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A resposta japonesa aos choques de oferta: 1973/1981

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1\9 196

A RESPOSTA JAPONESA AOS CHOQUES DE OFERTA: 1973-1981 Fernando Antônio Hadba

(2)

• Escola de: Pós-Graduação em Economia - FGVIRJ Setembro 1992

Impresso no Brasil.

Fernando AntOnio Hadba

A Resposta Japonesa aos Choques de Oferta: 1973-i981

Por FERNANDO ANTÔNIO HADBA

Abstract

This paper discltsses some theoretical aspects of supply ~hoc~s and describes the impact of supply shocks on the japanese economy using some comparasions with USA and Brazil. The outstanding results on adjusting on "Oil shocks were due

to a tight and orthodox monetary policy associate with some peculiarites of the japanese labor market .

I - INTRODUÇÃO

Desde que Keynes diagnosticou a grande depressão de 1929 como falta de demanda agregada na economia] e que a síntese neoclássica feita por Hicks e Hansen no modelo ISLM tornou-se o caminho principal da teoria econômica, o lado da demanda da economia teve sempre um papel de destaque em comparação ao da ofelta nas análises de problemas econômicos. Com o primeiro choque do petróleo, oCOlTido em outubro de 1973, que ocasionou o fenômeno da estagtlação (aumento geral dos preços associado a uma queda do nível de atividade da economia) passou-se a analisar também o lado da oferta.

Os choques de oferta ocorridos nos anos' 70 possibilitaram a discussão sobre temas que já pareciam resolvidos na ciência econômica como o famoso trade-off de curto prazo entre nível de emprego e taxa de inflação. Falou-se até mesmo na falência da curva de Phillips, quando na realidade o que ocorreu foi wna interpretação enônea do fenômeno. Outro aspecto tcórico reestudado neste período foi a ofcrta monetária

e

seus impactos no lado da demanda e oferta agregada da

1 Na Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda.

(3)

Fernando AntOnio Hadba

economIa, quando antes se admitia a influência da oferta de moeda apenas na demanda de bens2

Sobre o caso específico do Japão pode-se dizer que foÍ um dos países mais afetados pelo choque energético pois dependia em quase 100% de importações desse combustível e, estando com uma economia com um crescimento altamente acelerado com crescimento de 8,2% do PNB real nos três anos ànteriores, foi o que sofreu a maior estagflação. A taxa de crescimento do PNB caiu para 0,4% entre ·1973 e 1975. A inflação, que era de 8,5% a.a. entre 1971 e 1973 em média, foi para 14% a.a. entre 1973 e 1975. Apenas como comparação, a inflação brasileira entre 1973 e 1975 foi de 24,6%.

A primeira prute deste trabalho é esta introdução. Segue-se. uma análise da teoria e definição de alguns conceitos sobre choques de oferta. A terceira parte do trabalho é um relato dos fatos ocorridos na economia japonesa, que para serem melhor situados serão muitas vezes comparados com fatos semelhantes ocorridos nos Estados Unidos, Brasil e países da aCDE. Um estudo suscinto da opção brasileira, para o enfrentamento da crise energética, é feito na quarta parte do paper. Na quinta parte são levantadas as principais hipóteses do sucesso do ajuste japonês. A sexta e última palte do trabalho é o relato das conclusões

11 - ASPECTOS TEÓRICOS DOS CHOQUES DE OFERTA

o

objetivo desta parte do trabalho é' mostrar a teoria que explica o funcionamento dos choques de oferta bem como definir alguns conceitos que se incluem nesta área do conhecimento econômico. Os conceitos teóricos aqui mostrados estarão penneal1do tanto a descrição dos fatos ocorridos nas economias dos países em estudo quanto as hipóteses que explicam o ajustrunento destas economias.

1/.1 A Economia Do Lado Da Oferta 2 Suzuki [1986)

(4)

Fernando AntOnio Hadba

Antes de se restringir o estudo aos choques de oferta, é necessário que defina-se o que é a economia do lado da oferta. A definição dada pelo The M1T Dictionary ofA1odern Economics[1986)3 pode ser resumida assim:

É o segmento da economia que enfatiza como o principal determinante da taxa de crescimento da produção nacional, 'tanto no longo quanto no curto prazo, a alocação e uso eficiente de Trabalho e Capital na economia. Este segmento tem nos impedimentos para a oferta da economia e no uso eficiente dos fatores de produção o seu foco de trabalho .. Efetivamente, isto significa uma preocupação com a inclinação e posição da curva de Oferta Agregada da Economia

11.2 Oferta Agregada E Função De Produção

Uma definição indiscutível de oferta agregada da economia não é tarefa fácil. Blinder [1979], após referir-se a falta de consenso sobre a ofertq agregada entre os : econotnistas dos mais variados' segmentos; atem-se apenas na questão: Como o

volume agregado de produção responde a wna mWldança no lúvel de preços?

A produção da economia é uma função dos fatores de produção; capital, trabalho e recursos naturais. A questão fundamental da oferta agregada é o comportamento da produção quando ocorrem variações dos preços, dos incentivos, dos impostos e de quaiquer outros fatores que afetem o - sistema de produção.Formalmente, a função de produção pode ser escrita como:

DA = f(L,K,RN)

onde L é trabalho, K é Capital e RN são os recursos naturais.

Como os fatores de produção variam com o tempo e como todos são funçao dos preços detenninados pela demandas e ofertas destes bens tem-se que a OA seja

OA

=

g(t,P)

onde t é o tempo e P é o nível de preços. A questão do tempo permite entender o "descaso"de Keynes em relação a oferta da economia.

No cm1íssimo prazo os fatores de produção estão disponíveis a custos constantes. Geralmente os fatores dé produção são fomecidos através de c0111raÚJ3,

3 p. 409.

(5)

Fernando AntOni" Hadb4

durante a sua vigência há uma rigidez dos preços. Ou seja, neste prazo a oferta agregada da economia é totalmente elástica 110 detenninado nível de preços.

Exemplificando, é sempre possível adquirir fatores de produção, aos preços vigentes, para atender qualquer quantidade demandada.

Neste prazo de tempo, os preços são detenninados pelos custos, não respondendo a mudanças na demanda. Apenas por rigor, diz-se· que é uma situação onde a quantidade ofertada tem urna elasticidade infinita em relação aos preços. Fonnalmente:

Em um prazo intermediário, alguns contratos de fatores de produção começam a vencer, alguns fatores começam a escassear e surgel~ custos adicionais como horas extras, uso acima do limite ótimo das máquinas e compra de recursos naturais menos eficientes. Estes fatos leva...m a um aumento dos custos das empresas. Mas a preços maiores no mercado de produto, continua haver incentivo

a

produzir mais. Como nem todos os insumos têm o seu contrato ajustado, o custo real de se produzir mais uma unidade (custo marginaVpreço) continua a decrescer, incentivando a maior produção dado maiores preços. Este fonnato de fll11ção de oferta agregada onde a derivada da função em relação ao nível de preços é positiva, ou seja,

ôOA >0 ôP

No longo prazo todos os insumos possuem os preços flexíveis (não há' rigidez gerada por contratos). Se o rúvel de preços dos produtos sobe, os custos sobem na mesma proporção, não há nenhum jncentivo em se produzir mais quando há o aumento dos preços. Preços maiores não ~nais significam lucros maiores. A

(6)

Fernando AntOnio Hadba

derivada da função em relação ao nível de preços passa a ser zero. Formalmente:

ôOA .

- - = 0 ôP

Este é o ponto de produto potencial da economia. Um aumento da produção . dar-se-á apenas com o deslocamento da oferta agregada. Resumindo, no longo prazo, o que importa são os fatores reais da economia (esc~ssez) ; em prazos menores o lado nominal (preços) influi na atividade econômica.

A escola das expectativas racionais, em alguns de seus modelos, propõe que não havendo rigidez, até mesmo no curto prazo a curva de oferta é vertical em relação aos preços.4 A figura 1, que interage oferta e demanda agregadas, permite a visualização dos fatos descritos neste tópico.

