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A ordem V DP em construções monoargumentais :: uma restrição sintático-semântica /

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(1)

AordemVDPefnconstnições

monoargumentais:

utna restrição sinláticc^mântica

Pós-graduação em Letras/Lingüística

Universidade Federal de Santa Catarina

Florianópolis

2000

(2)

A ordem V DP em construções

morwargumentais;

umaFestriçãosintálico-semântica

Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós- graduação em Letras/Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do titulo de Doutor em Lingüística

Orientador

Prof. Dr. Paulino Vandresen

Co-orientadora

Profa . Dra. Maria Cristina Figueiredo

Florianópolis

2000

(3)

Doutor em Lingüística

E aprovada em sua forma final pelo programa de

Pós-graduação em Lingüística pela Universidade Federal de

Santa Catarina

Banca Examinadora

P ro f Dr. Paulino VandpgáerT^ P ro f orientador UFSC NUOU!

ofa. Dra. Maria Cristina Figueiredo Profa. co-orientadora

UFSC

Profé!^ Dra. Mary Arzua Kato UNICAMP

Prof" Dr. Carlos Mioto UFSC

---Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck UNESP

adi

Profa. Dra. Edair Maria Gõrski UFSC

(4)

e às m inhas fílhas Bárbara e Tamara,

com m uito am or e carinho

(5)

Ao professor Paulino Vandresen, principal responsável por grande parte de meus estudos na área da Sociolingüística, e, sobretudo, pela confiança e amizade.

À professora Maria Cristina Figueiredo, grande exemplo de seriedade na vida acadêmica, por todas as discussões teóricas que fizemos, pela amizade e pelo respeito com que acolheu minhas idéias e me ajudou a desenvolvê-las.

À professora Edair Gõrski, pelas incontáveis horas que passamos juntas conversando a respeito de meu trabalho de tese, pelas valiosas sugestões e pela amizade incondicional.

Ao professor Carlos Mioto, pelo privilégio de ter meu trabalho acompanhado de muito perto por ele, desde o início, e pelos incentivos constantes.

À professora Mary A. Kato, pelos comentários tão esclarecedores que fez sobre minhas questões e hipóteses e pelas valiosas sugestões.

Ao professor Apóstolo Nicolacópulos, pelo irrestrito apoio e pelos valiosos comentários aos diversos textos que integram a tese.

Às professoras Roberta Pires de Oliveira, Rosane de Andrade Berlinck e Ana Maria Zilles, pelas discussões de alguns tópicos e pelas pertinentes observações acerca de meus resultados parciais.

À Universidade Federal de Santa Catarina, em especial, aos professores do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, pela oportunidade concedida.

(6)

leitura de meu texto final, e à Marisa Fernandes, com quem eu conversei muito sobre a quantificação dos dados no inicio de meu trabalho de tese.

Aos demais amigos, em especial à Márcia Rech (tão distante e ao mesmo tempo tão presente) e à Meta, sempre prontas a ouvir e a dar uma palavra de apoio.

Aos meus pais, que sempre me incentivaram no caminho dos estudos, por acreditarem em mim.

Ao meu marido Antônio Sérgio, pelo companheirismo e apoio incondicional no decorrer de todo o desenvolvimento deste trabalho, e às minhas filhas Bárbara e Tamara, pelo constante apoio e carinho.

(7)

O propósito desta tese é examinar a variação da ordem DP V /V DP em construções declarativas monoargumentais de 16 (dezesseis) entrevistas, extraídas do Banco VARSUL, em especial na, variedade falada em. Florianópolis, tentando conciliar uma abordagem sociolingüística variacionista (cf. Labov, 1972) com um aparato teórico gerativista (cf. Chomsky, 1981; 1986). Nosso objeto de estudo assume a perspectiva de uma das possíyeis ordens - V DP - procurando caracterizar sua inserção no interior do sistema lingüístico.

A análise estatística mostra que a ordem V DP é definida basicamente em função da restrição de inacusatividade. D e um lado, a ordem V DP está associada a uma restrição sintático-semântica; a natureza do verbo, estabelecida, principalmente, na relação entre verbo inacusativo e argumento interno. Por outro lado, a ordem V DP está associada a restrições semânticas de definitude impostas ao DP pós-verbal, sob condições sintáticas específicas; a co-ocorrência entre efeito de definitude e construções inacusativas.

Finalmente, a conclusão que segue desta análise é a de que as ordens DP V e V DP não constituem, propriamente, um caso de variação, já que tipos de verbos (intransitivos e inacusativos) e traços opostos de definitude (e especificidade) são restrições ligadas às ordens DP V e V DP, indicando sua complementaridade. Ao lado do fenômeno da inacusatividade, a análise dos elementos entre V... DP mostra que a configuração V DP (PP) também corresponde a, construções de foco estreito, de foco contrastivo ou de tópico (deslocamento à direita), mesmo que restritamente; conseqüência direta da heterogeneidade da configuração V DP no português do Brasil.

(8)

The purpose o f this dissertation is to examine quantitatively the word order variation in monoargumental declarative sentences in the speech o f 16 interviews o f VARSUL Project o f Florianópolis, from the perspective o f analysis that attempts to reconcile a variation approach (cf Labov, 1972) with the theoretical apparatus o f generative grammar (cf Chomsky, 1981; 1986). Our object o f study assumes the perspective o f one o f the possible orders - V DP - attempting to characterize how it is

inserted in the linguistic system.

The statistical analysis shows that the V D P order is defined in terms o f constraint o f unaccusativity. Atfirst, the VD P order is associated with syntactic-semantic constraints: the nature o f the verb, established, principally, in the relation between unaccusative verb and internai argument. On the other hand, the V DP order is associated with semantic constraints o f definiteness imposed upon the post-verbal DP, under specific syníactic conditions: the co-occurrence between effect o f definiteness and unaccusative sentences.

The conclusion that follows from this analysis is that the DP V and V DP orders do not constitute, basically, a case o f variation, since types o f verb (intransitive and unaccusative), semantic opposite features o f definiteness (and specificity) are constraints bounding to DP V and V DP order, indicating their complementarity. Besides the phenomenon o f unaccusativity, the analysis o f the elements between V ... DP shows that the

V DP (PP) configuration also corresponds to the narrow focus and topicalization sentences. It seems that the V DP order does not constitute a homogeneous configuration in Brazilian Portuguese.

(9)

ín d ic e d e d ia g r a m a s, g r á f ic o s e t a b e l a s .IV

INTRODUÇÃO 1

0.1. Ponto de partida... 1

0.1.1. Objetivos gerais ... 1

0.1.2. A ordem V D P ... ... ... 2

0.1.3. Delimitação do objeto de estudo ...2'

0.1.4. Questões e hipóteses g e ra is ...8 0.1.4.1. Principais questões ... ... 8 0.1.4.2. Principais hipóteses... ...8 0.2. Apresentação do trabalho... 11 0.3. N o ta s .... ... 12 CAPÍTULO I A ordem dos constituintes: em busca de uma explicação sintática ...14

1.1. Introdução... ...M4 1.1.1. A perspectiva teórico-metodológica deste trabalho... 14

1.1.2. Por uma concepção de Gramática... ... 16

1.2. Modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981; 1 9 8 6 )... ... 18

1.2.1. Os argumentos externos e internos...23

1.2.2. Teoria tem ática...24

1.2.3. Teoria do Caso ...27 1.2.3.1. Caso nominativo... 28 1.2.4. O movimento do verbo ... 33 1.3. Considerações finais...37 1.4. N otas...^...38i*' CAPÍTULO II A natureza do verto monoargumental 42 2.1. Introdução ... ...42

2.2. O fenômeno da inacusatividade: proposta de Burzio( 1986) ... 42

2.2.1. Ç]ritério setnântico; o papei temático do D P ... ...42

2.2.2. Çritério sintático: a questão do Caso ...48

(10)

2.4. Considerações finais... 74

2.5. N o ta s ... 75

CAPÍTULO III A natureza do sintagma nominal: do (morfo)sintático ao semântico 82

3.1.

Introdução ...

82

3.2.

As categorias gramaticais; uma discussão (morfo)sintática do D P

... 82

3.3.

