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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DISSERTAÇÃO

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Academic year: 2019

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DISSERTAÇÃO

TENSÕES TERRITORIAIS NA AMAZÔNIA PARAENSE:

O POVO INDIGENA TEMBÉ-TURÉ-MARIQUITA NO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU

JOÃO PAULO CARNEIRO THURY

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Biblioteca de Pós-Graduação do IFCH/UFPA

CDD 22. ed. 307.72098115 Thury, João Paulo Carneiro

Tensões territoriais na Amazônia paraense: o povo indígena Tembé-Turé-Mariquita no município de Tomé-Açu / João Paulo Carneiro Thury. - 2017.

Orientador: João Santos Nahum

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de PósGraduação em Geografia, Belém, 2017.

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TENSÕES TERRITORIAIS NA AMAZÔNIA PARAENSE:

O POVO INDIGENA TEMBÉ-TURÉ-MARIQUITA NO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. João Santos Nahum

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TENSÕES TERRITORIAIS NA AMAZÔNIA PARAENSE: ÍNDIOS TEMBÉ-TURÉ-MARIQUITA EM TOMÉ-AÇU (PA)

Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Data de Aprovação: ____/____/_______

Banca Examinadora

_________________________________________________________ Prof. Dr. João Santos Nahum (PPGEO/UFPA)

Orientador

_________________________________________________________ Prof. Dr. José Sobreiro Filho (PPGEO/UFPA)

Examinador Interno

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Agradeço ao Programa de pós-graduação em Geografia e o corpo Docente.

Aos meus colaboradores que tanto contribuíram para a criação da pesquisa, sendo eles: Erika Oeiras, Isa Alencar, Rafaela Simão, Joana Rodrigues e Hélio Rasta e claro aos colegas de classe do PPGEO.

Ao ministério Público Federal especificamente o procurador da republica Patrick Colares e o Procurador Regional da República da Primeira Região o Sr. Felício Ponte Junior. Ao André Alves, representante da Fundação nacional da Índio - FUNAI.

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Índios Meninos Para Roberto da Matta O que me intriga é descobrir que fim levaram os 11 índios

meninos (cada um de uma tribo) que Nassau embarcou consigo, quando deixou vencido o Recife. - Teriam fenecido no mar de enjôo, escorbuto e pranto? - O que faziam no frio dos plácidos como nudez ingênua?

- Casaram, chegando à Holanda? - Foram bons pais de família? - Ou viraram homens de negócio e acionistas da Phillips, esquecendo-se das penas que passaram no Brasil colônia? - Chegaram a ter descendentes? Ou retornaram aos costumes, e agora como hippies habitam os fundos da velha Dome?

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A pesquisa busca analisar uma situação geográfica que ocorre na fronteira amazônica, territórios de tensões e conflitos, em que os povos da floresta têm suas terras ameaçadas pelo novo processo de colonização. Sendo assim, o direito dessas populações é violado, e o poder judiciário passa a ser a saída na resolução dessas questões. O objetivo da dissertação consiste em entender as tensões territoriais entre a empresa Imerys e Biopalma com os índios da tribo dos Tembé Turé-Mariquita em Tomé-Açu e entre os Indígenas a partir das transformações provocadas com a chegada da empresa no entorno dos territórios Tembé. Essa tensão não é apenas interna aos territórios, mas externa onde as relações institucionais como a Funai, Ministério Público Federal e centros de pesquisa tencionam a vida dos indígenas. Os procedimentos operacionais utilizados consistem em: pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo; entrevistas; análise documental e confecção de mapas. Inicialmente pretendeu-se fazer uma análise histórica da trajetória da Etnia Tembé Tenetehara; no segundo momento foi analisada a chegada do estranho no território e no terceiro momento analisamos as tensões territoriais.

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The research seeks to analyze a geographical situation that occurs in the Amazon frontier, territories of tensions and conflicts, in which the forest peoples have their lands threatened by the new colonization process. Thus, the rights of these populations are violated, and the judiciary becomes the way out of these issues. The objective of the dissertation is to understand the territorial tensions between the company Imerys and Biopalma with the Tembé Turé-Mariquita Indians in Tomé-Açu and among the Indigenous people, due to the transformations brought about by the arrival of the company around the Tembé territories. This tension is not only internal to the territories, but external where institutional relations such as Funai, Federal Public Ministry and research centers intend the life of the indigenous. The operational procedures used consist of: bibliographic research, field research; Interviews; Document analysis and mapping. Initially it was intended to make a historical analysis of the trajectory of the Tembé Tenetehara Ethnicity; In the second moment was analyzed the arrival of the stranger in the territory and in the third moment we analyze the territorial tensions.

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Figura 1 - Trajetória da Etnia Tenetehara no Período de 1613 a 2016 ... 30

Figura 2 - Placa do Governo Federal ... 31

Figura 3 - Imagens de antes e depois da Construção da nova Escola ... 32

Figura 4 - Complexo do Posto de Saúde na Aldeia Turé-Mariquita ... 33

Figura 5 - Cemitério na Aldeia Turé Mariquita ... 34

Figura 6 – Mapa Político Administrativo Município de Tomé-Açu ... 38

Figura 7 - Localização da Terra Indígena Turé-Mariquita II ... 40

Figura 8 - Casa na Terra Indígena Turé Mariquita II ... 42

Figura 9 - Igarapé Água Branca ... 44

Figura 10 - Mapa de Perambulação dos Indígenas Tembé Turé Mariquita de 1961à 2016 ... 46

Figura 11 - Trato de carne de caça consumida na Terra Indígena Turé-Mariquita II ... 47

Figura 12- Atividades agrícolas e criação de gado na Terra Índígena Turé Mariquita II ... 49

Figura 13 - Produção de Farinha na Terra Indígena Turé Mariquita II ... 50

Figura 14 - Mapa da Localização dos dois Minerodutos ... 58

Figura 15 - Mapa das Aldeias Turé, Teknay, Nova e Pitawa. Ano 2016 ... 66

Figura 16 - Gráfico da população residente nas aldeias do Território Tembé, ano 2016 ... 68

Figura 17 - Mapa da Aldeia Teknay - ano 2016 ... 70

Figura 18 - Mapa do Corredor de Conflitos no Território Tembé Turé-Mariquita ... 72

Figura 19 - Placa da terra doada pela Biopalma aos indígenas da Etnia Tembé ... 78

Figura 20 - Construção feita pelos madeireiros no local do conflito... 79

Figura 21 - Mapa do Corredor de Conflitos no Território Tembé Turé Mariquita ... 80

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Tabela 1 Animais Consumidos e Instrumentos Utilizados na Captura de Caças. 47

Tabela 2 Atividades Remuneradas Registradas nos Territórios Tembé... 50

Tabela 3 Área para Cultivo do Dendê na Microrregião de Tomé-Açu... 61

Tabela 4 Dinâmica Populacional das Aldeias... 66

Tabela 5 Repasse Financeiro Relativo ao Período de 2006 a 2010... 82

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ADM Archer Daniels Midland

AF Amarelecimento Fatal

AGROPAR Companhia Agroindustrial do Pará

ANP Agência Nacional do Petróleo

BCA Banco de Crédito da Amazônia

BASA Banco da Amazônia S.A

BNCC Banco Nacional de Crédito Cooperativo

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BBB Belém Bioenergia Brasil

BRS Brasil Sementes

CFF Cachos Frutos Frescos

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

CAR Cadastro Ambiental Rural

CEIB Comissão Executiva Interministerial

CNPSD Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dendê

CODENPA Companhia Dendê Norte Paraense

CONFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

COOPARAENSE Cooperativa Agrícola Mista Paraense

CPA Companhia Palmares da Amazônia

CRA Companhia Refinadora da Amazônia

CRAI Companhia Real Agroindustrial S.A

DEFID Departamento para o Desenvolvimento internacional

DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf

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EERU Estação Experimental do Rio Urubu

