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Projeto Cuco. Transcrição resumida FITA 1 - LADO A

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Academic year: 2021

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Projeto Cuco Entrevista com Gilberto Surjus

Entrevistadores: alunos e professores da Escola Municipal San Izidro e Prof.º Jorge Cernev Data: 07.05.97

Local: Anfiteatro da Supercreche de Londrina, por motivo de reformas no Museu “Pe. Carlos Weiss”

Transcritora: Patrícia Damaceno

Supervisora de Transcrição: Prof.ª Márcia Elisa Teté Ramos Transcrição resumida

FITA 1 - LADO A

Profº Jorge Cernev (entrevistador): A professora Mariana já falou, nós estamos satisfeitos com a vinda de vocês aqui. É um momento muito importante para que a gente possa registrar dentro da história que vocês estudam e vocês vão estudar, sobre o município, sobre Londrina.

1- Ana Paula (aluna): Quais eram os habitantes desta região antes da chegada dos pioneiros? Surjus (entrevistado): Um bom dia para vocês. Queria antes dizer para vocês umas poucas palavras. Quando eu comecei a ter tempo para ir na escola, nós morávamos em Sertanópolis, só tinha uma professora em todo norte do Paraná, D. Cadica, professora particular. Quando nós mudamos para Londrina, nós não tínhamos escola do Governo, estudava-se com professora particular, e eu estava grandão quando inauguraram o “Hugo Simas”. Nós não tínhamos ginásio, esperei 2 anos depois do “grupo” para entrar no Colégio Londrinense. Hoje tem até Universidade. Sobre a chegada dos pioneiros: até Tamarana, e um pouquinho para lá, eram terras mais fáceis para penetração do Índio, que não tinha ferramenta para derrubar a mata, fazer caminhos com facilidade, por isso trabalhavam nos rios e lugares que podiam penetrar. Eles gostavam das regiões de campo, sul do nosso Paraná. Muitos índios vinham pelos rios aqui, somente para caçar e assim não habitavam Londrina. Estavam às beiras do Rio Paranapanema, do Rio Tibagi até o Apucaraninha. São Índios Guaranis, que até hoje estão aí no Apucaraninha. Então, os primeiros habitantes fora os índios.

2- Kelly (aluna): Como foi a reação dos índios com a chegada dos pioneiros em suas terras? Entrevistado: Os índios habitavam mais no rio “Laranjinha”, que ficou histórico, devido às brigas muito violentas mesmo entre os bandeirantes que vinham para cá para derrubar as áreas indígenas, matarem a caça, tirar sua pesca, e os índios. Em Londrina não houve coisas assim. Os índios foram se acostumando com os brancos devagar.

3- Aluna: As pessoas gostavam de assistir as corridas de cavalos? Como eram essas corridas? Havia alguma aposta em dinheiro, ou era só diversão?

Entrevistado: Na Rua Acre houve a primeira corrida de cavalo. Era uma rua aberta pela Companhia de Terra e ali se faziam as corridas. Mas não era coisa para criança. Corriam apostas em dinheiro e às vezes causava briga. Hoje se vocês forem por exemplo no hipódromo de Londrina, é diferente. Antigamente não havia cavalos de raça, o pessoal criava os cavalos em chácaras, sítios e fazendas.

4- Rosana (aluna): O que representa o Museu Histórico para Londrina?

Entrevistado: Eu vou contar primeiro para vocês uma estorinha. Um dos navios mais lindos que existe hoje, é um navio à vela fabricado na América do Norte. O construtor do navio em vez ir só na biblioteca dele, ou talvez na da Universidade, saía para ver nos portos aqueles navios que estavam semi-apodrecidos, velhos, e gostava de encontrar com os capitães dos navios também, a maioria bem velhos, aposentados e conversava com eles. Ele começou então a desenhar o navio “MY FLOWER”, o mais lindo que existe. O que foram esses navios velhos que ele foi ver, e esses capitães que ele foi conversar? Uma espécie de museu. Então o museu existe para isso. O que nós, pioneiros, fizemos de errado e de certo? Como se fez certa atividade? Como poderia ter sido feito de outra forma? O museu dará condições para responder essas perguntas.

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5- Quais eram as diversões que havia nesta época, além das corridas de animais?

