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O ESPAÇO GEOLINGUÍSTICO BARREIRENSE E SUAS POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO AO ENSINO DE HISTÓRIA

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Academic year: 2021

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O ESPAÇO GEOLINGUÍSTICO BARREIRENSE E SUAS POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO AO ENSINO DE HISTÓRIA

DEISEANE OLIVEIRA LOPES1

ANDERSON DANTAS DA S. BRITO2

A História – ensino e pesquisa – enquanto responsável pela leitura, interpretação e em parte por problematizar os acontecimentos ocorridos na sociedade, fomenta uma consciência que dimensiona o indivíduo no tempo e no espaço. As interações sociais e os resultados delas, agregam informações ao patrimônio cultural da comunidade, estabelecendo laços com a toponímia local. Para este trabalho, escolhemos como objeto de investigação a toponímia do centro-histórico da cidade de Barreiras-BA. Por ter nos seus percursos o entrelaçamento de diferentes contextos históricos, capazes de interagir tempos e espaços diferentes é possibilitador de práticas pedagógicas que possam perceber e analisar quais os imaginários que foram instituindo a sua sociedade.

Sob os argumentos de Roger Chartier (2002), Marc Augé (2012), Cornelius Castoriais (1982) e outros, foi feita a análise dos imaginários relativos que os topônimos barreirenses oferecem e também das representações e as configurações sociais e conceituais que elas estabelecem, próprias de um tempo ou de um espaço. Obtendo um arcabouço para um ensino contextualizado, correspondendo a função de desenvolvimento de consciências históricas, que não só identificam, mas também propiciam a formação de sujeitos críticos para com as sociedades que se insere e relaciona, estuda ou conhece.

Praças e coronéis: os militares no espaço público de Barreiras

A ocupação urbana de Barreiras começou pela Rua Humaitá, referência a uma das operações na Guerra do Paraguai, nomeada assim pelo médico combatente Augusto Cezar Torres. Da cidade de Barra, a mais de 300 km de distância de Barreiras, médico, que ao voltar da guerra estabeleceu residência na estreita rua beira rio. O próprio é homenageado pela cidade, tendo

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Estudante de graduação – curso Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (UFOB) – email: deiseane.lopess@gmail.com

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atribuída a ele uma praça com seu nome. Entre as duas primeiras ruas, está a praça com um busto, financiado pelos próprios barreirenses.

Começar uma problematização pela gênese das primeiras denominações do centro de um município exige sobre tudo um diálogo com a História. Para esta compreensão, dialogamos com Luís Fernando Cerri (2010) que escreve sobre um elemento importante no ensino de história, com base nas teses do alemão Jörn Rüsen, que é a consciência histórica. Ele apresenta a ideia de que não é função de um professor de História formar a consciência histórica dos estudantes, nem muito menos dar consciência a quem pouco tem. Na verdade, ele destaca que os estudantes já chegam na escola com muitos traços bem demarcados da sua consciência, muitas vezes com concepções preconceituosas, racistas, homofóbicas e misóginas.

Nestes casos, o papel do professor é tentar dialogar com essa consciência já formada, na tentativa de impedir a formação de identidades não razoáveis, que seriam aquelas que se apropriam da verdade, sendo potencialmente autoritárias ou destrutivas, já que tem por princípio que as outras identidades não são verdadeiras, além disso, o professor deve combater a apatia, a despolitização individualista e a indiferença.

E é nesse ínterim que alguns conhecimentos prévios podem aparecer no diálogo entre professor e estudante. Se a aula for propícia para determinadas discussões, os lugares de fala emergirão com possíveis referências sobre denominações toponímicas em que os estudantes circulam, vivem ou que já ouviram falar.

No antigo centro histórico barreirense, contém praças e ruas que contam histórias e memórias. As relações com os períodos vivenciados no Brasil, assim como os interesses de seus líderes se eternizaram no espaço geográfico local. A ocupação militar nas toponímias da cidade, em relação à história local, envolve as praças Coronel Baylon Boaventura e Coronel Antônio Balbino. Havia uma praça por nome Coronel Emídio Balbino, como provas das representações determinadas pelos interesses do grupo que as instituíram, tendo intrínseca relação com a posição social de quem as definiram os homenageados e os suprimidos devido ao avanço urbano (CHARTIER, 2002).

