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Cirurgia de aumento de coroa clínica

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Academic year: 2021

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Tony Rolo, Isabel Poiares Baptista, Sérgio Matos, Orlando Martins

Cirurgia de aumento

de coroa clínica

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Introdução

Hoje em dia, um sorriso estético não se baseia ape-nas em factores dentários (forma, cor, alinhamento ape-nas arcadas) mas implica também a presença de tecidos periodontais saudáveis, com um contorno gengival har-mónico. Neste sentido, a execução de restaurações estéticas, funcionais e acima de tudo biológicas, pode implicar o recurso a técnicas cirúrgicas e/ou ortodônti-cas que visam aumentar a exposição de estrutura den-tária supragengival, de modo a preservar a integridade do periodonto.1Contudo, a necessidade de aumento de

coroa clínica na zona estética nem sempre está relacio-nada com critérios restauradores, permitindo também a correcção estética de pacientes com sorriso gengival, principalmente em casos de erupção passiva alterada, e de outras assimetrias gengivais. Com base num diagnós-tico exaustivo e tendo em conta as particularidades de cada caso, cabe ao clínico escolher a técnica de aumento de coroa clínica mais adequada.2 Para isso,

importa relembrar as noções de biótipo gengival e de espaço biológico.

Biótipo gengival e espaço biológico

O biótipo gengival refere-se à espessura do perio-donto e podemos distinguir duas formas: o biótipo fino, caracterizado pela presença de uma margem gengival fina, muito festoneada, com papilas mais triangulares,

mais predisposto ao surgimento de recessões gengivais; e o biótipo grosso, que apresenta uma margem gengival mais espessa, com um contorno mais plano, mais resis-tente a agressões. Estes biótipos estão relacionados com a morfologia da crista óssea subjacente3, parecendo

exis-tir também uma relação com a anatomia coronária e

radicular dos dentes. Assim, o biótipo fino está geral-mente associado a coroas altas, de forma mais triangular, com pontos de contactos pequenos localizados no terço incisal e a raízes de contornos convexos proeminentes, que favorecem a presença de fenestrações e deiscências a nível da tábua óssea. Por sua vez, o biótipo grosso está de um modo geral associado a coroas baixas, mais qua-drangulares, com superfícies de contacto localizadas mais apicalmente e a raízes de contornos mais paralelos.4

A avaliação clínica da anatomia supra-alveloar, que inclui a margem gengival, o sulco gengival, a união dentogengival e a crista alveolar, revela-se de suma importância para o planeamento de um aumento de coroa clínica. O espaço biológico (Esquema 1) é um conceito clínico, definido pela altura da união dento-gengival5, sendo esta constituída pela aderência

epite-lial (epitélio juncional) e pela inserção conjuntiva supra-alveloar.6

O estudo de Gargiulo et al. 19617e mais tarde, o

de Vacek et al. 19948 avaliaram, em cadáveres, as

dimensões do sulco gengival, da aderência epitelial e da inserção conjuntiva, que no seu conjunto repre-sentam o complexo dentogengival (Tabela 1).

Pela análise destes estudos7,8, o espaço biológico

tem um valor médio de 2mm, em áreas sem patolo-gia periodontal. Contudo, outros autores9consideram

que o sulco gengival também deveria ser integrado no conceito de espaço biológico aumentando o seu valor médio para 2,7 – 3mm. Estes valores não devem

ser entendidos como absolutos mas sim como valores de referência, pois existe uma substancial variabili-dade intra e inter-individual do espaço biológico quando avaliado clinicamente. Neste sentido, a regra de 3mm para o espaço biológico não tem uma apli-cabilidade universal e pode mesmo, em alguns casos,

Esquema 1 Inserção conjuntiva Espaço biológico Complexo dentogengival Sulco gengival Aderência epitelial

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Tabela 1

Dimensões médias dos constituintes do complexo dentogengival (EB - Espaço biológico).