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária

FETAGRI Federação dos Trabalhadores na Agricultura

FINAN Fundo de Desenvolvimento da Amazônia

FNO Fundo de Financiamento do Norte

FASE Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educação

GDEA Grupo Dinâmicas Territoriais do Espaço Agrário na Amazônia

GESPAN Gestão Participativa de Recursos Naturais

GALP Petróleos e Gás de Portugal

HIE Híbrido Interespecífico

ISSO International Organization for Standardization

IOF Imposto sobre Operações Financeiras

ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IPI Imposto sobre Produto Industrializado

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IRHO Institut Recherches Pour Lês Huileset Les Oleagineux

ITERPA Instituto de Terras do Pará

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MMA Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal

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PIN Programa de Integração Nacional

PIS Programa de Integração Social

PNPB Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel

PPA’s Planos Plurianuais

PPSOPB Programa de Produção Sustentável de óleo de Palma no Brasil

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Família

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PDA Plano de Desenvolvimento da Amazônia

REASA Reflorestadora da Amazônia S.A

RMA Reflorestadora Moju Acará

RSPO Roundtable on Sustainble Palm Oil

SAGRI Secretaria de Agricultura do Estado do Pará

SIG Sistema de Gestão Integrado

EMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará

SPVEA Superintendência para o Plano de Valorização Econômica da Amazônia

SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus

UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia

UEPA Universidade do Estado do Pará

ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico

ZAE Zoneamento Agroecológico

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Introdução ... 16

Capítulo 1: Os Territórios Tembé dos Tenetehara aos Turé Mariquita... 23

1.1. Histórico dos Territórios da Etnia Tenetehara... 24

1.2. Os Territórios do Povo Indígena Tembé Turé Mariquita... 28

1.3. Elementos da Paisagem do Território Tembé Turé Mariquita... 31

1.4. As Configurações Territoriais das Terras Indígenas Turé Mariquita I e II... 36

1.5. Dinâmica Socioespacial das Aldeias... 43

Capítulo 2: A Chegada do Estranho nos Territórios Tembé Turé Mariquita 53 2.1. A Segmentação do Mineroduto nas Terras Indígenas... 54

2.2. O Dendê na Amazônia Paraense... 59

2.3. A Biopalma em Tomé-Açú... 61

Capítulo 3: Tensões Internas e Externas nos Territórios Tembé Turé Mariquita... 65 3.1. Tensões Internas nos Territórios Tembés... 71

3.2. O Acordo com a empresa Pará Pigmentos... 81

3.3. Possíveis Impactos Ambientais no Território Indígena... 84

3.4. Conflitos Internos entre os Indígenas... 89

3.5. Tensões Externas aos Territórios Tembé... 91

4. Considerações... 94

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INTRODUÇÃO

A situação geográfica que estudamos tem sua temporalidade no início da década de 1960, mais precisamente em 1961, com a chegada de Porangati Tembé às margens do igarapé Turé. Esse lugar caracterizava-se pela configuração de um meio natural, onde a caça, coleta e plantio eram as atividades mais praticadas no território. Esta situação se modifica em 1995, quando a empresa Pará Pigmentos corta o território Tembé com o mineroduto, se estendendo até a primeira década do século XXI, com a chegada da empresa Biopalma da Amazônia S/A Reflorestamento Indústria e Comércio ao nordeste paraense, que nesse período adquiriu mais de 100 fazendas de gado, através do Sistema de Cadastro Ambiental Rural da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará - SEMAS, visando plantar a palma do dendê. Dessas, três localizam-se no entorno dos territórios indígenas dos Tembé Turé-Mariquita.

Para o entendimento das metamorfoses sofridas neste espaço, a pesquisa enfatiza o período atual, no início do século XXI, em que foi analisada a natureza das relações entre os indígenas e as empresas. Neste sentido, a pesquisa investigou os encontros e desencontros entre as empresas e a tribo, a partir da tensão estabelecida naquele território.

A chegada das empresas no entorno dos territórios indígenas causou estranhamento, uma vez que, notadamente corporativistas, demonstram uma dificuldade em reconhecer os indígenas. Esta discussão entra em pauta, sobretudo pela posição dos atores no contexto da pesquisa. Tomando como referência a análise de Martins (1993), o estranho não é só o dominado, o indígena, mas é também o invasor de terras e tribos, aquele que expulsa camponeses, quebra linhagens de famílias, destrói relações sociais, clandestiniza concepções culturais, valores e regras.

Martins (1993) cita os estudos de hidroelétricas, rodovias, planos de colonização, que são considerados de grande impacto social e ambiental, onde geralmente não trazem benefícios as populações locais. Entendemos que é o caso da implantação tecnológica do plantio dendê em torno da Terra Indígena, onde são usados maquinários de grande porte, que alteram a paisagem e o ambiente local, rasgando a terra e intensificando a monocultura do dendê, podendo potencializar os impactos socioculturais, sobretudo as tensões decorrentes desse processo.

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objetivo de melhorar a eficiência e modernizar o processo de deslocamento e a logística da produção. Portanto, esse investimento não é direcionado à melhoria da qualidade de vida do povo Tembé Tenetehara.

A realidade vivenciada pelo encontro conflituoso da tribo com a empresa representa um choque de interesses e tem temporalidades distintas, marcadas pela tensão entre um meio natural dos territórios indígenas e um meio mais técnico-científico da área das empresas, onde os sistemas de objetos estabelecidos do entorno das terras indígenas representam ações que resultam de interesses e se diferem ao lugar (SANTOS, 2008).

No contexto histórico, com a chegada da crise mundial do petróleo na década de 1970, muitos países incentivaram a pesquisa e a procura por fontes de energia renováveis, inicialmente para reduzir os impactos ambientais causados pela forma de extrair o “ouro negro” do subsolo e, sobretudo, prevendo que no futuro será necessário suprir a demanda do mundo industrializado. Um dos estímulos foi a pesquisa de óleos vegetais para produzir o biodiesel, que se constitui como alternativa de grande potencial no uso de biocombustíveis, cuja matérias-primas são fontes renováveis de biomassa .

No território brasileiro, as pesquisas sobre óleos vegetais tiveram início na década de 1980. Instituíram-se vários programas nacionais que visavam desenvolver pesquisas tecno-científicas para a produção de óleos vegetais para a substituição do de óleo diesel, tais como: Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para fins Energéticos (Proóleo, 1980), Programa Nacional de Alternativas Energéticas Renováveis de Origem Vegetal (OVEG, 1983); e, já no ano de 2004, o programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB).

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Esses conglomerados de empresas nacionais e multinacionais que já atuam no estado do Pará, contam com apoio dos governos federais, estaduais e municipais (NAHUM; BASTOS, 2014). Pode ser citada como exemplo a empresa Biopalma, no município de Tomé-Açu, cujo lançamento aconteceu em maio de 2010, pelo Presidente Lula, no âmbito do Projeto Norte de Produção Sustentável de Biodiesel da Petrobras a partir do óleo de palma (dendê), e do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil, que deve consolidar o maior polo industrial de biodiesel do mundo.

Em uma região de fronteira econômica, sempre ou quase sempre resulta num “encontro de sociedades”, ou seja, entre aqueles que chegam e a população residente. Essa relação é marcada por um enfrentamento, que consiste num processo de resistência em oposição a uma nova dinâmica territorial. Essa oposição deve ser compreendida como um processo histórico, geográfico e simbólico. Entendemos que, tanto o espaço quanto o tempo têm significados diferentes entre os povos, em uma realidade marcada por intencionalidades.

Essa dinâmica territorial evidencia que, segundo Silva (2012, p. 8), o território tem uma gama de significados e representações, que são concebidas, compreendidas, sentidas e vivenciadas por seus habitantes; inversa, não possui o mesmo nível de apreensão para os demais que não possuem pertencimento com o território (SILVA, 2012).