A natureza sintático-semântica do DP

...84

3.3.1.

A proposta de Belletti

(1988):

o efeito de definitude...

84

3.3.2.

A proposta de Enç

(1991):

o efeito de especificidade ...

89

3.3.2.1.

Sintagmas [+/-definidos] e [+específicos]...

89

3.3.2.2.

Sintagmas [-específicos]: nota sobre as construções existenciais...

99

3.4.

Considerações finais...

101

3.5.

N o ta s ...

102

CAPÍTULO IV Procedimentos metodológicos i07 4.1. Introdução ... 107

4.2. O método de análise... 107

4.2.1. A variação nos estudos sintáticos ...108

4.2.2. Constituição e caracterização da amostra ... 109

4.3. Etapas metodológicas...111

4.3.1. Delimitação dos contextos monoargumentais... 112

4.3.2. Categorização dos d ad o s... 117

4.4. Grupos de fatores condicionadores...117

4.4.1. Tipo categorial do verbo ... ... .... .118

4.4.2. Composição semântica do verbo ... ... ... ... ...119

4.4.3. Traços de animacidade do DP ... ... 121

4.4.4. Forma de realização do DP ... 122

4.4.5. Traços de definitude e de especificidade do DP .... ...123

4.4.6. Estatuto [+/- pesado] do DP ... 124

4.4.7. Tipo de sentença... 125

4.4.8. Grupos de fatores sociais ... ... 126

(11)

5.1. IntrcM^âo ... ... ... ... ... 131

5.2. Descrição e análise-dos resultados... :.;...;.^^131

5.271. A natureza dõs verbos monoargumenfâis... : 1-33 5.2.1.1. Sobre a composição semântica dos v e rb o s ...Í34 5t2.2. Anatureza do sintagma nom inal... ... ... 148

5.2.2.h Sobre-os traços de definitude e especificidade do DP ....148

5.2.2.2. Sobre a forma de realização do D P ... .166

5.2.2.3. Sobre o estatuto [+/-pesado] do D P ...168

5.2.2.4. Sobre os traços de animacidade do DP ... 169

5.3. Considerações finais... 172

5.4. N o ta s ... 176

CAPÍTULO VI Sobre os preenchedores das fronteiras ...V...DP... na caracterização do sintagma pós-verbal i8 i 6.1. Introdução ... 181

6|.2. Resultados estatísticos... 182

4.2.1. Descrição dos preenchedores das fi-onteiras,DP x V/ V x D P ...183

6.2.2_ Descrição dos preenchedores periféricos... ... - ... 188

6^ 3. S obreis construções inacusativasT a configuração [Loc V DP] . .... ;.. .^ 193

6;4. Sobre a heterogeneidade da configuração V DP .....r ......T...;.,.201

6.4.1. Construções de topicalização ... 201

6.4.2. Construções de foco não-marcado. uma explicação alternativa ...207

6.5. Considerações finais... 215

6.6. N o ta s ... 216

CONCLUSÃO ...224

(12)

DIAGRAMAS

Diagrama 5.1.: Mecanismos combinatórios das categorias verbais... 145

GRÁFICOS

Gráfico 5.1.; Freqüência de DP V e V DP nos dados analisados...132

Gráfico 5.2.: Reanálise dos grupos de fatores composição semântica do

verbo e tipo categoria! do v erb o ... 147

Gráfico 5.3.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre traços de animacidade, de definitude e de especificidade marcados

no D P...172

TABELAS

Tabela 0.1: Percentuais de V DP obtidos nos estudos de Lira (1986:19), segundo o grupo de fatores transitividade do verbo...2 Tabela 0.2.: Percentuais de V DP obtidos por Berlinck (1988:88), segundo

0 grupo de fatores transitividade do verbo...4 Tabela 0.3 .: Percentuais de V DP obtidos por Zilles (1999), segundo

o grupo de fatores transitividade do verbo...5 Tabela O.4.: Percentuais de V DP obtidos por Berlinck (1995:228), segundo

o grupo de fatores construções verbais monovalentes...5 Tabela 4.1.: Distribuição da amostra de informantes da região de Florianópolis,

extraída do Projeto VARSUL...110 Tabela 5 .1.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores

(13)

Tabela 5.3.: Freqüência de V DP, segundo o grupo de fatores tipo

categorial do verbo...141 Tabela 5.4.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo a reanálise dos

grupos de fatores composição semântica e tipo categorial do verbo... J 42 Tabela 5.5.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores

traços de definitude e de especificidade do D P ... ...,152 \ Tabelã 5.6. : Freqüência de VDP^ segundo o cruzamento entre os grupos

de fatores natureza do verbo e traços de definitude e de

especificidade do D P ... ... ... ... ...;152 Tabela 5.7.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo a reanálise do gnipo

de fatores traços de definitude e de especificidade do DP, consideran­ do os DPs nus como sintagmas [-definidos] e [-específicos]...162 Tabela 5.8.: Freqüência de V DP, segundo a reanálise do cruzamento entre os

grupos de fatores natureza do verbo e traços de definitude

e de especificidade do D P ...163 Tabela 5.9.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores

forma de realização do D P...166 Tabela 5.10.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os grupos

de fatores forma de realização do DP e traços de definitude

e de especificidade do D P ... 167 Tabela 5.11.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores

estatuto [+/- pesado] do DP... 168 Tabela 5.12,: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os grupos de

fatores estatuto [+/-pesado] do DP e natureza do verbo...169 Tabela 5.13.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores

animacidade do D P ... 170 Tabela 5.14.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os grupos

(14)

Tabela 5.16.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os verbos intransitivos e os verbos inacusativos do tipo 0 0 [+ação]^ STAY/ APPEAR/GO [-ação] e BE existencial e os demais grupos de fatores selecionados como relevantes pêlô pacofe esfatísfico VA1®RUL' ... 174 Tabela 6.1: Freqüência total de ausência/presença de preenchedores na fronteira

entre DP e V ou V e D P ... ...183 Tabela 6.2.: Freqüência de preenchedores na configuração DP x V/ V x D P ...183

Tabela 6.3.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os grupos

de fatores configuração DP x Y /V x DP e natureza do verbo... 184 Tabela 6.4. : Freqüência total de ausência/presença de preenchedores em fronteiras

marginais (x DP V/x ... ... 1,88 Tabela 6.5.: Freqüência de preenchedores na confíãLiração x DP V/ x V D P ...^88

Tabelr &. &.: Freqüência dê V DP, segundo o cruzamento entre os grupos

de fatores configuração x DP V/x V DP e natureza do vérbo...190 Tabela 6.7. : Freqüência de preenchedores na configuração D P V x_/ V D P x ... 191

Tabela 6 8.: Freqüência de V DP, segundo o cruzamento entre os grupos

de fatores configuração DP V x7 V DP x e natureza do verbo... 192 Tabela 6.9.: Recorte do resultado percentual do-preenchedor locativo/temporal

entre V e DP e às margens de V DF, segundo o fator natureza dp

(15)

Carecemos d e um ‘corpo de doutrina’ ou doutrinas, ou seja, desse m undo de idéias que, ao desdobrar-se, cria um espaço intelectual: o âm bito de uma obra, a ressonância que a prolonga ou a contradiz. Éés'e espaço é o lugar de encontro com as outras obras, a possibilidade de diálogo

entre elas.

Octávio Paz (1967)

0.1. Ponto de paitída 0.1.1. Objetivos gerais

Este trabalho trata da variação da ordem DP DP’ em construções monoargumentais de 16 (dezesseis) entrevistas, extraídas do Banco VARSUL (Variação Lingüística Urbana da Região Sul), em especial na variedade falada em Florianópolis, tentando conciliar a sociolingüística variacionista (cf. Labov, 1972) com um aparato teórico da gramática gerativa (cf. Chomsky, 1981; 1986). Busca-se estudar os grupos de fatores que condicionam a ordem V DP e, em conseqüência, verificar o caráter de tal ordem, a partir do elencamento das propriedades que distinguem as possíveis posições do DP à direita do verbo e dos grupos de fatores que condicionam cada posição.

