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Trabalho, igualdade de gênero e democracia: uma analise a partir do relatório global de lacunas de gênero

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DYENIFER DOS SANTOS

TRABALHO, IGUALDADE DE GÊNERO E DEMOCRACIA: UMA ANALISE A PARTIR DO RELATÓRIO GLOBAL DE LACUNAS DE GÊNERO

Florianópolis 2019

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DYENIFER DOS SANTOS

TRABALHO, IGUALDADE DE GÊNERO E DEMOCRACIA: UMA ANALISE A PARTIR DO RELATÓRIO GLOBAL DE LACUNAS DE GÊNERO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Me.

Florianópolis 2019

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Dedico este trabalho as mulheres. Principalmente as do meu convívio, que sempre demonstraram muita garra e força, independente da situação e me inspiram a jamais desistir. Este trabalho é para todas que persistem em suas lutas diárias se fazendo ainda mais admiráveis.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as mulheres que passaram pela minha vida ao longo dos anos. Todas, sem exceção, me ensinaram de alguma forma a importância de nos mantermos fortes e unidas para encarar as dificuldades de uma sociedade com tanto desrespeito e desamor. Minha fonte de inspiração para escrever este trabalho vem de cada uma delas.

Dessas mulheres, destacam-se as da minha família, meus primeiros exemplos. Sou plenamente grata por vir de uma família composta por mulheres tão maravilhosas, guerreiras e íntegras. Elas estiveram comigo em cada momento, se fizeram presentes nos períodos mais difíceis, sempre com um amor incondicional. Obrigada Dinda, Tia Mari, Vó Derci, Tia Tela, Carol, e a todas as demais, amo vocês de todo coração.

Sou grata, especialmente a minha mãezinha, que mais do que ninguém está e esteve comigo em qualquer situação, dela vem minha força maior, meu exemplo de garra, perseverança e dedicação em sempre buscar ser uma pessoa melhor. Não poderia ter sido outra pessoa, sabemos que tudo acontece por um motivo e nesta vida assim como em outras nos encontramos como mãe e filha para aprendermos e nos ajudamos a evoluir ainda mais. Ela é um exemplo claro de garra, pois em meio a tantas adversidades se manteve firme e amorosa nesta vida que não é nada fácil. Ela é fonte de inspiração para todos ao seu redor, e me desperta uma admiração e orgulho sem tamanho. Obrigada por nunca me deixar desistir e desacreditar. Não tenho palavras para descrever meu amor e gratidão por esse ser iluminado.

Agradeço também a todos que de alguma forma estiveram comigo ao longo destes anos de graduação, seja de forma presente ou onipresente. Aos meus amigos que me aguentaram em momentos de surtos ou realizações. Em especial ao Leonardo, que mesmo com muitas turbulências, se manteve firme até onde pode, sempre me mostrando que era possível.

Aos meus colegas de faculdade, que fizeram desse período um misto de caos e ensinamentos. Especialmente a duas pessoas que entre idas e vindas se fizeram presentes não só na vida acadêmica, Rhaytza e Alexia. Rhaytza foi minha primeira amiga na faculdade e ao longo desses anos se manteve me apoiando e incentivando, mesmo que houvessem breves interrupções neste meio tempo, sempre buscamos fortalecer e acreditar uma na outra. Alexia, que também entre idas e vindas se fez ainda mais presente neste último ano, reforçando como temos sorte em encontrar determinadas pessoas em nossas vidas, sou grata pela amizade, birras, incentivo e parceria. Tenho orgulho e admiração em te ver crescendo e se tornando

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uma profissional ainda mais maravilhosa, poder acompanhar tua trajetória é muito gratificante.

Por último mas não menos importante, afinal sem eles nada disso seria possível, agradeço a todos os meus professores desde o princípio. Minhas professoras do ensino fundamental, Jânira e Dirciane, que se fazem presentes em minha memória pelo amor e dedicação a essa profissão. Jesus, professor do ensino médio, que nos incentivava a aprender sempre com um jeito único. A professora Kátia, que nos acompanhou desde as primeiras matérias da graduação e nos encanta com seu amor e dedicação por nós alunos. Professora Larissa, que sempre nos incentivou a buscar o melhor. Professora Bianca que esteve conosco apenas um semestre, e que foi suficiente para a admiramos. E por fim, ao professor e meu orientador Luciano, que também nos acompanhou do início ao fim desta graduação, nos ensinando a importância do pensamento crítico, como devemos ser resilientes e permanecer sempre lutando, tanto para sermos melhores quanto para a construção de uma sociedade mais justa. Agradeço imensamente a cada um destes mestres que passaram pela minha vida, repito que sem cada um de vocês nada disso seria possível. Vocês são parte do que me tornei e agradeço com muito amor a todos.

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“Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas.” (Audre Lorde).

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RESUMO

Nesta monografia será abordado sobre divisão sexual do trabalho e as disparidades relatadas no Relatório Global de Lacunas de Gênero de 2018, trazendo ainda debates a respeito de gênero e democracia dentro do contexto de divisão sexual do trabalho. O início dos debates a cerca de divisão sexual do trabalho ganharam impulso dentro do movimento feminista, com intuito de ressignificar o conceito de trabalho, partindo do principio que as atividades domésticas exercidas pelas mulheres naquela época também deveriam fazer parte do conceito de trabalho. Desde então os debates sobre mulher e trabalho tem se feito cada vez mais necessários, visto que mesmo com os avanços conquistados ainda existe muito a ser corrigido para termos uma sociedade igualitária e justa. A fim de trazer maior clareza a respeito do tema, foram propostos três objetivos específicos, que são, debater divisão sexual do trabalho e a participação das mulheres na política a partir de perspectivas de gênero, raça e classe; apresentar a divisão sexual do trabalho e a participação das mulheres na política segundo dados do Relatório Global de Lacunas de Gênero do Fórum Econômico Mundial e; relacionar os dados do relatório aos debates sobre igualdade de gênero e democracia no tempo presente.. Esta pesquisa se caracteriza como básica, com abordagem qualitativa, com objetivos explicativos, coleta de dados bibliográfica e documental. Como conclusão a monografia apresenta que mesmo com avanços ainda existem muitas disparidades entre os gêneros, tanto no campo privado quanto no público e estas impactam negativamente na inserção das mulheres nos debates tomada de decisão.

Palavras-chave: Divisão sexual do trabalho. Igualdade de Gênero. Fórum Econômico Mundial.

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ABSTRACT

This monography will address sexual division of labor and the disparities reported in the 2018 Global Gender Gap Report, as well as bring debates on gender and demacracy within the context of sexual division of labor. The beginning of the debates about the sexual division of labor gained momentum within the feminist movement, in order to redefine the concept of work, assuming that the domestic activities performed by woman at that time should alse be part of the concept of work. Since then, debates about woman and work have become increasingly necessary, since even with the advances achieved there is still much to be corrected for an egalitarian and just society. In order to clarify the subject, three specific objectives have been proposed: to debate gender and the sexual division of labor, to map the sexual division of labor according to data from the World Economic Forum’s Global Gender Gap Report, and to relate the results presented in the Report with the concept of democracy. This research is characterized as basic, with a qualitative approach, with explanatory objectives, bibliographic and documentar data collection. In conclusion the monograph shows that even with advances there are still many disparities between genders, both in the private and public fields and these negatively impact the insertion of woman in decision-making debates.

