• Nenhum resultado encontrado

O estágio supervisionado enquanto prática docente integradora com a comunidade e formação de um professor crítico e reflexivo: relato de experiência da Licenciatura em Matemática do IFBA Campus Camaçari / The supervised internship as an integrative teachi

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "O estágio supervisionado enquanto prática docente integradora com a comunidade e formação de um professor crítico e reflexivo: relato de experiência da Licenciatura em Matemática do IFBA Campus Camaçari / The supervised internship as an integrative teachi"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761

O estágio supervisionado enquanto prática docente integradora com a

comunidade e formação de um professor crítico e reflexivo: relato de

experiência da Licenciatura em Matemática do IFBA Campus Camaçari

The supervised internship as an integrative teaching practice with the

community and training of a critical and reflective teacher: experience report

from the Mathematics Degree at the IFBA Campus Camaçari

DOI:10.34117/bjdv6n5-552

Recebimento dos originais: 29/04/2020 Aceitação para publicação: 27/05/2020

Tereza Kelly Gomes Carneiro

Doutor em Difusão do Conhecimento

Instituição: Universidade Instituto Federal da Bahia - IFBA

Endereço: IFBA Campus Camaçari Loteamento Espaço Alpha, s/n - Limoeiro , Camaçari - Bahia E-mail: terezakelly1@gmail.com

Eneida Santana Baumann

Mestre em Ciência da Informação. Instituição: Instituto Federal da Bahia - IFBA.

Endereço: IFBA Campus Camaçari Loteamento Espaço Alpha, s/n - Limoeiro , Camaçari - Bahia. E-mail eneidassantana@gmail.com

RESUMO

O artigo tem por objetivo relatar uma experiência ocorrida no Instituto Federal da Bahia (IFBA) com a prática do estágio por meio de ações conjuntas com a extensão universitária. Através da vivência dos alunos1 da disciplina Estágio Supervisionado II do Curso de Licenciatura em Matemática – IFBA Campus Camaçari com o projeto “Matemática para o mercado de trabalho”, destinado aos moradores do município de Camaçari-Ba, estabelecendo a discussão da função do estágio supervisionado e da formação docente mediante o cumprimento da missão institucional com a comunidade.

Palavras-chave: 1. Estágio Supervisionado. 2. Extensão Universitária. 3. Prática Docente. 4.

Licenciatura.

ABSTRACT

The article aims to report an experience that took place at the Federal Institute of Bahia (IFBA) with the practice of internship through joint actions with university extension. Through the experience of students in the Supervised Internship II course of the Mathematics Degree Course - IFBA Campus Camaçari with the project “Mathematics for the labor market”, aimed at residents of the municipality of Camaçari-Ba, establishing the discussion of the function of the supervised internship and teacher training through the fulfillment of the institutional mission with the community.

Keywords: 1. Supervised Internship. 2. University Extension. 3. Teaching Practice. 4. Degree.

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761

1 INTRODUÇÃO

As mudanças no cenário educacional forçaram as antigas escolas técnicas, hoje Institutos Federais, a desenvolverem novas concepções do estágio supervisionado enquanto prática de formação do seu corpo estudantil. A ampliação das exigências do mercado profissional colabora para esse eterno reinventar-se do profissional que acaba de ser inserido no mundo do trabalho. Emerge dessa percepção a necessidade de conhecer e criar novos espaços de atuação para os futuros profissionais.

No campo de atuação dos profissionais da Educação, os espaços formais são sempre os primeiros cenários observados para a prática do estágio supervisionado, o que nem sempre apresenta todas as multipotencialidades que o futuro educador precisa conhecer para edificar sua carreira docente. Conhecer e atuar em espaços não formais capacita-os para estabelecer articulações entre o ensino, a investigação e a comunidade.

A extensão universitária é uma opção de desenvolvimento de espaços não formais para a prática profissional. As ações extensionistas interligadas a prática do estágio supervisionado ampliam a área de atuação do futuro educador que seriam regularmente as escolas particulares, municipais e estaduais, para as praças, associações de moradores e/ou espaços de vivência da comunidade.

Esta possibilidade transformar a arte da docência através da metodologia de atuação em uma sociedade plural e ativa, onde múltiplos saberes, contextos socioeconômicos e histórias de vida são fundamentais.

