• Nenhum resultado encontrado

Para Chomsky (1981), a marcação casual dos sintagmas nominais é um fenômeno universal e não apenas uma propriedade das línguas que possuem marcas casuais morfológicas. A diferença entre as línguas é a forma como essa marcação se expressa: nas línguas que têm marcação morfológica de Caso, concretamente; e nas que não manifestam marcação nos morfemas, abstratamente, daí a noção de Caso abstrato na sintaxe. O modelo prevê que todos os sintagmas nominais foneticamente realizados manifestem um Caso, do contrário são excluídos pela gramática Esse princípio chama-se

Filtro do Caso.

O filtro do Caso desempenha um papel fimdamental na legitimação dos sintagmas nominais lexicalmente realizados, mas a teoria do Caso não pode se limitar a eles; é

preciso também legitimar as variáveis, já que seu antecedente (operador) se encontra invariavelmente numa posição A-barra. Para Chomsky, um elemento qualquer é invisível para a interpretação temática se não contiver uma marca casual. Essa nova fimdamentação da teoria do Caso recebe o nome de condição de Visibilidade, que é formulada do seguinte modo: um DP é visível para a interpretação temática se e

somente se receber Caso. Nessa formulação, a relação entre Caso e papéis temáticos fica

mais estreita, o que significa que as línguas têm de dar visibilidade aos sintagmas para que eles tenham sua interpretação temática garantida. A Generalização de Burzio (1986), segundo a qual um verbo só atribui papel temático a seu argumento externo se atribuir

Caso a seu argumento interno já tratava dessa relação de maneira bastante forte. Em sua

proposta, Burzio lança as bases da hipótese inacusativa (ou ergativa) no modelo da GB, derivando que verbos que não atribuem Caso acusativo a seu argumento intemo não apresentam a posição de argumento extemo tematizada^.

A atribuição casual a um DP é feita sob regência (ou concordância especificador/núcleo) do DP pela categoria que lhe atribui Caso. O Caso pode ser atribuído pela flexão (Caso nominativo), pelo verbo (Caso acusativo) e pela preposição

(Caso oblíquo). O Caso nominativo manifesta-se num DP na posição de especificador de IP; o Caso acusativo manifesta-se na posição de um complemento de um verbo transitivo e 0 Caso oblíquo manifesta-se na posição de um complemento de uma preposição. A discussão das possibilidades de atribuição de Caso nominativo será mostrada em 1.2.3.1.

Além dos Casos estruturais (nominativo, acusativo e oblíquo), Chomsky (1986) admite a existência de um outro tipo de Caso, o Caso inerente, como, por exemplo, o Caso genitivo, presente em construções do inglês como John ’s house. A diferença mais importante entre éles, é que, enquanto o Caso inerente encontra-se ligado a uma função temática e é atribuído na estrutura-D juntamente com essa função temática, o Caso estrutural é atribuído na estrutura-S e não está associado a nenhuma função temática específica na grade temática das categorias que o atribuem A proposta de Caso partitivo de Belletti (1988) - que será discutida nos capítulos subseqüentes - inclui-se nessa proposta de Caso inerente de Chomsky.

I.2.3.I. Caso nominativo

Para tratarmos da ordem V DP no PB, com base no modelo de GB, precisamos levantar uma discussão a respeito das propriedades do DP, em especial das propriedades de atribuição de Caso nominativo. Determinar como o Caso nominativo, principalmente em posição pós-verbal, é atribuído é uma das tarefas desta seção.

As condições de boa formação das sentenças estão diretamente ligadas á atribuição de Caso aos DPs; os DPs sujeito, por exemplo, devem receber Caso nominativo de INFL. Nesse contexto da flexão, o verbo se movimenta a FNFL para amalgamar (ou checar) sua flexão e o sintagma nominal se movimenta para receber (ou checar) Caso nominativo de INFL, deixando um vestígio em sua posição de base, com o qual forma uma cadeia: a cadeia por movimento. O movimento do sintagma nominal realiza-se em direção a uma posição não-temática e casual;

(12) [DP, t]

não-0 6

Um aspecto importante deste movimento é o fato de a atribuição de Caso nominativo ser exclusivamente local, o que significa que uma flexão finita, por exemplo, atribui Caso nominativo ao sujeito da sua oração, mas não ao objeto ou ao sujeito de uma oração subordinada.

