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Informativo comentado:

Informativo 637-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

 As agressões praticadas por jogador contra árbitro de futebol, durante final de importante campeonato, transmitida para todo o país, podem gerar indenização por danos morais.

DOAÇÃO

 A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade.

USUCAPIÃO

 Pessoa jurídica brasileira, mesmo que tenha seu capital social controlado por estrangeiros, pode adquirir imóvel rural no Brasil, mas para isso precisará cumprir as regras da Lei 5.709/71.

DIVÓRCIO

 A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório. CURATELA

 Situações nas quais o magistrado deverá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador. DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL

 A lanchonete tem o dever de indenizar o consumidor que sofreu roubo armado na fila do drive-trhu. PLANO DE SAÚDE

 A Sumula 302 do STJ se aplica à segmentação hospitalar (e não à ambulatorial).

 O art. 31 da Lei 9.656/98 assegura que os aposentados paguem os mesmos preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.

DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA

 Se a parte já tem um título executivo não precisa ir para a arbitragem mesmo que o contrato contenha cláusula compromissória.

 Na antiga Lei de Falência, os créditos tributários eram pagos antes dos encargos da massa. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EMBARGOS INFRIGENTES

 Acórdão que, no julgamento de agravo de instrumento, por maioria de voto, reforma decisão interlocutória para reconhecer que determinado bem é impenhorável.

AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS

 Ainda existe a ação autônoma de exibição de documentos ou coisas no CPC/2015. DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO

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DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

As agressões praticadas por jogador contra árbitro de futebol, durante final de importante

campeonato transmitida para todo o país, podem gerar indenização por danos morais

Importante!!!

Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva.

Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o jogador do Palmeiras, após ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele.

Vale ressaltar que a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida de futebol que gerará indenização por danos morais.

O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador transbordou o mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol.

Além disso, o evento no qual as agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/10/2018 (Info 637).

A situação concreta foi a seguinte:

Na final do Campeonato Paulista de futebol, no ano de 2015, estavam jogando os times do Santos contra o Palmeiras.

Segundo os autos, após ser expulso, o atacante Dudu, do Palmeiras, correu em direção ao árbitro do jogo e o agrediu pelas costas, com seu antebraço, além de ofendê-lo com as seguintes palavras relatadas na súmula da partida: “você é um safado, sem vergonha, veio aqui roubar a gente, seu filho da puta, mau caráter, ladrão”.

O árbitro agredido, Guilherme Ceretta de Lima, ingressou com ação de indenização por danos morais contra o jogador.

Contestação

Na contestação apresentada, o jogador afirmou que esse tema não deveria estar sendo discutido pelo Poder Judiciário. Isso porque foi um fato disciplinar, envolvendo uma competição desportiva. Logo, essa questão deveria ser resolvida no âmbito da Justiça Desportiva.

O atleta explicou, ainda, que já foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que aplicou a ele uma punição de 6 jogos.

Dessa forma, para o réu, não houve fato que tenha excedido os limites esportivos, de sorte que seria suficiente a resolução do caso pela Justiça Desportiva.

A questão chegou até o Superior Tribunal de Justiça (STJ). O que o STJ decidiu? O árbitro possui direito à indenização por danos morais?

SIM. As agressões físicas e verbais praticadas por jogador profissional contra árbitro de futebol, durante partida final de importante campeonato transmitida para todo o país, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva.

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Justiça Desportiva

A Constituição Federal, no § 1º do art. 217, prevê o seguinte: Art. 217. (...)

§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

A Lei nº 9.615/98 (denominada “Lei Pelé”), que instituiu normas gerais sobre desporto, dispõe sobre o tema: Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidos nos Códigos de Justiça Desportiva, facultando-se às ligas constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas competições.

Conforme se observa pela leitura dos dois dispositivos acima, a competência da Justiça Desportiva limita-se a transgressões de natureza eminentemente esportivas, relativas à disciplina e às competições desportivas.

É importante esclarecer, inclusive, que, apesar do nome Justiça Desportiva, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e as demais instâncias da Justiça Desportiva não integram o Poder Judiciário. Trata-se de uma instituição de direito privado, que tem como atribuição resolver as questões de natureza desportiva definidas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Infração praticada pelo jogador transbordou os limites desportivos

O STJ entendeu que o caso concreto é “excepcionalíssimo” e o ato praticado pelo jogador ultrapassou os limites de cunho estritamente esportivo, razão pela qual pode ser submetido ao crivo do Poder Judiciário Estatal. A conduta do jogador, além de transgredir as regras que norteiam as competições de futebol, também ofendeu a honra e a imagem do árbitro.

Nas exatas palavras do Min. Ricardo Villas Bôas Cueva:

“O evento esportivo no qual as agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio.

O recorrente, como árbitro da partida, estava zelando pela correta aplicação das regras esportivas, sendo certo que ser agredido física e verbalmente por um dos jogadores envolvidos no certame é situação que indubitavelmente causou dano à sua imagem e honra. A conduta do réu, mormente a sorrateira agressão física pelas costas, revelou-se completamente despropositada e desproporcional, transbordando em muito o mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. No tocante à responsabilidade civil aplicada aos esportistas durante a prática de sua atividade, a doutrina preconiza que mesmo naquelas modalidades em que o contato físico é considerado normal, como no futebol, ainda assim os atletas devem sempre zelar pela integridade física do seu adversário. Eventual ato exacerbado, com excesso de violência, que possa ocasionar prejuízo aos demais participantes da competição, pode gerar a obrigação de reparação.

Desse modo, com mais razão ainda exsurge o dever de indenizar o árbitro que, no exercício regular de suas funções no evento esportivo, sofre injusta e desarrazoada agressão de jogador.”

Em suma:

Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva.

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Valor da indenização

O jogador foi condenado a pagar ao árbitro R$ 25 mil a título de indenização por danos morais.

DOAÇÃO

A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade

não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade

Importante!!!