Esse território em tensão que aqui se define como objeto de pesquisa, trata-se do limite entre o mineroduto, as plantações de dendê e as terras indígenas. Diante da tensão social, buscamos compreender os elementos constituintes dessa tensão territorial, visto que a chegada da Pará Pigmentos e da Biopalma em áreas do entorno dos territórios Tembé desencadeou essas tensões.

O pressuposto de tensão territorial ampara-se, por exemplo, nos processos judiciais que se encontram em andamento ou mesmo encerrados no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde as partes envolvidas são os Indígenas moradores dos territórios Tembé, as empresas (Pará Pigmentos Biopalma), Ministério Público Federal (MPF), colonos moradores/madeireiros das proximidades dos territórios Tembés.

O território, entendido como extensão apropriada e usada, pode ser analisado como espaço de tensão e de commodities. Sobre esta questão, Castro (2012) discute esse novo

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Para nortear o eixo estruturante do presente estudo, alguns questionamentos se tornam relevantes: Quais os impactos ocorridos nos territórios Tembé a partir da chegada das empresas? A chegada das empresas gerou tensão territorial com os Tembé? Sendo assim, levantaram-se as seguintes hipóteses:

 A chegada das empresas gerou transformações à dinâmica social e ambiental da área analisada, tais como: o aumento das atividades remuneradas, com a contratação de três indígena como vigilantes dos picos que marcam os limites dos territórios indígenas; a chegada e permanência de famílias não indígenas dentro do território, e usando as estruturas reservadas à comunidade residente. Além disso, a abertura de estradas para circulação de veículos da empresa modificou consideravelmente a paisagem, os pequenos ramais deram lugar a rodovias, a exemplo da Transbiopalma e o repasse de terras para a população indígena pela empresa Pará Pigmentos.

 As situações de tensões territoriais desencadearam conflitos e desencontros entre as empresas, índios colonos/madeireiros, podendo ser constatadas a partir dos 14 processos no Superior Tribunal de Justiça, sendo as partes o Ministério Público Federal, os índios Tembé Turé-Mariquita, as empresas transnacionais Pará Pigmentos e Biopalma, e os colonos/madeireiros.

O objetivo geral consistiu em entender qual a razão e como a chegada das empresas nas áreas do entorno dos territórios Tembé desencadeou tensões territoriais no lugar. E os objetivos específicos são:

 Caracterizar o território usado pelos Tembé antes da chegada da Pará Pigmentos e Biopalma;

 Analisar as condições políticas e territoriais que permitiram a inserção da Biopalma na região;

 Analisar as mudanças e permanências no uso do território pelos Tembé a partir da chegada das empresas.

 Interpretar geograficamente os conflitos territoriais emergentes desse encontro.

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para o entendimento da realidade atual se fez necessário elaborar esquemas para reconstruir as condições originárias da formação dos territórios Tembé, resgatando elementos da configuração geográfica anterior à chegada das empresas. Este cenário é fundamental para o que se apresenta no contexto em que a empresa adquiriu, entre outras, as fazendas Três Irmãs, Eikawa e Campo Belo, cujos territórios estão no entorno das Terras Indígenas (TI) Turé-Mariquita I, (TI) Turé-Mariquita II e (TI) Aldeia Nova.

Para delimitarmos uma empiria de relevância científica, metodologicamente efetiva e eficaz na a geração de dados, resultados e análises substanciais, a questão histórica refere-se à chegada da Pará Pigmentos e da Biopalma no entorno das Terras Indígenas e o fato social consiste no (des) encontro entre os Indígenas Tembé, as empresas e os colonos/madeireiros, referida como estranhamento do outro. Adota-se a periodização da situação geográfica do lugar anterior à chegada das empresas, e posterior à mudança da dinâmica social dos indígenas e da configuração territorial do lugar, a partir dessa chegada, vista como um veículo ou um vetor de possibilidades existentes numa formação social (SANTOS, 2012).

Nesta análise abordamos uma realidade em movimento, que não pertence à mesma época, com isso, foi necessária a delimitação de um tempo, uma periodização (SANTOS, 2008), uma noção de período que nos leva a duas outras. Uma seria de “regime”, dado pelo conjunto de elementos em harmonia, ao longo de um tempo relevante, mas cuja evolução não é homogênea. Essas variáveis funcionam em conjunto devido à existência de uma organização encarregada de impor as regras com o passar do tempo, em que a organização deixa de ser eficaz. Daí emerge a segunda noção, quando se dá uma ruptura, sinal de crise e de passagem a outro período.

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Para a descrição e análise da situação geográfica pós-chegada das empresas na região, foi adotada a temporalidade de 1995 a 2015, período em que as empresas foram implantadas e suas ações implementadas. A pesquisa de campo inicial foi realizada nos dias 15, 16, 17 e 22, 23 e 24 de maio de 2015. No survey houve reuniões iniciais com os caciques nas três aldeias. No retorno, foram feitas coletas de dados e captura de imagens e pontos de GPS nas aldeias. Na fase da coleta de dados seguimos orientação de Geertz (2008), no intuito de produzir uma descrição densa das tensões territoriais. Feitos registros escritos e utilização de recursos audiovisuais como fotografias, captação de imagem e som, entrevistas qualitativas e quantitativas.

O primeiro capítulo caracteriza o território usado pelos Tembé antes da chegada da Pará Pigmentos e da Biopalma. Neste contexto, de acordo com Silveira (1999), foi analisada a situação geográfica antes da chegada das empresas, com ênfase na paisagem, na configuração territorial, na dinâmica espacial, enfim, no território usado.

Enfatiza-se o papel da natureza, do trabalho (produção), a pesca, a agricultura, a caça e a coleta, com aprofundamento nos estudos dos territórios Tembé. De início, apresenta-se um histórico dos Tenetehara, etnia que se desvinculou há séculos dos Guajajara do Maranhão. Enfatiza-se o território usado pelos indígenas da etnia Tembé Turé-Mariquita, remanescentes dos Tembé Tenetehara, moradores das margens do Igarapé Turé em Tomé-Açu, e ao longo dos anos o seu território passou de uma para quatro aldeias. Em suma, neste capítulo discorremos sobre o meio natural, tal como enunciado por Santos e Silveira (2001).

O segundo capítulo trata das condições políticas, técnicas e territoriais que possibilitaram a chegada da Pará Pigmentos e da Biopalma. Destacam-se os caminhos e descaminhos para obtenção de terras nas áreas do entorno dos territórios indígenas Tembé Turé-Mariquita, no final da década de 2010. O Estado sempre está associado aos interesses das grandes organizações mundiais, viabilizando a criação de instrumentos, normas e planos para legitimar as atividades empresariais. Com isso, buscou-se o entendimento da chegada da das empresas no nordeste paraense e, mais precisamente, no município de Tomé-Açu.

O terceiro capítulo analisa o encontro e as tensões relativas ao uso do território pelos Tembé a partir da chegada das multinacionais, enfatizando-se os impactos gerados nesses territórios. Outro tópico dedica-se demonstrar e interpretar geograficamente os conflitos territoriais emergentes desse encontro.

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principais objetivos da pesquisa: o primeiro esforço seria demonstrar e analisar cientificamente a existência de um conflito; ou outro comprovar que as atividades das empresas estão impactando os territórios indígenas.

Os procedimentos operacionais a serem utilizados na pesquisa consistiram em: pesquisa de campo para observação direta da paisagem a fim de identificar as transformações ocorridas no território; análise documental e estatística com depoimentos e narrativas; confecção de mapas para denotar a localização da área de estudo, a espacialização das atividades da empresa; a configuração territorial e os impactos decorrentes do encontro e desencontro entre os índios e a empresa.