Esta noção de que cadeias satisfazem as exigências de Caso foi introduzida por Chomsky (1986). Para explicar a atribuição de Caso em paradigmas como (13), o autor propõe que um pronome expletivo (com matriz fonética, como em (13a) e (13b); ou nulo como em (13c)) se encontra necessariamente associado a um argumento em posição pós- verbal, existindo uma relação de co-indexação entre os dois elementos:

(13) a. It i seems [that Mary is happy] i

b. II i te semble [que Marie est heureuse] i c. pro i parece [que a Maria é feliz] i

Tal como nas cadeias de movimento, em que a função temática é transmitida do vestígio para o argumento, num par expletivo-argumento, o Caso é transmitido (agora em sentido inverso) do expletivo para o argumento (no caso específico em (13), para a oração subordinada)®. É importante observar que os verbos to seem e sembler, bem como o equivalente em português parecer, não são atribuidores casuais e, segundo a condição de visibilidade, a oração subordinada não necessita ser marcada casualmente. Assim, o Caso atribuído por INFL ao pronome expletivo toma-o visível em LF para a interpretação, que se fará via ^expletive replacemenf.

Chomsky propõe o termo CADEIA (em caixa alta) para designar os pares expletivo-argumento (cf (14a)); e cadeia para designar as cadeias por movimento (cf (14b)). Nesse momento da teoria, pensava-se que as cadeias por movimento e os pares expletivo-argumento obedeciam às mesmas condições formais. Nos dois casos a cabeça da cadeia c-comandava a cauda da cadeia.

(14) a. uma hora da manhã, pro \ chegava alguém i (FLP23L547) [proi , alguémi]

b. uma hora da manhã, alguém i chegava t i [alguémi, t , ]

Em (14a), pro transmite Caso para o argumento em posição pós-verbal; e, em (14b), no caminho inverso, o vestígio (0 transmite função temática ao argumento em posição de especificador de IP. Como o Caso nominativo normalmente é atribuído à posição de especificador de IP, a cadeia que liga o sujeito pré-verbal ao objeto pós- verbal faz com que o Caso nominativo fique disponível no DP pós-verbal. Essa hipótese, tratada pela primeira vez por Burzio (1986), ficou conhecida como Hipótese de

Transmissão de Caso (Case Transmission Hypothesis, CTH), e foi usada primeiramente

como uma solução para resolver os problemas relacionados às construções inacusativas, quando o argumento de um verbo inacusativo não se move para a posição de especificador de IP, como o exemplo (14a) ilustra.

Apesar de considerar a CTH, Chomsky (1986) aponta alguns problemas relacionados principalmente com a proposta de cadeia mostrada em (14a). O pronome expletivo, por exemplo, tem de c-comandar o argumento em posição pós-verbal, tal como o DP movido c-comanda o seu vestígio. Na cadeia por movimento, a natureza anafórica dos vestígios de DP explica o c-comando; uma anáfora é necessariamente c-

comandada pelo seu antecedente. Porém, na cadeia expletivo-argumento temos o

problema de explicar que o expletivo c-comande o argumento, violando aparentemente o Princípio C que garante a liberdade das Expressões-R com respeito à ligação.

Estudos como os de Koopman & Sportiche (1991) tentaram rediscutir o Caso nominativo atribuído aos DPs pré-verbais e pós-verbais. Segundo os autores, existem duas configurações distintas para a atribuição de Caso nominativo: nominativo sob concordância e nominativo sob regência A primeira supõe que a flexão esteja em relação de concordância especificador/núcleo com o sujeito, um contexto em que o sujeito está em uma posição pré-verbal; a segunda supõe que a flexão esteja em uma posição mais alta na estrutura em relação ao sujeito, como é o Caso de inversão do sujeito.

A tipologia proposta pelos autores assume duas possibilidades: (i) Caso nominativo sob concordância, quando acontece o alçamento de V a INFL e o movimento do DP para a posição de especificador de IP, recebendo Caso nominativo de INFL (cf. (15)); (ii) Caso nominativo sob regência, quando o DP fica in situ, dentro do VP e 0 Caso é atribuído por INFL ao especificador mais bako por regência, acontecendo o alçamento de V a INFL só em forma lógica (cf (16)).

