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Resumo das Constatações e Recomendações da Conferência
DIÁLOGO NACIONAL SOBRE EMPREGO EM MOÇAMBIQUE
‘CRIAÇÃO DE EMPREGO NUM NOVO CONTEXTO ECONÓMICO’ 27-28 deMarço de 2014, Maputo, Moçambique
A conferência de dois dias dedicada ao tema“Diálogo Nacional Sobre o Emprego em Moçambique” realizada em Maputo, de 27 à 28 de Março de 2014 e co‐organizada pelas Nações Unidas, o Banco Mundial e o Governo representado pelos Ministérios do Trabalho, Planificação e Desenvolvimento e Indústria e Comércio bem como com o apoio dos parceiros de cooperação, foi o primeiro evento de alto nível sobre emprego em Moçambique, marcando deste modo o início de um exercício de diálogo sério e abrangente para enfrentar os desafios do emprego no país. Cerca de 270 participantes foram registados desde políticos, organizações de empregadores e trabalhadores, académicos nacionais e internacionais, especialistas da área de emprego e representantes da sociedade civil e a cerimónia de abertura foi presidida por Sua Excelência
Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique.
A conferência que serviu de plataforma para os participantes trocarem os seus pontos de vista tinha como objectivo geral desenvolver um conjunto de recomendações fundamentadas com base na actual situação económica e social do País e elaborar um roteiro com acções assentes na criação de emprego em quantidade e qualidade que satisfaça as aspirações da sociedade moçambicana.
O presente relatório constitui o resumo dos principais assuntos debatidos durante a conferência e as recomendações dos participantes. O objectivo do relatório não é tão somente traçar um quadro para guiar as acções do Governo e dos outros interessados em matérias de emprego, mas também iniciar o importante e necessário diálogo contínuo sobre a criação de emprego digno.
Por uma questão de objectividade, compreensão, aplicabilidade e para aliciar um maior envolvimento do público, o relatório apresenta‐se de forma resumida e directo aos pontos fundamentais.
Situação do Emprego
Durante a conferência, os participantes avaliaram objectivamente a situação do emprego no país, com recurso as apresentações de estudos e pesquisas recentes. A seguir estão alguns dos principais pontos:
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O desemprego é relativamente alto1, particularmente entre os jovens, aliado ao
subemprego, uma questão que deve merecer também a atenção urgente do Governo; De entre os que têm emprego, a taxa de vulnerabilidade é alta. Mais de 90% dos
empregados estão no auto‐emprego ou são trabalhadores familiares não‐
remunerados.2Isso indicia a prevalência de uma economia formal relativamente
pequena e, os que se encontram no emprego vulnerável são mais propensos a trabalhar em condições precárias, com baixos salários e limitada ou desprovidos de protecção social. Apenas um pequeno número de trabalhadores são assalariados (aproximadamente 1 milhão);
Apesar do forte crescimento económico registado nos últimos anos, nota‐se uma fraca evidência de transformação estrutural. A economia permanece pouco diversificada e com baixa produtividade do trabalho;
A persistente concentração do emprego em sectores de baixa produtividade (mais de 80% dos empregados estão na agricultura, principalmente agricultura de subsistência) explica o persistente défice de emprego produtivo no país,bem como os actuais níveis de pobreza;
O ambiente de negócios e a regulamentação em vigor são mais favoráveis ao Investimento Directo Estrangeiro (IDE) e aos mega projectos no sector da indústria extractiva, que não são, necessariamente, os que criam mais empregos para a população local;
Apesar do sucesso do governo em elevar os níveis de educação, os níveis gerais de escolaridade são baixos e a baixa qualificação é generalizada. Os retornos da educação primária ainda são considerados baixos; Diferenças em termos de produtividade entre os sectores, onde a agricultura se destaca com um índice persistentemente baixo, contrariamente aos níveis mais elevados que se registam na indústria e serviços. No entanto, um ponto a destacar é que tanto no sector primário, como no secundário, a produtividade não cresceu na última década; O crescimento económico favorece o emprego para um pequeno – geralmente qualificado –grupo de pessoas, o que resulta em maior divergência de oportunidades dentro da força de trabalho. Isto estimula a desigualdade social em termos de acesso a cuidados de saúde, educação e habitação; Principais Desafios da Variável Emprego
Decorrente da avaliação da situação do emprego, os principais desafios traduzem‐se nos seguintes termos:
1Total 22.5%, idades 15-19, 46.6% e 20-24, 31.65. Dados referents a Julho-Setembr0 2012, definição nacional de desemprego do, INCAF (INE, 2013) 2Dados referents a 2008/09, IOF (INE, 2010).