A pesquisa iniciou-se com base na existência de um conflito entre a Biopalma e os indígenas do povo Tembe Ture Mariquita e com isso começamos a nos basear inicialmente partir de biografias que debatem o tema, assim como também, pesquisas em jornais e internet. A partir disto percebemos a existência de mais conflitos, agentes, que por conseguinte, através de debates foi definido que trataríamos das tensões territoriais aos invés de conflitos.

A metodologia analítica territorial que utilizamos, foi o autor Milton Santos nos livros “Metamorfose do Espaço Habitado” e “O Brasil território e sociedade no século XXI”, onde o autor além de renovar o objeto geográfico, qualifica as transformações do processo espacial em curso e com muito requinte e concisão ao debate as categorias fundamentais para o estudo do fenômeno espacial, como as tendências do uso do território, o que influenciou a analise final de tensões internas e externas aos territórios indígenas Tembe Ture mariquita. O segundo livro, que tem dois objetivos, mostra de forma globalizada a realidade nacional e através dos aspectos mais integradores do território. Ele trás o debate onde a categoria de analise não é o território em si, mas o território utilizado. Com essa noção é possível definir qualquer pedaço de território, levando-se em conta a interdependência e a inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza e o seu uso e também inclui a ação humana, isto é, o trabalho e política.

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chegada das empresas demonstradas, a preocupação era de como analisar esses territórios cheios de tensões dentro do território indígena, onde a primeiramente analise foi à dicotomia entre tensões internas e externas aos territórios.

A partir da leitura do capitulo “sobre a geografia” do livro Microfísica do Poder de Michel Foucault em 1986, organizado e traduzido por Roberto Machado, onde o texto que decorre é fruto de uma entrevista dada a uma revista “Hérodote” coordenada pelo geógrafo Yves Lacoste. O filosofo é questionado se havia esquecido a geografia na sua arqueologia do saber. Em sua resposta fala que não daria conta de fazer a analise de todas as ciências e conhecimentos do mundo, contudo, dos domínios da genealogia que fez em sua obra, comentou que foi estimulado porque ali havia combate, linhas de forca, pontos de confronto e tensões. Mais uma pergunta é feita, “existe pontos de confronto, tensões, linha de força na geografia?”. Foucault responde que estava ligado nos combates que tinha experiência e que cabe a nós geógrafos, que estamos intimamente ligados a ciência, aprofundar no que deparamos com esses confrontos de poder na analise geográfica e enfrenta-los para criarmos instrumentos para combate.

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CAPÍTULO 1: OS TERRITÓRIOS TEMBÉ – DOS TENETEHARA AOS TURÉ-MARIQUITA

Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões de habitantes, isto é, quinhentos milhões de homens e um bilhão e quinhentos milhões de indígenas. Os primeiros dispunham do Verbo, os outros pediam-no emprestado. Entre aqueles a estes, régulos vendidos, feudatários e uma falsa burguesia pré-fabricada serviam de intermediários. As colônias a verdade se mostrava nua; as “metrópoles” queriam-na vestida; era preciso que o indígena as amasse. Como às mães, por assim dizer. A elite europeia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adolescentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na boca mordaças sonoras, expressões bombásticas e pastosas que guardavam nos dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados.

Jean Paul Sartre Prefácio do livro de Franz Fanon

Os Condenados da Terra

Neste capítulo iniciamos a apresentação da situação geográfica antes da chegada da Biopalma, com base em Silveira (1999). Apresenta-se um histórico do povo Tembé Tenetehara, etnia descendente e desvinculada dos índios Guajajara do Maranhão há séculos e por fim, analisamos o uso do território pelos indígenas da etnia Tembé Turé-Mariquita, remanescentes dos Tenetehara, onde a relação com a natureza consiste na apropriação dos aspectos fundamentais ao exercício da vida, e as condições naturais que constituem a base material da subsistência do grupo.

Nesse contexto, o indígena também representa os grupos preexistentes e as suas formas tradicionais de organização social, econômica e do espaço. Desse modo, os indígenas são considerados, caracterizados ou, inclusive, estigmatizados, seja como um obstáculo ‘natural’, seja, por vezes, um dado da expansão capitalista. Portanto, exigem um tratamento especial, pois quando o velho não pode colaborar para a expansão do novo, a lógica do capital manda que seja eliminado (SANTOS, 2012, p. 106).

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Afinal, os mecanismos de mercado aparecem triunfantes, trazendo o novo e conservando o velho, em função dos ditames da produção, impondo o externo ao interno nos setores onde isso lhes convém e arrastando o Estado para a órbita dos interesses privados. A internalização do externo, a renovação do antigo a serviço das forças de mercado não seria possível sem o apoio do Estado, mesmo que não deliberado.

Neste capítulo enfocamos a paisagem, a configuração territorial, a dinâmica espacial, enfim, o território usado, destacando seu modo de vida e nele o papel da natureza, do trabalho (produção) a pesca, a agricultura, a caça e a coleta, no intuito de aprofundar os estudos dos territórios Tembé antes da chegada das empresas. Para tanto nós fizemos os trabalhos de campo, utilizando a história oral, pesquisa bibliográfica e metodologia cartográfica e iconográficas, o que permitiu a reconstituição dos elementos desta pesquisa. Para isto, esta análise iniciou-se em 1613, onde os jesuítas começaram os trabalhos de catequese entre os Tenetehara da região do baixo rio Pindaré no antigo estado colonial do Grão-Pará-Maranhão.

1.1. Histórico dos Territórios da Etnia Tenetehara

O Povo Tenetehara que habita o vale amazônico entrou em contato com outras culturas há mais de trezentos anos; seu modo de vida foi bastante modificado da forma original, e representam hoje um dos poucos remanescentes dos povos Tupi-Guarani (GALVÃO, 1978). O termo Tenetehara significa gente ou eu ou nós, marcando a distinção com o outro que não é

Tenetehara. Os índios Tembé são originários dessa etnia (DUARTE, 1997).

Os Tenetehara são índios da mata, que ocupam a floresta tropical, exceto por raras elevações nas cabeceiras dos rios Mearim, Grajaú e Pindaré no estado do Maranhão até os rios Gurupi, Guamá, Capim e Acará Mirim a nordeste do estado do Pará (GALVÃO, 1978).

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Segundo os cronistas e viajantes exploradores da época, os Tenetehara habitavam a região do Vale do Alto rio Pindaré, no Maranhão, nos séculos XVII e XVIII, mantendo seus primeiros contatos com os Jesuítas da Companhia de Jesus (NIMUENDAJU, 1915). Em 1613, os jesuítas iniciaram os trabalhos de catequese entre os Tenetehara do Pindaré.

No ano de 1653, quando o padre jesuíta Francisco Velloso viajou para o alto Pindaré, no intuito de encontrar os Tenetehara que soubera estarem divididos em seis territórios, todos falantes da língua geral, em um lugar chamado Itaqui. Ao chegar ao aldeamento, o padre ficou surpreso ao encontrar o local praticamente abandonado, pois os indígenas haviam se refugiado na mata com medo dos caçadores de escravo. Velloso então persuadiu os indígenas que ficaram na aldeia a buscar os demais no interior da floresta, contudo, os enviados não retornaram. Velloso, forçado pela falta de alimento, abandonou a aldeia e voltou para a ilha do Maranhão, importante centro colonial, acompanhado de alguns poucos índios catequizados (MORAES, 1860).

Nos anos seguintes os jesuítas empreenderam várias expedições nos territórios indígenas, em busca de converter os Tenetehara ao cristianismo e fundaram missões estratégicas como Cajúpe, Maracu e Caru. O aldeamento de Maracu contava com uma população de 404 índios, e a aldeia de São Francisco, onde se encontrava a missão Caru, abrigava 779 índios no ano de 1730. Os jesuítas foram forçados a abandonar o Pindaré em 1759, que marca o início da política pombalina na Amazônia (LEITE, 1943).