O art. 1.911 do Código Civil estabelece:

Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

A interpretação deste art. 1.911 nos permite chegar a quatro conclusões:

a) há possibilidade de imposição autônoma das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério do doador/instituidor. Em outras palavras, o doador/instituidor pode impor só uma, só duas ou as três cláusulas.

b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-se, ex vi lege (por força de lei), automaticamente, a impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Assim, se tiver sido imposta cláusula de inalienabilidade ao imóvel, isso significa que ele, obrigatoriamente, será também impenhorável e incomunicável.

c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não gera a presunção da inalienabilidade. A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade.

d) a instituição autônoma da impenhorabilidade, por si só, não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.547-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

Cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade

As cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade são restrições voluntárias ao direito de propriedade. Podem ser estipuladas de duas formas:

a) por ato de liberalidade inter vivos (doação);

b) por ato relacionado com a morte – causa mortis (testamento).

Cláusula de inalienabilidade

É uma restrição imposta ao beneficiário, de forma que ele fica impedido de dispor da coisa, não podendo transferi-lo a terceiros, seja a título gratuito ou oneroso.

Essa restrição pode ser imposta por tempo determinado (ex: 5 anos) ou de forma vitalícia.

Cláusula de impenhorabilidade

Consiste na proibição de constrição judicial do bem gravado para pagamento de débitos do herdeiro/beneficiário.

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Cláusula de incomunicabilidade

Proíbe que o bem seja transferido para a fração ideal do cônjuge (companheiro) em caso de casamento ou união estável.

Em outras palavras, se uma pessoa possui um imóvel com cláusula de incomunicabilidade, mesmo que se case com regime de comunhão de bens, esse imóvel não participará da comunhão dos bens do casal.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João doou para Raquel um imóvel. Ocorre a doação foi feita com as cláusulas de incomunicabilidade e impenhorabilidade.

Após o falecimento de João, Raquel vendeu o imóvel para Pedro, já tendo, inclusive, recebido o preço da venda. Ocorre que não conseguiu transferir o domínio porque o cartório de Registro de Imóveis exige a baixa dos gravames (cláusulas de incomunicabilidade e impenhorabilidade) para efetuar a transmissão da propriedade.

Na interpretação do cartório, a presença dos gravames de impenhorabilidade e incomunicabilidade importa, automaticamente, também na impossibilidade de alienação, a teor do disposto no art. 1.911 do Código Civil.

Diante disso, Raquel ajuizou procedimento especial de jurisdição voluntária pedindo o cancelamento dos gravames instituídos sobre imóvel. Isso porque, como o doador já está morto, tais cláusulas de incomunicabilidade e impenhorabilidade somente podem ser retiradas com autorização judicial.

No procedimento instaurado, Raquel explicou o seguinte:

• a intenção do doador não foi de me impedir de vender o imóvel. Tanto isso é verdade que não existe cláusula de inalienabilidade.

• a cláusula de impenhorabilidade foi inserida para fazer com que o imóvel ficasse livre de dívidas minhas (donatária);

• a cláusula de incomunicabilidade, por sua vez, foi aposta para impedir que, se eu casasse, houvesse a comunhão desse bem com meu eventual cônjuge;

• requereu, então, a procedência do pedido a fim de que fossem cancelados os gravames, com a consequente anotação na matrícula do bem perante o registro imobiliário competente.

A questão, por meio de sucessivos recursos, chegou até o STJ. O STJ concordou com o pedido da requerente?

SIM. O STJ autorizou o cancelamento dos gravames e disse que o imóvel gravado exclusivamente com as cláusulas de impenhorabilidade e incomunicabilidade não é inalienável.

Por que houve toda essa dificuldade para Raquel vender o imóvel se não havia cláusula de inalienabilidade? Por que essa dúvida obrigou o caso a chegar até o STJ?

Por causa da interpretação do art. 1.911 do Código Civil. Esse dispositivo diz o seguinte:

Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Por força do art. 1.911, se tiver sido imposta cláusula de inalienabilidade ao imóvel, isso significa que ele, obrigatoriamente, será também impenhorável e incomunicável.

Assim, uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-se, ex vi lege (por força de lei), automaticamente, a impenhorabilidade e a incomunicabilidade.

Essa regra vinha desde o Código Civil de 1916. Existe até uma súmula antiga do STF (de 1963) que explicita esse entendimento:

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E o inverso é verdadeiro? Se for aposta uma cláusula de impenhorabilidade ou uma cláusula de incomunicabilidade, deve-se presumir que o imóvel é também inalienável?

NÃO. A aposição da cláusula de impenhorabilidade e/ou incomunicabilidade em ato de liberalidade não importa, automaticamente, na cláusula de inalienabilidade.

A inserção da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não gera a presunção da inalienabilidade. É o que explica a doutrina:

“O art. 1.911 do Código Civil estabelece que a cláusula de inalienabilidade gravada sobre bens que compõem a herança implica, automaticamente, nas cláusulas de 'impenhorabilidade e incomunicabilidade'. Ou seja, basta gravar o patrimônio transmitido com a cláusula de inalienabildiade para que as demais decorram de pleno direito. A recíproca, entretanto, não é verdadeira. Por isso, as cláusulas de impenhorabildiade e de incomunicabilidade podem ser impostas isoladamente, produzindo efeitos únicos. A cláusula de inalienabilidade, porém, se apresenta mais larga e profunda, trazendo consigo, a reboque, as demais” (FARIAS, Cristiano Chaves, ROSENVALD, Neslon. Curso de Direito Civil. Sucessões. Vol. 7. 3ª ed. Salvador: Juspodivm, p. 464).

O gravame da impenhorabilidade pode ser instituído independentemente da cláusula de inalienabilidade. Isso significa que o donatário não estará impedido de alienar, mas o bem ficará a salvo de penhoras. É isso que o STJ chamou de “instituição autônoma da impenhorabilidade”.

Assim, é possível o gravame autônomo (sozinho) da impenhorabilidade, ou seja, o doador/instituidor estabelece que o bem é impenhorável, mas permite a alienação e comunicação.

