• Nenhum resultado encontrado

Política de e-government e participação política nos municípios portugueses

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Política de e-government e participação política nos municípios portugueses"

Copied!
105
0
0

Texto

(1)

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Política de e-Government e Participação Política nos Municípios Portugueses

Simone Monteiro dos Santos

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Administração Pública

Orientação Científica

Orientadora:

Professora Doutora Sílvia Maria Mendes Camões

Co-orientador:

Professor Doutor Luís Alfredo Martins do Amaral

Braga

(2)
(3)

Agradecimentos

Os meus agradecimentos vão em primeiro lugar para a Professora Doutora Sílvia Camões, e para o Professor Doutor Luís Amaral por terem aceite a orientação científica deste trabalho. Uma palavra de apreço, em especial, para a Professora Doutora Sílvia Camões, pela sua disponibilidade, comentários, sugestões e estímulo, assim como, pelo apoio e dedicação com que me acompanhou neste percurso.

O meu agradecimento ao Professor Doutor Luís Amaral e ao Professor Doutor Leonel dos Santos, pela disponibilidade demonstrada no fornecimento dos dados relativos ao e-government local.

Agradeço à minha família, particularmente aos meus pais e aos meus irmãos, a Alice e o Marcelo, pela compreensão e alento moral que nunca deixaram de me dar no decurso deste trabalho.

Finalmente, não podia deixar de agradecer ao Luís, pelo seu amor e compreensão, principalmente nos momentos mais difíceis, que em muito facilitaram esta caminhada.

(4)

Política de e-

Government

e Participação Política nos Municípios

Portugueses - Resumo

A participação política tem sido um assunto de interesse para muitos académicos e governantes. A pergunta “quais os factores que ajudam a determinar ou a explicar a razão de alguns cidadãos votarem e outros não” é muito frequente na literatura sobre comportamento político. Baixos níveis de participação eleitoral e de outras formas de participação política assumem particular interesse quer para cientistas quer para profissionais da área.

Actualmente as novas tecnologias de comunicação, nomeadamente a Internet, assumem um particular interesse no que diz respeito à participação política. Isto deve-se ao facto de poderem ser uma ajuda para os cidadãos que desejam participar. Este estudo procura descobrir se o recente investimento público em e-government conduziu de alguma forma ao aumento no nível de participação política em Portugal. Nós colocamos como questão se existe um efeito positivo do e-government na participação política. Defendemos que esse efeito é dependente do nível de acesso e habilidade (capacidade) dos cidadãos para usar a Internet. Consideramos que o nível de educação é uma das característica que melhor representa o grau de habilidade dos cidadãos para usar a política de e-government, assim admitimos que o nível de educação pode condicionar o efeito que a política de e-government pode ter no nível de participação eleitoral.Estimamos os determinantes da participação eleitoral em Portugal, ao nível do governo local, para as eleições autárquicas de 2001, usando um design do tipo cross-section. Os resultados confirmam as nossas hipóteses, de um efeito positivo da política de e-government, condicionado pelo nível de educação, na participação eleitoral, bem como na diferença no nível de participação eleitoral de 1997 para 2001.

Palavras-chave: Participação Política, Novas Tecnologias de Informação e Comunicação e e-Government.

(5)

e-Government Policy and Political Participation in Portuguese

Municipalities - Abstract

Political participation has been a matter of much academic and governmental interest. Question like “what factors help determine or explain why some citizens vote and others do not?” are frequent in the literature in political behaviour. Low levels of turnout and other forms of political participation are of particular interest to scholars and professionals alike.

Today new technologies of communication, namely the Internet, take on an added interest where political participation is concerned. This is because they may be of assistance to citizens who wish to participate. This study seeks to discover if the recent public policy investment in e-government has in any way led to the increase in the level of political participation in Portugal. We hypothesize a positive effect of e-government on political participation. We argue that this effect is dependent on the access level and ability (capacity) of citizens to use Internet. We consider that the education level is one of the characteristics which can better express the citizens’ level of ability to use government policy, therefore, we hypothesize that educational level can condition the effect that e-government policy can have on the turnout. Using a cross-sectional design for the 2001 municipal elections, we estimate the determinants of electoral participation in Portugal at the local level of government. Results support our hypotheses of a positive effect of e-government policy, conditional for the education level, on the level of electoral participation, as well as on the change in electoral participation.

Key words: Political Participation; New information and Communication Technologies and e-Government.

(6)

Índice Geral

ÍNDICE DE TABELAS ... VIII ÍNDICE DE GRÁFICOS ... VIII LISTA DE ABREVIATURAS ... IX

INTRODUÇÃO... 1

PARTE I... 6

ENQUADRAMENTO TEÓRICO... 6

I. COMPORTAMENTO POLÍTICO ... 7

1.1.AS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA... 7

1.2.APARTICIPAÇÃO ELEITORAL... 9

1.2.1. Os Modelos de Participação Eleitoral... 12

1.2.2. Os Determinantes da Participação Eleitoral... 16

II. TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E DEMOCRACIA ... 21

2.1.OSISTEMA DE COMUNICAÇÃO POLÍTICO E AS NOVAS TIC ... 26

2.2.APROBLEMÁTICA DO ACESSO ÀS NOVAS TIC ... 29

2.3.APROBLEMÁTICA DO ACESSO À INFORMAÇÃO... 31

2.4.AQUALIDADE DA INFORMAÇÃO DISPONÍVEL... 32

2.5.AESFERA PÚBLICA E AS NOVAS TIC... 34

2.6.OACESSO AOS DECISORES... 37

2.7.AS NOVAS POSSIBILIDADES TECNOLÓGICAS AO SERVIÇO DA DEMOCRACIA... 38

III. POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DAS NOVAS TIC... 43

3.1.OLIVRO VERDE PARA A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO EM PORTUGAL E A PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA... 43

3.1.1. O Acesso às Novas TIC... 44

3.1.2. A Aptidão para Usar as Novas TIC... 46

(7)

3.1.4. O Acesso à Informação... 47

3.1.5. A Qualidade da Informação... 47

3.2.OPLANO DE ACÇÃO E-EUROPE2002... 48

3.3.OPLANO DE ACÇÃO E-EUROPE2005... 48

3.4.AESTRATÉGIA PORTUGUESA... 49

3.4.1. A Iniciativa Internet ... 49

3.4.2. O Programa Operacional Sociedade da Informação... 49

3.4.3. Uma Nova Visão da Sociedade da Informação em Portugal... 50

3.5.OGOVERNO ELECTRÓNICO – E-GOVERNMENT... 51

3.5.1. Os Estágios de uma Estratégia de e-Government ... 56

3.5.2. Os Elementos Chave para o Sucesso do e-Government... 58

3.5.3. O Caso Português: Plano de Acção para o Governo Electrónico... 60

3.6.APARTICIPAÇÃO POLÍTICA E E-GOVERNMENT... 62

PARTE II ... 66

ENQUADRAMENTO EMPÍRICO... 66

IV. DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES DE TRABALHO ... 67

V. DESIGN DE INVESTIGAÇÃO ... 70

5.1.OMODELO... 70

5.1.1. A Variável Dependente... 70

5.1.2. As Variáveis Independentes... 71

5.2.OS DADOS... 73

VI. ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 78

VII. CONCLUSÃO ... 81

(8)

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Variáveis, Definições e Estatísticas Descritivas – Portugal – 2001...75 Tabela 2 – Resultado da Análise da Regressão, Participação Eleitoral – 2001... 78

Índice de Gráficos

(9)

Lista de Abreviaturas

ANMP – Associação Nacional dos Municípios Portugueses DGAL – Direcção Geral das Autarquias Locais

INE – Instituto Nacional de Estatística

LVSIP – Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal MSI – Missão para a Sociedade da Informação

PAGE – Programa de Acção para o Governo Electrónico POSI – Programa Operacional Sociedade da Informação SIG – Sistemas de Informação Geográficos

STAPE – Secretariado Técnico dos Assuntos para o Processo Eleitoral TIC – Tecnologias de Comunicação e Informação

(10)

Introdução

A abstenção nas actividades de participação política e a alienação dos cidadãos da vida política são uma preocupação que tem vindo a crescer. A burocracia pública, a falta de mecanismos que facilitem e promovam o contacto entre os cidadãos e os responsáveis políticos, o sentimento de falta de poder para condicionar a escolha das políticas públicas, a falta de transparência e de entendimento dos processos de decisão, a falta de informação sobre os assuntos em discussão e as diferentes alternativas existentes e o descrédito da classe política contribuem para o baixo envolvimento cívico dos cidadãos.