Entrevistado: A diversão principal era assistir as matinês. Eram filmes seriados. Uma estória que assistíamos como novela, um pedaço em cada domingo. O filme chegava de trem, que às vezes atrasava, e nós ficávamos esperando o trem, ansiosos para poder acompanhar a estória. E a outra diversão era a leitura de um jornalzinho chamado “Gazetinha”, que trazia as histórias dos heróis cowboys ou heróis do espaço, do Flash Gordon, que também era tipo novela, vinha aos pedaços. E outra diversão nossa era jogar bolinha de gude na rua, que era sem movimento, não era como hoje. Londrina tinha cinco, seis automóveis e algumas charretes.

6- Karem (aluna): O senhor poderia falar alguma coisa sobre a Companhia de Terras do Norte do Paraná? E como foi o desenvolvimento da cidade de Londrina?

Entrevistado: Os Ingleses antes de vir para fundar Londrina, estavam na África, no Sudão. Lá eles fizeram também como aqui, estradas de ferro e tentaram plantar amendoim, mas não deu muito certo. Então conseguiram esta gleba aqui de mata e vieram para cá. Já tinham experiência em abertura de mato, abriram uma estradinha no sertão, e o primeiro agrimensor fazia uma picada. Depois vêm os foiceiros e alargam a picada mais um pouco e vem o pessoal do machado, vão derrubando as árvores maiores, arrancando pelas raízes. Vieram de Jataí, que já tinha caminho aberto, para cá. Na colonização não houve brigas por invasão de terras. Os Ingleses vendiam terra para quem queria comprar. O pessoal entrava com muita dificuldade, abria a clareirazinha na beira do córrego, fazia seu ranchinho de palmito, coberto de tabuinha e dali eles derrubaram um pedacinho de mata para plantar arroz, feijão, milho e depois devagarinho plantando os cafés, o espigão. Foi com isso que surgiu essas cidades de Maringá, Cianorte, Umuarama, enfim, todo Norte do Paraná.

7- Aluno: Era difícil trabalhar na medição de terras junto com seu pai?

Entrevistado: Era. Todo agrimensor tinha cinco, seis ou oito animais arreados. Íamos dentro da mata, no local onde ia fazer a medição, fazia uma por derrubada na beira de um córrego e aí armava as barracas. Tinha o tropeiro, que cuidava dos animais. Os picadores faziam os levantamentos que são caminhos que se abrem beirando os córregos e nos divisores dos córregos, (parte mais alta do terreno entre dois córregos, chama-se “espigão”) aí passava-se o teodolito. Enfim, desenha-se os mapas, corta-se os lotes e o pessoal vai inserindo para fazer as derrubadas.

Cernev: Eles derrubaram muitas árvores?

Entrevistado: O agrimensor nunca derruba uma árvore, só faz sua trilha nos matos, a picada, e usando somente a foice para roçar, desviando das árvores, fazendo as retas de levantamento. Raramente ele derruba uma árvore, só se uma estiver atrapalhando muito. O agrimensor não usa machado, embora o tenhamos no acampamento.

Cernev: A picada é só para “gente” passar?

Entrevistado: Só. A picada é estreita, tem no máximo um metro de largura.

8- Camila (aluna): - Que conselho daria as crianças e aos jovens para que estudassem mais e tivessem mais interesse pela educação?

Entrevistado: Importante é a pesquisa. Por exemplo: “Londrina”, procurar a origem desse nome, quantos habitantes tem, etc. Se procurarem no dicionário, vocês vão achar Londrina lá e vai constar quantos habitantes tem, a que país ou então, a que Estado pertence, etc. Ou “feijão”. procurar a palavra, saber que ele é uma leguminosa, pesquisar o que é leguminosa, ou mesmo ir ao IAPAR, pesquisar mais a fundo sobre o assunto.

9- Débora (aluna): Qual seria o caminho indicado para tentar diminuir a quantidade de menores abandonados em nossa cidade?

Entrevistado: Vocês, que têm a sorte de estar numa escola, bem trajadinhos, vamos pensar em outros coleguinhas que às vezes vivem numa família carente, às vezes precisam trabalhar para sustentar a família. Fica difícil ir à escola. No entanto, alguns gostam de perambular pela rua, pois não querem saber de horários, de responsabilidade. É preciso encaminhar esses meninos para a escola. Estudar é importante para realizar o futuro.