11.3 Demanda Agregada

É a soma de todos os gastos em bens e serviços de uma economia. Estes gastos são consumo, investimento, gastos do governo mais o saldo de exportações menos importações de bens e serviços. Algebricamente

y

=

C + I + G + (X - M) (2.1)

onde Y é o produto, C o consumo, I o total dos investimentos, G os gastos do governo e (X-M) é o saldo da balança comercial mais serviços não fatores. A identidade (2.1) é a forma keynesiana de expressar a demanda agregada.

A visão monetarista da demanda agregada é o produto da quantidade de moeda pela velocidade de circulação desta. A identidade da demanda agregada nominal para os monetaristas seria:

DA= M·V

onde DA é a demanda agregada, M a quantidade de moeda e V a velocidade de circulação da moeda.

4 Ver por exemplo Barbosa [1989]

EPGE/FGV-RJ SETEMBRO 1992 5

(7)

Fernando AntOnio Hadba

Qualquer que seja a fonna de expressar a demanda agregada nominal,a demanda real é função decrescente do nível de preços. Formalmente:

dDA

<o

dP

Blinder [1979] enumera alguns motivos para este formato da curva de demanda agregada.

1. A preços maiores a demanda por moeda é maior porque para um mesmo número de transações é necessário mais moeda. Logo, dado uma oferta de moeda -constante, menos transações podem ser realizadas;

2. Como parte da riqueza dos agentes está expresso em moeda, a começar pela própria, um aumento dos preços diminui a riqueza dos agentes e sua capacidade de demanda;

3. Um aumento dos preços leva a um aumento dos preços dos produtos exportados e ao mesmo tempo uma maior atratividade pelos podutos importados, há, então, uma queda da demanda agregada.

Na figura 1- nota-se -que, independente do prazo, o fonnato da curva de demanda agregada é sempre o mesmo.

1I.4 D Esquema DA x DA

A figura número 1 junta em um plano Nivel de Preços (P) e Quantidade (Q) os três prazos em uma economia.

FIGURA

1

O

esquema

OA

?<

DA

p d p p

da

q q q* q

(a) curto prazo (b) prazo intermediário (c) longo prazo

(8)

Fernando AntOnio Hadba

Na figura la observa-se que o nível de preços é fonnado pelos custos rígidos do lado da oferta. A curva de demanda define o nível de atividade econômica. Como a Teoria Geral de Keynes é uma teoria de curto prazo· e intermediário, justifica-se o enfoque quase que exclusivo no lado da demanda para a determinação

do nível de atividade da ecoqomia.

No prazo intennediário, figura 1 b, ambas as curvas influenciam o nível de preços e atividade da economia.

No longo prazo, figura 1 c, a quantidade está detenninada e igual a

q*

pela curVa de oferta. A curva de demanda agregada determina o lúvel de preços. Como o longo prazo é uma área de interface entre a macroeconomia e o desenvolvimento econômico, pode-se notar que desenvolver é deslocar o produto potencial. Esta figura mostra como é importante não menosprezar o lado da oferta da economia. Obviamente, como preferimos o presente ao futuro, muitas vezes relegamos o lado da oferta e por isso há dificuldades de se· combater os choques deste lado da

economia. •

lI. 5 Estagflação

A definição de estagf1ação é expressa como um aumento considerável do nível de preços associado a uma queda do nível de atividade econômica. De modo geral a estagflação pode ser gerada de duas maneiras.

A primeira maneira é um deslocamento para a esquerda da curva de oferta (figura 2a). A segunda maneira de haver uma estagf1ação ocorre quando tenta-se

,

produzir acima do produto potencial como mostra a figura (2b). Quando tenta-se deslocar a demanda para a região acima do produto potencial, normalmente por uma atuação do govemo na área fiscal ou monetária - aumento dos gastos líquidos na área fiscal ou relaxamento da política monetária. Em uma primeira fase ocorre uma expansão clássica, com aumento de preços e q!1antidades. Após o esgotamento desta fase "antinatural" a economia volta para o produto potencial. Nessa fase que as quantidades retomam ao produto potencial e os preços continuam subindo.

(9)

oa2 p figura (2a) q FIGURA

2

Estagflação

p

~

i

.

oa .

)'

. .

f\

! .~ da1 q* q figura (2b)

F •• nando AntOnio Hadba

da2

Na figura 2a, a estagflação é o deslocamento de

a

pàra b. 'Na figura 2b, a estagf1ação é o deslocamento de d para

e.

Se os agentes econômicos tiverem expectativas raCIOnaiS, a única possibilidade da geração de estagf1ação é através de um choque de oferta não esperado (figura 2a).5

A estagf1ação dos. anos 70 foi um processo semelhante a figura 2a.

lI. 6 Choque De Oferta 6 .

São gerados a partir de fenômenos econômicos que, ao ocorrerem bruscamente, deslocam a curva de oferta para noroeste ( choque negativo) ou para sudeste (choque positivo). Quebras de safras agrícolas devido a intempéries é o choque de oferta mais comum na história mundial. Pestes que matam a população também são choques de oferta pois diminuem' o mercado de trabalho. Choques positivos são causados, principalmente, pela difusão no sistema produtivo das invenções científicas. É o processo de criar uma inovação através de uma invenção ou descoberta. Os choques de oferta positivos (negativos) diminuem (aumentam) os

5 Para maiores detalhes ver Barbosa [1979 pp.411

6 Para uma definição mais completa veja Shapiro, M in The New Palgrave Dictionary of Economics [1987] pps. 557-559.

(10)

custos de produção para o mesmo lÚVe1 de produto. A figura

3

.mostra os dois tipos de choque. p FIGURA

3

Choques de Oferta oa2 p ~r~

.

I

" - - d a q q a oa1 q q

(a) choque de oferta negativo (b) choque de oferta negativo

C=>

d .

a=>b

.

Na figura 3a, caso a economia pretendesse continuar com o mesmo nível de atividade (qa) teria que arcar com custos muito mais altos na nova curva de oferta. Raciocinando através dos preços na figura 3b, a economia só voltaria a ter os mesmos custos de C no lÚvel qe produto real correspondente a c'.

De agora em diante a palavra choque sempre significará o choque negativo, a menosque haja expressão em contrário.

Os choques de oferta não afetam somente as curvas de oferta de prazo intermediário. Eles também afetam a curva de oferta de longo prazo, ou produto potencial da economia, principalmente quando são choques permanentes. Este fato

,

justifica .algwnas políticas de supply-side, que tentando diminuir os custos de produção aumentam o produto potencial da economia. 7

O choque de oferta de origem externo, coeteris paribus, empobrece wna economia porque transfere renda destes para

°

exterior ( no caso do choque do petróleo, dos países importadores para os países exportadores de óleo). Se houver rigidez de preços dos outros insuinos, remuneração do capital e salários, ocorr.erá

7Samuelson [1989] capitulo 10.

(11)

Fernando ~,tOnlo Hadba

um conflito distributivo das perdas ocasionadas pelo choque extemo que será inflacionário. Se o bolo diminuiu de tamanho e todos querem continuar a ter o mesmo tamanho de fatia, haverá uma pressão do lado nominal (inflação) para que a soma das partes continue sendo igual ao todo. O proximo tópico mostra como a rigidez pode piorar um choque extemo.

lI.

7

Fronteira de Preços dos fatores (FPF)

A fronteira de preços dos fatores é um dos illstrumentosmais importantes . para se entender o funcionamento dos choques de oferta em uma economia.8 A FPF que se adapta mais a este problema é a com três fatores de produção mas para se conseguir um melhor acompanhamento do assunto começar-se-á com uma FPF de dois fatores.

Dado um nível de produção, qual seria o maior lucro .obtível dado um salário real. Inversameilte, qual seria o maior salário reaI possível dado uma taxa de lucro real. O local geométrico des-tes pontos no plano salário real

x

taxa de lucro é a FPF. lI.7.1. FPF de Dois·Fatores

e

a Tecnologia .

. O valor agregado da economia (V) é função da quantidade de trabalho (L), do estoque de capital (K) e da tecnologia ou tempo (t). Dada a tecnologia vigente, a função de produção, ou valor agregado, relacionará os insumos para obter· o ponto ótimo de produção. Os produtos marginais de cada fator são as derivadas parciais da função V em relação a cada fator. Analiticamente, tem-se:

v

=

g( L, K, t) (2.2)

PrngK

=

VK = iJV / iJK PrngL = V L

=

iJV / ôL

A hipótese de retomos constantes de escala dada uma tecnologia também constante leva-se a

V = g (L, K) e aV = (aL, aK) onde

a

é constante.