Com este pensamento o presente artigo tem por objetivo apresentar a experiência da prática do estágio supervisionado articulada a extensão universitária realizado pelos licenciandos do curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) Campus Camaçari, como parte do PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional, quadriênio 2016-2020. Ressaltando-se os impactos de atuar em uma sala de aula plural e inovadora, a partir do projeto de extensão “Matemática para o mercado de trabalho”, realizado por 09 (nove) licenciandos e que atendeu 80 (oitenta) membros da comunidade no município de Camaçari, no período de 04 (quatro) meses.

2 A FORMAÇÃO DO CIDADÃO HISTÓRICO-CRÍTICO ATRAVÉS DO ESTÁGIO: UM DIÁLOGO COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA.

O IFBA possui como missão institucional “promover a formação do cidadão histórico-crítico, oferecendo ensino, pesquisa e extensão com qualidade socialmente referenciada, objetivando o

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 desenvolvimento sustentável do país”2 ao longo dos seus 110 anos o Instituto, que já possuiu o título

de Escola Técnica (ETBahia) e Centro Federal de Educação e Tecnologia( CEFET-BA), prioriza a formação do seu educando para atuação profissional articulada com saberes e competências que estão para além da sala de aula e laboratórios técnicos. A formação humana, social e contextualizada são referenciais para a boa formação do profissional egresso do IFBA.

Compreendendo que a formação crítica dar-se por meio dos suportes que são ofertados ao educando, o Instituto promove aos balizadores que compõe o seu tripé (Ensino, Pesquisa e Extensão) estrutura e diretrizes capazes de estabelecer diálogos entre si.

No que se refere ao estágio supervisionado, em destaque para os cursos de Licenciatura, como etapa de formação que compete ao Ensino, é importante refletir no que diz Pimenta (2001, p.73).

Uma oportunidade de refletir sobre a teoria e pensar dialeticamente a prática são nas aulas de Prática de Ensino, onde as experiências de estágio são expostas e refletidas coletivamente, ultrapassando o senso comum pedagógico e buscando resolver soluções. Esse é o momento de conciliar teoria e prática, tendo como objetivo “formar um educador como profissional competente técnico, científico, pedagógico e politicamente, cujo compromisso é com os interesses da maioria da população”

Corroborando com a autora, destacamos o hiperlink com a Pesquisa ao afirmar “ultrapassando o senso comum pedagógico e buscando resolver soluções”, tendo em vista que o fazer científico segue em investigação constante por soluções e aportes que ultrapassem o senso comum da sociedade e colaborem para um desenvolvimento socioeconômico melhor do país.

Pimenta; Lima (2004, p. 99) segue alicerçando o estágio supervisionado, desta vez, no que se refere à Extensão ao afirmar que “o estágio pode ser considerado como uma oportunidade de aprendizagem da profissão docente e da construção da identidade profissional” além da autora, Vasquez (1968, p.206) afirma que

aluno/estagiário apropriar-se de instrumentais teóricos e metodológicos para compreender o sistema educacional e fazer uma futura reflexão: a teoria pode contribuir para a transformação do mundo, mas para isso tem que sair de si mesmo e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com atos reais, efetivos, tal transformação.

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 Através destas afirmações pode-se pensar o estágio como uma possibilidade de ampliação do extencionista, tendo em vista que o papel da extensão universitária é ser um instrumento por excelência de inter-relação da Universidade com a sociedade, de oxigenação da própria Universidade, de democratização do conhecimento acadêmico, assim como de (re)produção desse conhecimento por meio da troca de saberes com as comunidades. (FORPROEX, 2011, p. 10).

A participação na “vida” escolar é um anseio dos estudantes/estagiários, pois é uma oportunidade para aprender além do conteúdo pedagógico a ser lecionado, é oportunidade para realizar aprendizados em outras perspectivas. Almeida e Lima (2018, p.62) destacam que

os estudantes acreditam que as condições que possuem de participar e intervir na vida escolar estão diretamente relacionadas às suas chances de aprender. Destacam a necessidade de que haja, na escola, espaço para compartilhar e rever, coletivamente, os desafios de convivência entre os distintos atores que compõem a comunidade escolar.