Nossa proposta se constitui de dois estudos complementares: (i) caracterizar e explicar as motivações que condicionam a ordem V DP em construções monoargumentais, buscando observar como essas motivações estão inseridas daitro do sistema lingüístico, e, a partir do levantamento de grupos de fatores extra-Iingüísticos, se há indícios de mudança em tempo aparente; (ii) cruzar os resultados estatísticos mais significativos com grupos de fatores que tratam da configuração da sentença, com o intuito de analisar as diferentes derivações V DP no português do Brasil, tendo como base um estudo empírico dos preenchedores das fronteiras ...V...DP.... O estudo dessas peculiaridades é fimdamental para a caracterização do DP que se posiciona imediatamente à direita de um verbo monoargumental.

(16)

monoargumentais envolve um recorte bastante reduzido (e não menos importante) das construções constitutivas de uma língua particular: o estudo de construções constituídas por verbos que selecionam apenas um argumento. Tomamos a ordem DP V (PP) como básica e a outra como um caso de estruturas de inversão. Ao selecionar tais construções, estamos optando por um ângulo através do qual será discutida a questão da ordem V DP naquelas construções, objeto de nosso estudo. Tal ordem está envolvendo um sintagma nominal que linearmente segue o verbo flexionado.

0.1.3. Delimitação do objeto de estudo

A delimitação do objeto de estudo teve sua origem nos trabalhos variacionistas que revelam uma correspondência entre transitividade verbal e ordem dos constituintes, no português do Brasil. Do ponto de vista sintático, quanto menos transitivo um verbo é, maior a possibilidade de inversão de seu DP; quanto mais transitivo é, menor essa possibilidade. Merecem destaque os trabalhos de Votre & Naro (1984), Lira (1986; 1996), Berlinck (1988; 1989; 1995) e Zilles (1999). O ponto de maior unanimidade entre os trabalhos variacionistas diz respeito à monoargumentalidade, indicada, consensuabnente, como um fator favorável à ocorrência de V DP, enquanto a pluri- argun^ntalidade como inibidora dessa mesma ordem

Examinando 1863 construções em que a variação da ordem DP V/ V DP era possível. Lira (1996) encontrou apenas 19% delas na ordem V DP. Seus resultados mostram que a anteposição do sujeito ao verbo constitui a ordem básica em português e que a posposição ocorre, em sua grande maioria, com verbos intransitivos (21%), seguido de verbos copulativos (8%), contra apenas 0,8% de verbos transitivos;

Transitividade do verbo Dados do Kio de Janeiro (Lira 1986) Verbo intransitivo 21%

Verbo cópula 8 % Verbo transitivo 0,8%

Tabela 0.1: Percentuais de V DP obtidos nos estudos de Lira (1986; 19), segundo o grupo de fatores transitividade do verbo

(17)

pintar, começar, aparecer, parar, cair, passar e acabar. Desses verbos, 66% admitem

sujeitos pós-verbais, contra apenas 29% com sujeitos pré-verbais. Muitos desses verbos, segundo a autora, podem ser classificados como verbos existenciais e verbos apresentativos. Para a autora, o fato de a ordem V DP ser praticamente nula com verbos transitivos deve ser devido aos fatores: de o objeto no português não ser superficialmente obrigatório; de o sujeito nulo ser um tipo de ocorrência possível; de alguns pronomes poderem atuar como objeto. A posposição do sujeito a um verbo de mais de um argumento poderia gerar estruturas ambíguas quanto à identificação da função sintática do sintagma pós-verbal, segundo ela.

É o mesmo que afirma Pontes (1986) ao salientar que a ordem V DP é mais recorrente em construções intransitivas porque nesses ambientes não é necessário recorrer à ordem SVO para distinguir sujeito de objeto. Essa também é a linha de raciocínio encontrada em Berlinck (1988), em seu estudo diacrônico sobre a ordem V DP no português do Brasil:

“quanto maior fo r o risco de o S N ser interpretado com uma função sintática que não a de argumento principal do verbo, menor será sua chance de ocorrerposposto ao verbo (...) o V S N se associa com a escala de transitividade, sendo comum cóm verbos intransitivos e ocorrendo com freqüência gradualmente menor à medida que os contextos se tomam mais transitivos”.

(1988:253)

A autora destaca, na análise do corpus sincrônico, que o verbo constitui o elemento central na definição da ordem dentro da sentença. A monoargumentalidade é estabelecida como condição mais propícia à ordem V DP. No entanto, na medida em que se estabelece a relação ordem-transitividade, a monoargumentalidade tem de ser vista em termos relativos, sendo necessário analisar também o tipo de argumento e sua relação com o verbo. A peculiaridade de conç>ortamento das construções existenciais, dentre as intransitivas, por exemplo, e sua rigidez na ordem V DP, lun total de 99%, contra 46% de intransitivas não existenciais já vem estabelecer possíveis diferenças reunidas sob o mesmo rótulo, como ilustra a tabela 2, a seguir:

(18)

Verbo de ligação 23% Verbo transitivo indireto 8% Verbo transitivo direto 3%

Tabela 0.2: Percentuais de V DP obtidos por Berlinck (1988:88), segundo o grupo de fatores transitividade do verbo

Como podemos observar, os resultados de Berlinck (1988) já apontam uma diferença grande entre os verbos tratados como intransitivos existenciais e os intransitivos não-existenciais, com relação à ordem V DP. Entretanto, o que a autora trata como intransitivo não-existencial parece não constituir um grupo homogêneo no português com relação à ordem V DP. Basta que pensenws nas diferenças entre os verbos monoargumentais como trabalhar, rir, correr, de um lado; e verbos como surgir,

acontecer, nascer, de outro, por exemplo.

Apesar de, nesse trabalho, não estabelecer distinções entre as construções intransitivas não-existenciais, Berlinck já sugere que não é só o número de argumentos que restringe a possibilidade de posposição, mas também o tipo de argumaito, que está intrinsecamente ligado à natureza do verbo. Há, por exemplo, uma associação inequívoca entre as construções existenciais e a ordem V DP, e não há dúvida quanto á natureza [- agentiva] de seus argumentos, segundo a autora

Os estudos de Votre & Naro também apontam para uma associação entre construções não-transitivas e a ordem VSx ou VxS. Os autores revelam que os verbos típicos da construção VS {entrar, sair, nascer, morrer) recebem o rótulo especial de apresentativos e caracterizam-se por esvaziamento do conteúdo lexical e baixa transitividade. Em trabalho recente, Zilles (1999) também atesta que um dos grupos de fatores que condiciona a ordem V DP é a transitividade do verbo; seus resultados mostram que a ordem V DP é praticamente nula com verbos transitivos e favorecida pelos verbos intransitivos, como os resultados da tabela 3 ilustram:

(19)

Verbo de ligação 9% 9% 10% 5% Verbo transitivo 1% 2% 2% 1%

Tabela 0.3: Percentuais de V DP obtidos por Zilles (1999), segundo o grupo de fatores transitividade do verbo

O importante para este trabalho é que todos esses resultados confimiam que as chances de se encontrar a ordem V DP são maiores em contextos monoargumentais e raras em contextos com verbos de mais de um argimiento no português do Brasil, o que mostra que a restrição da monoargumentalidade atua nessa língua. Verificar em quais os contextos monoargumentais a ordem V DP se manifesta com uma maior fi-eqüência na fala informal vai ser o objetivo mais imediato deste trabalho.

