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Normas sociais e expressões do racismo em crianças

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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social. KHALIL DA COSTA SILVA. NORMAS SOCIAIS E EXPRESSÕES DO RACISMO EM CRIANÇAS. São Cristóvão – Sergipe 2013.

(2) 2. NORMAS SOCIAIS E EXPRESSÕES DO RACISMO EM CRIANÇAS. Dissertação Apresentada ao Programa de PósGraduação em Psicologia Social do Centro de Ciências de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia Social.. Orientadora: Profª.Drª. Dalila Xavier de França. São Cristóvão – Sergipe 2014.

(3) 3. COMISSÃO JULGADORA. Dissertação do Discente KHALIL DA COSTA SILVA, intitulada NORMAS SOCIAIS E EXPRESSÕES DO RACISMO EM CRIANÇAS defendida e aprovada em 21/08/2014, pela Banca Examinadora constituída pelos Professores Doutores:. _______________________________________________________ Profª. Drª. Dalila Xavier de França. ________________________________________________________ Prof.Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima. ________________________________________________________ Profª. Drª. Ana Raquel Rosa Torres.

(4) 4. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família, a qual amo muito, pelo carinho e incentivo que me ofereceram para que me dedicasse a este projeto. Agradeço, em especial, aos meus pais, pela atenção, afeto e apoio aos caminhos que decidi construir. À professora Dalila, pela colaboração, paciência e conhecimentos transmitidos desde a iniciação científica. Ao grupo de pesquisa “socialização do preconceito em crianças”, em especial a Iraí e Ananda pela disponibilidade em colaborar com a execução desta pesquisa. Ao professor Marcus Eugênio, por mais uma vez ter aceitado avaliar este trabalho e pelas contribuições já oferecidas e à professora Ana Raquel, por aceitar fazer parte desta banca. Aos colegas de mestrado, Cláudia, Flor, Vanessa e Thiago, pela companhia agradável, pelos momentos de risada e pelas angústias e esperanças que compartilhamos. A todas as escolas que permitiram que minha pesquisa fosse desenvolvida. Um agradecimento especial para cada uma das crianças que participaram deste estudo..

(5) 5. RESUMO O presente trabalho teve como objetivo verificar o impacto da norma social antirracismo sobre a expressão das atitudes raciais das crianças. O racismo, embora condenado nas sociedades democráticas, tem sido verificado nos estudos realizados no âmbito das relações intergrupais. Pesquisas realizadas com adultos apontam que, em consonância com a norma antirracismo, os indivíduos inibem a expressão do racismo a nível explícito, contudo há evidências de que o preconceito e a discriminação racial persistem, sendo expressos de formas indiretas e sutis. Participaram do estudo 72 crianças brancas (43 meninos e 29 meninas), que foram distribuídas em três diferentes grupos em função da idade: 6-7anos, 8-10 anos e 11-12 anos. Foram verificadas as atitudes destas crianças diante dos grupos branco e negro e os parâmetros normativos que elas percebem nos adultos, nos amigos e nelas mesmas para interagir com estes grupos. As atitudes foram analisadas a partir de três instrumentos: uma escala de atitudes raciais-MRA, uma medida de distância social e um procedimento experimental no qual o impacto da norma antirracismo sobre o comportamento da criança foi manipulado pelas condições de presença/ausência de uma entrevistadora negra. Análises de contingência indicaram que os três grupos etários estudados reconhecem a presença da norma antirracismo, contudo reagem de forma distinta à presença da mesma. Uma análise de variância entre a idade das crianças e os escores obtidos na escala MRA revelou que as crianças entre 6 e 7 anos apresentam níveis elevados de preconceito explícito em comparação com os demais grupos. Em contraste, as crianças com mais de 8 anos de idade apresentam baixos níveis de preconceito explícito e níveis mais expressivos de atitude antirracismo. Comparações planejadas, entretanto, indicaram a presença de racismo sutil. Embora não avaliem o exogrupo (negros) de forma negativa, as crianças permanecem avaliando o endogrupo (brancos) de forma positiva. Os dados obtidos a partir da medida de distância social indicaram, após uma análise de contingência, maior sensibilidade à norma antirracismo nas crianças mais velhas. Entre 6 e 7 anos de idade, as crianças manifestam rejeição ao negro, entre 8 e 10 anos de idade elas apenas rejeitam o negro nas situações que envolvem maior grau de intimidade. Após os 10 anos, entretanto, há expressão de favoritismo pelo negro. Quanto ao procedimento experimental, análises de variância não revelaram efeito significativo da manipulação da norma, contudo foram verificados efeitos de interação entre idade da criança e do alvo de escolha (branco/negro), indicando níveis mais elevados de discriminação racial contra os negros os 6 e 10 anos e inibição do racismo após esta idade. Os resultados encontrados corroboram as considerações teóricas sobre as novas formas de expressão do racismo e sobre o desenvolvimento sócio-cognitivo da criança e revelam que a inibição de suas formas explícitas, verificada nos adultos, começa a emergir na média infância. Palavras chave: normas sociais; racismo; crianças..

(6) 6. ABSTRACT This study has as its objective to determine the impact of antiracism social norm about the expression of children‟s racial attitudes. Although, Racism is convicted in democratic societies, it has been verified in studies conducted in the context of intergroup relations. Researches conducted with adults have indicate that, in line with the anti-racism norm, individuals inhibit expression of Racism at the explicit level, however there is evidence that prejudice and racial discrimination persist, being expressed in indirect and subtle ways. 72 White children (43 boys and 29 girls) participated in this research, which were distributed among three different groups according to age: 6-7years, 8-10 years and 11-12 years. Attitudes of these children towards the White and Black groups and normative parameters that they verify in adults, friends and in themselves to interact with these groups were observed. Racial attitudes were analyzed by three measures: a scale of racial attitudes-MRA, a measure of social distance and an experimental procedure in which the impact of the anti-racism norm on the child's behavior was manipulated by conditions of presence / absence of a Black interviewer. Contingency analysis indicated that all three groups studied here recognize the presence of antiracism norm, however they react differently to the presence of this norm. An analysis of variance between age of children and the scores obtained on the scale MRA revealed that children between 6 and 7 years old show elevated levels of explicit prejudice in comparison with the other groups. In contrast, children over 8 years of age have low levels of explicit prejudice and more significant levels of anti-racism attitude. Planned comparisons, however, indicated the presence of subtle racism. Although the children didn‟t evaluate the outgroup (Black) in a negative way, children remain evaluating the ingroup (White) positively. The data obtained from the measurement of social distance indicated, after a contingency analysis, greater sensitivity to anti-racism norm in older children. Between 6 and 7 years of age, children manifest rejection of Black, between 8 and 10 years old they just reject the Black in situations which involve higher degree of intimacy. After 10 years, however, there is expression of favoritism to Black. Regarding the experimental procedure, analysis of variance revealed no significant effect of the manipulation of the social norm, but there were effects of interaction between the child's age and the target of choice (White / Black). This analysis indicated higher levels of racial discrimination against Blacks between children aged 6 to 10 years old and inhibition of racism among participants over the age of 10. Results confirm the theoretical considerations about new forms of expression of racism and the socio-cognitive development and show that the inhibition of explicit forms of racial prejudice and discrimination observed in adults, begins to emerge in childhood average. Key-words: social norms; racism, children..

