Plano de Aula
Institui¸c˜ao: Instituto Federal de Educa¸c˜ao, Ciˆencia e Tecnologia da Bahia Professor: Allan de Sousa Soares
Disciplina: Matem´atica Discreta I Conte´udo Pragm´atico: Conjuntos Tema da Aula: Conjuntos
Dura¸c˜ao: 100 min Objetivos:
- Compreender a ideia de conjunto e suas representa¸c˜oes; - Entender a rela¸c˜ao de pertinˆencia;
- Entender a rela¸c˜ao de inclus˜ao;
- Entender o conceito de conjunto das partes de um conjunto; - Entender o conceito de produto cartesiano.
Metodologia:
- Aula Expositiva Participada. Recursos Did´aticos
- Apostila;
- Pincel e quadro branco; - Datashow;
Avalia¸c˜ao: - Observa¸c˜ao;
- Resolu¸c˜ao de exerc´ıcios. Referˆencia Principal:
[1] ROSEN, Kenneth. Discrete Mathematics and its Applications, 7rd, McGRAW-HILL, 2007. Bibliografia:
[2] DAGHLIAN, J. L´ogica e ´algebra de Boole. 4 ed. S˜ao Paulo: Atlas, 1995.
Cap´ıtulo 6
Conjuntos
6.1
Conjunto, Representa¸
c˜
ao e Rela¸
c˜
ao de Pertinˆ
encia
Agora estudaremos a estrutura discreta fundamental sob a qual todas as demais estruturas discretas s˜ao constru´ıdas: o conjunto.
Defini¸c˜ao 1. Um conjunto ´e uma cole¸c˜ao de objetos.
Os elementos de um conjunto costumam ser escritos entre chaves separados por v´ırgulas.
Exemplo 2. Seguem alguns conjuntos:
a) O conjunto V de todas as vogais da l´ıngua portuguesa pode ser escrito como: V = {a, e, i, o, u}. b) O conjunto dos n´umeros inteiros maiores que 2 e menores que 9 pode ser escrito como: A = {3, 4, 5, 6, 7, 8}.
c) O conjunto dos planetas do Sistema Solar atualmente conhecidos pode ser escrito como: P = { Merc´urio, Vˆenus, Terra, Marte, J´upiter, Saturno, Urano e Netuno}
d) Um conjunto cujos elementos n˜ao tem qualquer rela¸c˜ao aparente: B = { 1, a, carro }
A listagem utilizada acima, na qual se explicitam os elementos de um conjunto ´e chamada de representa¸c˜ao tabular de um conjunto.
A ordem na qual os elementos de um conjunto s˜ao listados n˜ao ´e necessariamente importante. Por exemplo, escrever {1, 2, 3} ´e o mesmo que escrever {3, 2, 1}.
Contudo, anotar seguindo um padr˜ao ´e sempre aconselh´avel.
Se um certo elemento x pertence a um conjunto A, escrevemos x ∈ A, do contr´ario, escre-vemos x /∈ A.
Exemplo 3. Considerando o Exemplo 2 temos que i) e ∈ V , ii) b /∈ V , iii) T erra ∈ P , iv) Plut˜ao /∈ P .
Alguns conjuntos importantes para nosso estudo s˜ao os seguintes conjuntos num´ericos:
N = {0, 1, 2, 3, . . .}, o conjunto dos n´umeros naturais.
Z = {. . . − 3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .}, o conjunto dos n´umeros inteiros. Q =
n
p
q|p, q ∈ Z, q 6= 0
o
, o conjunto dos n´umeros racionais.
R, o conjunto dos n´umeros reais
Um + na parte superior direita da letra que representa um conjunto num´erico indica que se consideram os n´umeros n˜ao negativos; analogamente, um − na parte superior direita indica que se consideram somente o n´umeros n˜ao positivos; por fim, um ∗ na parte inferior direita da letra que representa um conjunto num´erico indica que se consideram os n´umeros n˜ao nulos. Por exemplo,
Z+ = {. . . 0, 1, 2, 3, . . .}, Z−= {. . . − 3, −2, −1, 0} e Z∗ = {. . . − 3, −2, −1, 1, 2, 3, . . .}
Uma outra forma de se escrever um certo conjunto ´e da escrevˆe-lo por meio de uma propri-edade que identifique todos os seus elementos.
