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XIV Encontro Nacional da ABET Campinas GT 14 - Dinâmicas demográficas e trabalho

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XIV Encontro Nacional da ABET - 2015 - Campinas

GT 14 - Dinâmicas demográficas e trabalho

Haverá escassez de mão de obra no Brasil? Um ensaio sobre geração de emprego e migração*

Cristiane Soares1 Marden Campos2

Resumo

As projeções populacionais têm apontado uma redução da população jovem no Brasil e um progressivo envelhecimento populacional. Além das mudanças na estrutura etária, outro aspecto que tem alterado a composição da população é a migração internacional. Desde a década de 2000, observa-se uma reversão do saldo migratório internacional, assim como um aumento dos pedidos de vistos de trabalho de estrangeiros. O crescimento da escolaridade da população economicamente ativa tem contribuído também para a alteração do perfil da mão de obra no País. Neste sentido, o artigo faz uma discussão sobre as mudanças demográficas em curso, cujo padrão projetado implicará em mudanças para o mercado de trabalho. Além disso, são analisados alguns indicadores estruturais para o mercado de trabalho brasileiro com base nos microdados dos Censos Demográficos 2000 e 2010 por sexo e grupos de idade, identificando também os setores e ocupações mais dinâmicos em relação à geração de emprego. O estudo analisa ainda o perfil dos migrantes interno e internacional, para verificar se essa população pode vir a suprir uma possível escassez de mão de obra no Brasil, seja com relação a uma redução da PEA ou um descompasso de qualificação em decorrência de um novo quadro sociodemográfico.

Palavras-chave: Transição demográfica, migração, emprego, mercado de trabalho

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As informações do presente artigo são de responsabilidade dos autores e não reflete a posição da instituição as quais pertencem.

1Doutora em Economia e Técnica do IBGE.

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Haverá escassez de mão de obra no Brasil? Um ensaio sobre geração de emprego e migração*

Cristiane Soares3 Marden Campos4

Introdução

As projeções populacionais têm apontado para uma redução dos jovens e um progressivo envelhecimento da estrutura etária da população do Brasil (IBGE, 2013). Em 2014, a população de 15 a 29 anos de idade era de 51,5 milhões e estima-se que, em 2060, os indivíduos com essa idade serão 33,4 milhões, sofrendo uma redução de 35% no período. Entre os adultos, com 30 a 44 anos de idade, a redução será um pouco menor (16%). Com base nisso, fica claro que o processo de transição demográfica em curso terá impacto significativo sobre o perfil e estrutura do mercado de trabalho brasileiro5.

Além da redução da população em idade ativa (PIA), o quadro atual mostra ainda outro movimento que impacta o mercado de trabalho: o crescimento da população não economicamente ativa. Este grupo corresponde a população potencial que, em situações de

aquecimento da economia ou de mudanças estruturais, atua como uma “reserva” de mão de

obra para atender a demanda crescente. Logo, a análise do perfil dessa população é crucial para saber se esta tem capacidade de suprir as demandas futuras do mercado de trabalho.

Outro aspecto que tem modificado o perfil da mão de obra no Brasil é o crescimento da escolaridade. Segundo os dados da PNAD, nos últimos 10 anos o nível de instrução da população economicamente ativa aumentou significativamente, principalmente para a população com 12 anos ou mais de estudo, que quase dobrou entre 2003 e 2013 (96%); seguido da população com 9 a 11 anos de estudo, cuja variação no período foi de 51%.

O avanço da escolaridade foi ainda mais acentuado para os jovens. Em 2003, cerca de metade da população de 16 e 29 anos tinha 9 anos ou mais de estudo. Após uma década o percentual passou para quase 71%. Com este novo perfil educacional, argumenta-se que num futuro próximo o mercado sentirá os efeitos de uma oferta reduzida de trabalhadores menos qualificados, visto que jovens com um perfil educacional mais elevado não aceitarão qualquer

*

As informações do presente artigo são de responsabilidade dos autores e não reflete a posição da instituição as quais pertencem.

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Doutora em Economia e Técnica do IBGE.

4Doutor em Demografia e Técnico do IBGE.

5Segundo Projeções 2013, do IBGE, além das variações nos grupos etários destacados acima, na população de

45 a 64 anos e de 65 anos ou mais as variações serão de 20% e 277%, respectivamente. Embora a maior variação seja na população idosa, na população potencialmente ativa se terá um saldo negativo.

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trabalho. Por outro lado, os adultos de 30 a 49 anos atuais já terão uma qualificação e experiência no mercado de trabalho, bem como alguns deles já estarão aposentados, o que não garante uma oferta disponível.

Se for considerada ainda a dinâmica da economia nos últimos dez anos, cujo PIB teve uma taxa de variação média de cerca de 3,5% e uma redução da taxa de desocupação média nas seis principais regiões metropolitanas do País em mais da metade, atingindo o patamar de cerca de 5%, e projetando este cenário para as próximas décadas surgem algumas questões: i) Haverá escassez de mão de obra no Brasil? ii) Sendo o mercado de trabalho brasileiro segmentado, o impacto será mais acentuado entre os trabalhadores qualificados ou entre os de baixa qualificação? iii) A migração pode ser uma solução para a falta de mão de obra no mercado de trabalho brasileiro? O presente artigo busca subsidiar essa discussão, relacionando o processo de mudança demográfica, as variações no emprego e as migrações.

O artigo está estruturado em quatro seções, além desta parte introdutória. Na primeira seção é feita uma discussão sobre as mudanças demográficas em curso no País, que implicará em mudanças para o mercado de trabalho. Na segunda seção são analisados alguns indicadores estruturais para o mercado de trabalho brasileiro com base nos microdados dos Censos Demográficos 2000 e 2010 por sexo e grupos de idade para que possamos lançar algumas hipóteses dado o perfil etário projetado, bem como identificar os setores e as ocupações mais dinâmicos em relação à geração de emprego. Na seção seguinte é analisado o perfil dos migrantes interno6e internacional7para verificar se essa população pode vir a suprir uma possível escassez de mão de obra no Brasil, seja em relação a uma redução da PEA ou um descompasso de qualificação em decorrência de um novo quadro sociodemográfico. Por fim, a quarta seção apresenta as considerações finais do estudo.

1. A transição demográfica, migrações e as implicações para o mercado de trabalho

1.1 O processo de transição demográfica

A população brasileira vem passando por uma significativa transformação de sua composição, dentro do fenômeno denominado de transição demográfica. Nesse processo há a passagem de um regime com altas taxas de mortalidade e de fecundidade para outro em que

6Para efeito de análise, definiu-se como migrante interno aquele cuja Unidade da Federação de residência era

diferente daquela de nascimento.

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ambas as taxas situam-se em níveis relativamente mais baixos. Essa é uma das principais transformações pelas quais vem passando a sociedade moderna, com implicações para diversos campos da vida individual, familiar e das sociedades envolvidas. Além de alterar as taxas de crescimento da população, a transição demográfica modifica a estrutura etária da população, em termos da participação relativa de indivíduos com diferentes idades.

No Brasil, os níveis e padrões de mortalidade e fecundidade de todas as regiões modificaram-se de forma considerável nas últimas décadas, ocasionando mudanças na estrutura etária da população. O formato típico de uma pirâmide populacional, com uma base larga representada pelo elevado número de crianças, vem dando lugar à uma estrutura etária de uma população envelhecida, com base estreita e topo cada vez mais largo, devido ao aumento contínuo da proporção de adultos e idosos.

A proporção de pessoas com menos de 15 anos de idade que, em 2000, era em torno de 30%, sofrerá uma redução para 17,6% em 2030. Já se observa no Brasil, inclusive, uma diminuição do número absoluto de crianças, passando de 52,1 milhões, em 2000, para 49,9 milhões em 2010, cuja previsão para 2030 é ainda menor (39,3 milhões). O mesmo ocorre com a população jovem de 15 a 29 anos de idade com uma perda relativa de sua participação na população brasileira, passando de 28,2% em 2000 para 26,7% em 2010 e com previsão para chegar ao patamar de 21,0% em 2030.