Outra questão a respeito da ordem V DP que merece destaque - já lançada no trabalho de Berlinck (1988) - relaciona-se à heterogeneidade das construções monoargumentais. A partir de uma análise diacrônica em textos escritos de peças de teatro de autores brasileiros e portugueses, Berlinck (1995) discute o conceito de inacusatividade, separando das construções pluri-argumentais construções com verbos monoargumentais, classificados pela autora como: intransitivos não-ergativos; intransitivos ergativos (por exemplo derreter, aquecer, apaixonar-se, assustar-se,

morrer, deslizar, rolar, aparecer, acontecer, existir, etc)', construções com se-V;

construções com verbos de movimento e construções copulares. Alguns de seus resultados estatísticos de V DP estão expostos na tabela 4, abaixo:

Berlinck (1995) Transitividade do verbo Dados do século XX Verbo intransitivo ergativo 43% Verbo de movimento 41% Verbo de ligação 11% Construção se-V 15% Verbo intransitivo inergativo 6,5%

Tabela 0.4; Percentuais de V DP obtidos por Berlinck (1995:228), segundo o grupo de fatores construções verbais monovalentes

(20)

desprezível de casos de ordem V DP com verbos considerados pluri-argumentais, para os propósitos deste trabalho apenas os resultados percentuais acima são importantes. Note-se que, dentre as construções monoargumentais, as construções com verbos intransitivos ergativos constituem ambientes mais propícios à ordem V DP, opondo-se às construções intransitivas inergativas (e transitivas). Tais resultados vêm ressaltar o que Kato e Tarallo (1987) já prediziam a respeito das possibilidades mais produtivas de ordem V DP no português do Brasil: uma manifestação da inacusatividade^ (estamos tratando aqui ergatividade como sinônimo de inacusatividade).

Apesar de ser xmi estudo do condicionamento da ordem V DP na modalidade escrita (peças de teatro), os resultados de Berlinck (1995) já apontam para o fato de que a classe dos verbos monoargumentais não é uma classe homogênea no português, guardando distinções internas significativas com relação à ordem dos constituintes. Os critérios de gramaticalidade dos exemplos (1) e (2) ilustram essa heterogeneidade em dados de fala analisados neste trabalho:

(1) a. Eu trabalho por um lado, a minha esposa trabalha por outro (FLP02L259)^

b. ??Eu trabalho por um lado, trabalha a minha esposa por outro^

(2) a Alguma coisa tá acontecendo naquela casa (FLP05L340) b. Tá acontecendo alguma coisa naquela casa

Vale lembrar que as descrições da sintaxe do português admitem habituaknente a existência de dois tipos básicos de construções: as transitivas e as intransitivas, a primeira pluri-argumental e a segunda monoargimiental. Entretanto, a impossibilidade de ordem inversa em (Ib), diferentemente de (2b), aponta para o fato de existirem pelo menos duas classes de verbos monoargumentais no português: a classe dos verbos intransitivos (já legitinada pela gramática tradicional), como mostra o exemplo em (la); e a classe dos verbos inacusativos, exemplificada em (2). A proposta de uma classie de verbos inacusativos distinta da classe dos verbos intransitivos foi levantada, pela primeira vez.

(21)

conceito de inacusatividade no modelo de Princípios e Parâmetros.

Um outro ponto importante a ressaltar diz respeito aos trabalhos diacrônicos sobre a variação da ordem DP \ / Y DP. Os resultados de Berlinck (1989:102) atestam que enquanto um fator de natureza flmcionalista explicava a ordem verbo-sujeito no português do século XVIII, um fator de natureza sintática - a transitividade do verbo - aparece como o grande condicionador da ordem verbo-sujeito no português do Brasil do século XX. O processo por que passa o fenômeno da ordem se caracteriza, segundo ela, por um decréscimo gradual da freqüência de V DP e por um paralelo enrijecimento da língua DP V. A autora, retomando os dados sobre objeto direto anafórico fonologicamente não expresso de Tarallo (1985), demonstra como o enrijecimento da ordem DP V se encontra relacionado à emergência de objeto nulo no português do Brasil, formando o que Tarallo (1993b;99) chama de cadeia de fenômenos de mudança. Se a tendência ao enrijecimento da ordem DP V persistir, segundo Berlinck (1988:254- 255), é de se esperar que cada vez mais contextos se caracterizem por luna forte associação com DP V, estabilizando-se a ordem inversa ^enas nas construções intransitivas, principalmente nos càsos de verbos de estado e mudança de estado.

Como disse Duarte (1995), quando se observa um processo de mudança, é natural esperarmos outras mudanças relacionadas a ele ‘de uma forma não acidental', conseqüências do seu encaixamento no sistema, conforme o princípio do encaixamento lingüístico® postulado por Weinreich, Labov & Herzog (1968). Quanto à restrição da monoargumentalidade às construções declarativas, Tarallo (1993b) justifica mostrando que a ordem V DP deveria ser bloqueada com verbos transitivos a fim de não permitir a colisão de papéis temáticos atribuídos aos sintagmas ao redor do verbo. Essa hipótese do encaixamento lingüístico parece coadunar com a ‘hipótese da proporção constante’ (the

constant rate hypothesis) de Kroch (1994), de acordo com a qual, em todos os

contextos lingüísticos de superfície, refletindo uma dada mudança sintática, freqüências de uso refletem a substituição gradual de uma opção gramatical abstrata por outra.

Em resumo, todos os trabalhos supracitados apontam uma restrição dá monoargumentalidade para a ordem V DP. Entretanto, alguns deles já acenam que monoargumentalidade deve ser entendida em termos relativos, pois é uma condição

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subseqüentes, que tomam as construções monoargumentais como foco de estudo.

0.1.4. Questões e hipóteses gerais O.I.4.I. Principais questões

A fim de descrever os grupos de fatores condicionantes das variantes (ordem DP V e ordem V DP) tratadas neste trabalho, optamos por abordar os problemas e as hipóteses mediados por uma interpretação teórica. Desse ponto de vista, pretendenws tratar da atribuição de Caso ao sintagma pós-verbal selecionado por verbos monoargumentais e da atribuição de p ^ e l temático a esses sintagmas, tendo como base o modelo de Princípios e Parâmetros. Para discutir o tipo de papel temático que o DP realiza, valemo-nos da tipologia de Jackendoff (1976; 1987), dentro da semântica formal, sobre a composição semântica dos verbos.

As hipóteses gerais que pretendemos testar se referem quase que exclusivamente à situação de estruturas V DP no interior do sistema lingüístico. Elas tentam fornecer uma melhor compreensão das questões colocadas a seguir.

(i) Qual é a natureza do verbo que permite a ordem V DP?

(ii) Qual é o caráter do sintagma nominal que se posiciona imediatamente à direita de um verbo monoargiunental?

(iii) A ordem V DP é um fenômeno heterogêneo? Se a resposta for afirmativa, que tipos de estruturas sintáticas pode estar evidenciando?

(iv) Se há indícios de mudança em tempo aparente, que caminhos ela percorre?

0.1.4.2. Principais hipóteses

(i) A variação da ordem DP YfW DP está associada a dois grandes condicionadores, um de cunho sintático e outro de cunho semântico, que se referem basicamente à natureza do verbo do ponto de vista de sua transitividade e de sua composição

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construção intransitiva deve privilegiar construções DP V, inibindo a orderh V DP, uma construção inacusativa deve admitiu mais-facilmente-a ordem_V DP. Tais diferenças devem estar diretamente relacionadas ao que vamos chamar de restrição da inacusatividade.

(ü) Com relação ao estatuto dos sintagmas nominais, nossa expectativa é de que o fenômeno conhecido na literatura .como efeito de. definitude. (DE) vá explicar o fato de DPs permanecerem à direita de verbos inacusativos, em decorrênciá da obrigatoriedade-de o argumento pós-verbal_de um_verbo. inacusativo. receber uma leitura [-definida] (e, possivelmente, [-específica] também). Essa hipótese está diretamente relacionada- à- idéia, de- que há_ um a correspondência, entre transitividade do verbo e traços de definitude do DP, tendo como base a proposta de atribuição de Caso partitivo de Belletti_Cl 988) aos^argumentos pós-verbais dos verbos inacusativos, revista por Enç (1991). Enquanto verbos intransitivos devem preferir, apenas^sintagmas nominais à suaesquerda.

(iii) A ordem V DP deve estar refletindo uma estrutura heterogênea, representada ora por construções inacusativas e ora por construções que manifestam alguma estratégia discursiva, tais como: construção de tópico ou de foco; essas últimas constituem estratégias de que o falante se utiliza para retomar constituintes já conhecidos ou focalizar elementos, independendo do tipo de verbo. Essa hipótese tem como base a discussão levantada por Kato e Tarallo (1989), segundo a qual a sintaxe V DP envolve, além da inacusatividade, dois outros fenômenos no português do Brasil, a saber: construções de inversão tipo V2’ e construções de deslocamento à direita Para discutir essa possível heterogeneidade, faremos um estudo quantitativo do papel que os preenchedores mais comuns exercem na sintaxe, dando ênfase, principalmente, aos preenchedores do tipo locativo/temporal nas fi-onteiras ...V... DP....