Verifica-se uma tendência generalizada nas democracias para o aumento do fosso entre os cidadãos e as instituições tradicionais de governo representativo. O elevado nível de abstenção verificado nos diferentes processos eleitorais é sintomático do desencanto dos cidadãos com o desempenho dos seus representantes e com os processos de participação política.

O défice de participação política assume actualmente uma posição de destaque, quer entre os cientistas políticos, quer entre os responsáveis políticos. É necessário implementar mecanismos que motivem a participação directa dos cidadãos nos processos de decisão, e promovam a participação dos cidadãos nos processos de eleição. Esta situação é comum a muitos sistemas democráticos e por isso os governos, de um número já considerável de países, estão a estabelecer e a adoptar políticas públicas que usam as novas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) com o objectivo de melhorar a relação entre os departamentos públicos e os cidadãos. Perspectiva-se que, é possível aumentar o acesso, a transparência, a eficiência e a qualidade da prestação dos serviços públicos com a utilização das novas TIC. Admite-se que as novas TIC, em especial a Internet, podem ser usadas com o objectivo de facilitar; alargar e aprofundar a participação dos cidadãos nos processos democráticos. Defende-se que as novas TIC ajudam a construir um governo melhor, mais eficiente, mais célere nas respostas às necessidades dos cidadãos e mais democrático.

Apesar de as novas TIC serem consideradas por muitos como uma solução nova para a velha crise de participação democrática, por outros são encaradas como um novo elemento para reforçar as

(11)

desigualdades já existentes entre os que tradicionalmente já participam e os que não participam. Trata-se de uma realidade recente em que a investigação se encontra ainda numa fase exploratória. No entanto, é um campo de investigação que motiva cada vez mais investigadores e políticos.

O elevado nível de abstenção verificado em Portugal nos diferentes actos eleitorais, quer para o governo central, quer para o governo local é revelador da falta de interesse e empenhamento político dos cidadãos nacionais. A democracia portuguesa é uma das mais jovens da Europa, mas o desencanto dos cidadãos com o sistema político é semelhante ao verificado nas restantes democracias. Assim, e face ao crescente aumento do nível de abstenção nas eleições portuguesas, e tendo a maioria dos cidadãos portugueses na actividade de votar a única forma de participação política, ou seja, de condicionar o curso das políticas públicas, torna-se importante tentar encontrar as iniciativas que têm potencial para proporcionar um alargamento da democracia e o reforço da cidadania. Defende-se que é necessário dar aos cidadãos oportunidades e mecanismos que proporcionem um maior envolvimento com os policy makers (decisores políticos).

É a nível local que se encontram os instrumentos privilegiados para a melhoria da qualidade de vida das populações e para o aumento do envolvimento do cidadão na vida política da sua comunidade. As autarquias representam uma administração mais próxima e mais aberta ao cidadão. As TIC, em especial a Internet, podem desempenhar um papel decisivo, aproximando a comunidade local aos processos de apresentação de soluções para resolver os problemas locais.

Apesar de existir uma longa tradição de estudos sobre as determinantes individuais e sistémicas (características do sistema/contexto político dos países) que influenciam a participação política, também existem evidências que sugerem que mudanças nas tecnologias de comunicação podem desempenhar um papel importante influenciando o comportamento político. Assim, podemos afirmar que existe já um corpo de investigação limitado, mas em desenvolvimento, que tem vindo a explorar a relação entre o uso da Internet e as variadas formas de participação política, incluindo o voto (Bimber 2001; Noris 2001; Alvarez e Nagler 2000; Tolbert e McNeal 2001; Simões 2002).

Todavia, não existe uma opinião unânime quanto ao poder de renovação do exercício de participação política associado às novas TIC. Encontramos duas visões distintas. Uma visão

(12)

optimista, que é a que se encontra mais disseminada, e outra associada a uma visão pessimista. Os que defendem que com a introdução e uso das novas TIC está garantida a (re)aproximação dos cidadãos da actividade de participação política, apoiam-se em factores como: a capacidade de informação disponível, a interactividade, o mais baixo custo e a flexibilidade da Internet. Argumentos como a inaptidão para o uso das novas TIC, o défice de acesso às mesmas, a má qualidade da informação, são alguns dos argumentos empregues por aqueles que não atribuem às novas TIC capacidade para encorajar o exercício da cidadania e promover o alargamento da democracia.

A evolução tecnológica, ocorrida nas últimas décadas, provocou uma mudança na forma como as pessoas recolhem as notícias e participam na política. O resultado mais importante desta evolução é sem dúvida a Internet. Este novo meio de comunicação combina a componente audiovisual das formas tradicionais dos media, como o jornal, a televisão e a rádio, com a velocidade e interactividade do telefone. Os objectivos, ao nível político e governamental, serão usar a Internet e outras tecnologias de comunicação para facilitar, alargar e aprofundar a participação no processo democrático.

Face ao exposto, é nosso objectivo analisar até que ponto o uso das novas TIC pelas autoridades governamentais pode ou não influenciar a participação política. Temos como objectivo aferir se a implementação de uma política de e-government proporciona um aumento na participação política nos municípios portugueses. Para alcançar tal objectivo, propomo-nos analisar iniciativas de governação local que promovem o uso das novas TIC, designadas por e-government ou governo electrónico. Mais especificamente, propomo-nos averiguar se existe uma relação causal entre a política de e-government implementada nos municípios portugueses e a participação eleitoral registada nesses mesmos municípios. Procuramos responder à seguinte pergunta de investigação:

Será que a política de e-government contribui para o aumento da participação política local dos cidadãos, em Portugal?

Somos da opinião que a política de e-government pode influenciar a eficácia e a qualidade da participação política dos cidadãos, bem como a promoção de igualdade de oportunidades.

(13)

Esperamos que nos municípios com uma política de e-government mais desenvolvida haja um maior nível de participação política.

Nesta dissertação formulamos a hipótese de que o nível de participação política depende do grau de desenvolvimento da política de e-government. Isto é, a participação política será tanto maior quanto maior o nível de maturidade da política de e-government.

No entanto, ponderamos que o resultado da implementação da política de e-government depende das características da comunidade. Isto é, consideramos que existem características da sociedade que podem influenciar o efeito da política de e-government na participação política. Para que uma política de e-government produza resultados junto dos cidadãos é preciso que os cidadãos façam uso dessa política. Umas dessas características é o nível de educação dos cidadãos, pois influência a habilidade/capacidade para fazer uso das novas tecnologias.

Um estudo apresentado pelo Eurostat, em Novembro de 2005, refere Portugal como o país da União Europeia em que a disparidade na utilização da Internet pelos cidadãos em função das habilitações é maior. Para dados referentes ao 1.º trimestre de 2004, é revelado que 84% dos cidadãos com nível de instrução superior utilizaram a Internet, enquanto que apenas 14% dos cidadãos que não completaram o ensino secundário acederam à rede (12.º ano de escolaridade). Assim, regista-se em Portugal uma diferença de 70%, enquanto que a média europeia se cifra nos 52%. O estudo aponta como principais causas desta disparidade a falta de conhecimentos informáticos, a falta de infra-estruturas para aceder à Internet e a falta de estímulos para usar as novas TIC.

Assim, deduzimos uma segunda hipótese de trabalho no sentido de testar o efeito da capacidade de usar a Internet na relação causal entre a política de e-government e a participação política.

Procedemos a análise empírica dos determinantes da participação política nos municípios portugueses. Dado que em Portugal não há registo estatístico sobre as diversas formas de participação política dos portugueses nas suas diferentes facetas, temos de nos centrar na participação eleitoral. Como também o e-government é um fenómeno relativamente recente e o

(14)

registo da sua evolução nos municípios portugueses ainda mais, o design da investigação está limitado a uma análise do tipo transversal. Expostos os condicionantes de uma análise sistémica da participação política em Portugal, o design de investigação consiste numa análise da participação eleitoral nas eleições autárquicas de 2001.

