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Intersecções entre narcotráfico e segurança internacional: o plano Colômbia (1999 – 2009)

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LEONARDO DO AMARAL

INTERSECÇÕES ENTRE NARCOTRÁFICOS E SEGURANÇA INTERNACIONAL: O PLANO COLÔMBIA (1999 – 2009)

Florianópolis 2019

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LEONARDO DO AMARAL

INTERSECÇÕES ENTRE NARCOTRÁFICOS E SEGURANÇA INTERNACIONAL: O PLANO COLÔMBIA (1999 – 2009)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Ms..

Florianópolis 2019

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Dedico este trabalho a toda minha família e amigos que me acompanharam nesta caminhada. Em especial a minha avó que aguardava esse momento.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me abençoado durante a minha vida, me acompanhado e posto o PROUNI neste processo.

Agradeço meus pais e irmãos por sempre me incentivarem a concluir a graduação. Em especial minha mãe que deu todo suporte e apoio durante minha trajetória, proporcionando este momento.

Agradeço minha namorada por seu carinho, compreensão e apoio durante essa caminhada.

Agradeço a minha irmã, que foi minha professora de português em suas horas vagas.

Agradeço aos meus amigos que o curso de Relações Internacionais me deu, Gustavo, Thaina e Rhaytza por todos momentos de parceria, fazendo com que essa trajetória fosse mais prazerosa o possível.

Agradeço aos meus professores por todos os ensinamentos, mas especialmente meu orientador Prof. Ms. Luciano pela pessoa incrível que é, pela paciência e ensinamentos que levarei para a vida.

Agradeço também aos amigos e familiares, que de alguma forma fizeram parte dessa trajetória.

Finalmente, reconheço o meu esforço para a conclusão deste trabalho. Com ele descobri a minha capacidade para alcançar meus objetivos.

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“A escuridão não pode expulsar a escuridão; apenas a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio; só o amor pode fazer isso. ” (KING, Martin).

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo geral debater como a aproximação entre EUA e Colômbia durante o “Plano Colômbia” impactou nos debates sobre segurança na América do Sul. Incialmente é feita uma apresentação histórica do narcotráfico no sistema internacional em debate com a política dos EUA para a América Latina. Após isso, debatemos a postura dos governos estadunidense e colombiano, através das falas de importantes decisores e decisoras de ambos os países. Na sequência, é discutido impacto da militarização no debate de segurança na América do Sul. A conclusão deste trabalho mostra que o Plano Colômbia trouxe impactos negativos para a região, principalmente para o Brasil, Equador e Venezuela, e não trouxe os resultados esperados em relação ao combate as drogas.

Palavras-chave: Plano Colômbia. Estados Unidos. Segurança Internacional; Tráfico de drogas.

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ABSTRACT

This paper aims to discuss how the rapprochement between the US and Colombia during the “Plan Colombia” impacted on security debates in South America. Initially, a historical presentation of drug trafficking in the international system is debated with US policy on Latin America. After that, we debated the stance of the US and Colombian governments through the speeches of important decision makers from both countries. Following, the impact of militarization on the security debate in South America is discussed. The conclusion of this paper shows that Plan Colombia had negative impacts on the region, especially for Brazil, Ecuador and Venezuela, and did not bring the expected results in relation to the fight against drugs.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 INTERSECÇÕES ENTRE NARCOTRÁFICO E SEGURANÇA INTERNACIONAL 12 2.1 NARCOTRÁFICO E SUAS INTERSECÇÕES COM O SISTEMA INTERNACIONAL ... 12

2.2 ESTADOS UNIDOS E SUA POLÍTICA DE SEGURANÇA PARA A AMÉRICA LATINA ... 17

3 NARRATIVAS DOS GOVERNOS CLINTON/PASTRANA E BUSH/URIBE SOBRE A COLABORAÇÃO EUA-COLÔMBIA NO PLANO COLÔMBIA ... 22

3.1 NARRATIVAS DOS GOVERNOS CLINTON E PASTRANA ... 23

3.2 NARRATIVAS DOS GOVERNOS BUSH E URIBE ... 25

3.3 GOVERNOS OBAMA E SANTOS ... 29

4 OS EFEITOS DO PLANO COLOMBIA PARA A APROXIMAÇÃO DOS EUA NA AMÉRICA DO SUL ... 31

5 CONCLUSÃO ... 38

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1 INTRODUÇÃO

O narcotráfico é um tema recorrente em nosso dia a dia, mas sempre que paramos para pensar no assunto nos é remetido às classes mais baixas da sociedade ou a organizações criminosas. Porém, podemos vê-lo ser promovido por pessoas ou grupos oriundos dos setores mais elitizados da sociedade. Além disso pessoas com cargos importantes praticarem o trafico de drogas, como é caso do sargento do exército brasileiro, que foi detido na Espanha com 39 quilos de cocaína em sua mala de mão. O militar estava em serviço na aeronave reserva da comitiva do presidente Jair Bolsonaro. Vemos também o envolvimento do Estado diretamente no conflito, buscando ações nacionais e internacionais para combater o narcotráfico. É importante pensarmos o narcotráfico como ator no sistema internacional através das ações dos Estados para combatê-lo, seja por meio das instituições internacionais ou do efetivo militar.

O consumo das drogas se deu desde muito cedo, tendo sua expansão com o colonialismo europeu, surgimento das rotas comerciais e se internacionalizando no século XVII, alcançando números alarmantes no final do século XIX. (NUNES, 2016). No início do século seguinte, as ações para o controle e diminuição do consumo do ópio obtiveram avanços através dos acordos bilaterais entre alguns países e com o surgimento da Liga das Nações. A qual teve sua continuidade com a Comissão de Entorpecentes (CND), no âmbito das Nações Unidas (ONU), que substituía o comitê consultivo sobre tráfico de ópio da Liga. Nesses foros, as propostas predominantes de combate às drogas se dava mediante a interdição nos países produtores e nas rotas de trânsito, sendo um problema de origem externa. Tais medidas apenas ocasionaram o deslocamento da produção para outros lugares e tornaram populares novas drogas que vieram a substituir o ópio, como é o caso da América Latina, que teve seus campos de produção de cannabis e coca expandidos. Deixando assim, de ser um consumo cultural para ser vendido em larga escala para países consumidores, em especial, o mercado em expansão de consumo de drogas, nos Estado Unidos da América (EUA).

Silva (2013, p. 118) nos mostra que “desde do final do século XIX os EUA definiram o problema das drogas como externa, a ser combatido mediante interdição nos países produtores e rotas de trânsito”, surgindo assim as primeiras escaramuças fora das fronteiras sendo enviadas nas décadas seguintes as primeiras tropas

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militares, chamadas de consultores. Então, a partir dos anos setenta, os Estados Unidos passaram a dar um enfoque maior para a América Latina, consolidando sua legislação de combate às drogas com o Comprehensive Drug Abuse Prevention and Control Act. e passam a cobrar do Departamento de Estado ações de persuasão contra países produtores, inaugurando sua guerra às drogas. Cria-se em 1971 a Comissão Nacional sobre Marijuana e Abuso de Drogas e a Drug Enforcement Administration (DEA) em 1973. Esta última permitiu a suspensão de assistência econômica a países que não cooperassem no combate às drogas.

Durante os anos oitenta os Estados Unidos criaram no Peru a Unidade Móvel de Patrulha Rural (Umopar), e um pouco mais tarde, em 1987, também criam na Bolívia uma unidade semelhante. Ambas com intuito de acabar com a produção de drogas em suas regiões. No final dessa década, o tema é introduzido em um dos órgãos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Durante essa mesma época, o congresso estadunidense autorizou o uso das forças militar em países vizinhos. Em 1989, surge a Iniciativa Andina Antidrogas, com o governo dos Estados Unidos treinando, financiando, equipando países na região sul no combate às drogas. Como resultado, o governo colombiano, com o auxílio da inteligência e das forças armadas estadunidense, desmantelou os cartéis da Colômbia. Porém, isso fez com que surgisse uma série de minecarteis, que no final dos anos noventa eram responsáveis pela maior parte da cocaína consumida nos EUA.