O barreirense Antônio Balbino foi governador da Bahia e exerceu a função de ministro em diferentes áreas e mandatos presidenciais. Os nomes Balbino de Carvalho são bem conhecidos Oeste Baiano, pois nomeiam diversas ruas na cidade de Barreiras e a atribuição pode estar associada ao pai ou ao filho. A quarta praça da cidade, popularmente é chamada de Praça de Alimentação, por causa de várias lanchonetes que existem no local, já foi chamada de Praça

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dos Comerciantes, pois já foi um ponto central do comércio barreirense, mas seu nome real é Praça Cel. Antônio Balbino.

Essa praça é um exemplo de como a paisagem define o lugar. A percepção e os sentidos atenuados, fazem com que culturalmente o nome de origem seja deixado de lado para algo que é mais cotidiano aos caminhantes. A paisagem é um construto do imaginário humano, que sofre diretamente influência da cultura que temos, atribuindo memórias aos lugares gerando pertencimento (SCHAMA, 1996).

O Cel. Baylon Boaventura foi responsável por expandir as atividades industriais na região, com a implantação de fábricas que beneficiadoras de cereais e algodão, fornecendo matéria prima para produtoras locais de tecido. A praça que recebe o seu nome, se encontra entre as ruas mais boêmias de Barreiras. Num aglomerado de bares e restaurante a beira-rio, a praça, hoje seria as intermediações do grande espaço onde ficam alocadas as mesas dos estabelecimentos e um antigo prédio, conhecido como Caparosa.

A presença mais recente de um militar intitulando um espaço público foi nos anos de 1970, a Praça Juarez Souza, durante o primeiro mandato do prefeito Baltazarino, que quis agradar um comandante do 4º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção) e a nomeou de Cel. Celso Viana (ALMEIDA, 2019). Devido a essa troca sem relação com os passantes, o local não tem nem um nome e nem outro. O lugar foi apelidado como a Praça do Cais e não saber seu real no me, ou os motivos que o definiram, não impedem os indivíduos interagirem entre si e com o lugar, o tornando um espaço social. As várias identidades que um espaço pode ter, são os reflexos da fragmentação dos sujeitos que os frequentam. Essa é uma das características dos sujeitos pós-modernos que reproduzem suas identidades não fixas, essenciais ou permanentes (HALL, 2006).

Juarez Souza foi um deputado estadual muito influente na divisão dos municípios do Oeste Baiano, beneficiando algumas microrregiões que careciam de uma administração mais próxima, a exemplo da própria Barreiras, pertencente a Angical, assim como, posteriormente Barreiras, que se dividiu emancipando São Desidério, Catolândia e outros municípios (ALMEIDA, 2019). Coronel Celso Viana de Araújo foi primeiro comandante do 4º BEC, (1973-1975) e iniciador das obras da BR 020/242, e de grande importância econômica para o escoamento das produções no interior do país, assim como uma ligação com a capital Brasília e o litoral.

O Coronelismo foi um período entre a Proclamação da República e a Revolução de 30, mas os seus signos e significados permaneceram. Os donos de terras, apoiados no Estado tinha grande

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influência nas decisões políticas. Não foi diferente no interior da Bahia, visto para muitos apenas como um grande latifúndio que foi dividido entre algumas famílias.