Tabela 1 Gargiulo et al., 19617 Vacek et al., 19948

Sulco gengival 0,69 mm 1,32 mm

Inserção epitelial 0,97 mm EB 1,14 mm EB

Inserção conjuntiva 1,07 mm = 2,04 mm 0,77 mm = 1,91 mm

induzir em erro.10O único método preciso para

ava-liar o espaço biológico num determinado dente consiste na sondagem da crista óssea, sob anestesia, numa zona periodontalmente sã.2

A idade do paciente, o tipo de dente e a migração dentária são alguns dos factores que influenciam a dimensão do espaço biológico. Assim, a aderência epitelial é maior em indivíduos jovens e diminui com a idade, variando também de acordo com o dente, sendo maior nos molares do que nos incisivos. O sulco gengival varia de forma similar segundo o dente, mas de modo inverso relativamente à idade. A inserção conjuntiva é a estrutura que apresenta menor variação em termos dimensionais.11Assim, nos

indivíduos mais jovens, o sulco gengival é menos pro-fundo, a aderência epitelial é maior e a crista óssea está localizada mais coronalmente. Nos indivíduos idosos sem doença periodontal, o espaço biológico encontra-se mais apicalmente, sendo o sulco gengival geralmente mais profundo, a aderência epitelial menor e localizando-se a crista alveloar numa posi-ção mais apical em relaposi-ção à junposi-ção amelo-cementá-ria (JAC).7

Importa contudo realçar que as dimensões da união dentogengival estão geneticamente determina-das e são por isso, inalteráveis. Quando violada por causas iatrogénicas, esta união irá restabelecer-se mais apicalmente, à custa da reabsorção da inserção periodontal. Neste sentido, a cirurgia de aumento de coroa clínica pretende não apenas expor estrutura dentária à custa da remoção do periodonto mais coronal, mas principalmente criar condições que per-mitam o restabelecimento da união dentogengival numa localização mais apical, preservando a integri-dade dos seus constituintes.11, 12

Indicações para o aumento de coroa

clínica

As indicações mais frequentemente citadas para o aumento de coroa clínica referem-se a procedimen-tos de cariz restaurador, nos quais a preparação den-tária pode resultar na colocação demasiado

infragen-gival das margens da restauração, violando o espaço biológico. Entre elas podemos citar:2, 10, 13

– Cáries infragengivais; – Fracturas infragengivais;

– Perfurações por tratamento endodôntico ou pela colocação de espigões radiculares (principalmente no terço coronário radicular);

– Reabsorções radiculares externas;

– Estrutura dentária inadequada para a retenção de restaurações;

– Coroas clínicas curtas por atricção dentária; – Preparos dentários pré-existentes invadindo o espaço biológico.

Para além destas, o aumento de coroa clínica tam-bém está indicado na resolução de alguns problemas estéticos, como o sorriso gengival, principalmente em casos de erupção passiva alterada, e as assimetrias do contorno gengival.2, 10, 13

Contra-indicações do aumento

de coroa clínica

Devido à natureza irreversível do aumento de coroa clínica, é imperativo que o clínico tenha bem presentes as suas contra-indicações, das quais desta-camos13:

– Dentes que, por cárie ou fracturas demasiado profundas, não podem ser restaurados;

– Proporção coroa/raiz desfavorável pós-alonga-mento, devido a raízes curtas ou ao reduzido suporte periodontal;

– A manutenção de um dente que compromete o(s) dente(s) adjacente(s) em termos estéticos e funcionais por remoção de demasiado suporte periodontal ou por exposição de furcas. Um estudo comparativo em mola-res mandibulamola-res, demonstrou que é necessária uma distância pré-operatória mínima de 4mm entre a furca e a crista óssea de modo a não correr o risco de desen-volver posteriormente uma lesão de furca;14

– Dente cujo valor estratégico não é compatível com a extensão dos procedimentos necessários à sua manutenção.