O trabalho apresentado está organizado em duas partes. A primeira parte refere-se ao enquadramento teórico em torno da nossa pergunta de investigação e é composta por quatro capítulos. No que se refere à primeira parte, no primeiro capítulo fazemos uma abordagem breve às formas tradicionais de participação política, onde destacamos a participação eleitoral. A crise de participação política, as suas origens e teorias explicativas são objecto de estudo neste capítulo. No segundo capítulo, primordial para a nossa investigação, a análise recai sobre as diferentes concepções de cidadania subjacente ao modelo de cidadania liberal e ao modelo de cidadania neo-republicano. Posteriormente, iniciamos o estudo do impacto da aplicação das novas TIC ao serviço da democracia. Revemos a literatura sobre participação política e novas TIC. Aqui, apresentamos os principais impactos da aplicação das novas TIC ao sistema de comunicação e informação político. Expomos os novos meios suportados pelas novas TIC colocados à disposição do cidadão para participar politicamente. No terceiro capítulo analisamos o papel do Estado no desenvolvimento da Sociedade da Informação, nomeadamente através da análise das políticas públicas adoptadas na área das novas TIC. Atribuímos especial destaque à análise da política de e-government portuguesa, sem esquecer o enquadramento europeu. Finalmente, no quarto capítulo, tendo por base a literatura analisada, terminamos o enquadramento teórico com o desenvolvimento das hipóteses de trabalho.

A segunda parte, de enquadramento empírico, é composta por dois capítulos, um dedicado ao tratamento e análise da informação recolhida e o outro ao teste das nossas hipóteses de trabalho em torno da relação causal entre a política de e-government municipal e o nível de participação eleitoral. No capítulo quinto, discutimos a metodologia de investigação. Esta discussão passa pela explicação do design da investigação, nomeadamente natureza dos dados, do modelo e das variáveis. No sexto capítulo, testamos as nossas hipóteses e apresentamos a análise dos resultados. Finalizamos com a discussão dos resultados exploratórios.

(15)

Parte I

(16)

I. Comportamento Político

Nos estados democráticos, o exercício da actividade política não se encontra limitado aos cidadãos que se enfrentam na arena política para conquistar o poder. Todos os cidadãos são encorajados a participar na vida política do seu país. Esta participação pode assumir diferentes formas, mas o objectivo associado a qualquer acção de participação é sempre o condicionamento do curso das políticas públicas, isto é, controlar os governantes e influenciar as suas decisões de forma a serem satisfeitas as suas exigências.

1.1. As Formas de Participação Política

Existem diversas formas de participação política, mas nem todos os cidadãos, apesar de estar garantido o direito de igualdade de acesso a esses mecanismos de participação política, fazem uso dos mesmos para participarem na vida política da comunidade a que pertencem. Existem muitos cidadãos que se encontram totalmente alheados do universo político. Existe já uma longa tradição de estudos com o objectivo de determinar quais são os factores que determinam ou condicionam a participação política.

Por um lado, temos um grupo de estudiosos que tem investigado quais as características individuais que levam os eleitores a desenvolverem actividades de participação política. Variáveis como a idade, a educação, o rendimento, o status material, o interesse na política e a identificação partidária são apontadas muitas vezes como factores que incrementam a participação. As principais teorias de participação política mostram-nos que as características socioeconómicas dos eleitores, educação e rendimento, são os factores que assumem maior importância na explicação dos votos. A participação dos eleitores é também afectada pela raça, idade, sexo e por factores comportamentais, tais como a força de adesão a um partido político, eficácia política e interesse político (Abramson 1983; Campbell et al. 1960; Conway 1991; LeDuc, Niemi e Norris 1996; Lazarsfeld, Berelson e Gaudet 1944; Wolfinger e Rosenstone 1980; Rosenstone e Hasen 1993; Verba e Nie 1972).

(17)

Por outro lado, temos uma corrente de investigadores que tem estudado as características do contexto político, tais como a saliência das eleições, o uso da votação obrigatória, o sistema eleitoral altamente proporcional, a votação postal e a votação ao fim de semana, que favorecem a participação popular (Blais e Carty 1990; Cox e Munger 1989; Franklin 1996; Jackman 1987; Jackman e Miller 1995; Powell 1986; Reif e Schmitt 1980). É também possível encontrar estudos sobre participação política que procuram incorporar as duas perspectivas num modelo para explicar a participação eleitoral (Egmond, Graaf e Eijk 1988; Perea 2002).

Podemos falar em dois grupos alargados de formas de participação política: formas de participação convencionais e formas de participação contestatárias. As formas de participação política convencionais incluem o exercício do direito de voto, a participação nas actividades de campanha política, a filiação num partido político, a contribuição directa no financiamento das campanhas e partidos políticos, a participação em debates e discussões políticas, o encontro com os candidatos e a intervenção individual ou colectiva junto dos membros do governo. Estas formas de intervenção política encontram-se, regra geral, inscritas no direito dos países democráticos, de forma a encorajar a participação política dos cidadãos. No entanto, os cidadãos, por vezes, entendem que o exercício das actividades atrás referidas, não é suficiente para garantir os seus objectivos. Nessas situações, assiste-se ao exercício de actividades que a literatura denomina de formas de participação política contestatária, que, regra geral, não se encontram contempladas no direito dos países. Estas actividades traduzem-se, na maioria das vezes, na assinatura de petições, em manifestações de rua, barragem de vias de comunicação e ocupação de edifícios públicos. No entanto, face ao aumento da frequência de algumas destas formas—como por exemplo, as manifestações de rua ou o corte de vias de comunicação—leva a que progressivamente se deixem de enquadrar no leque das formas contestatárias. “Há sondagens que demonstram que estas actividades, amplamente aceites pela opinião pública e toleradas pelos poderes públicos, mesmo quando não têm carácter legal, não se substituem à participação convencional, mas completam-na ao alargarem o reportório das acções colectivas. Em contrapartida, os actos violentos contra os bens e as pessoas são condenados de maneira unânime.” (Chagnollaud 1999: 133).

As diferentes formas de actividade política exigem graus de empenhamento e de implicação pessoal muito diferentes. “A votação, principal modo de expressão da soberania popular nas democracias, é

(18)

a actividade política que mobiliza, a intervalos regulares, o maior número de cidadãos” (Chagnollaud 1999:132). Segundo Lawrence LeDuc, Richard Niemi e Pippa Norris (1996), a participação é a essência da democracia, envolvendo um número variável de pessoas, em actividades diferentes, em momentos de tempo diferentes. Assim, votar exige um empenhamento muito mais reduzido do que aquele que está associado à participação numa campanha política, ou à militância num partido político. Manter a organização de um partido viável requer o compromisso de algumas pessoas durante um período de tempo considerável. Actividades de campanha, lobbying, ou de protesto requer ainda um maior compromisso por um número bastante maior de pessoas, durante um período de tempo mais curto.

1.2. A Participação Eleitoral

Nos países democráticos o voto é o instrumento privilegiado dos cidadãos para intervirem na esfera política do seu país. Através do exercício do direito de voto os cidadãos designam os titulares dos órgãos de decisão política, e assim procuram influenciar o curso das políticas públicas. Dada a importância da participação cívica dos cidadãos para o sistema democrático, e tendo em conta o baixo nível de empenhamento político dos indivíduos, muitos são os investigadores que desenvolvem pesquisas com o objectivo de tipificar quais os factores que tornam os cidadãos mais activos politicamente.

No entanto, na literatura sobre participação política é possível encontrar duas opiniões diferentes sobre a importância da participação eleitoral. Uma perspectiva considera o voto como a forma de participação política suprema, e um forte indicador da satisfação com o sistema político, outra perspectiva argumenta o contrário, isto é, elevados níveis de participação eleitoral podem não ser sinónimos de uma ligação forte entre os cidadãos e o sistema político. A opinião, partilhada por um grande número de autores, atribui ao voto uma posição superior nos sistemas democráticos. Para Dahl (1989, 1998) as eleições, nas democracias representativas do ocidente, assumem um papel fundamental enquanto processos de ligação entre a sociedade civil e as instituições políticas. “A saúde de uma democracia é vista muitas vezes ao nível de participação eleitoral...” (LeDuc, Niemi e Norris 1996: 216). Para Stein Rokkan (1962), votar é a única forma de participação política. A

(19)

universalidade de acessos, a igualdade de influência, e a irresponsabilidade (unaccountability) são três características que não se encontram em outras formas de participação. Sendo a participação eleitoral a forma mais difundida de participação, é a única que os cidadãos exercem com carácter de regularidade. Isto reforça a universalidade de acesso presente no voto. Para Rokkan (1962), a característica de irresponsabilidade traduz a liberdade plena que o cidadão tem para escolher entre as diferentes opções políticas através do exercício do direito de soberania. No caso da participação eleitoral, um elemento de igualdade impõe-se pela sua própria natureza. A influência que cada cidadão pode ter no ambiente político através do voto é a mesma para todos os cidadãos, indiferentemente do sexo, idade, educação, condição social ou orientação ideológica de cada um. A máxima “uma pessoa, um voto” constitui um ideal democrático essencial. Noutras formas de participação política, a frequência e influência dependem da vontade individual.