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LISTA DE IMAGENS

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Profissionais na área de Inteligência Artificial de acordo com o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018... 29 Gráfico 2 - Países onde as mulheres constituem 40% ou mais do total de posições no Parlamento Nacional segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018 ... 31 Gráfico 3 - 5 países com melhores índices em Participação Econômica e Oportunidade, segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018 ... 34 Gráfico 4 - 5 países com desempenhos mais baixos nos índices em Participação Econômica e Oportunidade, segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018 ... 35

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ranking dos 10 países com maior paridade de gênero segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018... 30

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 12

2 GÊNERO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO ... 16

2.1 O DEBATE CENTRAL: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E GÊNERO ... 16

2.2 GÊNERO CLASSE E RAÇA ... 21

2.3 O ÚLTIMO DEBATE: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO, GÊNERO E DEMOCRACIA ... 24

3 UMA BREVE ANALISE DO RELATÓRIO DO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL DE 2018 ... 28

3.1 CONHECENDO O GLOBAL GENDER GAP REPORT ... 28

3.2 APRESENTANDO OS DADOS DE PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA E OPORTUNIDADE ... 33

3.3 COMPREENDENDO OS DADOS SOBRE EMPODERAMENTO POLÍTICO ... 36

4 DEMOCRACIA X PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA ... 38

4.1 DE BARREIRAS A ARGUMENTOS ... 38

4.2 DEMOCRACIAS E AUTORITARISMO ... 40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 44

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1 INTRODUÇÃO

Junto da revolução francesa e das alterações causadas por ela, no século XIX, surgiu um movimento travado pela luta das mulheres frente a conquista de seus direitos básicos. Desde então passou-se a questionar a submissão e desigualdades enfrentadas pelas mulheres perante a sociedade, e buscar uma forma de que estas vivam em uma sociedade mais justa, de acordo com Rodrigues (2001). Inicialmente, a controvérsia se dava por questões de igualdade política e de direitos à liberdade de escolhas, vida pública e melhores condições de trabalho, sendo conhecida como a primeira onda do feminismo, sendo o sufragismo o movimento mais conhecido desta época, segundo Saffioti (1986).

Entre as décadas de 60 a 80 houve a explosão da segunda onda do feminismo, as mulheres passaram a questionar mais efetivamente o seu papel social e a submissão imposta a elas. Para Saffioti (2004), as mulheres denunciavam o patriarcado como forma do poder político e de dominação masculina. Nesse período, foram abordados ainda mais temas, tais como liberdade sexual, maternidade e todas as formas de opressão as quais eram submetidas, segundo Bittencourt (2015). Neste período o senso de coletividade é inserido ao feminismo, trazendo a ideia de união que provocaria mudanças na sociedade, é nesta época também que as mulheres negras - surge o Comitê da Libertação da Mulher Negra trazendo outras discussões para o movimento que até então não eram abordadas - e lésbicas se juntam ao movimento, tornando este mais forte.

Houve ainda uma terceira onda do feminismo, esta ocorreu na década de 90, a busca pela liberdade total de decisões era determinante para as mulheres. Este período é marcado pelo surgimento do termo interseccionalidade, que se refere ao estudo da sobreposição de identidades sociais e sistemas de opressão, dominação ou discriminação. Ainda nessa época, entendeu-se a importância dos debates sobre as diferenças enfrentadas por todas as mulheres, incluindo suas condições distintas e demandas específicas. Outro ponto da terceira onda feminista foi a percepção de uma sociedade que construía e disseminava comportamentos opressores e que estes deveriam ser debatidos e desfeitos, conforme Bittencourt (2015).

Ao longo da história acontecem avanços e muitos direitos foram conquistados pelas mulheres, porém mesmo em períodos atuais é possível notar a relevância do tema, que ainda precisa debater sobre o papel delas frente à sociedade, bem como a igualdade de seus direitos. Apesar das conquistas do movimento feminista, as mulheres ainda precisam combater comportamentos opressores de uma sociedade patriarcal, de acordo com Biroli (2016).

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Um dos direitos conquistados pelas mulheres foi o acesso ao mercado de trabalho, no qual enfrentou e ainda enfrentam muitas dificuldades. No século XX ocorrem greves reivindicando melhorias nas condições de trabalho, redução das jornadas e fim do trabalho noturno para as mulheres, e principalmente a regularização do trabalho feminino. Estas greves, conforme Silva (2018), levaram a aprovação da resolução de salários igualitários pela Conferência do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho e a aceitação de mulheres no serviço público.

Para as discussões internacionais, o movimento feminista ainda tem muito a agregar, visto que existem pontos não muito abordados tanto pela academia quanto pela sociedade como um todo. Debates como as dificuldades encontradas por mulheres de raças e classes diferentes, o respeito empregado a todas as mulheres e a desconstrução de uma sociedade sexista. A comparação entre a forma como as mulheres são tratadas e respeitadas entre os Estados pode apontar diretrizes a fim de melhorar a sociedade e garantir uma melhor integração das mulheres em questões básicas como políticas e meios de trabalho.

Após muitos percalços, ainda é possível notar os problemas enfrentados por mulheres ao acessar o mercado de trabalho, principalmente quando são negras e/ou periféricas em âmbito internacional, concordando com Biroli (2016). Tal quesito nos leva a olhar para dentro do movimento feminista de uma forma mais profunda e perceber a necessidade de mais estudos a cerca do tema dentro da academia.

Tais reflexões levantam muitos questionamentos acerca do papel da mulher frente a sociedade, em especial que guiou a construção do presente trabalho de conclusão de curso: Como a desigualdade de gênero se apresenta no mundo do trabalho e no meio político nos diferentes Estados do Sistema Internacional a partir da análise do Relatório Global de Lacunas de Gênero do Fórum Econômico Mundial?

De acordo com tal problemática, o presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo geral debater as relações entre precarização e direcionamento do trabalho feminino, além da relação entre democracia e desigualdade de gênero no mundo contemporâneo.

Ainda com finalidade de solucionar o problema exposto para tal pesquisa e completar a realização do objetivo geral, para esse estudo foram formulados três objetivos específicos, sendo estes: a) Debater divisão sexual do trabalho e a participação das mulheres na política a partir de perspectivas de gênero, raça e classe; b) apresentar a divisão sexual do trabalho e a participação das mulheres na política segundo dados do Relatório Global de Lacunas de

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Gênero do Fórum Econômico Mundial e; c) Relacionar os dados do relatório aos debates sobre igualdade de gênero e democracia no tempo presente.

O movimento feminista é uma causa abordada desde o século XIX, ao longo da história foi e ainda é fundamental para assegurar os direitos, mesmo os básicos, das mulheres perante a uma sociedade onde impera o patriarcado e a desigualdade. Atrelado aos estudos em relações internacionais, a luta feminista se mostrou mais presente com o início das discussões a respeito do terceiro debate, que buscava além da superação da opressão feminina. Passou a somar as questões políticas e de construção de uma ordem internacional mais justa, assegurando e tornando ainda mais relevante a causa de uma forma global.

As desigualdades sempre estiveram presentes no decorrer da história, estas são tantas que dentro de um mesmo movimento social ainda existem disparidades. Ao analisarmos o feminismo de uma forma mais profunda, levando em consideração as questões de classe e raça, é possível notar que as dificuldades enfrentadas por mulheres brancas não são as mesmas encaradas por mulheres negras.

Dentro do movimento feminista, muito relevante e presente nos dias atuais, o tema escolhido aborda sobre jornadas de trabalho e as diferenças impostas, tanto pela sociedade patriarcal como dentro do próprio movimento ao longo da história. Tal escolha justifica-se, pelo interesse em compreender melhor como se dão tais diferenças e dificuldades, além de expor estas em meio acadêmico e social, com o intuito de informar e propor um questionamento a esta sociedade com raízes ainda muito sexistas. Os debates sobre feminismo as relações internacionais ainda são pouco são difundidos a passos largos, tornando ainda mais necessário à existência de trabalhos acadêmicos sobre tal tema para facilitar as discussões e compreensão sobre o assunto.

