviços não exclusivos e a restrição nos gastos sociais do Estado comprometem a efetivação dos direitos através das políticas públicas visto que estas assumem um caráter focalizado, passando a concorrer com a iniciativa privada9 na construção das intervenções em resposta à questão social. O que abre caminho à tendência de privatização e mercantilização do setor público.

Diante de tais argumentos, torna-se patente os efeitos perversos da contrarreforma nas políticas sociais, alterando

o papel dessas políticas, que perdem seu lugar central na agenda governamental, enquanto possibilidade de resgate dos direitos sociais, e passam a ser pensadas e desenvolvidas a partir do padrão assistencialista e clientelista10 (SILVA apud FONSECA, 2012, p. 12). Em meio aos vários impactos produzidos pelo desmantelamento do conjunto das políticas sociais, Silva (apud FONSECA, 2012) aponta o processo de precarização, que repercute profundamente no mercado de trabalho dos assistentes sociais.

Discutindo esse aspecto, a autora faz colocações bastante pertinentes sobre os rebatimentos trazidos para o exercício profissional. Para ela,

Acentua-se a demanda por uma prática profissional burocratizada, capaz de lidar com o aprofundamento dos critérios de seletividade das “novas” políticas sociais. Os usuários, por sua vez, pressionam

9 Compõem a chamada “iniciativa privada”: organizações sociais – entidades públicas não estatais e sem fins lucrativos –, mas também organismos empresariais, cuja atuação está voltada privilegiadamente para a valorização do valor (BEHRING, 2008).

10 Acerca da tendência de expansão da assistência social e “assistencialização” das demais políticas no enfrentamento das desigualdades sociais, cf. Mota (2006).

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pelo atendimento das suas necessidades agravadas (SILVA apud FONSECA, 2012, p. 12).

A contrarreforma do Estado e com ela s ajustes macroeconômicos e nas políticas sociais atingem fortemente o Serviço Social, haja vista os rebatimentos produzidos nos espaço sócio-ocupacional privilegiado de inserção da profissão e nas decorrentes exigências e demandas atualizadas requeridas à mesma.

Outra dimensão das medidas de cunho neoliberal dirigidas ao Estado, a qual procuramos abordar, reside na “reforma gerencial”, cujos principais pontos encontram-se sistematizados no documento intitulado Plano Diretor da Reforma (BRASIL/MARE, 1995). Esse processo empreende a assimilação dos elementos da organização/gestão de empresas, embasados na lógica de custo-benefício expressa na máxima “atender melhor o cidadão-cliente a um custo menor” (idem, p. 47), ao modo como se estrutura e funciona a administração pública estatal.

Os referenciais assimilados podem ser sintetizados em três diretrizes norteadoras das alterações a serem implantadas: a (re)definição dos objetivos a serem perseguidos pelas conjunto das instituições; a “autonomia” na gestão dos recursos materiais, financeiros e humanos; e o controle e cobrança a posteriori dos resultados (BEHRING, 2008).

Essas diretrizes rebatem no funcionamento da administração do Estado, notadamente no que tange à

a) (re)definição das responsabilidades assumidas pelo aparato estatal, passando este a desempenhar função de “gerente”;

b) às relações do setor público com o privado, transfigurado em “parceiro”, nas ações desenvolvidas;

c) ao privilégio atribuído aos resultados (quantificáveis) em detrimento de uma preocupação mais qualitativa quanto aos procedimentos adotados no atendimento às necessidades sociais.

Em meio a essas mudanças, é importante sublinhar o intuito de se modificar o perfil do funcionalismo público existente no Plano Diretor da Reforma (1995), havendo, inclusive, a previsão de projetos de treinamento de recursos humanos direcionados ao desenvolvimento da “autonomia”, “iniciativa individual” e “responsabilização” dos profissionais capacitados, atributos que devem ser

(31)

desenvolvidos pelo servidor estatutário para que o mesmo seja considerado competente.

Trata-se de um processo cujas pretensões não se restringem à flexibilização da estruturação/administração estatal, posto que visa alcançar ainda “a flexibilização da estabilidade dos servidores [...], permitindo-se a demissão, além de por falta grave, também por insuficiência de desempenho e por excesso de quadros” (idem, p. 51). Logo, a reforma gerencial processada não se restringe a alterações na estruturação/administração estatal – vale ressalta, principal empregador dos assistentes sócias –, todavia requer ainda novo perfil para os profissionais que atuam no âmbito das instituições de natureza jurídica pública.

