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A ESCRITA DA HISTÓRIA NA OBRA DE MAGISTRO DE TOMÁS DE AQUINO

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A ESCRITA DA HISTÓRIA NA OBRA DE MAGISTRO DE

TOMÁS DE AQUINO

CRUBELATI, Ariele Mazoti amcrubelati@hotmail.com MONTAGNOLI, Gilmar Alves

gil_montagnoli@hotmail.com COSTA, Celio Juvenal celio_costa@terra.com.br Universidade Estadual de Maringá

História e Historiografia da Educação

O presente trabalho tem como objetivo uma breve análise da obra De Magistro, de Tomáz de Aquino baseado em alguns autores, com discussões, entendimentos e características, que permeiam o entendimento do fazer historiográfico da Nova História Cultural. A pesquisa é de caráter bibliográfico. Limita-se em falar do fazer historiográfico, diferentemente do que se entendia até o século XIX, marcado por pensamentos positivistas e marxistas, lembrando que não é uma oposição a estas, mas dialoga com suas percepções e baseia-se em outros aspectos para produção da história. Em um momento em que aceitar verdades impostas não satisfaziam mais, passa a se tomar a postura da criticidade, questionar os fatos e problematizar ideias impostas até então. O historiador é entendido como um personagem singular deste momento, pois com essa não verdade, a representação do que é escrito que é o que será passado, e o sentido que o leitor vai se apropriar é o que vai ser levado em conta. Contudo este trabalho procura mencionar a importância do historiador no campo da pesquisa científica, ainda mais para os estudiosos da História da Educação.

Estas reflexões derivam de discussões proporcionadas pela disciplina de mestrado em educação1 referentes a algumas tendências metodológicas de pesquisa em História, propõem-se aqui algumas considerações a partir de uma obra historiográfica; De Magistro, de Tomáz

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Disciplina de Fundamentos da Pesquisa em História da Educação, ministrada pelos professores Célio Juvenal Costa e Elaine Rodrigues.

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de Aquino. Seguindo a mesma organização da disciplina, iniciaremos com esclarecimentos sobre tal ofício para, na sequência proceder a referida reflexão.

Ao longo da disciplina, ficou claro que ao historiador (da educação) são necessários conhecimentos sobre as limitações e as possibilidades que envolvem o oficio historiográfico. O historiador deve ter consciência, por exemplo, que ele não tem a capacidade de recuperar a verdade do passado, isso porque a reconstrução que faz é parte sempre do presente (LE GOFF, 2003).

É importante ao historiador ter claro qual o seu objeto de estudo. Nesse sentido, Le Goff (2003) oferece esclarecimento importante quando afirma que o objeto da história não é o passado, mas os homens no tempo. O autor lembra ainda que a escrita da História apresenta as interpretações dos historiadores, que sempre serão parciais, mesmo o historiador buscando a imparcialidade o tempo todo.

Em seu ofício, o historiador deve também evitar julgamentos. Nesse sentido, Bloch (2001) chama atenção para a necessidade de situar o objeto de pesquisa dentro do próprio contexto de investigação de forma a representá-lo de acordo com as perspectivas daquele contexto histórico. Podemos afirmar então, que o trabalho historiográfico consiste, no geral, em interrogar as fontes, que não falam por si.

Nesse sentido, em nossas leituras, procuramos perceber, além da mensagem, quem a transmite e em quais circunstâncias. Em outras palavras, de onde se fala, com quem, por que, o que é dito, quais as fontes utilizadas, entre outras questões, são necessárias em leituras historiográficas. É este o exercício que será realizado na sequência.

A compreensão da Obra De Magistro de Tomás de Aquino (século XIII), conforme já mencionado, exige que o conhecimento do lugar e a compreensão do momento histórico onde o pensador viveu, até para ter condições de entender as ações em seu contexto (BLOCH, 2001). Devemos considerar que a obra engloba a essência da educação escolástica, tornando necessário que as grandes ideias se examinassem criticamente na disputa, isso porque ensinar é um movimento que vai da potência ao ato.

Devemos deixar claro que o momento de Aquino é de hegemonia do pensamento cristão, ou seja, sua obra está fortemente permeada por uma visão de Deus. No entanto, uma série de transformações estava ocorrendo, gerando novos interesses e novas instituições (como as universidades) e até uma nova classe social, como a burguesia. A compreensão do

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contexto de construção de uma obra, conforme Bloch (2001), é uma atitude essencial por parte do historiador, por isso passa-se a discuti-lo, ainda que brevemente, na sequência.

O século XIII, quando viveu Aquino (1225-1274), é caracterizado pelo renascimento das cidades, que, se tornaram pequenas metrópoles, que começavam a representar um movimento em direção ao monopólio do poder, tendo como ápice o absolutismo. É importante esclarecer que o absolutismo se concretizou somente no século XVI, com os Estados modernos.

A terra, até então tida como símbolo de riqueza, torna-se, face a utilização ampliada do dinheiro nas relações de troca, apenas mais uma expressão de poder. Essa dinâmica da sociedade trouxe diversas consequências, dentre elas o surgimento das primeiras universidades, instituições que evidenciam o encontro dessas dicotomias: Igreja, burguesia e novo público.