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O emprego vulnerável continua elevado apesar dos contínuos elevados níveis de crescimento económico Moçambique tem uma força de trabalho jovem e em rápido crescimento, aumentando a pressão da procura de emprego digno; Os índices de pobreza permanecem relativamente elevados agravados pelas crescentes desigualdades sociais; No actual rítmo da economia, é provável que a dimensão do sector informal duplique até 2050;
A urbanização irá crescer, dando origem à mobilidade das pessoas que trabalham na agricultura de subsistência nas áreas rurais para as áreas urbanas à procura de emprego, em particular no sector informal;
A estrutura actual de crescimento económico, impulsionada pelos investimentos nos grandes projectos de capital intensivo não irá criar empregos suficientes para absorver a crescente força de trabalho. Recomendações para o Governo, Parceiros Sociais e Sociedade Civil 1. Existe a necessidade de um enfoque integrado na variável emprego a nível das diversas
áreas de políticas do Governo. Há necessidade de um plano de acção que faça uma
abordagem das oportunidades e constrangimentos por forma a maximizar o potencial económico existente e garantir a criação de emprego digno no país.
2. Com vista a enfrentar eficazmente os desafios de criação de emprego, é necessário
conjugar esforços e um enfoque consistente a nível das diversas áreas de políticas e instituições. As entidades e regulamentos que influenciam a procura e oferta de trabalho e
o funcionamento do mercado de trabalho, incluindo aquelas instituições que funcionam para a protecção dos direitos dos trabalhadores e a protecção social dos mesmos, garantindo a qualidade dos postos de trabalho, desempenham um papel fundamental.
3. As medidas de criação de emprego devem abranger toda a economia, desde o sector
informal e formal, as àreas rurais e urbanas, com um forte enfoque na juventude. O
emprego não é apenas gerado nas áreas urbanas ou por grandes empresas e pelo governo, devendo‐se explorar as oportunidades que a economia no seu todo cria.
4. Mais importante ainda, os seguintes ministérios e instituições devem activamente estar envolvidos na formulação, implementação, monitoria e avaliação de políticas de emprego: ‐ Ministério do Trabalho;
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‐ Ministério da Justiça; ‐ Ministério de Finanças; ‐ Banco de Moçambique; ‐ Ministério da Indústria e Comércio; ‐ Ministério da Agricultura; ‐ Ministério dos Recursos Minerais; ‐ Ministério da Educação; ‐ Ministério da Planificação e Desenvolvimento; ‐ Instituto Nacional de Estatística (INE); ‐ Organizaçõesde trabalhadores; ‐ Organizações dos empregadores
5. A coordenação de todos os intervenientes deve ser formalizada, organizada e garantida através de um mecanismo institucional adequado para assegurar a participação de todas as partes interessadas ao longo do tempo.