Da mesma forma, é possível instituição autônoma (sozinha) da incomunicabilidade. O doador/instituidor estabelece que o bem é incomunicável, mas permite a alienação e a penhora.

Em outras palavras, a instituição autônoma da impenhorabilidade, por si só, não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa.

Em suma:

A melhor interpretação do caput do art. 1.911 do Código Civil é aquela que conduz ao entendimento de que: a) há possibilidade de imposição autônoma das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério do doador/instituidor;

b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade, pressupõe-se, ex vi lege, automaticamente, a impenhorabilidade e a incomunicabilidade;

c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não comunicar não gera a presunção da inalienabilidade;

d) a instituição autônoma da impenhorabilidade não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.547-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/11/2018 (Info 637). DOD PLUS

Informações complementares

A jurisprudência entende que estas cláusulas não são absolutas e podem ser afastadas, mediante decisão judicial, em determinadas hipóteses.

Exemplo 1: a restrição pode ser afastada, no interesse do proprietário (dignidade do beneficiário), se estiver causando prejuízo aos seus legítimos interesses. É o caso do proprietário que está passando por dificuldades financeiras e precisa do dinheiro decorrente da venda do imóvel. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1158679/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/04/2011.

Exemplo 2: a cláusula de impenhorabilidade pode ser afastada para o pagamento de taxa condominial oriunda do próprio bem, por força do princípio da função social da propriedade. Nesse sentido:

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As despesas condominiais são consideradas dívidas propter rem, de modo que podem ensejar a penhora da unidade autônoma devedora, não prevalecendo contra o condomínio cláusulas de impenhorabilidade e inalienabilidade em contratos celebrados com terceiros.

STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 650.570/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/08/2012.

USUCAPIÃO

Pessoa jurídica brasileira, mesmo que tenha seu capital social controlado por estrangeiros, pode

adquirir imóvel rural no Brasil, inclusive por meio de usucapião, mas, para isso, precisará

cumprir as regras da Lei 5.709/71

É juridicamente possível a usucapião de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira com capital majoritariamente controlado por estrangeiros, desde que observadas as mesmas condicionantes para a aquisição originária de terras rurais por pessoas estrangeiras - sejam naturais, jurídicas ou equiparadas.

A Lei nº 5.709/71 impõe uma série de condições para que estrangeiros adquiram terras rurais no Brasil. Uma pessoa jurídica nacional que tenha seu capital social controlado por estrangeiros também está sujeita às mesmas restrições, por força do art. 1º, § 1º, da Lei nº 5.709/71. Isso não significa que ela não possa adquirir imóveis rurais no Brasil. Podem sim, inclusive mediante usucapião. No entanto, precisam cumprir as regras da Lei nº 5.709/71.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.038-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

Imagine a seguinte situação hipotética:

A “Delonte produce Ltda” é uma empresa nacional (empresa brasileira), mas a maioria do seu capital social é controlada por estrangeiros (os sócios da Delonte são estrangeiros).

A “Delonte” ajuizou ação de usucapião rural de imóvel denominado Fazenda Ouro Verde, cuja área é de 343 hectares, alegando preencher os requisitos legais para a aquisição originária dessa área.

O juiz extinguiu o processo, sem resolução do mérito, alegando a impossibilidade jurídica do pedido. Isso porque, no entendimento do magistrado, o art. 1º, § 1º e o art. 8º da Lei nº 5.709/71 proíbem que estrangeiros adquiram imóveis rurais. Veja:

Art. 1º O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil só poderão adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei.

§ 1º - Fica, todavia, sujeita ao regime estabelecido por esta Lei a pessoa jurídica brasileira da qual participem, a qualquer título, pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas que tenham a maioria do seu capital social e residam ou tenham sede no Exterior.

(...)

Art. 8º Na aquisição de imóvel rural por pessoa estrangeira, física ou jurídica, é da essência do ato a escritura pública.

Para o juiz, o art. 8º da Lei, ao exigir escritura pública, quis dizer que não se pode adquirir o imóvel por usucapião.

Indaga-se: uma empresa constituída sob as leis brasileiras, mas que tenha a maioria do seu capital controlada por estrangeiros, pode adquirir um imóvel rural por usucapião?

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Aquisição de terras rurais por estrangeiros

A aquisição de imóveis rurais por estrangeiros recebeu uma atenção especial do legislador. Isso porque se entende que haveria um risco à soberania nacional caso estrangeiros adquirissem extensas áreas territoriais em nosso país sem um cuidado das autoridades brasileiras.

Diante disso, foi editada a Lei nº 5.709/71 impondo uma série de condições para a aquisição de terras rurais por estrangeiros, sejam eles pessoas naturais ou jurídicas.

A título de exemplo, as pessoas naturais estrangeiras só poderão adquirir imóvel rural no Brasil se residirem no país e se tal imóvel não exceder 3 módulos de exploração indefinida (MEI).

Se o imóvel possuir entre 3 a 50 MEIs, dependerá de aprovação do INCRA.

Se for superior a 50 MEIs, a aquisição só será possível com autorização do Congresso Nacional.

Para as pessoas jurídicas estrangeiras, é necessária ainda a apresentação de projeto de exploração vinculado aos objetivos estatutários.

As restrições impostas pela Lei nº 5.709/71 aplicam-se também para a aquisição de terras rurais por pessoas jurídicas nacionais, mas controladas por estrangeiros?

SIM. O § 1º do art. 1º da Lei nº 5.709/71 equipara as situações:

Art. 1º O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil só poderão adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei.

§ 1º - Fica, todavia, sujeita ao regime estabelecido por esta Lei a pessoa jurídica brasileira da qual participem, a qualquer título, pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas que tenham a maioria do seu capital social e residam ou tenham sede no Exterior.

Desse modo, a pessoa jurídica brasileira, se tiver seu capital social majoritariamente controlado por estrangeiros, pode adquirir imóvel rural no Brasil (inclusive mediante usucapião), mas para isso precisará cumprir as condicionantes da Lei nº 5.709/71.