Logo, oportunizar a esses licenciandos que não apenas exerçam a regência em sala de aula, mas que participem de todo o processo de planejamento e execução do projeto, elaborem os planos de ensino e os planos de aula, e construam material didático para as aulas, é atender ao anseio dos mesmos, que vivenciaram a prática docente em várias etapas do projeto.

A formação de um professor enquanto ser social, ciente de seu papel na condição de agente de mudança social, é ainda mais dinamizada quando esses licenciandos se deparam com realidades sociais múltiplas e diferentes em espaços não formais de ensino. Ao ter como locus de atuação uma entidade de classe, e como alunos, mulheres adultas, de baixa escolaridade e vítimas de violência doméstica, reunidas em uma associação de classe, esses licenciandos ampliaram suas percepções de atuação como futuros professores.

A formação do professor tem, assim, a perspectiva de preparar um profissional que seja, ao mesmo tempo, agente de mudança, fruto de ação individual e coletiva, e que saiba o que deve fazer, como também por que deve fazer, o que coloca em relevância a importância da atitude do professor ao planejar e atuar em sua tarefa docente. Para isso, o processo formativo há de contemplar estratégias de pensamento, de percepção, de análise e de estímulos diferentes. Trata-se de formar um professor como profissional crítico e reflexivo, que se defronta com situações de incertezas, contextualizadas e únicas, e que recorre à pesquisa e à reflexão como forma de decidir e intervir em situações. LEITE (2018, p. 77).

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 Quanto mais heterogêneas, múltiplas e oriundas de diferentes contextos forem as experiências de docência vivenciadas nos períodos de estágio, maiores e melhores as possibilidades de se formar um professor consciente de seu papel crítico e implicado no processo social de desenvolvimento de seus alunos.

Dauanny (2018, p.139) afirma que “o estágio, ao contrário da visão recorrente, não é atividade prática, mas teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade”. E foi nessa perspectiva que todo o projeto foi pensado e executado, na construção de um espaço múltiplo, implicado socialmente e onde pesquisa e ensino, prática e teoria estão associados, para formação de um professor crítico e reflexivo. O estudo de Gimenes (2018) considerou o estágio como o “coração das licenciaturas”, como um eixo privilegiado da formação inicial dos professores, concepção que também adotamos neste projeto: o estágio é o coração do curso de licenciatura.

3 O PROJETO “MATEMÁTICA PARA O MERCADO DE TRABALHO” – CONTEXTO, PROJETO E REALIZAÇÃO

Como afirmamos anteriormente o estágio é parte indispensável do processo de formação em licenciatura. Segundo o regimento interno do IFBA Campus Camaçari o estágio deve ocorre em escola públicas no Município de Camaçari e obedecer ao calendário acadêmico da instituição, sendo as atividades iniciadas e finalizadas dentro do semestre em que o licenciando esteja regularmente matriculado.

Cabendo aos licenciandos buscar a escola onde realizará o estágio. Assim, ao dar-se início ao semestre letivo no IFBA, os licenciandos foram às escolas públicas do município para articular a realização de suas atividades. Neste período a rede municipal de educação passava por um processo de paralisação.

Com a efetivação do processo de greve, levantou-se a ideia de ser proposto algo diferente, tal como o estágio em escola particular ou ofertar um curso dentro da própria instituição de revisão dos conteúdos do ensino fundamental, pois assim os licenciandos da disciplina estágio 2 poderiam realizar a regência. Como essas alternativas poderiam caracterizar uma atividade de extensão, a coordenação de extensão do IFBA campus Camaçari foi convidada a participar também da reunião. Foi exposta a mesma a situação e quais eram as alternativas que estavam sendo propostas.

A coordenação de extensão apresentou as regras da extensão e todos os trabalhos que são desenvolvidos pelo setor junto à comunidade camaçariense. E destacou em especial uma articulação

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 existente com a Secretaria Municipal da Mulher do Município de Camaçari (SEMU)3, na realização do Programa Mulheres Mil4, que tem como público alvo mulheres de baixa renda, que são vítimas de violência e muitas possuem baixa escolaridade. Todos os presentes viram neste programa a oportunidade perfeita para realização da regência por parte dos licenciandos, através da oferta de um curso de matemática com conteúdo do ensino fundamental. Tendo todos concordado com essa alternativa, foi elaborada uma proposta pela coordenação de extensão que ampliou o eixo de ação da proposta, não contemplando apenas para as mulheres atendidas pela SEMU como também incluiu como público alvo os maridos, irmãos e filhos dessas mulheres. A Secretaria da Mulher prontamente aceitou o convite e apoiou a execução do projeto disponibilizando o local de realização do curso e realizando todo o processo de divulgação e mobilização da população para inscrição.