No ano de 2001, o governo dos Estados Unidos sancionou o Plano Colômbia, elaborado junto com o governo colombiano, previsto para durar 5 anos. O mesmo se resumia em 80% de ajuda militar e 20% econômico social para a Colômbia, que passa a ser o principal receptor de ajuda estadunidense no continente. Depois de aprovado o Plano, os países da região começaram a demonstrar preocupações que poderiam surgir decorrente de suas ações, fazendo com que a percepção de alguns países não fosse apenas a erradicação do narcotráfico, mas sim uma corrida armamentista nos Andes.

Então, a partir deste contexto, o que as narrativas oficiais dos governos da Colômbia e Estados Unidos revelam sobre o impacto do Plano Colômbia na segurança do subcontinente sul americano?

A pesquisa tem como objetivo geral debater como a aproximação entre EUA e Colômbia durante o “Plano Colômbia” acirrou o debate sobre segurança internacional na América do Sul. De forma a complementar o objetivo geral, os

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objetivos específicos são: a) debater narcotráfico, hegemonia e segurança nas RI’s, destacando as perspectivas dos EUA; b) debater as posições oficiais dos Estados através do conhecimento das falas de diferentes pessoas em posição de influência; c) compreender o debate por detrás da retórica sobre o ‘narcotráfico’ e a segurança internacional;

Tendo em vista que as drogas estão fortemente inseridas na sociedade e fazem parte do nosso cotidiano, não percebemos tamanho da rede de logística em que os traficantes operam para o comércio de tal. Muitas vezes, essas operações envolvem diversos países. Outro tema que surge junto com o narcotráfico é o de segurança.

Portanto, considero este estudo relevante no campo das Relações Internacionais; pelo fato de ainda serem poucas as pesquisas acerca do tema. Como também busca contribuir com estudos sobre a emergência das novas ameaças e novos atores internacionais, que esbarram nas questões de segurança e nas práticas utilizadas atualmente na sub-região da América do Sul diante da securitização do conflito colombiano, que transborda os limites territoriais do País e conta com as chamadas novas ameaças e novos atores do sistema internacional.

Esta é uma pesquisa básica, explicativa, e com abordagem qualitativa. No que se refere aos procedimentos utilizados neste estudo, trata-se de procedimentos bibliográficos e documentais. A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. A pesquisa documental é feita a partir do levantamento dos discursos, entrevistas, pronunciamentos, conferências de imprensa, documentos de comunicação interna e externa dos governos colombiano e estadunidense.

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2 INTERSECÇÕES ENTRE NARCOTRÁFICO E SEGURANÇA INTERNACIONAL

Neste capitulo será apresentada uma contextualização história acerca do uso das drogas até sua internacionalização, e consequentemente sua criminalização no século XX. Desde sua internacionalização houve um grande embate estadunidense em criminalizar o uso de diversas drogas. Juntamente com esse debate será mostrada a ascensão da problemática das drogas na América Latina até chegar no caso colombiano. Na segunda secção deste capitulo serão apresentadas as políticas de segurança dos Estados Unidos para o continente americano desde meados do século XIX, até a sua escalada contra o terrorismo no século XXI.

2.1 NARCOTRÁFICO E SUAS INTERSECÇÕES COM O SISTEMA INTERNACIONAL

O uso das drogas começou cerca de 5000 e 6000 a.C. no Egito, mais especificamente do ópio e da cannabis, utilizados para fins medicinais e religiosos, alastrando-se do Egito para o Mundo Helênico e Oriente Médio. Já na América pré-colombiana, o uso das drogas se dava principalmente por meio da folha de coca, para usos medicinais, cerimoniais e religiosos pelo menos desde 1000 d.C. A evolução do consumo das drogas se deu, na América, pelos hispânicos no século XVI, que comercializavam a folha de coca para trabalhadores em regiões de mineração na Bolívia. Sua internacionalização só ocorreu na metade do século XIX, quando foram descobertos seus princípios ativos. Já o ópio teve sua evolução na Idade Média, quando os árabes perceberam seu potencial mercantil. Universalizando-se muito cedo, como consequência da expansão do comércio mundial da época, era também considerado uma commodity para alguns produtores. Passando a ser considerado um problema grave pelo uso abusivo somente no final do século XIX. (SILVA, 2013).

Durante século XVII, as potências europeias utilizavam do ópio como política mercantil na Ásia. Porém, com a proibição do tabaco estabelecida pelo governo chinês, na metade do século, contribuiu apenas para que houvesse um aumento nas importações da droga, que passou a ser utilizada no lugar do tabaco. No decorrer século XIX, a dependência de ópio atingiu grandes proporções no Reino Unido, EUA e em especial a China. Para impedir a importação da droga, o governo Chinês criou

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sucessivas leis que só contribuíram para o aumento do contrabando e ensejo das duas guerras do ópio (1839-42 e 1856-58). Com a derrota nas guerras, só restou império chinês, a liberação do cultivo da papoula. (SILVA, 2013).

Podemos perceber que somente a partir do século XVII a questão dos entorpecentes entrou na esfera das relações internacionais, com a utilização do comércio do ópio pelas potências europeias; como instrumento de sua política mercantil na Ásia. China e Índia (esta última, já sob domínio britânico) seriam as nações mais afetadas na fase inicial. Com o enorme consumo e dependência do ópio, sobretudo em virtude da descoberta da morfina, da heroína e de outros derivados, começaram a surgir grandes preocupações na área de saúde e segurança pública, por parte de organizações civis e dos governos do Reino Unido, China e EUA. Durante o século XIX, mais especificadamente da metade para o final, surgiram algumas iniciativas para o combate e diminuição do consumo de ópio. Porém, nenhuma ação eficaz. Os avanços positivos começaram a surgir no início do século XX, principalmente de acordos bilaterais dos EUA com China e com o Japão; e entre Inglaterra com China, para tentar reduzir o comércio e o consumo. Na Inglaterra com o acordo de redução das exportações do ópio indiano para a China gradativamente. E a índia alterando sua política agrícola. Entretanto, era visto que o problema não afetava apenas no Oriente, e era preciso uma ação conjunta dos Estados afetados. (SILVA, 2013).

O embate dos Estados Unidos com as drogas começou cedo, mediante imposição de controles domésticos e da exportação da política proibicionista para o resto do mundo. Beneficiando-se de seus feitos internacionais, os EUA convocaram a primeira conferência internacional sobre o assunto, definindo o problema das drogas como sendo de origem externa. A conferência de Xangai em 1909, que serviu mais para constranger os países que obtinham algum lucro derivado do ópio, não sendo elaborada nenhuma imposição. Já na segunda conferência, em Haia no ano de 1911, ficou acordado que os Estados signatários deveriam adotar medidas para coibir o uso discriminado de opiáceos e cocaína para fins não medicinais. (RODRIGUES, 2002). Porém, na prática esses acordos não foram bem-sucedidos, mas tiveram grandes avanços como o estabelecimento de regras, conceitos, além de ter estipulado medidas no combate as drogas. Até mesmo pelo fato de existir uma preocupação por todos os Estados que participaram, marcando o início de um verdadeiro internacionalismo na questão.

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Mesmo com suas limitações, as conferências tiveram como consequência um longo alcance para o controle internacional das drogas. Primeiramente na Liga das Nações, foi criado o Comitê Consultivo sobre o Tráfico de Ópio e Outras Substâncias Perigosas, ganhando um lugar permanente na agenda da Liga das Nações. Depois de diversas reuniões, sempre incentivadas pelos EUA (que nunca aderiram a Liga), elaboraram um arcabouço para o controle das drogas. Mais tarde, já no âmbito da ONU, os organismos especializados da organização deram continuidade aos trabalhos da Liga. (RODRIGUES, 2002).