(7) 7. SUMÁRIO. RESUMO..........................................................................................................................5 ABSTRACT......................................................................................................................6. INTRODUÇÃO...............................................................................................................9. CAPÍTULO I: NORMAS SOCIAIS E RACISMO....................................................14 1.1- O conceito de normas sociais.....................................................................14 1.2-Origem, classificação e processos de influência das normas sociais..........18 1.3-Definição de racismo...................................................................................28 1.4-Definição de preconceito.............................................................................32 CAPÍTULO II: NORMA ANTIRRACISMO E NOVOS RACISMOS...................37 2.1-Norma social antirracismo..........................................................................37 2.2-Normas sociais e novos racismos................................................................42 CAPÍTULO III: RACISMO E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO...................50 3.1- Socialização de crianças.............................................................................50 3.2- A estratificação social e o desenvolvimento de atitudes raciais................55 3.3- Modelo sócio-cognitivo das atitudes intergrupais na criança....................62 CAPÍTULO IV: ABORDAGEM SÓCIO-NORMATIVA DAS ATITUDES RACIAIS NA INFÂNCIA.............................................................................................68 4.1-Modelo do domínio social...........................................................................76 4.2-Teoria da mente e modelo do desenvolvimento das dinâmicas de grupo subjetivas...........................................................................................................80 4.3-Normas sociais e controle do preconceito racial em crianças.....................85 CAPÍTULO V: ASPECTOS METODOLÓGICOS...................................................90 5.1-Problema da pesquisa..................................................................................90 5.2-Objetivo geral..............................................................................................90 5.3-Objetivos específicos..................................................................................91 5.4-Hipóteses.....................................................................................................92 5.5-Participantes................................................................................................97 5.6-Procedimentos e instrumentos....................................................................98.

(8) 8 5.7-Delineamento da pesquisa experimental...................................................102 5.8-Procedimentos para análise de dados........................................................102 CAPÍTULO VI: RESULTADOS...............................................................................105 6.1-- Análise dos parâmetros normativos que as crianças percebem nos adultos, amigos e nelas mesmas para interagir com os grupos branco e negro............105 6.2- Análise das atitudes raciais explícitas a partir dos escores na escala MRA................................................................................................................113 6.3-- Análise do preconceito racial explícito a partir de uma medida de distância social.................................................................................................119 6.4- Analisando o impacto da norma antirracismo sobre a expressão do preconceito......................................................................................................124 CAPÍTULO VII: DISCUSSÃO.................................................................................128 CAPÍTULO VIII: CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................143 REFERÊNCIAS..........................................................................................................150 ANEXOS......................................................................................................................162.

(9) 9. INTRODUÇÃO. O preconceito e o racismo são temas que mobilizam sentimentos ambíguos quando colocados em evidência. Por um lado, causam repulsa ou aversão ao serem abordados nas conversações cotidianas, posto que se encontram relacionados a episódios desagradáveis de nossa história, tais como a escravidão dos negros no Brasil, o holocausto dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial e aos recorrentes episódios de discriminação que imigrantes latino-americanos sofrem nos EUA e na Europa, entre tantas outras situações que vão de encontro aos princípios de igualdade e respeito às diferenças que são sustentados nas sociedades democráticas atuais. A ocorrência de tais situações leva os cientistas sociais a questionarem quanto à origem do preconceito e do racismo, suas motivações subjacentes e às consequências que geram sobre aqueles que são vítimas destes fenômenos. O estudo desses temas vincula-se a uma problemática fundamental na sociedade contemporânea: como se dá a diferenciação entre as pessoas e de que maneira a natureza e a cultura são capazes de influenciar este processo de diferenciação. Mais especificamente, estas temáticas demandam um olhar mais atento para a maneira em que tais diferenciações implicam na manifestação de comportamentos discriminatórios, na exclusão social e na expressão de sentimentos negativos frente a determinados grupos a exemplo dos negros, índios, ciganos, judeus, homossexuais entre outros, os quais, em diferentes contextos, sofrem das consequências mais perversas ocasionadas pelo preconceito. Pode-se considerar que o preconceito é um dos aspectos presentes nos mecanismos de exclusão social e legitimação da desigualdade. Comumente associada à ideia de preconceito encontra-se a discriminação. Esta última traduz-se como a.

(10) 10 manifestação comportamental do preconceito, consistindo em ações que envolvem um tratamento diferencial negativo frente a determinadas pessoas, gerando relações de segregação e desigualdades (Guimarães, 2004). Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, a sociedade passou a se posicionar de forma crítica quanto às consequências negativas que o preconceito tende a produzir sobre as relações sociais, emergindo então uma série de preocupações relacionadas aos Direitos Humanos e à garantia de tratamento igualitário entre as pessoas, tal como pode ser verificado a partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem, publicada pela UNESCO em 1948, a qual em dois de seus artigos (art. II e art. XVI) abolia restrições de raça como forma de garantia a estes direitos. Desde então, tem-se desenvolvido uma norma social anti-preconceito, posto que as atitudes preconceituosas vêm sofrendo uma série de sanções, tanto morais como legais, e, por conseguinte, suas manifestações são publicamente condenadas. Estas normas sociais que proíbem a expressão do preconceito interferem sobre as manifestações do mesmo. Uma vez conscientes de que atitudes preconceituosas são alvo de recriminação, as pessoas passam a expressá-las de forma menos direta ou flagrante, algo que não acontecia em outros contextos históricos. Ao longo de quarenta anos, enquetes de opinião pública têm revelado um decréscimo de manifestações abertamente preconceituosas dos brancos diante dos grupos minoritários, em especial dos negros (Pearson, Dovidio & Gaertner, 2009). Nesse sentido, pode-se distinguir entre duas formas de racismo, o flagrante e preconceito sutil (Meertens & Pettigrew, 1999), enquanto o primeiro caracteriza-se por formas de expressão do preconceito mais diretas e tradicionalmente verificadas nas pesquisas, este último sugere que a discriminação contra grupos minoritários não desapareceu em nossa sociedade, porém adquiriu novas formas de expressão em.

(11) 11 consonância com as normas e valores igualitários difundidos na atualidade, tornando-se mais implícito e discreto. Nesse contexto social, em que as legislações antirracismo e a defesa dos princípios de igualdade e justiça interagem como pressões para coibir a expressão do preconceito e do racismo nas sociedades democráticas, os pesquisadores deparam-se com o desafio de elaborar novas teorias e procedimentos capazes de analisar formas mais indiretas e sutis da manifestação desse fenômeno. Diante desse quadro, ressaltamos a importância do estudo das normas sociais para compreender como estas têm atuado sobre as diferentes formas de manifestação do preconceito. Desde os trabalhos desenvolvidos por Muzafer Sherif, nas décadas de 1930 a 1960, o estudo sobre normas sociais têm enfatizado que nossas escolhas e convicções pessoais são suscetíveis às influências do grupo social. De tal maneira, a articulação entre o preconceito e as normas sociais tende a contribuir para elucidar como suas manifestações comportamentais são suscetíveis à influência do contexto de relações no qual os atores sociais podem estar inseridos, bem como podemos verificar quais normas sociais estão associadas às formas de expressão mais abertas ou implícitas das atitudes preconceituosas. Por ser um fenômeno complexo, o racismo é comumente associado aos adultos. Contrariando essa crença comum, a investigação empírica indica que as manifestações de preconceito e racismo também se fazem presentes nas interações sociais das crianças, as quais, por volta dos três anos de idade mostram-se capazes analisar diferenças intergrupais e reproduzir atitudes preconceituosas para com minorias raciais, ainda que de forma rudimentar em comparação com os adultos (Aboud, 1988; França & Monteiro, 2013; Katz, 1976; Milner, 1983; Nesdale, 2004)..