O interesse pelo tema surgiu devido ao crescente discurso de conservadorismo nos dias atuais em âmbito global, bem como as novas reformas trabalhistas e manifestações discriminatórias a respeito e igualdade de gênero, que afeta diretamente no direito das mulheres trabalhadoras. O cenário atual faz com que discussões como a proposta por este trabalho sejam indispensáveis e ainda mais frequentes frente às relações internacionais.

Tal pesquisa se caracteriza como básica, pois de acordo com Andrade (2001) tem por finalidade o desejo de obtenção de conhecimentos novos sem que ocorra a aplicação prática prevista. Quanto à abordagem, trata-se da qualitativa, segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 31) preocupa-se com aprofundamento da compreensão de um grupo social e não com representatividade numérica, esta abordagem busca explicar o por quê das coisas. Sobre o objetivo, esta pesquisa se configura como explicativa, ainda de acordo com Gerhardt e

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Silveira (2009, p. 35) “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”.

Quanto a procedimento, tal pesquisa se qualifica como bibliográfica e documental, segundo Gil (2002, p. 44), para a elaboração da pesquisa é necessário um material já produzido, sendo estes principalmente trabalho de conclusão de curso e livros.

Foram utilizados artigos e revistas que abordam teorias feministas – sempre da perspectiva feminina, tais como Helena Hirata, Danièle Kergoat, Maria Cássia Carloto, Flávia Biroli, Joan C. Tronto e outras -, principalmente os de conteúdo voltado para as relações internacionais e a divisão sexual do trabalho. Para uma melhor compreensão do tema, as leituras sobre democracias e desigualdades entre gênero e papel da mulher frente a sociedade predomina a pesquisa. Também se fez necessário utilizar o relatório de lacunas entre gêneros do Fórum Econômico Mundial, a fim de apresentar dados para melhor compreensão da dimensão da problemática.

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2 GÊNERO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

Para melhor compreensão e desenvolvimento do presente trabalho de conclusão de curso, faz-se necessário conceituar e debater gênero, divisão sexual do trabalho e democracia, visto que esses são os pontos centrais para entender as discussões das próximas seções. Esses debates serão apresentados considerando as perspectivas de diferentes autoras, pois julgamos necessário analisar essa temática do ponto de vista de mulheres, que enfrentam tal problemática.

O primeiro debate aborda a divisão sexual do trabalho e gênero, que são considerados o centro do presente trabalho de conclusão de curso. São apresentados argumentos a fim de entender a divisão entre homens e mulheres, como foi a inserção do tema em debates acerca de trabalho, qual a influência do gênero nessa questão e como o debate ainda é atual.

Na sequência, entramos nas discussões que tange a gênero, classe e raça. Pois dando sequencia ao debate inicial, faz-se necessário entender que além das desigualdades enfrentadas entre homens e mulheres, existem outros aspectos relevantes e que constituem as discussões acerca da divisão sexual do trabalho

Para finalizar o capítulo, serão levantados os debates sobre democracia, e a relação desta com a divisão sexual do trabalho. A seção apresenta argumentos a fim de entender a pouca participação das mulheres em âmbito político, que estão interligados também com os debates anteriores.

2.1 O DEBATE CENTRAL: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E GÊNERO

A relação entre mulheres e trabalho sempre esteve muito vinculada aos afazeres domésticos, isso se dá devido às relações de dependência, que de acordo com Souza e Guedes (2016, p. 124) são “baseada nos vínculos de casamento e reciprocidade parentais, as relações de subalternidade e opressão entre os sexos ficavam escondidas na cumplicidade familiar, que reserva às mulheres o amor e cuidado à família, e ao homem a profissão financeira”, gerando assim uma relação de poder entre os sexos. Assim delineou-se um modelo onde a mulher é detentora e responsável pelo lar e educação dos filhos enquanto os homens eram tidos como chefes da família por pertencerem a esfera pública. De acordo com Ramos (2013).

A divisão sexual do trabalho proveniente das “relações sociais de sexo” reservou às mulheres a esfera reprodutiva e aos homens, a esfera produtiva, estabelecendo uma relação assimétrica entre os sexos que cria e reproduz concomitantemente as desigualdades de papéis e funções na sociedade. As relações sociais entre os sexos

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se apresentam desiguais, hierarquizadas, marcadas pela exploração e opressão de um sexo em contraponto à supremacia do outro. (SOUZA; GUEDES, 2016, p. 125) Souza e Guedes (2016) reafirmam no mesmo texto que a divisão se dava em duas esferas, a pública e a privada, onde os homens tinham papel provedor enquanto as mulheres atuavam cuidando do lar como compensação ao sustento financeiro dos maridos, respectivamente.

Ainda em concordância com as autoras referidas acima, a divisão sexual do trabalho produziu uma diferenciação entre os sexos, deixando a cargo das mulheres as atividades tidas como ocultas ou com pouco valor social, enquanto cabia aos homens o exercício de funções importantes e que indicam poder.

Junto do movimento feminista a divisão sexual do trabalho começou a ser discutida no inicio dos anos 70, principalmente na França onde os debates acerca desse tema passaram a ganhar bases teóricas, de acordo com Hirata e Kergoat (2007). As autoras afirmam que o movimento ganhou mais força quando essas mulheres passaram a ter consciência de que o trabalho que exerciam era delegado apenas ao sexo feminino por ser vinculado aos deveres maternos e fraternais, não sendo reconhecido e valorizado pela sociedade como um trabalho e sim como uma responsabilidade atribuída as mulheres.

Ao longo do tempo as atividades domésticas passaram a ser inseridas nas discussões sobre trabalho, abrindo espaço para que o termo “divisão sexual do trabalho” passasse a ter ainda mais relevância dentro dos debates a respeito do tema, conforme Hirata e Kergoat (2007). Bem como as autoras anteriores, Castro (1992) afirma que os debates acerca do tema são fortalecidos e passam a dar visibilidade ao papel social da mulher, que na visão geral consistia sobretudo em reprodução e atividades domésticas exercidas de forma gratuita.

Com isso, expande-se o formato de pensar o trabalho e o papel da mulher nesse contexto, sendo assim era hora de assumir e refletir o papel delas também com o trabalho assalariado, antes sustentado apenas pela figura masculina. As discussões a respeito de divisão sexual do trabalho, para Hirata e Kergouat (2007), reorganizaram a noção e a história do trabalho e suas categorias, permitindo que outros conceitos como o de sociologia do trabalho também fossem repensados, abordando questões agora como relação de serviço, mixidade de trabalho, acesso das mulheres a profissões executivas de nível superior, temporalidades sexuadas, vínculos entre políticas de emprego e políticas para a família, dentre outros.

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A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.). (HIRATA; KERGOAT, 2007, p. 599)

De acordo com esse conceito, entende-se que o fator histórico é um ponto crucial para a compreensão da divisão sexual do trabalho, pois a construção de uma sociedade com bases patriarcais estabelece uma realidade desigual também no que tange o trabalho, onde as mulheres tendem a não ter o mesmo reconhecimento social dos homens e o pensamento a respeito de atividades relacionadas ao ‘cuidar’ ainda estão muito ligadas ao sexo feminino. A divisão sexual do trabalho também é considerada histórica e cultural para Souza e Guedes (2016), assim como mencionado acima, visto que as responsabilidades domésticas estão ligadas as mulheres independente de idade, ocupação ou classe. Para as autoras essas obrigações são provenientes de discursos que reforçam a naturalidade feminina para cuidar, discurso este que permanece até os dias de hoje.