Já na América Latina o avanço das drogas foi um pouco mais lento, o princípio ativo da coca se deu nos anos 1860. Tornando-se o principal produto exportado, principalmente para o ocidente, pela Bolívia e Peru já no início do século XIX. Os países latino-americanos e caribenhos, tanto produtores como não produtores, nunca mantiveram grandes atuações ou cooperações em organizações internacionais, principalmente no período da Liga das Nações, alegando ser por razões sociais, culturais e principalmente econômicas. A retirada do Brasil da Liga, só enfraqueceu o então fraco envolvimento dos países com a organização. Esse envolvimento marginal dos países latino-americanos e do Caribe, pode ser explicado de certa forma pelo fato das primeiras convenções serem mais voltadas para o forte controle do ópio e seus derivados, do que da coca. Mas, mesmo quando incluída a cocaína e a cannabis na relação da convenção de Genebra, o México, Bolívia e Peru decidem se distanciar dos foros por não terem seus interesses atendidos. Presumindo que assim estariam longe dos controles assinados. O que funcionou enquanto as tensões estavam voltadas para os conflitos mundiais e para a Guerra Fria, mas acabou apenas contribuindo para o engajamento dos Estados Unidos na construção do arcabouço institucional internacional de controle às drogas. (SILVA, 2013).

No pós-Guerra os Estados veem a necessidade de criarem instituições internacionais, que de certa forma passariam a regrar as suas relações no sistema internacional, promovendo a cooperação entre eles. Então, essas organizações passariam a debater sobre a segurança internacional, comércio, direitos humanos, e uma série de outros preceitos baseados na perspectiva liberal que foi consumada com o fim da Guerra Fria, quando o sistema internacional passa a operar sobre a hegemonia estadunidense, em um sistema unipolar. Ou seja, o arcabouço institucional internacional criado nesse período apenas favorecem a ordem, a

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balança de poder do sistema internacional, atendendo aos interesses dos Estados, favorecendo a manutenção da hegemonia dos EUA.

O período da Guerra Fria limitou o poder de coação dos Estados Unidos para os governos latinos no combate as drogas, permitindo que países vizinhos se inserissem na indústria das drogas, com o crescente mercado estadunidense. Silva (2013) classifica essa fase como de iniciação da América Latina na questão. Nos anos setenta a Colômbia que era responsável pela maior parte da cannabis traficada para os EUA, sofre uma grande interdição por parte do governo dos Estados Unidos. Entretanto essa atitude trouxe consequências inesperadas para o governo estadunidense que acabara de eliminar o comércio de maconha colombiano. Sendo assim tal situação fez com que os traficantes colombianos substituíssem a cannabis pela cocaína, que por sua vez era muito mais lucrativa e fácil de ser traficada. (SILVA, 2013).

A partir dos anos 1970, os EUA enviaram consultores militares para a América Latina, com a função de supervisionar a destruição de cultivos. Até essa década, a estratégia estadunidense concentrava-se no ópio asiático, mas é neste período que o mesmo concentra esforços em atacar o crescimento do cultivo e tráfico de drogas na América Latina. (SILVA, 2013). A proeminente participação da Colômbia no comércio de cocaína fez com que em menos de dez anos tal atividade tivesse enormes avanços, tornando-se um negócio multinacional, multibilionário e altamente organizado. Esta façanha deve-se a uma série de fatores existente na conjuntura da Colômbia, que permitiram seu ingresso no mercado da cocaína. (THOUMI, 2002).

Portanto, podemos perceber que o cultivo dessas drogas não surge apenas para o comércio ilegal. Na América Latina, os países andinos que cultivavam a folha de coca, em sua maioria, a utilizavam exclusivamente em rituais. Somente Peru e Bolívia mantinham um cultivo que exercia uma função econômica, porém era uma produção modesta que, como vimos, só passou a ter grande volume no século XX. Para esses dois países, “em uma época de depressão mundial e de valorização das exportações, a coca representava uma promessa de independência econômica”. (SILVA, 2013, p. 89). Assim como o ópio foi para França, Índia e Pérsia, sendo um dos principais cultivos ou estando intimamente ligado ao setor farmacêutico. Em ambos os casos os países relutaram e demoraram em adotar medidas restritivas à produção.

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A guerra às drogas sempre teve como premissa reduzir a oferta, alegando que o problema estava no excedente do produto - ou seja, a oferta era responsável pela demanda. Porém, podemos perceber que as medidas proibitivas e de controle ao comércio de drogas estimulou a criação de grupos criminosos, e que, pelo contrário, a demanda é responsável pela oferta. Portanto, a estrutura montada pelos EUA para o controle do problema serviu apenas para agravá-lo. Tal afirmação pode ser evidenciada conforme vamos percebendo que o governo estadunidense conseguia eliminar ou diminuir a produção do ópio, da cannabis ou da folha de coca, esta mesma produção surgia em outro local, e, em alguns casos, até maior que anteriormente, corroborando a ideia de a demanda ser internacional. Como é o caso da América Latina, onde Peru e Bolívia tiveram as suas produções de coca diminuídas pelo EUA, contribuindo assim para a Colômbia se tornar a maior comercializadora de cocaína do mundo.

Vimos que o curso da Guerra Fria não permitiu aos Estados Unidos considerar outras questões relacionadas à segurança estatal, senão aquelas de cunho militar no conflito indireto com a URSS. Porém, com o fim da bipolaridade existente acontece uma redistribuição de poder entre os principais atores do sistema e uma mudança de percepção à segurança dos Estados e indivíduos, emergindo outros temas relacionados como, por exemplo, lavagem de dinheiro, o tráfico de armas e drogas, bem como o terrorismo. (PAGLIARI, 2009). Ou seja, nesta nova fase, as relações de segurança deixam de se originalizar apenas no campo militar e passam a ser ameaças não-militares, também.

Assim sendo, a recente estrutura construída e chefiada pela potência hegemônica estadunidense tomou força no início do século XX, exportando sua política proibicionista para o mundo através dos arcabouços internacionais, baseados em seus preceitos morais. Essas ações tomadas pelos EUA nas décadas entre final e pós-guerra fria podem ser vistas a partir do ponto em que a identidade estadunidense, baseada nos princípios de liberdade e na criação do próprio sistema capitalista como valor nacional, começa a passar por grandes crises internas. Tal realidade faz com que os EUA mudem a sua antiga lógica de contenção para a América do Sul, que evitava a aproximação de outras potências do subcontinente, para a expulsão externa de problemas internos aos EUA, como drogas, migrações e a fragilidade de suas instituições. (HERZ, 2002).

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Como no caso colombiano, onde os Estados Unidos, através da Iniciativa Andina Antidrogas e do Plano Colômbia estabeleceram todo um ambiente para exercer sua hegemonia no continente criando uma zona militarizada na região andina, ordenando o jeito que se daria as políticas de segurança internacional na América do Sul, como veremos na próxima seção.

2.2 ESTADOS UNIDOS E SUA POLÍTICA DE SEGURANÇA PARA A AMÉRICA LATINA

Desde cedo, muito antes de começar o seu envolvimento permanente no sistema internacional, a política externa dos Estados Unidos já lançava as suas bases de influência dentro do continente americano. Ainda no começo do século XIX, que de certa forma pode ser o início dessa sua política externa, quando expandiram suas 13 colônias para sua configuração atual. Esse processo se deu pela compra da Louisiana (1803), da Florida (1819), anexação Texas (1845), os territórios conquistados na guerra contra o México em 1846, e pôr fim a compra do Alasca (1867). (PAGLIARI, 2009). Segundo Santos (2007, p. 24) tais medidas “foram justificadas por políticos e ideólogos norte-americanos não como atitude expansionista, mas sim como uma missão civilizadora”, fundamentada no destino manifesto. Tal ideário estabelecia que os estadunidenses construíram seu pais com valores superiores, e que cabia a eles a missão divina de civilizar as regiões que não tiveram a mesma sorte. (SANTOS, 2007).