Segundo as projeções de população (IBGE, 2013), o número de jovens na população atingiu o máximo de 52,3 milhões de indivíduos em 2009, a partir do qual se evidencia uma tendência de queda, cujas estimativas indicam uma redução de 10,3% em 2030. Por outro lado, a população com 30 anos ou mais de idade deverá aumentar nas próximas décadas. O grupo de adultos com idade entre 30 a 59 anos apresenta crescimento, tanto na participação relativa quanto em valores absolutos em todo o período de 2000 a 2030. Estes adultos, que correspondiam a 59,2 milhões de pessoas em 2000 e representavam 33,6% da população, devem chegar a 95,4 milhões em 2030 (42,7% da população). Contudo, o segmento populacional que mais cresce na população brasileira é o de idosos, com taxas de crescimento superiores a 4% ao ano entre 2012 e 2022. A população com 60 anos ou mais de idade passou de 14,2 milhões em 2000 para 19,6 milhões em 2010, devendo chegar a 41,5 milhões em 2030.

Outro aspecto demográfico que tem modificado a composição da população nos países é o fenômeno da migração. Nos últimos 50 anos, a migração internacional ressurgiu com um fenômeno intenso, de alcance global. Em sociedades tradicionalmente receptoras de população, como Austrália, Canadá e Estados Unidos, a intensidade da imigração aumentou e

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a origem dos imigrantes alterou-se da Europa, historicamente principal região de origem, para Ásia, África e América Latina.

Na Europa, países que eram tradicionais regiões de origem de migrantes passaram a compor as principais regiões de destino. No pós-guerra, praticamente todos os países do Oeste Europeu passaram a receber imigrantes. Embora inicialmente eles viessem do sul da Europa, após 1960 passaram a vir da África, Ásia, Caribe, e Oriente Médio. Após 1980, países do sul da Europa, como Itália, Espanha e Portugal, que na década anterior eram regiões de emigração para os países mais ao norte, passaram a receber imigrantes da Ásia, África e Américas. Ao mesmo tempo, o Japão, com sua baixa taxa de crescimento demográfico e rápido envelhecimento populacional, assim como alto padrão de vida, começou a receber um volume crescente de imigrantes da Ásia e da América Latina (MASSEY et. All., 1998).

O Brasil, durante a quase totalidade de sua história, caracterizou-se por ser um país receptor de migrantes internacionais. Entretanto, a partir da década de 1980, o País experimentou, pela primeira vez, uma perda de população para o resto do mundo. Os migrantes dirigiam-se principalmente para os Estados Unidos, para alguns países europeus e para o Japão. Contudo, a partir da década de 2000, há indícios de que o saldo migratório internacional do Brasil da década de 2000 sofreu uma nova reversão (CAMPOS, 2012). Isto pode ser conseqüência tanto da redução da migração de indivíduos para o exterior, quanto do aumento do total de imigrantes internacionais.

Esta inversão do saldo migratório internacional do Brasil exibe o novo modo como o País insere-se no cenário das migrações internacionais contemporâneas. Trabalhos recentes têm corroborado esta tendência, apontando para o aumento do número de naturais dos países do Cone Sul vivendo no Brasil (SALA; CARVALHO, 2008), assim como a intensificação da migração de bolivianos (SILVA, 2006), de africanos e de asiáticos (BAENINGER; LEONCY, 2001).

Fernandes, Milesi e Farias (2011), ao analisarem a migração entre Haiti e Brasil, afirmam que a situação econômica privilegiada do Brasil em relação a outras nações tem levado ao aumento das solicitações de vistos de trabalho de estrangeiros. Nos últimos anos, as migrações de bolivianos e haitianos ganharam destaque dos estudiosos e da mídia, como demonstram os trabalhos de Baeniger (2012), Godoy (2011) e Fazito (2008), que discutem a situação atual das migrações internacionais do Brasil. Os autores também mostram que há um aumento da atratividade da Região Nordeste em relação a imigrantes europeus e o incremento das trocas migratórias entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, ultimamente favoráveis ao Brasil.

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1.2 Migração e mercado de trabalho: o dualismo econômico

A abordagem do mercado de trabalho dual postula que os fluxos migratórios internacionais são uma resposta às demandas intrínsecas do mercado de trabalho das economias industriais modernas, dada a evolução desse mercado para uma estrutura dual8. Segundo esta abordagem, a economia se divide em dois setores: 1) setor primário - intensivo em capital, que emprega trabalhadores qualificados, onde há uma estabilidade dos empregos e boa estrutura de trabalho; 2) setor secundário - intensivo em trabalho, que emprega trabalhadores pouco qualificados e com trabalhos precários (MASSEY, 1993).

Dessa forma, o dualismo inerente entre capital e trabalho extrapola para a força de trabalho, segmentando a estrutura do mercado de trabalho. Desse modo, baixos salários, condições instáveis de empregabilidade, falta de perspectivas profissionais presentes no setor secundário tornam essas profissões pouco atrativas para, no caso dos países desenvolvidos, a população local. Logo, para suprir essa demanda são recrutados trabalhadores estrangeiros.

A dualidade do mercado de trabalho é uma característica estrutural das sociedades industriais que gera uma inflação estrutural dos salários das profissões mais qualificadas. Essa inflação decorre não apenas dos desequilíbrios entre oferta e demanda de mão de obra, mas também do status e prestígio de determinados tipos de ocupação. Em geral, as pessoas acreditam que os salários deveriam refletir o status social da ocupação.

Se os empregadores buscam atrair trabalhadores pouco qualificados, eles não podem apenas aumentar os salários, visto que o aumento salarial desta categoria irá frustrar as expectativas sociais dos trabalhadores qualificados, pressionando assim o salário destes também para cima. Com efeito, há uma interrelação entre motivação e hierarquia ocupacional baseado neste dualismo do mercado de trabalho, o que mostra que as pessoas trabalham não apenas por salários, mas também por acúmulo e manutenção de status social.

O setor intensivo em capital, em geral, exibe empregos estáveis, com trabalhadores qualificados que recebem investimentos especializados em treinamento e educação. Os empregos são complexos e requerem considerável conhecimento e experiência, gerando acumulação de capital humano. Estes trabalhadores tendem a ser altamente profissionalizados e protegidos por instituições e conselhos profissionais, com contratos rígidos que dividem o custo de demissão com os empregadores.

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No setor secundário, por sua vez, os trabalhadores, em sua grande maioria, possuem contratos instáveis ou estão na informalidade e arcam quase completamente com os custos da demissão. Não há incentivo para os empregadores manterem seus empregos em períodos de baixa demanda, já que pouco investimento é feito nestes trabalhadores.

Entretanto, o que os empregadores necessitam é que os trabalhadores vejam os trabalhos pouco qualificados apenas como uma maneira de juntar dinheiro, sem nenhuma implicação para status ou prestígio. Essa tarefa é satisfeita, por uma variedade de razões, pelos trabalhadores imigrantes, principalmente os mais jovens. Em geral, eles buscam alguma fonte de renda ou acumulação de habilidades visando um objetivo específico como, por exemplo, comprar terreno, pagar uma faculdade, construir uma casa, ou envolvidos numa estratégia familiar, como é o caso do envio de remessas. Além disso, a diferença cambial pode fazer com que os salários recebidos nos países de destino sejam muito superiores aos pagos para as mesmas atividades na origem, o que justifica que o migrante aceite trabalhos que, talvez, não aceitasse nos países de origem.

Como o grupo de referência social do migrante é a sociedade da região de origem, o fato de estar esforçando-se para buscar recursos com a migração, inclusive enviando remessas para a família, contribui mais para aumentar seu status na origem do que uma avaliação do tipo de tarefa realizado no exterior ou região de residência atual.