Para Biroli (2016) os temas de gênero e trabalho apontam que a divisão sexual do trabalho perpassa as relações sociais e é fundamental em sua organização. A autora Souza-Lobo (1991) aponta que a problematização da divisão do sexual do trabalho faz com que a naturalização dessas categorias e métodos sejam questionadas. As teorias de gênero e trabalho foram compostas por base nas abordagens feministas marxistas. A autora aponta que a discussão passou a ganhar maior destaque, o que caracteriza a dominação do gênero (ou o patriarcado) é a posição das mulheres nas relações de trabalho, ou seja, a exploração que estas sofrem seja na esfera pública ou privada e nas relações de poder da sociedade.

É importante abordar aqui, para uma melhor compreensão, também os sistemas de patriarcado e capitalismo, que segundo Delphy (2013) se sobrepõe, mesmo que sejam sistemas diferentes. Berrett (1988) afirma que a divisão sexual do trabalho não pode ser referida apenas ao capitalismo, pois assim não levaria em consideração o que antecede o capitalismo, em beneficio dos homens, pois estes sempre mantiveram uma relação de poder sobre as mulheres.

Em relação a este debate, Biroli (2016, p. 725) afirma que:

O fato de a industrialização ter transferido parte da produção realizada no espaço doméstico para as fábricas não restringiu a casa a um espaço reprodutivo. A responsabilização desigual de mulheres e homens por um trabalho que nessas abordagens é definido como produtivo e não remunerado seria a base do sistema

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patriarcal no capitalismo. O patriarcado, como sistema político, consistiria numa estrutura de exploração do trabalho das mulheres pelos homens.

Ávila (2005, p. 69) traz essa relação entre patriarcado e capitalismo observando que:

Reconstruído e readequado (o poder patriarcal) produz uma ideologia que associa homens à produção e esfera pública e mulheres à reprodução e domesticidade, conferindo a essas associações uma hierarquia na qual a primeira associação é tida como superior e de ordem da cultura e a segunda, como inferior e de ordem da natureza.

Para Biroli (2016, p. 726) “a distinção entre trabalho remunerado e não remunerado é colocada, assim, no cerne das formas de exploração características do sistema patriarcal no mundo capitalista”. Ou seja, as mulheres fornecem o trabalho doméstico de forma gratuita, tornando os homens livres para seguirem se dedicando aos trabalhos remunerados. Para Delphy (2013) essas explorações não se limitam ao ambiente doméstico, e acabam limitam e moldam as ocupações fora de casa. Visto isso, entende-se que o trabalho para a sociedade capitalista não é assexuado e que a tradição do patriarcado beneficia a exploração do trabalho feminino na relação capitalista.

Hirata e Kergoat (2007, p. 599) trazem dois princípios organizadores para a divisão sexual do trabalho, “o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio hierárquico (um trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher)”. Biroli (2016) vai além quando se trata do princípio hierárquico, a mesma afirma que a divisão hierárquica não se dá apenas no valor do trabalho masculino, inclui também o debate a respeito de classe e raça, indicando que dentro do mesmo movimento existe uma separação, que “tem expressão clara no recurso das mulheres mais ricas ao trabalho doméstico mal remunerado e precarizado das mais pobres” (BIROLI, 2016, p. 720). Contudo, por mais que a renda seja um fator importante quanto a hierarquização, não cessa a responsabilidade dos padrões de gênero quanto ao direcionamento do trabalho doméstico ao sexo feminino. Ainda conforme a autora, gênero, classe e raça não são termos independentes quando se trata de divisão sexual do trabalho, mesmo que com variáveis, as mulheres ainda são impactadas apenas por serem mulheres.

Esses princípios são pertinentes a todas as sociedades conhecidas, perpassam tempo e espaço e são aplicadas pela ideologia naturalista, onde o sexo biológico minimiza o gênero e remete ao destino natural da espécie (HIRATA E KERGOAT, 2007). Mesmo com esses fatores, as autoras indicam que a divisão sexual do trabalho não é um dado imutável, isso se dá graças às variações dos princípios e modalidades (concepção do trabalho reprodutivo e do

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trabalho mercantil das mulheres, etc.) no espaço e tempo, visto que em algumas sociedades as condições melhoraram consideravelmente. Mas que existe uma separação entre os princípios e modalidades e a distância entre os sexos, que é contínua e faz com que apesar das mudanças, as coisas permaneçam da mesma forma.

Em concordância com esse pensamento, Biroli (2016) afirma que, apesar das transformações ocorridas nos últimos tempos, as mulheres ainda empregam mais tempo as tarefas domésticas e tem rendimentos menores do que os homens em trabalhos na esfera pública. Mesmo com índices de escolaridade mais altos e com as transformações no padrão ocupacional as mulheres ainda não ultrapassaram as desigualdades e precariedades no âmbito do trabalho e social.

Mesmo com a limitação das mulheres na esfera privada e posteriormente as mudanças socioeconômicas e a busca pela independência feminina, fez com que as mulheres sofressem com desvantagens tanto econômicas quanto sociais em relação aos homens.

Souza e Guedes (2016, p. 125) asseguram que:

O ingresso das mulheres no mundo econômico não equilibra as funções atribuídas aos sexos, ao contrário, reforça as desvantagens vividas pelas mulheres que atualmente compartilham com os homens, de forma equânime ou não, a provisão financeira da família juntamente com a responsabilidade da esfera reprodutiva. A saída do lar e as conquistas cada vez mais visíveis no âmbito público representam uma revolução incompleta, uma vez que as mulheres ainda assumem praticamente sozinhas as atividades do espaço privado, o que perpetua uma desigual e desfavorável divisão sexual do trabalho para elas.

Considerando essas desvantagens, Bruschini (2006) afirma que o tempo econômico dos homens é sempre maior do que o das mulheres, visto que as mulheres ainda devem dedicar seu tempo as atividades ligadas a reprodução social, sendo este somado ao tempo econômico. A autora ainda assegura que as obrigações domésticas restringiam o desenvolvimento profissional das mulheres, visto que esse somatório entre econômico e reprodução social acarretava em carreiras descontínuas, além de empregos e salários com menor qualidade.

Os debates que interligam divisão sexual do trabalho e gênero estão vinculados aos estereótipos criados ao longo do tempo, onde a masculinidade está relacionada a trabalhos com maior valor agregado e mais pesados, enquanto a feminilidade está associada a ao trabalho leve, fácil e paciente, diretamente ligado ao emocional e irracional de acordo com Hirata (1995). Para elas, é nítido que apesar da inserção das mulheres nas discussões e no âmbito antes habitado apenas pelo sexo masculino, as diferenças ainda são muito evidentes. A

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essência da divisão sexual do trabalho permanece a mesma, visto que o trabalho masculino, mesmo nos dias de hoje, permanece com maior valor agregado, seja econômica ou socialmente. Visto essas condições torna-se explicito que as relações de gênero não são lineares, ocorrendo sempre entre tensões e avanços.

Indo além da discussão entre a diferenciação de homens e mulheres, é preciso entender também a relação imposta dentro das discussões a respeito de classe e raça. Como mencionado anteriormente, Biroli (2016) afirma que de forma geral o gênero impacta muito quando se trata de divisão sexual do trabalho, porém quando se discute classe e raça essa problemática se torna ainda mais grave. Dada essa conjuntura, os próximos debates necessários referem-se a gênero, classe e raça e a diferenciação destes que influenciam na divisão sexual do trabalho.