Exemplo 4. Seguem alguns conjuntos dados no Exemplo 2 listados por meio de uma proprie-dade:
a) V = {x| x ´e vogal da l´ıngua portuguesa} b) P = {x| x ´e planeta do Sistema Solar} c) A = {x ∈ Z|3 < x < 9}
Exemplo 5. Classifique as senten¸cas a seguir em verdadeiras ou falsas. Solu¸c˜ao: a) 1 ∈ N b) 23 ∈ R c) π ∈ Q d) 0, 3333 . . . /∈ Q e) 0 ∈ Z+
∗
a) Verdadeira (trivial). b) Verdadeira (trivial).
c) π /∈ Q, n˜ao existem p, q ∈ Z, q 6= 0 tal que π = pq. Logo, a proposi¸c˜ao ´e falsa. Em particular, π ´e irracional, isto ´e, ´e real mas n˜ao ´e racional.
d) Note que 0, 3333 . . . = 13 e portanto 0, 3333 . . . ∈ Q. Logo, a n˜ao pertinˆencia ´e falsa. e) Note que Z+
∗ = {1, 2, 3, . . .}. Logo, a proposi¸c˜ao ´e falsa.
Defini¸c˜ao 6. Dois conjuntos A e B s˜ao iguais se, e somente se, tˆem os mesmo elementos. Em s´ımbolos, temos:
A = B ⇔ ∀x(x ∈ A ↔ x ∈ B).
Alguns conjuntos s˜ao bastante importantes para o nosso estudo. ∅ o conjunto vazio;
U o conjunto universo.
uma situa¸c˜ao ou um problema h´a sempre um conjunto que deve conter todos os elementos envolvidos, isto ´e, o universo da quest˜ao.
Outros conjuntos importantes s˜ao, os conjuntos unit´arios, isto ´e, aqueles que possuem um s´o elemento; os conjuntos finitos, aqueles que possuem uma quantidade finita de elementos; o conjunto infinito, aqueles que n˜ao s˜ao finitos. Indicamos por n(A) o n´umero de elementos de um conjunto finito A.
Uma outra forma interessante e bastante ilustrativa de se representar um conjunto se d´a pela utiliza¸c˜ao dos chamados diagramas de Venn. Nesta representa¸c˜ao, os elementos pertencentes a um dado conjunto ficam limitados por uma regi˜ao. Os elementos n˜ao pertencentes ficam na parte de fora.
Exemplo 7. A representa¸c˜ao em diagramas de Venn do conjunto V dado no Exemplo 2 ´e a seguinte. Caso o nosso conjunto universo U consistisse de todas as letras do alfabeto da l´ıngua
Figura 6.1: Representa¸c˜ao em Diagramas de Venn Para o Conjunto das Vogais da L´ıngua Portuguesa.
portuguesa esta deveriam ser postas do lado de fora do c´ırculo que representa V mas ainda dentro da regi˜ao retangular que representa U conforme a Figura 7.
Figura 6.2: Representa¸c˜ao em Diagramas de Venn Para o Conjunto das Vogais da L´ıngua Portuguesa.
6.2
Rela¸
c˜
ao de Inclus˜
ao
Defini¸c˜ao 8. O conjunto A ´e um subconjunto de um conjunto B se, e somente se, todo elemento de A for tamb´em um elemento de B. Usamos a nota¸c˜ao A ⊆ B para indicar que A ´e um subconjunto de B. Simbolicamente, temos
A ⊆ B ⇔ ∀x(x ∈ A → x ∈ B).
Se A n˜ao for subconjunto de um conjunto B indicaremos por A * B. Se a inclus˜ao for estrita usamos o s´ımbolo ⊂ ao inv´es de ⊆.
Quando A ´e subconjunto de B tendo em vista a Defini¸c˜ao 8 costumamos dizer que A est´a contido em B ou que B cont´em A (escreve-se B ⊃ A).
