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VENDEDORES E LOJISTAS: permanências e mudanças nos registros de vendas e lojas do Tijuco de 1734 a 1764

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Academic year: 2021

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VENDEDORES E LOJISTAS:

permanências e mudanças nos registros de vendas e lojas do Tijuco de 1734 a 1764

Franciany Cordeiro Gomes1

Resumo

A pesquisa aqui apresentada tem o objetivo de compreender o cenário comercial existente no arraial do Tijuco, identificando um perfil dos estabelecimentos ali encontrados e de seus proprietários, a partir de sete livros de registros das cobranças do tributo instituído pela Real Fazenda em 1734. Também serão utilizados, a título de comparação com a documentação anterior, os registros de capitação da comarca de Serro Frio, do ano de 1736, comarca esta à qual pertence o arraial. A partir dessa documentação, serão comparados os números de lojas e vendas presentes nas listagens para avaliarmos as proporções do núcleo comercial que se estabeleceu no Tijuco, bem como as mudanças e permanências deste comércio, tanto no âmbito do “tipo” de estabelecimento, como na variação dos comerciantes.

Palavras-chave: Tijuco, Comércio, Minas Gerais. Abstract

The research presented aims to understand the business scenario exists in the village of Tijuco identifying a profile of establishments found there and their owners, based on seven books of records of collection of the tax imposed by the Royal Treasury in 1734. Also be used for comparison with the previous documentation, the records of the judicial district from Serro Frio. In the year 1736, this region belongs to the village of Tijuco. From this documentation will be compared the numbers of shops and sales in these listings to evaluate the proportions of the core business that was established in Tijuco as well as the changes and permanence of this trade, both within the "type" of property, as in variation of the merchants.

1 Mestranda do curso de Pós-graduação em história pela Universidade Federal de Juiz de Fora, orientada do professor doutor Ângelo Alves Carrara. Este trabalho foi financiado pela UFJF/APG.

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Keywords: Tijuco, Minas Gerais, Trade.

Introdução

O trabalho aqui apresentado tem como objetivo principal compreender um pouco mais sobre o cenário comercial estabelecido em Minas Gerais durante o século XVIII. Para isso, um importante centro comercial mineiro foi alvo de nossa análise, o arraial do Tijuco. Pertencente a comarca de Serro Frio, o dinâmico arraial demonstra sua força econômica ao ser alvo de um imposto normatizado pela portaria de 24 de dezembro de 1734, direcionado ao desenvolvido aparato comercial ali encontrado. Este imposto determinava que cada estabelecimento fosse tributado com a quantia anual de aproximadas 50 oitavas para lojas, e 30 oitavas para vendas. 2

Este imposto foi registrado mensalmente durante o período que vai de 1734 a 1764. Como resultados destes registros, foram produzidos sete livros, sendo seis deles encontrados no Arquivo Nacional, e um deles, no Arquivo Público Mineiro. 3 Os livros contêm as seguintes informações: a relação dos nomes dos proprietários das lojas e vendas, situadas no dito arraial; a localização do estabelecimento; o registro do pagamento do tributo em uma seqüência mensal dos seguintes anos; o tipo de estabelecimento – se eram lojas ou vendas; e algumas referências dirigidas aos escravos que trabalhavam para os seus senhores neste comércio.

Esta série de registros não abrange todo o período em que o imposto foi aplicado no Tijuco, mas sim foi pego como uma amostragem. A partir dessas informações, foi formulado um banco de dados que permitiu a melhor visualização e sua posterior análise. Nestes livros foram encontrados 900 registros de cobranças, que, no banco de dados, foram organizados da seguinte forma: o tipo do estabelecimento (se consistia em uma venda ou uma loja); o nome do proprietário; a localização do estabelecimento; o ano em que foi feita a cobrança; e por fim, os meses em que o imposto foi pago.

2

CARRARA, Ângelo Alves. Fontes quantitativas para a história de Minas Gerais no Setecentos. Juiz de Fora: Clio Edições Eletrônicas, 2008, p. 2.

3 Arquivo Nacional – AN CC 0139, rolo: 021; AN CC 0806, rolo: 056; AN CC 0860, rolo: 059; AN CC o861, rolo: 059; AN CC 0140, rolo: 21; AN CC 0438, rolo: 040. Arquivo Público Mineiro: APM CC 1089, rolo: 014 (este livro é uma cópia do volume presente no Arquivo Nacional AN CC o861, rolo: 059).

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Um segundo corpo documental - utilizado a título de comparação com os registros de impostos de Tijuco - foram os registros da cobrança do imposto de capitação referente à comarca de Serro Frio, no ano de 1736. 4 O imposto de capitação foi um tributo imposto à região das minas, aplicado sobre lojas, vendas, escravos, e indivíduos livres que trabalhavam mecanicamente, imposto este que vigorou de 1734 a 1750. Diante das informações ali encontradas, voltamos nossa análise para os registros referentes a lojas e vendas do arraial do Tijuco, pois esta documentação abrange todas as vilas pertencentes à comarca de Serro Frio que possuía alguns dos objetos de cobrança desse imposto.