Sob este regime político, a jurisdição dos territórios habitados pelos Tenetehara no final do século XVIII passou para as autoridades civis, o estado do Grão-Pará e Maranhão dividiu-se em várias colônias, sob o Regime de Diretórios. Esse sistema foi um fracasso no território dos Tenetehara, pois, segundo Marques (1870), a colônia de São Pedro do Pindaré, formada por diversas tribos, atualmente conhecida por Pindaré Mirim, tinha uma população de 120 índios no ano de 1849; 68 índios em 1861 e apenas 44 índios no ano de 1870. De acordo com dados populacionais registrados pela Diretoria Geral dos Índios no Maranhão, na região da província de Alto Alegre, situada nas matas de transição entre a Amazônia e o Cerrado, mais conhecida como a pré-Amazônia, área de fronteira entre os estados do Pará e Maranhão, em 1887 havia cerca de 25.000 índios, dos quais a metade Tenetehara.

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A missão de Alto Alegre havia sido fundada em 1896, com o objetivo expresso de “civilizar” as “cidadelas da barbárie”. No ano de 1901, na missa matinal do dia treze de março, ocorreu o sangrento massacre de quatro missionários capuchinhos italianos, seis missionárias capuchinhas italianas e uma brasileira. Essa revolta indígena de amplas dimensões foi comandada pelo povo conhecido por Guajajara, que também são da etnia Tenetehara.

Em sua obra “Missão Religiosa e Violência: Alto Alegre, 1901”, Matos (2005) cita um relato feito por Rodolfo Toso, baseado na extensa correspondência da Madre Francesca Rubatto (1844 -1904), fundadora do Instituto das Irmãs Terciárias Capuchinhas:

Os agressores estavam de tanga, com o corpo pintado. O Pe. Zacarias estava celebrando a missa e foi abatido com um tiro de espingarda no momento da elevação. As irmãs estavam com as meninas. Separadas as meninas que choravam, os atacantes mataram as irmãs que conseguiram prender, degolando-as ou esfacelando-lhes a cabeça [...] consumada a chacina na igreja, os selvagens dirigiram-se para as casas dos missionários e das irmãs supértites e com eles desafogaram com maior ferocidade a sua ira com fuzis, facões e bordunas (MATOS, 2005, p. 21).

O trabalho dos indígenas na missão concorria com o já estabelecido comércio entre os Tenetehara e regatões, negociantes que usavam os índios na extração de recursos da floresta e como remeiros. Há registros do final do século XIX, na região do Alto Rio Guamá, de conflitos entre os Tembé Tenetehara e regatões, momento em que ocorreu a morte de nove tripulantes de uma embarcação, segundo os registros, os índios foram motivados pela ação exploratória, abuso sexual a mulheres e pelo rapto de crianças (PARÁ AGRÁRIO, 1999).

Como forma de represália, a força policial que apurou o conflito, além de espancar os índios, tomou-lhes nove crianças. A Diretoria Geral dos Índios da Província do Grão-Pará reuniu os Tenetehara dispersos na região, agrupando-os em aldeamentos no Alto Gurupi, que deram origem a configuração social dos atuais Tembé.

Outro fator importante na formação dos territórios Tembé no Pará foi a migração em massa de nordestinos fugidos das secas, que acarretou surtos epidêmicos, conflitos de terras e ainda com o avanço mercantil dos regatões e a extração de matérias-primas da floresta, onde os Tenetehara passaram a habitar especificamente o Alto Rio Acará, Médio e Alto Gurupi e o Alto Guamá.

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autodenominação Tenetehara é uma denominação mais abrangente e engloba os dois grupos que possuem língua e tradições culturais semelhantes (DUARTE, 2001). Sendo assim, os Tembé Tenetehara estão em três territórios:

• Os que habitavam o Território Indígena Alto Turiaçu, localizado à margem direita do rio Gurupi, no estado do Maranhão;

• Os Tenetehara originários da região dos rios Pindaré e Caru, no Maranhão, que rumaram em direção aos rios Gurupi, Capim e Guamá, dando origem aos Tembé e deixando no Maranhão os Guajajara;

• Os que vivem à margem esquerda, no território do Alto Rio Guamá; e os localizados na bacia do rio Acará. Segundo Valadão (2001), a posição do grupo seria decorrente da migração, de um avanço sobre os territórios dos Turiwara durante o século XIX.

1.2. Os Territórios do Povo Indígena Tembé Turé-Mariquita

A origem dos territórios do povo Tembé, moradores dos Territórios Turé-Mariquita, situados na bacia do rio Acará, afluente do rio Moju, que desemboca no mar, um pouco ao sul na foz do Rio Guamá, objeto deste estudo, deu-se através do avanço sobre o território dos Turiwara, junto dos quais habitaram até recentemente (Figura 1). Tudo o que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem (SANTOS, 2008). O autor discorre sobre o conceito, que está no centro das preocupações de vários profissionais, e continua a sua definição da paisagem, que é formada não apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. Segundo Santos (2014): “A paisagem é um conjunto de formas, que num dado momento exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza”.

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Figura 1 - Trajetória da Etnia Tenetehara no Período de 1613 a 2016.

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1.3. Elementos da Paisagem do Território Tembé Turé Mariquita

Um objeto se destaca na chegada da aldeia Turé-Mariquita, uma placa do Governo Federal, que referencia o Ministério da Justiça e a Fundação Nacional do Índio, onde se pode caracterizar que estamos dentro de uma Terra indígena e que destaca a restrição na entrada de pessoas estranhas (Figura 2).

Figura 2 - Placa do Governo Federal.

Fonte: Trabalho de campo.

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Figura 3 - Antes e depois da construção da nova escola.

a

Fotos: do autor.

Caminhando para o norte, encontra-se a primeira casa onde mora Dona Luiza Tembé, esposa do Lúcio Porangaty Tembé, velho cacique do Povo Tembé Tenetehara de Tomé-Açu. Na mesma configuração territorial está o complexo do posto de saúde, onde encontramos um banheiro isolado e uma caixa d’água, junto com dois objetos artificiais, que são o posto de saúde feito na década de 1980 e outra estrutura mais moderna onde fica o setor administrativo do posto. Todo complexo de saúde da aldeia vem de recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), ligada ao Ministério da Saúde. (Figura 4).

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elevada e ate mesmo um pequeno chiqueiro de porco que estão situados no meio da circunferência do polígono da abertura.

Figura 4 - Complexo do posto de saúde na aldeia Turé-Mariquita.

Fotos: do autor.

Neste lugar encontramos a casa do Lucio Tembé, cacique da aldeia Turé-Mariquita. As casas estão localizadas na periferia da clareira, feitas de madeira tirada da mata, com telhado de cavaco e telha de barro. No complexo criado para ensino indígena, à escola Tenetehara, encontramos uma cozinha usada para os alunos e por todos do território (Figura 3).

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Figura 5 - Cemitério na Aldeia Turé-Mariquita.

Foto: do autor.

Uma porteira de madeira com cancela e telhado de brasilit, onde tem uma placa: “Proibido entrar sem permissão na Aldeia Teknay. Por favor identifique-se com o Sr. Emídio Tembé”, demarca a entrada na Terra Indígena TI Turé-Mariquita II. A estrada que passa em frente da porteira e corta TI na tangente, em poucos quilômetros leva ate a fronteira do município de Acará.

Cruzando a porteira uns 100 metros, encontramos a igreja, posto de saúde e a caixa de água. Na mesma direção no sentido leste, mas para o lado direito encontramos a casa do Cacique Emídio Tembé. No entorno da casa encontramos um depósito de materiais de trabalho, outro objeto artificial onde há uma máquina de “debuiar” pimenta, e uns 15 metros ao leste a garagem do carro.

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No lugar onde atualmente é a casa da caçula, já foi à casa da família de Emídio Tembé, quando eles saíram da aldeia nova e decidiram ocupar a nova terra doada pela empresa Pará Pigmentos no final da década de 1990. Esse mesmo lugar foi também local de chegada da família do Lúcio Porangati Tembé, em sua trajetória de perambulação de volta da região de Águas Brancas. Nesse mesmo lugar ocorreu também o conflito entre os índios e os trabalhadores da Pará Pigmentos em 1995, quando estavam abrindo o pico para passar o mineroduto.