Em 1823 o presidente James Monroe adota a política externa dos Estados Unidos, a Doutrina Monroe. Ensejada nas independências da América espanhola, tinha como objetivo afastar a influência dos países europeus sobre o continente americano e basicamente garantir a segurança do hemisfério, construindo uma américa para os americanos. (PAGLIARI, 2009). Através de sua política isolacionista, onde os EUA não interfeririam nos assuntos europeus e considerariam hostil qualquer interferência por parte de alguma potência europeia sob as nações recém independentes. Para Pagliari (2009) à medida que sua influência se tornou completa nos países latino-americanos, se desenvolveu a ideia do pan-americanismo. Em 1889 se concretiza a I Conferencia Pan-Americana, proposta pelos Estados Unidos, dando início primeiramente a uma pretensa cooperação

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comercial e posteriormente a de segurança, sendo estes seus princípios norteadores.

Nesse contexto, no início do século XX o então presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt (1901-1909), adota para o país uma política externa mais intervencionista, com o Corolário Roosevelt ou também conhecida como “Big Stick”. Ou seja, uma reinterpretação da Doutrina Monroe, que basicamente tinha como intenção proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina, afirmando que o país deveria assumir seu papel de liderança, tornando-se a polícia internacional no hemisfério, o que levou a expansão da marinha e um maior envolvimento nas questões internacionais. (DULCI, 2008). Porém a continuidade desta política se viu, de certa forma limitada no período entre guerras, sendo substituída pela política da “boa vizinhança”, que deixa de lado seu caráter intervencionista e passa a promover uma cooperação hemisférica. Com o advento da Segunda Guerra era necessário fortalecer o hemisfério e a não agressão para estimular o comércio. (KUHN; ARÉVALO, 2016).

Desta forma o período entre guerras serviu para revigorar as relações interamericanas, revitalizando o pan-americanismo. Porém após 1945 os EUA retornam as suas políticas dos anos 30 de intervenção e interferência, ocasionado pelo início da Guerra Fria e pelo desafio de manter a América Latina dentro da esfera capitalista, distanciando-os das tentações socialistas. Segundo Pinheiro (2008 p. 160) “esse objetivo foi buscado por meio de duas iniciativas: a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) e a criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).”. O Tiar foi criado em 1947 tendo como objetivo a promoção da segurança hemisférica, onde se houvesse qualquer ataque contra um Estado americano por parte de outro seria um ataque contra todos os Estados americanos. Já a OEA foi criada em 1948, esta organização regional foi constituída para estruturar as relações interamericanas. Ao fim e ao cabo, a nova organização ajudaria a formar o sistema interamericano, este, por sua vez, parte do sistema de poder dos Estados Unidos (apud Moura, 1991b:45). E por fim o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1959, responsável pela concessão de empréstimos e financiamentos de projetos de desenvolvimento e cooperação técnica na América Latina.

Ou seja, foi construído um mecanismo de defesa que garantia a segurança coletiva e a liderança dos Estados Unidos no continente. Para Munhoz (2002, p. 44)

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“formalizam-se os documentos legais que possibilitariam a intervenção dos EUA em qualquer região do continente americano.”. Neste mesmo sentido, Vizentini (1995, p. 34) afirma que "o pan-americanismo tem a vantagem, para Washington, de encobrir sua hegemonia, disfarçando-a como cooperação solidariedade, onde a soberania nacional passa a ser sinônimo de soberania continental.”. Desta forma o TIAR e a OEA enquadravam e alinhavam militarmente os países latino-americanos aos propósitos fundamentais dos EUA na luta contra o comunismo, idealizado pala pela Doutrina de Segurança Nacional ou Doutrina Truman. Projetada pelo presidente Harry Truman (1945-1953), esta doutrina nortearia as relações dos Estados Unidos com o mundo no contexto da contenção do comunismo. (SANTOS, 2007). Cabe ressaltar que a partir da década de 1970 os EUA incluíram na sua Doutrina de Segurança Nacional a luta contra a produção e comercialização de drogas ilícitas, que segundo Santos (2010, p. 70) “fato que teria, nas décadas seguintes, profundas implicações nas suas relações com a América Latina, especialmente com a Colômbia.”.

No contexto da Doutrina de Segurança Nacional, os EUA exerciam sua liderança inconteste na região e por essa razão não a viam como uma zona de risco, porém essa concepção mudou quando ocorreu a Revolução Cubana em 1959 que de certa forma significou uma ameaça à segurança hemisférica proposta pelos Estados Unidos, pois poderia haver um aumento da influência russa na região. Isso gerou uma retaliação por parte do governo estadunidense, que buscou no âmbito da OEA o isolamento de Cuba, retirando-a do sistema político interamericano em 1962 e financiando a frustrada invasão à Baia dos Porcos em 1961, por de exilados cubanos anticastristas. Culminando na Crise dos Mísseis também em 1962, que foi um dos momentos mais caóticos da Guerra Fria para segurança internacional do continente americano. Desde os anos 1960 até os anos 1980 o governo estadunidense passou a apoiar e fomentar governos autoritários em substituição dos governos percebidos de esquerda, treinando militares latino-americanos para evitar o surgimento de mais países como Cuba. (SANTOS, 2007).

Com o fim da Guerra Fria a agenda de segurança internacional tomou outro rumo e passou a considerar novos atores de segurança e não apenas o Estado, já que não havia mais a ameaça do avanço comunista. Portanto passam a ser consideradas “novas ameaças” como por exemplo: lavagem de dinheiro, o tráfico de armas e drogas, e o terrorismo. Em relação a América Latina, está não constitui uma

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região de alta prioridade por uma série de motivos. Contudo, podemos notar uma tendência à expansão da agenda de segurança dos Estados Unidos no hemisfério, destacando-se o tráfico de drogas e a imigração ilegal que são objetos de políticas envolvendo o uso ou a ameaça do uso de violência. (HERZ, 2002). Ou seja, após o fim da Guerra Fria, a guerra às drogas tornou-se a justificativa principal do engajamento militar dos Estados Unidos na América Latina.

Contudo, tais medidas se intensificaram com os atentados ocorridos nos EUA em 11 de setembro de 2001, pelo fato dos ataques significarem algo histórico e de certa forma singular, pois em duzentos anos os Estados Unidos esse foi o segundo ataque em território nacional. (CHOMSKY, 2002). E Chomsky (2002, p.6) ainda complementa falando que a partir desse momento “a direção em que as armas estão apontadas mudou.”. É algo novo, e que levou os Estados Unidos a adotarem a guerra contra o terror, elaborada pelo presidente George W. Bush (2001-2009) a Nova Doutrina de Segurança. Essa doutrina tinha como base a legitimidade de guerras preventivas e outras medidas antiterroristas, pois alegavam que os grupos terroristas eram as principais ameaças internacional e agiam em Estados considerados frágeis, sem capacidade de controle, com uma certa limitação em sua soberania. (GUZZI, 2008). Tendo como enfoque por parte da política externa estadunidense os assuntos de segurança no Oriente Médio.

Em relação a América Latina os Estados Unidos substituíram a guerra contra as drogas pela recém inaugurada guerra contra o terror, a Doutrina passou a associar os grupos de narcotraficantes e os remanescentes grupos andinos de esquerda com a organização de grupos terroristas, além de acusar alguns países sul-americanos de não colaborarem no combate ao terror. (PEREIRA, P.; SHIMABUKURO, A.; FERREIRA, 2007). Que segundo Guzzi (2008, p.72), “surge, naquele período, o termo ‘narcoterrorismo’ –, usando o argumento de que os recursos provenientes dos ilícitos poderiam financiar as atividades daqueles grupos no continente americano.”. Com isso, os EUA promoveram um aumento na assistência militar na América do Sul, principalmente para a Colômbia tendo em vista o combate aos grupos insurgentes e o controle de todo o território do país, através do Plano Colômbia. Assim, as lutas contra as drogas colombiana se transformou numa frente adicional da guerra dos EUA contra o terrorismo internacional, com os estadunidenses ampliando o seu papel na situação colombiana. (SANTOS, 2010).

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Portanto podemos perceber que a política de segurança dos Estados Unidos para a américa latina foi construída de longa data, com o intuito de garantir seus interesses na região. Sendo horas políticas intervencionistas, horas apaziguadoras e de integração, também sendo possível notar seu distanciamento em alguns momentos. Que pode ser entendido de certa forma, pela baixa ameaça ou inexistência de alguma ameaça para contrapor sua hegemonia no hemisfério.