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Tabela 2

Tabela de decisão terapêutica. Adaptado de Camargo et al. 2007.2

Tabela 2

Técnicas para aumento de

coroa clínica

O aumento de coroa clínica pode ser realizado recorrendo a diversas técnicas, podendo ser divididas em dois grupos: técnicas cirúrgicas, que incluem a gengivectomia e o retalho de reposicionamento api-cal; e técnicas ortodônticas (extrusão dentária forçada com ou sem fibrotomia). Consoante as especifidades de cada caso clínico, estas técnicas poderão ser utili-zadas isoladamente ou combinadas entre si.

A selecção da técnica mais adequada depende da futura localização da margem da restauração, da localização da crista alveolar e da margem gengi-val, da quantidade existente de gengiva aderente e da quantidade de estrutura dentária disponível, assim como do número de dentes onde iremos actuar.15 Como se pode constatar, a recolha de

todos estes dados deverá resultar obrigatoriamente de uma avaliação clínica cuidada, de modo a per-mitir a elaboração de um plano de tratamento ade-quado.

Avaliação clínica e plano

de tratamento

A avaliação de um paciente para aumento de coroa clínica requer uma análise do ponto de vista de estético, periodontal e restaurador.

1) Análise da estética facial e do sorriso

A análise da estética facial e do sorriso deve incluir a avaliação da simetria facial, da linha inter-pupilar, da linha do sorriso, da relação da linha média dentária com a linha média facial, da exposição gen-gival na fala e no sorriso, da harmonia das margens gengivais, do tamanho e forma dos dentes, e dos pla-nos incisal e oclusal. Esta análise revela-se de particu-lar importância no diagnóstico diferencial dos casos de sorriso gengival, visto que o seu tratamento é subs-tancialmente diferente consoante a etiologia. Sendo assim, o sorriso gengival pode resultar de:2

– Um excesso maxilar vertical que leva a um aumento do andar médio da face. Este é um pro-blema esquelético que, consoante a gravidade, necessitará de tratamento ortodôntico, eventualmente combinado com cirurgia ortognática;

– Um lábio curto e/ou hiper-móvel, cujo trata-mento consiste no reposicionatrata-mento labial cirúrgico.

– Erupção passiva alterada, em que o tratamento de eleição é o aumento de coroa clínica recorrendo a cirurgia periodontal (Tabela 2).

2) Análise periodontal

A análise periodontal deve ser efectuada após conclusão do tratamento da patologia periodontal presente e redução da inflamação ao mínimo.4Como

já foi referido anteriormente, o método mais preciso para avaliar o espaço biológico num determinado

Alongamento Coronário Dente isolado Vários dentes contíguos Sorriso gengival Restaurador Restaurador Excesso maxi-lar vertical Lábio curto e/ou hipermóvel Erupção dentária alterada Extrusão ortodôn-tica com ou sem fibrotomia Cirurgia periodonal + cirurgia óssea Ortodôncia Cirurgia de reposicionamento labial Cirurgia periodontal + cirurgia óssea

Eventual cirurgia periodontal localizada, se ocorrer movi-mento coronário da margem gengival

Eventual cirurgia ortognática Motivo Técnica Combinação com...

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Técnica cirúrgica Profundidade Distância da JAC Banda de gengiva Cirurgia óssea do sulco gengival à crista alveolar aderente

Fig. 2 Fig. 3

Fig. 1

dente consiste na sondagem da crista óssea sob anes-tesia numa zona periodontalmente sã. Assim, recor-rendo a uma sonda periodontal, deve-se medir a pro-fundidade do sulco gengival, determinar a localiza-ção da crista óssea e a sua relalocaliza-ção com a JAC, em todas as faces do(s) dente(s) que irão ser sujeitos ao procedimento de aumento da coroa clínica.