Para Eva Perea (2002), a abstenção não é indicador de satisfação, mas um sintoma de apatia e alienação por parte do cidadão. Abstenção traduz falta de interesse ou distância entre os cidadãos e as instituições políticas e os partidos. Todavia, isto não implica que a alienação ou a falta de interesse não co-exista com elevados níveis de participação eleitoral, ou que altos rácios de participação eleitoral garantam a estabilidade de um sistema político. Também não pode ser assumido que um elevado nível de turnout (participação eleitoral) provoca risco de instabilidade, como várias análises empíricas procuram mostrar (Dittrich e Johansen 1983; Powell 1982).

Numa outra perspectiva, a participação eleitoral pode ser vista como uma ligação muito esporádica entre os cidadãos e o sistema político. Se a participação eleitoral é considerada basilar para a democracia, outras formas de envolvimento, que são mais exigentes e mais regulares do que o voto são, as que realmente têm importância, como é declarado pelas teorias de participação da democracia (Bachrach 1967; Barber 1984; Lively 1975; Pateman 1970). A participação eleitoral é a única forma indispensável de envolvimento político desde que promova a competição entre os diferentes partidos políticos ou candidatos. A competição é o core da democracia, e a participação eleitoral é útil contando que proveja os meios para atingir isso (Perea 2002). Assim, não é necessária a participação eleitoral em massa, com todos os cidadãos a participar. Baixos rácios de participação não são vistos como um problema, mas como um indicador de cidadãos basicamente satisfeitos com a acção do sistema político, que concentram os seus recursos nos seus assuntos

(20)

pessoais (Berelson, Lazarsfeld e McPhee 1954; Eckstein 1966; Ranney 1983; Sartori 1962). Vários autores sugerem mesmo que um elevado nível de participação eleitoral pode ser um sinal de polarização excessiva capaz de provocar processos de instabilidade política (Morris-Jones 1954; Lipset 1969; Milnor 1969).

Em termos gerais, um elevado nível de participação eleitoral indica que os cidadãos mais envolvidos politicamente estão a usar um dos canais que estão à sua disposição para influenciar os policy makers. Porém, a participação pode reforçar certamente atitudes como o sentimento de eficácia política. A participação eleitoral pode não ser a única forma de participação necessária numa democracia, mas, no entanto, é essencial para garantir a legitimidade do sistema político, a natureza representativa dos parlamentos e o controlo dos cidadãos sobre a composição dos governos (Perea 2002). De acordo com a mesma autora, é plausível o argumento de que a abstenção, além de contribuir para reforçar politicamente uma situação de desigualdade social, pode influenciar os resultados eleitorais, uma vez que esses grupos de cidadãos abstencionistas podem ter orientações políticas e ideológicas específicas e diferentes das pessoas que votam.

Além disto, a participação política é um mecanismo que pode contribuir para compensar o efeito das desigualdades socioeconómicas (Verba e Nie 1972). Assim, a um elevado nível de abstenção pode ser associado uma ideia de que uma parte da população foi excluída do sistema político. O assunto da exclusão torna-se mais preocupante quando o sector abstencionista do eleitorado permanece estável e quando existe uma grande diferença política e social entre aqueles que se abstêm e aqueles que participam. Tradicionalmente, a abstenção tem sido associada a um perfil socio-demográfico específico. De acordo com diferentes estudos, os abstencionistas estão mais representados em certos sectores sociais como as mulheres, os desprivilegiados, jovens, estrangeiros ou idosos (Corbetta e Parisi 1987; 1994; Milbrath e Goel 1977; Verba e Nie 1972; Verba, Nie e Kim 1978; Verba et al. 1993; Wolfinger e Rosenstone 1980).

Sendo a actividade de votar aquela que envolve um maior número de cidadãos, e o voto considerado supremo para a saúde das democracias, é necessário abordar os diferentes caminhos seguidos pela literatura na análise das características que concorrem para explicar o nível de participação eleitoral. Neste capítulo, abordamos as principais teorias/modelos que estudam o

(21)

fenómeno da participação eleitoral (turnout), e apresentamos os principais contributos na modelização teórica do comportamento eleitoral.

1.2.1. Os Modelos de Participação Eleitoral

O que leva os cidadãos a votarem e quais os factores que condicionam o modo como o fazem? São perguntas que muitos cientistas políticos colocam e, apesar dos estudos sobre comportamento eleitoral terem já uma longa tradição, encontrar a resposta não é tarefa fácil. A literatura sobre o comportamento eleitoral divide-se em três escolas que correspondem ao desenvolvimento de três modelos de comportamento eleitoral:

9 Modelo sociológico de comportamento eleitoral; 9 Modelo psicológico de comportamento eleitoral; 9 Modelo económico de comportamento eleitoral.

O modelo sociológico surgiu na década de 30 com um estudo efectuado por uma equipa da Universidade da Columbia (EUA) liderada por Paul Lazarsfeld. A obra intitulada People`s Choice desenvolvida por Paul Lazarsfeld, Bernard Berelson, e Hanzel Gaudet (1944) lançou as bases do modelo sociológico (Dalton e Wattenberg 1993; Freire 2001). Estes autores tentaram explicar como a intenção de voto muda durante a campanha eleitoral através da repetição de entrevistas a um painel de eleitores no ano eleitoral de 1940 nos EUA. Os autores apoiaram-se em padrões demográficos de voto previamente estabelecidos para explicar os seus resultados, concluindo que poucos eleitores mudavam o seu sentido de voto.

Na Europa o estudo de Seymour Martin Lipset e Stein Rokkan (1967), sobre sistemas de partidos e alinhamento de eleitores, marca o início da abordagem sociológica da participação eleitoral. Segundo Russel Dalton e Martin Wattenberg (1993), Lipset e Rokkan, uniram o desenvolvimento do sistema de partidos a uma sequência histórica de conflitos políticos e associaram às clivagens sociais. Esta primeira abordagem do comportamento eleitoral coloca a ênfase nos determinantes sociais da acção política. O pressuposto básico do modelo é que a votação é muito condicionada pelas características e crenças individuais. Segundo André Freire (2001:9), “podemos dizer que a

(22)

pedra de toque do modelo sociológico do voto é a ênfase nas características sociais dos indivíduos e nos contextos sociais nos quais se desenrola a sua acção enquanto factores explicativos da forma como os cidadãos se relacionam com os sistemas políticos.” Por outras palavras, através das variáveis sociológicas é criado um conjunto de interesses comuns que levam à formação das coligações de partidos e definem imagens relativas aos partidos que estão mais em harmonia com as necessidades dos diferentes tipos de pessoas (Dalton e Wattenberg 1993).

Na opinião de Dalton e Wattenberg (1993), embora o modelo sociológico do voto providencie um enquadramento válido para identificar um conjunto de características sociais que estruturam as decisões eleitorais, o modelo apresenta várias limitações. Explica só uma pequena parte do voto entre os eleitorados europeus, e explica ainda uma parte menor entre o eleitorado americano menos convergente. Além disso, a perspectiva sociológica enfatiza a continuidade e estabilidade, e, assim, é limitada na explicação da mudança eleitoral. Para os mesmos autores, o modelo sociológico apresenta uma aplicabilidade restrita como método de tomada de decisões satisfatórias, especialmente no nosso mundo político contemporâneo mais variado e mudado.

Apesar das limitações referidas, e de acordo com Edward Carmines e Robert Huckfeldt (1996), o estudo desenvolvido pelo grupo liderado por Lazarsfeld, introduziu um paradigma intelectual duradouro na pesquisa sobre o comportamento político, cujo contributo fundamental é o foco nos eleitores individuais.