10- Janaina (aluna): Naquela época o custo de vida já era difícil? Porquê ainda continua difícil assim?

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Entrevistado: Eu acho que antigamente o custo de vida também era difícil, e era mais fácil para quem tinha a sorte de arranjar trabalho e tinha perseverança. Só que eu não gosto muito da palavra de “sorte”. Sorte é a gente que faz um pouco. Será que vocês, por exemplo, se tirarem uma boa nota na escola, é só sorte, não é estudo, esforço? É sempre sorte a professora dar uma boa nota para vocês? Tem gente que mesmo não arranjando um emprego, inventam alguma coisa para sobreviver. Antigamente, além do dinheiro, que era pouco, havia também a troca. Por exemplo, uma pessoa que tinha bastante arroz, trocava com o milho que tinha sobrado no vizinho, se o vizinho precisasse de arroz.

11- Nayara (aluna): O que o senhor acha que está faltando em ser implantado na nossa região para melhorar a vida dos trabalhadores?

Entrevistado: Londrina precisa ser auto-suficiente, sem precisar comprar produtos de outros lugares, produzindo tudo que precisa aqui mesmo. Se vocês um dia que vocês forem à feira vão ver que a maioria dos produtos que compramos em Londrina vem de São Paulo. Tem que vir tudo de fora, o que quer dizer gastar com frete, com embalagens, impostos. Londrina tem grande possibilidade de mercado de trabalho, quando vocês forem adultos, esta cidade será ainda maior, com mais habitantes, e as chances de trabalho ainda maiores.

FITA 1 - LADO B

12- Aluno: Na época em que o senhor andava pelo mato fazendo as medições, o senhor também teve aquela febre que matou seu amigo?

Entrevistado: Não. Esse meu amigo, ele era um francês que veio para o Brasil com 15 anos, quando ele morreu (ele está enterrado aqui no cemitério São Pedro), de febre amarela. Essa febre amarela começou aqui em Londrina, veio pessoal até da América do Norte junto com os brasileiros para combaterem essa febre.Esse meu amigo tinha um caminhão e puxava toras de cedro do mato, e deve ter sido lá ou na cidade, que foi picado por um mosquito, de nome latino (talvez Annofeles Gawbyae ou Gambiae). Ele durou pouco tempo, morou numa casa que nós tínhamos na Duque de Caxias, o médico tirou um pedacinho do braço dele depois que ele faleceu, mandou para Ribeirão Preto para examinar e de lá mandaram o material para o Instituto Rockefeler. Essa doença, hoje, no Brasil, está quase desaparecida. Eu tive uma doença também provocada pelo pernilongo que se chama malária. Apanhei malária no Tibagi, no rio Pirapó, outra no rio no Paraná, mas essas tem tratamento. Sempre façam o acampamento no lugar onde tem água corrente, que daí não tem esse mosquito.

13- Aluno: O senhor tem saudade daqueles tempos que vivia andando pelo meio da mata? Entrevistado: Na mata, dentro da barraca, de madrugada, você escuta o barulho dos jacus, macucos os inhambus ou nambus, vocês encontram uma barulheira de passarinho, tem córrego que está cheio de peixes. Quando trabalhava, andando pelas picadas, encontra nas beiras dos córregos capivaras e veados que atravessam as picadas. Tem o mosquito também que é terrível! Os índios passam na pele uma mistura de óleo, com uma planta vermelha que dá umas cápsulas grandes, para ficarem com a pele resistente aos mosquitos. Para nós aqui que somos de origem branca ou negra ou oriental, o sertão castiga demais a gente, porque temos a pele muito fina sem defesa contra o mosquito. De noite eles são piores, até nove e dez horas da noite eles mordem no rosto da gente, nos braços e qualquer lugar que esteja descoberto do corpo. O agrimensor não pode ficar mais de três meses no mato, em 90 dias ele tem que vim para cidade. Fica quinze dias, se alimenta bem, toma algum medicamento, porque os mosquitos sugam o sangue da gente. O sertão é uma maravilha, mas tem os mosquitos.