(12) 12 Apesar de existirem evidências quanto ao desenvolvimento de atitudes raciais, grande parte dessas pesquisas realizadas decorre da abordagem sócio-cognitiva do desenvolvimento (Aboud, 1988; Doyle & Aboud, 1995), a qual analisa a expressão do preconceito racial nas crianças como reflexo de suas estruturas cognitivas, bem como compreende que, após os 7 anos de idade, em função da aquisição de novas competências cognitivas, as crianças apresentariam níveis menos elevados de preconceito. O modelo sócio-cognitivo permitiu que o estudo das atitudes raciais nas crianças fosse desenvolvido considerando as características e motivações de diferentes estágios do desenvolvimento infantil, entretanto pouco foi enfatizado quanto à influência que as pressões normativas podem exercer na expressão do racismo em crianças, tal como tem sido abordado nas pesquisas com adultos. Não obstante, estudos mais recentes sobre o desenvolvimento infantil sinalizam a importância dos fatores sócio-normativos sobre a conduta da criança. Estes estudos destacam o papel ativo da criança para estabelecer suas relações sociais, selecionar e influenciar pares (Grusec & Hastings, 2008). Nesse âmbito, essas pesquisas também apontam que as crianças, tal como os adultos, são capazes de controlar a manifestação de suas atitudes em função de normas sociais, uma vez que revelam capacidade de avaliar regras e convenções que regem suas relações com os demais (Killen & Rutland, 2011). Com base nestas considerações, este estudo tem como objetivo analisar o impacto que as normas sociais tende a exercer sobre racismo de crianças na faixa etária dos 6 aos 12 anos. A realização desse estudo justifica-se pela necessidade de elucidar a influência das normas sociais sobre os aspectos do desenvolvimento, manutenção e manifestação do racismo na infância. Compreendemos que intervenções capazes de reduzir a expressão do preconceito racial e a promoção de relações intergrupais.

(13) 13 positivas só serão eficazes na medida em que seja possível elucidar os fatores e processos que estão associados ao racismo. Este trabalho foi estruturado em oito capítulos. Os quatro primeiros referem-se ao marco teórico-conceitual do estudo. Inicialmente, o capítulo 1 apresenta as principais definições acerca das normas sociais, do racimo e do preconceito, conceitos centrais na execução desta pesquisa. No capítulo 2, são apresentados estudos que revelam a relação entre normas sociais e as expressões do racismo na atualidade. Em seguida, no capítulo 3, é analisado como as crianças, durante o processo de socialização, assimilam atitudes preconceituosas a partir das principais teorias sobre o desenvolvimento das atitudes raciais em crianças. No quarto capítulo, encontram-se alguns estudos que mostram como as crianças se tornam sensíveis às normas sociais e como estas interferem sobre a manifestação das atitudes intergrupais. Os aspectos metodológicos da pesquisa são apresentados no capítulo 5. Os resultados estão expostos no capítulo 6. Por fim, os capítulos 7 e 8 tratam, respectivamente, da discussão e das considerações finais..

(14) 14. CAPÍTULO I NORMAS SOCIAIS E RACISMO. 1.1- O conceito de normas sociais.. A pesquisa sobre preconceito na Psicologia Social podem ser organizadas em três grandes áreas: dinâmicas cognitivas, personalidade e normas sociais (Crandall, Eshleman & O‟Brien, 2002). As duas primeiras áreas têm recebido maior destaque até então e correspondem aos níveis de análise intraindividual e interpessoal, a área das normas sociais combina, primordialmente, os níveis de análise posicional, grupal e societal (Doise, 1980; Pepitone, 1976). A pesquisa sobre normas sociais situa-se entre dois polos distintos de investigação da Psicologia Social. Por um lado, encontra-se a ênfase nos aspectos microssociais, a exemplo das interações entre pequenos grupos ou entre indivíduos, por outro, a necessidade de compreender os processos de ordem macrossocial, tais como as interações reais ou simbólicas entre os grupos sociais, este último enfoque passou a receber maior ênfase na investigação, a partir dos crescentes movimentos sociais que ocorreram na Europa e nos Estados Unidos no final dos anos 60 e início da década de 70 (Amâncio, 2004). O estudo das normas remete ao impacto que as interações sociais podem exercer sobre nossas escolhas e convicções pessoais, sendo assim um dos mais importantes conceitos para articular processos psicológicos com fenômenos sociais. Dentre os primeiros estudos realizados sobre normas na Psicologia Social, ressaltam-se as pesquisas de Sherif (1966). Seus trabalhos, realizados entre as décadas de 1930 e 1950, resultaram de esforços teóricos e metodológicos para o estabelecimento de vínculos entre os estudos da Psicologia Experimental, realizados em laboratórios,.

(15) 15 com os métodos e teorias desenvolvidos nas áreas da sociologia e da antropologia cultural. A pesquisa de Muzafer Sherif posicionou-se de forma contrária à dicotomia existente, na produção científica da época, entre as Psicologias Individual e Social, pois considerava que a concepção do indivíduo e da sociedade como elementos antagônicos não era capaz de fornecer respostas adequadas para compreender a formação e a função das normas sociais. Em seu esforço para encontrar as bases psicológicas das normas sociais, Sherif (1966) criticou a produção realizada pela Psicologia Experimental de sua época, enfatizando que os pesquisadores desta área ao mesmo tempo em que encontravam sustentação empírica para construtos como a percepção, a memória e as atitudes, não consideravam que tais fenômenos são suscetíveis a variações culturais e, por conseguinte, não eram capazes de associar os achados do laboratório com aspectos da vida social cotidiana. O autor argumentava que tal falha metodológica devia-se ao fato dos trabalhos de Psicologia Experimental, até então realizados, não se reportarem às teorias elaboradas por sociólogos e antropólogos. Tomando como base os estudos e conceitos elaborados no que, em sua época, denominou de Psicologia Individual (p. ex., percepção, memória, afetividade), Sherif (1966) visava encontrar, pelo uso do método experimental, princípios gerais da psicologia do indivíduo que fossem capazes de fornecer a base para a compreensão dos fenômenos de grupo, articulando assim os campos do indivíduo e da sociedade. Para tanto, sua pesquisa experimental sobre a formação social das normas partiu do princípio de que os processos de elaboração de julgamentos forneceriam a base da compreensão dos fenômenos de grupo. De tal modo, elaborou um procedimento experimental fazendo uso do fenômeno autocinético1 com o objetivo de verificar como os indivíduos, ao.