Em suma:

É juridicamente possível a usucapião de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira com capital majoritariamente controlado por estrangeiros, inclusive por meio de usucapião, desde que observadas as mesmas condicionantes para a aquisição originária de terras rurais por pessoas estrangeiras - sejam naturais, jurídicas ou equiparadas.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.641.038-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

DIVÓRCIO

A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório

Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo que o legitimado ativo para o seu ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge.

Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja proposto pelo curador, na qualidade de representante processual do cônjuge.

Justamente por ser excepcional o ajuizamento da ação de dissolução de vínculo conjugal por terceiro em representação do cônjuge, deve ser restritiva a interpretação da norma jurídica que indica os representantes processuais habilitados a fazê-lo, não se admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui apenas a curatela provisória.

Assim, em regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser admitido em situações excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério Público.

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Imagine a seguinte situação hipotética:

João e Maria eram casados, porém não vivem mais juntos há um bom tempo. João mora com seu irmão Pedro.

João sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou sem poder exprimir sua vontade. Diante disso, Pedro ajuizou ação de interdição em favor de seu irmão João (art. 747, II, do CPC).

O juiz entendeu que estava presente a urgência e nomeou Pedro como curador provisório do interditando.

Divórcio

Pedro (curador provisório), representando seu irmão João, ajuizou ação de divórcio contra Maria pedindo a dissolução da sociedade conjugal.

Maria contestou a ação alegando que a ação não poderia ter sido proposta pelo curador provisório.

O que o STJ decidiu:

• a ação em que se pleiteia a dissolução do vínculo conjugal, por possuir natureza personalíssima, deve ser ajuizada, em regra, pelo próprio cônjuge;

• excepcionalmente, admite-se a representação processual do cônjuge por curador (ascendente ou irmão). Em outras palavras, excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja ajuizado por curador. • como se trata de possibilidade excepcional, a regra que autoriza terceiros a ajuizarem a ação de dissolução de vínculo conjugal deverá ser interpretada restritivamente, limitando-se a sua incidência apenas à hipótese de curatela definitiva. Em outras palavras, quando se admitir que curador proponha o divórcio, deve-se tomar a cautela de se exigir que seja curador definitivo (curatela definitiva). Assim, em regra, somente se admite que o curador definitivo ingresse com a ação de divórcio.

• em situações ainda mais excepcionais, poderá o curador provisório ajuizar a ação de dissolução do vínculo conjugal em representação do cônjuge potencialmente incapaz, desde que expressa e previamente autorizado pelo juiz, após a oitiva do Ministério Público, como orientam o art. 749, parágrafo único, do CPC/2015 o art. 87 da Lei nº 13.146/2015:

Art. 749. (...)

Parágrafo único. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos.

Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo Civil.

Em suma:

A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório.

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CURATELA

Situações nas quais o magistrado deverá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador

O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas. Assim, o magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens comuns; e

b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.515.701-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637).

Curatela

Em regra, se a pessoa for maior de 18 anos, ela é plenamente capaz e está habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art. 5º do CC).

No entanto, existem determinadas pessoas que, mesmo sendo maiores, não podem exercer alguns atos patrimoniais da vida civil sozinhos, necessitando da assistência de terceiros.

Para resguardar os direitos de tais pessoas, o Direito Civil previu uma proteção jurídica chamada de “curatela”.

Mas o que vem a ser a curatela?

A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”), por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade, necessita de auxílio para a prática de determinados atos.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a curatela é o encargo imposto a alguém para reger e proteger a pessoa que, por causa transitória ou permanente, não possa exprimir a sua vontade, administrando os seus bens.”

Por conta disso, o curatelado só poderá praticar certos atos patrimoniais se for assistido pelo curador.

Tutela x Curatela

Tutela Curatela

Instrumento jurídico para proteger a criança ou adolescente que não goza da proteção do poder familiar em virtude da morte, ausência ou destituição de seus pais.

A tutela é uma espécie de colocação da criança ou adolescente em família substituta.

Instrumento jurídico voltado para a proteção de uma pessoa que, apesar de ser maior de 18 anos, necessita da assistência de outra para a prática de determinados atos de cunho patrimonial como uma forma de lhe proteger.

Hipóteses em que ocorre a curatela

O art. 1.767 do CC traz o rol de pessoas que estão sujeitas à curatela. Esse dispositivo foi recentemente alterado pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Veja a alteração promovida:

Antes Depois

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I — aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I — aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

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II — aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;

III — os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;

IV — os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;

V — os pródigos.

II — (Revogado);

III — os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

IV — (Revogado);

V — os pródigos.

Repare que a Lei nº 13.146/2015 retirou do art. 1.767 do CC as menções que eram feitas à deficiência mental e outras expressões congêneres. Diante disso, indaga-se: pode-se dizer que acabou a possibilidade de a pessoa com deficiência ser submetida à curatela? Isso deixou de existir?

NÃO. Mesmo depois da Lei nº 13.146/2015, ainda existe a possibilidade de a pessoa com deficiência ser submetida à curatela quando essa medida protetiva extraordinária se mostrar necessária.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência expressamente prevê isso. Confira: Art. 84. (...)

§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. (...)

§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. (...)

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.

§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.

§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado.

(...)

O objetivo da Lei nº 13.146/2015, ao alterar o art. 1.767 do CC, foi o de deixar claro que não é pelo simples fato de a pessoa apresentar deficiência que ela terá que ser interditada. Ao contrário. Com a nova Lei, a regra passa a ser a não interdição da pessoa com deficiência. A pessoa com deficiência só será submetida à curatela quando isso se mostrar necessário e tal situação durará o menor tempo possível.

A intenção do Estatuto e também do CPC/2015 foi a de dar um perfil mais humano e funcional ao instituto da curatela, deixando o viés quase exclusivamente patrimonial, para se preocupar com a situação existencial, com a proteção da pessoa humana submetida à curatela.

Vale ressaltar, inclusive, que o objetivo do curador deve ser o de “buscar tratamento e apoio apropriados” para que o interdito possa (re)conquistar a sua autonomia (art. 758 do CPC/2015).