Exemplo 9. Classifique as senten¸cas a seguir em verdadeiras ou falsas.
a) {1, 2, 3} ⊂ Z b) {−1, 0, 1} ⊂ N c) 1 ⊂ R d) N ⊂ Z∗ e) Z ⊂ Q f) N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R
g) {Lua} * P , em que P ´e um planeta do Sistema Solar
Solu¸c˜ao: a) Note que todo elemento do conjunto {1, 2, 3} ´e tamb´em inteiro. Logo, a inclus˜ao ´
e verdadeira.
b) Note que −1 ∈ {−1, 0, 1} e −1 /∈ N. Logo, a afirma¸c˜ao ´e falsa. c) Verdadeira (trivial).
d) Note que estamos considerando que 0 ∈ N. Neste caso, temos que 0 ∈ N = {0, 1, 2, 3, . . .} e 0 /∈ Z∗ = {. . . , −2, −1, 1, 2, 3, . . .}. Logo a afirma¸c˜ao ´e falsa.
e) Temos que Q = npq|p, q ∈ Z, q 6= 0
o
. Tomando q = 1 mostramos que Z ⊂ Q. Logo, a afirma¸c˜ao ´e verdadeira.
f) Verdadeira. Raciocine de maneira an´aloga ao item (c). g) A Lua n˜ao ´e um planeta. Logo, a n˜ao inclus˜ao ´e verdadeira.
O teorema que ser´a apresentado a seguir, embora pare¸ca trivial, possui grande importˆancia te´orica.
Teorema 10. Para todo conjunto S, i) ∅ ⊆ S
ii) S ⊆ S
6.3
Conjunto das Partes
Muitos problemas necessitam de saber todas as combina¸c˜oes poss´ıveis de elementos de um dado conjunto na forma¸c˜ao de subconjuntos deste.
Defini¸c˜ao 11. Dado um conjunto S, o conjunto das partes de S ´e o conjunto formado por todos os subconjuntos do conjunto S. O conjunto das partes do conjunto S ´e indicado por P(S).
Exemplo 12. Determine o conjunto das partes dos seguintes conjuntos: a) A = {1} b) B = {1, 2} c) C = {1, 2, 3} d) ∅ e) D = {∅} Solu¸c˜ao: a) P(A) = {∅, {1}}
b) P(B) = {∅, {1}, {2}, {1, 2}}
c) P(C) = {∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {1, 2, 3}} d) P(∅) = {∅}
e) P(D) = {∅, {∅}}. Note que n˜ao ´e o conjunto vazio!
Teorema 13. Se um conjunto S possui n elementos, ent˜ao P(S) possui 2n elementos.
Exemplo 14. Determine o n´umero de subconjuntos de um conjunto A composto por 10 ele-mentos.
Solu¸c˜ao: Temos que n (P(A)) = 2n(A)= 210= 1024. Logo, A tem 1024 subconjuntos.
6.4
Produto Cartesiano
Em muitos casos a ordem dos elementos de uma cole¸c˜ao ´e importante. Neste caso, intro-duziremos o conceito de n−upla ordenada.
Defini¸c˜ao 15. A n−upla ordenada (a1, a2, . . . , an) ´e a cole¸c˜ao ordenada que tem a1 como seu
primeiro elemento, a2 como seu segundo elemento, . . ., e an como seu n−´esimo elemento.
Dizemos que duas n−uplas (a1, a2, . . . , an) e (b1, b2, . . . , bn) s˜ao iguais se, e somente se,
a1 = b1, a2 = b2, . . ., an= bn, isto ´e, ai = bi para todo i = 1, 2, . . . , n.
Muitas estruturas discretas se baseiam no chamado produto cartesiano, as 2−uplas or-denadas comumente chamadas de pares ordenados.
Defini¸c˜ao 16. Sejam A e B dois conjuntos. O produto cartesiano de A por B, indicado por A × B, ´e o conjunto de todos os pares ordenados (a, b), em que a ∈ A e b ∈ B. Em s´ımbolos,
A × B = {(a, b)|a ∈ A ∧ b ∈ B}.
Exemplo 17. Determine os produtos cartesianos A × B e B × A dos conjuntos A = {1, 2, 3} e B = {a, b}.
Solu¸c˜ao: Temos que
Por outro lado,
B × A = {(a, 1), (a, 2), (a, 3), (b, 1), (b, 2), (b, 3)}.