(16) 16 serem colocados em situações de incerteza, elaboram padrões de julgamento (normas) que lhe permitam estabilizar sua situação. Diante desta problemática, a pesquisa delineada pelo referido autor criou duas condições experimentais: uma condição em que o sujeito permaneceria sozinho, sem a influência de outros fatores sociais além da presença do experimentador e, uma outra condição na qual os sujeitos eram colocados em um situação de grupo, podendo o indivíduo ser inserido no grupo, após experimentar o efeito autocinético sozinho, ou passar pelo processo de experimentação na condição de grupo, para depois ter que emitir julgamentos individualmente. O resultado mais relevante de tal pesquisa evidencia que em situações de instabilidade, onde não existem critérios objetivos para que possamos elaborar nossos julgamentos, os indivíduos tendem a construir critérios ou padrões de referência em comum, sendo que as normas estabelecidas pelo grupo permanecem mais estáveis do que os critérios de julgamento elaborados individualmente. A definição de normas sociais trazida por Sherif (1966) caracteriza as mesmas como regras explícitas ou implícitas que descrevem e prescrevem um padrão de comportamento apropriado ou desejável para os membros de um determinado grupo, sendo estruturadas através dos valores sociais. Na perspectiva proposta por este autor, as normas são verificadas enquanto “costumes, tradições, modelos, regras, valores, modas e qualquer outro critério de conduta que seja padronizado em consequência do contato dos indivíduos”. Tal como evidenciado em seus estudos experimentais, uma vez que estes padrões de referência tenham sido estabelecidos e incorporados ao indivíduo, eles 1. De acordo com Garcia-Marques (2000) este fenômeno foi primeiramente observado na astronomia e consiste num fenômeno perceptível de fácil reprodução, no qual um indivíduo ao ser colocado numa sala escura tendo que observar, durante determinado intervalo de tempo, um ponto de luz imóvel, terá a falsa impressão de que o ponto de luz está a se locomover no espaço. Esta situação foi escolhida por Sherif, justamente por apresentar ambiguidade e por não existirem referências externas para se estabelecerem julgamentos suficientemente precisos..

(17) 17 atuam como fatores importantes para determinar ou modificar as reações dos mesmos em outros contextos, em especial, naqueles em que o campo de estimulação não se encontra bem estruturado. A definição de normas sociais parte do princípio de que todos os grupos humanos possuem regras que regulam o lugar do indivíduo em suas atividades e um conjunto de produtos culturais, que constituem uma complexa estrutura social. Considerando a relação entre o indivíduo e a estrutura social, Jesuíno (2004) salienta que as normas são apreendidas e constituem-se como um dos mais importantes mecanismos de controle social do comportamento dos indivíduos, o mesmo autor sustenta que as normas são as expectativas que os membros têm sobre o que deve e o que não deve ser permitido a determinado membro de um grupo e em circunstâncias específicas. As normas sociais atuam, portanto, como mecanismos reguladores da vida social e são um fenômeno de ordem intergrupal e societal com repercussão sobre nossas ações e julgamentos (Dubois, 2003). O estudo das normas sociais, ao passo que busca compreender os diferentes padrões de conduta, parte da premissa de que os indivíduos encontram-se vinculados a uma coletividade que prescreve ou fornece padrões de comportamento considerados como mais adequados ou favoráveis. Para desenvolver uma pesquisa sobre normas sociais, faz-se necessário que se tenha clareza conceitual quanto sua definição, suas origens, tipologia e relação com o comportamento e atitudes. Nesse sentido, apresentaremos quais são os tipos de normas sociais e de que maneira estas podem interferir sobre a conduta dos indivíduos..

(18) 18 1.2- Origem, classificação e processos de influência das normas sociais. Uma das explicações mais comuns para a origem e manutenção das normas sociais considera que as normas são uma forma de coação voltada para o bem-estar comum ou uma espécie de relação social que é capaz de garantir a sobrevivência do indivíduo e da sociedade, maximizando benefícios e evitando custos. De tal maneira, as normas surgiriam e permaneceriam por serem funcionais, garantindo a manutenção da vida coletiva (Dols, 2012). Partindo desse viés funcionalista, Alisson (1992) aponta que as normas teriam como principal função facilitar que objetivos dos grupos sejam alcançados, balanceando metas egoístas dos indivíduos, guiando-os pela necessidade do controle social e da sobrevivência coletiva. Embora seja comum a ideia de que a norma atua como um elemento funcional da vida coletiva, essa ideia é facilmente questionada ao se reportar o estudo clássico de Sherif sobre o efeito autocinético, no qual os padrões de julgamento, elaborados pelos participantes ao longo da realização da pesquisa, não tinham qualquer critério objetivo que os validasse a não ser o fato de terem sido produzidos por influência coletiva. Ainda assim, não se vislumbra de imediato qualquer funcionalidade na criação desses julgamentos. A pretensa funcionalidade das normas sociais é questionada por Dols (2012), o qual expõe que as normas possuem origem arbitrária e surgem dos mecanismos de imitação e do estabelecimento de práticas regulares e uniformes, sem que haja um consenso coletivo sobre seus benefícios. O autor apresenta quatro fenômenos que justificam a funcionalidade das normas, sem de fato chegar a uma funcionalidade objetiva. Primeiramente, a funcionalidade não se refere à norma em si, mas à conduta obediente, posto que não obedecer a uma norma acarreta em sanções. Em segundo lugar, a pretensa funcionalidade pode ser uma justificação posterior, pois quando se.

(19) 19 racionaliza ou justifica uma determinada norma, é sempre possível encontrar uma funcionalidade. Além disso, um padrão regular de conduta pode ter uma ou várias funções sociais, pois torna a conduta previsível. Por fim, ressalta que apesar da origem das normas ser arbitrária, elas não são caprichosas, pois sua arbitrariedade é limitada por valores ou instituições morais dos indivíduos que as sustentam. Embora os estudos já realizados por Sherif (1966) tenham fornecido evidências acerca de como uma convicção elaborada coletivamente venha a interferir na manifestação de julgamentos individuais a serem realizados posteriormente, cabe salientar que não existe consenso tanto no tocante à definição e tampouco quanto à influência das normas sobre aos diferentes padrões de comportamento. Quanto a este aspecto, Torres e Rodrigues (2011) apontam que há uma vasta discussão acerca do poder preditivo e explicativo das normas sociais sobre o comportamento humano, bem como quanto a sua estrutura e definição, pois consideram que o conceito de normas sociais é vago, difícil de ser operacionalizado e, por conseguinte, inadequado para verificação empírica. Em contrapartida, também existem autores (Cialdini, Reno & Kallgren, 1990; Lapinski & Rimal, 2005) que defendem que as normas são um conceito central para a compreensão do comportamento social, em especial quanto à sua capacidade de predizer condutas e intenções. Não seria possível especificar a relação entre a influência normativa e o comportamento sem que antes fossem definidos quais os tipos de normas que podem estar associados com a manifestação de nossas ações. Acerca da tipologia das normas sociais, Dols (2012) critica a distinção clássica entre normas formais, isto é aquelas que possuem sanções formais e são explicitamente codificadas, tais como a legislação de um país, e as normas informais, que não são explícitas, embora possam estabelecer proibições, a exemplo das normas de etiqueta. O autor argumenta que a diferenciação.