(15) Nominativo sob concordância IP / \ DP^ I’ t / \ 1 V+I VP 1___I / \ DP* V’ \ tv

(16) Nominativo sob regência IP / \ DP^ I’ / \ V+I VP 1 / \ 1 DP* V’ I__ t \ tv

A diferença na ordem desses sujeitos (DP'^ V)/(V DP*) é atribuída à idéia de que em (16) o sujeito permanece em VP (cf. a hipótese do sujeito interno a VP), onde é atribuído Caso nominativo sob regência por INFL. O fato de, nessa estrutura, o sujeito não estar em relação de concordância especificador/núcleo com INFL implica falta de concordância entre eles. Em (15), contudo, o sujeito se move para a posição de especificador de IP, onde o Caso nominativo sob concordância é atribuído. O fato de o sujeito aqui estar em relação de concordância especificador/núcleo com INFL implica concordância de número entre eles, como foi constatado em árabe standard, para explicar as diferenças entre as ordens SVO e VSO^.

As diferenças paramétricas entre as línguas do tipo árabe e outras línguas como o inglês, basicamente SVO, é que nas primeiras, FNFL pode atribuir Caso nominativo sob regência e sob concordância, enquanto nas últimas, INFL somente pode atribuir Caso nominativo sob concordância, basican^nte porque esse tipo de língua não permite a ordem VSO em sentenças declarativas.

Contudo, as sentenças VSO em árabe poderiam ser comparadas a sentenças em inglês como There is a unicorn in the garden. Tanto pro em árabe como there em inglês têm os traços de 3 \ pessoa do singular default e, conseqüentemente, poderia ser dito que esse elemento default pode estar em relaçâk) de concordância especificador/núcleo com INFL. Esse aspecto é bastante polêmico e merecerá mais discussões, principalmente ao tomarmos as sentenças do PB para análise.

Roberts (1993), tomando como base a proposta de Koopman e Sportiche, tenta explicar uma mudança paramétrica encontrada nas construções do francês, no que se refere à atribuição do Caso nominativo. Ao assumir que o movimento do verbo finito para uma posição mais alta do que a de sujeito envolvia movimento para C, o autor conclui que havia evidência positiva para o parâmetro da atribuição do Caso nominativo sob regência nessa língua, No fimicês atual, a flexão atribui nominativo apenas por concordância.

Torres Moraes (1993) mostra indícios de que o Caso nominativo sob regência estava disponível no português arcaico, e de que essa possibilidade se perdeu nos dias atuais. Figueiredo Silva (1996:92-93) mostra evidências de que, no português atual, contextos como construções condicionais e complementos no subjuntivo diferem do italiano com relação à possibilidade de inversão sujeito-auxüiar, bem como mostra evidências de que construções com um elemento negativo inicial determinando a inversão auxiliar-sujeito, em uma língua como o inglês, não constituem fi-ases bem formadas no português. Esses casos mostram que essa língua não possui construções do tipo Aux-to-Comp. Nesse tipo de construção o auxiliar atribuiria caso nominativo ao DP lexical a partir de C°, isto é, em uma configuração de regência, opção inexistente no português atual. Segundo a autora, cada vez que o verbo flexionado sobe para C° e o sujeito fica em especificador de IP, o resultado é uma fi-ase agramatical, como o exenplo (17) - retomado de (8) (cf p.91) - ilustra:

(17) a. * Tinha telefonado o João? b. * Tinha o João telefonado? c. O João tinha telefonado?

A impossibilidade de Caso nominativo para o DP pós-verbal é responsável pela agramaticalidade de (17a) e (17b).

Assim, dadas as evidências levantadas por Figueiredo Silva, vamos considerar aqui apenas a possibilidade de, no português, o Caso nominativo ser atribuído sob concordância, na relação especificador/núcleo. Não poderá haver senão a configuração (15) disponível nesta língua

Na próxima seção, vamos mostrar sucintamente uma discussão sobre o movimento do verbo, a partir da análise conçarativa do inglês e do fi^ancês proposta por Pollock (1989), a fim de estabelecer o que será tomado como base para as discussões que se seguem com relação ao português do Brasil.

1.2.4. O movimento do verbo

Antes de discutir o movimento do verbo no PB, vale lembrar que o modelo gerativista prevê que a GU deve conter um mecanismo que desloca sintagmas de sua posição de base (aquela posição em que ele foi gerado na estrutura-D) para alocá-los em outras posições na sentença. Tal mecanismo é conhecido como mova a. É bastante comum nas línguas que os verbos se desloquem de sua posição de base para 1° (o núcleo da fiexão) a fim de se completarem morfologicamente. Esse movimento deve acontecer de núcleo a núcleo, obedecendo, assim, a restrição de movimento nuclear (Head

Movement Constraint, HMC)'“.