A iniciativa de realizar um curso de extensão em parceria com o município foi levada aos licenciandos pela professora da disciplina e pela coordenação de extensão. Os licenciandos aprovaram a ideia e o projeto foi iniciado.

A primeira etapa do trabalho foi definir o conteúdo que seria abordado no curso, uma vez que o conteúdo do ensino fundamental é extenso e não se teria tempo hábil para revisar tudo. Com a participação dos licenciando foi definido que seria um curso de revisão dos conteúdos do ensino fundamental com enfoque às principais funções matemáticas utilizadas no mercado de trabalho em atividades como comércio e serviços. Desta maneira chegou-se a estruturação do projeto de extensão “Matemática para o mercado de trabalho” com carga horária de 45 horas/aulas e 20 participantes por turma.

Com base nos conteúdos definidos, os licenciandos ficaram responsáveis por elaborarem o plano do curso, os planos de aula e os exercícios a serem utilizados considerando 12 (doze) encontros durante os meses de abril, maio e junho.

É importante ressaltar que todo o material produzido pelos licenciandos, antes de serem efetivados nos momentos de regência, precisavam ser enviados para professora responsável pela disciplina de estágio 2, para que o mesmo fosse apreciado e aprovado, e se necessário readequado.

A definição dos dias e horários de oferta do curso foi estruturada em função da disponibilidade apresentada pelos licenciando, de forma, a melhor adequar a proposta as atividades pessoais de cada um e com isso não comprometer aos que possuem vínculo empregatício e outras atividades. Foi possível assim ofertar 04(quatro) turmas do curso, sendo duas turmas nos dias de segunda-feira no

3 http://www.camacari.ba.gov.br/portal/detalhe_noticia.php?cod_noticia=21612 4 http://mulheresmil.mec.gov.br/

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 horário de 18h30 às 20h30, uma nos dias de terça-feira no horário de 14h00 às 17h30 e uma nos dias de quinta, também no horário de 14h00 às 17h30. As turmas de segunda e quinta tiveram suas aulas na em salas cedidas pela instituição parceira do prefeitura Cidade do Saber5 e a turma de terça no Centro de Referência na Atenção a Mulher Yolanda Pires – SEMU .

Como suporte pedagógico foi utilizado o Moodle do IFBA, onde os licenciandos postaram ao longo do semestre todo o material produzido para o curso (planos de aula, material didático e lista de exercícios) e os relatos de cada dia de regência. O Moodle também foi utilizado para que a professora da disciplina apresentasse as orientações e encaminhamentos da disciplina e suas avaliações dos relatos da regência.

O projeto foi iniciado com a aula inaugural sendo na Cidade do Saber, a escolha da parceria com esta instituição, além de ser impulsionada pelo destaque em ações educativas e culturais no município, deu-se pela localização do seu prédio ao lado do principal centro popular comercial da cidade de Camaçari. A aula foi seguida de uma aplicação diagnóstica para definição do roteiro a seguir pelos licenciandos ao longo do curso.

Durante toda realização do projeto o enfoque na utilização da matemática como uma fonte de saber para utilização no dia-a-dia era a premissa mestra. Para incutir essa prática do saber matemático os licenciandos recorreram a instrumentos lúdicos, jogos, e referências da vivência dos alunos, que foram mapeadas no diagnóstico inicial. Uma turma involuntariamente foi composta por apenas mulheres vinculadas ao Programa Mulheres Mil – SEMU e as outras turmas 90% eram compostas por maridos, filhos, filhas e irmãos dessas mulheres.

Outro desafio para os licenciandos foi enfrentar a evasão, tão comum em cursos de curta duração gratuitos, o combate à evasão desafiou os educadores/estagiários no processo de inovação e interação constante com a turma.

