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PET/ FILOSOFIA UFPR. (Fichamento de parte do capítulo II, do livro Do Mundo Fechado Ao Universo Infinito, de Alexandre Koyré) Giordano Bruno

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PET/ FILOSOFIA – UFPR

Bolsista: Coniã Costa Trevisan

Data: 26.03.2014

(Fichamento de parte do capítulo II, do livro Do Mundo Fechado Ao Universo Infinito, de Alexandre Koyré)

*

Giordano Bruno

Dando continuidade a sua explicação das concepções de Giordano Bruno, Alexandre Koyré complemente que além do principio de plenitude existem outras duas ideias que são importantes para entender as concepções do italiano. A primeira delas é o principio de razão suficiente – nomeado por Leibniz, mas, segundo Koyré, já utilizado por Bruno. A segunda é a mudança da cognição sensual para a cognição intelectual.

Nessa linha, Alexandre Koyré cita Filoteo, personagem do dialogo L'infini L'univers et Les Mondes, de Bruno (segundo Koyré, Filoteo seria a voz de Bruno no diálogo): “nenhum sentido corporal pode perceber o infinito. Não podemos esperar que nenhum de nossos sentidos chegue a tal conclusão; pois o infinito não pode ser o objeto

da percepção sensível (sense-perception)”1 e “ademais, eles [os sentidos] anunciam e

confessam sua própria debilidade e inadequação pela impressão que nós dão de um

horizonte finito, uma impressão, aliás, que está sempre mudando”2

; Bruno continua, afirmando que se não podemos depender dos sentidos se quer para se entender o globo

1

KOYRÉ, Alexandre. From the closed world to the infinite universe. Baltimore: T. J. Hopkins Press, 1957. pg. 45.

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em que vivemos (impressão de horizonte finito), como podemos confiar neles para as questões que envolvem o universo? Assim percebemos que, para o autor, os sentidos não são fonte certa para esse tipo de conhecimento.

Na continuação do dialogo, Elpino, após receber a resposta que a verdade não se encontra nos sentidos, pergunta à Filoteo onde estaria a verdade, obtendo a resposta que ela se encontraria “no objeto sensível como em um espelho, na razão, pelo processo de argumentação e discussão. No intelecto, ou pela origem ou pela conclusão. Na

mente, em sua forma própria e vital.”3

. Vemos assim que a maneira para obter a verdade não se encontra na percepção sensível, que, de fato, nos engana; mas sim no objeto, que serve como uma imagem (espelho), que pode ser compreendida pelo intelecto, pela razão e pela mente.

Tendo esclarecido esses pontos iniciais, Koyré passa as criticas de Bruno às concepções aristotélicas de espaço e universo: “Se o mundo é finito, e fora dele não há nada, eu vos pergunto, onde está o mundo? Onde está o universo? Aristoteles respondeu: ele está nele mesmo. A superfície convexa do céu (heaven) primordial é o

espaço universal, o qual, sendo o container primordial, é contido pelo nada.”4 Isto é,

segundo Bruno, se o mundo tem um fim, existe “algo” fora dele, mesmo que esse “algo” seja o nada, e, portanto, a resposta de que “o mundo está nele mesmo” é insuficiente. O italiano adiciona:

“Se vós irá escusar-vos, afirmando que onde não há nada, e nada existe, não pode haver questão de posição no espaço, nem além, nem fora, não me satisfarei. Pois essas são meras palavras e desculpas que não podem fazer parte do nosso pensamento [...] é impossível, afirmo, que eu possa dizer, com sentido verdadeiro, que exista tal superfície, termo ou limite além do qual não existe corpo ou espaço vazio, ainda que Deus esteja lá. ”5

Em outras palavras, dizer que nada existe fora do universo - e que por nada existir lá, não há espaço - são palavras vazias, sem sentido, que não explicam o universo e, portanto, devem ser ignoradas. A conclusão que se segue é: se não é possível que seja dessa forma, é necessário que não exista “espaço vazio”. Podemos tirar dai que o espaço é infinito. Nesse viés, Koyré afirma que, para Bruno, podemos fingir que o mundo

3 Ibid. pg. 46 4 Id. 5 Ibid. pg. 46-47.

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contém tudo o que existe, mas isso é impensável e imaginável; “fora” do mundo ainda haverá espaço.