Um dos trabalhos que trouxe contribuições importantes para as questões de movimento dos verbos foi o de Pollock (1989). O autor propõe que INFL (a fiexão) não deve ser considerado um constituinte com dois conjuntos diferentes de traços, [tempo] e [concordância], mas cada um desses conjuntos de traços deveria ser considerado um núcleo de uma projeção máxima, TP {Tense P) e AgrP (Agreement P). Belletti (1990) concorda com Pollock com relação á necessidade de duas projeções fimcionais, porém propõe uma ordem estrutural diferente para as projeções.

Enquanto Pollock adota a projeção TP como uma projeção mais alta que AgrP, por ser tempo a categoria que determina, a versão de Belletti é de que a projeção mais alta da sentença deve ser a da concordância (AgrP)” , uma vez que, na derivação morfológica, os morfemas de tempo precedem os de concordância: o radical primeiro se alça a T para receber o morfema de tempo/modo, depois se alça a Agr° para receber o morfema de concordância número/pessoal, dada a ordem linear dos morfemas ligados ao verbo, como por exemplo em ‘cantá-va-mos’.

As evidências do trabalho de Pollock apontam para a necessidade de duas projeções fimcionais, derivadas da existência de diferenciados tipos de movimento do verbo. O autor mostra que existem línguas que admitem um movimento longo do verbo e outras que admitem apenas um movimento curto. O primeiro movimento é o do verbo para a posição do núcleo mais alto, T°; e o segundo, o movimento do verbo para o núcleo mais baixo, Agr°. O autor conclui que o movimento do verbo em uma língua como 0 francês só é possível porque a concordância de Agr é transparente, enquanto o movimento do verbo a uma posição mais alta, em uma língua como o inglês, é inpossível porque a concordância é opaca, impedindo que os verbos que atribuem papel temático possam passar pela projeção opaca e chegar ao núcleo mais alto. Tais conclusões levaram em conta a posição do verbo com respeito aos quantificadores flutuantes, a uma certa classe de advérbios e à negação.

Pollock está supondo que Agr em inglês, diferentemente de Agr em francês, não é suficientemente rico sob o ponto de vista morfoiógico para permitir a transmissão dos papéis temáticos dos verbos, ou seja, ele é opaco à atribuição dos papéis temáticos. Ao contrmo, Agr em francês, sendo morfologicamente rico, é transparente à atribuição dos papéis temáticos. O fato de somente auxiliares como have e be (em inglês), avoir e être (em francês) não atribuírem papel temático, justificaria o movimento desses aspectuais a uma posição mais alta na sentença. Essa proposta sugere que há uma relação potencial entre a atribuição de papel temático e o movimento aos núcleos fimcionais Agr° e T°.

Para explicar o movimento dos constituintes, Chomsky (1989), já como um prenúncio do modelo minimalista, une as posições de Pollock (1989) e Belletti (1990) sobre a necessidade de se considerar a projeção flexionai IP uma projeção composta de dois nós independentes, TP e AgrP'^, para explicar a realização do Caso estrutural.

Chomsky atribui à posição mais alta o lugar onde se realiza o Caso nominativo (AgrsP) e à posição mais baixa o lugar em que se realiza o Caso acusativo (AgroP) (cf. (18)):

(18) AgrsP / \ Spec Agrs’ / \ Agrs AgroP / \ Spec Agro’ / \ Agro VP / \ (Adv) VP

A condição de movimento, entretanto, deve ser restrita e o movimento estritamente necessário nesse novo modelo. Se os DPs são movidos para posições marcadas por certas propriedades, como o Caso, por exemplo, o movimento só será permitido para checar aquela propriedade naquela posição. Nessa proposta, os movimentos mais curtos são sempre preferidos sobre os movimentos mais longos e devem ser evitados movimentos não motivados.

Considerando a hipótese de sujeito intemo a VP, o DP sujeito move-se para a posição de especificador de IP (ou AgrsP) para checar seus traços de Caso nominativo

{subject raising), numa configuração especificador/núcleo. Assim como o DP sujeito

checa o Caso nominativo, o DP objeto checa o Caso acusativo em AgroP, também em uma configuração especificador/núcleo. O autor sugere que os Casos estruturais (nominativo e acusativo) são realizados via movimento, antes de spell out, ou através de uma operação abstrata, em LF. Em sentenças existenciais, o sujeito permanece em especificador de VP, já que a posição de especificador de IP (ou especificador AgrsP) é ocupada por um pronome expletivo (fonético ou nulo), em línguas como o inglês ou o português, por exençlo;