2.2 GÊNERO CLASSE E RAÇA

Biroli (2016, p. 731) afirma que “a divisão sexual do trabalho produz gênero”, não de forma isolada, mas com um papel crucial para entender a construção do mesmo. A autora ainda aponta que a divisão sexual do trabalho é uma forma de opressão as mulheres, visto que o gênero produz uma forma de exploração do trabalho e da vulnerabilidade relativa delas. Ou seja, por mais que essa diferenciação seja tratada como algo relacionado ao sexo biológico, esse fator – como foi abordado na discussão anterior -, tem muito mais a ver com as normas impostas pela sociedade na construção da vida de mulheres e homens (Williams, 2010).

Assim como no movimento feminista, o foco de analise quando se trata de divisão sexual do trabalho é no grupo das mulheres de forma geral, considerando apenas a questão de gênero e as vantagens dos homens sobre elas, em concordância com Delphy (2013) e Biroli (2016). Porém, torna-se necessário que outros pontos como posição de classe e raça sejam analisados também, visto que estes impactam diretamente na divisão sexual do trabalho.

Há, de fato, um tipo de exploração que se efetiva porque o trabalho doméstico é realizado pelas mulheres – mas isso não significa que seja realizado nas mesmas condições por mulheres brancas e negras, pelas mais ricas e pelas mais pobres. Ao mesmo tempo, o acesso ao mercado de trabalho também se dá de forma distinta, segundo raça e posição de classe das mulheres. Se levarmos em consideração esses dois fatos conjuntamente, a conexão entre divisão sexual do trabalho não remunerado e do trabalho remunerado organiza as vidas das mulheres, mas o faz de maneiras distintas e as afeta de forma e em graus desiguais. (BIROLI, 2016, p.732) Considerando as colocações das autoras citadas acima, entende-se que o gênero não é a única variável a se considerar quando se trata de divisão sexual do trabalho. É preciso

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entender que dentro de um aspecto, existem também outros que marginalizam e oprimem ainda mais quando se observa questões de raça e classe – problemática esta que acaba atingindo também aos homens, se tratando de homens negros principalmente.

Ainda seguindo os pensamentos de Biroli (2016), as diferenças indicam privilégios e desvantagens, isto é, as posições ganham um sentido de hierarquias deixando de ser uma questão identitária. Para Delphy (2013), as opressões e constrangimentos sofridos pelas mulheres variam e são vividos de formas distintas devido às questões de classe social, raça e sexualidade.

Como as analises a respeito de divisão sexual do trabalho são feitas de forma generalizada, tomou-se a ideia de trabalho remunerado para as mulheres como algo libertador. Mas como as experiências variam, ao considerar apenas as “experiências das poucas mulheres que podem ter acesso a carreiras profissionais com grau relativamente ampliado de autonomia e de remuneração” (BIROLI, 2016, p.734) faz uma exclusão das mulheres negras, por exemplo.

Hooks (1984), aponta que a exploração de classe acontece partindo do princípio que as mulheres trabalhadoras ganham um salário inferior ao salário mínimo, isso quando recebem alguma remuneração.

Considerando nossa sociedade desigual, torna-se ainda mais evidente que o trabalho exercido por mulheres negras poucas vezes é igual ao trabalho desempenhado por mulheres brancas. Seguindo esse conceito, Collins (2009) aponta que mulheres negras geralmente praticam um trabalho alienante ou não remunerado, tais como os afazeres domésticos – seja em ambiente privado ou público -, enquanto as mulheres brancas tendem a exercer carreiras profissionais ou com maior valor econômico agregado.

De acordo com o Ipea (2017), que analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, as mulheres com rendas mais altas poucas vezes se dedicam ao trabalho doméstico, cerca de 79,5% das mulheres com renda superior a oito salários mínimos afirmam exercer as atividades domésticas, enquanto 94% das mulheres com rendimentos até um salario mínimo realizam essas atividades. Esses números são drasticamente reduzidos quando se tratam de homens praticando as mesmas atividades, 57% com renda entre cinco e oito salários mínimos cumprem as atividades domésticas, contra 49% entre os que tinham renda mais baixa.

Ainda seguindo os dados apresentados pelo Pnad, é possível notar que mesmo com a crescente na renda das mulheres negras, estas ainda permanecem a margem dos demais. Em uma escala de remuneração, a sequência se dá da seguinte forma: com os melhores

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rendimentos estão os homens brancos, seguidos das mulheres brancas, homens negros e por fim, as mulheres negras.

A pesquisa também aponta que cerca de 18% das mulheres negras ocupavam os trabalhos domésticos, enquanto para os mesmos cargos as mulheres brancas ocupavam apenas 10%. Outros indicadores que podem ser aliados a discussão são os de educação, que mostram que a população negra de forma geral tem menos tempo de estudos do que a população branca, em 2015 os índices eram de 12% com mais de 12 anos de estudos contra 25,9% na ordem referida. Os dados sobre educação interferem diretamente quando se trata das formas de trabalho exercidas.

Ao que se refere a chefes de família no Brasil, o Pnad aponta que em 1995, 23% dos domicílios eram chefiados por mulheres, já em 2015 esse número chegou a 40%. A expressão ‘chefe de família’ não remete a falta da presença masculina na família, visto que em 34% do número apresentado anteriormente havia a presença de um companheiro.

Esses dados reforçam o pensamento das autoras citadas anteriormente, que propunham que a divisão sexual do trabalho vai além da questão de gênero sendo diretamente interligada com raça e classe.

Biroli (2016, p.737) afirma que:

A divisão sexual do trabalho está ancorada na naturalização de relações de autoridade e subordinação, que são apresentadas como fundadas na biologia e/ou justificadas racialmente. Em conjunto, restrições que se definem pelo gênero, pela raça e pela classe social conformam as escolhas, impõem desigualmente as responsabilidades e incitam a determinadas ocupações enquanto bloqueiam ou dificultam o acesso a outras.

Ainda em concordância com Biroli (2016), existem duas atribuições que se aplicam a divisão sexual do trabalho, uma pode ser representada pela “ideologia maternalista”, onde as mulheres é que devem exercer as funções de cuidado e ensinamento das crianças por ter tendências e capacidades naturais e não porque os homens são liberados dessa função pela sociedade. E a outra está relacionada a “subalternização” que advindas das ideologias racistas, que impõe que as mulheres negras devem exercer os trabalhos domésticos como limpeza por terem capacidades para essas funções. “No primeiro caso, serve para justificar assimetrias entre mulheres e homens; no segundo, para justificar assimetrias entre mulheres tanto quanto entre mulheres e homens” (BIROLI, 2016, p. 738).

Nesta seção foram abordadas questões sobre interligação de gênero, classe e raça para auxiliar no entendimento da divisão sexual do trabalho. Avançando nos debates, chegamos nas discussões pertinentes ao papel da divisão sexual do trabalho dentro nos debates sobre a

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democracia, para melhor compreensão do último capitulo deste trabalho de conclusão de curso.

2.3 O ÚLTIMO DEBATE: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO, GÊNERO E DEMOCRACIA

Os debates referentes a divisão sexual do trabalho estão muito presentes na área de Sociologia, porém as discussões sobre o tema nas Ciências Políticas ainda são muito precárias (BIROLI, 2016). Isso se dá mesmo que o assunto referido tenha grande impacto nas democracias vigentes, visto que “o equilíbrio entre trabalho remunerado e não remunerado e o acesso diferenciado a ocupações incidem nas hierarquias que definem as possibilidades de presença e de exercício de influência no sistema político” (BIROLI, 2016, p. 724).

Ainda de acordo com a autora, a falta de debates sobre divisão sexual do trabalho nas Ciências Políticas está relacionada à invisibilidade da posição das mulheres, e principalmente das relações de gênero frente às analises sobre democracia. Destaca-se também a não problematização as discussões acerca da participação política das mulheres, hierarquização, autoridade e subordinação, que por consequência limita a teoria política.