Olhando do alto da caixa d’água em direção nordeste visualizamos a escola indígena recém-construída e o ponto de cultura. Caminhando na mesma direção entre árvores frutíferas e algumas plantas medicinais, encontramos a casa da Marlene Tembé e na mesma configuração desta, a casa de Egilson Tembé. Muitos caminhos configuram a aldeia, ligando uma casa a outra, e a outros objetos artificiais que fazem parte do território. Saindo da casa do Egilson em direção norte, encontramos a casa azul que fica em frente do açude, e alguns metros acima, a casa de Zequias Tembé, filho mais velho do cacique.

Caminhando em sentido oeste, a uns 300 metros, enxergamos a casa da Xandi Tembé, neta criada por seu Emídio, filha de Ezelina Tembé. Na trilha que leva a casa de Xandi vimos plantações de maracujá e pimenta-do-reino, e ainda encontramos um campinho de futebol usado pelas crianças. Nesta configuração norte da aldeia, entre as casas de Xandi e Zequias há uma grande área descampada onde o cacique com os filhos plantaram um grande pimental. E já estão colhendo os frutos, pois em 2016 a pimenta chegou a R$ 30 reais o quilo.

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1.4. As configurações territoriais das Terras Indígenas Turé-Mariquita I e II

É diferente o conceito de configuração territorial e paisagem, embora a paisagem seja parte a dela. Dentro da configuração territorial encontram-se os recursos naturais e os recursos criados; a paisagem é o conjunto de objetos que nosso corpo alcança e identifica. Ela é também o contato com nosso corpo com o corpo orgânico que é a natureza. Através da paisagem, a configuração territorial se dá apenas parcialmente, miniaturizada pelas fotografias ou mapas e cartas, na medida em que tenhamos a domínio das informações (SANTOS, 2008).

As Terras Indígenas Turé-Mariquita I e II, Aldeia Nova e Pitawa estão localizadas no município de Tomé-Açu, estado do Pará. Este município pertence à Mesorregião Nordeste Paraense e à Microrregião Tomé-Açu. O município fica a 113 km de distância da capital do Pará, com extensão territorial de 5.145 km², e população de 56.514 habitantes (IBGE, 2010).

Na configuração territorial do município, um importante recurso natural é o rio Acará-Mirim que recebe inúmeros afluentes, sendo os de maior expressão da margem direita. Os mais conhecidos são o rio Tomé-Açu, que banha a sede municipal, os igarapés Araraguara, Timboteua, Biuteua, Tucumandeua e Mocoões. Pela margem esquerda, destacam-se os igarapés Água Azul e Tucunandeua e os rios Cuxiu e Mariquita. Além destes recursos naturais, o município contém em seu território sete aldeias indígenas das etnias Anambé, Turiwara, Amanayé e Tenetehara.

O acesso principal às Terras Indígenas Turé-Mariquita I e II, Aldeia Nova e Pitawa se dá a partir do distrito de Quatro Bocas (Tomé-Açu/PA), através da estrada São João, que leva até o ramal Mariquita que conduz às referidas aldeias, (Figura 6), totalizando um percurso de aproximadamente 26 km neste trajeto.A vegetação representativa dos territórios indígenas é a Floresta Densa dos Baixos Platôs, bastante alterada, ensejando o surgimento das Florestas Secundárias ou capoeiras. Ao longo das margens dos cursos d'água que cortam o território, encontra-se a Floresta Ombrófila.

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confeccionadas pelos próprios índios, as coberturas de palha foram substituídas por cavaco e os pisos passaram a ser suspensos.

A Terra Indígena Turé-Mariquita, onde está situada a aldeia, foi identificada e delimitada em 1987, demarcada em 1988 pela FUNAI e regulada pelo Decreto 304, de 29 de outubro de 1991, que tem superfície de 146,9798 ha e perímetro de 6.157,41 m (Figura 6).

As configurações territoriais das aldeias estão relacionadas ao processo de demarcação, que é o ato administrativo para estabelecer os limites territoriais tradicionalmente ocupados pelos povos indígenas, sendo dever da União, que busca com isso resgatar a dívida histórica com os primeiros habitantes dessas terras; propiciar as condições necessárias para sobrevivência física e cultural desses povos e preservar a diversidade cultural brasileira.

Esta configuração apresentou significativa mudança em 1997, quando a empresa Pará Pigmentos S.A., atendendo às pressões do Ministério Público, dos Tembé e da opinião pública, onde foi doada terra para os indígenas, tentando compensar parte dos impactos socioambientais decorrentes da implantação do mineroduto para o escoamento de caulim de Ipixuna do Pará até o distrito industrial de Vila do Conde em Barcarena.

Esta ação atenuou um momento tenso na história do lugar Em meados dos anos 1990, mais precisamente dia 22 de maio de 1997, o cacique Emídio Tembé deslocou-se para a terra recém-doada pela empresa Pará Pigmentos S/A, fazendo a primeira entrada na configuração territorial da área posteriormente denominada de Aldeia Teknay.

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Figura 6 - Mapa politico-administrativo do município de Tomé-Açu.

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Após a experiência de doação de terras pela Pará Pigmentos S.A, os indígenas prosseguiram no movimento de expansão de seus territórios. Em 1997, o cacique Tibúrcio Tembé, casado há 39 anos com a capitôa Domingas Tembé e filho de uma índia Amanayé, moradora do Alto Rio Capim, a convite de seu sogro Porangati Tembé, que "queria sua gente mais perto da aldeia Turé-Mariquita" (comunicação oral, cacique Tiburcio, 2015) e

com a carência de caça na região de Águas Brancas onde morava, comprou uma área de 49,4307 ha ao lado da Terra Indígena Turé-Mariquita, a qual denominou Aldeia Nova (Figura 7).

Segundo o cacique Tibúrcio, sua área indígena por não ser demarcada pela FUNAI,

“sofre preconceito do próprio Povo Tembé”, que vivem nas terras demarcadas e que são parentes da capitôa Domingas Tembé. Contudo, a FUNAI e a FUNASA reconhecem a Aldeia Nova como parte da comunidade indígena da região, e o Sr. Tibúrcio como uma liderança indígena, pois estão dentro do censo indígena do Sistema de Informação de Atenção a Saúde Indígena, o que reforça mais ainda a sua condição de comunidade indígena.

Com relação aos serviços de saneamento, que são de responsabilidade dos Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN), contam com um representante em cada aldeia. Os AISAN são formados e treinados pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), e buscam contribuir para a higiene de sua comunidade e, consequentemente, para a prevenção de doenças, através de intervenções no âmbito de abastecimento de água; coleta, tratamento e destino adequado dos esgotos; e coleta, tratamento e destino adequado do lixo ou resíduos sólidos (BRASIL, 2006).

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Figura 7 - Localização da Terra Indígena Turé-Mariquita II.

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Nos territórios indígenas as moradias apresentam características heterogêneas que simbolizam o contraste entre antigos e novos modelos habitacionais. Há prevalência de casas de madeira com telhado de cerâmica. Coexistem habitações com piso de chão batido, assoalho e cimento. Na aldeia Turé-Mariquita foi construída uma cozinha externa coletiva, onde os moradores têm acesso para cozinhar e fazer as refeições em comunidade.

O cacique Lúcio Tembé fez referência às consequências negativas da utilização de pisos de cimento, ressaltando que os índios costumam andar descalços e sentem o impacto do chão frio, que em sua opinião agrava os problemas do sistema respiratório (gripes, resfriados). Por sua vez, o cacique Emídio Tembé queixou-se da insuficiência de recursos naturais para manter as tradicionais casas indígenas, enfatizando que é necessário comprar palha em Belém para fazer a cobertura de uma casa que está em construção na aldeia.