No passado, os empregos menos qualificados eram supridos, prioritariamente, por jovens e mulheres. Contudo, o avanço do processo de transição demográfica que ocorre em paralelo com a mudança de papeis da mulher na sociedade faz com que haja uma escassez de indivíduos dispostos a aceitar trabalhos onde há pouca possibilidade de acumulação de capital humano.

O processo de transição demográfica impacta a disponibilidade destas duas forças de trabalho. As mudanças do papel da mulher na sociedade, com a ocupação do espaço público, fazem com que a participação delas no mercado de trabalho adquira um status social da

atividade econômica, embora não as “liberte” totalmente do seu papel familiar. Entretanto, tal

fenômeno implica numa redução no número de filhos e um aumento nas taxas de divórcio, afetando a estrutura etária da população. Isso gera uma pressão no mercado de trabalho e a dificuldade de recrutamento de trabalhadores para serviços pouco qualificados ocasiona uma mecanização de algumas atividades, bem como a busca de imigrantes para realizar outras.

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2. Dinâmica e estrutura do mercado de trabalho brasileiro entre 2000 e 2010

2.1 Os avanços dos indicadores estruturais básicos

Nos últimos anos, o mercado de trabalho brasileiro tem passado por algumas mudanças estruturais com o crescimento da geração de emprego, aumento da taxa de formalização, redução do desemprego, expansão da renda do trabalho e da massa de rendimentos, evolução real do salário mínimo entre outros aspectos, que reflete um cenário diferente do observado na década de 19909. Os avanços recentes do mercado de trabalho brasileiro ocorreram num contexto econômico de crescimento do País, com uma taxa de inflação oficial inferior à meta máxima estabelecida e com redução das desigualdades sociais10.

Entretanto, esses avanços sociais e econômicos têm ocorrido em paralelo com um processo acelerado de transição demográfica em curso no País, com implicações significativas para a estrutura do mercado de trabalho. No que se refere à distribuição da população em idade ativa dentro e fora da força de trabalho, os indicadores mostram um crescimento da população economicamente ativa, porém a uma taxa inferior ao crescimento da PIA. Mas é no caso da população potencial ou não economicamente ativa que se tem verificado as maiores variações no período (SÍNTESE...,2014).

A redução da base da pirâmide etária implica, num primeiro momento, no crescimento da população em idade ativa, reduzindo a razão de dependência na população11 (ALVES, 2008). São vários os potenciais aspectos positivos dessa mudança do padrão demográfico, entre eles: maior inserção produtiva, formação ou acumulação de poupança com a redução do número de dependentes, ampliação da cobertura previdenciária, maior investimento em capital humano, aumento da produtividade, crescimento da renda per capita, entre outros.

Contudo, o crescimento da população não economicamente ativa tem sido uma preocupação de alguns estudiosos do assunto, por considerarem que o País não tem aproveitado adequadamente os benefícios da “janela de oportunidades” decorrente do

processo de transição demográfica (TURRA e QUEIROZ, 2005). Isto porque o “bônus

9Ver DEDECCA (2005) acerca da evolução do mercado de trabalho brasileiro na década de 1990.

10Para uma análise retrospectiva dos principais indicadores de mercado de trabalho nas seis principais regiões

metropolitanas do País ver

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/retrospectiva2003_2014.pd

f. Ver também IPEA (2010) acerca do comportamento recente do mercado de trabalho brasileiro.

11O bônus demográfico se caracteriza por essa redução da razão entre a população inativa (crianças e idosos) em

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demográfico” somente trará benefícios para o País se houver um aumento do investimento em

educação e qualificação da força de trabalho, bem como uma racionalização da distribuição

da renda intergeracional. Isto porque os componentes da “dependência” se invertem neste

processo, de crianças e adolescentes para idosos12.

Dados sobre o perfil da população não economicamente ativa (NPEA) têm mostrado que cerca de 68% dela é composta por mulheres e um em cada quatro pessoas da NPEA tem idade entre 16 a 24 anos. Além disso, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios indicam ainda que parcela significativa dos jovens de 15 a 29 anos não trabalha nem estuda (22%) e quase 31% deles não tem o ensino fundamental completo (SÍNTESE..., 2014). Tem-se, portanto, que parcela significativa da população potencial é formada por mulheres e jovens. Entretanto, estes são os grupos populacionais com as maiores taxas de desocupação e com inserção mais precária no mercado de trabalho.

O aumento da escolarização da população jovem e o crescimento da renda média familiar também são alguns argumentos, a favor, que explicam o crescimento da população não economicamente ativa. Considera-se que muitos jovens têm postergado a entrada no mercado de trabalho para investir na formação educacional. Além disso, com o crescimento da renda, aqueles grupos à margem da ocupação, reconhecidamente as mulheres e os jovens, tendem sair da força de trabalho ou postergar a entrada.

O Gráfico 1 mostra a dinâmica da população economicamente ativa total e de 15 a 29 anos de idade nos últimos 20 anos, face ao comportamento do PIB. Observa-se que a atividade dos jovens tem seguido o padrão da PEA total; no entanto, desde 2005, a redução da PEA neste grupo etário tem sido consideravelmente maior na comparação com a população total. Além disso, o comportamento da PEA, em geral, tem se mostrado contra-cíclico à variação do PIB, com exceção nos últimos três anos. A partir deste cenário é possível inferir que fatores econômicos pouco têm influenciado a dinâmica da PEA ou o crescimento da economia não tem atuado como um incentivo para a inserção dos jovens no mercado de trabalho e funcionado mais como um mecanismo para que jovens invistam em educação e qualificação profissional13.

Conforme mostra a tabela 1, a população ocupada teve uma variação 32,8% entre 2000 e 2010, acima da taxa de crescimento da população em idade ativa (21,7%), o que

12Vale ressaltar que a partir de 2030 a razão de dependência volta a subir, mas devido ao maior peso relativo dos

idosos (IPEA, 2010).

13Se o processo de crescimento da economia tem favorecido a geração de postos de trabalhos mais qualificados,

é factível que os jovens decidam investir em educação e qualificação profissional. Segundo dados da PNAD para a população com 25 anos ou mais de idade, entre 2001 e 2013, a maior variação do emprego ocorreu para aquelas com nível de instrução superior completo (133,6%).

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implicou num aumento do nível de ocupação. Este indicador somado à redução do desemprego é, inclusive, um sinalizador da expansão do emprego na economia.

Gráfico 1

Taxa de variação do PIB, PEA e PEA15A29 - 1993/2013

-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Tx. Var. PIB Tx. Var. PEA Tx. Var. PEA15A29 Fonte: Sistema de Contas Nacionais. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Tabela 1

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Pessoas de 16 anos ou mais de

idade 116.028 56.293 59.735 141.244 68.227 73.018 21,7 21,2 22,2 Pessoas de 16 anos ou mais de

idade economicamente ativas 74.811 44.863 29.948 91.549 51.679 39.870 22,4 15,2 33,1 Pessoas de 16 anos ou mais de

idade ocupadas 63.838 39.661 24.177 84.755 48.860 35.895 32,8 23,2 48,5 Pessoas de 16 anos ou mais de

idade desocupadas 10.972 5.202 5.771 6.794 2.819 3.975 -38,1 -45,8 -31,1

Nível de ocupação 55,0 70,5 40,5 60,0 71,6 49,2 9,1 1,6 21,5

Taxa de desocupação 14,7 11,6 19,3 7,4 5,5 10,0 -49,4 -53,0 -48,3

Taxa de atividade 64,5 79,7 50,1 64,8 75,7 54,6 0,5 -5,0 8,9

Fonte: IBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010.