Contudo, para Alexandre Koyré, tal critica está errada, pois ela parte de uma concepção geométrica do espaço, sendo que, para Aristóteles, o espaço é um lugar continuum (place-continuum)6. Nesse sentido, Bruno repete a objeção clássica: o que ocorreria se alguém esticasse sua mão através da superfície do céu (hevaven)? Burchio, um dos personagens do seu dialogo responde que “a mão não ocuparia nenhum posição

no espaço, nem lugar algum, consequentemente, não existiria.”7

. Koyré explica que tal resposta é baseada no entendimento da concepção de tal superfície Aristotélica como uma simples concepção matemática, assim sendo algo que não opõem resistência, mas, pela visão de Bruno, mesmo que opusesse resistência, ainda teríamos a questão do que há após tal superfície.

Em outras palavras, pra Giordano Bruno, um universo fechado não faz sentido, pois sempre poderíamos perguntar o que há após seus limites, assim chegaríamos à conclusão, um tanto absurda, que após tal fronteira haveria o Vazio (Void), que não possuiria limites externos mesmo tendo um limite interno (o universo fechado); o que,

segundo o italiano “é mais difícil de imaginar que um universo infinito ou imenso”8

. Tal concepção de mundo finito levantaria ainda a questão de porque o espaço em que existe o mundo foi o escolhido para “sediar” o mundo, isto é, o lugar escolhido no espaço (no Vazio) para “sediar” o mundo se torna uma escolha ao acaso, isso porque, o espaço é igual (homogêneo) em todos os lugares.

Nessa linha, Alexandre Koyré no diz que:

“Nos somos, portanto, forçados a admitir que não só o espaço, mas também estar no espaço é, em todo lugar, constituído do mesmo modo, e que se na nossa parte do espaço infinito existe um mundo, um sol-estrela cercado por planetas, é o mesmo em todo lugar no universo”9.

Ou seja, saindo do próprio “universo” finito, chegamos ao universo infinito, pois aquilo que chamamos de universo na concepção finita é na verdade apenas o nosso

6

Que concepção de espaço era essa?

7

KOYRÉ, Alexandre… pg.47.

8 Ibid. p.48. 9

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mundo, que está no espaço (Vazio) que deve (segundo o principio de plenitude, segundo a impossibilidade de limitar a criação divina) conter muitos outros mundos.

Giordano Bruno adiciona ainda que assim como seria mal (ill) que o nosso espaço não estivesse repleto – que ele não existisse -, não seria um mal menor que a totalidade do espaço não estivesse repleta. Isto é, assim como seria impensável um mundo fechado que não estivesse povoado, ou repleto, um espaço infinito que não estivesse povoado também seria impensável. Assim o espaço infinito, que, segundo as concepções de Bruno, existe já no “mundo fechado” se torna um universo infinito, em outras palavras, o próprio “universo infinito” surge do “mundo fechado”. Nas palavras de Elpino, personagem do dialogo de Bruno:

“Pois a existência de um não é menos razoável que a de outro; e a existência de muitos não menos que a de um ou de outro; e a existência da infinidade deles não menos que a existência de um número grande deles. Portanto, assim como a abolição e a não-existência desse mundo seriam um mal, assim também o seria para inumeráveis outros”

Em seguida, Koyré passa a uma analise do porque, segundo Bruno, nós não seriamos capazes de detectar e ver esses outros planetas e mundos. Segundo o primeiro, apesar de cientificamente errada, a resposta de Giordano Bruno é boa. Tal resposta se baseia no fato de só conseguirmos ver os “astros” maiores, os sóis; quanto aos outros, por serem muito pequenos, parecem invisíveis a nós.

O que levanta a questão de se todas as estrelas seriam sóis com suas respectivas “Terras” os orbitando. Koyré defende que, a resposta, diferentemente da esperada é prudente: é impossível saber ao certo, pois “a grandes distancias, mudanças na posição são difíceis de serem detectadas, assim como acontece aos navios que observamos em

mar aberto”10

; contudo, dado que o universo é infinito (e o principio de plenitude), devem existir outros sóis.