BUma visão abrangente deste conceito pode ser vista em Bruno e Sachs [1985 cap 1,2,3J de onde este resumo foi retirado.

(12)

Farnando AntOnio Hadba

Coma hipótese de retornos constantes de-escala, somente (:ls proporções de capital ,trabalho e produto serão importantes para a detenninação do produto marginal. Dividindo-se (2.2) por L ou fazendo

a

=

1IL,

chega~se a:

~

=

g ( 1,

Yr.)

==

~

=

g (Yr.).

A divisão de (2) por V encontra a isoquanta unitária.

1 = g(L IV, K/V) que é a figura número 4.

K/V (1/V )

o

(KN)o

FIGURA 49 Função de Produção 9 L/V

Essa curva g contém todas as combinações -de pontos eficientes de trabalho e capital que produzem 1 unidade de produto. A inclinação desta curva no ponto de produção pO é a taxa marginal de substituição de trabalho por capital.

tg g (pO) = - PrngL/ Prn~

Designando por W o salário nominal e Z fi taxa nominal de aluguel do capital e minimizando os custos de produção encontra-se:

PrngL

PrngK = =

-o cust-o marginal de pr-oduçã-o. As elasticidades-pr-odut-o d-os d-ois fat-ores é

L óV VLL

e

=--·-==--=s

L V 8L V

9Reprodução de Bruno e Sachs [1985 p.38]

(13)

Fernando AntOnio Hodba

e analogamente

e

K = (1 - S).

Suponha agora, que os produtores não apenas minimizem custo, mas também escolham sua produção para maximizar o lucro. o custo marginal de produção terá que ser igual ao preço do produto (Pv). Substituindo todos os retornos reais dos fatores pelos· produtos marginais e proporções reais do produJo por elasticidade, tem-se:

onde W v é a razão entre o salário nominal e o preço do produto bem como Zv é a razão entre o valor do aluguel do capital é o preço do produto.

A figura 4 sumariza a tecnologia. A correspondência entre uso dos insumos e

os-

produtos marginais dos fatores é chamado de dualidãde. Pela' dualidade pode-se escrever a mesma curva g no Plano VL x VK. A curva f é a FPF é também a dual

da cUrva g e representa o par de combinações máximas dos produtos marginais. S~

os lucros são maximizados e os fatores pagos pelos seus produtos marginais, então a FPF representa a maior taxa de retomo que pode ser pago ao capital dado o nível de salário reaJ, independentemente do nível de atividade.

(14)

figura

510

A FPF com dois fafores

(VIL)

o

w

v 1 t--'1r-liI

w

vO

-o

Z1 ZO (V/K )0 V K

Fernando Antônio Hedba

Havendo um progresso tecnológicq T (Hicks Neutro - aumenta ambos os produtos marginais), ele desloca a FPF de fpara f e na figura 4 de g para g'.

Como a tecnologia é funçao do tempo, vamos reescrever a função 2.2 em

termos de taxa de crescimento.

e e e v=sl +(l-s)k+

r

onde y é taxa de crescimento, em logaritmos, do valor agregado devido a tecnologia. 1I.7.2 A FPF de 3 Fatores

Para se analisar o esquema de função de produção pode-se incluir quantos fatores forem necessários. A dificuldade em se adicionar muitos fatores é a impossibilidade de mostrá-los em diagramas bidimensionais. Será introduzido, nesta seção, um terceiro fator de produção, N, ,que no caso da economia agregada serão os insumos importados. O modelo seria o seguinte.

Q

=

Q ( 4 K, N) (2.3)

homogênea de grau 1 e bem comportada, onde Q é o produto final. A tecnolo!:,rla é

constante. Em termos de taxa de variação tem-se:

e

lOReprodução de Bruno e Sachs [1985 pg39]

(15)

onde Si é a elasticidade produto do fator i. Por hipótese do modelo.

~s. = 1

L I .

Fernando AntO~io Hadba

Inicialmente o preço relativo do insumo N é dado e igual a

PN /

P. A renda real da economia Y é

Y = (PQ - PNN) / P = Q -

"N

N

onde 1tN é o preço relativo do insumo importado. Usando as hipóteses tradicionais de maximização tem-se

PrngN

~

QN

~

"N

=

870N

o(2.4)

Substituindo (2.4) em (2.3) encontra-se a função de renda real

y = Y ( L, K,

"N )

(2.5) possuidora das seguintes propriedades:

1. os produtos marginais de trabalho e capital em Y são os mesmos que em Q. 11. a derivada parcial de Y com relação ao preço relativo' do insunio importado é :

óY/Ô"N = -N.

111. como

Q

é homogênea de primeiro grau nos três fatores, Y é homogênea de

primeiro grau em L e K. Logo a fração do trabalho e do capital na renda real só depeúdc da elasticidade dos dois fatores, independe do ins~mo importado.

IV. a elasticidade da renda real em relação ao preço relativo do insumo importado

é:

__ "N_N_T = ___ PN_' N __ =

Y PQ - PNN

Quando ocorre wna variação no preço relativo do insumo impOltado, o preço

dos fatores K e L tem que cair de preço a taxa SN ;N' caso se queira manter

1 - SN

constante a participação destes fatores na produção.

Considere agora a função renda real (2.5) na fonna de taxa de variação:

EPGEfFGV-RJ 14

(16)

Fernando Antônio ~adba

Comparando esta função renda real com a função valor agregado do item anterior e as suas respectivas fónnulas de taxa de variação (2.3 com 2.6) observa-se que um aumento (diminuição) dos preço do fator externo eq~ivale a

um

progresso tecnológico negativo (positivo) na FPF de dois fatores.

ou

A FPF de três fatores pode ser escrita das seguintes fonnas:

• • •

SL 1 + SK k + SN n = O (2.7)

F (QL, QK,

ON)

==

o.

Usando a hipótese de maximização tem-se,em logaritmos,

q/

=

Wq;

qk = r

e

Qn = 1tn .. podemos transfonnar a equação 2.7 em

A figura 7 é a representação da FPF de três fatores ,mantendo 1tn constante.

FIGURAS

A

FPF de três fatores

Wq, PmgL WqO FO ( 7:0) - - - - . l O . F 1 (1t 1 ) --O+---~R-1.~R-,1--~R~O~----~~--- R,PmgK

A curva FO é o conjunto das combiuações de salário e lucros reca's compatíveis com o preço relativo dos insmnos nO. Ela é negativamente inclinada e convexa em relação a origem. A inclinaçào da tangente em qualquer ponto da curva

(17)

Fernando AntOnio Hôdh8

mede a relação KJL ou R/\V q e os interceptos correspondem, -no eixo W q a Y IL e no eixo R a Y /K. Analogamente a FPF de dois fatores, o progresso tecnológico Hicks-Neutro que garante a homotetia,. é similar a uma suposição de uma ftmção separável Q

= [

G (L, K), N] onde a relação KIL depende apenas dos preços dos insumos L e K. Fomlalmente:

é(WQ / R)/ iN ~ é{WQ / R) / ÔlrN

=

O

Uma ftmção separável implica em uma FPF da seguinte fomIa F [ f ( W q' R), 1t n] = O.

Desta fonna, se os preços de N sobem de 1tnO para 1tn 1 e a nova FPF será a

FI.

Este instrumental pennite algumas mostrações úteis aos ajustamentos das economias com um choque de oferta. Alguns exemplos:

a. Preços de L e K totalmente flexíveis. A economia sai do ponto A para o ponto C e continua em pleno emprego caindo a renda real da economia por causa da transferência para o exterior.

b. Salários reais rígidos no curto prazo. Equilíbrio inicial sena em B, com desemprego de trabalho e queda na taxa de lucro. A relação capital/trabalho em B é superior àquela em C.

c. Produtores não podem reduzir trabalho e salários reais são fixos. O ponto de equilíbrio de curto prazo será F, fora da fronteira de preços, com pleno emprego e lucros inferiores aos de B.

d. Há uma taxa de aluguel do capital fixa igu~l a RO. O ponto de equilíbrio será D. Ocorrerá desacumulação de capital para se manter o pleno emprego.'