O servidor considerado “competente” deve apresentar desempenho satisfatório em relação aos objetivos e metas do setor onde trabalha, além de uma postura comprometida11. A importância atribuída a tais qualidades subjetivas (positivas) do trabalhador mascara, no entanto, a finalidade pretendida: o aumento da produtividade do trabalho com o menor custo possível em um cenário de sucateamento do Estado e desmonte de direitos e políticas sociais.

Aproximando a reflexão à realidade mais específica do Serviço Social, Behring (2008) pontua que a lógica empresarial introduzida no âmbito estatal implica na adoção de parâmetros como eficácia, eficiência e efetividade: eficácia nas tomadas de decisão, eficiência na execução das tarefas e efetividade dos serviços prestados. Parâmetros bastante utilizados na elaboração/implementação das políticas sociais, sinalizando a presença de novas requisições para o Serviço Social.

Por conseguinte, infere-se que a reforma gerencial – considerando que a mesma incide no modus operandi do espaço sócio-ocupacional privilegiado da categoria dos assistentes sociais: as políticas sociais públicas de responsabilidade do Estado – traz graves impactos para o exercício da profissão.

Deve-se clarificar que o neoliberalismo introduzido no Brasil com a instauração do governo Collor de Melo (1990-1992), sendo aprofundado nos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002),

11

Defende-se, inclusive, a construção de indicadores quantitativos de desempenho dos servidores nas atividades, de modo que se possa mensurar o grau de consecução dos objetivos e metas (BRASIL/MARE, 1995).

(32)

permanece como direção ídeopolítica determinante da tônica nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010)12.

Para Figueiras e Gonçalvez (2007), o governo Lula mantém a mesma política econômica dos governos neoliberais anteriores, reforçando o avanço de estruturas de produção e padrões de inserção internacional retrógrados, assim como a configuração apresentada pelas políticas sociais de cariz focalizado e compensatório possui estreitos vínculos com a política econômica aprofundada.

De outra parte, a concepção das políticas sociais dominante na atualidade conforma-se a partir de elaborações do BIRD, abordando a distribuição da riqueza/renda como causas da pobreza e das desigualdades na (idem)13.

A política social no governo Lula

Combina perfeitamente a flexibilização e precarização do trabalho com programas focalizados e flexíveis de combate à pobreza. Ambos regidos pela mesma lógica: o curto prazo, o imediatismo inconsequente, intervenções pontuais e precárias, que, para não se contrapor à “ordem econômica neoliberal”, subordina-se ao reino da conveniência, sem mudar e sem intervir nas causas estruturais dos problemas da sociedade brasileira (FIQUEIRAS e GOÇALVES, 2007, p. 28).

O alcance dos programas sociais desenvolvidos é limitado pela “necessidade” de manutenção do ajuste fiscal, isto é, dos elevados superávits primários, representando um enorme desperdício de recursos que poderiam ser utilizados no atendimento às necessidades sociais14. Decorre da insuficiência dos recursos destinados o aprofundamento dos critérios de seletividade para o acesso das populações-alvo.

Nesse sentido, esses mesmos programas, marcados pela primazia da transferência de renda, reforçam cada vez mais a cultura que transforma o usuário-sujeito de direitos em usuário-cidadão consumidor, o qual é obrigado buscar

12

A ideologia neoliberal continua direciona a política também no governo da Presidenta Dilma Rousseff (2011-atualidade).

13

As concepções do BIRD desconsideram os mecanismos estruturais da sociedade que produzem tais realidades, apresentando razões explicativas aparentes: “as famílias e indivíduos pobres estão na situação de pobreza porque não têm ‘capital humano’; nessa situação, não têm capacidade ou estímulo em investir para obter esse capital; logo, permanecerão na pobreza” (FIQUEIRAS e GOÇALVES, 2007, p. 144).

14

O governo Lula é responsável pelo pagamento de valores extraordinários ao FMI. A manutenção das linhas de crédito custou ao país US$ 3,65 bilhões na forma de pagamento de juros e taxas de administração no período 2003-2006 (idem).