Indicadores estruturais do mercado de trabalho - Brasil - 2000/2010

Indicadores 2000 (1000 pessoas) 2010 (1000 pessoas) Variação (%)

Entretanto, quando analisada a dinâmica do emprego em relação aos grupos de idade, observa-se que as variações no período, seja da população ocupada ou do nível de ocupação, avançam com a idade (Tabela 2). Com efeito, foram os mais experientes (com 50 anos ou mais de idade) que tiveram maiores oportunidades no mercado de trabalho. Embora a escolaridade seja um importante atributo, visto que o avanço do emprego com nível superior foi mais elevado, nota-se que a experiência tem sido determinante na ocupação considerando a conjuntura recente.

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Tabela 2 PIA (1000 pessoas) PO (1000 pessoas) Nível de ocupação (%) PIA (1000 pessoas) PO (1000 pessoas) Nível de ocupação (%) PIA PO Nível de ocupação 16 a 29 anos 44.411 23.972 54,0 47.761 27.812 58,2 7,5 16,0 7,9 30 a 39 anos 25.290 17.470 69,1 29.633 22.143 74,7 17,2 26,7 8,2 40 a 49 anos 19.273 12.818 66,5 24.843 18.196 73,2 28,9 42,0 10,1 50 a 59 anos 12.515 6.527 52,2 18.419 11.299 61,3 47,2 73,1 17,6 60 anos ou mais 14.539 3.050 21,0 20.589 5.306 25,8 41,6 73,9 22,8

Fonte: IBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010.

Grupos de idade

2000 2010 Variação (%)

População em idade ativa, população ocupada e nível de ocupação segundo os grupos de idade - Brasil - 2000/2010

2.2 A dinâmica recente do emprego por setores e grupamentos ocupacionais

O Censo Demográfico 2010 seguiu uma classificação de setores de atividade econômica e de grupamentos de ocupações diferente do Censo 2000. A nova organização dos grupamentos ocupacionais permite verificar que parcela significativa dos trabalhadores de 16 anos ou mais de idade está em ocupações de média ou baixa qualificação (58,4%). Conforme mostra a tabela 3, as ocupações de média ou baixa qualificação correspondem os técnicos e profissionais de nível médio, trabalhadores de apoio administrativo, trabalhadores dos serviços e vendedores, operadores de instalações e máquinas e ocupações elementares. Deste conjunto, a exceção da ocupação de operadores de instalações, a maioria dos trabalhadores é do sexo feminino.

Tabela 3

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 84.755 48.860 35.895 100,0 57,6 42,4

Membros das forças armadas, policiais e bombeiros

militares 489 461 28 0,6 94,2 5,8

Diretores e gerentes 3.374 2.101 1.273 4,0 62,3 37,7

Profissionais das ciências e intelectuais 8.471 3.429 5.042 10,0 40,5 59,5

Técnicos e profissionais de nível médio 5.506 3.377 2.130 6,5 61,3 38,7

Trabalhadores de apoio administrativo 5.951 2.166 3.785 7,0 36,4 63,6

Trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e

mercados 14.122 6.451 7.671 16,7 45,7 54,3

Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da

caça e da pesca 6.945 4.808 2.137 8,2 69,2 30,8

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da

construção, das artes mecânicas e outros ofícios 9.700 8.722 978 11,4 89,9 10,1

Operadores de instalações e máquinas e montadores 6.944 5.304 1.640 8,2 76,4 23,6

Ocupações elementares 16.951 8.346 8.605 20,0 49,2 50,8

Ocupações mal definidas 6.301 3.695 2.606 7,4 58,6 41,4

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Ocupações Total (1000 pessoas) Distribuição Percentual (%)

No caso dos jovens de 16 a 29 anos, o percentual daqueles em ocupações de média ou baixa qualificação é ainda mais elevado (64,5%). Como ressalta IPEA (2010), o mercado de trabalho brasileiro conta ainda com um excedente estrutural de mão de obra de baixa qualificação. Logo, não se pode afirmar que o País vive uma “crise” com a escassez de mão de obra pouco qualificada. Além disso, o que se tem observado são deslocamentos entre

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segmentos ocupacionais, o que não significa sair da condição de precariedade do trabalho. Um exemplo é a redução do número de empregadas domésticas, pois são várias as jovens que optam em trabalhar como manicures ou operadoras de telemarketing do que exercer a profissão que foi de sua geração anterior14. Para essas jovens, não ser doméstica significa um prestígio social, ainda que estejam em outros trabalhos precários e sem garantias sociais.

Acerca da distribuição dos jovens ocupados entre os grupamentos ocupacionais, tem-se que as ocupações elementares, os tem-serviços e o de apoio administrativo são os principais nichos de empregablidade neste grupo etário. Estes três grupamentos juntos correspondem a 50% do total de jovens ocupados (Tabela 4).

Tabela 4

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 27.812 16.082 11.730 100,0 57,8 42,2

Membros das forças armadas, policiais e bombeiros

militares 189 178 11 0,7 94,4 5,6

Diretores e gerentes 666 373 293 2,4 56,0 44,0

Profissionais das ciências e intelectuais 2.250 922 1.328 8,1 41,0 59,0

Técnicos e profissionais de nível médio 1.897 1.134 762 6,8 59,8 40,2

Trabalhadores de apoio administrativo 3.138 1.143 1.995 11,3 36,4 63,6

Trabalhadores dos serviços, vendedores dos

comércios e mercados 5.199 2.144 3.056 18,7 41,2 58,8

Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais,

da caça e da pesca 1.772 1.262 509 6,4 71,2 28,8

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da

construção, das artes mecânicas e outros ofícios 2.892 2.574 319 10,4 89,0 11,0

Operadores de instalações e máquinas e montadores

1.939 1.500 439 7,0 77,4 22,6

Ocupações elementares 5.779 3.567 2.212 20,8 61,7 38,3

Ocupações mal definidas 2.091 1.284 807 7,5 61,4 38,6

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Pessoas de 16 a 29 anos de idade ocupadas segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Ocupações Total (1000 pessoas) Distribuição Percentual (%)

Utilizando-se da classificação de setores de atividade e de grupamentos ocupacionais comparáveis para os Censos Demográficos 2000 e 2010, pôde-se verificar que os setores mais dinâmicos em termos de geração de emprego no período, exceto as atividades mal definidas ou não classificadas, foram: indústria extrativa (134%), saúde e serviços sociais (70,9%) e atividades imobiliárias (59,6%) (Gráfico 2). Acerca das variações do emprego por grupamentos ocupacionais, os maiores percentuais foram evidenciados para os profissionais das ciências e artes (107,2%) e trabalhadores de serviços administrativos (42,8%) (Gráfico 3).

No caso dos jovens de 16 a 29 anos, as maiores variações do emprego de certa forma acompanharam a dinâmica do conjunto da população ocupada. No entanto, verificou-se que a variação do emprego dos jovens para o período foi menor (16%). A indústria extrativa foi o setor de maior variação do emprego entre os jovens (142,4%), acima inclusive do observado

14Em 2000, o trabalho de informação ao público, que inclui os operadores de telemarketing, empregava cerca de

(13)

para o total da população. Além disso, houve retração do emprego para este grupo etário em vários setores, a saber: Agricultura, pecuária, silvicultura (-18,0%), Pesca (-21,6%), Alojamento e alimentação (-4,5%), Educação (-9,1%) e Serviços domésticos (-29,3%), conforme mostra o Gráfico 4. Dentre os grupamentos ocupacionais, as perdas de emprego ocorreram nas categorias de membros das forças armadas, policiais e bombeiros (-56,4%), trabalhadores agropecuários (-19,1%) e técnicos de nível médio (-0,1%) (Gráfico 5).