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(iv) A variação da ordem DP V/ V DP caminha para um processo de mudança em progresso em direção-à ordem DP Y^_associando- cada-vez.mais^QS ‘vestígios’ de V DP a restrições sintático-semânticas compatíveis com as manifestadas pelas construções inacusatLvas,_ em especial,-inacusativas. existenciais.- Essa. hipótese tem como base os estudos diacrônicos que têm mostrado que as ordens VOS e VSO caem. drasticanwnte nas. construções^ declaratLvas- a-partin do século XVIII, principalmente no português do Brasil, ao mesmo tenpo em que estamos constatando luna. mudança^ em_ direção, à. queda, do siqeita nulo e.. a uma ascendência do objeto nulo, como demonstram os estudos diacrônicos, principalmente de.Berlinck_(I988,1989), Duarte-(.1993),.Torres.Moraes^ (1993) e Ribeiro (1995).

Na tentativa, de. demonstrar, que um_estudo quantitativo pode contribuÍLpara o tratamento formal das questões lingüísticas, pretendemos verificar se as hipótêses listadas, acima, podem, set comprovadas, a. partir. da_análise-estatística, dos. grupos de fatores que co-ocorrem para o fenômeno da ordem V DP - utilizando-nos do pacote VARBRUL (cf Pintzuk. (.1988) e. Scherre (1993)) - abrindo, conseqüentemente, questionamentos a respeito da ordem mais recorrente. Vale ressaltar que, nossa análise pretende.investigat as-relações.que-subjazem.à co--ocorrência.dos.grupos^de.£aíores mais significativos. Os resultados estatísticos poderão ser bastante significativos para a compreensão da.estrutura-da-língua-e.talvez.possamiadicar_^umfenômeno de.conçietição entre gramáticas, entre sistemas, conforme o modelo de Kroch (1994), principalmente se verificado umxasa de mudançada ordememjtempo aparente.

É importante ressaltar que os resultados deste, trabalho só contribuirão para a pesquisa científica se comparados a outros trabalhos variacionistas que investigaram (e que investiguem) a ordem V DP em outras regiões do Brasil, como os de Lira (1986; 1996), Berlinck (1988; 1989, 1995) e Zilles (1999), por exemplo. Os. resultados fornecidos por esses autores somados aos deste trabalho constituem, a nosso ver, ‘mais um passo’ para a caracterização do.fenômeno.em_estudo..

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0.2. Apresentação do trabalho

Centrado em discussões e dados supracitados, o presente trabalho é organizado em seis capítulos. No capítulo I, são apresentados a perspectiva teórico-metodológica deste trabalho e alguns pontos inçortantes do modelo de Princípios e Parâmetros nos moldes de Chomslíy (1981; 1986), como a teoria temática e a teoria de Caso. Tais discussões têm por objetivo descrever alguns parânfôtros do português do Brasil no que se refere à ordem dos constituintes, em especial para poder servir de ponto de partida a certas indagações e hipóteses a respeito do estatuto do sintagma pós-verbal.

Procurando defender a hipótese de que, no português do Brasil, a inacusatividade é um dos fatores que condiciona a ordem V DP, é discutida no capítulo II a proposta de inacusatividade, segundo a perspectiva de Burzio (1986), traduzida para os termos da teoria que utilizamos aqui (cf a hipótese de sujeito intemo a VP). Em seguida, é apresentada a tipologia proposta por JackendofiF (1976; 1987) para a conçosição semântica dos verbos, com o objetivo de examinar a diferença entre o papel temático de agente e o de tema, no que se refere aos verbos intransitivos e inacusativos. Essas discussões são indispensáveis para o elencamento de dois grupos de fatores como possíveis condicionadores da ordem dos constituintes; tipo categorial do verbo e composição semântica do verbo - grupos de fatores de ordem sintática e semântica, respectivamente.

No capítulo III, faremos uma discussão a respeito do estatuto do sintagma nominal, desde a formação da categoria lexical de nome e das categorias funcionais a ela relacionadas até as noções sintático-semânticas que caracterizam os sintagmas nominais, em especial, noções como as de definitude e de especificidade, baseadas em trabalhos de Belletti (1988) e Enç (1991). A discussão de Belletti (1988) sobre o Caso partitivo é tomada como ponto de partida para explicar como traços de definitude do sintagma nominal podem legitimá-lo à direita de um verbo inacusativo em uma língua como o português. Esses traços serão reanalisados em termos da proposta de especificidade, formulada por Enç (1991).

O capítulo IV mostra os procedimentos metodológicos necessários para a descrição e análise da variação intema da ordem do DP em construções monoargumentais no português falado em Florianópolis. Serão apresentados o método quantitativo adotado e as decisões julgadas adequadas para a discussão dos problemas e

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das hipóteses mais especificas, seguindo uma abordagem que tenta relacionar a sociolingüística variacionista a xrni ^arato teórico de cunho formalista

No capítulo V, são descritos e analisados os grupos de fatores mais significativos como condicionadores da ordem V DP, no português falado em Florianópolis, selecionados pelo programa estatístico VARBRUL. A partir dessa discussão é possível observar se o condicionamento da ordem V DP no português deve ser ou não considerado uma restrição sintático-semântica No capítulo VI, abrem-se questionamentos a respeito do caráter do DP pós-verbal, tendo como base a discussão dos preenchedores das fi-onteiras ...V...DP.... O papel do locativo/temporal como um dos preenchedores de fronteira será objeto de discussão deste capítulo, que pretende levantar, entre outras coisas, questionamentos a respeito de construções de tópico e construções de foco. A análise é reafirmada na conclusão final, seguida de sugestões a fiituros trabalhos.

0.3. Notas

' Vamos usar aqui a categoria sintagmática DP (Determiner Phrasé) para designar sintagma nominal e não NP {Nom Phrase) justamente porque, para efeitos de referencialidade, umNP é sempre não-referencial, pois a ele faltam, traços de definitude e de especificidade, enquanto um DP pode ser tanto referencial como não-referencial.

^ As abreviaturas POA, SOB, FLC e PAN utilizadas por Zilles (1999) representam as regiões de Porto Alegre, São Boija, Flores da Cunha e Panambi, respectivamente.

^ Maiores definições e considerações teóricas a respeito do fenômeno da inacusatividade virão nos capítulos que seguem

Os dados de fala analisados para este trabalho serão identificados com a sigla FLP, que significa região de Florianópolis, seguida do número da entrevista e do número da linha em que se encontra o exemplo, no Banco VARSUL.

^ O julgamento de gramaticalidade de (Ib) e (2b) não leva em consideração uma leitura com stress proeminente ou focalização contrastiva do DP pós-verbal.

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Entendemos por encaixamento lingüístico o imbricamento entre mudanças internas.

^ O fenômeno V2 é conhecido na literatura como uma estrutura que apresenta a possibilidade de o verbo estar em Comp, precedido apenas por um constituinte do tipo Wh. Não estamos considerando que vamos encontrar V2 na ordem V DP, baseados no trabalho diacrônico de Torres Moraes (1993) segundo o qual tais construções são basicamente inexistentes no português atual. Vestígios dessa construção já são usados nessa língua como expressões cristalizadas do tipo (i);

(28)

A

ordem dos constituintes:

em tNJSca de uma explicação sintática

m . Introdução

1.1.1. A perspectiva teórico-metodológíca deste trabalho

A possibilidade de interferência de fatores não-gramaticais na explicação da mudança lingüística levou muitos estudiosos, desde a década de oitenta, a adotar uma postiira metodológica que concilia variação e teoria da gramática utilizando, ao mesmo tempo, a teoria/metodologia variacionista, nos moldes de Labov (1972), e um modelo teórico gerativista, na versão Government and Binding (doravante GB), proposto por Chomsky (1981; 1986). Enquanto uma teoria de base formal permite formular adequadamente os problemas e fornecer hipóteses para a análise dos dados, os resultados e generalizações dos estudos empíricos permitem que trabalhos de interpretação teórica possam ser desenvolvidos com mais segurança.