14- Diego (aluno): Como o senhor se sentiu quando teve que esperar as duas onças atravessarem na estrada?

Entrevistado: Quando nós mudamos de Sertanópolis para Londrina, viemos com dois caminhões (pés-de-bode) e demoramos dois dias para fazer esses 40 km. Hoje fazem essa viagem em meia-hora. Choveu muito e tivemos que pousar no meio da estrada. Duas famílias dentro de uma casinha, de uns quatro metros. Chegamos em Londrina no outro dia à tarde. Na

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(talvez IAPAR) em Londrina chamava-se Fazenda, o caminhãozinho que estava na frente parou e foi aquela gritaria: Onça, onça, onça! E era uma derrubada nova, ainda estava saindo um pouco de fumaça dos paus. O pessoal pegou um revólver e atirou nas onças, mas eles estavam muito longe, e foram pulando aqueles paus queimados e adentraram no mato Isso foi em 34, faz 63 anos.

15- Aluno: O senhor é feliz?

Entrevistado: Quando eu era criança eu levei um tombo e eu perdi um ouvido e uma vista, então eu tive um pouco de dificuldade na escola. Não tinha professora especializada, médicos ou maneira especial de estudar. Os alunos mais bravos ficavam no fundo da sala, e não na frente como hoje. Eu tinha dificuldade para aprender, disso não guardo uma recordação boa. Mas, você veja, eu trabalho com agrimensura, desenho, calculo, e tem muitas pessoas que aí tem uma visão perfeita, uma audição perfeita que às vezes não conseguem.Em agrimensura o milímetro já é grande, e a gente tem que repartir o milímetro para desenhar, e mesmo com visão deficiente desenhei uma boa parte do Norte do Paraná e trabalhei no Paraguai, trabalhei na Bahia, Acre. Então eu acredito que sou uma pessoa realizada, porque eu fiz muita coisa e hoje com 70 anos eu faço. Eu não posso mais desenhar e calcular, mas pego serrote, pá de pedreiro e arrumo algumas casas que alugo, porque gosto de trabalhar. Sou realizado, acho que tive sorte, apesar de não gostar dessa palavra.

16- Aluno: Se considera realizado profissionalmente?

Entrevistado: Eu acho que antecipei um pouquinho e já respondi. Só não sou realizado em termos de escolaridade. Mas aprendi fora da escola. Eu pego o que se chama “teodolito” para medir os ângulos, medidas, distâncias, faço coisas que só engenheiros formados fazem (meu pai, por exemplo estudou em Paris, e me ensinou o que aprendeu). Eu tive grandes engenheiros formados na Itália em Bolonha e foram meus professores de agrimensura, de topografia. Hoje não se fala agrimensor, se fala topógrafo. Eles foram meus professores, então eu tenho que estar realizado, porque tive essa sorte na vida, de encontrar esses homens que me ajudaram.

17- Aluno: Como era a vida naquela época aqui em Londrina?

Entrevistado: Íamos na rua Acre, que era só mato, e brincávamos de estilingue. Íamos mais ou menos na rua Uruguai, hoje rua Brasil, ali também era mata, atrás da Santa Casa ia até a rua Alagoas, até a Av. Higienópolis. Então meus pais não gostavam que a gente mexesse com os passarinhos, caçar, fazer arapucas. Íamos caçar borboletas que vendíamos para um suíço aqui de Londrina, que foi o primeiro que fabricou gelo aqui também.. A borboleta era alfinetada numa caixa de veludo e elas eram mandadas para a Alemanha de modo que até hoje deve existir lá, umas coleções muito bonitas de borboletas caçadas aqui em Londrina. Eu tinha colegas que iam cinco, seis quilômetros de distância estudar no colégio ou nas escolas particulares e eles levavam comida numa latinha de manteiga. As ruas aqui eram tudo cheias de morrinhos assim, mais ou menos um palmo e pouco de altura, fácil para levar tombo. Naquele tempo usávamos um guarda-pó branco., só que levávamos cada tombo na rua, que o guarda-pó ficava sujo. As professoras tinham que relevar. As ruas de Londrina demoraram bastante para calçar, só em 43, ali em frente das Pernambucanas. Ali da Warta, olhando Londrina, era uma nuvem de pó só, a água e a luz eram poucas e não dava para ficar tomando banho. Mas tinha muita amizade, alegria, brincadeira, não eram só coisas ruins.