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respostas às suas demandas no mercado. Os resultados são o agravamento daqueles rebatimentos discutidos por Silva (apud FONSECA, 2012) os quais apontamos anteriormente, relativos à precarização e despolitização da prática profissional.

Em síntese, as inflexões no capitalismo contemporâneo em decorrência da crise estrutural do sistema encerram as mediações que particularizam um processo de “superação dialética” (RODRIGUES, 2007), que contém elementos de continuidade, mas também de de ruptura, das competências em relação aos parâmetros pedagógicos anteriores ancorados na lógica das qualificações.

Em linhas gerais, a emergência do novo padrão flexível de acumulação e as mudanças na organização/gestão da produção e do trabalho resultam no surgimento de exigências e demandas postas pelos empregadores no mercado profissional, requerendo a constituição de um “novo” perfil para o trabalhador. Por outro lado, com a contrarreforma do aparelho estatal, observa-se que a lógica empresarial flexível hegemônica na esfera produtiva estende-se ao Estado sintonizada com os preceitos da ideologia neoliberal, ocasionando uma série alterações no conjunto das políticas sociais, bem como na estruturação e no funcionamento administrativo do setor público.

Esses dois movimentos são de fundamental importância para se pensar as requisições que atingem a formação em Serviço Social e, em especial, a atividade de estágio obrigatório.

Tendo em vista um movimento de aproximações sucessivas à temática discutida no presente capítulo desse trabalho, é interessante o exame mais aprofundado da particularidade do modelo das competências, identificando suas características internas.

A identificação dessas características é seguida da discussão a respeito da contrarreforma da educação superior brasileira – mediação central para pensar o modelo das competências – enquanto processo que concretiza a adesão da formação da força de trabalho aos novos parâmetros pedagógicos hegemônicos na sociedade.

(34)

2.2 A consolidação do modelo das competências como parâmetro para a formação da força de trabalho: particularidade e características internas

A abordagem do fenômeno denominado “pedagogia” ou “modelo das competências” (RAMOS, 2001; RODRIGUES, 2007)15

, embasada nas determinações históricas que lhe atribuem significado16, conduz à compreensão de que sua emergência e consolidação possui nexos intrínsecos ao contexto de construção das saídas burguesas diante da crise estrutural do capitalismo materializadas na reestruturação produtiva e na contrarreforma neoliberal do aparelho do Estado.

Por sua vez, essa contextualização abre caminho para que se possa entender o modelo das competências em sua relação com as necessidades capitalistas de constituição de um “novo” perfil para o conjunto dos trabalhadores em consonância com a acumulação flexível. Nessa relação, as competências surgem como expressão dos novos parâmetros pedagógicos dos processos de formação da força de trabalho, generalizando-se por adequar os “novos” profissionais especializados às exigências e demandas requeridas pelos empregadores no âmbito do mercado.

Nessa perspectiva, ganha relevo desvendar as características internas dos parâmetros supracitados através da mediação dos vínculos historicamente estabelecidos entre trabalho e educação.

Os aportes de Tanguy (1999) esclarecem que a relação trabalho-educação ganha força nos anos 1950 por ocasião da expansão do regime fordista-keynesiano em âmbito mundial, quando é difundida a concepção de educação como fator impulsionador do crescimento econômico. Defende-se, então, que a formação incorpore cada vez mais as requisições postas pela esfera produtiva.

Por outro lado, a autora assinala que, estando relacionada ao trabalho na sociedade capitalista, a educação institucionaliza-se como espaço contraditório,

15

Essas são as terminologias que aparecem respectivamente nas contribuições elaboradas por Ramos (2001) e Rodrigues (2007), adotadas como referências. O segundo autor utiliza ainda apenas “competências” para referir-se à categoria ora discutida. Na presente dissertação, faz-se uso das três nomenclaturas.

16

Aqui, reporta-se à noção de “significado social” elaborada por Iamamoto (apud IAMAMOTO e CARVALHO, 2005) a qual se remete às condições e relações sociais que dão inteligibilidade e nas quais se torna possível e necessário determinado fenômeno.

(35)

marcado pela disputa entre os projetos políticos das classes sociais antagônicas, havendo, contudo, a preponderância dos interesses das elites dominantes (idem).