(20) 20 entre normas formais e informais impediu que os psicólogos investigassem a fundo o papel das normas formais, as quais só eram estudadas em situações de transgressão. Para tanto, Dols propõe uma tipologia alternativa em que não se aborde a norma social como algo que o indivíduo integra ao seu comportamento, podendo obedecê-la ou transgredi-la. Partindo do princípio de que em toda sociedade há um imperativo normativo, no sentido de que as normas fazem-se presentes independentemente dos custos ou benefícios que podem trazer, apresenta um modelo que atende ao modo como a norma atua sobre condutas ou ações do indivíduo. Para tanto, classifica as normas em explícitas e implícitas. As primeiras, de caráter mais imperativo, consistem em obrigações e proibições, enquanto que as segundas são caracterizadas como esquemas cognitivos partilhados que geram expectativas sobre o significado social das condutas, sendo um conceito mais próximo ao da terminologia de Sherif. Outras tipologias procuram analisar a relação entre norma e conduta social a partir da percepção que os sujeitos fazem acerca dos padrões de conduta existentes. Quanto a este aspecto, Lanpinski e Rimal (2005) distinguem entre normas que existem a nível coletivo e as normas percebidas, sendo que estas últimas corresponderiam às normas elaboradas a partir da compreensão das pessoas quanto aos padrões de conduta existentes. No nível coletivo, as normas representariam códigos predominantes de conduta que tanto prescreveriam como proibiriam comportamentos que os membros do grupo teriam possibilidade de executar. As normas coletivas são aquelas que operam a nível institucional, abrangendo um grupo social específico, ou uma sociedade inteira, representando um código social de conduta. Estas normas emergem através da interação compartilhada entre membros de um grupo ou uma comunidade e seu surgimento está associado ao modo como são construídas ou transmitidas coletivamente..

(21) 21 As normas percebidas, por sua vez, existem a nível subjetivo e definem-se como as interpretações que os indivíduos fazem acerca dos códigos de conduta coletivos. Considerando que as pessoas podem realizar interpretações diversas acerca das normas existentes, o estudo das normas percebidas remete aos processos comunicativos e interacionais, os quais atuam sobre a construção subjetiva das normas. A distinção entre normas coletivas e percebidas elucida uma diferença essencial entre estes dois construtos e, portanto, demanda formas distintas de mensuração e análise. De acordo com Lanpinski e Rimal (2005) as normas coletivas raramente estão codificadas de modo formal ou são mencionadas de forma explícita, de maneira que as pessoas podem interpretá-las de maneira divergente. Por esta razão, junção das normas percebidas entre as pessoas não representa a norma coletiva predominante. Os autores sugerem que as normas coletivas podem ser verificadas através da análise de alguns indicadores de sua presença no sistema social, tais como o ambiente midiático, as características estruturais do sistema social e as redes sociais, não podendo ser analisadas a partir da soma de crenças individuais, posto que tal forma de análise é congruente com o conceito de normas percebidas. A discussão quanto aos problemas operacionais no estudo das normas também é enfatizada por Cialdini, Reno e Kallgren (1990). Segundo estes, muito embora as normas sociais possuam uma longa história na Psicologia Social, o uso desse conceito como um dispositivo efetivamente explicativo e preditivo do comportamento humano é contraditório, visto que são recorrentes as críticas de que o conceito é vago e de pouca suscetibilidade à testagem empírica. Logo, deve-se reconhecer que o conceito de norma necessita ser melhor definido a fim de serem evitadas maiores problemas quanto a seu uso nas pesquisas..

(22) 22 No intuito de operacionalizar adequadamente o conceito de norma e, por conseguinte obter maior validação empírica do mesmo, Cialdini, Reno e Kallgren (1990) discriminam entre normas descritivas e normas injuntivas. As primeiras referemse à percepção acerca do que a maioria das pessoas fazem, fornecendo informações para que as pessoas verifiquem quais condutas podem ser efetivamente adaptativas. As normas descritivas são úteis para prever o comportamento por influenciarem nossas decisões quando devemos escolher qual comportamento é mais apropriado para determinada situação, para tanto basta fazer o simples registro do que a maioria das pessoas fazem e imitar suas ações. As normas injuntivas ou prescritivas, por sua vez, tratam-se de regras ou crenças acerca do que é moralmente aprovado ou desaprovado em uma conduta. Diferentemente das normas descritivas, as quais informam sobre os comportamentos que são mais frequentes em um determinado grupo, as injuntivas indicam o que deve ser feito. Remetem-se à extensão a qual os indivíduos sentem-se pressionados a se engajarem em determinados comportamentos. Nessa definição, a pressão pode ocorrer tanto por causa de ameaças percebidas (ex. perder amizades ou ser incapaz de cultivá-las) ou benefícios percebidos (ser inserido num grupo) (Rimal & Real, 2003). Isto é, estas normas prescrevem comportamentos, por meio da promessa de sanções sociais. As normas injuntivas, por conseguinte, são um fator significante para a compreensão do comportamento à medida que os indivíduos percebem que a violação de tais normas implica em sanções sociais. A influência subjacente das normas injuntivas na direção do comportamento humano explica-se, assim, a partir do princípio de que os comportamentos individuais são dirigidos pelo desejo de evitar sanções e obter benefícios nas interações sociais (Lanpinski & Rimal, 2005)..

(23) 23 Embora os autores mencionados tratem as normas descritivas e injuntivas como conceitos distintos, Dubois (2003) avalia que toda norma, mesmo quando supostamente definida como descritiva, possui uma característica prescritiva, pois sempre um indivíduo não adere ao que a maioria das pessoas fazem ele é considerado como um desviante ou inadequado. Acrescenta que o aspecto prescrito da norma social também ajuda a diferenciá-la do conceito de regra, conceito do qual é considerada erroneamente como sinônimo. Enquanto que uma regra evoca restrições ou sanções possíveis, o termo norma social também agrega a ideia de desejabilidade. Desse modo, quando se ressalta que um comportamento ou julgamento é uma prescrição normativa, considera-se que sua manifestação é socialmente valorada. Contrariamente, quando um julgamento ou comportamento é considerado como anti-normativo, infere-se que sua manifestação é imprópria ou indesejável em um determinado contexto. Ainda que a noção de desejabilidade permita a distinção entre norma social e regra, faz com que as normas sejam confundidas com outro conceito bastante utilizado na Psicologia Social: os valores humanos. Os valores podem ser conceitualizados como crenças que atendem a motivações ou fins desejáveis e que guiam a seleção, avaliação e escolha de pessoas, comportamentos e acontecimentos (Schwartz, 2006). Segundo Dubois, ainda que no conceito de valores também esteja presente a noção de desejabilidade, eles diferenciam-se das normas pelo fato de serem um fenômeno do âmbito motivacional. A desejabilidade das normas, contudo, não se encontram associadas a motivações ou metas pessoais, mas a comportamentos ou julgamentos. O autor salienta que as normas emergem em situações de avaliação e autoapresentação, nas quais as pessoas são levadas a emitirem julgamentos em função da especificidade do contexto em que se encontram e não em função de metas ou crenças pessoais. Tal como ocorre.