No início dos anos 60, verificadas algumas limitações do modelo sociológico de comportamento eleitoral, um grupo de investigadores da Universidade de Michigan deu mais um passo na investigação sobre comportamento eleitoral. Segundo Dalton e Wattenberg (1993), as fraquezas da perspectiva sociológica conduziu os investigadores da Universidade de Michigan a concentrarem-se mais directamente nos processos psicológicos subjacentes ao raciocínio do indivíduo. Surge, assim, no início da década de 60 um novo modelo de comportamento eleitoral, o modelo psicológico do comportamento eleitoral. The American Voter (Campbell et al. 1960) é considerada a obra emblemática deste modelo (Freire 2001). A publicação desta obra introduziu explicitamente um modelo psicológico do voto (Campbell et al. 1960). A ideia central desta teoria é a de um papel

(23)

mediador das predisposições psicológicas a longo prazo—particularmente o da identificação partidária–guiando as acções dos cidadãos (Dalton e Wattenberg 1993).

Para Angus Campbell, Philip Converse, Warren Miller e Donald Stokes (1960), o modelo desenvolvido pelos investigadores da Universidade da Columbia (EUA) não considera as características dinâmicas capazes de explicar as frequentes variações na participação e no sentido de voto entre eleições. Estes autores consideram o indivíduo como a unidade de análise por excelência e as atitudes políticas dos eleitores, pela sua proximidade ao fenómeno que se pretende explicar, são os factores que recebem maior relevo. Assim, a hipótese de partida destes autores é que a escolha partidária que o eleitor individual faz deriva num sentido imediato da força e direcção dos elementos que englobam uma área de forças psicológicas; estes elementos são interpretados como atitudes em relação aos objectos percebidos das políticas nacionais (Campbell et al.1960).

Segundo Campbell et al. (1960), a distribuição das características sociais de uma população varia muito lentamente durante um período eleitoral. Todavia, de eleição para eleição processam-se flutuações cruciais no voto nacional. Tais flutuações, na opinião dos autores, não podem ser explicadas por atributos independentes, cujos os valores não mudam em curtos períodos de tempo. A abordagem atitudinal centrou as suas acções nos objectos das atitudes políticas, tais como os candidatos e os assuntos/temas políticos, os quais evidenciam variações de curto prazo. Para os investigadores da Universidade de Michigan, a chave para explicar as dinâmicas do comportamento político assenta na reacção do eleitorado a estas mudanças na cena política.

Embora admitindo que as características sociológicas influenciam o desenvolvimento da identificação partidária, a perspectiva psicológica argumenta que ser militante de um partido é mais do que uma simples reflexão política do processo de socialização e do actual status social dos eleitores. O conceito, identificação partidária, é usado pelo autor para descrever a orientação afectiva dos cidadãos em relação a determinado grupo do seu meio. Assim, o partido aparece como um grupo relativamente ao qual a pessoa pode fomentar determinada identificação de diferentes graus de intensidade, que pode ser positiva ou negativa (Campbell et al. 1960). Para os autores do modelo psicológico, a identificação partidária tem um impacto mobilizador. Argumentam que

(24)

quanto mais forte é essa identificação partidária maior, é o envolvimento político dos cidadãos e maior é a sua propensão para votar.

Uma das forças do modelo psicológico é que ele descreve como a maioria dos cidadãos possui um guia pronto para raciocinar sobre uma grande parte dos fenómenos políticos. A forma como cada indivíduo vê o mundo político é influenciada pelas acções que identificam os partidos, não só dotando-os com meios para tomar decisões de votação, mas também com meios para interpretar a curto prazo assuntos políticos e candidaturas já que os partidos são os actores centrais na maioria dos conflitos políticos (Dalton e Wattenberg 1993).

Tal como aconteceu com a primeira abordagem do comportamento eleitoral, rapidamente a perspectiva dos investigadores da Universidade de Michigan foi exportada para a Europa (Converse e Dupeux 1962; Butler e Stokes 1969). A influência da abordagem psicológica estava tão difundida que a identificação dos partidos, segundo Dalton e Wattenberg (1993), tornou-se o conceito teórico central em investigação eleitoral.

De acordo com Jacques Thomassen (1994), apesar de todas as diferenças entre o modelo sociológico e o modelo psicológico social, também o segundo modelo coloca maior ênfase na estabilidade do voto do que na mudança eleitoral. E foi o crescimento da volatilidade eleitoral registada, sobretudo a partir dos anos 70, quer na Europa quer nos EUA, que na opinião de vários autores veio pôr em causa o segundo modelo (Dalton 1988; Mayer e Perrineau 1992).

Ainda nos anos 60, surgiu uma nova abordagem à problemática da participação eleitoral—a escola económica do comportamento eleitoral. Esta perspectiva foi introduzida pela obra de Anthony Downs de 1957, An Economic Theory of Democracy. Apesar da obra ser anterior à obra emblemática do modelo psicológico, o modelo económico de voto só começa a ganhar relevo nos estudos empíricos sobre o comportamento eleitoral nos anos 1970/1980. Em vez de testar as noções clássicas de prática democrática, Downs reformulou-a de acordo com as assunções teóricas da racionalidade da economia moderna. A ideia fundamental da teoria de Downs é que os cidadãos agem racionalmente. Este princípio da racionalidade implica que a escolha de determinado partido em detrimento de outro partido num acto eleitoral reflecte a ideia de que esse partido proporcionará

(25)

mais benefícios. Consequentemente, para o autor, a diferença entre a utilidade que o indivíduo na realidade teve no período t e a que ele teria recebido se a oposição estivesse no poder, assume importância fulcral na decisão do eleitor. “Este modelo apresenta os cidadãos relativamente libertos das determinações sociológicas e psicológicas, escolhendo os partidos que mais se adaptam às suas preferências, em termos de políticas públicas” (Freire 2001: 59).

Para Dalton e Wattenberg (1993), esta terceira abordagem do comportamento eleitoral é pelo menos parcialmente desenvolvida como uma extensão lógica dos modelos sociológico e psicológico. Ambos os modelos anteriores enfatizam a origem relativamente estável das características do eleitor como próprio de um modelo de tomada de decisão eleitoral. De acordo com o modelo, os cidadãos podem desenvolver formas simplificadas para tomarem as suas decisões usando por exemplo opiniões sobre os assuntos políticos ou sobre os candidatos.

Segundo Carmines e Huckfeldt (1996), apesar das diferenças entre as escolas, a consideração das três tradições separadamente poderá traduzir-se num perigo, uma vez que se corre o risco de não considerar os pontos em comumexistentes entre os modelos. As três visões tenderam a convergir numa visão unificada do cidadão. As três escolas compartilham um ponto em comum: a pesquisa de comportamento político centrada no eleitor individual. Para os mesmos autores, as três tradições endereçaram um desafio distinto à teoria democrática, tendo cada uma produzido uma resposta à questão sobre os factores que influenciam o voto.

1.2.2. Os Determinantes da Participação Eleitoral

Os sistemas democráticos procuram assegurar a igualdade das condições de acesso às actividades de participação política. Contudo, os membros de uma mesma comunidade não têm a mesma propensão para fazer uso dos recursos políticos que têm à sua disposição. Estas desigualdades verificadas no empenhamento político dos cidadãos dependem de múltiplos factores com natureza diversa. Vários são os estudos empíricos sobre o comportamento eleitoral que procuram analisar os factores que afectam esta dimensão do comportamento político. Estes podem ser agrupados em dois grupos distintos.

(26)

No primeiro grupo, podemos agregar os vários estudos que procuram identificar até que ponto a participação eleitoral depende de variáveis individuais. Estes estudos colocam questões do tipo: Porque é que certos eleitores votam mais do que outros? Será que existem diferenças significativas entre os cidadãos que votam e os que se abstêm?

A nível individual, a maioria dos factores explicativos do voto estão relacionados com as atitudes políticas dos eleitores. Factores, como o interesse na política ou o nível de envolvimento político, são variáveis que contribuem para a explicação do fenómeno (ver os estudos de Almond e Verba 1963; Budge e Farlie 1976; Campbell et al. 1960; Dalton 1996).

Outros estudos analisam a associação entre o voto e certas variáveis sociodemográficas (ver os estudos de Converse e Niemi 1971; Filer, Kenny e Morton 1993; Glasser 1959; Lancelot 1968; Lazarsfeld Berelson e Gaudet 1944; Rosenstone e Hansen 1993; Strate et al. 1989; Topf 1995; Verba e Nie 1972; Verba et al. 1993; Wolfinger e Rosenstone 1980).

