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Universidade Autónoma de Lisboa

Luís de Camões

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS I

A CRISE DE 1929-32 E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS

POLÍTICAS

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1. INTRODUÇÃO − Década dos anos 20

Na década dos anos 20 o Império britânico era o maior do mundo, ocupando cerca de 1/4 da superfície terrestre. Os franceses, os belgas, os holandeses, os italianos e os portugueses tinham possessões em África e no Sueste asiático. A Alemanha tinha perdido as suas colónias após a derrota na I Guerra Mundial. O domínio europeu baseava-se em três factores principais: divisões religiosas, étnicas ou sociais; consentimento de benefícios aos dominadores por serem uma civilização superior; e pelo medo.

Os norte-americanos não consideravam a sua própria expansão territorial como imperialista, em comparação com as europeias.

O império otomano após a derrota na I Guerra, cedeu lugar a territórios divididos duvidosamente, com o controlo a pertencer às potências europeias. A grande Península Arábica onde vagueavam beduínos e cujo valor era desconhecido foi tomada por guerreiros árabes fundamentalistas. Os antigos dominadores otomanos dos árabes travaram as suas próprias lutas nacionalistas, liderados por Ataturk. Após a assinatura do Tratado de Sévres, em Agosto de 1920, Istambul e os estreitos dos Dardanelos passaram ao controlo internacional, sendo cedida Izmir (Esmirna) à Grécia, e criados a Arménia e o Curdistão.

Na América Latina a maior parte dos países desfrutava de alguma prosperidade, não porque possuíssem indústrias fabris em larga escala, mas pela riqueza dos recursos naturais, quer agrícolas, quer minerais. A maior parte do investimento necessário para as infra-estruturas e para o desenvolvimento económico provinha nesta altura em cerca de 40% dos Estados Unidos. Este país actuava de acordo com a doutrina de Monroe, considerando a América Latina dentro da sua esfera de influência e desencorajando o envolvimento dos países europeus.

Na União Soviética desenvolveram-se planos quinquenais e implementaram-se medidas conhecidas como Nova Economia Política (NEP), as quais constituíram uma mudança substancial, liberalizando de alguma forma a economia, reactivando-se alguma iniciativa privada e desnacionalizando-se alguns sectores da pequena e média empresa, mas mantendo-se a intervenção estatal nas finanças, na indústria pesada e no comércio externo.

Nesta década dos anos 20 o Mundo parecia ter duas alternativas possíveis, a democracia e o capitalismo triunfante, ao estilo americano, ou a nova ordem social prometida pelo comunismo soviético. Quando o capitalismo claudicou, a democracia pareceu enfraquecer tendo-se tornado o comunismo em totalitarismo. Os apelos dos ditadores fascistas em relação à ordem, à disciplina e à tomada de uma acção firme atraíram muitas pessoas.

A revolução verificada também nas artes encontrou uma pátria acolhedora na Alemanha de Weimar, tendo sido detestada pelos nacionais socialistas alemães e pelos dirigentes da Rússia

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soviética. As novas formas de entretimento como o cinema, o rádio e o jazz, tornaram-se muito populares, e nos anos 30, as artes como tudo o resto tornaram-se eminentemente políticas.

2. O PERÍODO DE 1929 A 1932

Até meados da década dos anos 20 a economia mundial viveu sobre o signo da recuperação efectiva, sobretudo nos Estados Unidos onde a maior difusão social dos electrodomésticos ou do uso do automóvel generalizaram os ideais de luxo e de bem-estar. Foi a década da prosperity dos Estados Unidos. Apesar desta aparente euforia económica, os processos de investimento estavam a ser afectados pelo desvio de capitais para investimentos pouco produtivos, como a especulação na Bolsa.

O Verão de 1929 foi a temporada mais frenética da história financeira dos Estado Unidos, tendo o preço dos títulos alcançado um valor quádruplo, sendo os lucros mais o resultado de operações financeiras do que do desenvolvimento empresarial.

No dia 24 de Novembro de 1929, ocorreu um «crash» na Bolsa de Nova Iorque. Este dia, conhecido como a quinta-feira negra, caracterizou-se pela perda catastrófica das acções cotadas em Bolsa, onde cerca de 13 milhões de títulos ficaram sem compradores. Muitas pessoas perderam tudo o que tinham e instalou-se um desespero generalizado, o qual alastrou a toda a sociedade e se repercutiu por todo o mundo.

A queda da Bolsa não pode ser considerada como a culpada pela Grande Depressão. Ocorreram factores conjunturais que potenciaram esta crise, inicialmente como financeira, e depois, como de total fase depressiva do capitalismo contemporâneo. Estes factores foram, por exemplo, as quebras bancárias, as quais afectaram a capacidade de crédito empresarial e a confiança dos depositantes; houve o arrecadar de metais preciosos e de dinheiro, diminuindo os investimentos produtivos; queda generalizada dos preços agrícolas, e perda do poder de compra dos produtores e dos vendedores; consumidores e investidores particulares resguardaram-se, psicologicamente; aumento do desemprego e pouca renovação do aparelho produtivo das empresas. Dada a influência internacional da economia dos Estados Unidos, a influência deste crash da Bolsa e dos danos colaterais causados foram determinantes para a universalização, e principalmente para aqueles países e economias mais directamente ligados e/ou dependentes ou que com ele comercializa.