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3 NARRATIVAS DOS GOVERNOS CLINTON/PASTRANA E BUSH/URIBE SOBRE A COLABORAÇÃO EUA-COLÔMBIA NO PLANO COLÔMBIA

Nos anos noventa do século 20, a Colômbia estava afetada pela grande quantidade de produção de coca, em decorrência da migração de plantio de seus vizinhos. Isso proporcionava, juntamente com seus problemas econômicos e sociais já existentes, um ambiente favorável para a potencialização do seu conflito interno. Assim, estava aberta a possibilidade para que grupos guerrilheiros e paramilitares se fortalecessem principalmente através do narcotráfico, mas também pela incapacidade do Estado colombiano de exercer sua soberania dentro do seu território. Os elevados números de homicídios, sequestros, o deslocamento massivo de populações fez com que o problema colombiano deixasse de ser uma preocupação nacional, abrindo espaço para a ingerência dos Estados Unidos, internacionalizando de fato a situação colombiana. (PAGLIARI 2009, VIANA 2009). Ou seja, a conjuntura política, econômica e social da Colômbia no final da década de 1990 era de um Estado debilitado, impossibilitado de conter o narcotráfico no país. Diante deste cenário, a recém-eleita administração colombiana de Andrés Pastrana (1998-2002) anunciou a criação de um Fundo de Paz, o qual contaria com contribuições tanto do governo local quanto do governo estadunidense. (LAMMERHIRT, 2018).

Assim sendo, neste capitulo será aparentado uma análise dos discursos, entrevistas, documentos e pronunciamentos públicos entre os governos colombiano e estadunidense entre os anos de 1999 a 2009. Desta forma compreende as administrações de Bill Clinton (1993-2001) nos EUA e Andrés Pastrana Arango (1998-2002) na Colômbia, posteriormente as administrações George Walker Bush (2001-2009) e Álvaro Uribe Vélez (2002-2010) respectivamente. Por fim será apresentada a situação da Colômbia durante as administrações de Barack Hussein Obama (2009-2017) e de Juan Manuel Santos Calderón (2010-2018). A partir de 2010 há uma grande escassez de documentos relacionados ao Plano Colômbia, principalmente por parte do governo dos Estados Unidos. Portanto não será feito uma análise como fora feito para as outras administrações. Além disso, tal situação levanta um questionamento referente ao interesse estadunidense. Será que, de certa forma, a falta de documentação demostra um desinteresse dos EUA no conflito colombiano?

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3.1 NARRATIVAS DOS GOVERNOS CLINTON E PASTRANA

Tendo em vista esse contexto exposto acima, em 1999 é apresentado e assinado a primeira versão Plano Colômbia pelo então presidente colombiano Andrés Pastrana. Reafirmando as obrigações presentes na constituição, de:

[...] servir à comunidade, promover a prosperidade e garantir a eficácia dos princípios, direitos e deveres consagrados na Constituição; facilitar a participação do povo nas decisões que os afetam e na vida econômica, política, administrativa e cultural da Nação; defender nossa independência nacional, manter a integridade territorial e garantir coexistência pacífica e aplicabilidade de uma ordem justa. (PLANO COLÔMBIA, 1999, tradução nossa)

O plano para a paz, prosperidade e o fortalecimento do estado como era referido o Plano Colômbia, em sua integra visava basicamente, a redução das atividades do narcotráfico, a solução de conflitos históricos através de negociações com grupos insurgentes, a reconstrução e fortalecimento de suas instituições, a recuperação econômica e social, a retomada da manutenção do estado de direito, a diminuição da violência e o apoio internacional dos países produtores e consumidores de drogas ilegais, sob os princípios da reciprocidade e da igualdade. (PLANO COLÔMBIA, 1999, tradução nossa)

Com um investimento inicial de US$1,32 bilhões aprovados pelo Congresso dos Estados Unidos em 2000, o PC começou a ser implementado. Em entrevista concedida ao The Washington Times em 2000, o general Barry McCaffrey afirmou que a estimativa de gastos com o Plano era de US$7,5 bilhões nos três primeiros anos, dos quais US$4 bilhões seriam arrecadados pelo governo colombiano por meio da “assistência externa bilateral a comunidade internacional”. Ou seja, empréstimos de instituições internacionais, além da expectativa da recuperação econômica do país para angariar capital.

Dessa forma, a visão colombiana acerca do plano tinha como intenção, além de negociações com grupos insurgentes e de contenção do narcotráfico, o tratamento das raízes dos problemas no país, por meio da estruturação e da reforma de suas instituições. Tal perspectiva fora enfatizado diversas vezes por integrantes do governo Clinton e pela presidência colombiana, como podemos ver na coletiva de imprensa conjunta de Andrés Pastrana, presidente da Colômbia, e Madeleine Albright, secretária de estado, no dia 11 de abril de 2000:

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A maior parte do programa que queremos investir no Plano Colômbia quer

realmente implementar políticas de saúde, reformas estruturais,

fortalecendo nossas instituições, direitos humanos e desenvolvimento alternativo e investimento social. Queremos investir a maior parte desse

dinheiro que estamos pedindo à comunidade internacional em

desenvolvimento social, porque não podemos resolver apenas o problema encarando isso como um problema militar ou um aspecto policial ou um problema de repressão. Queremos entrar na verdadeira essência do problema: isto é, trazer de volta à Colômbia prosperidade, saúde e riqueza para nosso povo, e é assim que erradicar as drogas de nosso solo e de nosso território. (Pastrana, 2000, tradução).

Ou seja, para o governo colombiano, o fortalecimento da economia, o aumento da participação e da consciência social das decisões do Estado, a existência de um sistema de saúde adequado e o acesso à educação para toda a população seriam mecanismos determinantes para a diminuição da violência e para a retomada da manutenção do estado de direito (DNP, 2006).

Compilando com a visão que o governo colombiano tinha do PC, os Estados Unidos afirmavam manter como sua principal estratégia para a implementação do plano, o não envolvimento no conflito armado na Colômbia. Ou seja, não se envolvendo com as narcoguerrilhas. Apenas patrocinariam a erradicação do cultivo de drogas e o narcotráfico, através de treinamento militar; ajuda econômica; desenvolvimento do exército; investimentos em tecnologia de monitoramento. Conforme podemos ver em pronunciamos do presidente Clinton, emitidos pela casa branca:

Obviamente, o Plano Colômbia também reforçará nossos esforços comuns para combater as drogas e os traficantes que aterrorizam os dois países. Mas, por favor, não entenda mal nosso propósito. Não temos objetivo militar. Não acreditamos que seu conflito tenha uma solução militar. Apoiamos o processo de paz. Nossa abordagem é pró-paz e antidrogas. [...] A segunda coisa que eu diria é que uma condição dessa ajuda é que não entraremos em uma guerra de tiros. Isto não é o Vietnã; nem é o imperialismo ianque. Essas são as duas acusações falsas que foram lançadas contra o Plano Colômbia. (CLINTON, 2000, tradução nossa).

Tal posicionamento também é afirmado pelo presidente Pastrana neste mesmo dia e nesta mesma conferência de imprensa em que o presidente Clinton participou:

O governo e o Congresso dos Estados Unidos ofereceram assistência significativa ao Plano Colômbia, que é minha estratégia do governo para a recuperação nacional. Este pacote foi desenvolvido por colombianos, foi planejado por colombianos, foi apresentado ao resto do mundo por colombianos e está sendo implementado - ou será implementado pela Colômbia. [...] O plano Colômbia, como discutimos com o presidente Clinton, não é um plano de guerra, é um plano de paz. [...]Mais uma vez,

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para deixar bem claro, enquanto Andrés Pastrana é o Presidente da Colômbia, não teremos uma intervenção militar estrangeira na Colômbia. (PASTRANA, 2000, tradução nossa).