Se o choque for temporário, o equilíbrio de curto prazo seria B ou C mas no longo prazo voltaria para A. A FPF permite uma visualização muito boa da escolhas que as autoridades poderiam ter fei~o dada flexibilidade dos preços em suas economias.

(18)

Fernflndo Antônio Hadba

11.8 Core Inflatíon

O conceito de core inflation, que -pode ser traduzido como inflação básica, é muitas vezes considerado como a versão para o inglês do tenno inflação inercial, é explicado em Eckstein [1981]. Segundo o autor core inflation é a inflação ligada a tendência de aumentos dos custos dos fatores de produção, capital e trabalho.- Para se eútender o- fen6meno da -inflação: precisa-:se separ4:.la em três grandes efeitos. A - - .". inflação de demanda, a inflação de choque de oferta e a inflação básica O - comportamento da demanda, mais ou menos aquecida, influencia a taxa de inflação de curto prazo. Os choques de oferta, aumentado preços de produtos básicos também contribui para o aumento da inflação. A sucessão dos dois primeiros efeitos produz a inflação básica, que é um fenômeno mais persistente.l l Fomlalmentc, a decomposição da taxa de inflação agregada seria·

- 7í = -+ + 1[-

-- . d

o

.ci .

1[ é a inflação devido aos choques de oferta e 1[ . é a inflação básica.

o Cl

Este conceito de inflação básica é importante para o trabalho porque a inflação advinda de choque de oferta pode-se propagar através dela, mesmo quando o choque já tenha acabado. Exemplificando, quando há um choque de oferta o poder de compra dos trabalhadores c capitalistas decai pois a produção encareceu. Os agentes econômicos, tentando recuperar a perda do poder aquisitivo, aumentam suas demandas por maiores ganhos seja salário ou margem de lucro. Se as demandas forem atendidas, há uma contaminação da inflação básica porque cada agente quer recuperar sua fatia em um bolo que diminuiu de tamanho.

As autoridades econômicas podem impcdir este processo através de uma política monetária apel~ada e de políticas de ecouumia do lado da oferta. Uma política monetúria apcliada não pennite o sancionanlcnto das dCl11atldas pela

-llEckstein [19Bl p.7]

(19)

Fernando AntOni~ H~dba

recuperação da renda perdida. Pelo lado dos incentivos do lado da oferta, estes podem criar programas de aumento da produtividade, pennitindo maior abatimento das despesas de depreciação de capital e corte de impostos sobre investimentos. Quando todos agentes tentam recuperar sua renda após o choque de oferta, estão tentando enfrentar uma perda real

com

aumentos nominais. -A economia não faz o que a natureza não penrute.

lI. 9 Poupança, Investimento e Taxa de Juros Mundial

Bruno e Sachs [1985)12 demonstram as condições para a taxa de juros real mundial subir ou descer com os choques de oferta. Aqui só serão apresentadas as hipóteses e condições.

• Hipóteses

1. um único bem fmal idêntico (Q) em todos os países, o que implica que a

paridade do poder de-compra é válida, ou seja, P=E.P*.A mesma paridade. é válida par~ o .insumo (N)

11. existem m países, país i usa N i de Insumo para produzir Q i e produi

intemamente H i do insumo. Logo se i

-N - H' > «) O o país i é importador (exportador) do insumo.

111. os países exportadores (OPEP) do insumo podem detenninar quantidade ou

preço do insumo ( 7!n )

IV. Há países exp0I1adores liquidos e, consequentemente, países importadores

líquidos. Existe a possibilidade de financiámento, a conta corrente do balanço de pagamentos X - 7!n (H - N) não precisa ser zero a cada período mas

apenas o seu valor descontado no tempo da conta corrente tem que ser zero.

12 Para uma análise ce~pleta vejaBrune e Sachs [1985 capitules 1, 4)

(20)

Fernando AntOnio Hadba

• O Modelo

A renda real de mn país é afetada pelo custo da matélia-prima y= Q - 7rnN = Q+7rncH-N)

ôY/ == (H-N) >«)0 /Ô7rN

a derivada da renda real em relação ao preço do insumo é positiva para a OPEP e negativo para o resto do mundo.

Os países tomadores (emprestadores) de empréstimo líquido terão F=X-7rncH-N) < (» O

e

Os capitais fluem entre credorés e devedores â uma taxa real de juros r. Esta

taxa

r

será detenninada na interseção da curva de poupança e investimento mundial da figura 7. O fonnato da curva de investimentos é o tradicional, qualquer que seja o país, a curva de investimento é negativamente inclinada em relação a taxa de juros. Fonnalmente:

ôl/ < O

e

ôI / < O·

lôr / ô JrN

o sinal da segunda derivada também é negativo porque o investimento para a produção do bem final perde a atratividade com lml aumento dos custos.

O fonnato da curva de poupança numdiai não é trivial como a de investimento. Ela depende de algumas hipóteses sobre o comportamento a poupar dos países exportadores e importadores de insumo.

A. A poupança mundial sobe se o déficit ponderado pela propensão marginal a consumir dos devedores líquidos for maior que o superávit ponderado pc1a propensão marginal a consmnir dos credores líquidos.

B.

A poupança mudial sobe com um aumento do prcço do insumo se a propensão

marginal a poupar ponderada pdo superávit dos pafscs cxp0I1adorcs de insumo

(21)

Fernando AntOnio HadOc

(OPEP) for maior, que a propensão marginal a poupar ponderada pelo déficit dos importadores.

A figura 7 mostra a situação descrita. Se o ponto A fosse o equilíbrio inicial, o primeiro choque energético levou a economia mundial para o ponto AI com juros mais baixos porque a OPEP recebeu uma quantidade de recursos muito superior a sua capacidade de consumo dentro de seus países. No segundo" choque a economia veio para um ponto como Ali porque a estrutura de consumo dos países da OPEP tinha aumentado e os investimentos dos outros países não caíram muito principalmente pelas expectativas que o segundo choque era temporário, pelos investimentos já em curso de substituição de petróleo e porque a economia já estava menos aquecida.

FIGURA

7

13

Poupança e Investimento Mundial

S,I

S"

I "

,"

r 1 r-O r2 r

Este instnnnental ajudará a mostrar a diferença das opções de enfrentamento aos choques pelos países que preferiram o ajuste ou o financiamento. Um país que quis financiar o primeiro choque encontrou juros mais baixos, mas se a economia não conseguiu se equilibrar depois, enfrentou juros mais altos no segundo.

11.10 A1edição do Produto

l]Reproduçào de Bruno e Sachs [1985 (.25)

EPGE/FCiV-RJ SE1D.'BRO I ~'92

FUNOAÇÁO GFT('UO VARGAS

Biblio:i:,:;~ MáriO c-j·.::"":I"-iue S.monsen

(22)

Fernando AntOnio Hadb6

Bnmo e Sachs [1985] levllltam os problemas na medição do produto quando a economia passa por um choque de oferta. No tópico fronteira de preço dos fatores se usou alguns tennos como renda real (Y) e valor agregado (Q=PIB) . Além destas medidas, o valor agregado deflacionado duas v~zes, (Vd=Q-N) serão comparados com o índice de Divisia, ou índice real do valor agregado V.

1.

Q

= prodúção total

2. Y = (PQ - PnN) / P é a renda real, Pn é o preço do insumo·importado. 3. Vd =

Q -

N é o valor agregado deflacionado duas vezes

4.

~

=

(J - SN )-1

(~-

SN ;1) onde SN é o coeficiente de participação do insumo

importado na função de produção.

O item níunero

1

é inconveniente como medidor

do

produto inteolo. bruto porque não desconta os bens intennediários importados. O uso da FPF figura 6, para acompanhar o deslocamento de A para C ajuda a observar a imprecisão de Y como medidor de produto. Tanto capital como trabalho tem sua remuneração decrescida na mesma proporção do aumento do insumo externo e consequentemente a renda real é afetada· ape~;ar de o total da produto interno bnIto da economia continuar o mêsmo. Renda real é um bom indicador de .. podet. ae compra da economia mas não do PIB. O valor.agregado deflacionado duas vezes é utilizado como medidor do PIB real nas contas nacionais. A figura 5 mostra o erro de medição deste a!:,rregado.