No interior da Igreja foram criadas duas ordens religiosas: franciscanos e dominicanos. Os primeiros tendo como princípio o voto de pobreza, ao passo que denunciavam o apego da sociedade e principalmente da Igreja à riqueza. Já os dominicanos, que apelavam ao intelectual, denunciavam a fraca formação dos padres. Por isso a maioria dos professores das universidades era dominicanos, assim como os inquisidores2. O autor questão, o qual será abordado na sequência, era dominicano.

O entendimento de muitas da ideias de Tomas de Aquino exige a compreensão de seu precursor Aristóteles. Este é comumente lembrado por sua rejeição ao dualismo platônico (sensível e inteligível). Para ele, existe apenas uma realidade, a realidade sensível de seres singulares, cada ser tendo sua existência própria. Nesse sentido, esclarece Oliveira (2008):

Do ponto de vista de Tomás de Aquino, a matéria é algo tão importante quanto o espírito. Aliás, a revolução de seu pensamento está exatamente nessa capacidade de unir em um só pensamento alma e corpo, Teologia e Filosofia. De seu ponto de vista, o que existe no se humano, na natureza, no conhecimento, é semelhante à unidade entre a pessoa Trina e Una de Deus. Esse pensamento representa uma grande revolução no seio da cristandade latina, porque até então, para os doutores da Igreja, a alma era o elemento mais importante do homem e o mestre Tomás eleva também o corpo ao mesmo nível de importância (OLIVEIRA, 2008, p. 96).

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A inquisição foi uma instituição criada com o objetivo de manter a pureza ortodoxa, contrariando as heresias, que eram os dogmas da Igreja.

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Aristóteles acreditava que o homem, dentre todas as características biológicas é o único animal racional, e intencionalmente faz o bem o mal, antecipando suas ações, planejando ou aperfeiçoando. Suas potencialidades, inclusive biológicas, são constituídas socialmente, o que está em potencial nele (biologicamente) só será desenvolvido em contato com o político (vem de polis, sociedade), o que evidencia a complexidade humana.

[...] se por uma lado afirma-se a realidade corpórea, por outro afirma-se, com igual veemência, que há também, no homem, uma transcendência do âmbito meramente biológico: certas características que, classicamente, têm sido chamadas de espirituais ligadas [...] às duas faculdades espirituais da alma humana: a inteligência e a vontade ( AQUINO, 2000, p. 9).

Reside aí a importância de entender a complexidade que é o ser humano para Aristóteles, até porque a compreensão de suas bases explica a diferença entre Tomás de Aquino, baseado em Aristóteles, e Agostinho, baseado em Platão. Ainda que muito breve, o apanhado acima realizado, evidencia um emaranhado de questões a ser pensadas. Ou seja, o caso mostra que não é possível uma plena compreensão de um autor do século XIII apenas estudando sua obra.

Podemos observar que Tomás de Aquino, ao se encantar com Aristóteles, é motivado a estudar a complexidade da criatura humana. Nesse sentido, considerações importantes sobre a educação foram apontadas pelo pensador, para o qual ó se aprende de fato quando se modifica o conhecimento potencial (o que já conhecia) e passa a ser entendido (em ato). Podemos acreditar é esse o papel do professor, desenvolver as potencialidades nos seus alunos.

O ensino, para Tomás de Aquino, deve principiar pelos elementos que o aluno conhece. O ensino não pode ser uma imposição, um jogo de palavras, nem resultado e uma adoração pelo mestre. Como demonstram seus estudos, nele deve prevalecer o espírito de ponderação. É necessário começar pela realidade concreta e conhecida para que se possa ensinar ao aluno o caminho da verdade. Aparentemente, essa idéia é muito simples, mas, na verdade, é muito difícil, pois exige do mestre humildade e humanidade pra ensinar com base nas coisas mais simples e objetivas (OLIVEIRA, 2008, p. 97).

Podemos, então, considerar que o melhor mestre é aquele que forma outros mestres e não seres dependentes a ele. Aí entra a compreensão cristã do pensador, para o qual o homem

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só tem tal potencialidade pela mão divina, mas o processo de ensino e aprendizagem deve partir do próprio homem. O autor “admite uma iluminação de Deus, mas essa iluminação no-la deu de uma vez por todas dotando-nos da luz natural da razão, aliás, dependente das coisas mais sensíveis e materiais” (AQUINO, 2000, p. 7).

Enfim, a compreensão da obra de Aquino exige reflexões sobre as preocupações do autor, sua formação (religiosa) e as fontes que recorre. Deve-se cuidar ainda para não julgar suas ações a partir do presente, bem como não tomar suas considerações como verdades inquestionáveis. Inclusive essa uma lição que o próprio Aquino nos deu, conforme é possível observar na seguinte citação:

O didálogo e a impossibilidade de dar resposta cabal, de esgotar um assunto filosófico não significa, evidentemente, que na quaestio disputata não deva tomar uma posição e defendê-la: não se trata, de modo algum, de agnosticismo. Podemos conhecer a verdade, mas não podemos esgotá-la, posto que o homem pode conhecer a verdade (e medida que o pode fazer), a discussão filosófica chega a uma responcio, a uma certa determinatio (AQUINO, 2000, p. 5).