Note que, no Exemplo 17 os produtos cartesianos A × B e B × A s˜ao diferentes. De modo geral, a igualdade A × B = B × A ocorres se, e somente se, A = B.
Teorema 18. Sejam A e B dois conjuntos finitos com n(A) e n(B) elementos respectivamente. O n´umero de elementos do produto cartesiano de A × B, indicado por n(A × B) ´e dado por n(A × B) = n(A) · n(B).
Defini¸c˜ao 19. O produto cartesiano dos conjuntos A1, A2, . . . , An, ´e o conjunto das n−uplas
ordenadas (a1, a2, . . . , an) em que cada aipertence a um Aipara i = 1, 2, . . . , n. Simbolicamente,
A1× A2× · · · × An = {(a1, a2, . . . , an)|ai ∈ Ai, para i = 1, 2, . . . , an}.
Exemplo 20. Determine o produto cartesiano de A × B × C em que A = {0, 1}, B = {1, 2} e C = {−1, 0, 1}.
solu¸c˜ao: Temos que
A × B × C = {(0, 1, −1), (0, 1, 0), (0, 1, 1), (0, 2, −1), (0, 2, 0), (0, 2, 1), (1, 1, −1), (1, 1, 0), (1, 1, 1), (1, 2, −1), (1, 2, 0), (1, 2, 1)}.
6.5
Exerc´ıcios
Exerc´ıcio 1. Represente os conjuntos a seguir na forma tabular:
a) {x ∈ N|3 ≤ x < 10} b) {x ∈ R|x2 = 9} c) {x ∈ Z|2x2− x − 1 = 0}
Exerc´ıcio 2. Classifique como V ou F cada uma das afirma¸c˜oes a seguir:
a) {3} ⊂ {1, 2, 3} b) {2, 3, 1} ⊂ {1, 2, 3} c) 2 ⊂ {1, 2} d) 2 ∈ {1, 2} e) {2, 3, 4} * 1, 2, 3, 4 f) ∅ ⊂ {1, 2} g) ∅ ∈ {1, 2} h) {3, 5, 2} ⊃ {3, 5}
Exerc´ıcio 3. Dados os conjuntos A = {a, b, c}, B = {d, e} e C = {f, g, h, }, de quantas maneiras diferentes podemos escolher um elemento de A, um de B e um de C?
Exerc´ıcio 4. Classifique em V ou F cada uma das afirma¸c˜oes sobre o conjunto A = {1, 2} e seu conjunto das partes P(A):
a) {1} ∈ P(A) b) 1 ∈ A c) 1 ∈ P(A) d) {1} ⊂ P(A) e) {{1}} ⊂ P(A) f) {1, 2} ∈ A g) {1, 2} ∈ P(A) h) {{1, 2}} ∈ P(A) i) A ∈ P(A) j) ∅ ∈ P(A) k) ∅ ⊂ P(A)
Exerc´ıcio 5. Se um conjunto A possui dois elementos, qual o n´umero de elemento do conjunto das partes das partes de A, isto ´e, n(P(P(A)))?
Exerc´ıcio 6. Em um programa de TV um espectador participa de um jogo onde deve res-ponder a cinco perguntas. As perguntas, por apresentarem dificuldades em n´ıveis diferentes, correspondem a prˆemios diferentes: um rel´ogio, um r´adio, um fog˜ao, um televisor e uma gela-deira. Para cada resposta certa, o espectador ganha o prˆemio correspondente `a pergunta. De quantas maneiras diferentes pode ser premiado (ou n˜ao) esse espectador?
6.6
Respostas dos Exerc´ıcios
Resposta do Exerc´ıcio 1. a) {3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}, b) {−3, 3}, c) {1} Resposta do Exerc´ıcio 2. a) V , b) V , c) F , d) V , e) F , f) V , g) F , h) V Resposta do Exerc´ıcio 3. 24. Resposta do Exerc´ıcio 4. a) V , b) V , c) F , d) F , e) V , f) F , g) V , h) F , i) V , j) V , k) V Resposta do Exerc´ıcio 5. 16 Resposta do Exerc´ıcio 6. 32