No plano Q x N co10ca-se a função de produção da economia. A função é crescente e concâva, quanto mais recursos naturais maior a quantidade de produto e menor o rendimento marginal do recurso. Uma subida de Pn , e consequentemente

,

wna mudança nos preços relativos faz com que o produto saia do ponto 1 para o ponto 2. Uma subida de Pn faz com que o produto saia do ponto 1 para o ponto 2, Nestes pontos, as tangell~es e secantes são o valor do agregado deflaclonado duas vezes. Se usar como prc~os para dcflacionar os dois valores os da data 1, o PIB da

(23)

Fernando Ant~nio Hacb4

data 2 será subestimado. Inversamente, se for usado os preço~. da data 2,

o

PIB da data 1 será subestimadoJ-I

FIGURAS

Erros na Medição de Produto

Q pib 1 pib 2 pib 2' pib l' N 11.11 Curva de Phillips15

A curva de Phillips faz parte de qualquer análise macroeconômica. Durante o período do choque do petróleo chegou-se a falar em falência da curva de Phillips já que os s.eus resultados mais famosos .pareciam não se encaixar na realidade dos anos 70.16

O desenvolvimento original

O economista neozelandês A.W.Phillips, em 1958, investigava a relação ,

entre mudanças nos salários nominais e taxas de desemprego no seu país. Philiips descobriu uma relação negativa não linear entre as duas variáveis. Este trabalho era empírico e não tinha preocupação de fonnalizar sobre o porquê desta relação,

J4A demonstração analítica deste problema está em Bruno e Sachs [1985] pp. 17-18 e 252-254.

lSFritsch [ 1983 1 é uma boa leitura para o entendimento da evolução da curva de Phillips.

lGVer Blinder [1979] pp 19

(24)

Fernando AntOnio P.adba

apenas um argumento verbal, ou qual seria o modelo de mercado de trabalho que a explicasse .

. Lipsey, além de estimar a relação de Phillips através de um método de regressão mais rigoroso, o que não tinha sido feito pelo própriol í, modelou a relação, colocando um arcabouço teórico para a experiência.

O modelo começa com a relação de equilíbrio do mercado de trabalho. Existe equilíbrio quando a demanda por mão de obra é quantitativamente igual a oferta. Como ambas são função do nível de salário, o fato de haver equilíblio no mercado não significa que o desemprego fosse nulo. Ela só implica em que o número de vagas é igual ao número de pessoas procurando emprego. O elo entre o estudo de Lipsey a respeito do mercado de trabalho e a curva de Phillips ocorre através de duas relações:

1. o ajustam~nto dos salários é função positiva do excesso de demanda por

trabalho e;

2. a relação excesso de demanda por mão-de-obra e taxa de desemprego é negativa.

Como a diferença entre demanda e oferta de mão-de-obra não é urna relação . observável, pois ambas são planejadas para diferentes níveis salariais, Lipsey postula que não há excesso de demanda por trabalho quando o número de vagas for igual o número de desempregados. Como a taxa de crescimento dos salários (derivada do logarítmo dos salários) é função positiva do excesso de demanda sobre oferta de mão-de-obra, Lipsey consegue detenninar uma função curvilínea entre taxa de crescimento dos salários e desemprego.

A modificação de Samuelson-Solow da cun'a de Phillips

A modificação surgiu em 1960 e é basicamente a mudança da taxa de crescimento dos salários para a taxa de variação dos preços (inflação) através de uma regra de mark-up.

Ir

=

(1 +a) WtNt/Qt

17Ver Palgrave Dictionary

(25)

Fernando AntOnio Hadba

onde a é a taxa constante de mark-up;

é o custo do fator trabalho e

é o nível de produto. Como

Q,/N,

é a taxa de produtividade do fator trabalho, CPt tem-se, em logarítmos naturais,

, '

Ih

=

In {l + a) + Wt - qJt.

Diferenciando a equação anterior encontra-se: 7r = (J) - À (2.8)

que nos pelmite a observação qua inflação é a diferença entre crescimento dos salários e o crescimento da produtividade.

Supondo· que a curva de Phillips tenha a fonna

(J) = bu'} +

(2.9)

onde b > O e O ~

P

~ 1. A taxa de variação dos salários depende do desemprego e da produtividade.

Juntando ás equaçoes (2.8 e 2.9) chega-se

7r

=

b u·} - (1 - P) Â

que é a curva de Phillips ao estilo Samuelson - Solow. Os autores viram essa relação como uma relação técnica e no passo seguinte como instrumento nonnativo da economia. A autoridade ecônomica poderia escolher o nível de desemprego que desejasse, portanto que pagasse o preco da Ílillação. Políticas que ativassem a demanda' fariam isso. Este resultado é a famosa relação de trocas entre inflação e desemprego que, na década de 1970 pareceu estar falido. Esta relação além de ser de curto prazo como ver-se-á a seguir, também depende como diz BIÍl1der [1979] de outras coisas contantes. Logicamente que o choque de oferta mexe nestas outras "coisas", ofuscando a relação. Na equação acima uma das outras coisas que são afetadas é claramente a produtividade.

(26)

Fernando AntOnio Hadba

A curva de Phillips de curto e longo prazo e a hipótese. çle taxa natural de desemprego

Friedman e Phelps levantaram as seguintes questões sobre a curva de Phillips. É a curva de Phillips uma relação estável? O trade-off entre inflação e desemprego existe no longo prazo?

Tanto o o trabalho de Lipsey quanto o de Samuelson-Solow assumIam

expectativas inflacionárias estáticas ou não colocavam as expectativas no modelo. Friedman e Phelps criticaram estes modelos exatamente por não levar as expectativas em consideração. Seria a relação de Phillips estável com as mudanças das expectátivas sobre inflação?

Se os agentes tomam por base uma expectativa inflacionária que realmente ocorre porque suas atitudes reais em relação a emprego deveriam mudar? Tanto

o Phelps quanto F~iedman não negavam a existência de uma curva de Phillips de curto

prazo mas ambos afirmavam que os parâmetro desta curva mudam com as expectativas inflacionárias.

.FIGURA9

Curva de Phillips

e

expectativas

1t ... 07t* =3%

\

""" -. 7t*

=

1% ... 11 'o... U u , "' ... _ 7t* =

o

EPGE/FGY-RJ SETE~!I.JHO 1992 25

(27)

Fernando AntOnio Hadba

o

traço vertical é a curva de Phillips de longo prazo que cruza o eixo do desemprego na taxa natural de desemprego. Para cada nível de expectativas inflacionárias há uma curva de curto de Phillips de curto prazo.

A inflação é uma função do desemprego e da inflação esperada.

Te = f ( u) + Te·

O fato de no curto prazo haver o trade-off inexistente no longo prazo surge porque no primeiro os agentes interpretarão uma mudança dos seus preços como uma mudança de preços relativos quando na realidade o que houve foi uma mudança no -nível de preços. Ao aprender isto, no longo pràzo, os agentes vão produzir no ponto da taxa natural de desemprego, não importando o nível de preços. -No longo prazo não existe ilusão monetária. No curto prazo há ilusão porque os trabalhadores pensam que os seus aumentos de preços são reais e os produtores

.

pensam que a mudança de seu preço é uma mudança de preços relativos. Esta situação é de desequilíbrio porque as taxas efetivas de preços e salários não correspondem aos valores esperados. Começa haver um processo de aprendizado.

Para conseguir manter a taxa de desemprego abaixo da taxa natural, o governo tem que sempre realizar uma inflação maior que a esperada pelos agentes. Como as pessoas não se iludem todo o tempo, é -necessário cada vez maiores taxas de inflação para fazer os agentes errarem. Quando a inflação realizada é igual a inflação esperada não há impacto nas vmiáveis reais e o desemprego é o da taxa natural, que é definida como a taxa de desemprego compatível com qualquer inflação totalmente antecipada.