Em adultos jovens com periodonto são, a margem gengival localiza-se a cerca de 1mm para coronal da JAC, conferindo ao sulco gengival uma profundidade média de 1mm. Nos casos em que o sulco gengival se apresenta mais profundo (3 - 4mm) e o tecido gengi-val é fibroso, o aumento de coroa clínica cirúrgico é a solução terapêutica mais indicada, estando a escolha da técnica cirúrgica dependente da relação entre a crista óssea e a JAC. Assim, se a crista óssea estiver localizada 2mm para apical da JAC, a gengi-vectomia será a mais indicada. Pelo contrário, se a distância da crista óssea à JAC for inferior, o procedi-mento correcto será a realização de um retalho de reposicionamento apical com osteotomia, de modo a restabelecer o espaço biológico (Tabela 3). Importa, todavia, sublinhar que estas opções cirúrgicas apenas deverão ser executadas em casos onde exista simetria no nivelamento das junções amelo-cementárias, par-ticularmente nos incisivos centrais maxilares.11

Outro aspecto a ter em conta é a avaliação da

quantidade de gengiva aderente, principalmente se estão programadas restaurações com margens infra-gengivais, ou melhor, intracreviculares. Nestes casos, é recomendada a preservação de uma banda mínima de 2mm de gengiva aderente necessária à estabili-dade periodontal9. Assim, se a quantidade de gengiva

aderente existente é mínima (≤ 2mm), a gengivecto-mia está contra-indicada, devido ao risco de criação de um defeito muco-gengival, sendo o retalho de reposicionamento apical a técnica de eleição nesta situação particular (Tabela 3).4, 16

Adicionalmente, deverão realizar-se radiografias intraorais para determinar o nível ósseo, a forma e a proximidade das raízes.15

3) Análise restauradora

Sob o ponto de vista restaurador e sobretudo nas zonas estéticas, o aumento de coroa clínica deve compreender a elaboração prévia de um encera-mento de diagnóstico que mimetize os resultados a alcançar, nomeadamente a forma e o tamanho das futuras restaurações.2, 15, 17Tendo por base este

encera-mento de diagnóstico, e particularmente nos casos que englobam mais do que um dente, deve-se confeccionar uma guia cirúrgica (Figs 1, 2, 3), a qual apresenta diversas vantagens:13, 17

– Permitir a localização intra-oral dos bordos

inci-Figura 1

Modelo de estudo maxilar, referente ao caso clínico a apresentar na ilustração de cirurgia de retalho reposicionado apicalmente (Figs. 7 a 24).

Figura 2

Modelo alterado após desgaste, de modo a prever o resultado final da cirurgia de retalho reposicionado apicalmente.

Figura 3

Guia cirúrgica confeccionada sobre o modelo alterado.

Tabela 3

Critérios para escolha da técnica cirúrgica periodontal.

Gengivectomia 3 a 4mm ≥ 2mm Larga Não

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Figura 4

Assimetria das margens gengivais dos dentes 11 e 21.

Figura 5

Gengivectomia na margem do dente 11.

Figura 6

Cicatrização aos 6 meses.

Fig. 5

Fig. 4 Fig. 6

sais e das margens das restaurações, o que é particu-larmente importante quando não existe estrutura den-tária suficiente para a colocação de uma restauração provisória prévia;

– Fornecer uma antevisão da forma e proporção dos dentes, permitindo a participação do paciente na avaliação estética da reabilitação a executar;

– Facilitar a comunicação entre profissionais, no caso dos procedimentos cirúrgico e restaurador serem executados por clínicos diferentes;

– Possibilitar a avaliação da gengiva aderente remanescente, contribuindo assim para a escolha da técnica cirúrgica;

– Guiar o traçado da primeira incisão durante a cirurgia, facilitando a reprodução do festoneado gen-gival elaborado no enceramento;

– Permitir a avaliação da quantidade de osso a eli-minar durante a cirurgia óssea e guiar a osteotomia, de modo a que esta seja adequada ao plano restaura-dor pré-estabelecido;

– Favorecer a avaliação radiográfica prévia da futura proporção coroa/raiz, quando confeccionada num material radiopaco.