O rendimento e a educação também são considerados factores relevantes para explicar a participação eleitoral. Pessoas com poucos recursos individuais têm menos capacidade para suportar os custos associados à participação, como o processo de recolha de informação, a formação de decisão e o tempo para votar. Indivíduos com níveis de educação mais baixos, tendem a ter mais dificuldade em analisar os problemas, a avaliar as soluções alternativas existentes e a compreender o processo de decisão político. Há nestes casos uma maior probabilidade de desenvolver atitudes de apatia para com o sistema político. Assim, é mais difícil motivar essas pessoas para exercerem o direito de voto.

Segundo, Richard Topf (1995), na Europa Ocidental contemporânea, nem sempre existe uma associação positiva entre educação e participação. Em alguns países, pessoas com elevados níveis de educação participam menos que pessoas com mais baixo nível de educação (Corbetta e Parisi 1994). Nesse caso o problema não é tanto de ordem individual, mas sim uma falha do sistema político em providenciar incentivos suficientes à participação (Perea 2002).

(27)

Relativamente ao segundo grupo de factores que influenciam comportamento eleitoral, as variáveis sistémicas, Marcel Egmond, Nan Graaf e Cees Eijk (1998) argumentam que, embora as características pessoais tenham um papel fundamental na determinação da participação política, elas apenas mostram uma parte da realidade; não conseguem explicar a variação substancial na participação eleitoralentre os países e flutuações na participaçãoentre eleições dentro de um país. Para os mesmos autores, a explicação dessas flutuações nos níveis médios de participação implica que a atenção não pode ser concentrada apenas nas características individuais, mas tem de contemplar também o contexto no qual os indivíduos estão inseridos. Vários são os exemplos de estudos que focam as características sistémicas das eleições e dos sistemas políticos. (ver os estudos de Blais e Carty 1990; Powell 1986; Wolfinger e Rosenstone 1980). Porém, a não incorporação de variáveis individuais pode na opinião de Egmond, Graaf e Eijk (1998), restringir a explicação ao nível agregado ou incorrer no risco de falácia ecológica se quisermos extrapolar as conclusões dos dados agregados para o nível individual.

Este segundo grupo de estudos concentra-se directamente nas diferenças nacionais ao nível da participação eleitoral. Um número considerável de estudos sobre participação eleitoral consagra a explicação da participação eleitoral em função de variáveis sistémicas. Vários investigadores consideram que rácios de participação eleitoral diferentes podem ser explicados com base em factores como a relevância política e institucional das eleições, as características dos partidos e do sistema político, e as características do sistema eleitoral (ver os estudos de Blais e Carty 1990; Blais e Dobrzyinska 1998; Cox e Munger 1989; Crepaz 1990; Denver e Hands 1974; 1985; Jackman 1987; Jackman e Miller 1995; Powell 1986; Reif e Schmitt 1980). Este conjunto de análises, regra geral, teve muito êxito em termos de valor da discrepância explicada. Contudo, de acordo com alguns investigadores, são incompletas, a menos que eles argumentem que as propriedades do sistema possam ser entendidas em termos de motivos individuais (Lane e Ersson 1990). Todavia, desde que, nem todos os eleitores precisem de ter as mesmas ligações com o sistema político no qual eles vivem, não há razão para acreditar que o impacto das características políticas é o mesmo para todas as pessoas. Alguns eleitores podem ser sensíveis a incentivos institucionais para a participação presentes no seu contexto político; podem reagir de forma diferente. Outros, talvez, sejam simplesmente desatentos à presença de tais incentivos. (Perea 2002).

(28)

Robert Jackman e Ross Miller (1995), num estudo sobre a participação eleitoral nas democracias industriais durante os anos 80, procuraram saber porque é que o grau de participação política varia de país para país. Os autores defendem a existência de dois argumentos rivais. O primeiro enfatiza o passado cultural e as forças históricas. O segundo enfatiza a pressão das regras das instituições e os atributos eleitorais. As análises efectuadas pelos autores levaram-os a concluir que as instituições políticas e as leis eleitorais continuam a proporcionar uma estrutura de incentivos importante para a participação eleitoral. Os resultados destes autores desafiam assim, as teses de que as diferenças na participação eleitoral são resultado das duradouras e diferentes culturas políticas nacionais. Segundo os autores, os níveis de participação eleitoral são mais uma função dos procedimentos institucionais e eleitorais do que das normas culturais.

Embora vários investigadores tenham analisado a influência de variáveis sistémicas e individuais na abstenção (ver os estudos de Egmond, Graaf e Eijk 1998; Kim, Petrocik e Enokson 1975; Leighey e Nagler 1992; Pattie e Johnston 1998; Rosenstone e Hansen 1993) muitas vezes, tem-se colocado a questão do potencial da interacção entre as variáveis individuais e sistémicas (ver os estudos de Oppenhuis 1995; Franklin, Eijk e Oppenhuis 1996). Egmond, Graaf e Eijk (1998) procuraram através da combinação das perspectivas individual e contextual explicar a participação eleitoral individual, bem como os níveis agregados de votação. Além de concluírem que a adição de características contextuais produzem uma melhoria relevante da capacidade do modelo para prever a participação eleitoral individual, concluíram também que a influência das características individuais, tais como a educação ou o interesse político, depende das características contextuais, como, por exemplo, a saliência das eleições.

Mais recentemente, Perea (2002) analisou a interacção entre as características individuais e os incentivos institucionais na abstenção eleitoral, com o foco principal na interacção entre esses dois tipos de variáveis explicativas. A análise mostra que o efeito dos recursos e motivações individuais dos eleitores na abstenção não é constante entre os 15 países da Europa Ocidental analisados. Por outro lado, o efeito dos incentivos institucionais, como a votação obrigatória, as instalações da votação, a lei eleitoral, depende do nível de motivação e recursos dos eleitores. Perea (2002) conclui que existe uma relação interactiva entre as variáveis individuais e sistémicas que afectam a abstenção eleitoral que pode ser interpretada de dois modos. Por um lado, os incentivos individuais

(29)

têm um papel importante em alguns contextos, ainda que noutros façam pouca diferença. Por outro lado, as características do ambiente institucional não têm o mesmo efeito na probabilidade de abstenção para todos os cidadãos. Alguns cidadãos são mais sensíveis às características institucionais do que outros e, em alguns casos, o efeito das características sistémicas provocam mudanças de direcção, para cidadãos favorecidos e desfavorecidos.

(30)

II. Tecnologias de Informação e Comunicação e Democracia

As alterações verificadas ao nível da tecnologia acessíveis ao ser humano determinam ou influenciam de forma significativa a forma com as pessoas se relacionam e comunicam. Isto aconteceu com o aparecimento das tecnologias tradicionais de informação e comunicação como o jornal, a rádio, o telefone, o telex, o fax e a televisão, e irá com certeza verificar-se com o aparecimento das novas TIC. A forma como as pessoas comunicam entre si é altamente condicionada pelos meios que têm ao seu dispor. A questão que se coloca quando analisamos a influência das novas TIC na estrutura democrática é saber se esta influência terá um sinal positivo ou negativo, ou seja, as novas TIC disponíveis irão permitir o alargamento e aprofundamento da democracia, ou pelo contrário contribuirão para aumentar, ainda mais, os constrangimentos daqueles que tradicionalmente mostram ter menos capacidades e recursos para participar activamente na vida democrática da sociedade à qual pertencem. Neste próximo capítulo propomo-nos analisar esta característica de sinal bipolar associada às novas TIC.

Segundo Maria Simões (2002), a análise da capacidade de aprofundamento, reforço e alargamento do processo democrático através do uso das novas TIC é condicionada pela concepção de participação vigente, que é influenciada pelo modelo de cidadania liberal ou pelo modelo de cidadania neo-republicano. No modelo de cidadania liberal, basilar às democracias ocidentais, o cidadão é concebido como um titular de direitos e a cidadania como um estatuto legal. Trata-se de uma concepção de cidadania baseada nos direitos individuais e no tratamento igual dos indivíduos por parte do Estado. Ao Estado e às restantes instituições é apenas exigido que possibilitem aos indivíduos as condições para que estes maximizem os seus benefícios e alcancem os seus objectivos. Aos indivíduos é imposto o cumprimento de um conjunto mínimo de deveres cívicos em relação ao Estado, designadamente votar. Dos cidadãos espera-se que eles participem activamente na vida política do seu país, mas caso não o façam não são punidos.