Friedman na Nobel Lecture [1977] postula a existência de um terceiro estágio na curva de Phillips, onde ela seria positivamente inclinada. Quanto maior fosse a inflação, maior seria o desemprego. Esta fase seria criada por uma incompatibilidade do sistema monetário com altas taxas de inflação e desemprego. Com a contínua i::tervenção do govemo associado com a maior volatilidade da inflação, os mercados perdem sua eficiência de sinalização, levando-os a este estágio da curva.

(28)

Fernando AntOnio Hadba

Expectativas Racionais e Curva de Phillips

O modelo de Friedman e Phelps é uma consequência das expectativas adaptativas. Este tipo de expectativas podem levar a erros constantes dos agentes, mesmo que o padrão da variável sobre a qual se criam as expectativas tenham um padrão bastante uniforme. Desperdiçar uma nova informação é outra consequência das expectativas adaptativas que a escola das expectativas raCionais não acha razoável. O desenvolvimento dQ modelo de expectativas racionais· conclui que não existe trade-off entre inflação e desemprego nem mesmo po" curto prazo. A autoridade não pode escolher o quanto de inflação e/ou desemprego. Observando novamente a figura (9) a abstração das curvas de curto prazo mostram o modelo das" expectativas racionais, com uma única curva de Phillips tanto no curto quanto no longo prazo.

1/.12 Gap Salarial

O gap salarial é uma variável utilizada por Bruno e Sachs[1985] para tentar medir o quanto o nível de salários está acima da produtividade. Esta variável é importante para tentar se compreender os choques de oferta. Por maior que seja o desemprego, o empregador não contratará ninguém quando o seu custo é superior a ". sua "produtividade; Como foi visto n~ item FPF,"a produtividade dos fatores cai com o choque, mas se os salários são rígidos a economia irá procurar nova relação capital trabalho. Se, ao contrário, os salários forem flexíveis o gap salarial será baixo e a economia ficará menos estagnada. Bruno e Sachs [1985] sugerem duas formas de calcular o gap salarial.

Seja a função valor agregado em L, K e t como sendo V

=

R:L, K,~. A

produtividade marginal do trabalho é FL(L, K, t) que no pleno emprego seria FL(Lf, K, t). O equilíbrio do mercado de produto obriga que o salário real de pleno emprego seja idêntico a produtividade marginal do trabalho. O desvio percentual entre o verdadeiro valor do salário real (WlPv) e o salário real de pleno emprego

(WlPv) é o gap salarial (\VtX). Em íogarítmos:

w~ := (w-Pv ) - (w-Pv

t

(29)

iGrnando Antônio Hadba

Bruno e Sachs [1985] demonstrain a relação entre o wage-gap e a demanda por trabalho usando uma função CES (elasticidade de substituição constante). A elasticidade da demanda por trabalho com respeito ao salário seria

a;( _

sonde s . é a fração do trabalho na função de valor agregado e

a

1 é a elasticidade de substituição entre L e K na 'função de valor agregado. Desta fonna a razão entre démanda por trabalho e a quantidade de trabalho em pleno emprego, em logaritmos, sena:

Id - If = - [ aJ(1- s)]

w:

que por construção implica em gap salarial nulo se a demanda por trabalho for a de pleno emprego.

Os autores levantam a dificuldade em se medir o gap salarial por causa da variável produtividade marginal do trabalho de pleno emprego. Usando uma função Cobb-Douglas para a função de valor agregado

v,

= (e TILt ) ; K!-;.

A produtividade marginal do fator trabalho é VL

=

(J ( Vt/Lt) que no pleno. emprego será (J (

v

f

,

/e, ).

O gap salarial desta função será:

WX =(w - Pv) - (vft/lft}-Iog«(J).

O primeiro método de se calcular o wage-gap é supor que vf - lf ocorre em alguns anos de pico da atividade econômica e que ele cresce em escala exponencial. A segunda'fonna é regredindo Vt _lt da seguinte fonna:

.

.

v, - I, = aO + alt +a2 t7581 + a3 Ut + a4 Ut + a5 Ut_l

.

onde a variável t7581 é uma dummy que tenta captar o desestímulo ao investimento neste período, fixando tanto o desemprego quanto suas derivadas em zero. O resultado desta regressão seria usado para estimar o gap salarial_

11.13 Superavit Comercial, do Governo e de Poupança

Este tópico mostra wna tautologia das contas nacionais que ajuda a entender o desempenho japonês de antes e depois dos choques energéticos bem como o atual desequilíbrio comercial entre Japão e EUA.

(30)

Fernando AntOnio Hadb&

Pela ótica da demanda, o produto é o somatório de consumo, investimento exportações líquidas e gastos do governo. Pelo lado da alocação da renda, ele pode ser alocado em consumo, pagamento de impostos ou poupado." Formalmente:

C

+

T

+

S == C

+

I

+

G

+

(X-M)

onde C é consumo; T é imposto; S é poupança privada; I é investimento, G é gasto corrente do governo, (X -M) é o saldo das exportações de bens e serviços não fatores deduzindo as importações.

Fazendo um simples algebrismo encontra-se a identidade (S -1) == (G - T)

+

(X - M)

o

excesso de poupança privada sobre os investimentos é idêntico ao somatório do déficit do governo e o saldo das exp<;,rtações de bens e serviços. Isto é apenas uma identidade, não demonstrando uma relação de causalidade, ou de qual variável se ajust~ quando a outra se altera. É um processo simultâneo.

O que esta identidade pode dizer é que se um país poupa mais do que investe, ele tem que ter déficit público e/ou um saldo de exportações de igual montante. O mesmo vale para o reverso, ou para qualquer das três variáveis observada contra as outras duas.

O Japão de antes do choque energético era um país que investia mais que poupava e por isso· possuía um superavit do governo para ainda contrabalançar o pequeno superavit em exportações. Desde o choque energético o Japão poupa mais do que investe, por isso ele tem um superavit grande nas exportações e um déficit público. As reclamações americanas contra os 'japoneses está em forçar o Japão a diminuir sua poupança estimulando o consumo e/ou aumentar o déficit do governo para que o saldo externo caia. Do lado japonês em relação aos americanos é argmnentar que os EUA tem déficit comercial porque possuem um déficit público e poupam menos do que investem. Todo o raciocínio das discussões das relações bilaterais Japão EUA calca-se nesta tautologia.

(31)

FernAndQ .antOnio H .. :lha

1I.14 O processo de Enfrentamento do choque de oferta

Com o inshlJmental necessário para se analisar os choques ~e oferta pode-se mostrar os possíveis tratamentos que as autoridades econômicas de um país, passando. pelo choque, pode fazer para combatê-lo.

Choque de OfeIta é uma mudança em a.lgo real da economia e que por.isso não se pode anulá-lo com ajustes nominais. De outra forma, a economia não dá o que a natureza não faz.

Na ocorrência de um choque, a autoridade que tenta enfrentar a estagnação, possui no curto prazo apenas um grau de liberdade. Ou ela combate a inflação. ou ela combate a estagnação, estando implícito que o combate a uma amnenta a outra. Se a autoridade prefere menos recessão, ela pode dar wn contrachoque de demanda (expansão monetária ou aumento dos gastos govemamentais que. deslocaria a curva de demanda para a direita aumentando a inflação. De modo reverso pode-se não sancionar a inflação com tUna política monetária apertada que produz um agravamento da recessão.

As medidas realmente eficazes em choques de oferta são aquelas que atuam no lado da ofeIta. São medidas que dependem muito das instituições econômicas do país. Se por exemplo, os salários. e lucros forem totalmente flexíveis a fronteira de prcço dos fatores mostra que o choque só tem impacto na distribuição de renda mantendo-se a oferta no mesmo lugar. O instnlmental da fronteira de preço dos fatores, contudo, não analisa o efeito riqueza negativo que atuando no lado da demanda, reduziria o nível de produto. É curioso notar que com salários e taxas de lucro totalmente flexíveis um choque de oferta possa causar UlTIa baixa nos preços.

Outras medidas que atuam no lado da oferta são pro!:,JTamas de aumento da produtividade, incentivos a mudança da matriz energética, redução de impostos sobre o capital, que também desloca a demanda para a direita e outros programas de Supply-sidc.