Quanto às aldeias, verificou-se que todas dispõem de rede de distribuição de energia elétrica; serviço de abastecimento de água proveniente de poços artesianos, com armazenamento em caixas d'água, cujos encanamentos estendem-se ao interior das moradias, onde ficam os jiraus. A água armazenada nas caixas d'água é utilizada para beber e para a preparação dos alimentos, porém não fizeram referência a qualquer tratamento desta água, com exceção da que é utilizada na aldeia Turé-Mariquita, onde é visível a presença de um filtro na torneira principal onde coletam água para beber.

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Figura 8 - Casa na Terra Indígena Turé-Mariquita II.

Foto: do autor.

Segundo Santos (2014), quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza os aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida e da dinâmica do lugar. Não havia grandes transformações e já existia a domesticação de plantas e animais; o homem mudando a natureza, impondo-lhes leis. Essas condições naturais constituíam a base material da existência do grupo.

De certa maneira (SANTOS, 2014), esses sistemas técnicos usados estavam em simbiose com a natureza, onde a possibilidade da criação mergulhava no determinismo do funcionamento. Esses sistemas técnicos sem objetivos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem indissolúveis em relação à natureza, que em sua operação ajudavam a reconstruir.

É sabido que a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço (SANTOS, 2012, p. 29).

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A fala do Cacique Tembé permite subsidiar uma análise sobre a dinâmica social na aldeia dos Tembé Turé-Mariquita antes a chegada das empresas Pará Pigmentos e Biopalma, onde, à época, eles viviam somente da caça e da coleta e extração de frutos e peixes. Viviam nas matas isoladas, não tinham vizinhos e sua produção era de subsistência. É interessante que para eles não havia mercado, e o escoamento do excedente da produção era feito através de um fazendeiro que ia de trator até próximo às aldeias pela vila Socorro.

Com base em Santos (1992), presume-se que o tempo atual na aldeia pode ser considerado mais acelerando após a chegada do capital na região, a partir da dendeicultura, e se reflete diretamente na configuração territorial da tribo, impactando o seu cotidiano.

1.5. Dinâmica Socioespacial das Aldeias

Um homem branco levou nas beiras do alto Rio Acara Mirim, Lúcio Porangati Tembé, que morava nas aldeias Cuxiu Mirim, território dividido entre as tribos Amanaje, Tembé e Turiwara. De acordo com Emídio Tembé, à época que seu pai foi encontrado, ele estava com sete ou oito anos de idade, quando houve um surto de paludismo e febre amarela que assolou as aldeias, momento em que boa parte da população morreu e muitos fugiram do local.

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Figura 9 - Igarapé Água Branca.

Foto: do autor.

A temporalidade indígena é muito bem expressada na fala do Emídio Tembé, cacique mais velho dos territórios Tembé. Em sua narrativa, descreve a chegada do seu pai e irmãos no local em que hoje estão assentadas as aldeias.

Nós viemos de Água Branca, comunidade localizada no ramal com mesmo nome em Tomé-Açu (PA), fazer uma abertura onde hoje é a Aldeia Turé, onde está o posto de saúde e escola. Quando eu comecei a andar com ele [pai] eu tinha dezoito anos, nós andávamos por debaixo das matas e de canoa pelo rio Mariquita, saía de canoa de Água Branca para sair no rio Mariquita; e do Mariquita entrava no Turé. Muita caça, muito peixe e muita mata. Aí veio para cá, fizemos um hectare de roça, com uma abertura. Muita mata, muita mata, que no tempo não tinha ninguém. Aí abrimos uma clareira e fizemos uma palhoça igual aquela ali, aí depois que nós fizemos aquela barraca lá, nós fomos buscar a galera na Água Branca. (Emídio Tembé, comunicação verbal, 12/05/2015).

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Figura 10 - Mapa de perambulação dos Indígenas Tembé Turé Mariquita de 1961 a 2016.

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Para entender essa dinâmica social, o cacique Emídio Tembé relata o período anterior ao conflito com as multinacionais que, segundo ele, onde hoje se encontra o atual território da aldeia não havia nada, era apenas mato, como já citamos anteriormente. Depois de ter aberto o terreno mata adentro, ele foi buscar o restante de família, a esposa e oito filhos na comunidade de Águas Brancas. A população do grupo Tembé Turé-Mariquita que residia nos territórios, era composto de 47 pessoas, dentre as quais 14 indivíduos estavam distribuídos em cinco famílias na Aldeia Turé-Mariquita, 15 pessoas estavam agrupadas em sete famílias extensas na Aldeia Teknai e 18 indivíduos que compõem as oito famílias da Aldeia Nova.

O cacique relata que na época de sua chegada, a caça era a principal fonte de alimentos e que também permitia uma relação com o mercado, visto que vendia o excedente do que era consumido. A caça era abundante, e entre os mamíferos destacavam-se quinze espécies, entre os pássaros foram citadas 18 espécies e o pescado, segundo informações, era farto, identificando-se cerca de 17 espécies de peixes consumidas pela tribo (Figura 11). A captura dos animais era feita com técnicas rudimentares, como a Arapuca, uma armadilha em forma de pirâmide feita com varas de madeira ou bambu, usada para caçar pequenos animais, o arco e flecha, armas artesanais como canhão e buldogue, e também técnicas mais modernas como espingarda.

Figura 11 - Trato de carne de caça consumida na Terra Indígena Turé-Mariquita II.

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A coleta de frutas nativas era comum, pois é uma característica da alimentação dos índios, além das espécies nativas também plantavam espécies exóticas, totalizando 18 tipos de frutas. Em relação ao abastecimento de água na tribo, os índios informaram que utilizavam a água dos igarapés para beber. Na fala de Dona Luíza Tembé, matriarca da tribo, ela afirma que a água era bem azulada.

O uso de ervas medicinais também foi citado como uma prática utilizada pelos índios, fazendo parte da dinâmica social em relação ao cuidado com a sua saúde. Na tribo, as ervas eram plantadas no quintal ou coletadas na floresta.

A criação de animais e o cultivo da roça fazem parte da configuração territorial das aldeias, onde encontramos sete tipos de animais e nove culturas nas roças, que estão dispersos no espaço dos territórios Tembé. Na dinâmica da produção, a mandioca é utilizada na produção de farinha, tucupi e tapioca. Nesse sentido, na Tabela 1 identificam-se as espécies de animais abatidos e os instrumentos de captura para o consumo de subsistência dos Tembé.

Tabela 1 - Animais consumidos e Instrumentos Utilizados na captura de caças.

Animais (espécies) Técnicas (instrumentos )

1- Capivara 2- Preguiça 3- Tatu 4- Quati, 5- Onça 6- Cutia 7- Veado

8- Porco-espinho 9- Guariba 10- Catitu

1- Arapuca 2- Espingarda 3- Canhão 4- Buldogue

Fonte: Trabalho de campo.

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Contudo, vale destacar que as relações sociais não eram totalmente harmônicas e toda e qualquer relação estabelecida entre o homem e meio sempre gera impactos, mesmo que sejam menos predatórias. Pode-se observar o predomínio do meio natural na época em que as técnicas utilizadas eram mais simples e de menor impacto sobre o meio (SANTOS, 2014),

Entre os Tembé, houve uma redução significativa das atividades de caça e pesca fato que atribuem ao desmatamento das áreas de floresta e à má qualidade da água dos rios e igarapés. Somam-se a isso as restrições legais de órgãos ambientais quanto à preservação de algumas espécies de animais. Esse cuidado com o ambiente também repercutiu na produção de artesanatos, pois os índios já não podem mais utilizar, por exemplo, penas de alguns pássaros em extinção, que no passado usavam para confeccionar cocares e outros adereços.