Gráfico 2

Variação da população ocupada de 16 anos ou mais de idade por setores de atividade - 2000/2010 (Exclusive atividades não classificadas)

3,3 5,5 134,0 20,3 15,6 38,2 38,6 -1,5 23,6 44,1 59,6 32,6 16,4 70,9 27,2 20,9 47,0 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 A g ri c u ltu ra , p e c u á ri a , s ilv ic u ltu ra P e s c a In d ú s tri a e x tra tiv a In d ú s tri a d e tra n s fo rm a ç ã o P ro d u ç ã o e d is tri b u iç ã o d e e le tri c id a d e , g á s e á g u a C o n s tru ç ã o C o m é rc io e re p a ra ç ã o A lo ja m e n to e a lim e n ta ç ã o T ra n s p o rt e , a rm a z e n a g e m e c o m u n ic a ç ã o In te rm e d ia ç ã o fi n a n c e ira A tiv id a d e s im o b ili á ri a s , a lu g u é is e s e rv iç o s p re s ta d o s à s e m p re s a s A d m in is tra ç ã o p ú b lic a , d e fe s a e s e g u ri d a d e s o c ia l E d u c a ç ã o S a ú d e e s e rv iç o s s o c ia is O u tro s s e rv iç o s c o le tiv o s , s o c ia is e p e s s o a is S e rv iç o s d o m é s tic o s O rg a n is m o s in te rn a c io n a is

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Gráfico 3

Variação da população ocupada de 16 anos ou mais de idade por grupamentos de ocupação - 2000/2010 (Exclusive Ocupações mal definidas)

28,8 107,2 10,1 42,8 18,4 2,3 26,3 21,9 -53,6 -80,0 -60,0 -40,0 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 A u to rid a d e s p ú b lic a s , d irig e n te s e g e re n te s P ro fis s io n a is d a s c iê n c ia s e a rte s T é c n ic o s d e n ív e l m é d io T ra b a lh a d o re s d e s e rv iç o s a d m in is tr a tiv o s T ra b a lh a d o re s d o s s e rv iç o s e v e n d e d o re s T ra b a lh a d o re s a g ro p e c u á rio s , flo re s ta is , d e c a ç a e p e s c a T ra b a lh a d o re s d a p ro d u ç ã o d e b e n s e s e rv iç o s in d u s tr ia is T ra b a lh a d o re s d e r e p a ra ç ã o e m a n u te n ç ã o M e m b ro s d a s fo rç a s a rm a d a s , p o lic ia is e b o m b e iro s m ilit a re s

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

(14)

Variação da população ocupada de 16 a 29 anos de idade por setores de atividade -2000/2010 (Exclusive atividades não classificadas)

142,4 8,1 16,7 18,2 27,7 8,5 44,6 56,5 11,6 59,5 21,4 7,4 -18,0 -21,6 -4,5 -9,1 -29,3 -40,0 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 A g ric u ltu ra , p e c u á ria , s ilv ic u ltu ra P e s c a In d ú s tr ia e x tr a tiv a In d ú s tr ia d e tr a n s fo rm a ç ã o P ro d u ç ã o e d is tr ib u iç ã o d e e le tr ic id a d e , g á s e á g u a C o n s tr u ç ã o C o m é rc io e r e p a ra ç ã o A lo ja m e n to e a lim e n ta ç ã o T ra n s p o rte , a rm a z e n a g e m e c o m u n ic a ç ã o In te rm e d ia ç ã o fin a n c e ira A tiv id a d e s im o b iliá ria s , a lu g u é is e s e rv iç o s p re s ta d o s à s e m p re s a s A d m in is tr a ç ã o p ú b lic a , d e fe s a e s e g u rid a d e s o c ia l E d u c a ç ã o S a ú d e e s e rv iç o s s o c ia is O u tr o s s e rv iç o s c o le tiv o s , s o c ia is e p e s s o a is S e rv iç o s d o m é s tic o s O rg a n is m o s in te rn a c io n a is

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

Gráfico 5

Variação da população ocupada de 16 a 29 anos de idade por grupamentos de ocupação - 2000/2010

25,9 98,9 -0,1 37,3 0,6 -19,1 8,0 6,3 -56,4 -80,0 -60,0 -40,0 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 A u to ri d a d e s p ú b lic a s , d iri g e n te s e g e re n te s P ro fis s io n a is d a s c iê n c ia s e a rt e s T é c n ic o s d e n ív e l m é d io T ra b a lh a d o re s d e s e rv iç o s a d m in is tra tiv o s T ra b a lh a d o re s d o s s e rv iç o s e v e n d e d o re s T ra b a lh a d o re s a g ro p e c u á ri o s , flo re s ta is , d e c a ç a e p e s c a T ra b a lh a d o re s d a p ro d u ç ã o d e b e n s e s e rv iç o s in d u s tri a is T ra b a lh a d o re s d e re p a ra ç ã o e m a n u te n ç ã o M e m b ro s d a s fo rç a s a rm a d a s , p o lic ia is e b o m b e iro s m ili ta re s

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010. Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010.

3. Perfil dos migrantes no mercado de trabalho brasileiro

3.1. Migração internacional: um incremento para a força de trabalho no Brasil?

Segundo o Censo Demográfico, em 2010, havia 534 mil estrangeiros de 16 anos ou mais de idade no País, sendo 54,2% do sexo masculino e 45,8% do sexo feminino. Se considerarmos apenas os não naturalizados, este número cai para 398,4 mil. O percentual de jovens entre os estrangeiros é bastante reduzido, visto que 13,6% têm 16 a 29 anos e 38,7% têm 65 anos ou mais de idade.

(15)

A participação dos estrangeiros no mercado de trabalho é relativamente reduzida, visto que somente 51% deles são economicamente ativos15. Entre os homens este percentual é mais elevado (62%) e bastante reduzido entre as mulheres (38%). Os estrangeiros ocupados contabilizavam 263,4 mil pessoas e a maioria deles trabalhava como conta-própria (38,5%). A segunda categoria que concentrava grande parte dos estrangeiros era a de empregados sem carteira (29,4%).

Acerca da atividade e ocupação exercida, os resultados indicaram que os estrangeiros ocupados estavam concentrados em sete setores de atividade: comércio (21,4%), educação (7,1%), confecção de artigos de vestuário (6,9%), agricultura e pecuária (4,8%), saúde (4,5%), alimentação (4,5%) e construção (3,8%). As mulheres apresentaram um percentual maior que o dos homens somente no setor de educação (50,5%), mas não há um setor específico de predominância das mulheres estrangeiras no mercado de trabalho (Tabela 5).

Tabela 5

Principais setores de atividade

Setores de Atividade Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Agricultura, pecuária, caça e serviços

relacionados 12.541 9.368 3.173 4,8 74,7 25,3

Confecção de artigos do vestuário e acessórios 18.263 9.614 8.649 6,9 52,6 47,4 Serviços especializados para construção 9.905 9.142 762 3,8 92,3 7,7 Comércio, exceto de veiculos automotores e

motocicletas 56.378 38.827 17.551 21,4 68,9 31,1

Alimentação 11.821 7.661 4.160 4,5 64,8 35,2

Administração pública, defesa e seguridade social 5.926 3.392 2.534 2,2 57,2 42,8

Educação 18.749 9.285 9.463 7,1 49,5 50,5

Atividades de atenção à saúde humana 11.895 6.060 5.835 4,5 50,9 49,1

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Estrangeiros de 16 anos ou mais de idade ocupados segundo os principais setores de atividade, por sexo - 2010 Total Proporção e distribuição percentual

Já com relação à ocupação, o grupamento com o maior percentual de estrangeiros é o de profissionais das ciências e intelectuais (23,6%), seguido dos trabalhadores dos serviços e comércio (16,9%). Outro grupo com percentual elevado é o de diretores e gerentes (12,6%). Logo, é possível afirmar a partir do perfil ocupacional dos estrangeiros no País que grande parte destes exerce ocupações qualificadas, o que se contrapõe com a tese de que os estrangeiros podem vir a suprir a escassez de mão de obra pouco qualificada (Tabela 6).

No que se refere às características de rendimento, verificou-se que os estrangeiros tinham um rendimento médio mensal de todas as fontes superior ao restante da população. Em 2010, o rendimento médio dos estrangeiros era de R$3,4 mil contra R$1,3 mil. A desigualdade de rendimento entre homens e mulheres, por sua vez, é mais elevada na categoria de estrangeiro (0,53) que no restante da população (0,68).