A tomada desta contracção económica revelou-se aos olhos da população norte-americana tardiamente. Nos Estados Unidos a política do presidente Hoover não conseguiu controlar o desastre e o sentimento com ele correlacionado, apesar das medidas de fortalecimento da política comercial proteccionista e da criação de canais e depósitos de financiamento industrial. Foi só com Franklin Delano Roosevelt e a sua política do New Deal que se conseguiu restabelecer a estrutura básica da economia norte-americana, através de programas como o NRA − National Recovery

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Administration, e o AAA − Agricultural Adjustement Administration e a incentivação da criação de

seguros de desemprego e de planos de assistência pública, através do OASI − Old Age and

Survivors Insurance.

Nos outros países menos desenvolvidos, a crise afectou o valor das trocas comerciais de matérias-primas ou produtos alimentares, e dos investimentos, traduzindo-se, na Europa, na falta de capitais, obrigando à alteração das moedas e ao crescimento do desemprego.

Na França foram tomadas medidas, atempadamente, visando minorar os efeitos da crise, o que foi conseguido, mormente com a prévia desvalorização do franco. Só a partir de 1931 o sistema produtivo e as exportações começaram a dar mostras de fraquejarem, tendo em resultado e consequentemente se desenvolvido o fascismo e formado a Frente Popular.

A Inglaterra desde o final da I Guerra Mundial que vinha sentindo a perda da sua capacidade de intervenção nas trocas comerciais internacionais, por falta de adaptação à nova conjuntura económica internacional. O partido trabalhista centrou-se na defesa das conquistas sociais dos operários, aumentando as subvenções a todos os desempregados e reduzindo a jornada de trabalho para sete horas e meia; o partido conservador lutou para fazer vingar a permanência da ortodoxia monetária, ou seja, do padrão-ouro. Financeiramente congelaram-se vários tipos de crédito para obrigar ao investimento de capitais, desvalorizou-se a moeda e implementaram-se medidas proteccionistas.

Na Alemanha optou por se manter o padrão-ouro para manter o câmbio internacional estável, tendo-se lutado com a implementação duma política deflacionista, ou seja, baixando fortemente os preços de mercado internamente com consequências na queda dos salários, to que provocou um enorme desemprego. Dependendo esta economia do pagamento das indemnizações de guerra, e com as enormes dificuldades sentidas pela conjuntura vigente, o continuar da assunção do pagamento desta obrigação, levou a Alemanha a renegociar a dívida através do Comité Young. A Alemanha com a sua indústria pesada e muito dependente dos mercados externos foi então alvo duma intervenção estatal, quer pela participação maioritária nos capitais do sector bancário, quer na nacionalização da indústria pesada. A produção agrícola foi estimulada pela concessão de créditos bancários de fundos estatais, com o controlo rigoroso das exportações agrícolas mal administradas.

Numa outra zona do mundo, mormente no Japão, verificava-se uma consolidação capitalista e imperial, com a consolidação de fortes grupos industriais e financeiros, num crescente aumento da liberalização da economia. Com a crise, os militares entraram directamente na gestão política e regressaram à política de expansionismo no interior do continente asiático, ocupando a Manchúria.

Por sua vez a Rússia com a política dos planos quinquenais colectivizou a agricultura e o desenvolvimento da indústria pesada e dos bens de consumo, eliminando a dependência económica do exterior, e reafirmando a política e as possibilidades do socialismo, fazendo-se da indústria o

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motor de todos os restantes sectores económicos. Os efeitos da já aflorada NEP, dos planos quinquenais evitaram que a Rússia sentisse no interior das suas fronteiras os efeitos da Grande Depressão.

3. CONCLUSÃO

Com a Grande Depressão, nenhum país do mundo escapou aos seus efeitos. A fé das pessoas na democracia e no capitalismo ruiu, o que se consubstanciou, na Alemanha, com a subida dos sociais nacionalistas de Hitler ao poder, enquanto em Itália, Mussolini aumentou as suas ambições imperiais. Na Rússia, os olhos do resto do mundo não conseguiram aperceber-se do terror instalado por Estaline, levando ao aparecimento de novas ditaduras.

Nesta época, e na América Latina, os investimentos estrangeiros foram interrompidos, os preços das mercadorias caíram abruptamente, e consequentemente, os parcos recursos dos produtores agrícolas e dos operários das indústrias mineiras e transformadoras foram enormemente abalados. A miséria económica e social criada pela Depressão levou as populações a perderem toda a crença nas oligarquias europeias que tradicionalmente controlaram os governos, quer eles fossem liberais ou conservadores. Os regimes nesta região do mundo passaram a ser, fundamentalmente, e a partir dos anos 30 fortemente apoiados pelos militares.

Esta recessão económica gerou o aparecimento de importantes transformações no sistema económico capitalista, e teve um traço que a diferenciou de todas as outras, que foi a rapidez com que alastrou a uma escala verdadeiramente internacional, com repercussões imediatas como a redução da capacidade industrial, mais acentuada nos países desenvolvidos, na queda dos preços dos produtos agrícolas, onde paradigmaticamente nos Estados Unidos atingiram os 57%, e uma paragem maciça do sector industrial. Inerentemente, os salários repercutiram-se com estes factos.

Os Estados Unidos através da eleição do presidente Roosevelt conseguiram enfrentar e debelar os efeitos desta situação, pela implementação de medidas de grande apoio à reconstrução nacional, que ficaram conhecidas como New Deal, e consequentemente, ao dinamizarem a economia norte-americana, fizeram sentir os respectivos efeitos no resto do mundo, que com os EUA tinham relações económicas e/ou de dependência de escoamento dos produtos e recursos naturais.

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Bibliografia

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Referências

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