A seguinte documentação nos servirá como um instrumento de refinamento das informações sobre os estabelecimentos do Tijuco – já que classifica as lojas em três subgrupos: como pequenas, médias ou grandes – o que nos auxiliou a traçar um perfil mais concreto sobre o comércio ali encontrado. Estes dados foram reunidos em um outro banco de dados, no qual foram separados os registros pela tipologia do estabelecimento, contendo ali o nome do proprietário, o valor do imposto pago, a classificação desse comércio e sua localização.

Com as informações encontradas nas duas documentações, comparamos os nomes encontrados em ambas para traçar um perfil do cenário comercial existente em Tijuco no período. Na primeira documentação, foram comparados os números de lojas e vendas ali presentes, o que nos permite avaliar as proporções do núcleo comercial que ali se estabeleceu. A partir dos resultados das informações, buscamos compreender o nível de organização e importância deste centro comercial, bem como a identificação dos proprietários e seu papel no contexto aqui estudado.

Tijuco e o comércio mineiro

A comarca de Serro Frio foi o reduto de um aparato comercial dinâmico e complexo, que atendia a demanda de consumo das regiões mineradoras em seu entorno. Por abrigar grandes áreas de extração mineral, esta comarca desenvolveu centros administrativos e econômicos importantes do período colonial brasileiro. Uma das

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localidades que mais se destacou economicamente no Serro Frio foi o arraial do Tijuco, a atual Diamantina, que se formou devido à descoberta de minas e a posterior extração de diamantes.

Devido a grande circulação de pessoas, atraídas pela riqueza fácil trazida pelos diamantes, e a liquidez econômica gerada pela circulação do ouro nos territórios coloniais, Minas Gerais como um todo sentiu as transformações econômicas e o surgimento cada vez mais acelerado de uma infra-estrutura comercial destinada a atender às crescentes demandas do consumo produzido pela grande riqueza circulante nas diversas regiões das minas.

Mas não só o ouro influenciava diretamente no consumismo da crescente população, como a autora Mafalda Zemella nos coloca “As transações nas Gerais, por incrível que pareça, eram mais comumente feitas a crédito do que mediante pagamento à vista” (ZEMELLA, 1990:152). A utilização do crédito pessoal interferia diretamente na crescente demanda por produtos de subsistência e de luxo, vindos da Europa, aumentando assim a necessidade de mercados abastecedores que provessem essa comunidade dos produtos que queriam.

No arraial do Tijuco não foi diferente, pessoas vindas das mais diversas partes do Império Português se aglomeravam nas terras próximas às áreas de exploração do diamante, formando ali uma comunidade numerosa e complexa. Comerciantes se organizaram a fim de atender a crescente demanda por produtos variados que aquela população, provida de recursos abastados – vindos da mineração ou atividades a ela relacionados -, exigia.

Frente aos dados encontrados na documentação referente à capitação no Serro Frio, podemos vislumbrar as proporções deste centro comercial encontrado no Tijuco. Contabilizamos 10 vendas, 4 lojas pequenas, 13 lojas medianas e 1 loja grande, uma estrutura ampla e diversificada, apesar de identificarmos como a maioria dos estabelecimentos sendo vendas e lojas medianas. O fato de existir uma loja de grande porte nessa região nos diz sobre a amplitude daquele comércio ali desenvolvido.

O outro corpo documental que utilizamos na pesquisa também demonstra as proporções que a praça comercial de Tijuco possuía. Nos registros de impostos do dito

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arraial, foram contabilizados 186 registros referentes a vendas e 145 referentes a lojas. Diante disso, podemos concluir que o comércio presente no Tijuco é voltado para os estabelecimentos de pequeno porte, como é o caso das vendas, mas comparando com as informações dos registros de capitação, podemos perceber que, apesar deste caráter mediano dos comércios, a presença de lojas de pequeno, médio e grande porte nos mostra que esse arraial abrigava uma complexa estrutura negociante, que atendia desde as pequenas demandas até as trocas comerciais de maiores vultos, normalmente praticados por lojas de médio a grande porte.

Ao analisarmos os dados encontrados nos registros dos impostos do Tijuco de 1734 a 1764, dos 900 registros encontrados na listagem, foram contabilizados 305 indivíduos diferentes, dentre eles 4 mulheres. 5 Durante a leitura desses registros percebemos que os nomes citados como proprietários dos estabelecimentos se repetiam em determinados espaços de tempo. Destes 305 nomes, 164 possuem mais de um registro em anos diferentes. Esta repetição de registros com um mesmo proprietário nos diz sobre a durabilidade destes estabelecimentos, e a tabela 1 nos ajuda a visualizar com mais clareza essa situação.