Essa proposta foi lançada por Tarallo e Kato (1989) ao se empreenderem no caminho que busca a compatibilidade entre as propriedades do modelo gerativo e as probabilidades do modelo variacionista. Os autores acreditam em um estudo simultâneo entre variação intra e inter-lingüística; a harmonia trans-sistêmica Ao se questionarem, por exemplo, sobre o que a análise dos dados revela quanto às circunstâncias em que determinado fenômeno se manifesta, os autores enfatizam que

“o variacionista (isto é, aquek qm trabalha com variação intra-üngüistica) está intmssado em projetar, antecipar e cftançar resultados cujo valor exceda os limites do intra-lingüístico para o

universo do inter-lingtiístico”. (1989:7)

Para os autores, as línguas podem diferir não só quanto à marcação positiva ou negativa em relação a determinando parâmetro (uma diferença qualitativa), mas também quanto à freqüência com que as propriedades relacionadas a tal parâmetro se manifestam E a freqüência é conseguida, por exemplo, mediante um estudo

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variacionista. Nesse sentido, as análises da variação intra-lingüistica partirão de hipóteses estruturais inspiradas no modelo inter-lingüístico, o modelo teórico chomskiano.

Enquanto, para os formalistas, há um enorme interesse em desvendar os parâmetros de variação nas línguas naturais, para os variacionistas, o interesse recai nos estudos empíricos que fomecem resultados estatísticos e probabüísticos relativos aos condicionamentos das formas lingüísticas que determinam ou condicionam a variação. Há um movimento de realimentação entre as propriedades paramétricas e as probabilidades: as primeiras dão suporte para o levantamento das hipóteses a serem testadas nos dados empíricos; e os resultados probabüísticos podem ser úteis ao realinhamento das propriedades paramétricas previstas no modelo inter-lingüístico. Dentro dessa perspectiva teórico-metodológica, a noção de parâmetro aqui é entendida no sentido discutido por Ramos (1999:87), “como o lugar de possível variação gramatical e especificação dessa variação em gramáticas individuais”.

A hipótese de gramáticas em competição (cf. Kroch, 1984) para estudar a variação de certa forma rediscute a noção de parâmetro. Para o autor, a variação sintática ocorre via competição entre opções incompatíveis gramaticalmente. E essa incompatibilidade, que vem da teoria gramatical, é uma questão de fixação dos parâmetros sintáticos da língua, o que quer dizer que, quando temos variantes sintáticas, temos sempre fixações gramaticais incompatíveis. Quando o parâmetro do objeto nulo, em uma língua como o português, por exemplo, fixa-se na gramática da língua materna, entra em assimetria com a gramática criada nas etapas ulteriores da aprendizagem, entrando em conçetição. Assim, se a mudança de uma ordem variável DP V/ V DP para uma ordem basicamente fixa DP V (permitindo V DP apenas a construções monoargumentais) for devida a uma incompatibilidade entre ordem V DP e objeto nulo, isso parece mostrar uma competição entre dois sistem^ gramaticais, e não uma mudança nas formas superficiais.

Utilizando-nos desse quadro teórico-metodológíco para discutir a variação da ordem DP V e V DP em construções nwnoargumentais, estamos partindo do pressuposto que a aceitação da noção de variação como fenômeno gramatical leva necessariamente á rejeição da aceitação de que há opcionalidade entre uma e outra forma lingüística, tal como ocorreu na sociolingüística laboviana, nos anos 60. Nossa

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expectativa é de que a variação da ordem dos constituintes seja um caso de distribuição complementar, ou de competição entre gramáticas, e não um caso de variação estilística

Conciliar uma abordagem sociolingüistica que busque observar a língua em uso com um aparato teórico formalista de base gerativista será, portanto, o propósito mais imediato deste trabalho. Nossa perspectiva de análise leva em conta a leitura dos dados já mediada por uma interpretação teórica e se justifica por dois pontos de vista: (i) o estudo de uma teoria formal servirá para levantar as hipóteses que se inserem neste trabalho e interpretar fatos de variação sintática; (ii) e o estudo da variação da ordem em dados enpíricos terá resultados probabilísticos capazes de comprovar ou não as hipóteses levantadas e realinhar as propriedades previstas pelas análises teóricas ou predizer novas.

Vários estudos já foram realizados dentro desta perspectiva - regida pela noção de imbricamento entre as teorias - e já se mostraram bastante produtivos na literatura, em trabalhos como os de Nunes (1991), Pagotto (1992), Duarte (1993; 1995), Cyrino (1993), Torres Moraes (1993), entre outros.

1.1.2. Por uma concepção de Gramática

Com o objetivo de descrever os condicionamentos sintáticos da ordem dos constituintes, principalmente no que se refere ao movin^nto do sintagma nominal e do sintagma verbal, optamos por uma abordagem sintática de cunho formal, mais precisamente, por uma abordagem baseada nos pressupostos chomskianos a partir de 1981. De um modelo como a Teoria Padrão, formulado na década de sessenta, que tenta identificar regras com processos mentais na aquisição e que acena para diferenças entre competência (conhecimento inconsciente que o falante nativo tem de sua língua) e performance (uso da língua em situações concretas), Chomsky (1981) parte para um modelo de Princípios e Parâmetros, na versão GB, formulado a partir de uma perspectiva modular.

A gramática de uma língua é vista, desde a Teoria Padrão, como o estudo da competência lingüística, e não o da performance, isto é, como o estudo do saber lingüístico de um falante adulto de uma certa língua é determinado. Esse estudo ganha novos rumos no modelo de 1981, que tenta responder qual a forma do conhecimento lingüístico do falante de uma língua, designada de ‘língua-F (língua internalizada, xmi

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saber individual inconsciente). A gramática desde então é concebida com princípios que determinam a formação de palavras, sintagmas e sentenças. É parte do estudo geral de cognição.

Nesse sentido, uma teoria da gramática é entendida como um conjunto de hipóteses sobre a natureza de gramáticas possíveis e impossíveis das línguas naturais (isto é, humanas). Os padrões revelados pelas diferenças entre as línguas parecem sugerir que a variação é limitada a um conjunto pré-determinado de restrições e é tarefa da teoria da gramática descobrir a natureza dessas restrições e como elas se relacionam, com base em critérios de universalidade, tentando construir uma Gramática Universal (doravante GU). A GU é concebida como o estado inicial da faculdade da linguagem, geneticamente determinada, a base de que todas as línguas humanas dispõem e que evolui no indivíduo, constituindo-se na gramática do indivíduo adulto, o seu estado final estável, nos termos de Chomsky (1981).

Neste modelo de gramática, assume-se que o ser humano é dotado geneticamente da capacidade para a linguagem, através de princípios rígidos, comuns a todas as línguas, e de parâmetros, que tentam dar conta de explicar a diversidade entre as diferentes línguas humanas. Dentro dessa visão, a noção de parâmetro pode ser entendida como um conjunto restrito de opções (ou valores) associadas com um princípio dado ou com uma categoria. À medida que os parâmetros vão sendo fixados, vão se constituindo as gramáticas das línguas.

Baseando-nos em evidências da iíngua-E’ (língua extemalizada), pretendemos discutir quais são os parâmetros fixados para a ordem do sujeito-verbo/verbo-sujeito (DP W/W DP), a partir do que está disponível nos sistemas de representação mental (língua internalizada ou língua-I), e quais as possíveis variantes dessa ordem ( x V DP/ V X DP/ V DP x) em uma língua particular, como o PB. Para alcançar os objetivos a que a pesquisa se propôs, será adotado o método quantitativo de análise, a que se acrescentaram procedimentos qualitativos, por entendermos que muitas vezes necessitamos de um exemplo apropriado para discutir as nossas hipóteses e essa evidência nem sempre se encontra nos dados. Os dados serão tratados como fonte de evidência positiva, pois não podemos pedir julgamentos de gramaticalidade e assim chegar à língua-I do falante, já que o acervo analisado faz parte de um Banco de Dados coletado no início da década de noventa. Na impossibilidade de termos certeza de que.