Este modelo de cidadania considera que os cidadãos possuem todas as condições para participarem politicamente, não precisando para tal da ajuda de ninguém. Para o modelo de cidadania liberal, a política é uma área restrita a uma elite, apenas ao alcance daqueles que

(31)

constituem o governo. O referido modelo considera que a política é autónoma em relação à cultura, à economia e à vida familiar, estabelecendo-se uma separação clara entre assuntos políticos e assuntos não políticos (Barber 1984).

Segundo Bejamin Barber (1984) a cidadania tem tendência para se degradar, uma vez que o cidadão desempenha apenas o papel de telespectador, o qual apenas exerce a cidadania de forma fortuita. Nesta perspectiva, o voto é a forma de participação privilegiada, através do qual os indivíduos escolhem entre as diferentes alternativas existentes.

Para que haja comunicação é sempre necessário a existência de pelo menos dois intervenientes, o emissor da informação e o receptor da mesma. No processo de comunicação política, por norma, o tipo de comunicação que se estabelece é de um para muitos. A perspectiva liberal assenta na emissão de comunicação, relegando para segundo plano a função de receptor. Barber (1984) argumenta que o foco no discurso faz com que saiam reforçadas as desigualdades relacionadas com as capacidades dos indivíduos para se exprimirem com clareza, eloquência, de forma lógica e racional ou recorrendo à retórica. David Held (1996) argumenta que no modelo de cidadania liberal não está definido à partida um envolvimento activo dos cidadãos.

Com uma visão diferente surge a perspectiva neo-republicana a qual assenta num modelo de cidadania activa. Desde logo, e de acordo com Barber (1984), podemos referir duas grandes diferenças quanto à forma de concepção da cidadania. Primeiro, a cidadania é uma relação entre indivíduos que não se conhecem, que estabelecem ligações entre si por causa do seu envolvimento comum na política, por estarem ligados por laços de actividades comuns e porque partilham de um futuro comum. Segundo, neste modelo os indivíduos envolvem-se com o governo uma vez que participam em instituições comuns de auto-governo.

A cidadania não é concebida como um estatuto legal. O indivíduo só é considerado cidadão quando desenvolve acções de participação efectiva ao nível da esfera política. Nesta perspectiva, indivíduo e cidadão não são sinónimos. “O cidadão é membro de uma comunidade política, a república, assumindo essa comunidade uma posição central. Mas esta é uma entre muitas a que pertence, uma vez que, nas sociedades modernas os indivíduos pertencem a diferentes grupos sociais que

(32)

desempenham um papel importante na sua vida, desde os de longa duração aos mais fugazes, dos mais informais aos mais formalmente organizados”(Simões, 2002:103).

Para Barber (1984) a heterogeneidade e a pluralidade das sociedades modernas, aliadas à falta de tempo dos indivíduos, não são obstáculo para que os indivíduos sejam cidadãos, titulares de direitos e obrigações. O envolvimento dos cidadãos aos diferentes níveis não é realizado de forma simultânea e permanente, tendo os indivíduos grau de liberdade considerável para escolherem quando, como e onde intervirem.

No modelo de cidadania neo-republicana o exercício do dever de cidadania é dependente do acesso à informação, no entanto a satisfação desta condição não é suficiente. O tipo de informação disponível assume também uma posição de destaque. Não serve uma informação qualquer, é exigido que a informação se refira aos problemas que afectam os cidadãos, precisa de ser contextualizada, e também explicar as consequências que advêm das diferentes escolhas políticas que estão disponíveis. A remoção das barreiras de comunicação, por si só, não é suficiente para aumentar o exercício da cidadania (Barber 1984).

Ao contrário do que acontece na perspectiva liberal, no modelo neo-republicado é valorizado o discurso, mas também a escuta. Privilegia a comunicação vertical descendente e ascendente estabelecida entre o governo e os cidadãos. A comunicação horizontal assume também um papel importante. Esta importância pode ser analisada a dois níveis. Primeiro, através da comunicação horizontal que se estabelece entre os indivíduos, é possível que estes reexaminem e reformulem as suas opiniões, crenças e valores que servem de base à escolha política. Este processo ajuda a que os indivíduos, muitas vezes, abandonem uma perspectiva individualista, onde apenas valorizam os seus próprios interesses. Segundo, o processo de escolha política envolve deliberação. A escolha do indivíduo é dependente dos seus valores, das suas crenças e das suas opiniões. E a ideia basilar ao processo de escolha política (deliberação) é que é melhor valores e opiniões testados e reavaliados, através do confronto com argumentos opostos, do que valores e opiniões que depois de adquiridos, são considerados inalteráveis e intocáveis, e não mais são abandonados (Barber 1984).

(33)

Depois de apresentados, ainda que de forma muito simplista, as principais diferenças entre os dois modelos de concepção de cidadania, cabe agora iniciarmos a análise do impacto das novas TIC na democracia.

O desenvolvimento das novas TIC que implicações terá na democracia? Uma democracia forte tem que ter a capacidade de oferecer a oportunidade para a participação dos cidadãos em todos os processos de decisão sobre assuntos que são importantes para eles (Held 1996). Através da revisão da literatura sobre o impacto das novas TIC no exercício da participação política encontramos duas perspectivas. A perspectiva optimista que defende que às novas TIC está associado um potencial de renovação, alargamento e fortalecimento da democracia. Ao contrário, numa outra perspectiva é argumentado que as novas TIC apenas contribuirão para aumentar as desigualdades já existentes no processo de participação democrático.

É sem sombra de dúvida a visão optimista que se encontra mais polarizada. Ted Becker (1998) considera que as novas TIC assumem uma importância súbita no campo das políticas democráticas. No entanto, o autor considera que esta situação traduz apenas uma troca de paradigma no processo de compreensão da governação democrática. Os que defendem que associado às novas TIC está a renovação e o alargamento da participação política dos cidadãos apoiam-se em diferentes argumentos. Podemos analisar esses argumentos com base em cinco elementos tempo, distância, audiência, conteúdo e custo associados ao processo de recolha de informação. Para estruturar esta análise recorreu-se a Monteiro (1999).

No que respeita ao factor elementar tempo, as novas TIC permitem que a informação/conteúdos seja instantaneamente transmitida do emissor para o receptor. Possibilitam, também, uma comunicação interactiva entre o emissor e receptor da comunicação, proporcionando aos diferentes intervenientes a troca de funções de emissor e receptor. Permitem o debate em tempo real através da possibilidade de existir interactividade imediata entre dois ou mais intervenientes.

As novas tecnologias permitem, com base num suporte digital, a transmissão imediata de conteúdos/informação para qualquer parte do mundo. Como acontece no caso de todos os mass

(34)

media (televisão; rádio; jornais) as novas TIC permitem a difusão de conteúdos/informação de um-para-muitos mas, também permitem o estabelecimento de comunicação do tipo um para um.

As novas TIC permitem agregar no mesmo suporte de comunicação as vantagens de formato existentes nos mass media tradicionais. Isto é, transmite de forma exemplar qualquer tipo de conteúdo, independentemente do formato de texto (associado aos jornais), imagem (associado à televisão) ou voz (associado à rádio). Por outro lado, as novas tecnologias permitem o aumento da informação/conteúdo disponível.

A todos os mass media está associada a função de intermediação entre os cidadãos e os agentes políticos, em geral os mass media permitem assim reduzir os custos associados ao processo de recolha de informação que se mostra basilar para que o cidadão possa participar activamente na vida política. Pois, se cada cidadão tivesse que individualmente desenvolver diligências para estabelecer contactos directos com os agentes políticos, para se manter informado sobre os assuntos políticos, isso implicaria custos elevados de acesso à informação que excluiria, desde logo, muitos cidadãos das actividades de participação política.