(24) 24 em entrevistas de seleção de emprego, em que os candidatos são levados a emitir opiniões que, muitas vezes, contrariam valores pessoais, mas que se fazem mais úteis ao contexto da seleção. Pode-se compreender que a relação entre normas atitudes e comportamentos remete-se sempre a processos de interação social, não podendo existir isoladas dos mesmos. O aspecto descritivo das normas, por envolver crenças quanto ao que é realmente feito pela maioria das pessoas de um dado grupo social, está associado aos processos de comparação social, descritos por Festinger (1954). Muito embora este autor não tenha pesquisado diretamente sobre o processo das normas sociais, argumentou que as pessoas fazem uso da comparação para avaliarem suas próprias crenças relativas à realidade em que vivem. Este processo de comparação social pode ocorrer sempre que as pessoas recorrem aos outros enquanto parâmetro de comparação a fim de entender como agir em determinado contexto, particularmente quando a situação é caracterizada pela ambiguidade. A influência que o aspecto descrito das normas exerce sobre o comportamento pode ser explicada justamente pela natureza informacional que estas normas possuem para os indivíduos. O modelo de processamento espontâneo da informação proposto por Fazio (1990), por exemplo, aponta que as normas servem para ajudarem as pessoas a definirem uma situação particular, de modo que tal definição permite eventos específicos sejam compreendidos.. Nesse sentido, as normas descritivas tornam-se. capazes de exercer influência sobre o comportamento pelo fato dos indivíduos apresentarem dependência informacional quanto às condutas que necessita desempenhar em diferentes contextos. Portanto, quanto maior a percepção da prevalência de um comportamento, maior a probabilidade dos indivíduos acreditarem que executar tal comportamento é normativo, no sentido de ser um padrão predominante de conduta..

(25) 25 A característica injuntiva das normas também prediz que as mesmas atuam como preditoras sobre o comportamento. Por consistirem nas pressões que o indivíduo percebe de seu meio social para que venha aderir a determinados padrões de conduta, estas normas também são influenciadas pelos processos de comunicação e interação social, posto que o indivíduo precisa reportar a referentes externos para que possa elaborar parâmetros do que vem a ser ou não uma conduta socialmente aceita. Quanto a esta qualidade das normas injuntivas, podemos recorrer à teoria social cognitiva de Bandura (2008), a qual sustenta que os comportamentos são vistos como sendo de natureza aceitável ou reprovável por meio da percepção de similaridades entre atores e observadores das ações quanto às subsequentes sanções ou recompensas por seus comportamentos. Rimal e Real (2003) questionaram o fato da maioria dos estudos sobre normas centrarem-se apenas na ideia de que o comportamento é predominantemente influenciado pela maneira como a maioria das pessoas agem, ignorando aspectos pertinentes à motivação humana e aos processos de aprendizagem. Sendo assim, os autores elaboram um modelo compreensivo da influência normativa, o qual apresenta que, além da normatividade descritiva, o comportamento pode sofrer influência de três elementos mediadores, os quais seriam os padrões de comunicação, a identidade grupal e as normas injuntivas. Os padrões de comunicação correspondem à frequência com que os indivíduos dialogam entre si acerca do comportamento alvo das normas. A identidade do grupo, por seu turno, conceito adotado a partir dos trabalhos de Tajfel e Turner (1986), é tratada como a percepção de similaridade entre o indivíduo e membros de seu grupo, somando-se às aspirações pessoais para permanecer aceito pelo grupo. Por fim, as normas injuntivas, correspondendo às coerções que os indivíduos experimentam para se.

(26) 26 conformarem às normas do grupo, sendo mensurada a partir da percepção da aprovação social (o quanto um comportamento pode ser visto como socialmente favorável ou desfavorável), dos benefícios pessoais (o quanto o comportamento é capaz de promover satisfação pessoal) e pela percepção de benefícios para os outros (o quanto o indivíduo acredita que outras pessoas encontrarão satisfação ao realizar um comportamento específico). A partir deste modelo, Rimal e Real (2003) verificaram que as normas descritivas não influenciam por si só o comportamento, apresentando maior poder preditivo quando associadas à identidade grupal, à crença de que determinada conduta é capaz de promover benefícios pessoais e à desejabilidade social da conduta. Diante do exposto, evidencia-se que somente quando se é especificado o tipo de norma social a ser investigada é possível caracterizar a maneira como esta é capaz de guiar o comportamento na sociedade. Todavia, faz-se necessário ressaltar também que as normas não devem ser vistas como forças uniformes atuando em todo tempo e situação. As normas são capazes de motivar o comportamento quando são ativadas, ou quando se fazem salientes em determinado contexto (Cialdini, Reno & Kallgren, 1990). As normas sociais, portanto, exercem influência sobre comportamentos e atitudes em função de prescreverem padrões de conduta que são vistos como mais apropriados em diferentes contextos. Entretanto, existem diferentes motivações para se aderir a uma conduta normativa. As bases motivacionais para se aderir às normas foram analisadas por Kelman (1958). De acordo com este autor, quando o indivíduo adere a uma mudança atitudinal, ele pode fazer isso a partir de três processos motivacionais distintos, ainda que a atitude explícita seja a mesma. Esses processos motivacionais são classificados por Kelman como aquiescência, identificação e internalização. Na aquiescência, a expressão da atitude ocorre em função da expectativa de obter reações favoráveis de outras pessoas. Neste caso, uma atitude é expressa não porque a pessoa.

(27) 27 acredita em seu conteúdo, mas porque espera obter recompensas ou evitar desaprovação dos demais. A identificação consiste num processo em que uma atitude é manifestada pelo indivíduo com a finalidade de manter um bom relacionamento com outras pessoas com quem se identifica. Ao se identificar com um grupo, o indivíduo realmente acredita nas respostas que ele adota, porém pouco se interessa por seu conteúdo, tendo em vista que a conduta que a que adere é em função de manter relações com as pessoas com que se identifica. Por fim, o processo denominado de internalização ocorre quando há aceitação da influência normativa por causa do conteúdo expresso pelas normas. Ao internalizar uma norma, as ideias e ações que compõem uma atitude passam a ser intrinsecamente recompensadoras para o indivíduo, posto que as atitudes são adotadas por serem coerentes com seu sistema de valores pessoais. A partir de tais considerações, passaremos a analisar como as normas sociais estão relacionadas à manifestação de um fenômeno social específico, o racismo. Para tanto, apresentaremos as principais definições de racismo e discutiremos acerca das novas formas de suas novas formas de expressão na contemporaneidade, enfatizando os tipos de normas que a literatura apresenta como relacionadas a este fenômeno e as condições em que estas podem interferir na manifestação ou inibição do preconceito e da discriminação racial..

(28) 28 1.3-Definição de racismo. O racismo não é um fenômeno social recente, ao contrário ele acompanha a sociedade ocidental há séculos, apresentando roupagens diversas em função do grupo que toma como alvo, das crenças que o legitimam e de seu modo de atuação. Pode-se definir brevemente o racismo como a crença na hierarquia racial entre os grupos humanos (Agoustinos & Reynolds, 2001). Embora sua origem, enquanto corpo ideológico, seja assinalada no século XVIII, o racismo envolve uma problemática que acompanha toda a história da humanidade: o tratamento desigual a pessoas, baseado num sentimento de diferença (Fredickson, 2004). Desse modo, definir o racismo não é tarefa simples, posto que o conceito encontra-se associado a uma série de outros termos que também envolvem a diferenciação e implicam em relações assimétricas entre grupos humanos tais como raça, etnia preconceito, etnocentrismo e xenofobia. Uma vez que o racismo tem por base a crença na hierarquia racial entre os grupos humanos, é necessário analisar como a ideia de raça serviu de alicerce ao seu desenvolvimento. Historicamente, a noção de raça apresenta sentidos diversos do que o que viemos a conhecer na atualidade. De acordo com Munanga (2003), no latim medieval, o conceito de raça designava a descendência, a linhagem, isto é, um grupo de pessoas que têm um ancestral em comum e que, por conseguinte, também possuem algumas características físicas em comum. O autor aponta que desde o ano 1684, encontram-se registros de que o termo começou a ser empregado no sentido moderno da palavra, para classificar a diversidade humana em grupos fisicamente contrastados, denominados de raças. O conceito de raça passou a atuar efetivamente nas relações sociais da França, nos séculos XVI-XVII, pois era utilizado pela nobreza local que se identificava com os francos, de origem germânica, em oposição aos Gauleses, população local identificada como plebe..