18 - Aluno: O Sr. tinha esperança de ver Londrina como ela é hoje?

Entrevistado: Quando morávamos em Sertanópolis, sonhávamos em vir para Londrina principalmente pelo sorvete, que lá não existia. Outra coisa que tinha aqui era a estrada de ferro, os trens. Fazíamos sempre uma caminhada para vê-los. Londrina crescerá e chegará a ter 1.500.000 habitantes, o que será bom, mas terá problemas de cidade grande: trânsito, por exemplo. Mas eu gostaria e ver um pouco aquela Londrina antiga, com pássaros cantando, mato. Hoje não tem pássaro nas lavouras, que estão cheia de veneno. Eles vão para a cidade, onde encontram mais facilmente comida e água! Vocês poderiam ter pássaros em casa, colocar farelo na calçada, darem água, limpar o lugar todos os dias para não ter mosquito...

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Entrevistado: O agrimensor trabalha mais no setor da agricultura, mas quanto à cidade, nós cortamos muitas vilas aqui em Londrina, fizemos muito loteamento. Como inicialmente não houve uma previsão de fazer uma cidade para aumentar tanto, então nós ficamos com algumas ruas estreitas, principalmente no centro. Não existe estacionamento no centro. São problemas que exigem soluções caras, mas realizáveis, já que a cidade cresce, enriquece, e a prefeitura cobra mais impostos. Haverá assim, mais viadutos.

20- Aluno: Onde o senhor concluiu o 2º grau? Fez algum curso superior?

Entrevistado: Quando eu terminei o grupo escolar, fiz o 4º ano, então o governo do estado instituiu o 5º ano, então terminamos o 4º ano e depois fizemos o 5º ano. Eu tenho dois diplomas de primário: o da 4ª série e o da 5ª ano. Quando terminamos de estudar, não tinha ginásio para estudar, o único ginásio que tinha era em Jacarezinho ou em Curitiba, aqui em Londrina não tinha, aí surgiu uma escola, a “Escola do Comércio”, onde está o edifício Palácio do Comercial, Palácio do Comércio hoje, no porão, só que não pôde ir para frente, então passaram a escola para o Colégio Londrinense, eu terminei de estudar no Londrinense, mas também não pude tirar o diploma porque a escola não foi aprovada pelo Ministério da Educação. Meus colegas foram para Jacarezinho e tiraram um diploma de madureza de ginásio. Mas eu, por uma questão de dinheiro, de tempo, trabalhava no sertão não pude ir, então eu nunca cheguei a tirar o diploma de ginasial e a não ser depois de adulto, casado e com filhos grandes.

21- Aluno: Havia algum incentivo para que as pessoas viessem para Londrina? Quais?

Entrevistado: O pessoal que vinha para Londrina tinha um incentivo: o café. Vinha gente de Minas Gerais, do estado de São Paulo, de quase todos os outros estados do Brasil que na época, se não me engano eram 21 estados, gente da Europa. para plantar café. Se não me engano veio gente de 57 países, mais da Alemanha, Polônia, Itália, etc. Os ingleses queriam que se plantasse algodão, foi pôr isso que eles fizeram a abertura de Londrina, e no começo se plantou muito algodão, depois o preço caiu, devido à concorrência com o “Fio da Escócia”, e então começaram a plantar café. E por isso o pessoal veio para cá para fazer outras coisas, fazer carroças, ferramentas, vieram plantadores, e para realizar as profissões que existem numa cidade.

22- Aluno: O que é ser pioneiro de uma cidade?

Entrevistado: Eu falei para vocês da pesquisa, se nós formos procurar no dicionário a palavra “pioneiro” o que vocês acham que vamos achar?

FITA 2 - LADO A

...foi uma pessoa que descobriu que aqui tinha uma gleba de terra, cheia de palmitais, de perobais. Uma terra linda para ser trabalhada, de primeira qualidade. O primeiro homem branco que passou aqui em 1926 vindo de Sertanópolis, era um baiano, que abriu a primeira picada que vai dar no Jardim Shangrilá, hoje no posto de gasolina. Agora, o primeiro que abriu a primeira estrada, o primeiro que abriu a primeira rua, o primeiro professor, o primeiro médico e o primeiro engenheiro, enfim, são pioneiros.