Quando uma economia decide fínanciar cxtr;I11amen1e o choque de oferta,

como foi o caso brélsilciro, a conse'1~lêl1çia é a nH!.nutcnção do câmbio valoriD!do

(32)

Fer.nando AntOnio Hecb4

pela entrada de recursos o que ocasiona um aumento menor ·no preço dos insumos importados, medidos em moeda nacional. No instrumental da FPF, isto é visto como um deslocamento menor do que aquele que ocorreria com

um

câmbio mais baixo com o câmbio mais baixo .. Um outro aspecto do financiamento do choque é para evitar que o país não sofra uma restrição do seu cresciniento por uma crise do Balanço de Pagamentos. Se os juros são baixos ou até mesmo negativos esta estratégia pode ter algum efeito benéfico mas se os juros sobefIi muito este processo é in viabilizado e torna-se inferior a política de ajustamento. O financiamento corre o risco de· ser incor..sistente intértemporarmerite como a experiência de 1973-79 se . mostrou no Brasil. Não se pode falar em crise da dívida externa de 1982 sem mencionar o programa de financiamentos externos de 1974. .

Uma outra estratégia durante um choque intenlacional de oferta é a de exportar a inflação advinda de custos mais altos para os outros países. Isto é possível pela depressão da demanda interna

c

incentivo as exportações. Esta estratégia é facilitada se outro país estiver expandindo sua demanda intenla e inlportando. A economi.a passa a ser liderada pelas exportações.

IH A EXPERIÊNCIA JAPONESA: OS CHOQUES DO PETRÓLEO

1973-81

O ano de 1973 é verdadeiramente

mn

marco na economia japonesa do pós-guerra pois desde a reconstrução do pós-gucITa até esta data o Japão vinha crescendo a taxas de cerca de 10% e com a crise energética acaba esta taxa de crescimento gigantesca para wn novo patamm de 5% em média entre 1973-81, tendo inclusive taxas negativas no ano de 1974 (-1,4%»). Desde o choque energético o Japil0 não reproduziu as taxas de crescimento que permitiram sua

recuperação muito ant~s do que era previsto pelo;:, economistas de então. I\1esmo

mant~ndo taxas superiores aos ou1ros países industrializados, a crise energética é o

início de um crescimento menos acelerado.

(33)

Fernando Antônio Hadba

Se considerannos que o Japão sofreu uma graride desaceleração do crescimento pode-se dizer que o ajustamento japonês foi um fracasso, contudo se notarmos que o Japão continua crescendo à taxas superiores aos outros países industriais e que a inflação e o desemprego também estão a níveis inferiores a estes . mesmos países, o raciocínio sobre o ajustamento é invertido. .

Como diz Edward Lincoln (1988) este é o período onde o Japão enfrenta a maturidade econômica. E não é só o aumento do preços dos produtos energéticos que forçaram a uma ,desaceleração da economia japonesa . . Fatores como o encurtamento do gap tecnológico em relação aos outros países industrializados ( reduz-se a fase do Japão copista e começa o Japão inventor), e um maior enfoque a proteção ambiental e de melhora do padrão de vida da população também forçaral11 a um menor crescimento econômico. Tokyo, que já teve' a fama de cidade mais poluída do mundo inclusive com máquinas que vendiam oxigênio puro passa a se preocupar com o meio ambiente, ressarcindo-se algtms ctistos do rápido crescimento econômico. Associado a um maior preço da energia e que muitas indústrias intensivas em energia eram bastante poluidoras há uma combinação de fatores, que desincentiva estas indústrias.

Para se visualizar melhor o impacto do choque na economia japonesa far-se-á uma divisão temporal do período que iremos analisar. A divisão temporal, pré 73, 73-75, 76-79 e 80-81 será analisada enfocando as principais variáveis: PIB, inflação, taxa de desemprego, termos de troca, balanço de transações correntes, salários reais e oferta de moeda

• antes do primeiro choque

No período 1960-69 o Japão crescia com ta~as de 12,1% reais ao ano. O período 70-73, já com o impacto do choque de liquidez mundial resultante do fim da conversibilidade, .para os Bancos Centrais/s, de dólar em ouro a uma cotação fixa de

US$l,OO para 31 gramos do metal. Este ato w1i!:::~eral do governo americano foi

18A conversão p~r~ outros agentes econômicos já não era mais permitida ne3ta

época.

(34)

Fernando Antônio Hadba

chamado de choque Nixon. Esta decisão sepulta o maior pilar.do acordo de Bretton Woods, a taxa de câmbio fixa. O Japão passa a crescer a taxas ainda altas de 7,5% real em média. Bayja, claramente, sinais de esgotamento da expansão mlli1dial gerada pela expansão americana da guerra do Vietnã, onde não se forçou um ajustamento do consumidor americano para o financiamento do esforço bélico.

A tabela 1 mostra o crescimento da expansão monetária e da inflação na economia japonesa no período pré-choque. Desta tabela ·observa-se que se a expansão monetária era muito superior a inflação do período, chegam-se a duas hipóteses. Ou a demanda por encaixes reais estava alta ou haveria um acréscimo significativo na inflação mesmo sem o choque energético de 1973, a qual o choque energétic'J só veio a agravar. 19 Se é verdade que o aumento da oferta monetária não tem impacto imediato nos aumentos de preços20 agindo sobretudo após algum espaço dc tempo, também é verdade que moeda e preços tem correlação muito próxima da unitáíia quando após algufn tempo.

TABELA 1

Crescimento lvfonetário e b?flação (l/oanual) entre 1960-73

variável/ano 1960-70 1970-72 1960-73

Ml nominal 17,8 27,1 lld

Ml

REAL

(i\11/ indo preços 11,4 20,8 nd

consumidor}

Deflator Implícito do PIB

nd

nd 5,5

FONTE: D runo c Sachs (l 91\5)

A taxa de desemprego era de apcnas 1,2% da força de trabalho entre 1965-73. Os salários reais cresciam a taxas bastante altas que variavam de 5 a 10% entre

19At é esta data. (19/08/92) o banco de dados sobre a economia japone5<1 não estava utilizável para se fazer um teste sobre estas hipóteses. Uma sugestão de teste seria uma comparação entre M/P versus ~axa de crescimento do PIA (y) e M/y versus Preços. .

2:-'Em um mundo onde os agen'<:.es n3.o se comportem segundo alguns modelos da

escola UdS C;"flf'!ctéltivas raciona.i.s. Ver, por exemplo, Sargent. e ~'i3l1ace

"Some:-UnpJ E:iiSant t!.Ollet ;-'.êist Ari thmetic" no Federal Reserve Bank of l'1inneapolis Quarterly RC,'JÚ;h'/Cut8no 19t1l.

(35)

Fernl\ndo AntOnio Hadba

os anos de 1961-73, com exceção dos anos de 62, 63, e 65 onde o crescimento real foi perto de 1 %. O crescimento da produtividade do fator trabalho medida pela taxa de crescimento do indicador PIB agregado por trabalhador empregado era de 8,6% a.a. entre 1960-67,8,30/0 entre 67-73.

O motor da economia japonesa nesta época era a fonnação de capital fixo (investimentos) que crescia a taxas de 40% do PNB no ano de 62 -e mantendo uma média de 35% até 1973. Neste período os investimentos japoneses excediam o nível de poupança intema da economia, o que levou o goyemo a manter mn

superavit fiscal e ao balanço de transações correntes ser próximo de- zero.

A economia japonesa enfrenta o primeiro choque do petróleo com uma economia super-aquecida, onde os investimentos superavam· as poupanças, onde a

dependê.ncia de energia externa chegava perto de 100% e ~om uma pressão monetária que iria desaguar em maior inflação no futuro. Associado a estes fatores encontra-se uro setor de trabalho que, mesmo awnentando sua produtividade, estava acostumado a ier ganhos reais expressivos: Era um ambiente eufórico que ao sofrer -um brr2.l1de choque extenlO se inverte totalmente.