Alexandre Koyré levanta então a objeção clássica de que o conceito de infinito só pode ser aplicado a Deus. A resposta de Bruno, segundo Koyré, é que existe uma

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grande diferença entre o infinito “simples” de Deus e o infinito extenso e múltiplo do

universo, assim, “comparado a Deus, o universo é um mero ponto, um nada.”11

Nas palavras de Bruno: “E porque deveria ser que o infinito, que é implícito na simples e indivisível Origem Primordial, não se expresse em sua própria imagem infinita e sem

limites, ao invés de se exprimir entre limites tão estreitos?”12. Isto é, é mais apropriada a

Deus, dada a sua infinitude, se exprimir em um universo também infinito do que em um universo finito. Contudo, isso não quer dizer que o infinito do mundo e o de Deus são o mesmo infinito - ou o mesmo tipo de infinito - pois “parece, de fato, vergonhoso refutar que esse mundo, que parece a nós tão vasto, pode parecer a Deus como um mero ponto,

até mesmo um nada?”13

.

Koyré, explicando pelos princípios de razão suficiente e de plenitude, diz que “a criação divina, para ser perfeita e digna do seu criador deve conter tudo que é possível, isto é, inumeráveis seres individuais, inumeráveis Terras, inumeráveis sóis e estrelas – portanto, nós podemos dizer que Deus precisa de um espaço infinito para

colocar nele seu mundo infinito.”14

Alexandre Koyré passa então a uma citação de Giordano Bruno que serve como resumo e retomada dos pontos principais. Assim, resumidamente, Bruno nos diz, através de Filoteo, que o universo deve ser infinito pela aptidão do espaço infinito; que ainda esta para ser provada a possibilidade e conveniência da aceitação da existência de inumeráveis mundos; que a causa eficiente do universo deve sempre produzi-lo como ele é; que, pelas condições do nosso modo de entendimento, o espaço infinito é similar

ao que vemos15; e que faz mais sentido pensarmos em Deus se exprimindo em um

universo infinito que em universo finito, nas palavras de Filoteo: “Por que vos desejais que Deus deva em poder, em ato e em efeito (o que nele são idênticos) ser determinado como o limite da convexidade de uma esfera, ao invés que ele deva ser, como podemos

dizer, o limite indeterminado do sem limites”16

. Nesse viés, Bruno termina com a recusa da objeção clássica de que o infinito é inacessível e incompreensível, pois, em fato, o infinito é necessário e é a primeira coisa que cai sob o intelecto (cadit sub intellectus).

11

Ibid. pg. 52.

12 Id. 13

´KOYRÉ, Alexandre. From… pg.52.

14

Id.

15 Tentar argumentar o contrário acabaria, em ultima instancia, destruindo o próprio argumento. 16

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Considerações finais e influência:

Tendo apresentado sua interpretação do pensamento de Giordano Bruno, Alexandre Koyré passa a uma analise de onde se encontraria tal pensador na transição do “mundo fechado” ao “universo infinito”. Assim, Koyré defende que o italiano não é um filosofo muito bom, pois “a mistura de Lucrécio e Nicolau de Cusa não produz uma

mistura muito consistente”17. Ademais, Bruno não seria um cientista muito bom, pois

sua cosmologia seria tanto estranha, com concepções vitalistas e magicas, assim, “não

há meios de considera-lo um moderno”18. Todavia, Koyré admite que seu rascunho das

ideias de Giordano Bruno é um tanto incompleto e unilateral. E, apesar de suas criticas contra o pensador, Alexandre Koyré afirma que as objeções de Bruno contra as concepções clássicas do “mundo fechado” são muito boas. Além disso, dado sua grande influência nos modernos, “nós não podemos, se não, atribuir a Bruno um lugar muito

importante na história da mente humana.”19

Tendo essas considerações em mente, Alexandre Koyré, nos diz sobre a influência de Bruno nos autores posteriores. Partindo da ideia de que suas ideias eram muito avançadas para sua época - só com Galileo e o advento do telescópio, que as ideaid de Bruno começaram a ser aceitas -, Koyré afirma que o autor não deve ter tido muita influência em seus contemporâneos. Contudo, Kepler ligou as concepções acerca do universo infinito de Giordano Bruno com as de William Gilbert.

William Gilbert

Segundo Koyré, a relação proposta por Kepler é plausível, pois “a critica sistemática da cosmologia aristotélica [feita por Bruno] pode ter impressionado

Gilbert.”20 Contudo, esse seria, basicamente, o único ponto em comum entre a

metafisica de Bruno e a “filosofia magnética”21

de Gilbert. Portanto, existem outros lugares para a possível origem das visões cósmicas de William Gilbert. Nesse viés, Koyré comenta que ver essa origem em Thomas Digges, como alguns fazem, também

17 Ibid. pg. 54. 18

KOYRÉ, Alexandre. From the… pg.54.