O aproveitamento positivo do projeto pode ser identificado tanto na fala dos licenciandos quanto nas afirmações do participantes como exclamou o participante, que aqui chamaremos de Vandério Junior (32 anos, desempregado), “ Aprendi nesses dias de aulas coisas que nunca tinha aprendido na escola, adorei a forma de passar o conhecimento dos professores, e gostaria que a instituição oferta-se outros cursos como este!”. A aluna Edleusa Souza (58 anos, autônoma) diz “ Esse é o primeiro de muitos cursos que ainda quero fazer, esse curso abriu minha cabeça para voltar a estudar, aprendi que até mesmo quando conto meus quilos de açúcar estou fazendo matemática.”

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 Relatos como estes foram diversos e emocionantes na culminância certificação dos concluintes, bem como, motivou os coordenadores do projeto a ampliar a praxis extensionista aliada ao ensino.

4 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO VIÉS DA EXTENSÃO: O OLHAR DO ESTAGIÁRIO/LICENCIANDO

Para compreensão do real impacto dessa iniciativa inovadora para a instituição, da realização do estágio supervisionado em articulação com a extensão universitária, era fundamental estabelecer o diálogo com os executores diretos do projeto: os licenciandos. Por este motivo foi aplicado um questionário digital a todos os licenciandos que participaram do Projeto “Matemática para o mercado de trabalho”.

Foram elaboradas nove (9) questões com base no Estágio realizado por eles sob supervisão da Supervisora do Estágio e da Coordenação de Extensão do IFBA Campus Camaçari.

A primeira pergunta está relacionada à experiência do aluno em ter realizado estágio ou algum trabalho docente em escola convencional e 100% deles, ou seja, todos já haviam experienciado à docência apenas em escola convencional.

Ao serem perguntados se eles entendiam ser fundamental ou não o estágio supervisionado para sua formação de docente, 80% entendem que sim, enquanto que apenas 20% não seguiram com esse mesmo entendimento. Os licenciandos que entendem como sendo fundamental para sua formação declararam que: permite a eles trabalhar em diferentes níveis de ensino e com a pluralidade de pessoas e de níveis de aprendizagem; que o estágio é o período que se coloca em prática todo conhecimento teórico adquirido ao longo do curso; e também é o momento de adquirir experiência que será útil futuramente para quando estiver atuando como educador para se sentir mais seguro. Além de ser um momento de reafirmação da escolha pela docência. Os 20% que não entendem o estágio como fundamental declararam que é apenas necessário, mas não suficiente.

Dentre os entrevistados, 60% declararam que a diferença de público alvo vivenciada no projeto, contribuiu para melhorar a sua autonomia, e que por isso, consideraram terem tido ânimo para estagiar neste projeto, principalmente considerando que o estágio convencional não cria motivação, nesta perspectiva de desenvolvimento da autonomia. Isso porque, como a escolha dos conteúdos foi realizada pelos licenciandos, assim como o processo de adaptar os conteúdos em função do desenvolvimento da aula.

(9)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 Ao serem questionados sobres as experiências vividas no "Projeto Matemática para o mercado de trabalho", foi pedido para que eles enumerassem por ordem de importância quais contribuíram para sua formação. Ganhou destaque o fato dos licenciandos vivenciarem a experiência de estar em contato com os diferentes perfis do alunado.

Os licenciandos destacaram ainda que as experiências sobre o desenvolvimento dos planos de aulas, a articulação dos conteúdos como históricos de vida dos participantes foram fonte de aprendizados importantes no momento da realização estágio. O aperfeiçoamento de oratória, a criação de estratégias para lidar com a evasão e a articulação no trabalho compartilhado não se destacaram como relevantes para os licenciandos, como apresentada na figura 01 abaixo, 93% dos licenciandos apontaram a articulação dos conteúdos com os históricos de vida dos participantes a maior experiência proporcionada pelo projeto.

Figura 01 - Relevância da experiências vividas durante o projetos apontadas pelos estagiários licenciandos.

Fonte: Autoras (2020)

Outro ponto interessante apresentado ao serem questionados sobre as principais dificuldades encontradas por eles durante a realização do estágio, foi pedido para que enumerassem pela ordem de importância as dificuldade encontradas durante o estágio, na figura 02, podemos observar que os diferentes níveis de conhecimento e o perfil dos participantes foram os principais desafios para os futuros professores.