Como é instituída a curatela?

Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial, de jurisdição voluntária, regulado pelos arts. 747 a 758 do CPC 2015 (arts. 1.177 a 1.186 do CPC 1973).

Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição (ou ação de curatela).

Obs: alguns autores afirmam que, depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência, não se deve mais utilizar a expressão "ação de interdição" porque esta terminologia "interdição" possui uma carga de preconceito e dá a ideia de que a pessoa fica inteiramente sem autonomia para tomar suas decisões, o que não é verdade, já que a curatela afeta tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e

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negocial (art. 85 do Estatuto). No entanto, é possível que você ainda encontre a expressão “ação de interdição” em julgados e nas provas porque esta expressão continua sendo empregada pelo CPC.

Legitimados

O rol dos legitimados para propor ação de interdição está descrito no CPC. Confira:

CPC 1973 CPC 2015

Art. 1.177. A interdição pode ser promovida: I — pelo pai, mãe ou tutor;

II — pelo cônjuge ou algum parente próximo; III — pelo órgão do Ministério Público.

Art. 747. A interdição pode ser promovida: I — pelo cônjuge ou companheiro;

II — pelos parentes ou tutores;

III — pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;

IV — pelo Ministério Público.

Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.

Obs.: o rol de legitimados para a ação de interdição é TAXATIVO.

Quem poderá/deverá ser nomeado como curador?

O art. 1.775 do Código Civil define uma ordem preferencial e subsidiária de nomeação do curador: 1º) o cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito;

2º) na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe;

3º) na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto, sendo que os mais próximos precedem aos mais remotos;

4º) na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador dativo.

Perceba que o cônjuge, o companheiro ou o parceiro homoafetivo tem predileção para exercer o encargo de curador, sendo chamado de “curador obrigatório”.

Essa nomenclatura (curador obrigatório), apesar de ser encontrada em alguns livros e provas, é atualmente bastante criticada. Isso porque essa ordem do art. 1.775 não é absoluta e, havendo conflito de interesses entre o interditando e aquele que a lei estabelece como possível curador, não deve ser obedecida a ordem legal. Assim, por exemplo, se a mulher está litigando com o marido em ação de divórcio, ela não deve ser nomeada curadora.

Em verdade, diante da atual perspectiva, a escolha do curador deve sempre ter como norte o melhor interesse do curatelado, haja vista que se está diante de instituto assistencial e protetivo. Logo, “o magistrado, em razão da nova ordem de humanização da curatela, poderá flexibilizar a escolha em detrimento desse interesse prevalente” (Min. Luis Felipe Salomão).

Essa ideia é realçada pelo CPC/2015: Art. 755 (...)

§ 1º A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. Obs: na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa (art. 1.775-A do CC).

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:

João era casado com Luiza desde 1973, sob o regime da comunhão total de bens.

Em julho de 2012, João sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou sem poder exprimir sua vontade.

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Diante disso, foi instaurado processo judicial de interdição, tendo João sido interditado. O juiz nomeou Luiza (cônjuge de João) como curadora.

Esta interdição durou de 2012 até 2015, quando João conseguiu ter uma ótima recuperação, voltando a falar e exprimir livremente a sua vontade.

Ocorre que o relacionamento do casal não foi mais o mesmo, tendo surgido diversas brigas e acusações mútuas.

Em 2016, divorciaram-se.

Em 2017, João ajuizou ação de prestação de contas (ação de exigir contas) em face de Luiza alegando que a ré, no período em que exerceu a curatela (de 2012 a 2015) teria dilapidado seu patrimônio, consumindo o valor por ele recebido de verbas rescisórias em ação trabalhista, indenização dos seguros por invalidez, benefícios do INSS e de sua previdência complementar.

Contestação

Luiza contestou a demanda alegando que não é obrigada a prestar contas. Isso porque no período em que exerceu a curatela, ainda era casada com o autor pelo regime da comunhão universal de bens, de forma que não há motivos para a prestação de contas, considerando que ela também era proprietária dos bens.

Quem tem razão neste caso: João ou Luiza? O juiz deverá determinar a prestação de contas?

Sim. João tem razão.

Prestação de contas pelo curador

Aquele que for nomeado “curador” tem o dever legal de prestação de contas de sua administração, haja vista que está na posse de bens do interdito (arts. 1.755, 1.774 e 1.781 do CC).

Nos termos do art. 1.757 c/c o art. 1.774, em regra, o curador deverá prestar contas: • a cada biênio (a cada dois anos);

• quando, por qualquer motivo, deixar o exercício da curadoria; ou • a qualquer tempo, se assim o juiz determinar.

Logo, a prestação de contas deverá ser periódica.

Existe, contudo, uma exceção a essa prestação de contas periódica: o curador que for cônjuge casado no regime da comunhão universal (art. 1.783 do CC).

Exceção do art. 1.783 do CC

O art. 1.783 do CC prevê o seguinte:

Art. 1.783. Quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do casamento for de comunhão universal, não será obrigado à prestação de contas, salvo determinação judicial.

De qualquer modo, o próprio Código Civil estabelece que, havendo determinação judicial, estará o cônjuge curador obrigado a prestar contas.

O STJ identificou duas situações nas quais o juiz deverá determinar a prestação de contas:

1) no caso dos bens comuns, se houver indício ou dúvida de malversação por parte do curador

Assim, ainda que se trate de casamento sob o regime da comunhão de bens, diante do interesse prevalente do curatelado, havendo qualquer indício ou dúvida de malversação dos bens o magistrado poderá e, na verdade, deverá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse do curatelado.

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2) no caso de bens excluídos da comunhão (bens incomunicáveis)

No casamento, mesmo aquele sob o regime da comunhão universal, existem determinados bens que estão excluídos da comunhão (são bens incomunicáveis). É o caso, por exemplo, dos bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade (art. 1.668, I, do CC).

No que diz respeito a esses bens, previstos no art. 1.668, o curador deverá sempre prestar contas, salvo situações excepcionais.