Outro dado a ser destacado, que evidencia um menor envolvimento militar estadunidense direto durante os governos Clinton, é o número de soldados e civis presentes na Colômbia. Segundo cartas retiradas do Center for Internacional Policy (CIP), que foram enviadas pelo governo dos Estados Unidos ao congresso estadunidense, em 2001 haviam na Colômbia 177 militares temporários e permanentes dos EUA e 220 civis dos EUA retidos como contratados individuais envolvidos no apoio ao Plano Colômbia. No ano de 2003 esse número deu um salto, passando para 358 militares temporários e permanentes nos EUA e 308 civis nos EUA mantidos como contratados individuais na Colômbia envolvidos no apoio ao Plano Colômbia.

Porém, com as mudanças no cenário internacional ocasionadas pelos ataques terroristas contra as Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em 2001, o Plano teve um novo redirecionamento. Esses eventos marcaram a política de segurança estadunidense, que passou a identificar no terrorismo a principal ameaça à estabilidade dos países. Junto com isso, o fim do mandato do presidente Pastrana em 2002 e a eleição de Álvaro Uribe na Colômbia com um discurso uma maior militarização para diminuir a violência e melhorar a situação econômica. Tal postura promoveu uma mudança nos rumos da estratégia de paz, para que o foco fosse o combate militar ao narcotráfico e não tanto para o desdobramento de políticas para contenção e para erradicação das raízes do problema (BORGES, 2006; SCHWETHER 2017).

3.2 NARRATIVAS DOS GOVERNOS BUSH E URIBE

Nesta conjuntura podemos perceber, através da mudança de discurso por parte do governo estadunidense e colombiano, uma guinada dos objetivos iniciais do plano colômbia. Conforme afirmações do Secretário de Estado Assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Otto Reich, de que:

Na Colômbia, o governo eleito democraticamente enfrenta uma ameaça à sua sobrevivência. Três organizações terroristas bem armadas, financiadas de forma independente e extremamente violentas estão destruindo as fundações do estado. Temos a solene obrigação de ajudar nossos irmãos e irmãs na Colômbia em seus esforços para proteger e defender sua democracia e criar as condições em que eles possam efetivamente

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enfrentar os inúmeros desafios que o país enfrenta. [...]. Até agora, nossa política se concentrava principalmente em uma missão antinarcóticos. Essa missão permanece tão importante hoje como sempre. Mas estamos analisando de perto essa política, de olho em outras formas de apoio que podemos prestar de maneira útil ao governo da Colômbia. (REICH, 2002, tradução nossa).

Neste mesmo sentido o diretor do Escritório Nacional do Controle de Drogas dos Estados Unidos, John Walters, considerado o czar antidrogas, complementa de certa forma o discurso de Otto Reich. Afirmou que o governo dos Estados Unidos aumentará sua ajuda à Colômbia desde que o presidente Uribe mantenha suas promessas de aumentar os recursos em segurança. Conforme mostra o trecho a seguir:

Uma sociedade significa que nós dois trabalhamos com mais eficiência, e os recursos certamente fazem parte dela. Estamos em negociações com o Congresso para obter mais fundos e pedimos amplitude para que possam ser usados para evitar todas as formas de violência. [...]. Uribe deixou claro que a segurança é sua prioridade, que ele pretende dobrar o Exército e outras forças de segurança e acho que ele está falando sério. Vamos encontrá-lo para ver quais são seus planos e como podemos ajudar. (WALTERS, 2002, tradução nossa).

Juntamente com a posição dos Estados Unidos, o presidente colombiano Álvaro Uribe põe em prática sua Política de Segurança Democrática (PSD) em 2003. Basicamente objetivava um controle total do território, através do aumento dos efetivos e unidades, tanto militares quanto policiais, das fumigações para enfraquecer as guerrilhas, pressionando, assim, os grupos armados. (VIANA, 2009). Esta política é, obviamente, apoiada pelo governo estadunidense, conforme afirma o secretário de estado dos EUA em conferencia a imprensa em sua visita há Bogotá em 4 de dezembro de 2002:

Apoiamos sua nova estratégia de segurança nacional. É um plano abrangente para construir uma democracia saudável. Uma parte essencial dessa estratégia, de fato, a parte que torna tudo o mais possível, é aquele elemento do plano direcionado para derrotar a combinação mortal de terrorismo e drogas. (POWELL, 2002, tradução nossa).

Os Estados Unidos afirmavam que para haver sucesso no combate às drogas e na erradicação do terrorismo na Colômbia, só seria possível se esse empreendimento estivesse sob sua liderança. Que as ideias de liberdade e igualdade estão sendo ameaçadas, e somente através dessa formula o estado democrático poderia ser garantido em toda o hemisfério ocidental. Isso foi afirmado

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em uma entrevista dada em 2002 pelo então Secretário de Estado Assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental ao jornal The Washington Times:

A Colômbia pode derrotar os terroristas, mas precisa da ajuda de seus amigos para fazê-lo. [...] Nossa liderança é fundamental para o sucesso e a prosperidade das repúblicas democráticas em nossa região. Não podemos permitir que criminosos e terroristas ameacem nossos amigos e vizinhos. [...]. Nossos valores, nossa segurança e o futuro de nosso hemisfério estão ligados à vitória da Colômbia em sua guerra contra o terror. (REICH, 2002, tradução nossa)

Podemos perceber também, que conforme ocorria a mudança nos discursos de ambos países e a guinada dos objetivos do Plano Colômbia, houve um maior investimento por parte dos Estados Unidos. Segundo estudo elaborado pelo CIP (2006), em que apresenta os valores usados em cada projeto e iniciativa, separando-os por ano, tem-se como resultado que entre os anos de 2000 e 2006, a ajuda do governo estadunidense para a Colômbia totalizou cerca US$ 4,7 bilhões. Viana (2005) faz uma análise dos valores usados, semelhante aos informados pelo CIP, que é a seguinte:

dos quais mais de 80% (US$ 3,8 bilhões) correspondiam a recursos direcionados às de segurança colombianas (armas, helicópteros, aviões, barcos, equipamentos de combate, treinamento, consultoria, inteligência e fumigações). Os restantes 20% endereçaram-se a programas de desenvolvimento rural, reforma judicial, direitos humanos e assistência a deslocados internos. (tradução nossa).

Outro ponto a ser destacado que complementa a PSD do governo colombiano é o Plano Patriota. Segundo Valencia (2005, p. 151) “ é o nome dado a uma grande ofensiva militar contra a retaguarda das Farc, mobilizando dezessete mil soldados, com importante apoio aéreo, tendo por objetivo derrotar a guerrilha nos Departamentos de Meta, Caquetá, Putumayo e Guaviare”. Isso somado à política adotada pelo governo colombiano, garantiu ao presidente Bush a aprovação no congresso dos Estados Unidos de um aumento na quantidade de estadunidenses presente na Colômbia. Conforme texto do informado pelo CIP, que diz:

Um comitê da conferência Câmara-Senado concluiu o trabalho em uma versão de compromisso da Lei de Autorização do Departamento de Defesa de 2005 (HR 4200). No texto divulgado esta manhã, o projeto revisado concede plenamente o pedido do governo Bush de dobrar o número de militares dos EUA permitidos em solo colombiano, de 400 para 800. Também concede ao pedido do governo um aumento de 50% na presença permitida de cidadãos dos EUA que trabalham para empreiteiros particulares na Colômbia, de 400 a 600. (CIP, 2004, tradução nossa)

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Como pudemos observar, o governo dos Estados Unidos afirmava inicialmente não ter a pretensão de se envolver no conflito armado colombiano, objetivando apenas acabar com o narcotráfico. Entretanto, há uma mudança de postura em um contexto internacional impactado pelo 11 de setembro. A nova postura adotada pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001, associada à militarização do Plano Colômbia, que passou a combater as narcoguerrilhas e a ter uma política externa mais agressiva do país no combate ao terror, resultaram no aumento da militarização do plano e consequente ampliação dos conflitos internos do país.