(29) 29 A ideia de raça é marcada pelo desenvolvimento histórico social do ocidente. Embora seja difícil precisar o momento exato em que a noção de raça passou a ganhar ênfase no mundo ocidental, Schwarcz (1996) ressalta as descobertas decorrentes das navegações realizadas nos séculos XV e XVI como um momento significativo para as conceituações iniciais do que mais tarde se constituiria na raciologia moderna. Conforme mencionado pela autora, o encontro dos europeus com outros povos, fez com que os primeiros colocassem em dúvida o conceito de humanidade até então conhecida nos limites da civilização europeia, questionando-se acerca da natureza dos povos recém-descobertos, entre estes os ameríndios, os negros e melanésios. Por meio da análise de documentos e produções realizadas por artistas e navegadores da época, a autora identifica que esses grupos eram recorrentemente caracterizados ou descritos fazendo-se referências a animais, visto que entre os europeus não existia certeza alguma quanto ao grau de humanidade que aqueles povos possuiriam. Verifica-se, assim, que a noção de raça, desde sua origem, foi empregada para a diferenciação entre pessoas. Entretanto, foi a partir do século XVIII que o racismo passou a ser elaborado como um projeto científico, tendo seu auge no século XIX. Segundo Cabecinhas (2007), a partir do século XVIII a noção de raça apoiou-se na antropologia clássica, a qual se baseava em critérios morfológicos como a cor da pele, a forma craniana, a textura do cabelo entre outros para criar classificações dos seres humanos, classificações estas que apresentavam resultados contraditórios e muito variáveis. A ausência de rigor nas classificações, contudo, não impediu que fossem elaboradas as primeiras teorias da raciologia clássica, a qual partia do princípio de que as características físicas visíveis (fenótipos) e as características profundas (genótipos) seriam capazes de explicar as diferentes aptidões e capacidades dos indivíduos..

(30) 30 Cabe destacar que o conceito de raça não foi utilizado para classificar as populações humanas com a simples finalidade de compreender suas diferenças utilizando um viés científico. Conforme observado por Munanga (2003), desde o início, os naturalistas fizeram uso das classificações raciais como forma de criar um sistema hierárquico entre as populações humanas, estabelecendo uma escala de valores entre as raças. O autor destaca que um dos pontos fundamentais da ideia de raça foi o estabelecimento de uma relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, traços morfológicos) e as qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais. Assim, os indivíduos da raça “branca”, foram decretados coletivamente superiores aos da raça “negra” e “amarela”. Pensava-se que em função de suas características físicas hereditárias, os brancos seriam mais bonitos, inteligentes, mais honestos, inventivos, etc. A raça negra, por seus traços morfológicos, foi considerada como a mais estúpida, mais emocional, menos honesta, menos inteligente e, portanto a mais sujeita à escravidão e todas as formas de dominação. A partir dessas definições, observa-se que o pensamento racista constituiu-se como uma ideologia hierarquizadora e desigualitária, apoiada na cientificidade do conceito de raça, cientificidade esta que foi traduzida na relação que se estabeleceu entre características biológicas, capacidades intelectuais e demais aptidões. De acordo com Cabecinhas (2007), por meio da hierarquização entre os grupos humanos e, principalmente pela essencialização de suas diferenças, o racismo tornou-se capaz de legitimar e justificar os sistemas de dominação social. Sendo um sistema de crenças forjado pelo discurso científico, o racismo permitiu legitimar um sistema social com fortes desigualdades, estabelecendo o lugar e o papel que os diferentes grupos humanos deveriam ocupar, servindo como base para discriminação sistemática e intencional desses grupos..

(31) 31 O racismo encontra-se intimamente relacionado com outro fenômeno, o preconceito, sendo ambos utilizados de forma intercambiável. Entretanto, eles apresentam distinções importantes. O preconceito é usualmente avaliado como uma atitude negativa frente a todo indivíduo membro de um grupo socialmente desvalorizado (Allport, 1979; Dovidio, 2001). Em um nível individual, uma pessoa pode manifestar preconceito: uma atitude negativa diante de uma pessoa ou grupo baseada sobre um processo de comparação social no qual o indivíduo adota sua própria raça como um ponto positivo de referência. Contudo, a simples rejeição a determinado grupo não implica em racismo (Ponterotto, Utsey, & Pedersen, 2006). O racismo é um constructo que relaciona crenças e práticas individuais a normas e práticas culturais e institucionais (Jones,1972). Essa distinção também é abordada por Fredickson (2004) que caracteriza o racismo como um processo que não é restrito ao campo das atitudes ou das crenças, pois também se expressa nas práticas, instituições e estruturas sociais justificadas por um sentimento de profunda diferença. O racismo corresponde, portanto, algo mais que teorizar acerca das diferenças humanas ou pensar mal de um grupo sobre o qual não se tem nenhum controle. Distingue-se, assim, o racismo do preconceito porque o primeiro repousa sobre uma crença na distinção natural entre os grupos, ou melhor, envolve uma crença naturalizadora das diferenças entre os grupos, pois se liga a ideia de que os grupos são diferentes porque possuem elementos essenciais que os fazem diferentes, ao passo que o preconceito não implica na essencialização das diferenças (Lima & Vala, 2004). Dentre outras diferenças, cabe destacar outro elemento distintivo: o poder. No caso da manifestação do racismo, o significado da preferência endogrupal repousa sobre o fato endogrupo estar disposto a exercer poder sobre o exogrupo. O poder que um grupo.

(32) 32 exerce sobre outro transforma o preconceito racial em racismo e vincula o preconceito com o corpo de práticas sociais. A prática de racismo num nível cultural e estrutural mantém a hierarquia e reproduz as diferenças de poder entre os grupos no sistema social englobando processos de discriminação e exclusão social (Jones, 1972). Apesar de serem conceitos distintos, verifica-se que o racismo e o preconceito possuem uma relação significativa. Embora o racismo seja um fenômeno mais abrangente, por consistir no poder de negar aos outros grupos raciais a dignidade, oportunidade, liberdade e recompensas conferidos ao grupo dominante e por se basear numa ideologia amplamente aceita quanto à hierarquia e diferenciação entre os grupos (Dovidio, 2001), é provável que a ideologia que fomenta a crença de que certos grupos são racialmente inferiores também possa favorecer a manifestação de atitudes negativas ou hostis contra os membros de grupos socialmente desvalorizados, atitudes estas que se caracterizam como preconceito (Allport, 1979; Dovidio, 2001). Considerando o preconceito racial como um dos componentes do racismo, discutiremos agora as suas principais definições e a forma como tem sido abordado na Psicologia.. 1.4- Preconceito. No campo da Psicologia, uma das primeiras e mais fundamentais definições sobre o preconceito foi trazida por Allport (1954/1979), em seu livro The Nature of Prejudice, o qual o define como sendo uma atitude hostil ou aversiva acerca de uma pessoa que pertence a um grupo, simplesmente por ela pertencer a este grupo, presumindo-se que possui as qualidades desagradáveis que são atribuídas àquele grupo. O que potencializa na pessoa preconceituosa uma maior tendência a distanciar-se ou, efetivamente, evitar o contato social com os representantes de tais grupos..