23. Aluno: Conte um fato interessante que aconteceu com o senhor na fundação de Londrina? Entrevistado: Um dia quando eu estava atravessando o Fuganti, para ir à escola, eu levei um belíssimo de um tombo lá na frente da loja. Todos que estavam passando deram risada, apesar de não ser uma coisa muito educada.

Cernev: O senhor nasceu onde e quando?

Entrevistado: Eu nasci numa cidadezinha do Estado de São Paulo que é o mais novo município de lá, chama-se (talvez Yaras?). Antigamente se chamava (talvez Núcleo Monção?), era uma colonização de alemães, (talvez italianos), gente toda vinda da Europa. Eu brinco com um companheiro de São Paulo dizendo que tem gente que se orgulha de ser paulista de 400 anos, tem família de 400 anos, e eu sou paulista de 4 meses, porque nasci em julho e viemos para cá no Paraná em novembro. Sou do Estado de São Paulo, mas estou praticamente 70 anos no Paraná.

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Entrevistado: Papai era um velho francês, (talvez Ludovico Gener Surjus), que veio de uma parte da França que hoje está dividida. Uma metade pertence para Espanha e uma metade para França, Ele é da mesma terra do engenheiro que fez as plantas daqui da nossa rodoviária antiga. Minha mãe era bisneta de alemães, meus trisavós vieram da Alemanha para fábrica Aço perto de Sorocaba, depois a fábrica faliu, então venderam tudo e com o tempo acabaram vindo para o norte do Paraná.

Cernev: O nome da esposa e dos filhos?

Entrevistado: A minha mulher chama-se Dorotéia de Carvalho Surjus, e trabalhou 20 anos como professora na pré-escola “O Peixinho”, onde ficou mais na secretaria, e também lecionou na Escola da Vila Nova.

Cernev: Nome dos filhos?

Entrevistado: Meu filho mais velho chama-se René, que sofreu um acidente de pára-quedas e faleceu faz 10 anos. Ele era nascido em Londrina, cursou o Colégio da Vila Nova, depois o Vicente Rijo e fez curso no Canadá e entre 360 rapazes que se apresentavam na Academia Militar de Agulhas Negras, conseguiu passar entre 9 companheiros do Paraná, e de lá saiu tenente e quando morreu era Coronel do Exército, do ramo da Engenharia. Depois tem o Carlos Roberto, que é engenheiro civil, estudou também em Londrina, formou-se na Universidade, hoje ele trabalha com encanamento de água, esgoto, e fez muitos serviços em Londrina e agora está trabalhando em Curitiba, e possivelmente trabalhará em Rolândia. Depois tem a Magali, professora de Psicologia da Universidade, fez todos os estudos em Londrina. Depois tem Fernando e Raquel que são caçulas, que “trancaram”a matrícula na Universidade, estão casados, lutando pela vida, mas possivelmente eles terminarão os estudos na Universidade.

Cernev: Este pessoal que o senhor esta vendo aqui, veio da Gleba do Cambezinho, perto do Parque Arthur Thomas, que naquela época devia ser algum sítio e que hoje já é uma cidade. Talvez eles estejam também vendo essa transformação ali no bairro onde eles estão. Aquilo que o senhor viu na época, eles ainda podem ver um pouquinho no Parque Arthur Thomas: árvores, mato, com seus macacos, seus bichinhos, com a queda d’água, tem a primeira usina ali. O senhor tem algum conselho, algo que o senhor queira ainda dizer para os alunos?

Entrevistado: O que vocês acham se uma equipe de televisão, fosse para o Parque Arthur Thomas filmar os matos, pássaros, matos, etc. E se Universidade trabalhasse lá para preservar melhor o Parque? E se vocês criassem pássaros em casa?.

Cernev: Nós agradecemos ao seu Gilberto, e também a Escola São Isidoro, aos seus alunos, agradecemos a atenção e esperamos que isso sirva para os seus estudos, para aprenderem alguma coisa, a respeito da Londrina antiga e compreenderem a Londrina de hoje e quem sabe aproveitarem para Londrina do futuro.

(sussurros)

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