15Na população total, a taxa de atividade das pessoas de 16 anos ou mais de idade, em 2010, foi de 64,8%, valor

(16)

Tabela 6

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 263.421 174.182 89.239 100 100 100

Membros das forças armadas, policiais e

bombeiros militares 271 237 34 0,1 0,1 0,0

Diretores e gerentes 33.096 25.377 7.719 12,6 14,6 8,6

Profissionais das ciências e intelectuais 62.099 39.972 22.128 23,6 22,9 24,8

Técnicos e profissionais de nível médio 19.114 13.847 5.267 7,3 7,9 5,9

Trabalhadores de apoio administrativo 8.207 3.422 4.785 3,1 2,0 5,4

Trabalhadores dos serviços, vendedores dos

comércios e mercados 44.457 27.565 16.893 16,9 15,8 18,9

Trabalhadores qualificados da agropecuária,

florestais, da caça e da pesca 8.140 5.995 2.145 3,1 3,4 2,4

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das artes mecânicas e

outros ofícios 18.635 15.885 2.750 7,1 9,1 3,1

Operadores de instalações e máquinas e

montadores 22.933 14.208 8.725 8,7 8,2 9,8

Ocupações elementares 18.573 9.631 8.942 7,1 5,5 10,0

Ocupações mal definidas 27.894 18.043 9.852 10,6 10,4 11,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Estrangeiros de 16 anos ou mais de idade ocupados segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Total Proporção

Ocupações

Os resultados da base de dados do Sistema Nacional de Registros de Estrangeiros – SINCRE do Departamento da Polícia Federal corroboram os indicadores obtidos a partir do Censo Demográfico 2010. Em 2014, o setor de imigração da Polícia Federal contabilizou 273,3 mil estrangeiros de 15 anos ou mais de idade no País (Tabela 7).

Tabela 7 15 a 36 anos 37 ou mais Total 273.370 126.184 147.186 Inativo 24.327 8.673 15.654 Sem profissão 62.063 47.006 15.057 Com profissão 186.980 70.505 116.475 Superior 99.340 26.331 73.009 Médio 9.655 3.732 5.923 Inferior 77.985 40.442 37.543 Total 100 100 100 Inativo 8,9 6,9 10,6 Sem profissão 22,7 37,3 10,2 Com profissão 68,4 55,9 79,1 Superior 53,1 37,3 62,7 Médio 5,2 5,3 5,1 Inferior 41,7 57,4 32,2

Fonte: Polícia Federal, Coordenação Geral de Polícia de Imigração.

Total

Proporção

Estrangeiros de 15 anos ou mais de idade, residentes no Brasil, por grupos de idade segundo a condição de atividade, total e proporção

-2014

Condição de atividade Total Grupos de idade

Do total de 273,3 mil imigrantes, cerca de 31,6% não tinha profissão16 ou era inativo (estudante, aposentado, dependente, menor, bolsista, militar na inatividade). Para aqueles que declaram alguma profissão (187 mil), 54% tinham mais de 36 anos de idade e 53,1% tinham uma profissão de categoria superior.

16

(17)

Considerando as principais categorias de “profissões” listadas com os maiores contingentes de estrangeiros segundo a base de dados da PF, excluída as categorias de inativos, como estudante e aposentado, tem-se que a principal categoria profissional dos imigrantes é a de diretores e gerentes (24,7 mil pessoas). Este grupo constitui uma mão de

obra altamente qualificada, assim como aqueles denominados como “oficial”, que representa a quarta categoria. A segunda categoria corresponde a “outras ocupações”, um grupo

heterogêneo de origem em vários países que não permite inferir acerca do trabalho realizado.

A terceira categoria com maior contingente de estrangeiros é o de “decorador”, composta por

bolivianos jovens com idade entre 20 e 29 anos.

No período de 2000 a 2014, foram registrados 746,8 mil estrangeiros no SINCRE. A

principal “profissão” informada foi a de estudante (140,7 mil estrangeiros), seguido de oficial (90,0 mil) e decorador (70,9 mil). Se desconsiderarmos os estudantes e o grupo ”outras ocupações”, as cinco principais “qualificações” importadas foram: oficial, decorador,

arquiteto, diretor e gerente e sacerdote. Logo, a análise dos dados do SINCRE, assim como os do Censo Demográfico, indica que os migrantes estrangeiros compõem, em grande medida, uma mão de obra qualificada, o que contrasta os postulados da abordagem do mercado de trabalho dual.

Os dados da Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a população estrangeira que recebeu autorização para o trabalho, em 2013, reforçam essa conclusão de que a imigração internacional no Brasil tem sido fundamentalmente de mão de obra qualificada. Em 2013, dos 59,4 mil estrangeiros que receberam autorização para o trabalho temporário, 58,2% tinham pelo menos o nível superior. No caso das autorizações para o trabalho permanente, este percentual era ainda mais elevado (82,1%).

3.2. Migração interna e mercado de trabalho

No Brasil, de 141,2 milhões de pessoas de 16 anos ou mais de idade, 62,2 milhões residem em um município diferente do de nascimento. Sendo que destes, 25 milhões nasceram em outra Unidade da Federação (UF) da residência atual.

Com relação ao perfil dos não-naturais da Unidade da Federação, alguma vez migrantes internos, o maior contingente era composto de jovens de 16 a 29 anos de idade e residia, em 2010, em São Paulo. Contudo, quando analisado o percentual de jovens em determinada UF que não nasceram nesta UF, tem-se que os Estados do Amapá, Ceará e Roraima eram os que apresentavam os maiores percentuais 33,8%, 32,4% e 31,6%,

(18)

respectivamente. Por outro lado, os Estados com os menores percentuais de jovens nascidos de outras UFs eram Rondônia, Rio de Janeiro e Paraná.

O nível de ocupação dos não-naturais da Unidade da Federação (migrantes internos) foi de 61,8%; nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal os percentuais foram ainda maiores: 71,7%, 68,7% e 67,2%, respectivamente. Entretanto, os menores níveis de ocupação foram observados no Maranhão (51,7%), na Paraíba (54,4%) e em Alagoas (54,8%), o que indica que os jovens de outras localidades que residem nestes estados não encontram uma oportunidade ou não buscaram.

Verificou-se que 48% dos não-naturais da UF eram empregados com carteira, percentual acima do observado para o conjunto de trabalhadores de 16 anos ou mais de idade17. Além disso, seu rendimento médio, em 2010, era maior que o rendimento dos não migrantes ($1641 contra $1422). Os maiores rendimentos médios dos não-naturais estavam no Distrito Federal ($3219) e no Rio Grande do Sul ($1936). No caso dos não migrantes, os maiores rendimentos médios estavam no Distrito Federal ($2312), São Paulo ($1937) e Rio de Janeiro ($1670).

No que se refere aos setores de atividade em que estavam alocados os não-naturais da UF, tem-se que o setor de serviços domésticos é o que mais agrega trabalhadores, seguido dos setores de lavoura, construção e comércio. A partir de uma análise mais agregada, com base em 22 setores, constata-se que dos 15,4 milhões de não-naturais da UF que estavam ocupados, 16,6% estavam no setor de comércio, seguido da indústria de transformação (10,6%), agricultura (10%), construção (9,1%) e serviço doméstico (8,7%), como os cinco principais setores (Tabela 8).

A análise por sexo mostra que os setores cujo número de mulheres não-naturais excede o número de homens são: serviço doméstico (92,7%), educação (72,9%) e saúde (72,3%). No entanto, vale ressaltar que dos 6,4 milhões não-naturais do sexo feminino, quase 20% estavam no serviço doméstico.

O perfil educacional dos não-naturais indicou que 49,3% não tinham instrução ou o fundamental incompleto e outros 16,7% tinham o fundamental ou médio incompleto. Logo, 66% dos migrantes não tinham o nível médio. No caso dos não-naturais ocupados, este percentual era um pouco menor (59,6%), mas ainda assim mais da metade dos trabalhadores não tinham o nível médio que, segundo estudo do DIEESE (2011), é o nível educacional com maior demanda no mercado de trabalho.