Antônio Guedes de Brito foi o proprietário da sesmaria onde se localiza Barreiras, alguns anos depois foi vendida partes fazendo surgir as fazendas Tapera e Malhada, entre os séculos 17 e 19. Coronéis por hereditariedade ou agregação, a história de Antônio Balbino pai e filho são atravessados por ambos os modos. O pai foi casado com Custódia Rocha de Carvalho, filha do Geraldo Rocha, fundador a empresa Companhia Agropastoril Sertaneja S/A e é considerado elemento decisivo para a criação da CVSF, Comissão do Vale do São Francisco, que viria a formar a Codevasf, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Enquanto que o filho, além de já estar inserido nesse contexto familiar, se dedicou a carreira política, sendo um notável governador para a Bahia e ministros em diversos áreas para o Brasil. Da mesma forma, o Coronel Baylon Boa Ventura pode estar muita mais relacionado ao seu poder econômico e influência política na região, que de fato ao militarismo. Efetivamente, sabemos da patente do Coronel Celso Viana, esse está registrado nos Histórico do 4º BEC. O imaginário de poder criado ao termo coronel, transpassou a história dos espaços barreirenses. Em praça e ruas, o simbolismo dos coronéis estabeleceu um vínculo entre as suas representações de autoridade, controle e propriedade. Contudo apesar do imaginário utilizar do simbólico para para existir, é possível o uso inverso, pressupondo ver uma coisa que não é ou diferente do que ele mostra ser, podendo assim combater a história dos dominantes (CASTORIADIS, 1982). A praça Duque de Caxias, mais conhecida como praça do coreto e as ruas Marechal Deodoro, Benjamin Constant conversam com os ares de sua época. O tempo entre a Proclamação da República (1889) e a elevação para Vila de Barreiras (1891) fazia-se necessário ressignificar o espaço, incorporar ao cotidiano novos modelos políticos. Outros símbolos como Sete de Setembro, Quinze de Novembro foram inseridos nas ruas e avenidas. Ao observar esse período, a história intelectual mostra como é possível reconstituir os sentimentos e as sensibilidades próprias das pessoas no tempo e no espaço, devido a produção do imaginário e a percepção coletiva das atividades humanas. Sendo o mundo social, algo produzido pelas relações dos membros nos grupos, criasse o sentido de um indivíduo para o outro, fazendo o espaço decifrável (CHARTIER, 2002).

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A contextualização dos espaços e tempos abordados de acordo aos seus topônimos, assim como a observação de seus imaginários e simbologias, nos mostra um esboço histórico do território barreirense. Fonte de muitas histórias e cruzamentos entre referências locais e nacionais, no delimitado espaço do Centro Histórico, a pesquisa resultou numa mostra do reflexo imaginário mais frequente, que foi a afirmação do sentimento republicano quando contemporâneo do momento de emancipação política de Barreiras, no final do século XIX. Nesse sentido, percebemos que a toponímia pode guardar inúmeras camadas de consciências históricas dos estudantes.

Porém, devemos considerar que muitas outras espacialidades do urbano referentes à praças, ruas e becos, de toda a cidade, esperam pelos andares e olhares atentos de seus passantes. Eles aguardam a interpelação ao objeto histórico, para ser investigado, questionado e apresentado aos demais praticantes do espaço, criando assim, novas relações de identificação e pertencimento ou lugar (CERTEAU, 1998).

Referências:

ALMEIDA, I. P. de. Memórias sobre as ruas barreirenses. Barreiras. 2019. (≅3h)

AMARAL, M. C. do. Mulheres, imprensa e higiene: a medicalização do parto na Bahia (1910-1927). Hist. cienc. saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 927-944, dez. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702008000400003&lng=en&nrm=iso. Acessado em out 2020

AUGÉ, M. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Tradução de Maria Lucia Pereira. 9 ed. Campinas: Papirus, 2012.

BARRETO, M. R. N. Assistência ao nascimento na Bahia oitocentista. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 15, n. 4, p. 901-925, dez. 2008. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702008000400002&lng=en&nrm=iso. Acessado em out 2020

BENCOSTTA, M. L. A. Grupos escolares no Brasil In: STEPHANOU, M. BASTOS, M. H. C. (org) Histórias e memórias da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 68-76.

BRASIL. Exército Brasileiro. Histórico do 4º BEC. Disponível em: encurtador.com.br/blw05. Acessado em out. 2020.

BRASIL. Exército Brasileiro. Galeria Disponível em: http://www.4becnst.eb.mil.br/index.php/galeria-de-antigos-comandantes. Acessado em out. 2020.

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BOURDIEU, P. O poder simbólico. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

BRITO, A. D. da S. Em nome(s) do interesses: imaginário toponímicos do Rio Grande do Norte na Primeira República. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

CASTORIADIS, C. A instituição imaginária da sociedade. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 1982.

CERTEAU, M. A invenção do Cotidiano: artes de fazer. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1998. CERRI, Luis Fernando. Ensino de Historia e Consciência Histórica, 2010, Editora: FGV. CHARTIER, R. A história cultural. DIFEL: Portugal, 2002.

COSTA, W. M. A. da. Pontos de Memórias. Cadernos NAUI Vol. 7, n. 13, jul-dez 2018 COUTINHO, A. Verbete biográfico. CPDOC. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/antonio-balbino-de-carvalho-filho-1. Acessado em nov. 2019.

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