Isso porque o cônjuge, mesmo casado sob o regime da comunhão universal, não tem direito, em princípio, sobre tais bens, não havendo razão, portanto, para se aplicar a regra de exclusão da primeira parte do art. 1.783 do CC.

A doutrina se posiciona desta forma:

“As pensões e outras rendas semelhantes não se comunicam e estão excluídas da comunhão tanto no regime da comunhão parcial (art. 1.659, VII) e no regime da comunhão universal (art. 1.688, VII), indicando que o juiz não deve, salvo situações de rendas ínfimas, deixar de exigir a prestação de contas do cônjuge ou do companheiro.” (SLAIBI FILHO, Nagib. Comentários ao Código Civil

brasileiro. v. XV. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 582)

Em suma:

O magistrado poderá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando:

a) houver qualquer indício ou dúvida de malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens comuns; e

b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.515.701-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637).

Voltando ao caso concreto:

João tem direito de receber a prestação de contas por duas razões:

1) porque haveria indícios de malversação dos bens (letra “a” da tese do STJ acima exposta);

2) porque ele pede a prestação de contas referentes a bens incomunicáveis que teriam sido geridos pela curadora, nos termos do art. 1.668, V e art. 1.659, VI e VII do CC:

Art. 1.668. São excluídos da comunhão: (...)

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:

(...)

VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;

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DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL

A lanchonete tem o dever de indenizar o consumidor

que sofreu roubo armado na fila do drive-trhu

Importante!!!

A lanchonete responde pela reparação de danos sofridos pelo consumidor que foi vítima de crime ocorrido no drive-thru do estabelecimento comercial.

A lanchonete, ao disponibilizar o serviço de drive-thru em troca dos benefícios financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, assumiu o dever implícito de lealdade e segurança.

A empresa, ao oferecer essa modalidade de compra, aumentou os seus ganhos, mas, por outro lado, chamou para si o ônus de fornecer a segurança legitimamente esperada em razão dessa nova atividade.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.450.434-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/09/2018 (Info 637).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João estava em seu carro na fila do drive-thru da McDonald´s aguardando sua vez para comprar o lanche. Foi, então, assaltado por um homem armado que roubou sua carteira e o celular.

João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a lanchonete.

A McDonald´s contestou a demanda afirmando que esse evento se caracteriza como fortuito externo, ocorrendo apenas em razão de ato cometido por terceiro, não tendo a lanchonete qualquer participação no fato. Em virtude disso, pediu a exclusão de sua responsabilidade civil.

O pedido de João foi acolhido pelo STJ? A lanchonete tem o dever de indenizar?

SIM.

A lanchonete responde pela reparação de danos sofridos pelo consumidor que foi vítima de crime ocorrido no drive-thru do estabelecimento comercial.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.450.434-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/09/2018 (Info 637).

Relação de consumo e responsabilidade objetiva

O CDC previu a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo fato do serviço, fundada na teoria do risco da atividade. Veja o que diz o art. 14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: (...)

Fortuito interno x fortuito externo

A força maior e o caso fortuito vêm sendo entendidos, atualmente, como espécies do gênero fortuito externo.

Tanto o fortuito interno como o externo são fatos inevitáveis e imprevisíveis. No entanto, existem diferenças entre eles:

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Fortuito interno Fortuito externo

Está relacionado com a organização da empresa. É um fato ligado aos riscos da atividade desenvolvida pelo fornecedor.

Não está relacionado com a organização da empresa.

É um fato que não guarda nenhuma relação de causalidade com a atividade desenvolvida pelo fornecedor.

É uma situação absolutamente estranha ao produto ou ao serviço fornecido.

Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa de transporte coletivo;

Ex2: cracker invade o sistema do banco e consegue transferir dinheiro da conta de um cliente.

Ex3: durante o transporte da matriz para uma das agências, ocorre um roubo e são subtraídos diversos talões de cheque (trata-se de um fato que se liga à organização da empresa e aos riscos da própria atividade desenvolvida).

Ex1: assalto à mão armada no interior de ônibus coletivo (não é parte da organização da empresa de ônibus garantir a segurança dos passageiros contra assaltos);

Ex2: um terremoto faz com que o telhado do banco caia, causando danos aos clientes que lá estavam.

O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do fornecedor de indenizar o consumidor.

O fortuito externo é uma causa excludente de responsabilidade.

Dever de indenizar e roubo mediante uso de arma de fogo

Existe dever de indenizar em caso de roubo mediante uso de arma de fogo?

Regra: NÃO

Em caso de roubo mediante uso de arma de fogo, em regra, não há dever de indenizar, ainda que no âmbito da responsabilidade civil objetiva. Isso porque se trata de fato inevitável e irresistível, acarretando uma impossibilidade quase absoluta de não ocorrência do dano.

Exceções:

a) serviços que, em sua natureza, envolvem risco à segurança. Aqui o risco é um evento previsível.

Ex: atividades bancárias. b) quando há exploração econômica direta da

atividade.

Ex: estacionamentos pagos. c) quando, em troca dos benefícios financeiros

indiretos, o fornecedor assume, ainda que implicitamente, o dever de lealdade e segurança.

Ex: estacionamentos gratuitos de shoppings e hipermercados.

d), quando o empreendedor acaba atraindo para si tal responsabilidade.

Ex: se o fornecedor divulga essa segurança em oferta ou publicidade.

Súmula 130 e sua interpretação pelo STJ

Súmula 130-STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.

A Súmula fala em dano ou furto. Assim, em regra, não se aplica para roubo. Em regra, roubo é fortuito externo e, portanto, excludente de indenizar. Ex: não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela oferecido (STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, julgado em 15/08/2017).

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Situações nas quais o STJ afirmou que a Súmula 130 deve ser aplicada em caso de roubo, ou seja, mesmo havendo roubo, a empresa deverá indenizar:

• em se tratando de shopping centers, é devida a indenização mesmo em caso de tentativa de roubo armado (STJ. 4ª Turma. REsp 1.269.691-PB, julado em 21/11/2013).