17Vale destacar que em relação à posição na ocupação, os migrantes internos têm uma característica diferente

(19)

Segundo o DIEESE (2011), entre 1998 e 2008, o aumento do nível de instrução da população ocupada foi maior que o da PIA, principalmente para o nível ensino médio completo ou superior incompleto (115,7%). Ademais, o estudo observou ainda que o nível de instrução exigido no momento da contratação, em 2008, nas principais regiões metropolitanas do País mais o Distrito Federal era exatamente o ensino médio completo ou superior incompleto (Gráfico 6). Isto mostra que na conjuntura recente do mercado de trabalho, em termos de variação, não há um descompasso de qualificação entre as exigências do mercado e a oferta de trabalho disponível.

Gráfico 6

Proporção dos trabalhadores ocupados com exigência de escolaridade no momento da contratação, por nível de instrução requerido - Regiões

Metropolitanas e Distrito Federal - Maio a outubro de 2008

12,5 11,8 19,0 11,8 9,4 11,1 34,1 38,7 37,4 36,4 42,2 31,1 10,4 11,7 9,4 7,3 9,5 8,6 0 10 20 30 40 50 60 70 RMBH DF RMPA RMR RMS RMSP

Fundamental completo ou médio incompleto Médio completo ou superior incompleto Superior completo ou Pós

Fonte: DIEESE (2011).

Tabela 8

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 15.458 9.063 6.395 100 100 100 Agricultura 1.544 1.138 405 10,0 12,6 6,3 Ind. Extrativa 81 71 9 0,5 0,8 0,1 Ind. Transformação 1.954 1.280 674 12,6 14,1 10,5 Eletricidade 42 35 6 0,3 0,4 0,1 Água, esgoto 102 77 25 0,7 0,8 0,4 Construção 1.404 1.363 41 9,1 15,0 0,6 Comércio 2.569 1.510 1.059 16,6 16,7 16,6 Transporte 684 621 62 4,4 6,9 1,0 Alojamento, 715 343 372 4,6 3,8 5,8 Informação e comunicação 177 122 55 1,1 1,3 0,9 Ativ. Financeiras 177 92 84 1,1 1,0 1,3 Ativ. Imobiliárias 78 50 28 0,5 0,6 0,4

Ativ. Profissionais e científicas 366 210 156 2,4 2,3 2,4

Ativ. Administrativas 614 391 223 4,0 4,3 3,5

Adm. Pública 773 468 306 5,0 5,2 4,8

Educação 720 195 524 4,7 2,2 8,2

Saúde e Serv. Social 533 148 385 3,4 1,6 6,0

Artes e Cultura 124 76 47 0,8 0,8 0,7

Outras Ativ. Serviços 466 175 291 3,0 1,9 4,5

Serviços Domésticos 1.344 98 1.246 8,7 1,1 19,5

Org. Internacionais 2 1 1 0,0 0,0 0,0

Ativ. mal definidas 991 597 394 6,4 6,6 6,2

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Migrantes internos de 16 anos ou mais de idade ocupados segundo os setores de atividade, total e proporção por sexo - 2010

(20)

Quando analisada distribuição dos não-naturais ocupados segundo os grupamentos ocupacionais, observou-se que a maioria deles estava em ocupações de menor qualificação (58,9%). Sendo que parcela expressiva (21%) estava em ocupações elementares, grupamento que inclui trabalhadores domésticos, ambulantes, ajudantes na preparação de alimentos, coletores de lixo, entre outros trabalhadores elementares na agropecuária, mineração, construção, indústria de transformação, etc (Tabela 9).

Logo, diferentemente dos estrangeiros que entram no país e estão em ocupações mais qualificadas; no caso dos não-naturais ocorre exatamente o inverso. Dessa maneira, é possível afirmar que a demanda por trabalho menos qualificado de certa forma está sendo suprida por migração interna. No caso da categoria de ocupações elementares, do total de 16,9 milhões de ocupados nesta categoria, 3,3 milhões, isto é, 19% eram migrantes internos (não-naturais da UF).

Tabela 9

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 15.458 9.063 6.395 100 100 100

Membros das forças armadas, policiais e

bombeiros militares 107 101 6 0,7 1,1 0,1

Diretores e gerentes 704 462 242 4,6 5,1 3,8

Profissionais das ciências e intelectuais 1.422 652 770 9,2 7,2 12,0

Técnicos e profissionais de nível médio 953 614 339 6,2 6,8 5,3

Trabalhadores de apoio administrativo 818 313 504 5,3 3,5 7,9

Trabalhadores dos serviços, vendedores

dos comércios e mercados 2.742 1.287 1.455 17,7 14,2 22,7

Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da

pesca 869 619 250 5,6 6,8 3,9

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das artes

mecânicas e outros ofícios 2.055 1.868 187 13,3 20,6 2,9

Operadores de instalações e máquinas e

montadores 1.368 1.038 330 8,8 11,4 5,2

Ocupações elementares 3.227 1.398 1.829 20,9 15,4 28,6

Ocupações mal definidas 1.194 711 482 7,7 7,8 7,5

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Migrantes internos de 16 anos ou mais de idade ocupados segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Ocupações Total (1000 pessoas) Proporção

Além dos não-naturais da UF, foram analisados também aqueles que, segundo o Censo Demográfico 2010, residiam há menos de 10 anos na Unidade da Federação (migrantes de última etapa), visando captar o destino dos migrantes recentes em termos de localidade e atividade econômica. Esses migrantes contabilizavam 7,4 milhões indivíduos e quase 26% estavam em São Paulo, principal receptor de mão de obra no País. O estado de Goiás vem na segunda posição, abrangendo 7,8% dos migrantes de última etapa do período. Vale ressaltar que a média de rendimento dos migrantes recentes era de R$1743, sendo a maior dela observada no Distrito Federal R$2879.

(21)

Parcela significativa dos migrantes de última etapa (46%) tem idade inferior a 30 anos e outra parcela, um pouco menor, tem idade entre 30 e 49 anos (39%). Logo, eles podem ser caracterizados como uma população jovem. Nos estados de São Paulo e do Piauí, o percentual de jovens migrantes chega a ser superior a 50%. No mercado de trabalho, os homens correspondiam a 61,5% dos migrantes de última etapa; as mulheres, por sua vez, representavam 38,5%. Com relação às ocupações exercidas por este grupo de migrantes, tem-se que 58,8% deles estavam em ocupações que exigem baixa ou média qualificação, percentual praticamente o mesmo para o conjunto de migrantes internos (Tabela 10). Isso mostra que os jovens não têm seguido uma trajetória diferente daqueles que saíram há mais tempo da sua UF de origem.

Os seis setores de atividade com os maiores percentuais de migrantes de última etapa eram: serviços domésticos, atividades mal definidas, construção, serviços especializados, atividades de comércio não especificadas e atividades de restaurante. Esta ordenação difere dos apresentado entre os não-naturais da UF (conjunto que engloba, além das migrações recentes, os que chegaram a mais tempo), mas o que não se modifica é a posição dos serviços domésticos, que segue ainda como o principal setor de atração para os migrantes de última etapa (Tabela 11).