Recomendações Específicas por Área
I. Optimizar as Políticas Macroeconómicas e Financeiras para a Criação de Emprego
a) As políticas macroeconómicas centradas na baixa inflação e estabilidade macroeconómica continuam cruciais, porém, existe também a necessidade de incorporar a variável emprego como um objectivo macroeconómico.
b) As políticas monetárias devem apoiar o investimento interno, promover a expansão do crédito em sectores prioritários, a inclusão financeira e oportunidades de emprego. c) O Banco Central tem um papel fundamental, à semelhança de outras instituições, como
o Ministério das Finanças, na criação de um quadro macroeconómico que facilite o acesso ao financiamento para investimentos produtivos. Mostra‐se oportuno o Banco Central considerar a opção de ter um duplo mandato, o de garantir a estabilidade macroeconómica, por um lado, e promover o pleno emprego, por outro.
d) Na qualidade de regulador do sistema financeiro, o Banco Central pode facilitar a introdução de instrumentos financeiros inovadores e mais inclusivos bem como produtos que permitem acesso ao financiamento dos sectores rurais e informais, onde a bancarização é difícil.
e) Como um elemento crítico da economia, a taxa de câmbio deve permanecer competitiva, para promover as exportações e diversificação da economia, melhorando a integração do mercado interno, particularmente o sector agrícola para fins de segurança alimentar. Assim, recomenda‐se uma gestão prudente da taxa de câmbio para evitar distorções pois, uma taxa de câmbio artificialmente baixa pouco contribui
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para a competitividade da economia, visto que as intervenções para reduzir a taxa de câmbio podem ter consequências adversas na economia.
f) Os padrões de crescimento e investimento devem estar devidamente integrados na economia local, de modo a criar uma plataforma eficaz, necessária para partilhar os benefícios do crescimento.
II. Atrair o Investimento Directo Estrangeiro mais Favorável à Criação de Emprego
a. O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) está concentrado nos grandes projectos (65%), no entanto, os pequenos projectos é que têm mais impacto na criação de emprego. Recomenda‐se inverter esta tendência de modo a redireccionar os esforços visando atrair o IDE para pequenos projectos com grande potencial para a geração de emprego baseado na mão‐de‐obra intensiva.
b. Devido à fraca disponibilidade de mão‐de‐obra qualificada, há uma tendência das empresas estrangeiras recorrerem à contratação de trabalhadores estrangeiros. Esta contratação deve ser para satisfazer as reais necessidades do mercado e por um determinado período de tempo. Recomenda‐se que se torne obrigatório as empresas assumirem a responsabilidade de desenvolver competências dos trabalhadores moçambicanos, como parte integrante da política de conteúdo local.
c. As políticas e regulamentação sobre o Conteúdo Local devem estar mais focalizadas na criação de emprego, em vez de se preocupar com a titularidade da propriedade das empresas ou negócio.
d. Incentivar a contribuição positiva das multinacionais para o emprego através do investimento na formação e desenvolvimento sócio económico.
e. Garantir que as multinacionais exerçam as suas actividades de acordo com com os padrões internacionais e legislação nacional, incluindo as leis laborais, ocupacionais, regulamentos e normas de segurança e saúde.
f. Reforçar a capacidade negocial do governo na articulação com empresas multinacionais, com vista a reforçar o seu contributo na criação de emprego, fazendo uso de abordagens colaborativas e parcerias público‐privadas.
g. Facilitar e melhorar a capacidade das empresas locais tirar vantagens das oportunidades no fornecimento produtos e serviços às grandes empresas, incluindo negociações de contratos e ligações entre as grandes empresas multinacionais e as pequenas empresas locais.
III. Estimular os Sectores com Maior Potencial para Criação de Emprego
a. Ao Governo recomenda‐se a criação de incentivos para sectores que apresentem um grande potencial na criação de emprego, sem negligenciar as indústrias emergentes. Os incentivos devem ser limitados em termos de tempo, para evitar
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desvios e o seu mau uso pelos agentes económicos. Os sectores‐chave seleccionados podem ser apoiados através de impostos, acesso ao crédito, subsídios, implantação de infra‐estrutura básica, bem como através da divulgação de novas tecnologias e programas de formação e capacitação específicas para o sector.
b. Os sectores devem ser seleccionados com base na análise das vantagens comparativas vis‐a‐vis o potencial para criação de emprego. Estudos recentes (OIT) apontam a agricultura como um dos sectores com maior potencial para criação de emprego no País.