Resumindo, a utilização de uma guia cirúrgica aumenta a previsibilidade do resultado final.

Nos casos de cariz restaurador, para além da guia cirúrgica, e sempre que possível, deve–se previa-mente executar as restaurações provisórias dos dentes que vão ser sujeitos ao aumento de coroa clínica. Estas restaurações, quando devidamente confeccio-nadas, irão permitir reduzir o componente inflamató-rio presente a nível da união dentogengival e avaliar a resposta tecidular antes da selecção da técnica cirúrgica.15Para além disso, a remoção das

restaura-ções provisórias no momento da cirurgia facilitará o acesso às áreas interproximais e, por conseguinte, a eventual osteotomia a realizar nessas zonas.2, 15

Técnicas ortodônticas

Em algumas situações clínicas, o sucesso estético da restauração pode estar dependente da manutenção do nível da margem gengival ou da sua alteração para uma posição mais favorável. Noutras, o sucesso fun-cional depende da manutenção da proporção coroa/raiz, assim como da integridade do suporte periodontal dos dentes adjacentes. Nestes casos, as técnicas ortodônticas apresentam claras vantagens sobre as cirúrgicas, principalmente no aumento de coroa clínica de dentes isolados (Tabela 2). A erup-ção/extrusão dentária forçada, quando efectuada de um modo lento e contínuo, permite a migração de todo o periodonto juntamente com o movimento coro-nal do dente, conseguindo-se assim nivelar margens gengivais e também corrigir defeitos ósseos angulares. Contudo, no final da extrusão lenta, poderá ser neces-sário proceder a um recontorno ósseo localizado para expor mais estrutura dentária. Contrariamente, com a extrusão ortodôntica rápida associada a fibrotomia das fibras supracrestais, consegue-se um aumento de coroa clínica sem alteração da margem gengival, pois os teci-dos periodontais não são deslocateci-dos coronalmente. A principal desvantagem da erupção dentária forçada refere-se ao decrescente diâmetro da raiz extruída. Isto é, devido à sua forma cónica, a raiz apresentará ao nível da margem gengival um diâmetro inferior ao dente contra-lateral correspondente. Consequente-mente, esta discrepância poderá ser compensada pelo perfil de emergência da restauração.2, 15

(7)

Descrição das técnicas cirúrgicas

periodontais

Gengivectomia

A gengivectomia18 é um procedimento cirúrgico

simples que foi desenvolvido com o objectivo de eli-minar bolsas periodontais supra-ósseas, pela excisão dos tecidos moles. Contudo, hoje em dia, a sua indi-cação resume-se ao tratamento de hipertrofias gengi-vais podendo ser realizada a bisel externo ou a bisel interno11(Figs. 4 a 6).

Numa situação de aumento de coroa clínica, a téc-nica de gengivectomia apenas está indicada quando a distância entre a crista óssea e a margem gengival for muito superior a 4mm, de modo a que a crista óssea se localize a mais de 3mm da futura margem gengival, res-peitando o espaço biológico e preservando ainda uma banda suficiente de gengiva aderente.11 Como já foi

anteriormente referido, em zonas onde a banda de gen-giva aderente é mínima (cerca de 2mm), a gengivecto-mia está contra-indicada, pelo risco de criação de um defeito mucogengival.16A principal limitação desta

té-cnica é o facto de não permitir o acesso à crista

alveo-lar. Assim, em zonas onde o recontorno ósseo seja necessário, a simples eliminação dos tecidos moles por gengivectomia apenas produzirá um aumento de coroa clínica temporário, uma vez que após a cicatrização, estes tecidos recuperam a sua dimensão geneticamente pré-determinada, não resultando qualquer ganho de altura na coroa clínica. Este “alongamento coronário ilusório” pode induzir o clínico a executar uma restau-ração com a margem demasiado próxima da crista alveolar, violando assim o espaço biológico.2