Os que têm uma visão pessimista do impacto das novas TIC no processo democrático apoiam-se em argumentos como a falta de qualidade da informação/conteúdos disponibilizada, as dificuldades para manuseamento do computador (que são ainda uma realidade para muitos cidadão), o custo de acesso à tecnologia, o facto de as grandes potencialidades associadas às novas TIC, em especial à Internet, no que concerne à transmissão de informação/conteúdos estarem ainda pouco exploradas. Verifica-se a primazia da transmissão de conteúdos em formato de texto, recorrendo com pouca frequência ao som e a imagem. A interactividade é também uma característica pouco utilizada. São vários os constrangimentos para aceder às novas tecnologias de comunicação e em especial à Internet. Assim, temos factores económicos, factores políticos, factores sociais, factores culturais. A acrescer a todas estas limitações temos ainda as dificuldades colocadas aos indivíduos com necessidades especiais. Jan Van Dijk (2000) conjectura que se verifica no espaço digital, uma divisão dos cidadãos relativamente à sua capacidade para participar politicamente em função das mesmas características que em contexto real determinam o nível e o tipo de participação exercida pelos indivíduos. O autor refere-se, entre outras, a variáveis como a educação, sexo, etnia. Assim,

(35)

as novas TIC podem contribuir para reforçar as desigualdades já existentes em matéria de participação política. Nuno Monteiro (1999: 65) argumenta que a experiência adquirida confirma “...que apenas um público já interessado toma parte nos projectos: quem sempre foi participativo continua a sê-lo na Internet.”

2.1. O Sistema de Comunicação Político e as Novas TIC

Qualquer processo de participação e deliberação é altamente dependente da informação disponível aos sujeitos que intervêm. O processo de participação e deliberação política não é diferente. Assim, a acção política implica que cada agente social aceda à informação, a processe, e posteriormente emita nova informação. Essa informação pode ser resultado de dois tipos de comunicação distintos. A comunicação unilateral, em que existe um só emissor e vários receptores, que não podem de imediato comunicar com o emissor. Temos como exemplo deste tipo de comunicação aquela que os jornais, a rádio e a televisão oferecem diariamente. O outro tipo de comunicação designa-se por comunicação bilateral e implica a existência de diálogo entre o emissor e o receptor. Para que se estabeleça o processo de comunicação, recolha ou emissão de informação, é necessário a existência de pelo menos um canal de comunicação, que se traduz na existência de um meio físico que põe em contacto o emissor e o receptor.

Os canais de comunicação disponíveis são de natureza diversa. Podem ser os mais tradicionais meios troca de informação ou as mais complexas redes informáticas que fazem chegar, em simultâneo, a informação a todos os cantos do mundo. A informação e os canais através dos quais é propagada, como já referimos, assumem uma importância crucial no sistema político. É através do sistema de comunicação político existente, constituído pelos agentes de comunicação política e pelos canais de comunicação, que são difundidas as mensagens que compõem o discurso político, se formam as ideias políticas e, consequentemente, se faz a avaliação do governo. O sistema de comunicação política, tem um impacto fulcral na participação política de cada cidadão, porque por um lado, o acesso à informação, o seu tratamento e consequente utilização é dependente do sistema político, por outro, a possibilidade de repercutir a informação recebida, sustentada no

(36)

conhecimento adquirido, é também dependente do sistema político (Monteiro 1999; Hill e Hughes 1998).

A acção política que cada cidadão exerce, ou pode exercer, pode ser reforçada e aumentada por via das novas tecnologias de comunicação se esses novos meios de comunicação permitirem o aumento no grau de envolvimento/empenhamento dos cidadãos no processo político e uma diminuição dos recursos necessários para suportar a actividade de participação. Economistas políticos argumentam que o grau de envolvimento político do cidadão é dependente da análise custo/benefício que cada um faz. Isto é, o cidadão participará no processo político, apenas, se ele considerar que dessa acção advém, para si, uma utilidade positiva (Downs 1957; Olsen 1965; Miller 1997).

O interesse político, a eficiência política e informação política são os três factores que condicionam o entendimento da utilidade, que cada cidadão faz, resultante do desenvolvimento de acções de participação política. O interesse de cada cidadão por assuntos políticos depende do desejo que cada um tem de participar. A capacidade que o cidadão entende ter para influenciar o resultado do processo político em causa, traduz a sua eficiência política. O cidadão tende a participar no processo político quando entende que a sua participação pode ter influência na determinação do resultado do processo político. O grau de entendimento/compreensão que o cidadão tem do processo político mede a informação política disponível. É ao nível do fluxo de informação que as novas tecnologias de comunicação podem actuar, permitindo um aumento na informação política disponível ao cidadão, permite a este um aumento de capacidade para entender o processo político em causa, as diferentes opções existente e avaliar as consequências da escolha de cada uma (Monteiro 1999).

É sem dúvida na Internet que estão depositadas grande parte das expectativas, quando falamos do potencial das novas TIC para reforçar a participação política. A Internet pode promover o acesso à informação política, o aumento da discussão política, o contacto com os agentes políticos, as facilidades de votar (ex. através do voto electrónico) entre outros. Vários autores defendem que os fora de discussão existentes na Internet podem possibilitar, um aumento da participação numa discussão política alargada, sem que os intervenientes tenham que estar no mesmo espaço físico

(37)

ao mesmo tempo (Holderness 1998; Malina 1999; Locke 1999; Hale, Musso e Weare 1999). As novas TIC, para além de permitirem o estabelecimento de comunicação de um para um, de um para muitos, possibilitam o estabelecimento de uma comunicação de muitos para muitos, podendo provocar um aumento na comunicação política (Hill e Hughes 1998; Norris 2001).

Para Pippa Norris (2001), entre outros, a tecnologia de comunicação é o elemento mais importante para sustentar uma revolução na participação. O autor baseia-se na interactividade, no mais baixo custo, na flexibilidade e na capacidade de informação disponível na Internet para atribuir à Internet um efeito democratizante, uma vez que possibilita aos cidadãos ficar com conhecimento sobre os assuntos políticos em causa, as alternativas existentes e as suas consequências. Os defensores da democracia electrónica argumentam e esperam que a Internet permita restabelecer a ligação dos cidadãos ao processo político e reavivem o compromisso cívico nas políticas (Budge 1996; Hague e Loader 1999). Numa forma extrema, a Internet é concebida como um fórum electrónico que compreende uma rede (network) ampla de cidadãos do mundo, iguais e livres, com capacidade para debater todas as facetas da sua existência sem medo do controlo das autoridades políticas nacionais (Barlow 1996).

Segundo Trevor Locke (1999), novas plataformas para a participação política são criadas com o desenvolvimento das networks da comunidade (community networks). Estas significam um novo meio de comunicação, através do qual o público e os políticos podem comunicar, trocar informação, consultar e debater opiniões sobre assuntos que os opõem. Para Caroline Tolbert, Karen Mossberger e Ramona McNeal (2002) o contributo mais importante da Internet, até ao momento, para a revitalização e reforço do processo democrático traduz-se na criação de um novo canal de comunicação e informação. Contudo, as investigadoras reconhecem, que no futuro, a Internet poderá consagrar novas formas de participação através do registo e do voto electrónico, reuniões municipais virtuais, e as assinaturas virtuais poderão permitir a realização de petições electrónicas.

Para uma melhor compreensão de toda esta problemática, de seguida apresentamos os principais factores que podem contribuir para que a balança penda mais para um lado do que para outro, ou

Imagem

Tabela 1 – Variáveis, Definições e Estatísticas Descritivas – Portugal – 2001
Gráfico 1 – Classificação dos  Websites  Municipais – e- Government  – Portugal – 2001
Tabela 2 – Resultado da Análise da Regressão, Participação Eleitoral - 2001

Referências

Documentos relacionados

A missão da comunicação é informar os participantes, bem como, promover a disseminação dos conhecimentos sobre previdência e finanças com transparência e

O documento visa orientar e alinhar as iniciativas de comunicação e relacionamento estabelecidas com os diversos públicos e ainda definir atribuições e responsabilidades, de forma

• Construção, restauração, ampliação e manutenção de rede elétrica; • Construção, recuperação, ampliação de casas populares;. • Construção, restauração e

As mídias sociais consideradas como oficiais da instituição devem também seguir os princípios básicos da gestão da marca e identidade visual, trazer a indicação explícita de

Cabe ressaltar que a participação política não se resume a um ritual eleitoral que de tempos em tempos convoca a população para exercer sua opinião através do voto –

• Os eventos organizados pela CBDE ou que tenham participação da Presidência e Vice-Presidência, devem ser informados para a Coordenação de Comunicação com antecedência, para

A empresa deve assegurar-se de que as informações disponíveis em seus pontos de venda, sobre os seus produtos e serviços, sejam corretas, claras e o mais completas possível..

( * )Sobre a solicitação de revelação de documentos administrativos à Comissão de Segurança Pública e ao Comissário de Polícia, entre em contato com o Centro de Divulgação