• em caso de roubo ocorrido em estacionamento pago (empresas de estacionamento pago); • quando o estacionamento era de um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado. Nesse sentido:

Em casos de roubo, a jurisprudência desta Corte tem admitido a interpretação extensiva da Súmula nº 130/STJ para entender configurado o dever de indenizar de estabelecimentos comerciais quando o crime for praticado no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida atividade (hipótese em que configurado fortuito interno) ou quando esta for explorada de forma indireta por grandes shopping centers ou redes

de hipermercados (hipótese em que o dever de reparar resulta da frustração de legítima expectativa de segurança do consumidor).

STJ. 3ª Turma. REsp 1642397/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/03/2018.

O roubo ocorrido em drive-thru pode ser considerado fortuito interno ou externo?

Fortuito interno.

O drive-thru é uma forma de atendimento ou de serviço diferenciado de fornecimento de mercadorias em que o estabelecimento comercial disponibiliza a seus clientes a opção de aquisição de produtos sem que tenham de sair do automóvel. O consumidor é atendido e servido ao “passar” com o veículo pelo restaurante, mais precisamente em área contígua à loja.

A rede de restaurantes, ao disponibilizar o serviço de drive-thru aos seus clientes, atrai para si a obrigação de indenizá-los por eventuais danos causados, não havendo que se falar em rompimento do nexo causal. Em troca dos benefícios financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, a lanchonete assumiu o dever implícito de lealdade e segurança, incidindo, aí, o princípio da confiança. Trata-se, portanto, da exceção prevista na letra “c” explicada no quadro acima.

Importante assinalar que o sistema drive thru não é apenas uma comodidade adicional ou um fator a mais de atração de clientela. É também um elemento essencial de viabilidade da atividade empresarial exercida, sendo o modus operandi do serviço.

Publicidade da empresa promete segurança aos clientes

Vale ressaltar que, no caso específico da McDonald´s, a publicidade da empresa promete segurança aos clientes.

Conforme juntado aos autos, há uma peça publicitária da McDonald's na qual ela diz que sua maior preocupação é preservar a segurança física de seus clientes e funcionários e que, por isso, mantém um quadro de seguranças treinados que circulam pelo restaurante.

Em suma:

A lanchonete tem o dever de indenizar o consumidor que sofreu roubo armado na fila do drive-trhu. Neste caso, deve-se reconhecer que o serviço disponibilizado foi inadequado e ineficiente. Logo, não se pode falar em caso fortuito ou força maior, mas sim em fortuito interno. Isso porque se trata de evento relacionado com a organização da empresa. Está ligado aos riscos esperados da atividade empresarial desenvolvida.

Desse modo, este evento frustra a legítima expectativa de segurança do consumidor-médio, caracterizando violação ao princípio da confiança.

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DOD PLUS

ESTACIONAMENTO E RESPONSABILIDADE CIVIL

Situação Há dever de

indenizar?

STJ

Dano ou furto em estacionamento SIM Súmula 130-STJ

Roubo no estacionamento externo e gratuito de lanchonete NÃO REsp 1.431.606-SP Roubo ocorrido no drive-thru da lanchonete SIM REsp 1.450.434-SP

Roubo em estacionamento pago SIM EREsp 1.118.454-RS

Roubo ocorrido no estacionamento de shopping center SIM REsp 1.269.691-PB

Roubo em estacionamento de hipermercado SIM REsp 1.642.397-DF

Roubo em estacionamento gratuito localizado em área pública em frete ao supermercado

NÃO REsp 1.642.397-DF

Roubo em estacionamento de banco SIM REsp 1.045.775-ES

Furto em veículo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pública

SIM REsp 1.321.739-SP Roubo em veículo sob a guarda de vallet parking que fica

localizado em via pública

NÃO REsp 1.321.739-SP Furto ou roubo ocorrido em veículo sob a guarda de vallet

parking localizado dentro do shopping center

SIM REsp 1.321.739-SP

PLANO DE SAÚDE

A Sumula 302 do STJ se aplica à segmentação hospitalar (e não à ambulatorial)

O art. 12, II, “a”, da Lei nº 9.656/98 proíbe que os planos de saúde limitem o tempo para a internação hospitalar. No mesmo sentido, foi editada a súmula do STJ:

Súmula 302-STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

Vale ressaltar, no entanto, que o disposto no art. 12, II, “a” e na Súmula 302 do STJ referem-se, expressamente, à segmentação hospitalar, e não à ambulatorial.

Assim, não é abusiva a cláusula inserta em contrato de plano de saúde individual que estabelece, para o tratamento emergencial ou de urgência, no segmento atendimento ambulatorial, o limite de 12 horas.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.764.859-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João é cliente de determinado plano de saúde.

Verifique agora essas três cláusulas abaixo transcritas que constam no contrato firmado entre João e o plano de saúde:

DO ATENDIMENTO AMBULATORIAL:

Cláusula 6ª Em caso de atendimento ambulatorial, o BENEFICIÁRIO terá cobertura de urgência e emergência, desde que não ultrapasse o período de 12 horas.

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Cláusula 7ª Durante a internação clínica, psiquiátrica ou cirúrgica, a CONTRATADA garante ao BENEFICIÁRIO, através de recursos próprios ou credenciados, os seguintes serviços hospitalares:

(...)

Cláusula 8ª Os prazos de internação hospitalar serão estritamente determinados pelo médico que está assistindo o beneficiário quando da solicitação ou prorrogação da internação.

Desse modo, segundo a cláusula 6ª do contrato celebrado, em caso de atendimento ambulatorial, o limite máximo de tempo de internação do cliente (consumidor) será de 12 horas.

Essa cláusula 6ª é válida?

SIM.

Mas essa cláusula não viola o teor da Súmula 302 do STJ: “É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”?

NÃO. Vamos entender o porquê.

Internação hospitalar

O art. 12, II, “a”, da Lei nº 9.656/98 proíbe que os planos de saúde limitem o tempo para a internação hospitalar.

No mesmo sentido, foi editada a súmula do STJ:

Súmula 302-STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

Vale ressaltar um detalhe que pode ter passado despercebido: o que a Lei e a súmula vedam é a limitação de tempo na internação hospitalar.