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quando uma forma não aparece nos dados é porque é uma forma agramatical e para avançar hipóteses mais gerais sobre a estrutura da língua, em especial sobre nosso objeto de estudo, vamos discutir também as evidências negativas, ou seja, as formas agramaíicais. Para tanto, serão usados não só os dados da fala analisada, como também nossas intuições sobre eles.

1.2. Modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsiq^ 1981; 1986)

Neste modelo, Chomsky afirma que todas as linguas humanas dispõem de uma mesma base, a GU. A GU é formada por categorias que se submetem ao esquema X- barra, e que são determinadas por princípios e parâmetros. O esquema X-barra é o módulo da gramática que permite representar a natureza de um constituinte, as relações que se estabelecem dentro dele e o modo como se hierarquizam para formar as sentenças. Configura-se como um esquema geral capaz de projetar uma estrutura frasal com as principais categorias lexicais e funcionais, no qual aparecem distribuídas as posições de núcleo, especificador e complemaito. Ele está assim representado:

(1) XP

/ \

YP X’

/ \

X” ZP

A variável X do esquema acima é usada para representar qualquer núcleo, a partir do qual as relações são estabelecidas. Cada núcleo lexical (nome, verbo, adjetivo e preposição) pode projetar uma posição de especificador (YP) e uma posição destinada aos complementos (ZP). Da mesma forma que as categorias lexicais, as categorias fiincionais projetam as posições de especificador e cortplemento, obedecendo à mesma estrutura hierárquica ilustrada acima. Vale lembrar que, enquanto os núcleos lexicais - interessa-nos aqui em particular o verbo - têm a capacidade de selecionar semanticamente seus argumentos, os núcleos fijncionais têm fiinção eminentemente gramatical, como por exemplo a flexão (INFL), quê codifica certas propriedades gramaticais que definem se uma sentença é finita ou infinitiva

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Os princípios gramaticais universais são invariantes através das linguas e determinam a natureza e a aquisição da estrutura gramatical. Embora haja princípios universais que determinam as linhas gerais da estrutura gramatical, há também aspectos particulares dela que estão sujeitos à variação em uma língua particular (os parâmetros).

A teoria tem de ser, então, suficientemente flexível para acomodar a variação entre as diferentes línguas, mas, ao mesmo tempo, tem de possuir a rigidez necessária para explicar as propriedades específicas das línguas particulares. O Princípio de Projeção Alargado, por exemplo, garante a presença de um sujeito nos domínios da sentença, permitindo uma caracterização das propriedades lexicais e da explicitação das relações entre o nível lexical e o nível sintático’. O fato de o sujeito^ ser realizado foneticamente ou não é imi parâmetro da língua: o parâmetro pro-drop (parâmetro do sujeito nulo).

A existência de parâmetros na gramática universal, segundo Tarallo (1987:53),

“é um pressuposto a partir do qual se compatibilizam, de um lado, a h^ótese da ^amática universal inata e de outro, a diversidade das línguas existentes. Tentativamente, parâmetros poderiam ser definidos como conjuntos de propriedades delineadoras e diferenciadoras é sistemas

lingüísticos ãversos. ”

A escolha de um valor do parâmetro produz um certo padrão lingüístico e a

escolha de um outro valor produz um padrão diferente, isto é, se uma língua está fixada no valor positivo do parâmetro do sujeito nulo é diferente de outra que é fixada no valor negativo. É a partir das propriedades paramétricas que podemos conhecer a variação inter-lingüística. E, como Tarallo também ressalta, as mudanças que possam ocorrer em uma língua fazem parte do conjunto de propriedades de cada parâmetro.

O parâmetro do sujeito nulo consiste na habilidade ou não habilidade de uma língua exibir DPs nulos na posição de sujeito. Chomsky (1981) apresenta o seguinte

conjunto de propriedades como caracteristicas de línguas fixadas no valor positivo desse parâmetro:

(2) a . sujeito nulo;

b. inversão livre do sujeito em orações principais; c. movimento QU- longo do sujeito;

(34)

d. pronome lembrete nulo em orações encaixadas; e. aparente violação do filtro "that t ^

De acordo com esse parâmetro, uma língua marcada no valor positivo para o sujeito nulo admite, entre outras coisas, uma categoria vazia na posição de especificador de IP (Inflectional Phrase) e a ordem V DP; uma língua marcada pelo valor negativo, ao contrário, não licencia xima categoria vazia na posição sujeito, nem a ordem V DP.

Consideremos as diferenças entre o italiano, uma língua de sujeito nulo (pro- drop), e o inglês, uma língua de sujeito lexicalmente preenchido (cf exemplos (3) e (4)), para entendermos melhor a que propriedades o parâmetro do sujeito nulo está relacionado:

(3) a. Lui ha telefonato b. He has phoned

‘Ele telefonou’

(3’) a. Ha telefonato b. * (He) has phoned

‘ Telefonou’

(4) a Gianni ha detto che lui ha telefonato b. John said that he has phoned

‘João disse que ele telefonou’

(4’) a Gianni ha detto che ha telefonato b. * John said that has phoned

‘João disse que telefonou’

Trataremos mais especificamente das duas primeiras propriedades. A propriedade (2a) está ilustrada em (3a) e (4a); a propriedade (2b) pode ser observada em uma sentença do italiano como (5a). A tradução da sentença do italiano para o inglês resulta em uma estrutura agramatical (cf (5b)), o que vem reforçar que a propriedade de

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inversão livre do sujeito não se verifica em linguas de sujeito obrigatoriamente preenchido.

(5) a. Ha telefonato Gianni b. *Has phoned John

‘Telefonou João’

A discussão da ordem V DP passa pela questão de estarmos ou não fi-ente a uma língua de sujeito lexicalmente presente (ser não-pro-drop ou ser pro-drop), como observou Chomsky (1981). A propriedade de inversão livre do sujeito, considerada como a propriedade fundamentai das línguas pro-drop, está associada, segundo o autor, à hipótese de que a extração do sujeito em línguas com sujeito nulo é feita a partir da posição pós-verbal, dada a inexistência de certos efeitos, como o that-t effect (cf (2e)).

O português faz parte do grupo de línguas que tem a capacidade de licenciar sujeitos nulos; entretanto, estudos mostram que o uso explícito do pronome tem sido

cada vez mais freqüente no português do Brasil (PB), diferentemente do português europeu (PE). Alguns trabalhos já atestam uma mudança paramétrica, ou pelo menos uma situação de variação no PB: de uma língua de sujeito nulo para uma língua de sujeito lexicalmente preenchido'*. Paralelamente a esses estudos, os trabalhos diacrônicos de Berlinck (1988; 1995) atestam que a inversão da ordem V DP em construções pluri- argumentais é bem mais restrita no PB do que no PE.

Um outro aspecto da estrutura gramatical parametrizável relaciona-se à ordem de palavras; diferentes tipos de línguas têm diferentes ordens de palavras em tipos específicos de construção. A GU, nesse sentido, põe à disposição da criança uma escolha entre a ordem x e a ordem y, e a determinação desse parâmetro é fomecida pelos dados lingtiísticos que estão ao alcance da criança, isto é, pela lúigua-E. O parâmetro que discute a ordem dos constituintes relativa a seus núcleos é chamado de parâmetro nuclear {Head Parameter) nesse modelo. Línguas diferem entre a ordem verbo-objeto (VO), como em inglês, ou objeto-verbo (OV), como em japonês. As primeiras são chamadas de línguas de núcleo inicial e as últimas, de línguas de núcleo final.

Assim, espera-se que todas as categorias nucleares da língua que tenha o parâmetro fixado no valor x posicione seus conplementos na mesma direção. Isso

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significa que em inglês, onde o verbo posiciona seu argumento interno à direita, as outras categorias também devem posicionar seus argumentos internos à direita, por exemplo, IP

(inflectional phrase) precede VP nessa língua. O português é exemplo de língua de

núcleo inicial, comportando-se a esse respeito como o inglês.