As relações de autoridade que produzem a subordinação das mulheres são tecidas por múltiplos fatores. A dupla moral sexual, a tolerância à violência que as atinge por serem mulheres, a ideologia maternalista e os limites para o controle autônomo da sua capacidade reprodutiva são alguns deles. A divisão sexual do trabalho se apresenta como variável especifica (ainda que não independente) que e determinante para a compreensão de como se organizam as hierarquias de gênero. Ela está presente, também, na composição dos outros fatores mencionados, ainda que as conexões não se estabeleçam sempre numa mesma direção, em que a primeira pudesse ser tomada como fundamento das demais, ou como causalidade direta. (BIROLI, 2016 p. 739)

Para a autora, o caráter estruturante da divisão sexual do trabalho faz com que os modelos de hierarquização e desigualdade entre homens e mulheres influenciem na dedicação de tempo e esforços as áreas políticas.

Considerando os debates anteriores propostos na construção deste capitulo, compreende-se que a relação entre divisão sexual do trabalho e democracia é constituída por princípios que envolvem a assimetria, estruturação e privilégios, ainda em concordância com a autora mencionada acima. Todos os princípios fazem uma associação entre o papel imposto as mulheres e como esses interferem em questões ligadas a interferência da presença feminina nos debates públicos e espaços políticos, visto que leva em consideração a disponibilidade de tempo, falta de políticas públicas e as relações de gênero.

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Sobre a “subinclusão” da divisão sexual do trabalho nos debates sobre democracia e política, Crenshaw (2002) aponta que existem dois fatores cruciais que devem ser analisados. O primeiro versa a respeito das dissimetrias entre mulheres e homens, que abrange a presença masculina majoritária na política institucional, devido a isenção de responsabilidade masculina para exercer os trabalhos domésticos, isto é, para os homens essa não é um problemática. Considerando que as mulheres dedicam muito mais tempo ao trabalho doméstico – seja ele remunerado ou não – e os homens são isentos dessa obrigação, compreende-se que a ligação entre trabalho remunerado e cuidados domésticos são responsáveis por essas desigualdades também dentro do âmbito político. Esses pontos se agravam também devido a falta de emprego de políticas públicas eficientes que atendam as necessidades das mulheres, pois somando as responsabilidades atreladas a elas, como por exemplo cuidar dos filhos, a falta creches ou escolas impede que essas ingressem em trabalhos remunerados ou em âmbito político, de acordo com Biroli (2016).

O outro fator está relacionado às dissimetrias entre as mulheres. A consequência da divisão sexual do trabalho para esse fator diz respeito a seletividade das mulheres que participam da esfera pública, pois como mencionado neste capitulo, a divisão se dá também por questões de classe e/ou raça. Considerando que, conforme Biroli (2016, p. 741), “para um grupo determinado de mulheres, ele pode não assumir a forma de obstáculo para a sua atuação na vida pública quando é possível contratar o trabalho doméstico de outras mulheres”, mesmo que a problemática da baixa presença das mulheres em questões públicas não seja suspensa, torna-se mais fácil para um grupo de mulheres a inclusão – mesmo que breve e com pouco poder de voz - em questões que envolvam a política, enquanto os outros grupo de mulheres tende a estar a margem desses debates e participações.

Também vale ressaltar que muitas vezes, quando as mulheres passam assumir cargos políticos, poucas vezes se identificam com questões de gênero, segundo Lisboa (2018), sendo assim, conforme a autora muitas vezes as mulheres não tem consciência feminista de gênero. Esse fator torna ainda mais difícil a articulação dos debates que tangem a gênero, seja frente a sociedade ou mesmo entre as mulheres.

Um ponto fundamental para compreender tanto seu impacto diferenciado quanto a pouca atenção dada a sua relação com os limites das democracias: a divisão sexual do trabalho existe na forma de privilégio, tanto quanto na desvantagem e opressão. Nas relações que são assim estabelecidas, estão no polo do privilégio aqueles (homens, mas também mulheres, embora em posições relativas distintas, mesmo quando fazem parte de uma mesma classe social) que têm presença ampliada na política institucional e, como tal, maiores possibilidades de influenciar a agenda pública e a formulação de leis e políticas. Existe na forma de desvantagem e

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opressão justamente para quem tem menores possibilidades de ocupar espaços e exercer influência no sistema político (mulheres, em especial mulheres negras e pobres).(BIROLI, 2016, p. 741 e 742)

Com isso é possível compreender que quanto mais presente é a divisão sexual do trabalho doméstico, mais afastadas as pessoas que sofrem com esta problemática estão dos sistemas políticos, influenciando diretamente nas desvantagens e hierarquias estruturais, já que as discussões acerca das necessidades destas pessoas não são feitas por quem vivencia tais adversidades.

Partindo da percepção que em geral as pessoas dotadas de vantagens ou privilégios não os entendem como tal, e que os debates a respeito das políticas institucionais e democracia estão centralizados em suas mãos, Tronto (2013) afirma que a divisão sexual do trabalho é um mecanismo político e moral concomitantemente. Já que de forma moral algumas pessoas, principalmente os homens, podem se isentar de responsabilidades delegando-as às mulheres, e de modo político outorgar a outras pessoas as responsabilidades sem justificar essa atribuição ou aplicação de recursos desigual.

Mesmo que a divisão sexual do trabalho não produza sozinha o acesso desigual ao sistema político, em concordância com Biroli (2016), ela é um dos muitos obstáculos enfrentados para inserção das mulheres nesse âmbito.

Ainda de acordo com Biroli (2016, p. 743):

As mulheres atuam politicamente a despeito da divisão sexual do trabalho. Mas o custo dessa atuação é, para elas, ampliado. Isso se dá na forma de julgamentos e pressões sociais, que implicam maiores dificuldades para a manutenção de relacionamentos uma vez que o trabalho político exige uma rotina que contrasta com as expectativas correntes de cuidados dos filhos e responsabilidade cotidiana pela vida doméstica.

Outro ponto que interfere na vida política das mulheres está ligado ao tempo, visto que espera-se que elas consigam sempre conciliar a carreira profissional com as ocupações domésticas. “A divisão sexual do trabalho consome tempo desigualmente de mulheres e homens” (BIROLI, p. 743). A autora ainda afirma que esse fator pode ser uma “explicação da menor participação política das mulheres, para uma posição de grupo sub-representado na política” (p. 743), ainda que exista uma relação dissimétrica entre as mulheres.

Para Zungura (2013), democracia não significa apenas o aumento do número de mulheres na política. É necessário que estas componham a formulação de políticas seja em nível domestico ou internacional. A autora ainda aponta que o parlamento deve representar os pontos de vista e interesses da sociedade, visto que são estes que deveriam criar perspectivas a

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fim de moldar o futuro político, social e econômico das sociedades. Sendo assim, a participação igualitária entre mulheres e homens nas tomadas de decisão é plenamente necessária para que se mantenha uma democracia. “Democracia não é democracia até que as vozes das mulheres sejam amplificadas em legislação, instituições e processos. Democracia não é democracia sem a inclusão de mulheres na política.” (ZUNGURA, 2013, p.169).

Somando todos os fatores aqui apresentados, é necessário destacar também que a junção destes afeta também no “acesso a redes de contato que amplificariam as possibilidades de construção de uma carreira política e mesmo de acesso a movimentos e espaços de organização coletiva” (BIROLI, 2016 p. 743). Sendo assim, é possível compreender que essa junção de fatores impactem negativamente para a atuação frente a ações políticas, em questões comunitárias, movimentos sociais e efetivamente na política eleitoral, logo faz-se uma conexão direta entre divisão sexual do trabalho e democracia, que ainda devem ser muito debatidas e pesquisadas, partindo do entendimento de Biroli (2016).

