Consciência/Alienação: A ideologia no nível individual
Silvia Tatiana Maurer Lane
Ideologia: Conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos. A ideologia pode estar ligada a ações políticas,
econômicas e sociais.
O conceito de ideologia foi muito trabalhado pelo filósofo alemão Karl Marx, que ligava a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe social dominante. De acordo com Marx, a ideologia da classe dominante tinha como objetivo manter os mais ricos no controle da sociedade.
O indivíduo sujeito da história é constituído de suas
relações sociais e é, ao mesmo tempo, passivo e
ativo (determinado e deter minante). Ser mais ou
menos atuante como sujeito da história depende do
Assim ele é história na medida em que se insere e se
define no conjunto de suas relações sociais,
desempenhando atividades transformadoras destas
relações; o que implica, necessariamente, atividade
prática e inteligência, tão inseparáveis quanto, no nível
da sociedade, são inseparáveis a infra e a
superestrutura, e cuja unidade é estabelecida por um
processo cujo agente exclusivo é a atividade humana em
Marx chama de infra-estrutura a estrutura material
da sociedade, sua base econômica, que consiste nas
formas pelas quais os homens produzem os bens
necessários à sua vida. A superestrutura
corresponde à estrutura jurídico-política e a
estrutura ideológica. A posição do marxismo, é que
a infra-estrutura determina a superestrutura, mas
ao tomar conhecimento das contradições, o homem
pode agir ativamente sobre aquilo que o determina.
As manifestações da superestrutura passam a ser
determinadas pelas alterações da infra-estrutura
decorrentes da passagem econômica do sistema
feudal para o capitalista. O movimento dialético da
história se faz por um motor, que é a luta de classes.
Essa luta acontece porque as classes tem interesses
antagônicos. No modo de produção capitalista essa
relação de antagonismo se dá porque o capitalista
detém o capital e o operário não possui nada, tendo
A partir desse ponto, Marx formula uma de suas
conceitos mais conhecidos que é a mais-valia. Esse
mais-valia é concebida quando o trabalhador vende
ao capitalista a sua força de trabalho por um valor
Acontece que ele produz mais do que esperado, e
como ele fica com tempo disponível dentro da
empresa ele produz um excedente que é a
mais-valia. Essa mais-valia não é dividido com o
trabalhador e fica nas mãos do capitalista que vai
acumulando o capital. A mais-valia é portanto o valor
que o trabalhador cria além de sua força de
trabalho e é apropriado pelo capitalista.
Outro conceito que Marx constrói é o da alienação. O
trabalhador quando vende a sua força de trabalho
se torna estranho ao produto que concebeu. Essa
perda do produto causa outras perdas para o
trabalhador, como a separação da concepção e
execução do trabalho, e ainda com o avanço
tecnológico, ele fica sujeito ao ritmo da linha de
montagem, não tendo controle sobre o seu ritmo
Para que o trabalhador não se revolte, o capitalismo
usa de mecanismos de introdução de ideologia na
cabeça das pessoas, para que estas se conformem
É dentro deste contexto que devemos analisar como a
ideologia, presente em atividades superestruturais da
sociedade, se reproduz a nível individual, levando-o a se
relacionar socialmente de forma orgânica e reprodutora
das condições de vida, e também como, no plano da
ideologia, o indivíduo se toma consciente dos conflitos
Desta forma a análise da ideologia deve,
necessariamente, considerar tanto o discurso onde
são articuladas as representações, como as atividades
desenvolvidas pelo indivíduo. A análise ideológica é
fundamental para o conhe cimento psicossocial pelo
fato de ela determinar e ser determinada pelos
comportamentos sociais do indivíduo e pela rede de
relações sociais que, por sua vez, constituem o próprio
A alienação se caracteriza, ontologicamente, pela atribuição de "naturalidade" aos fatos sociais; esta inversão do humano, do
social, do histórico, como manifestação da natureza, faz com que todo conhecimento seja avaliado em termos de
verdadeiro ou falso e de universal; neste processo a "consciência" é reificada, negando-se como processo, ou seja, mantendo a alienação em relação ao que ele é como
Neste ponto se torna necessário distinguir, em termos de níveis, consciência social, de consciência de classe; esta última é um processo essencialmente grupal e se manifesta
quando indivíduos conscientes de si se percebem sujeitos das mesmas determinações históricas que os tornaram membros de um mesmo grupo, inseridos nas relações de produção que caracterizam a sociedade num dado momento.
Nesta perspectiva, o pertencer a um grupo cujas ações
expressam uma consciência de classe pode ser condição para que um indivíduo desencadeie um processo de
conscientização de si e social. Desta forma, consciência de classe é uma categoria basicamente sociológica, enquanto consciência de ser social é uma categoria psicológica. Porém
elas são intersociáveis no plano da ação, tanto individual como grupal.
A questão da alienação-consciência só poderá ser
analisada, no plano individual, enquanto processo que
envolve, necessariamente, pensamento e ação, mediados
pela linguagem produto e produtora da história de uma
sociedade.
O pensar uma ação pode simplesmente reproduzir essa
ideologia, na medida em que se submete ou a reproduz
através de explicações do tipo "é assim que deve ser, é
Porém, o pensar uma ação pode ser um confronto das possíveis conseqüências tanto imediatas como mediatas. Este pensar
recupera experiências anteriores, quando ações
transformaram o ambiente e outras, omitidas, mantiveram o status quo, apesar de ter havido uma necessidade que gerou
Refletir sobre estas contradições e suas conseqüências
fará com que a ação decorrente seja um avanço no
processo de conscientização. Se esta reflexão não
ocorre, o pensar a ação se caracterizará por uma
resposta pronta, tida como "verdadeira", já elaborada
pelo grupo, reproduzindo a ideologia e mantendo o
indivíduo alienado.
Desta forma o pensar ação/não-ação — agir/não-agir e repensar o feito/não-feito traz em si contradições que podem ser resolvidas através de uma explicação, de uma justificativa que encerra o processo com uma elaboração
ideológica. Porém se a contradição é enfrentada, é
analisada criticamente e é questionada no confronto com a realidade, o processo tem continuidade, onde cada ação é renovada e repensada, ampliando o âmbito de análise e da própria ação, e tem como conseqüência a conscientização do
indivíduo.
Em contraposição, as respostas a ações habituais são
exatamente aquelas que se reproduzem sem que ocorra o pensar, tanto antes como depois. Na medida em que estas
ações implicam valores e relações sociais, elas estarão, obrigatoriamente, reproduzindo a ideologia dominante,
mantendo as condições sociais, ou seja, elas não
transformam nem as relações sociais do indivíduo nem a ele mesmo: é a persistência da alienação.
(Nesse sentido pode-se entender como, não só o trabalho repetitivo e mecânico de um operário, mas também qualquer atividade rotineira contribui para a alienação do ser humano.)
Concluindo...
Temos como decorrência metodológica desta aná lise, a necessidade de pesquisar as representações (linguagem- pensamento) juntamente com as ações de um indivíduo, este
definido pelo conjunto de suas relações sociais, para se
chegar ao conhecimento de seu nível de consciência/alienação num dado momento.