Alguns parâmetros relacionados à ordem dos constituintes, subjacentes ao parâmetro da língua de núcleo inicial ou final, como o parâmetro V2, a análise do sujeito dentro de VP e o movimento de V a Comp (V-to-Comp) vêm atestar que as diferenças entre as línguas, a variação inter-lingüística, é fiuto da fixação de um valor, digamos SVO; as outras ordens devem ocorrer por movimento dos constituintes envolvidos (S, V ou O). O árabe standard é um bom exemplo dessa variação, pois, embora pertença ao grupo de línguas VSO, permite a ordem SVO em alguns casos; quando o sujeito não concorda em número com o complexo verbal, a ordem é a básica, VSO; entretanto, quando há concordância, a ordem muda para SVO. Koopman & Sportiche (1991) argumentam que a concordância em número entre o sujeito e o verbo na ordem SVO naquela língua deve ser decorrência do fato de o sujeito estar em relação de concordância especificador/núcleo (spec/head) com INFL^; ao passo que, na ordem VSO, o sujeito possivelmente permanece em alguma posição dentro do VP, o que justificaria também a ausência de concordância. Essas e outras noções sobre os parâmetros de ordem dos constituintes serão discutidas durante este trabalho, numa tentativa de mostrar que a variação intra-lingüística segue os mesmos padrões que a variação inter-lingüística.

Considerando que uma língua de núcleo inicial, como o português, fixada no valor SVO, também admite a ordem VS(0) e que uma dessas ordens pode estar evidenciando o movimento do DP à posição de especificador (spec) de IP e a outra a permanência dele dentro de VP, faz-se necessário levantar alguns pontos importantes do modelo em foco, como a teoria temática e a teoria de Caso, para tecermos algumas indagações e hipóteses. Vale lembrar que, nesse modelo, para um sintagma nominal ser legitimado, tem de pertencer a uma cadeia marcada, no mínimo, por um papel temático e um Caso. Antes, porém, vamos examinar algumas noções de seleção e de subcategorização dos argumentos.

(37)

1.2.1. Os argumentos extenios e internos

O léxico deve conter informações sobre os elementos selecionados semanticamente por um item lexical e sobre o tipo de relação semântica que os

caracteriza. Um núcleo - no caso em questão, o verbo - seleciona complemento e especificador. Porém, ele se relaciona assimetricamente com seu complemento e especifícador (cf estrutura (1)). O núcleo subcategoriza o complemento (o argumento interno), mantendo uma relação de irmandade com ele, uma vez que ambos são imediatamente dominados por V’. Já o argumento extemo não é subcategorizado pelo núcleo, mas selecionado, visto que a relação entre os dois não é de irmandade, estando o especificador mais alto na estrutura.

Nesta análise, tomamos a expressão argumento extemo como Koopman e Sportiche (1991), seguindo a hipótese de sujeito interno a VP, pela qual o argumento extemo é gerado no interior da projeção verbal e é extemo unicamente em relação ao segmento V’ de VP que contém imediatamente o verbo e os seus argumentos internos, em estrutura-D. A partir dessa proposta, foi considerada a hipótese de que tanto a ordem VSO como a ordem VOS derivariam da subida do verbo ao núcleo de IP. O alçamento do verbo para T geraria primeiro a ordem VSO e a ordem VOS seria derivada desta por reordenação do sujeito sobre o objeto.

Um dos argumentos a favor da hipótese de sujeito intemo a VP é fomecido pela sintaxe dos quantificadores (cf Sportiche 1988), em sentenças como:

(6) a. We can ali work harder

‘Nós podemos todos trabalhar duramente’ b. They are both helping her

‘Eles estão ambos ajudando ela’

Os quantificadores all e both estão separados dos sujeitos we e they que são quantificados por eles. Por se manterem in situ - apesar de we e they serem deslocados -

all e both são chamados de quantificadores flutuantes. Seguindo a hipótese de sujeito

intemo a VP, devemos supor que os sujeitos we e they foram gerados juntamente com seus quantificadores (all we e both they), na posição de especificador de VP, e foram movidos para a posição de especificador de IP para se tomarem sujeitos dos verbos

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auxiliares can e be, respectivamente. Isso significa que os quantificadores só podem aparecer na posição em que estão se essa é a posição em que o sujeito foi gerado.

Como a posição de sujeito - tratada de agora em diante como posição de especifícador de IP - é obrigatória, mesmo que um verbo não selecione um argumento extemo, ela vai ser ocupada, na estrutura-S, ou por imi argumento interno, movido da posição em que recebe papel temático, ou por um pronome expletivo. O movimento de um argumento para a posição de especificador de IP é legitimado por questões de Caso. Papel temático e Caso serão examinados nas próximas seções.

1.2.2. Teoria temática

No modelo de Princípios e Parâmetros na versão Chomsky (1981; 1986), todo argumento, para ser licenciado, tem de receber papel temático (0). O papel temático é atribuído pelos núcleos lexicais aos seus argumentos, na estrutura-D.

Na estrutura da oração, os argumentos de um predicador verbal correspondem ao especificador e aos complementos subcategorizados do predicador. Se um núcleo lexical seleciona imi argumento, atribui-lhe necessariamente um papel temático. O critério temático determina que a relação entre argumento e papel temático da entrada lexical do verbo seja uma relação biunívoca; que cada argumento tenha apenas uma função

temática e cada função temática corresponda a um e um só argumento.

As posições argumentais compreendem a posição de especificador e as de complemento de um núcleo; elas podem ser temáticas e não-temáticas. Isso significa que uma posição temática é por definição uma posição argumentai, porém nem toda posição argumentai é uma posição temática. Por exemplo, a posição de especificador dos verbos que não atribuem fiinção temática externa é argumentai, mas não-temática. A imposição do critério temático é mantida desde a estrutura-D. Entretanto, na estrutura-S, um arguntento pode ocupar uma posição não-temática desde que esteja associado a uma posição temática, ou seja, ao seu vestígio (0. A esse conjunto de posições não-temática e temática de um mesmo DP dá-se o nome de cadeia.

Existe em cada oração uma rede de relações semânticas entre o predicador (verbo) e seus argumentos, a qual depende do tipo categorial do predicador e das fimções semânticas® realizadas pelos argimientos. Considerem-se as seguintes sentenças para ilustrar essas relações;

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(7) a eu trabalho na Universidade, mas trabalho à disposição (FLP20L649) b. No principio da minha vida, eu sofri dureza (FLP06L789)

c. Eu nasci em Florianópolis (FLP18L09)

O argumento selecionado pelo verbo trabalhar em (7a) realiza o papel de agente; em (7b), o argumento selecionado pelo verbo sofrer realiza o de experienciador, porque sofre um processo psicológico; já em (7c) o argumento selecionado pelo verbo nascer realiza o papel de tema (ou paciente), porque sofre o evento expresso pelo verbo. Para que uma categoria possa estabelecer uma relação semântica com um predicador, é necessário, porém, que tenha um potencial de referência, ou sga, que possa servir para designar entidades (pessoas, coisas, idéias) ou situações (eventos, ações) do universo discursivo. Assim, os verbos trabalhar, sofrer e nascer atribuem uma função temática, respectivamente de agente, experienciador e tema ao argumento eu em (7a), (7b) e (7c), porque este designa entidades.

Entretanto, nem todos os DPs possuem um potencial de referência. É o caso dos pronomes expletivos, como o i t e o there do Inglês, ou o il do Francês;

(8) a It seems that the children are sleeping ‘Parece que as crianças estão dormindo’ b. II semble que les enfants dorment

‘Parece que as crianças estão dormindo’ c. There is a child in the room

‘Há uma criança no quarto’

Como esses elementos têm um estatuto não-referencial, não são o suporte de nenhuma função temática.

As informações a respeito dos papéis semânticos fazem parte da entrada lexical do verbo e interagem com outras informações que estão aí organizadas. Segimdo Haegeman (1994), devemos tratar os argumentos, na posição de base do sujeito, do mesmo modo que os argumentos, na posição de objeto. Por exemplo em (9) nós devemos dizer que ambos os papéis temáticos dos DPs Maigret e the taxi driver são atribuídos pelo verbo accuse (o exenplo foi retirado da autora);

Referências

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