Desta forma, o governo Uribe produz seu programa alinhado com a proposta dos Estados Unidos, de uma guerra global contra o terrorismo. Schwether (2017, p. 34) destaca em seu trabalho “que os dois governos compartilhavam a concepção de que a guerrilha se tratava de um grupo terrorista sendo, por conseguinte, uma ameaça à segurança regional e internacional”. Isso pode ser visto na conferência de impressa de 2002, do secretário de estado dos EUA Colin Powell afirma que:

Por vários anos, nossos esforços foram estritamente direcionados ao narcotráfico. O Congresso queria garantir que não nos envolvêssemos nos outros aspectos da situação de terrorismo na Colômbia. Mas depois do 11 de setembro, quando analisamos as atividades terroristas em todo o mundo, [...], mesmo que nem todas sejam da Al-Qaeda. [...]. Foi nessa base que subimos ao Congresso e dissemos que deveríamos realmente remover essa barreira entre as atividades de narcotráfico e as atividades narcoterroristas. Está tudo ligado, o narco está nos dois termos. Financiamento de atividades terroristas por meio de atividades com narcóticos. Tudo leva essencialmente ao mesmo fim, e isso é a destruição da democracia colombiana, afetando as pessoas desta terra de uma maneira muito, muito prejudicial. Portanto, devemos abordar esse problema em uma escala mais ampla. (tradução nossa).

Os governos afirmavam pela necessidade de se criar uma estratégia para responsabilizar quem estivesse contra a democracia na Colômbia que, segundo Bush, “são os que atacam e machucam nossos países”, que agora passam a considerar as guerrilhas como terroristas. Em um momento de perguntas e respostas com os presidentes da Colômbia e dos Estados Unidos, o presidente Bush afirma que o presidente Pastrana:

luta contra o terrorismo em seu país. Ele luta contra grupos bem organizados e bem financiados, que pretendem destruir a democracia na Colômbia. E ele tem sido forte em seu apoio à democracia, não apenas em seu próprio país, mas na região. Tivemos uma boa discussão sobre uma variedade de questões sobre como mudar o foco de nossa estratégia, de antinarcóticos para incluir antiterrorismo. Expliquei a ele que um suplemento

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enviado ao Congresso dos Estados Unidos faria exatamente isso. (BUSH, 2002, tradução nossa).

Ou seja, os Estados Unidos para estabelecer uma única estratégia contra o terrorismo, enquadraram as narcoguerrilhas como terroristas, além de pressionar países da região a reconhecer as guerrilhas como terroristas. Mas isso não era consenso na região, os três países vizinhos, Brasil; Equador e Venezuela não aprovavam essa designação. (PAGLIARI, 2009).

3.3 GOVERNOS OBAMA E SANTOS

A partir de 2010 o Plano Colômbia ganha novamente um novo rumo. Com a eleição de Juan Manuel Santos na Colômbia, que era ex-Ministro da Defesa do governo Uribe, e com o presidente Barack Obama a frente da presidência dos Estados Unidos. A administração Santos traz um caráter de maior dessecuritização e mais dialogo para o PC, afim de acabar com o conflito armado na Colômbia e combater o narcotráfico. (LAMMERHIRT, 2018). A atuação dos Estados Unidos passou a ter também um caráter menos repressivo, fazendo com as ações militares não fossem mais o centro da política externa, buscando desenvolver outras áreas, especialmente na economia. Desta forma, em 2012, o governo Obama assina um acordo de Livre Comércio com a Colômbia (VIEIRA, 2017).

Com essa nova perspectiva instalada na Colômbia, em 2016 o Plano Colômbia é encerrado pelo presidente Obama com um investimento total de 10 bilhões de dólares. Mesmo com todo esse investimento, a partir de 2007 houve um aumento nos cultivos de coca na Colômbia, fato que representou um retrocesso nas políticas de redução adotadas pelo Plano. Por consequência deste aumento continuo, hoje em dia o país andino é responsável por cerca de 95% da cocaína consumida nos EUA (UNODC, 2018). O Plano Colômbia deu lugar ao Plano Paz Colômbia. Segundo Balbino (2018, p. 38), “visa suportar o referido processo de paz, tendo recebido total suporte financeiro do Congresso dos EUA em 2017.”. No ano de 2018, o presidente Santos anuncia, então, a entrada da Colômbia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como membro global. Mesmo como esse cunho mais pacifico da Colômbia, esta permanece sendo um dos principais parceiros dos EUA na América do Sul, mantendo-se em quinto dentre os países que mais recebem volume de cooperação com os Estados Unidos. (VIEIRA, 2017).

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Cabe também destacar aqui, que o presidente Juan Manuel Santos foi premiado com o Nobel da Paz por suas ações e políticas adotadas, enquanto presidente da Colômbia, para propor um fim ao conflito colombiano que culminou na assinatura de um acordo de paz e cessar-fogo com as FARC. Assim como Santos, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama foi premiado com o Nobel da Paz pelos seus esforços diplomáticos internacionais.

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4 OS EFEITOS DO PLANO COLOMBIA PARA A APROXIMAÇÃO DOS EUA NA AMÉRICA DO SUL

A América do Sul se apresenta como uma região delicada, podemos perceber que as relações entre os países da região são, de certa forma, complexas. Fazendo uma análise sobre as questões de segurança na América do Sul, podemos perceber que a região “apresenta situações diversas, por um lado, a sub-região andina é marcada por processos de securitização e militarização, por outro lado, o Cone Sul tem estabelecido dinâmicas de aproximação e redução dos conflitos”. (PAGLIARI, 2009, p. 81). Mesmo assim, ela acredita que a região sul-americana está longe de ser homogênea, e que precisam construir uma região segura. Já Lammerhirt (2018) divide e distingue esses dois subcomplexos presentes no complexo sul-americano desta forma:

[...] o Norte Andino e o Cone Sul. Sua maior distinção consiste nos padrões de amizade/inimizade que os caracterizam - ao passo que o primeiro é marcado por dinâmicas de desconfiança e rivalidade, o segundo teve suas tensões internas apaziguadas através do longo processo de criação de mecanismos de confiança e ajuda mútua.

Ela ainda complementa que os dois subcomplexos tem uma característica em comum, que à forte presença militar dos Estados Unidos a partir da década de 1990. A partir disso Buzan et. al. (1998, p.12, tradução nossa) definem um Complexo Regional de Segurança como “um conjunto de Estados cujas maiores percepções e preocupações sobre segurança são tão interligadas que seus problemas de segurança nacionais não podem ser razoavelmente analisados ou resolvidos enquanto separados uns dos outros”. (Apud LAMMERHIRT 2018).

Diante disso, desde o início do plano Colômbia era nítido o interesse dos EUA em internacionalizar o problema colombiano. Castro (2009, p. 45) alega que a internacionalização da crise colombiana se dá “nos discursos diplomáticos e acaba servindo de elemento de pressão sobre os países vizinhos, especialmente em função da posição estadunidense, que se impõe pela gigantesca assimetria de poder.”. As afirmações do autor fazendo sentido se usarmos como por exemplo esse trecho da fala do presidente Clinton, em uma conferência de imprensa no senado dos Estados Unidos:

Gostaria de fazer um apelo pessoal aos vizinhos da Colômbia e aos líderes desses estados vizinhos, para apoiar fortemente o Presidente Pastrana e o Plano Colômbia. Há muitos relatos de que outros relutam na América Latina

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em apoiar isso por temer que o Plano Colômbia, com êxito, faça com que o problema se espalhe pelas fronteiras para outros estados. Agora, sejamos sinceros: se for bem-sucedido, algo disso acontecerá. [...] E eu pediria aos vizinhos da Colômbia que considerassem a alternativa. Se você realmente diz que a Colômbia não pode atacar isso de maneira agressiva, porque haverá algumas consequências negativas em nossa fronteira, a conclusão lógica é que todo o câncer do narcotráfico e da violência sem lei em todo este vasto continente deve repousar sobre os ombros e sobrecarregar os filhos desta nação. E isso não está certo. [...] E entendo a relutância dos líderes de outros países em abraçar isso. É uma perspectiva assustadora assumir isso. [...]. Mas isso é algo que os líderes democráticos deste continente devem fazer juntos, de braços dados, de mãos dadas. Seremos os mais solidários possível, mas no final eles terão que fazer isso juntos para ter sucesso. (CLINTON, 2000, tradução nossa).