(33) 33 O modelo conceitual do preconceito delineado por Allport (1954/1979) também evidenciou uma das questões fundamentais das pesquisas em Psicologia Social: a relação entre comportamentos e atitude. Em sua proposição, o preconceito abrangeria atitudes e crenças negativas acerca de determinados grupos sociais, todavia o autor faz a ressalva de que nem toda atitude hostil envolveria a manifestação de um comportamento negativo para com grupos em específico, de modo que o preconceito poderia se manifestar por diferentes graus de ações negativas, existindo ações mais hostis do que outras. Na gradação que propôs, as formas de expressão do preconceito variam da antilocução (expressão verbal do preconceito), passando pela evitação a membros de outros grupos, a discriminação propriamente dita que consistiria em tomar decisões que envolvem em excluir o negar certos privilégios a membros de um grupo, a agressão física e, por fim, a exterminação, tal como ocorreu no holocausto judeu. O trabalho de Allport serviu como base para investigações subsequentes sobre a natureza do preconceito, antecipando descobertas no campo da cognição social e do comportamento intergrupal. Para a área da cognição social, por exemplo, seu trabalho contribui ao trazer o conceito de categorização, o qual foi adotado em pesquisas desenvolvidas posteriormente. A categorização destaca-se como um dos elementos que vieram a exercer influência em outras perspectivas desenvolvidas posteriormente. A categoria é definida por Allport (1954/1979) como um conjunto acessível de ideias associadas que têm a propriedade de guiar os ajustamentos cotidianos. Desse modo, a categorização atuaria como um mecanismo do aparelho cognitivo que tem por finalidade tornar nossa interação com o meio físico e social mais eficaz e econômica em termos da quantidade de informação a ser assimilada. Nessa perspectiva, haveria uma tendência básica e inevitável de nosso sistema cognitivo em agrupar objetos e pessoas em classes ou categorias. O preconceito seria, portanto, um processo natural,.

(34) 34 envolvendo limitações quanto a nossa capacidade de julgamento e avaliação das pessoas e dos grupos a que pertencem. De tal maneira, as diferenças interindividuais seriam pouco enfatizadas em nossa percepção e, por conseguinte, o indivíduo seria avaliado ou julgado em função do grupo (categoria) ao qual pertence. Não obstante às contribuições de Allport, o estudo do preconceito sofreu a influência de diferentes vertentes teóricas que enfatizam aspectos distintos quanto à natureza e característica do preconceito racial. Essas diferentes contribuições foram revisadas por Duckitt (1992) em uma análise histórica sobre a produção científica nesta área, tendo como referência o contexto social norte-americano. Nesta revisão, são delimitados sete diferentes períodos em que o preconceito foi estudado a partir de orientações teóricas e metodológicas específicas, partindo do início do século, quanto o preconceito ainda não era visto como um problema, até a produção realizada no fim dos anos de 1980. Tal como destacou, a Psicologia voltou-se para o estudo das causas do preconceito no período que coincidiu com a 2ª Guerra Mundial, até então as pesquisas voltavam-se para a descrição do fenômeno, mas não para suas possíveis causas. Dentre os modelos que buscavam identificar fatores causais para o preconceito, destacam-se o modelo psicodinâmico e a teoria da personalidade autoritária, predominantes até a década de 1950, os quais situavam o preconceito como resultante de processos psicológicos e traços de personalidade que tornariam os indivíduos propensos a desenvolverem o preconceito. Após este período, os estudos direcionaram-se para uma perspectiva mais societal, buscando entender como a conformidade a determinadas normas sociais e a dinâmica das relações entre os grupos são capazes de promover atitudes preconceituosas e padrões recorrentes de discriminação..

(35) 35 Na revisão feita por Duckitt, destaca-se como o paradigma predominante o que foi enfatizado a partir da década de 1980, o qual buscou compreender como processos cognitivos, em especial a categorização, influenciam o preconceito e a discriminação. Nesta ênfase, o autor menciona duas abordagens, uma de ordem sócio-cognitiva e outra cognitivo motivacional, as quais avaliam como processos cognitivos, tais como a categorização, influenciam o preconceito e a discriminação. A abordagem cognitiva volta-se para o conceito de estereótipo, definido como um conjunto de crenças supergeneralizadas sobre membros dos grupos sociais (Allport, 1954/1979). Segundo Blaine (2007), as pesquisas sobre estereótipos buscam compreender como esta estrutura cognitiva organiza e representa a informação sobre as categorias sociais e de que modo contribui na formação de vieses durante o processamento da informação e do comportamento discriminatório. Dentro da abordagem cognitivo motivacional, assim definida por Duckitt, ressalta-se a teoria da identidade social de Tajfel e Turner (1986), a qual também fez uso do conceito de categorização social e, ao mesmo tempo, situou o preconceito como um fenômeno do âmbito das relações intergrupais. O modelo proposto por estes autores para o estudo da identidade permitiu que o preconceito fosse identificado enquanto um fenômeno envolvido nas relações de grupo. Os grupos de elevado estatuto social, a fim de manter um autoconceito positivo entre seus membros e garantir sua posição privilegiada nas relações sociais, estabelecem critérios de diferenciação positiva entre o próprio grupo (endogrupo) e os outros grupos (exogrupos), fazendo uso de determinadas ideologias que tornam sua posição social como legítima e permitem que os grupos minoritários possam ser alvo de discriminação e tenham status diferenciado nas relações sociais..

(36) 36 Esta teoria foi responsável por articular elementos cognitivos, como o processo de categorização, com aspectos motivacionais e societais, considerando que o preconceito colabora para a manutenção de relações assimétricas entre os grupos sociais. Por meio desta perspectiva, o estudo do preconceito não ficou restrito a uma abordagem estritamente cognitiva, mas como um fenômeno social que é moldado por questões históricas, políticas e econômicas, sendo portanto um processo intergrupal que soma-se a fatores de ordem perceptiva e motivacional (Amâncio, 1989, apud Cabecinhas, 2007). O modelo cognitivo do estudo do preconceito e da discriminação contribuiu para o que Augoustinos e Reynolds (2001) caracterizam como uma definição menos pejorativa desses fenômenos, considerando que a proposta cognitiva situou as atitudes preconceituosas como resultantes de processos cognitivos naturais e inevitáveis, tais como a categorização e a estereotipia, que funcionavam para simplificar a realidade e tornar a complexidade do mundo social mais manejável. Entretanto, salientam que esta terminologia mais “neutra” do preconceito também foi alvo de críticas por não situar a importância das dimensões afetiva e valorativa na manifestação deste fenômeno, bem como por menosprezar os aspectos ideológicos e políticos que estão inseridos nas relações interpessoais. No contexto social atual, os estudos sobre racismo encontram um novo fator que interfere diretamente na expressão de comportamentos discriminatórios e de atitudes raciais, o fato de existirem normas sociais antirracismo que condenam sua expressão. Desse modo, discutiremos as características das normas antirracismo e o impacto que as mesmas têm exercido sobre a manifestação desses fenômenos..

Referências

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