Retalho reposicionado apicalmente

A cirurgia de retalho reposicionado apicalmente, também chamada de retalho posicionado apical-mente, foi desenvolvida inicialmente para eliminar bolsas periodontais e preservar a banda de gengiva aderente, uma vez que possibilita a cirurgia óssea res-sectiva. Actualmente, esta técnica também tem como indicação os casos de aumento de coroa clínica em múltiplos dentes adjacentes. Para além de conservar o tecido queratinizado existente, deslocando-o para uma posição mais apical, outro objectivo é possibili-tar acesso ao osso alveolar, permitindo efectuar a

Figura 7

Análise estética do sextante anterior: coroas clínicas quadradas, margem gen-gival espessa pouco festoneada e exten-sa banda de gengiva aderente.

Figura 8

Sorriso gengival por erupção passiva alterada.

Figura 9

Medição da altura da coroa clínica – 8mm.

Figura 10

Sondagem ao osso (sob anestesia) – 4mm.

Fig. 10 Fig. 9

(8)

Fig. 18 Fig. 19 Fig. 17

Figura 11

Colocação da guia cirúrgica, prevendo a localização da nova margem gengival. É possível identificar a quantidade de tecido gengival que se pretende eliminar.

Figura 12

Pormenor da marcação, na superfície gengival, da nova margem gengival. Importa sublinhar que durante este procedimento a guia tem que estar bem adaptada nos bordos incisais.

Figura 13

Demarcação dos pontos que delineiam a incisão primária.

Figura 14

Incisão primária em bisel interno, festoneada, unindo os pontos marcados.

Figura 15

Após terminada a incisão e removido o colar de tecido gengival.

Figura 16

Descolamento do retalho de espessura total.

Figura 17

Medição da distância do bordo incisal à crista óssea (12mm). Neste dente verifica-se que a crista óssea se situa praticamente sobre a JAC.

Figura 18

Osteotomia e osteoplastia com brocas diamantadas, com irrigação abundante.

Figura 19

Osteoplastia com lima de Sugarman, de modo a recriar as depressões

interradiculares. Fig. 13 Fig. 12 Fig. 11 Fig.16 Fig. 15 Fig. 14

(9)

Figura 20

Terminada a cirurgia óssea, verifica-se a distância da crista óssea à JAC, sendo de 2,5mm.

Figura 21

Sextante anterior após a osteotomia/osteoplastia.

Figura 22

Controlo com a guia cirúrgica para verificar distância à crista óssea.

Figura 23

Após adaptação preliminar do retalho, verifica-se a distância da crista óssea à margem gengival.

Figura 24

Sutura do retalho reposicionado apicalmente, recorrendo a pontos de colchão verticais internos nos espaços interdentários, sendo o nó colocado por palatino (6/0 ácido poliglicólico).

Figura 25

Imagem clinica inicial (a cinzento) e de um controlo aos 3 meses após a cirurgia. Fig. 21 Fig. 20 Fig. 23 Fig. 22 Fig. 24 Fig. 25

(10)

remodelação óssea necessária ao restabelecimento do novo complexo dentogengival (Figs. 7 a 24).

Os passos gerais deste procedimento cirúrgico, descritos por Friedman (1962)19, podem, quando

apli-cado aos casos de aumento de coroa clínica, e espe-cialmente em zonas estéticas, sofrer pequenas adap-tações de acordo com os objectivos particulares de cada caso. O procedimento inicia-se por uma incisão intrasulcular, festoneada, até contacto ósseo, preser-vando assim o tecido queratinizado. Nos casos em que também se tem por objectivo diminuir a espes-sura e/ou altura exagerada da gengiva aderente, pode optar-se pela realização de uma incisão paramarginal em bisel interno, a qual resultará na excisão de uma porção de tecido gengival marginal. A extensão proximal do retalho depende da amplitude do alon-gamento, sendo que quanto mais apical for o deslo-camento, mais o retalho deverá ser estendido, de modo a harmonizar os contornos gengivais dos dife-rentes dentes envolvidos. A guia cirúrgica realizada previamente, é fundamental para a localização desta incisão.