Tabela 16

Relação entre a quantidade de registros e de indivíduos citados.

Nº de registros 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 14 15 19 22 Nº de indivíduos 141 53 35 16 15 11 16 2 5 2 1 3 1 1 1 2

Fonte: Arquivo Nacional – AN CC 0139, rolo: 021; AN CC 0806, rolo: 056; AN CC 0860, rolo: 059; AN CC o861, rolo: 059; AN CC 0140, rolo: 21; AN CC 0438, rolo: 040.

Nela percebemos que 53,77% dos nomes são referenciados mais de uma vez na documentação, chegando a alguns nomes possuírem 22 registros em uma seqüência de

5 Dos 900 registros encontrados, 7 registros não foram contabilizados nesta análise por não possuírem informações minimame1nte consideráveis para serem levadas em conta.

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anos, como é o caso de Domingos da Silva Ferreira, que de 1739 a 1762 apresentou o registro de três lojas diferentes e um de venda, que aparecem em média seis anos seguidos. Devemos levar em conta que a real durabilidade deste comércio não pode ser determinada por esta documentação por ser restrita a um período determinado, além da possibilidade de o estabelecimento não aparecer por mais vezes pelo não pagamento do dito imposto, mas não deixa de demonstrar a longevidade deste comércio nas mãos de proprietários fixos.

Outro ponto a ser destacado nesta documentação é a presença de registros referente a dois tipos de estabelecimentos ou mais relacionados a um só nome. Dos 305 nomes encontrados, 61 possuem mais de um estabelecimento em funcionamento simultaneamente de mesmo tipo, como é o caso de Teotônio de Brito Barbosa, que no ano de 1735 aparecem dois registros relacionados a ele, referente a duas vendas, localizada em endereços distintos, nos levando a concluir que se tratava de duas vendas diferentes, mas que possuíam o mesmo proprietário.

Destes 61 nomes, 30 apresentaram a posse de vendas e lojas durante o período analisado. Como exemplo dessa situação, temos o caso de Antônio Rodrigues de Barros, que durante os anos de 1735 a 1745, apresentou além de três lojas em locais diferentes, também era proprietário de uma venda na mesma ocasião.

A presença das repetidas referências a estes indivíduos nos leva a concluir que aquela concentração de estabelecimentos ali encontrados era, de certa forma, monopolizado por um grupo de comerciantes, que mantinham mais de um comércio, variando em seu porte e estrutura, e que os mantinha ao mesmo tempo por espaços de tempo relativamente alongados.

Voltando à documentação dos registros de capitação do Serro Frio, foram encontrados 28 registros referentes à Tijuco, dos nomes ali presentes, quando comparados com a documentação dos impostos de 1734 a 64 em Tijuco, somente quatro nomes não são simultaneamente citados pelos dois corpos documentais aqui analisados. Esta compatibilidade já era, de certa forma, esperada por se tratar de períodos simultâneos, mas como a listagem de capitação se restringe ao ano de 1736, devemos levar em conta que esta compatibilidade pode ter se restringido a alguns espaços de tempo.

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Conclusão

A partir das análises acima, podemos tirar algumas conclusões sobre a situação comercial existente no arraial do Tijuco durante a primeira metade do século XVIII. Como vimos acima, as duas documentações nos mostram a força e as proporções daquele centro comercial. Os dados levantados mostram a complexidade daquela praça comercial, que apesar de possuir a maioria dos registros referenciados como vendas, este possui uma gama considerável de lojas de pequeno médio e grande porte, demonstrando que Tijuco atendia as mais variadas demandas negociantes, atendendo desde a simples subsistência até mesmo os consumidores de grande porte.

Este comércio também se mostra estável, com uma parte considerável dos números de registros se repetindo por determinados espaços de tempo. Em se tratando dos proprietários, o arraial do Tijuco apresenta um grupo de indivíduos que monopolizam esta atividade econômica, por serem possuidores de mais de um estabelecimento, ou mesmo possuindo simultaneamente lojas e vendas sob sua administração.

Diante disso podemos considerar Tijuco como o reduto de uma complexa rede de vendas e lojas, vinculadas entre si, por vezes, pelos seus administradores, que eram os mesmos, inserido num contexto de expansão dos mercados consumidores, e influenciado diretamente pela fluidez de riquezas, trazidas pela exploração mineral.

Bibliografia

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À vista ou a prazo: comércio e crédito nas Minas setecentistas/ Ângelo Alves Carrara (org.). Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2010.

BOXER, Charles. A Idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

CARRARA, Ângelo Alves. Fontes quantitativas para a história de Minas Gerais no

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_______________________. Minas e currais: produção rural e mercado interno em Minas Gerais 1674-1807. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2007.

FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio: a interiorização da metrópole e o comércio nas minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999.

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ZEMELLA, Mafalda P. O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII/ 2.ed. São Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de São Paulo, 1990.

Referências

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