19

Id.

20 Ibid. pg. 55. 21

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faz sentido, todavia, se esse for o caso, Gilbert rejeitou a ideia de Digges de céu (heaven) teológico.

Contudo, em ambos os casos, nos diz Koyré, Gilbert não foi totalmente convencido por esses autores da cosmologia copernicana, pois ele teria aceitado somente a parte menos importante, a revolução diária (rotação) da Terra. O que não quer dizer que Gilbert tenha rejeitado a revolução anual (translação) da Terra, ele simplesmente a ignora. Assim, William Gilbert dedica paginas de seu livro a explicação da rotação a partir da filosofia magnética, em quanto ignora a translação.

Além disso, tal autor rejeita a concepção Aristotélica e Ptolomaica de esfera

celestial. Contudo, tal tarefa se torna mais simples, pois Tycho Brahe22 já havia

“destruído” tal esfera, assim “em contradição com Copérnico, [Gilbert] pode muito mais

facilmente dispensar a perfeitamente inútil esfera das estrelas fixas.”23

Nesse viés, William Gilbert, em sua critica da ideia geocêntrica e da esfera das estrelas, se pergunta quem foi que decidiu que todas as estrelas estão em apenas uma esfera, e quem foi que estabeleceu a existência de esferas reais (como se fossem esferas adamantinas), afinal, tal ideia nunca foi provada. Continuando a critica, Gilbert nos diz que: “assim como os planetas estão a distanciais desiguais da Terra, o mesmo ocorre

com as vastas e múltiplas luzes separadas da Terra por altitudes remotas e variantes;”24

. Isto é, assim como os planetas eram colocados em céus e esferas diferentes (órbita de Saturno, ou Jupiter, por exemplo) devido a sua distancia da Terra, o que garante que, caso tal concepção fosse correta, o mesmo não aconteceria com as estrelas no último céu – não deveríamos ter várias orbitas/esferas para essas estrelas?

Ademais, considerando essas grandes variações de distancia - “localizadas no céu (heaven) a distâncias variáveis, seja no mais fino éter, ou na mais sutil

quintessência, ou no nada (Void)”25 – como seria possível a tais estrelas manterem a

mesma posição durante a revolução da esfera?

Gilbert termina afirmando que “não pode haver movimento do infinito e de um corpo infinito, e, portanto, nenhuma rotação (diurnal revolution) do Primum Mobile26”27. Além da critica ao modelo tradicional, podemos perceber também a

22

Em linhas gerais, quem foi?

23 KOYRÉ, Alexandre. From... pg. 56. 24

Id.

25

Ibid. pg. 56-57.

26 A última esfera na concepção geocêntrica. 27

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afirmação de um modelo de universo infinito. Assim, a critica ao modelo geocêntrico parece ser feita partindo do pressuposto que o universo é infinito, e, portanto, mesmo no geocentrismo, o modelo deve dar conta da infinitude do universo, o que não é o caso.

Koyré continua (na nota 47), comparando Tycho Brahe e Copérnico a William Gilbert. Em linhas gerais Alexandre Koyré nos diz que Gilbert, em sua obra, não afirma a veracidade do modelo heliocêntrico, mas ele posiciona o Sol no centro do mundo em movimento (moving world); assim, Koyré explica que é possível que o interesse de Gilbert não estivesse em explicar o movimento anual da Terra – ainda mais em um livro dedicado a uma nova filosofia sublunar. Contudo, se tal fosse o caso não haveria motivos para William Gilbert evitar tão cautelosamente afirmar a cosmologia Copernicana. Koyré conclui que: “parece, portanto, que Gilbert ou não estava muito

interessado no problema, ou era cético sobre a possibilidade de alcançar a solução”28.

Bibliografia:

KOYRÉ, Alexandre. From the Closed World to the Infinite Universe. Baltimore: T. J. Hopkins Press, 1957

KOYRÉ, Alexandre. Do Mundo Fechado ao Universo Infinito. 4. ed. Rio de Janeiro: F. Universitária, 2006.

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