Nas extremidades mesial e distal da primeira, efectuam-se incisões de descarga verticais ou ligeira-mente divergentes para apical, penetrando profunda-mente na mucosa alveolar e ultrapassando a linha muco-gengival, de modo a permitir, no final, o repo-sicionamento apical do retalho sem qualquer prega. Contudo, sempre que possível, devem evitar-se as incisões de descarga no sextante anterior por implica-rem um compromisso estético.

Procede-se então ao descolamento do retalho mucoperióstico, de espessura total, expondo a super-fície óssea vestibular alguns milímetros, de acordo com a extensão da correcção óssea a efectuar. Para além desse ponto inicia-se a dissecção do retalho em espessura parcial, de forma a manter o periósteo recoberto por tecido conjuntivo gengival. Nesta fase é necessário ter especial atenção para evitar a perfu-ração do retalho.

De acordo com os princípios da cirurgia óssea ressectiva, procede-se então à correcção óssea. Geralmente há uma combinação entre osteotomia (eliminação de osso de suporte, onde se inserem fibras de Sharpey) e osteoplastia (remodelação do contorno e espessura ósseos), recorrendo a instru-mentos rotativos e manuais. A extensão da excisão óssea deverá ter sido previamente avaliada, tendo em conta o valor inicial do espaço biológico

acres-cido do aumento de coroa pretendido, como já foi explicado previamente.

Restabelecidas as dimensões e relações deseja-das, o retalho é posicionado apicalmente na sua nova posição e suturado. Geralmente, está recomendada a utilização de pontos de sutura interdentários, em col-chão vertical, entre a gengiva aderente vestibular e a mucosa palatina.20

Maturação pós-cirúrgica

Um dos aspectos importantes do aumento de coroa clínica prende-se com a estabilidade pós-ope-ratória da margem gengival durante o período de cicatrização. Este ponto reveste-se ainda de alguma controvérsia, com resultados que vão desde a reces-são gengival,21passando pela estabilidade da margem

gengival,21, 22 até à sua migração coronária.23, 24

Todavia, apesar destas divergências, existe algum consenso no tempo de espera para a finalização das restaurações. Assim, nas áreas onde a estética é pre-ponderante, a maioria dos autores recomenda um período de cicatrização mínimo de 6 meses para o posicionamento final da linha de acabamento cervi-cal e para a toma de impressões definitivas,12, 21

havendo, no entanto, quem aconselhe esperar 12 meses.23, 25 Recentemente, um estudo clínico

contro-lado22 demonstrou que, após um aumento cirúrgico

de coroa clínica, o espaço biológico restabelece a sua dimensão vertical original ao fim de 6 meses, validando assim o período de cicatrização sugerido previamente por outros autores.

Durante a fase de cicatrização, existe algum grau de exposição radicular, assim como das margens das restaurações provisórias, facto nem sempre bem tole-rado pelos pacientes, por motivos estéticos.2 No

entanto, é desaconselhada a execução de qualquer tratamento restaurador durante, pelo menos, as pri-meiras 6 semanas de cicatrização,21 sob o risco de

perturbar a cicatrização da união dentogengival, pela introdução inadvertida de material restaurador. Após este período, poder-se-á executar uma preparação intermédia das coroas e o rebasamento dos provisó-rios. Contudo, a nova linha de acabamento cervical, temporária, não deverá ficar a menos de 4mm da crista óssea, de modo a não violar o espaço biológico em formação. Como já foi referido anteriormente, a posição final da linha de acabamento cervical deverá aguardar a maturação completa dos tecidos.2

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