Concluindo o proposto para o primeiro objetivo de discussão deste trabalho de conclusão de curso, constata-se que a construção da divisão sexual do trabalho impacta diretamente em questões de classe, raça e dificulta a construção de uma esfera plenamente democrática. Torna-se ainda mais claro que as questões que concernem a gênero são elementos constituintes e determinantes para o exercício de uma democracia visando uma sociedade igualitária. No próximo capitulo, será apresentada uma analise do Relatório Global de Lacunas de Gênero do ano de 2018, a fim de demonstrar os dados obtidos sobre a presença das mulheres no mercado de trabalho e no âmbito político.

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3 UMA BREVE ANALISE DO RELATÓRIO DO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL DE 2018

Com base nos debates anteriores, na presente seção será feita uma análise do Global Gender Gap Report (Relatório Global de Lacunas de Gênero). O mesmo é promovido anualmente pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), sediado na Suíça. O Fórum Econômico Mundial (WEF) é uma organização internacional para cooperação público-privada, que envolve os principais líderes políticos, empresariais e culturais, composto majoritariamente por homens, para promover agendas de inclusão e parceria. Anualmente o fórum elabora o Global Gender Gap Report, onde apresenta as disparidades de gênero expondo diversas métricas. O relatório foi criado em 2006, a fim de estruturar e apresentar as disparidades de gênero, além de tentar realizar uma mediação e acompanhamento efetivo para a redução destas. A edição de 2018, documento analisado a seguir, constam informações de 149 países e seus progressos em direção a igualdade de gêneros.

O relatório criado pela entidade utiliza a mesma metodologia de avaliação dos países desde a sua primeira publicação. São apresentados 4 índices de análise, que são: saúde e sobrevivência, participação e oportunidade econômica, realização educacional e empoderamento político. A realização do mesmo se dá através de questionários coletados junto a população dos países declarados no relatório. Faz-se necessário ressaltar que neste trabalho não serão analisados todos os indicadores, mesmo que esses conjuntamente resultem nas disparidades de gênero. Serão debatidos com mais ênfase os indicadores de participação e oportunidade econômica, e empoderamento político, que se destacam ao observarmos divisão sexual do trabalho.

3.1 CONHECENDO O GLOBAL GENDER GAP REPORT

O Global Gender Gap Report analisa as disparidades de gênero no mundo. Considerando fatores como a como alfabetização, a expectativa de vida, as posições políticas exercidas por mulheres, além de posições de poder nos determinados países. Nele, cada nação ganha uma pontuação que vai de zero a um, sendo um a igualdade total de gênero nos âmbitos anteriormente mencionados.

O mesmo utiliza do sistema de pontuação para construir uma consciência de gênero, além dos desafios causados por esta questão. Assim o intuito é gerar uma base comparativa e criar ações efetivas de manutenção do bem estar social, tendo em vista que é fundamental a

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participação tanto da mulher quanto do homem em todo o processo de avanço econômico e de transformação social.

Considerando que apesar de vivermos em uma época de crescentes oportunidades, as desigualdades são cada vez mais visíveis, o relatório global de lacunas de gênero consegue delinear um dos maiores desafios já enfrentados pela sociedade, a contribuição efetiva e igualitária da mulher no mercado de trabalho. O mesmo expõe que, muitos países tenham obtido conquistas a fim de tornar a sociedade com maiores índices de igualdade de gênero entre educação, saúde, economia e política, ainda há muito a ser feito.

O relatório retrata um aumento da presença feminina em algumas posições cruciais para que essas se tornem mais presentes frente a sociedade. Em maioria, a atuação feminina nesses países acontece como líderes em suas áreas de domínio e assumindo papeis dentro do governo, gerando assim um impacto positivo nos mesmos e visando ser modelo para os demais Estados.

Por outro lado, também são apresentados índices com impacto negativos, como a formação de novas lacunas. Como exemplo, é possível citar as disparidades encontradas no campo do mercado de trabalho, além das diferenças já existentes, temos um novo fator a se considerar, a inteligência artificial e o expansionismo das tecnologias. A participação feminina nesta área encontra-se em torno de 22% do total de profissionais da área em todo o mundo. Esse dado em específico é uma problemática muito relevante, já que atualmente é uma das áreas com crescimento exponencial, com atuação em diversos setores, e que consiste em mão de obra majoritariamente masculina.

Gráfico 1 – Profissionais na área de Inteligência Artificial de acordo com o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018

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Fonte: Adaptado pela autora (2019).

Como mencionado, o gráfico acima representa a disparidade entre mulheres e homens na área de Inteligência Artificial. A atuação das mulheres é notoriamente menor comparada a dos homens. Mesmo os Estados com os índices mais altos de mulheres atuante neste segmento – Singapura, Itália e África do Sul – a diferença entre os percentuais é evidente.

Em média, mundialmente, 68% das disparidades foram reduzidas, em suma, até a publicação do presente relatório. Cerca de 32% ainda carecem de estudos para serem resolvidas efetivamente. Analisando pontualmente os países que são apresentados no índice, é possível constatar uma melhoria em 89 dos 144 países examinados ao longo dos anos, em contraponto a estimativa para redução ou extinção das lacunas nos Estados restantes prevê que estas ocorram apenas dentro de 108 anos.

O relatório aponta que os Estados com mais igualdade de gênero até sua apresentação eram Islândia com 85% de paridade de gênero, seguida pela Noruega com 83,5%, Suécia e Finlândia com 82,2%. Além de destacar que outros países além dos nórdicos também ocupavam as 10 primeiras posições, conforme a tabela abaixo:

Tabela 1 – Ranking dos 10 países com maior paridade de gênero segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018

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Países com mais igualdade de gênero (2018)

1º Islândia 2º Noruega 3º Suécia 4º Finlândia 5º Nicarágua 6º Ruanda 7º Nova Zelândia 8º Filipinas 9º Irlanda 10º Namíbia

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Entre os quatro indicadores do relatório, em média, o maior índice acerca de desigualdade está no campo do empoderamento político, que ainda possui um lapso de 77.1%. A participação econômica e oportunidade é a segunda maior lacuna, com cerca de 41.9%. Entre os 149 países analisados, apenas 17 possuem mulheres em posições políticas influentes, e em média mundial, apenas 18% de ministros e 24% de parlamentares são mulheres. Nos países com melhores índices as mulheres assumem somente 34% das posições de gestão nas organizações e nos Estados com indicadores mais baixos, esse número se reduz a 7%. O gráfico abaixo aponta que Ruanda com 61%, Bolívia com 53% e Cuba com 49% são os Estados onde as mulheres tem maior participação política.

Gráfico 2 - Países onde as mulheres constituem 40% ou mais do total de posições no Parlamento Nacional segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018

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Fonte: Adaptado pela autora (2019).

O relatório apresenta que as lacunas de gênero mais desafiadoras a serem enfrentadas são as que tangem a empoderamento econômico e político, levando em torno de 202 e 107 anos, respectivamente, para serem solucionadas. Ainda com essa problemática, o relatório de 2018 aponta ao se tratar de empoderamento político que houve um déficit, apontando que o progresso atingido na última década está se revertendo novamente.

Quando analisado os índices de finanças pessoais as disparidades são o segundo indicador mais alarmante, a participação financeira e o tempo gasto em atividades não remuneradas, como já mencionado nos debates anteriores, ainda se fazem presentes, apenas em 60% dos Estados estudados há uma igualdade no acesso a serviços financeiros, e, em média, as mulheres gastam o dobro de tempo com atividades domésticas em relação aos homens, esse fator é justificado pela construção da divisão sexual do trabalho, que reafirmando Hirata e Kergoat (2007), tende a considerar o valor histórico da construção de submissão das mulheres aos afazeres domésticos – devido a naturalidade que estas tem para tais atividades.