(10)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761

Figura 02 - Principais dificuldades encontradas durante a realização do estágio

Fonte: Autoras (2020)

Esta dificuldade apontada pela heterogeneidade na sala de aula, é uma característica do ambiente escolar, segundo os estudos de Vieira (2014), o professor precisa compreender a importância singular do indivíduo, criando estratégias para o desenvolvimento do plano de aula que, inicialmente, é comum para toda classe. O licenciando que participou do projeto pode acompanhar esse processo de adaptação dos planos de aula para atender a demanda apresentada pelos participantes, nesse sentido, a contextualização com os relatos de vidas em que a atuação da matemática eram presentes, foram fundamentais para a definição das estratégias de aula pelos licenciandos.

Solicitou-se ao licenciandos que dimensionassem o impacto de itens relativos ao desenvolvimento do projeto: fatores de avaliação de desempenho (método de avaliação), presença da professora da disciplina nos momentos de regência, elaboração dos relatórios semanais, elaboração dos planos de aula. É importante ressaltar que nenhum dos itens foi avaliado como ruim, como apresentado na figura 03, e destaca-se como a elaboração dos planos de aula foi avaliada de forma positiva pelos licenciandos.

(11)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761

Figura 03 - Pontos de desenvolvimento do projeto junto aos estagiários licenciandos

Fonte: Autoras (2020)

Com relação a classificação da experiência de estagiar em um projeto direcionado à comunidade, 80% dos licenciandos responderam como excelente e 20% muito bom.

Ao serem perguntados como se sentiram ao participar das atividades desenvolvidas ao longo do projeto, os licenciandos tiveram que atribuir notas de 0 a 5, para cada sentimento relacionado a uma atividade, e o desafio com 78,7% das indicações foi o sentimento motriz condutor para a maioria dos participantes, como observado na figura 04.

Figura 04 - Sentimento do estagiário licenciandos frente às atividades do projeto

Fonte: Autoras (2020)

Na última pergunta do questionário, foi pedido para que cada um dos licenciandos fizessem um relato de avaliação do projeto “Projeto Matemática para o mercado de trabalho”. Um dos licenciandos respondeu que o projeto como um todo foi muito bom e que deveria se prolongar por muito mais tempo ou que outros projetos similares possam ser realizados no IFBA e que sejam

(12)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 voltados também para a comunidade externa à instituição. Ele considerou que a parceria entre a coordenadora e a supervisora na elaboração desse projeto foi muito boa e que quando precisou da coordenadora, ela sempre esteve à disposição.

Já outro discente parabeniza a articulação entre a coordenadora do Curso de Extensão e a supervisora de Estágio pela iniciativa e aconselha que deem continuidade do projeto em outras turmas para que seja uma experiência bacana assim como foi para ele. Que, apesar de ter estagiado anteriormente em uma turma convencional, a experiência do projeto foi mais prazerosa e construtiva. Como último relato do questionário, o estagiário considera que a experiência de vivenciar uma sala de aula, fora de uma escola convencional deve ser repensado como uma maneira de formar profissionais com essa qualidade para ajudar a cidade, o estado e o país na busca de uma educação pública de qualidade para todos.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Refletir a experiência do projeto de extensão abre um leque de possibilidades de atuação para as práxis docentes. Considerando que a iniciativa finalizou suas atividades com pontos positivos para formação do licenciado, enquanto futuro docente que terá que lidar com as diversas implicações do mercado de trabalho, em seu cenário formal e/ou informal, bem como provocar no docente o pensamento de cenários inovadores de atuação.

A prática do estágio supervisionado junto à comunidade, amplia a relação instituição - sociedade e re(significa) a identidade do profissional de educação egresso das licenciaturas ofertadas pelos Institutos Federais.

Fomentar o diálogo do estágio supervisionado em um contexto contemporâneo, social e inovador foi a grande missão do projeto “Matemática para o mercado de trabalho”, pretende-se que a discussões aqui iniciadas sirvam de amparo para novas provocações quanto à formação e atuação do licenciado.

Essa experiência possibilitou aos licenciandos e professores envolvidos vivenciar um exemplo real que colabora com a compreensão de que prática e teoria não podem se dissociar durante o processo formativo de um futuro professor. Não deve existir lugar para as dicotomias: teoria versus prática e ensino versus pesquisa. E essa experiência mostrou que é possível garantir espaços de relevância pedagógica prática, teórica, de pesquisa e de ensino, de forma articulada e socialmente inserida.