Na mesma linha de raciocínio, Ramos (2001, p. 28) afirma que os processos de formação expressam “a relação dialética de subsunção do homem ao capital e a luta contra essa mesma subsunção”. Não obstante esse seja um traço marcante dos sistemas educacionais instituídos no capitalismo, as configurações específicas assumidas pelos mesmos ajustam-se às especificidades das realidades nacionais nos diferentes momentos históricos.

Assim sendo, os processos formativos estão sujeitos às implicações decorrentes das mudanças na divisão social e técnica do trabalho17, da mesma forma que concorrem para a concretização dessas mudanças, pois comportam em seu interior a contradição fundamente da sociedade, ademais de diversos aspectos singulares.

O modelo das competências possui estreita relação com o padrão de produção e acumulação flexível incorporado a todos os ramos da economia, inclusive, ao aparelho do Estado, na medida em que compõem junto com outros mecanismos ideológicos – a exemplo da empregabilidade, do empreendedorismo, colaboração e da noção de educação como “panaceia” 18–, o projeto de recomposição hegemônica do capital o qual abarca diferentes aspectos constitutivos da sua sociabilidade.

O objetivo de fundo consiste em adaptar a mercadoria força de trabalho para que seja inserida em um mercado de trabalho sob “novas” configurações. Igualmente, há a preocupação de se impor aos trabalhadores a aceitação da realidade de desemprego e precarização das suas condições de trabalho e de vida por intermédio da captura da sua subjetividade.

Deluiz (apud RODRIGUES, 2007), analisando os objetivos das competências, afirma que estas têm o intuito de qualificar/capacitar, mas, sobretudo, adaptar a força de trabalho aos novos moldes economia.

17

Como apontado por Marx (apud IAMAMOTO, 1992, p. 59), “a divisão do trabalho resume as condições sociais nas quais os indivíduos, na qualidade de pessoas autônomas e privadas, produzem valores de troca”.

18

Uma abordagem introdutória sobre a funcionalidade desses conceitos aos interesses hegemônicos do capital na atualidade encontra-se em Siqueira e Neves (2006, pp. 92-96).

(36)

A autora indica que se trata de um conceito proveniente da administração de empresas adotado e incorporado gradativamente à organização/gestão do trabalho de modo cada vez mais generalizado a partir do final do século XX.

Na década de 90, o aprofundamento da globalização das atividades capitalistas e a crescente busca de competitividade levaram ao ‘alinhamento definitivo das políticas de recursos humanos às estratégias empresariais, incorporando à prática organizacional o conceito de competências, como base do modelo para se gerenciarem pessoas’, apontando para novos elementos na gestão do trabalho (DELUIZ apud RODRIGUES, 2007, p. 139).

Enquanto mecanismo ideológico voltado para as práticas de organização e gestão do trabalho que se constitui no meio empresarial, as competências possuem propósitos sincronizados com os objetivos de incremento da produtividade, lucratividade e competitividade do capital, bem como de racionalização dos custos tendo em vista o processo de valorização.

Para Rodrigues (2007), não obstante esses propósitos constituam tendências gerais do capitalismo presentes também no padrão de produção e acumulação rígido, verifica-se hoje um processo de radicalização sem precedentes expresso no avanço das estratégias de subsunção das classes trabalhadoras em direção ao plano da subjetividade, tendo em vista cooptação desses sujeitos. Ou seja, radicalizam-se as estratégias que buscam maior alcance da adesão e do consentimento dos trabalhadores à sociabilidade burguesa.

Destarte, se a lógica das qualificações foi uma resposta necessária do sistema de exploração/dominação capitalista na etapa do fordismo-keynesianismo, o mesmo ocorre com o modelo das competências, pois este é funcional à lógica empresarial flexível. Os parâmetros pedagógicos mais recentes substituem as anteriores por sua radicalidade e atualidade, contudo o autor pondera que a transição das qualificações às competências possui pontos de ruptura e de continuidade (Idem).

Tanto as qualificações quanto as competências detêm a finalidade de formar a força de trabalho para o mercado, entretanto as últimas, carregando consigo um ponto que lhe é peculiar, qual seja: a centralidade da subjetividade do trabalhador, fazem com que as últimas se consolidem sobre as primeiras. Tal como explica o trecho a seguir:

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