1973-75

O choque do pétrólco ocorrido em oútubro de 1973 representou para a economia japonesa um grande e sólido muro no caminho de uma locomotiva em alta velocidade, ou seja, o impacto foi imenso. A inflação medida pelos índices de preç-os ao consumidor chega a 26,3%

em

fevereiro de 1974. O país apresenta crescimento negativo de -1,4 no mesmo ano e a média de crescimento anual, que era de perto de 10,4% entre 1960-73 cai para 0,60/0 no período 1973-75. O saldo da

balança comercial que atingiu US$9,0 bilhões chega a USSl,4 bilhões em 1974 e

em 1975 já volta para US$5,O bilhões. O saldo de transações correntes entra em

déficit de US$4,7-bilhões em ] 974.

Dado a inciRstiçidadc natural da economIa a um choque de oferta, as

primeiras medidas que p0diam ser tomadas eram do lado da restrição da demanda para conter a !I1flaç~5.o. Apesar de ser o período mais duro da economia japonesa

(36)

Ferr:.ando A."tOnio Hadbl.

desde a reconstrução, é esta decisão de não sancionar o choque, partindo-se para um ajustamento, a responsável pelo sucesso japonês em todo o período onde houve os choques de oferta e além. É o período onde a prioridade é controlar a inflaç,ão, contenção de demanda interna, início da tentativa de aumento .da demanda externa e crescimento residual. Marca-se o fim do crescimento acelerado japonês e são criados os fundamentos para um crescimento bem menor na economia japonesa, em tomo de 5%. Usando o critério de core injlation, percebe-sé que

o

fundamental para as autoridades era impedir que a inflação gerada p'elo choque externo associado a uma expansão monetária anterior bastante alta, não contaminassem a

core injla/ion japonesa. Impede-se assim que crie-se expectativas inflacionárias aceleracionistas com relação ao futuro.

Apenas como exemplo da dureza do choque na ecol1OTnia japonesa, houve momentos onde a incerteza com relação a inflaçãc e falta de produtos levou Wlla corrida contra os supermercados onde chegou a faltar papel higiênic021 •

O ano de 1973 apresentou um crescimento real do produto nacional bmto de 7,9% em relação ao ano anterior, enquanto os anos de 74 e 75 apresentam, respectivamente, (-1,4) e 2,7%. Tanto em 74 quanto em 75 as exportações passaram a ser o motor da economia japonesa, respondendo, respectivamente, por

1,2 e 1,9%) do crescimento. Estes l1lUnerOs pennitem uma ideia de quão contida estava a demanda interna.

Colocar toda a respoasabilidade da subida da inflação no choque extemo é sem dúvida alguma wn exagero para os fenômenos ocorridos no mundo em 1973.

O choque Nixon de 1971 associado a criação dos Euromercados de ativos monetários pennitiu um aumento de liquidez na economia mundial, que foi muito bem explorado pelos p()íscs da OPEP. No Japão a liquidez também era muito grande. A tabela anterior mostrou que o crescimento monetário japonês já era bastante alto. No ano de 1973 a moeda cresce ,pele critério M1, 25,25% e 22,38% pelo critério de r\12. Para os anos de 74 e 75 a moeda cresce 13,18 e 9,53 pelo lv11 ~

(37)

Fernando Antônio Hadha

por M2 o crescimento é de 12~ 73 e 12,60. As taxas de destQnto do banco central -sobem de 4,5% no primeiro trimestre de 1973 para 9,25% no ano seguinte. Os aumentos salariais também pressionaram a inflação no período. A tabela (2) mostra o aumento salarial tanto para trabalhadores das grandes quanto para pequenas empresas obtidos nas ofensivas de prinlavera.

TABELA 2

Aumentos salariais consef..,rzúdos no Shunto

ano fiscal Grandes Empresas Pequenas Empresas

72

15,3 16,5

73 20,1 21,1

74 32,9 33,7

75 13, I 14,4

FONTE: EPA [1975]

Este dado de salálio, comparado com o crescimento da relação produto por hora trabalhada no período, 3,1%, mostra como foi grande a pressão destes aumentos salariais sobre os preços.

-Por outro lado, uma política monetária maIS contida apareCIa como controladora da inflaçãojá cm 1974_

A intlação japonesa neste período foi alta e superior a média dos países da aCDE. A tabela número ( 3) compara a inflação neste período com a de outros países industrializados.

TABELA

3

PAís

Inflacão (deflator implícito do

PIBIPNB

%) INFLAÇÀO :MEDIA ANUAL: 1973-1975

, _~~EMANHA , R_F 6,8 CANADA 13,0 ---~.---,--ESTADOS UNIDOS 9,0 FRANÇA 12,3 ITÁLIA ]8,0 - - -

---'--JAPAO 14,0 REINO UNIDO

r--

20,8 SUIÇA

---3- ----·-_-_-_-_-__________

--"7,'--0 OECD 11,5

_.---

--

'

~---~-FONTE: Druli0 l· S;'clls [1 '):~5 pp 1561 lhjry; rciir:ldos do llllcmaliopal financiaI slatistics.

(38)

Fernando A~tónio Hadba

A medição da inflação pelos critérios mais restritos de índice de preços por atacado, bens importados e preços ao consumidor mostram um pouco melhor o tamanho do impacto da inflação na economia japonesa e o esforço para combatê-la.

a

gráfico número 1 mostra. a evolução destes três Ltldices . GRÁFICO 1 Inflação No Japão (1971-75) 80~~--r-r--r--.---.---, 60 72 Fonte: Lincoln [1988 ]

Pode-se observar que no ano de 1975 a inflação já estava sob controle.

a

desemprego que na média entrc os anos de 1965 e 1973 era de 1 ,2~{, da força de trabalho passou, neste petiodo a ser de 1,7%. Com estes mesmos anos de comparação, os EUA sairam de 4,5% para 7,1 % e o conjunto dos principais países membros da comunidade econômica europeia os números eram 2,9% e 4,3% respectivamente. Estes números permitem inferir que algumas peculiaridades do mercado de trabalho japonês foram responsáveis por este pequeno munento na taxa de desemprego. A saída de mulheres do mercado de trabalho foi uma destas peculiaridades. Em 1973 48,3% das mulheres em idade de trabalhar estavam no mercado de trabalho, em 1975 este número era 45,7~1o.

A produtividade, usando-se o critério PIB/trabalhador, foi bastante afetada neste penodo. Na média 1960-73 a produtividade japonesa crescia a uma taxa de

8,4°/0, a maior da OCDE, enquanto a média da organização era de 3,9~'Ó. No período 1973-75 a produtividade japonesa cOlltinl!a crescendo mas a lima taxa de

(39)

reIn~ndo .'nlOnio Hedba

apenas 1,0% , não mais a maior da OCDE - superada, por ~xempl0, pelos EUA

1, 1 0/0, França 1,9%, Alemanha 1,7% - e a média da organização crescia a apenas 0,1%. Se até o choque energético o padrão de vida japonês dob~ava a cada 9 anos, com estas novas taxas de crescimento da produtividade o padrão só dobraria após 70 anos. Os esquemas japoneses de evitar a demissão _ trazem obviamente uma queda na produtividade quando a economia entre em crise porque havia muitos trabalhadores produzindo menos que o seu potencial dado as condições de mercado para os produtos.

O impacto extenlO do choque energético, pode ser visualizado 110 tamanho do

saldo em conta corrente dos países da OPEP na tabela de balanço de transações correntes mundial e no impacto nos tennos de troca japoneses das tabelas seguintes.

TABELA 4

S ld a. o em transaçoes correntes!,rrupos ( mUllQlalS ,. . em US$ b·n -1 lOes ) grupo: ano balança comercial balanço de serviços saldo em transaçoes

correntes desenvolvidos: 72-73 7,2 4,6 11,8 desenvolvidos: 74 -28,5 5,0 -23,5 desenvolvidos: 75 6,8 -0,8 6,0 OPEP: 72-73 17,3 -13,2 4,1 OPEP: 74 83,4 -13,4 70,0 OPEP: 75 58,5 -12,0 46,5 em desenvolvimento: -6,5 -2,5 -9,0 72-73

em descll vol vimcnto: -22,3 -5,5 -27,8

74

em dcsenvolvimcnto: -26,5 -11,5 -38,0

75

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