(13)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 O estágio nessa experiência foi concebido como um campo de conhecimento indispensável ao processo de formação dos licenciandos, buscou superar a concepção de estágio curricular apenas como uma mera formalidade da matriz curricular.

Ao relacionar diversas dimensões do fazer docente nesse projeto, possibilitando aos licenciados vivenciar a complexidade da prática da regência, precedida da prática da elaboração de planos de ensino, plano de aula e material didático, foi possível criar um ambiente de estímulo e aprendizagem coletiva e colaborativa, o que se constituiu em uma nova perspectiva de cultura pedagógica na realização do estágio supervisionado, principalmente no que se refere a formação de um professor crítico e reflexivo contextualizado em seu ambiente de atuação profissional.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria Isabel de; LIMA, Sueli de. Ensino e aprendizagem na educação básica: perspectiva de estudantes para formação docente. IN PIMENTA, K. P.; PIMENTA, S.G. (org)

Didática e Estágio. Curitiba: Appris, 2018. p. 57-76

FÓRUM NACIONAL DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO (FORPROEX). Política Nacional de

Extensão Universitária, Brasília, 2011. 41p.

GIMENES, Camila Itikawa. A articulação entre escola e universidade na formação de professores: o PIBID como experiência contraditória. IN PIMENTA, K. P.; PIMENTA, S.G. (org) Didática e

Estágio. Curitiba: Appris, 2018. p. 155- 179

LEITE, Yoshie Ussami Ferrari. As legislações atuais, a prática e o estágio nos cursos de formação de professores. IN PIMENTA, K. P.; PIMENTA, S.G. (org) Didática e Estágio. Curitiba: Appris, 2018. p. 77-102

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria prática? São Paulo: Cortez, 2001.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria do Socorro Lucena Lima (org.). O estágio e à docência. São Paulo: Cortez, 2004.

SANTOS JR, V.; SOUZA,E; GARIDO,V. Projeto Matemática para o mercado de trabalho: depoimentos. [30 de junho de 2016]. Camaçari, Bahia. Entrevista concedida a Eneida Baumann. VASQUEZ, A. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

(14)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.31339-31352 may. 2020. ISSN 2525-8761 VIEIRA, G. A. Estratégias docentes para o ensino de matemática em turmas heterogêneas. 2014. 199p. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, Faculdade de Educação, UFMG, Belo Horizonte, 2014.

Imagem

Figura 01 - Relevância da experiências vividas durante o projetos apontadas pelos estagiários licenciandos
Figura 02 - Principais dificuldades encontradas durante a realização do estágio
Figura 03 - Pontos de desenvolvimento do projeto junto aos estagiários  licenciandos

Referências

Documentos relacionados

um balde contendo 10 litros de água a 20 °C. A temperatura da água do balde sobe 10 °C com relação à sua temperatura inicial ao chegar ao equilíbrio. O gráfico abaixo mostra

Sendo assim, nesse estudo optou-se pela pesquisa exploratória, uma vez que ela irá analisar quais as características comportamentais empreendedoras dos gestores

Ao rever todas as análises e discussões que realizamos neste trabalho, embasadas nos preceitos funcionalistas aplicados à tradução e nos paradigmas bakhtinianos,

Para ver a necessidade das construções algo abstractas que aí aparecem, elas vão ser por vezes motivadas com algumas observações históricas

• Ata De Reunião Para Julgamento do Conjunto de Informações Apresentadas no Involucro Nº 01 (Plano de Comunicação - Via Não Identificado e do Involucro Nº 03 (Capacidade

O teste de tetrazólio é resultado de muitas pesquisas e sua aplicação em embriões zigóticos para estudo da viabilidade de sementes de coqueiro é importante por possibilitar

Uma cópia do parecer datado e assinado pelos três membros da Banca – com nome completo e as- sinatura de todos os professores - deverá ser entregue pelo forman- do ao

11 Figura 38 – DIAGRAMA DE SEQUENCIA DE MOVIMENTAÇÃO DE EMISSÃO DE BOLETO BANCÁRIO (CENÁRIO PRINCIPAL)...67 Figura 39 – DIAGRAMA DE SEQUENCIA DE MOVIMENTAÇÃO