Desta forma podemos perceber que a crise colombiana passa a estar na agenda internacional e, consequentemente, na agenda hemisférica. Muito se tem debatido sobre o transbordamento da crise para os países vizinhos e suas consequências para a estabilidade regional. (CASTRO, 2009). Ou seja, os Estados da região reconhecem que o conflito colombiano necessita de uma solução, que deve se dar por meio de um processo de paz, como o proposto pelo presidente Pastrana. Mas demonstram preocupações ao Plano Colômbia, principalmente pelo caráter militar que assumiu com a gestão Bush e Uribe, além de temerem o transbordamento do problema. Diante disso, é importante apresentar a posição adotada pelos países, vizinhos da Colômbia, no que se refere ao conflito colombiano.

A Venezuela, sob o governo do presidente Hugo Chávez, apresentou desavenças ideológicas sobre o conflito colombiano, em especial as guerrilhas. Segundo CASTRO (2009, p. 43) “Chávez procurou se declarar neutro e a favor do processo de paz de Pastrana, mas contrário ao Plano Colômbia.”. Além disso, o mesmo autor afirma que o governo venezuelano vem fortalecendo sua fronteira com a Colômbia pela crescente presença dos EUA na região.

No Peru, Castro (2009, p 43) destaca o governo do então presidente Alberto Fujimori. Segundo o autor este “criticou tanto o Plano Colômbia quanto o processo de paz iniciado por Pastrana e procurou militarizar a fronteira desde 1998.”. Empreendendo uma campanha no combate contra o narcotráfico e a insurgência. Porém, durante os anos 2000, com a crise constitucional no Peru, permitiu a volta dos cultivos ilegais. Nas eleições deste mesmo ano e partir de 2001 o governo de Alejandro Toledo passou a apoiar o plano Colômbia. (CASTRO, 2009).

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O Equador é “o vizinho mais afetado é mais vulnerável à crise colombiana, devido, em parte, à sua capacidade de resposta mais limitada.”. (CASTRO, 2009, p. 44). Justificada pela grande presença de guerrilheiros e narcotraficantes na fronteira com a Colômbia e pela crise política e econômica dos anos noventa. Contribuindo para sua pouca capacidade de reação. O presidente Gustavo Noboa apoiou o Plano Colômbia e utilizava recursos estadunidense para investir em desenvolvimento. (CASTRO, 2009). Cabe ressaltar que o Equador tinha um acordo com os EUA para a instalação de uma base na região de Manta.

Sobre o Panamá, Castro (2009, p. 45) afirma que “defendeu a neutralidade na crise e uma saída que seguisse o exemplo de Contadora”. O país vinha sendo usado como rota de entrada de armamento na Colômbia, por não ter condições de fiscalizar suas fronteiras.

Quanto ao Brasil, o país recusava-se a assumir qualquer papel não solicitado pelo Governo colombiano, temendo ver a militarização Plano Colômbia e a ingerência de países de fora da região, defendendo a realização de um processo de paz. Em 2003, na Primeira Reunião Extraordinária da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal (CREDEN), o Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, lembrou que:

que a agenda bilateral não inclui apenas o debate de medidas de combate ao terrorismo e ao narcotráfico, mas também questões ambientais e comerciais. As posições brasileiras em relação à situação interna da Colômbia baseiam-se nos princípios consagrados na Constituição Federal e na história da política externa brasileira. O Brasil defende: (1) não intervenção nos assuntos internos colombianos; (2) soberania nacional. (Apud CASTRO, 2009, p. 76).

Como pudemos perceber no capítulo anterior, devido a conjuntura em 2001, o Plano Colômbia passou a ter um caráter mais militar. Sendo assim, podemos observar a empreitada assumida pelos Estados Unidos em militarizar a região. No mapa a seguir é possível verificar uma série de bases militares instaladas pelos EUA ou que tinham o uso compartilhado durante os anos de 2001 a 2008.

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Mapa 1 – Mapa de bases de operações dos EUA na América do Sul, 2007

Fonte: https://journals.openedition.org/confins/6107

Essa situação de militarização que acontecia na América do Sul também ocorria dentro da Colômbia. Como já mencionado no capítulo anterior, o plano de eliminação de drogas da Colômbia esteve mais concentrado no sul do país, principalmente nos departamentos de Putumayo e Caquetá. Conforme destaca o Diretor do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas do Conselho Atlântico dos Estados Unidos Barry McCaffrey, em seu discurso proferido em 2000 ao congresso: “a produção de drogas está concentrada no Sul e vulnerável à erradicação. A longo prazo, o Plano Colômbia terá êxito porque trabalha no nível cooperativo de vilarejos e fazendas para introduzir programas para apoiar a

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evolução da economia das drogas.”. Ou seja, era destes departamentos de onde se originava a maior parte da coca utilizada para a fabricação da cocaína que chega aos Estados Unidos.

Neste sentido, a partir de 2003 outro departamento se torna tão importante para os EUA como estes dois mencionadas, o departamento de Arauca. Localizado no nordeste da Colômbia, ao longo da fronteira com a Venezuela, é uma região produtora de coca. Segundo estudo realizado pelo CIP em 2003, este departamento é:

o foco de um plano da administração Bush de US $ 99 milhões para ajudar o exército da Colômbia a proteger um oleoduto. Dezenas de treinadores militares dos EUA chegaram a esta zona no final de 2002 e no início de 2003. Arauca tem uma presença significativa de ambos os principais grupos guerrilheiros (as FARC e ELN), bem como de paramilitares de direita. Quantidades significativas de coca são cultivadas em Arauca (em 2002, de acordo com as Nações Unidas). Arauca é um dos principais departamentos de produção de petróleo da Colômbia. (tradução nossa).

Tal situação, nos mostra que um dos interesses dos Estados Unidos por trás do Plano Colômbia, era garantir que os narcotraficantes não dominassem esta área petrolífera. Garantindo seu acesso a este petróleo, tudo isso em nome da segurança. Ou seja, usavam do discurso da necessidade de uma maior segurança na região para proteger áreas petrolíferas.

No ano de 2009 chega ao fim o arrendamento da base de Manta, no Equador, pelos EUA. Neste mesmo ano a Colômbia assinou um acordo com os Estados Unidos, permitindo o uso por parte dos EUA de sete bases: Bahia Malaga, Larandia, Tolemaida, Palanquero, Apiay, Cartagena e Malambo. (BALBINO, 2018). Conforme mostra o mapa a seguir, antes deste acordo ser invalidado pela corte constitucional da Colômbia em 2010.

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Mapa 2- Bases dos EUA espalhadas na Colômbia, 2009

Fonte: https://tedmatt.wordpress.com/2009/11/01/us-expanding-military-presense-in-latin-america/

Além desses casos, mesmo com o Plano Colômbia se encaminhando para o fim, os Estados Unidos continuaram seu empreendimento militar na região, com a reativação da IV frota naval, operada pelo SOUTHCOM, com a construção de um centro de operações para emergências regionais e em acordo para desenvolver um projeto de cooperação militar na Argentina e com a operação de equipamentos em bases da Colômbia e atividades de treinamentos SOUTHCOM no Peru. (BALBINO, 2018).

Portanto podemos concluir que durante esse período, a América do Sul, desenvolve uma cooperação política e uma integração econômica maior. Além de ter tido uma diminuição na violação de fronteiras, das migrações em massa, diminuição da violência. Porém ainda permanecem desconfianças entre os Estados na região. Que pode ser justificado pela continua presença dos EUA na América Latina, através compartilhamento de bases e ações conjuntas de treinamentos. Juntamente com o fato de a Colômbia ser o principal parceiro dos Estados Unidos na América do Sul.

Essa aproximação da Colômbia com os Estados Unidos fica evidente na mudança de postura que o Plano Colômbia sofreu durante sua implementação. Que em seus anos iniciais, nos governos Clinton e Pastrana, tinha uma postura mais branda, visando ideais mais sociais, uma solução para o conflito através do diálogo. Porém a partir de 2002, com os governos Bush e Uribe sob o comando do Plano Colômbia, este passa a ter um caráter cada vez mais militar. Deixando de lado a

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