IV. Estimular o Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas
a. Explorar o potencial das PMEs e da agricultura de pequena escala para a criação de emprego. Constrangimentos específicos tais como o acesso ao financiamento, enquadramento legal, corrupção, infra‐estrutura e acesso à terra devem merecer especial atenção do Governo.
b. As medidas não devem se concentrar apenas nas PMEs, mas também estender a sua intervenção para apoiar as empresas familiares.
c. Dedicar especial atenção às empresas de dimensão média que apresentem grande potencial para a criação de emprego.
d. O ambiente de negócios e a regulamentação devem ser mais favoráveis às micro/pequenas/ médias empresas e projectos de pequena escala, pois estes apresentam um maior potencial para a criação de emprego.
V. Educação para o Emprego e Aumento de Produtividade
a. As estratégias de desenvolvimento de competências devem estar alinhadas com os planos de desenvolvimento do sector e as previsões económicas a curto, médio e longo prazos.
b. Elevar os níveis de educação, não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente, particularmente ao nível secundário, por forma a aumentar a produtividade.
VI. Programas de Emprego Público Rural
a. Melhorar os actuais programas de trabalho comunitário desenvolvidos que actuam em áreas mais remotas e com incidência na mão‐de‐obra não qualificada. Estes programas abrangem o desenvolvimento de infra‐estruturas locais, estradas, pontes, sistemas de irrigação ou serviços comunitários. Alguns países que apresentam boas práticas na implementação destes programas são a Índia, Coreia do Sul, África do Sul, entre outros.
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b. A transição para o desenvolvimento empresarial, formas criativas de parcerias entre o Governo, a sociedade civil e as comunidades locais, com enfoque no emprego dos jovens. Acresce‐se a implementação efectiva do Regulamento de Estágio Pré‐ profissionais.
VII. Salário Mínimo
a. O salário mínimo é suposto ser a base a partir da qual a indústria desenvolve a sua política salarial. A determinação do salário por sectores é um passo positivo para um bom salário; no entanto, é recomendável avaliar continuamente o nível de salário mínimo numa perspectiva de criação de emprego, tomando em consideração questões como competitividade e produtividade, bem como as implicações sociais.
Os elementos arrolados acima devem resultar num plano de acção que produza contribuições para o Governo no processo de elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento económico, visando enfrentar os desafios da pobreza.
VIII. Considerações para a Implementação de um Plano de Acção para o Emprego
i) A vontade política e uma plataforma de estabelecimento de consensos devem ser criados ao mais alto nível das instituições governamentais e organizações sociais no geral.
ii) Deve haver responsabilidades claramente definidas para os processos de implementação, acompanhamento e avaliação a nível das instituições governamentais. iii) Definir claramente o papel do Governo e dos parceiros sociais no desenvolvimento
económico e criação de emprego.
iv) Deve‐se mobilizar recursos financeiros suficientes, incluindo uma boa aplicação das receitas provenientes da indústria extractiva para estimular a transformação da economia. Existe a necessidade de uma melhoria na atribuição e gestão dos recursos do Fundo de Desenvolvimento Distrital. v) Definição clara das linhas de base, metas e resultadosa alcançar. vi) Reforçar as parcerias com o sector privado, comunidade internacional e a comunidade académica dentro e fora do país. vii) Alargar e aprofundar o diálogo com os principais intervenientes. viii) Uso de dados do mercado de trabalho para permitir a efectiva tomada de decisões de políticas. O País carece de um Sistema de Informação do Mercado de Trabalho que irá prover informação útil e oportuna aos interessados sobre questões relacionadas com o emprego, bem como as necessidades de formação.