Tabela 10

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 4.216 2.594 1.623 100 61,5 38,5

Membros das forças armadas,

policiais e bombeiros militares 56 53 3 1,3 94,2 5,8

Diretores e gerentes 197 133 64 4,7 67,6 32,4

Profissionais das ciências e

intelectuais 435 220 215 10,3 50,6 49,4

Técnicos e profissionais de nível

médio 270 182 87 6,4 67,6 32,4

Trabalhadores de apoio

administrativo 247 102 145 5,9 41,1 58,9

Trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e

mercados 722 331 391 17,1 45,8 54,2

Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça

e da pesca 171 125 46 4,0 73,1 26,9

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das artes

mecânicas e outros ofícios 544 494 50 12,9 90,8 9,2

Operadores de instalações e

máquinas e montadores 327 259 68 7,8 79,2 20,8

Ocupações elementares 911 479 432 21,6 52,5 47,5

Ocupações mal definidas 337 217 120 8,0 64,4 35,6

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Migrantes internos de 16 anos ou mais de idade ocupados que moram há menos de 10 anos na Unidade da Federação segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Total (1000 pessoas) Proporção e distribuição percentual

(22)

Tabela 11

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 4.216 2.594 1.623 100 100 100 Agricultura 371 285 87 8,8 11,0 5,3 Ind. Extrativa 33 29 5 0,8 1,1 0,3 Ind. Transformação 580 406 174 13,8 15,6 10,7 Eletricidade 13 11 2 0,3 0,4 0,1 Água, esgoto 24 18 5 0,6 0,7 0,3 Construção 419 405 14 9,9 15,6 0,9 Comércio 727 427 301 17,2 16,4 18,5 Transporte 156 140 16 3,7 5,4 1,0 Alojamento, 223 112 110 5,3 4,3 6,8 Informação e comunicação 63 44 20 1,5 1,7 1,2 Ativ. Financeiras 57 31 26 1,4 1,2 1,6 Ativ. Imobiliárias 20 12 8 0,5 0,5 0,5

Ativ. Profissionais e científicas 109 62 47 2,6 2,4 2,9

Ativ. Administrativas 150 94 56 3,6 3,6 3,4

Adm. Pública 200 136 65 4,8 5,2 4,0

Educação 166 55 111 3,9 2,1 6,9

Saúde e Serv. Social 136 43 93 3,2 1,7 5,7

Artes e Cultura 41 26 15 1,0 1,0 0,9

Outras Ativ. Serviços 125 49 75 3,0 1,9 4,6

Serviços Domésticos 317 28 289 7,5 1,1 17,8

Org. Internacionais 1 0 1 0,0 0,0 0,0

Ativ. mal definidas 286 181 105 6,8 7,0 6,4

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Total (1000 pessoas) Proporção

Setores

Migrantes internos de 16 anos ou mais de idade ocupados que moram há menos de 10 anos na Unidade da Federação, segundo os setores de atividade, total e proporção por sexo - 2010

Os jovens migrantes de última etapa com idade entre 16 a 29 anos correspondiam a 5,7 milhões de pessoas, sendo que 65% estavam no mercado de trabalho. Dos 3,7 milhões de jovens ocupados, 59,3% eram empregados com carteira, percentual bem acima do verificado para o conjunto de não-naturais da UF (48%). A taxa de atividade dos migrantes jovens varia entre as UFs, pois a maior taxa é observada em Santa Catarina (82%) e a menor no Piauí (59,3%). O rendimento médio dos jovens migrantes, em 2010, era R$1029,00, sendo o maior deles observado no Distrito Federal (R$1434,00).

Os jovens migrantes estavam concentrados no serviço doméstico (6,4%), comércio de produtos alimentícios inclusive fumo e bebidas (4,2%), atividades de construção não especificada (4,0%) e restaurante (3,9%). Na classificação de 1 dígito, os setores que mais empregavam jovens migrantes eram: comércio (20,9%), indústria de transformação (15,2%), construção (8,4%), agricultura (7,5%) e serviços domésticos (6,4%) (Tabela 12). Estes são os mesmos setores observados para os não naturais, invertendo apenas a posição entre os setores de agricultura e de construção, o que indica que os jovens migrantes não estão ocupando nichos específicos. No entanto, quando analisados os dados por ocupação, pode-se constatar que um percentual mais elevado destes jovens estava em trabalhos de baixa ou média qualificação (65,8%). Somente 22,4% em ocupações elementares e 20% nos serviços e como vendedores no comércio (Tabela 13).

(23)

Tabela 12

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 3.708 2.160 1.547 100 100 100 Agricultura 277 211 66 7,5 9,8 4,3 Ind. Extrativa 19 16 3 0,5 0,8 0,2 Ind. Transformação 564 390 174 15,2 18,0 11,3 Eletricidade 10 8 2 0,3 0,4 0,1 Água, esgoto 20 16 4 0,5 0,7 0,3 Construção 310 297 13 8,4 13,7 0,8 Comércio 776 421 355 20,9 19,5 22,9 Transporte 122 105 17 3,3 4,9 1,1 Alojamento, 209 105 104 5,6 4,9 6,7 Informação e comunicação 65 42 23 1,8 2,0 1,5 Ativ. Financeiras 48 21 27 1,3 1,0 1,8 Ativ. Imobiliárias 15 8 7 0,4 0,4 0,4

Ativ. Profissionais e científicas 99 47 51 2,7 2,2 3,3

Ativ. Administrativas 147 84 64 4,0 3,9 4,1

Adm. Pública 140 85 55 3,8 3,9 3,6

Educação 130 39 91 3,5 1,8 5,9

Saúde e Serv. Social 112 28 84 3,0 1,3 5,4

Artes e Cultura 41 26 15 1,1 1,2 1,0

Outras Ativ. Serviços 105 36 69 2,8 1,7 4,5

Serviços Domésticos 238 18 220 6,4 0,8 14,2

Org. Internacionais 0 0 0 0,0 0,0 0,0

Ativ. mal definidas 260 157 103 7,0 7,3 6,7

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Migrantes internos de 16 a 29 anos ocupados, segundo os setores de atividade, total e proporção por sexo - 2010

Setores Total (1000 pessoas) Proporção

Tabela 13

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total 3.708 2.160 1.547 100 58,3 41,7

Membros das forças armadas, policiais

e bombeiros militares 31 28 2 0,8 92,2 7,8

Diretores e gerentes 101 58 43 2,7 57,6 42,4

Profissionais das ciências e intelectuais

275 123 152 7,4 44,8 55,2

Técnicos e profissionais de nível médio

232 143 89 6,3 61,6 38,4

Trabalhadores de apoio administrativo 363 137 226 9,8 37,7 62,3

Trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados

743 305 438 20,0 41,0 59,0

Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da

pesca 123 89 34 3,3 72,3 27,7

Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das artes

mecânicas e outros ofícios 449 402 48 12,1 89,4 10,6

Operadores de instalações e máquinas

e montadores 272 213 60 7,3 78,0 22,0

Ocupações elementares 830 479 351 22,4 57,7 42,3

Ocupações mal definidas 289 183 105 7,8 63,5 36,5

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Migrantes internos de 16 anos ou mais de idade ocupados que moram há menos de 10 anos na Unidade da Federação segundo os grupamentos de ocupação, por sexo - 2010

Ocupações Total (1000 pessoas) Proporção e distribuição percentual

4. Considerações Finais

O presente estudo procurou discutir algumas questões acerca das mudanças no mercado de trabalho brasileiro, tendo como pano de fundo o processo de transição demográfica, o avanço da escolaridade, o aumento da população não economicamente ativa e o papel das migrações no suprimento de mão de obra.

(24)

Essa análise teve como referência conceitual a teoria do mercado de trabalho dual, buscando entender se uma possível escassez de mão de obra poderia restringir-se a setores específicos do mercado de trabalho, para o qual seriam recrutados imigrantes internacionais. Os resultados indicam que não serão os jovens e mulheres os principais responsáveis pela oferta de trabalho no setor secundário, e sim os adultos, migrantes internos, excluídos do progresso educacional.

Verificou-se que essa teoria não se aplica diretamente ao caso brasileiro, devido as particularidades de nosso mercado de trabalho. Embora a escassez de mão de obra nas regiões mais desenvolvidas seja historicamente suprida com a imigração interna, notadamente de pessoas pouco qualificadas, a migração internacional no Brasil tem sido composta, prioritariamente, por uma mão de obra qualificada, que ocupa posições relativamente elevadas na escala profissional.

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