Nesse contexto, registraram-se como atividades geradoras de renda na aldeia Teknai a incipiente atividade de piscicultura, com a criação de tilápias, além da criação de gado e plantação de pimenta-do-reino. As demais atividades referidas são de subsistência, como a criação de porcos, galinhas, pequenas roças, produção de farinha, tucupi e tapioca, cultivo de feijão, macaxeira, milho, arroz, legumes, frutas, ervas medicinais e coleta de açaí (Figura 12).

Figura 12 - Atividades agrícolas e criação de gado na Terra Indígena Turé-Mariquita II.

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Na aldeia Turé-Mariquita, o uso dos recursos naturais é exclusivamente para a subsistência, destacando-se a caça, coleta de frutos, complementada pelo o cultivo de pequenas roças de mandioca para produção de farinha, além de milho, feijão, arroz; e plantação de legumes. Segundo o cacique Lúcio Tembé, a comercialização de farinha não é lucrativa, pois o valor atribuído ao produto não compensa o trabalho empreendido na produção (Figura 13).

Figura 13 - Produção de farinha na Terra Indígena Turé-Mariquita II.

Foto: do autor.

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homens e mulheres; e fez referência à recém-inaugurada Casa da Cultura Indígena "Tenetehara", um espaço adequado à exposição e venda dos produtos artesanais produzidos pelos indígenas.

Por sua vez, a Aldeia Nova destaca-se por ainda comercializar a farinha de mandioca, cujo rendimento mensal chega a um salário mínimo, segundo relatos dos moradores. Observa-se nesta área um número maior de roças de mandioca, além de contar com maior contingente de mão de obra, se comparada à aldeia Turé-Mariquita I. Nesta aldeia, a extração do açaí ainda consiste em uma atividade rentável. Em complemento, os moradores realizam trabalhos esporádicos em áreas vizinhas, geralmente em fazendas onde trabalham em atividades como capina ou roçagem de vegetação, utilizando foices, motosserras e também fazem plantações nessas áreas.

A dinâmica social na aldeia passa por um processo de constante transformação mesmo antes da chegada da empresa, podendo-se identificar algumas atividades remuneradas por meio da prestação de serviços em instituições públicas ou empresas privadas pelos indígenas dos territórios Tembé, como pode ser identificado na tabela 2.

Tabela 2 - Atividades remuneradas registradas nos territórios Tembé.

Função Quantidade Contratante

Agente de saneamento indígena 3 AITTA

Agente de saúde indígena 3 AITTA

Professor/a de Cultura Indígena 1 Prefeitura

Professor/a de Língua Portuguesa 3 Prefeitura

Servente 1 Prefeitura

Zelador 1 Prefeitura

Fonte: trabalho de campo.

Este levantamento foi realizado durante o trabalho de campo (maio de 2015), em que outras informações além daquelas demostradas na tabela também foram observadas. Nas três aldeias há um total de 12 pessoas com renda mensal fixa, cujos salários variam de um salário mínimo e até dois salários mínimos.

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saneamento indígena, e dois agentes de saúde indígena nas aldeias Nova e Teknai, respectivamente, que através de um convênio com a FUNASA, esses agentes foram treinados para exercer tais atividades. No que concerne aos profissionais que atuam na escola, a Prefeitura Municipal de Tomé-Açu responsabiliza-se pela remuneração desses funcionários, sendo estes: professores, servente e zelador.

O acesso ao transporte nas aldeias é proveniente dos recursos dos próprios indígenas, que se deslocam de bicicletas, motocicletas, animais e automóveis. Esta realidade evidencia uma situação preocupante, visto que os condutores não são habilitados e há registros de acidentes. Além disso, durante o trabalho de campo verificou-se que era uma prática comum, presenciando-se inclusive cenas de menores conduzindo os veículos de forma irregular.

Com a chegada do grande projeto, representado pelas empresas, a dinâmica social da tribo vai sendo alterada, e seus impactos de maneira mais intensa sobre o lugar, seja no meio ambiente ou a partir da inserção da tribo no meio mais técnico-cientifico e informacional.A partir das transformações ocorridas no território dos Tembé após a chegada das multinacionais, com base em Santos (1992), pode-se inferir que esses projetos de modernização são empreendidos para suprir as demandas do capital, estando muitas vezes desvinculados dos interesses da população local da região onde se instalam.

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CAPÍTULO 2

A CHEGADA DO ESTRANHO NOS TERRITÓRIOS TEMBÉ TURÉ-MARIQUITA

Os projetos implantados no Pará e na Amazônia, de modo geral podem ser interpretados segundo a visão de Santos (2008), que considera como um Sistema de objetos que obedece a uma lógica que é estranha ao lugar, e não representa os anseios da população local. Neste sentido, a região não exerce a sua real função de reger, mas sim de obedecer aquilo que lhe é imposto externamente. Isso ocorre porque o mundo reverbera no conjunto de lugares, como o exemplo das aldeias indígenas Tembé, que sofrem os impactos por estarem inseridas na região do dendê no nordeste paraense, mudando a configuração do lugar. Essa mudança deve-se à ação compartilhada, com intermediação do Estado e dos grupos empresariais hegemônicos. Nesse contexto, a Amazônia se reinventa a cada boom econômico,

como vem ocorrendo historicamente durante os ciclos da borracha, pimenta, pecuária, soja e dendê.

Neste capítulo analisamos as condições políticas, técnicas e territoriais que permitiram a chegada da Biopalma. Destacamos os caminhos e descaminhos para obtenção de terras nas áreas do entorno das terras indígenas Tembé Turé-Mariquita no final da década passada. Observa-se o Estado sempre por trás do interesse das grandes organizações mundiais, criando instrumentos, normas e planos para legitimar as atividades empresariais, conforme análises de Martins (1993), Costa (2000) e Ianni (1977). Neste sentido, é fundamental entender a chegada da Biopalma no nordeste paraense, e mais precisamente no município de Tomé-Açu, tentando interpretar geograficamente as tenções territoriais emergentes desse encontro.

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2.1. A Segmentação do Mineroduto nas Terras Indígenas

O projeto de mineração implantado pela Pará Pigmentos e Imerys Rio Capim Caulim corrobora a sua importância para o município em que se localiza no que diz respeito à geração de empregos, investimentos em projetos sociais e meio ambiente, além do recolhimento de impostos, como contribuição ao fortalecimento das finanças públicas do mesmo.

A alocação desses recursos na execução de obras da prefeitura desde a entrada dessas multinacionais corroborou a implantação de projetos de beneficiamento mineral e as transformações socioterritoriais em Tomé-Açu. A década de 1970 foi marcada principalmente pelas relações entre as nações produtoras e consumidoras de petróleo, mais especificamente em 1973 houve uma forte crise no setor, que provocou um rearranjo territorial no sistema mundial das plantas industriais intensivas em energia. Com isso, o Japão, que possuía uma grande parcela industrial no setor de energia, foi fortemente afetado pela elevação dos preços do petróleo. A partir daí, o Japão, que à época era o maior consumidor de alumínio, começou a fechar suas unidades industriais do metal primário e transferindo suas unidades para os países periféricos, onde o fator energia, mão de obra e legislação ambiental fossem mais atraentes.

Consequentemente, a reestruturação mundial da indústria de alumínio primário trouxe como consequência a queda do oligopólio das indústrias e a formação de joint-ventures em países periféricos, onde a energia fosse mais barata. Sendo assim, em julho de

1976 os governos do Brasil e do Japão assinaram um acordo de cooperação para a construção de um complexo produtor de alumínio no estado do Pará. Essas transformações territoriais na área começaram no ano seguinte, em 1977, com a edição das Joint-Ventures

internacionais nos países em desenvolvimento, permitindo que duas ou mais empresas ou grupos econômicos compartilhassem as propriedades e as funções dos ativos de capital, os riscos, os lucros e os processos para a tomada de decisões relacionadas a uma empresa ou a investimentos em novos projetos.

Referências

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