Ocorre que a cláusula 6ª acima analisada fala em atendimento ambulatorial, o que é diferente.

Assim, se a cláusula 6ª for interpretada em conjunto com as cláusulas 7ª e 8ª, chega-se à seguinte conclusão:

• a depender da moléstia apresentada, o atendimento inicial do paciente pode ser ambulatorial. • esse atendimento ambulatorial não pode ultrapassar mais que 12 horas.

• superado esse limite de tempo, caso seja constatada a necessidade, o paciente será encaminhado a tratamento hospitalar.

• o prazo de internação hospitalar será estritamente determinado pelo médico e não sofrerá limitações do plano de saúde.

O disposto no art. 12, II, “a”, da Lei nº 9.656/98, que veda a limitação de tempo para a internação hospitalar, e a Súmula 302 do STJ, que dispõe ser abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado, referem-se, expressamente, à segmentação hospitalar, e não à ambulatorial.

PLANO DE SAÚDE

O art. 31 da Lei 9.656/98 assegura que os aposentados paguem os mesmos preços praticados

aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais

O “pagamento integral” previsto no art. 31 da Lei nº 9.656/98 deve corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho, e da parte antes

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subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.713.619-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 637).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Antônio era empregado de um banco há mais de 30 anos e possuía plano de saúde oferecido aos funcionários da instituição.

O custeio do plano era mantido da seguinte forma: o empregador arcava todos os meses com R$ 100,00 e o empregado pagava outros R$ 100,00.

Antônio se aposentou e deseja continuar no plano de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 (sua parte e a do antigo empregador). Em tese, ele possui esse direito?

SIM. Em tese, isso é possível, conforme prevê o art. 31 da Lei nº 9.656/98 (que trata sobre os planos de saúde): Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.

(...)

O que significa a expressão “pagamento integral” prevista no art. 31 acima transcrito?

O “pagamento integral” engloba:

• o valor que era pago pelo aposentado ao plano de saúde na época em que ele ainda estava trabalhando, ou seja, enquanto ainda estava vigente seu contrato de trabalho; mais

• o valor que era subsidiado (pago) pela ex-empregadora.

Vale ressaltar que o mesmo preço que os funcionários da ativa estiverem pagando é aquele que o trabalhador aposentado também deverá pagar. Assim, se na ativa os funcionários estão pagando R$ 200,00 mensais e a empresa está subsidiando R$ 200,00, isso significa que não se poderá exigir do trabalhador aposentado que pague R$ 500,00.

Impor ao aposentado preços diferenciados dos funcionários ativos esvaziaria, por completo, o sentido protetivo do usuário do plano de saúde coletivo que extingue seu contrato de trabalho.

Importante destacar, por fim, que, se houver um reajuste legal dos preços cobrados dos funcionários da ativa, o trabalhador aposentado também terá que arcar com esse aumento.

Em suma:

O “pagamento integral” previsto no art. 31 da Lei nº 9.656/98 deve corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.713.619-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 637).

Em outras palavras, não é possível que haja dois planos de saúde com condições diferenciadas: um para os empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos. Isso violaria o art. 31 da Lei nº 9.656/98.

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DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA

Se a parte já tem um título executivo, não precisa ir para a arbitragem

mesmo que o contrato contenha cláusula compromissória

A existência de cláusula compromissória não afeta a executividade do título de crédito inadimplido e não impede a deflagração do procedimento falimentar, fundamentado no art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005.

Caso concreto: o contrato entre as empresas “A” e “B” continha uma cláusula compromissória. Com base nesse contrato, a empresa “A” forneceu mercadorias para a empresa “B”. A empresa “B” não pagou a duplicata referente a essa venda. Diante disso, a empresa “A” poderá ingressar com execução individual ou, então, pedir a falência da empresa “B” sem precisar instaurar o procedimento arbitral. Havendo título executivo, o direito do credor só pode ser garantido por meio do juízo estatal, já que o árbitro não possui poderes de natureza executiva.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.733.685-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 06/11/2018 (Info 637).

Falência

Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável.

A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.

Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária?

A pessoa que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência acarreta um processo judicial).

Segundo o art. 97 da Lei nº 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor: I — o próprio devedor;

(Obs.: é a chamada autofalência.)

II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

(Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o falecido estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requererem a falência.)

III — o cotista ou o acionista do devedor;

(Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária (seja ele cotista ou acionista) entende que a empresa está insolvente e que o único caminho é a falência.)

IV — qualquer credor.

(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)

Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência:

O art. 94 prevê que a falência poderá ser requerida em três hipóteses. I — Impontualidade injustificada

Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência.

(22)

Informativo

comentado

Adotou-se, neste inciso, o critério da impontualidade injustificada.

Obs: para pedir a falência com base neste inciso, não é necessário que o requerente tenha tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor (STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014. Info 547).

II — Execução frustrada

Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.

A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se, neste inciso, o chamado critério da enumeração legal.

III — Atos de falência

Quando o devedor pratica qualquer dos atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 11.101/2005.

Aqui, a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou, neste inciso, o chamado critério da enumeração legal.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

A empresa “Metálica Ltda.” possui contrato contra a “Volk Indústria de veículos Ltda.” A Metálica fornece peças metálicas para que a Volk produza seus carros.

Este contrato possui uma cláusula compromissória.

Cláusula compromissória

A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... - uma cláusula prevista no contrato,

- de forma prévia e abstrata,

- por meio da qual as partes estipulam que

- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato

- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). Exemplo:

“Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem).”

Voltando ao caso concreto:

A Metálica forneceu uma grande quantidade de peças para a Volk, que emitiu uma duplicata no valor de R$ 1 milhão.

Ocorre que a Volk não pagou a duplicata.

A credora fez, então, o protesto deste título de crédito, mas, apesar disso, a devedora permaneceu inadimplente.

Diante disso, a Metálica formulou pedido de falência da sociedade empresária Volk, fundamentando o pleito no art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005:

Referências

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