(19) a. There is a man in the garden b. (pro) Existe um homem no jardim

Radford (1997) sugere que, já que o sujeito temático a man em estruturas como (19a) não se move para a posição de especifícador de IP, deve-se assumir que isso é conseqüência do fato de o sujeito ter um traço de Caso fraco, semelhante ao que Belletti (1988) trata como Caso partitivo, ou seja, um traço de indefinitude'^

Nessa proposta de checagem de traços, o movimento de um constituinte nuclear deve envolver operações de movimento de um núcleo a outro (head movement), uma operação de movimento cíclico sucessivo. O verbo, por exemplo, deve se mover à primeira posição da direita para a esquerda de sua posição de origem (excluem-se os movimentos à direita). Cada vim dos núcleos Tense e Agreement têm traços [N] e [V] os quais podem ser parametrizados como fortes e fracos. Traços fortes precisam ser checados na derivação visível; enquanto traços fracos não podem, sendo checados só em LF. Um exençlo dessa diferença é fruto das próprias constatações de Pollock a respeito do movimento curto do verbo, exigido por línguas que têm o Agr opaco, como o inglês, e do movimento longo, exigido por línguas que têm o Agr transparente, como o francês. Considere-se (20):

(20) a. Jean pense souvent sur cela

‘João pensa freqüentemente sobre isso’ b. John often thinks about that

‘João freqüentemente pensa sobre isso’

Uma maneira de traduzir as conclusões de Pollock para o quadro minimalista é dizer que os traços tense do francês, diferentes da contraparte em inglês, são fortes e visíveis na forma fonológica (FF), por isso o verbo precisa se mover a AgrsP para checá- los (cf (20a)). Por outro lado, em inglês, os traços só podem ser checados depois de

spell out, isto é, na sintaxe não visível (cf (20b)). A posição dos advérbios souvent e often permite mostrar as diferenças entre o movimento do verbo lexical no francês e no

Com relação a uma língua como o português. Figueiredo Silva (1996) examina o movimento do verbo a partir de evidências quanto à flutuação dos quantificadores universais'^ e quanto ao movimento dos advérbios. Baseando-se na distinção entre advérbios de frase (que ocupam uma posição alta, tal como inicial de IP ou inicial de CP, por exemplo) e advérbios baixos (que ocupam uma posição inicial de VP), ela conclui que são os advérbios baixos que oferecem provas seguras para se falar que o verbo se move para fora do VP, como os exemplos extraídos da autora ilustram (cf exemplos 18, p. 50);

(21) a. O João perdeu completamente a cabeça b. *0 João completamente perdeu a cabeça

(22) a. O João tinha perdido completamente a cabeça b. *0 João tinha completamente perdido a cabeça c. *0 João completamente tinha perdido a cabeça

Através das evidências acima, podemos observar que advérbios baixos devem obrigatoriamente seguir o verbo lexical no português, mesmo que seja um particípio (cf (22) ilustra), o que leva a autora a dizer que tanto verbos lexicais finitos como verbos participais devem sair do VP em português. A partir do comportamento dos advérbios negativos do português, que é idâitico ao do italiano, a autora assegura também que há 0 movimento longo do verbo, no português, o movimento para o núcleo fimcional mais alto da frase (cf p. 79). Como, para explicar a ordem V DP, não necessitamos saber onde o verbo vai parar após sair de VP, se no núcleo funcional de AgrsP ou em um outro núcleo qualquer, vamos assumir, aqui, apenas parte da hipótese de Figueiredo Silva (1996), segundo a qual o verbo no português sai de VP, indo para uma posição mais alta na sentença, que será tratada aqui genericamente como posição de núcleo de IP

(1°).

1.3. Considerações fínaís

Com o objetivo de explicar a variação na ordem dos constituintes, em uma língua como 0 PB, traçamos alguns pressupostos do modelo gerativista conhecido por GB. Do

exposto derivam-se algumas observações a respeito da ordem dos constituintes: (i) a possibilidade de inversão livre do DP é uma das propriedades das línguas de sujeito nulo e depende do valor positivo ou negativo de cada língua; (ii) a variação da ordem dos constituintes pode estar determinada ou pelo movimento do DP à posição de especificador de IP para receber Caso nominativo ou pela possibilidade de permanência do DP em VP; (iii) o movimento desses DPs depende das condições temáticas e casuais dos argumentos, mas só pode ser para uma posição mais alta na sentença (posição mais à esquerda na árvore), pois as configurações de inversão do sujeito (operações de

Documentos relacionados