Outra discussão pertinente a esse indicador do relatório, seguindo o debate a respeito de classe e raça, é a determinação de que alguns trabalhos são destinados a um grupo de pessoas, se referindo as mulheres de forma geral ou a classes e raças estabelecidas, deixando as atividades mais rentáveis, do campo público para os homens (BIROLI, 2016).

Para tornarmos a discussão proposta no capitulo anterior mais clara, serão apresentados os dados acerca dos dois pontos relacionados diretamente a divisão sexual do

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trabalho, que são “Participação econômica e oportunidade” e “Empoderamento Político”, que como já mencionados são o foco das analises.

3.2 APRESENTANDO OS DADOS DE PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA E OPORTUNIDADE

Para analisar o índice de participação econômica e oportunidade, o relatório dispõe de três conceitos principais e fundamentais para esse indicador, são estes: lacuna de participação, lacuna de remuneração e a lacuna de avanço.

A primeira lacuna, que aborda a respeito de participação se baseia e captura as diferenças encontradas na participação de força de trabalho. Segundo Casaca (2009), o mercado de trabalho funciona de forma racional, sendo assim ele é determinado pela capacidade produtiva, em decorrência disso ocorrem às divisões entre os gêneros. Uma vez que a capacidade produtiva resulta inteiramente do capital humano que fora acumulado e também dos investimentos realizados no indivíduo, torna-se muito difícil que as mulheres, que são vistas socialmente com vocação para as atividades domésticas, ocupem cargos tidos como produtivamente capazes (denominados da esfera pública). Este indicativo aponta, como já abordado a respeito da precarização da participação feminina no mercado de trabalho, onde estas ocupam cargos que estão a margem dos demais.

Sobre a lacuna de remuneração o relatório apresenta dados brutos, basicamente, os ganhos sobre o período de trabalho são comparados. Sendo assim, cria-se um indicativo qualitativo com base nos dados declarados por cada Estado analisado pelo WEF. Com base nas teorias de divisão sexual de trabalho e capitalismo, Casaca (2009) indica que a relação entre competitividade entre os postos de trabalho, precariedade e depreciação do trabalho feminino resulta diretamente na remuneração, que tendem a ser inferiores aos dos homens. Em concordância com esses fatores, a ONU Mulheres (2018), com base no presente relatório estudado, aponta a diferenciação salarial entre mulheres e homens mantem um aposição continua e elevada, com cerca de 60% a 75% de diferenciação dos salários, na maioria dos países.

Por fim, é analisada a lacuna de avanços profissionais. Como já discutido de acordo com autoras como Kergoat e Hirata (2007) e Biroli (2016), Casaca (2009) também aponta a historicidade da condição biológica que atribui às mulheres as ocupações relacionadas a família e trabalhos domésticos. Posto isso, e sabendo que as mulheres, além de exercer a chamada “dupla jornada de trabalho” ainda consegue ter os índices educacionais – formação

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educacional e acadêmica – mais elevados do que os homens, elas ainda encontram muitas dificuldades frente ao mercado de trabalho. Isso se dá devido as imposições sociais, considerando o fator de que muitas vezes são pressionadas a deixar a carreira profissional em segundo plano por terem que exercer as atividades domésticas.

Em se tratando dos países com maior índice de igualdade, considerando o sub índice de participação econômica e oportunidade, o gráfico abaixo apresenta a evolução destes na última década.

Gráfico 3 - 5 países com melhores índices em Participação Econômica e Oportunidade, segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Segundo os dados apresentados no gráfico, conclui-se que a Islândia passou por uma média de crescimento anual de cerca de 0.95% entre o período apresentado. Além disso, a Nicarágua se destaca por apresenta a maior média de crescimento anual, com cerca de 6.36%. Enquanto a Finlândia detém a menor média de crescimento anual, com apenas 0.92%.

Também vale ressaltar a evolução da Nicarágua entre 2006 e 2018, o Estado conseguiu eliminar cerca de 80% das disparidades registradas e seu avanço foi o mais rápido

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considerando todos os países analisados. O relatório afirma que caso o país continue com essa crescente em seus índices as lacunas serão eliminadas dentro de aproximadamente 16 anos.

A Islândia tende a levar cerca de 24 anos para solucionar a problemática de disparidade de gênero, considerando que nos últimos anos vem apenas mantendo sua paridade, sem grandes passos para fechar efetivamente esta lacuna. O estudo justifica o país manter sua posição de mais bem classificado devido ao progresso sustentando no sub índice de empoderamento político e no contínuo desemprenho na participação econômica e oportunidade, assim como a Noruega, Suécia e Finlândia.

No outro extremo das análises, encontram-se os 5 países com piores desempenhos ao tentar solucionar as lacunas de gênero, ao que se refere aos sub índices de participação econômica e oportunidade, conforme representado no gráfico abaixo:

Gráfico 4 - 5 países com desempenhos mais baixos nos índices em Participação Econômica e Oportunidade, segundo o Relatório Global de Lacunas de Gênero 2018

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Segundo os dados apontados no gráfico, entre os piores índices, a Arábia Saudita está com uma pontuação de 0.35 e sua evolução no período de 2006 a 2018 limitou-se a apenas

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4.38%. A Síria, também dentro do período avaliado, obteve uma queda de -6.05% na participação econômica e oportunidades, tal fator se deu devido às crises e retrocessos enfrentados desde o inicio do conflito vivenciado pelo país.

Conforme apresentado pelo fórum, as barreiras enfrentadas por mulheres no que tange participação econômica e oportunidade, aproximadamente 58% dos lapsos foram reduzidos e, em comparação ao ano de 2017, ocorreu uma progressão mínima. Aproximadamente 19 países, estes predominantemente das regiões do Oriente Médio e Norte da África, possuem cerca de 50% de lacunas a serem fechadas. 94 países possuem 30% de lacunas e mais 14 estão próximos dos 80% de paridade de gênero neste sub índice. Realizando uma média mundial, cerca de 59% das lacunas ainda devem ser vencidas para que haja de fato a igualdade econômica esperada.

3.3 COMPREENDENDO OS DADOS SOBRE EMPODERAMENTO POLÍTICO

Entrando nos debates sobre empoderamento político, o Global Gender Gap Report visa medir as disparidades identificadas ao nível mais alto de poder decisório. Assim sendo, mede nível de tomada de decisão política através da proporção de mulheres para homens em cargos ministeriais e parlamentares, bem como aponta a proporção de mulheres para homens em termos de anos no cargo executivo. O relatório não prevê a analise de diferenças entre a participação de homens e mulheres em níveis locais do governo, pois estes não estão disponíveis para acesso global.

Acerca de empoderamento político feminino, que também compreende a divisão sexual do trabalho, o relatório expõe que neste sub-índice as lacunas estão longe de serem preenchidas. Isso porque mesmo nos países com menores índices de disparidade entre os gêneros esse quesito tem baixa participação da mulher frente a cargos políticos, desde a primeira edição do relatório. Os indicadores apontam que nenhum país conseguiu preencher totalmente esta lacuna, e que apenas 23% da diferença política foi encerrada, sem mudanças desde 2017.

A Islândia, líder em paridade de gênero, que também tem os índices mais satisfatórios relacionados a este sub índice, apresenta uma lacuna de 33% para cessar a diferenciação entre mulheres e homens no campo de envolvimento e participação política. Seguidos da Islândia, apenas Nicarágua, Noruega, Ruanda, Bangladesh, Finlândia e Suécia fecharam cerca de 50% das lacunas existentes neste sub índice.

Referências

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