O trecho é revelador de muitas problematizações deste texto. O diálogo e o respeito por posicionamentos contrários, em História no caso, são atitudes que não podem ser desprezadas, independente do objeto da pesquisa.

Enfim, este trabalho, esforçou-se em apontar, em uma obra historiográfica, elementos da escrita histórica estudada ao longo da disciplina. Partindo da obra De Magistro, de Tomás de Aquino, tentamos chamar a atenção para alguns elementos que envolvem a escrita da História, o que foi um exercício importante ao ter possibilitado pensar a operação historiográfica. Queremos deixar claro que não foi objetivo deste trabalho aprofundar em questões da obra em questão ou da vida do autor, mas focar em pontos que consideramos relevantes para o objetivo proposto.

Para Le Goff (2003), o passado é uma construção constante e feita no presente, ou seja, o sentido constituído ao passado é motivado por questões do nosso tempo. Assim, muitos dos estudos sobre Tomás de Aquino partem, entre outras preocupações, das finalidades do ensino e suas metodologias. Nesse sentido, baseado em Croci (1938, p. 5), Le Goff argumenta que:

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A idéia da história dominada pelo presente baseia-se numa celebre frase de Benedetto Croci em La stonec come pensiero e cone azione ique considera que “toda história” é “história contemporânea. Croce entende por isso que “por mais afastados no tempo que pareçam os acontecimentos de que trata, na realidade, a história liga-se às necessidades e às situações presente nas quais esses acontecimentos têm ressonância” [...] De fato, Croce pensa que, a partir do momento que os acontecimentos históricos podem ser repensados constantemente, deixam de estar no tempo; a história é o “conhecimento do eterno presente” (LE GOFF, 1924, p. 25).

Nesse sentido, o recuo ao passado (no caso ao século XIII) é motivado por questões de cada contexto em que tal recuo é feito, nas quais novas leituras podem ser feitas do passado, até porque novas descobertas de fontes podem possibilitar outras reflexões do objeto estudado.

O passado é uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e significativa da história. Isto é verdadeiro em dois sentidos. Primeiro [...] porque o progresso dos métodos e das técnicas permite pensar que uma parte importante dos documentos do passado está ainda por se descobrir (LE GOFF, 1924, p. 26)

Além disso, devemos considerar, conforme afirma Bloch (2001, p. 8), que “mesmo o mais claro e complacente dos documentos não fala senão quando se sabe interrogá-lo”. Para o autor, “É a pergunta que fazemos que condiciona a análise e, no limite, eleva ou diminui a importância de um texto retirado de um momento afastado”.

Em suma, a questão é que a história é complexa. Os pontos aqui destacados sobre o fazer historiográfico não são os únicos, mas espera-se que tenham evidenciado, nos limites deste trabalho, que sua escrita (e compreensão) exige postura própria e a observação de determinados procedimentos.

Conforme tentamos demonstrar, a obra De Magistro de Tomás de Aquino é fruto de um determinado contexto histórico. Além de considerá-los, deve-se atentar à formação (cristã) deste pensador, as contradições do período que viveu (fé e razão), enfim, suas angústias e motivações. Os autores estudados ao longo da disciplina evidenciaram que, por mais que o historiador busque se aproximar de uma verdade, ela não será atingida em sua totalidade. Isso porque, conforme tentamos problematizar, são nossas idas ao passado e nossas questões que a ele fazemos que determinam nossa atribuição de sentido a ele. Nesse pensamento, é

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justamente a função do historiador, questionar documentos e buscar compreender o homem no tempo.

A partir disso, é claro, reflexões importantes sobre o presente são proporcionadas. o pensador em questão, por exemplo, já no século XIII, fazia a relação entre mestre e aluno, tão discutida atualmente. O autor já levava em consideração o que potencialmente existia no intelecto de seu aluno, ou seja, chamava a atenção para a necessidade de recuperar a necessidade concreta do aluno, algo fundamental defendido nos nossos dias. O que queremos afirmar é que não devemos a partir das leituras historiográficas atuais relativizar tudo e menosprezar o passado. O passado deve ser olhado com responsabilidade, mas não com menor atenção.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Tomás. De Magistro. Trad. Lauand. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BLOCH, Marc. Apologia da história ou o oficio do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2001.

VERGER, J. Cultura, ensino e sociedade no ocidente nos séculos XII e XIII. Bauru: Edusc, 2001.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão (et. al). 3. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994 (Coleção Repertórios).

LOPES, Eliana Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

OLIVEIRA, Terezinha. A filosofia medieval: uma proposta cristã de reflexão. In: COSTA, Célio Juvenal. Fundamentos Filosóficos da Educação. Maringá: Eduem, 2008. p. 83-104.

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