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PET Nº /DF - INQ Nº 1258/DF REQUERENTE : MPF REQUERIDAS : ILONA REIS E OUTRA RELATOR : EXMO. SR. DR. MIN. RELATOR OG FERNANDES - CORTE ESPECIAL

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA

Nº 663/2021/AJCRIM/PGR/LMA

PET Nº 13.972/DF - INQ Nº 1258/DF

REQUERENTE : MPF

REQUERIDAS : ILONA REIS E OUTRA

RELATOR : EXMO. SR. DR. MIN. RELATOR OG FERNANDES -

CORTE ESPECIAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR,

O Ministério Público Federal, pela Subprocuradora-Geral da República signatária, diante das alterações legislativas promovidas pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), vem expor e requerer o que adiante se segue.

Ab initio, é importante consignar que se encontram presas

preventivamente, atualmente, no bojo da presente ação cautelar, as acusadas ILONA REIS e LÍGIA CUNHA.

Em 14 de dezembro de 2020, foram desencadeadas a sexta e sétima etapas ostensivas das investigações realizadas no âmbito

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Operação Faroeste, com o cumprimento de mandados de busca e

apreensão em desfavor de AMANDA SANTIAGO ANDRADE SOUSA, ARTHUR GABRIEL RAMOS BARATA LIMA, DIEGO FREITAS RIBEIRO, EDIENE SANTOS LOUSADO, FABRÍCIO BOER DA VEIGA, GABRIELA CALDAS ROSA DE MACEDO, ILONA MARCIA REIS, IVANILTON SANTOS DA SILVA, IVANILTON SANTOS DA SILVA JÚNIOR, JOÃO BATISTA ALCÂNTARA FILHO, JOSÉ ALVES PINHEIRO, LÍGIA MARIA RAMOS CUNHA LIMA, MARCELO JUNQUEIRA AYRES FILHO, MAURÍCIO TELES BARBOSA, RONILSON PIRES DE CARVALHO e RUI CARLOS BARATA LIMA FILHO, e de prisão temporária em relação à ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, sendo que, em relação à LÍGIA CUNHA, determinou-se o seu cumprimento em regime domiciliar.

Posteriormente, as Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA tiveram suas prisões preventivas decretadas, impondo-se ao fiscal da lei, nesse momento, a respectiva reavaliação, ante o decurso do prazo de 90 (noventa) dias, da (des)necessidade de manutenção da custódia cautelar.

Com efeito, evitando qualquer tipo de alegação superveniente de nulidade, é curial acentuar que a segregação

provisória das Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA é imprescindível para normal colheita de provas, garantia da ordem

pública e aplicação da lei penal, vez que demonstrada está a prova da materialidade delitiva e latentes são os indícios de sua autoria.

Assim sendo, diante da singularidade da situação prisional das Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, didática revela-se a atualização do contexto processual, da conjuntura prisional de cada uma frente a novel legislação e da inexistência de alteração no contexto fático idônea a credenciar a revogação de suas prisões.

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I. DO PANORAMA PROCESSUAL ATUAL

A APN nº 940/DF apura a prática dos crimes de lavagem de dinheiro e pertinência em organização criminosa, em que gravitavam 03 (três) núcleos de investigados: a) núcleo judicial, onde operaram desembargadores, magistrados e servidores do Tribunal de Justiça da Bahia, b) núcleo causídico, que tinha

advogados fazendo a intermediação entre os julgadores e produtores

rurais, e c) núcleo econômico, que contava com produtores rurais, todos com a manifesta intenção de negociar decisões, em especial, para legitimação de terras no oeste baiano.

A inicial acusatória descreveu que GESIVALDO BRITTO, JOSÉ OLEGÁRIO, MARIA DA GRAÇA OSÓRIO, MARIA DO SOCORRO, SÉRGIO HUMBERTO, MÁRCIO BRAGA e MARIVALDA MOUTINHO atuaram, de 03/07/2013 a 19/11/2019, no exercício da judicatura, contando com o apoio dos seus operadores ANTÔNIO ROQUE, KARLA LEAL, JÚLIO CÉSAR e MÁRCIO DUARTE, para atender os interesses do grupo liderado por ADAILTON MATURINO e seus comparsas GECIANE MATURINO, JOSÉ VALTER e seu filho JOÍLSON GONÇALVES, todos integrantes da mesma organização criminosa, tendo como epicentro a disputa judicial por valiosas glebas de terra situadas no oeste da Bahia, com recursos que atingem um bilhão de reais.

Na APN nº 953/DF, foram acionados JÚLIO CÉSAR1,

SANDRA INÊS RUSCIOLELLI, VASCO RUSCIOLELLI, VANDERLEI CHILANTE e NELSON JOSÉ VIGOLO, todos, com exceção do primeiro e último, presos no dia 24/03/2020, num cenário em que a corrupção

continuava a pleno vapor, mesmo após a deflagração da Operação

1JÚLIO CÉSAR firmou Acordo de Colaboração com a Procuradoria-Geral da República,

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Faroeste.

A APN nº 953/DF aborda a promoção e integração de

organização criminosa composta pelo advogado JÚLIO CÉSAR, a

Desembargadora SANDRA INÊS RUSCIOLELLI, seu filho VASCO RUSCIOLELLI, o advogado VANDERLEI CHILANTE e o produtor rural NELSON JOSÉ VIGOLO, representante da BOM JESUS AGROPECUÁRIA, para enfrentar o grupo encabeçado por ADAILTON MATURINO, no período compreendido entre o final de 2017 a 24/03/2020.

Em outra vertente, foram descritos, na APN nº 965/DF, os atos de corrupção e de lavagem de ativos, envolvendo GECIANE MATURINO, ADAILTON MATURINO, DIRCEU DI DOMENICO, KARLA JANAYNA LEAL e MARIA DA GRAÇA OSÓRIO, numa formatação criminosa em derredor da antecipação dos efeitos recursais, em decisão liminar, no dia 04/09/2013, na Apelação nº 0001030-89.2012.8.05.0081, da lavra da Desembargadora MARIA DA GRAÇA OSÓRIO, que determinou a abertura de 17 (dezessete) matrículas em caráter precário, efeito que somente se revelaria possível, na sistemática processual vigente, após o trânsito em julgado do conflito judicial.

Descreveu-se, assim, que MARIA DA GRAÇA OSÓRIO, no exercício do cargo de Desembargadora, com o auxílio de sua sobrinha KARLA JANAYNA, de ADAILTON MATURINO e de GECIANE MATURINO, financiados por DIRCEU DI DOMENICO, no período compreendido entre 01/01/2013 a 27/02/2019, ocultou e dissimulou a origem, a natureza, disposição, movimentação e a propriedade de, ao menos, R$ 662.505,41 (seiscentos e sessenta e dois mil e quinhentos e cinco reais e quarenta e um centavos), a título de vantagens indevidas.

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Posteriormente, foram aviadas mais 03 (três) denúncias, a primeira (APN nº 985/DF) para debelar corrupção e lavagem de

ativos, praticados entre dezembro de 2017 e junho de 2018,

envolvendo o julgamento do Agravo de Instrumento nº 8003357-07.2018.8.05.0000, de relatoria da Desembargadora MARIA DO SOCORRO, pelo valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais). O dinheiro foi pago por ADAILTON MATURINO e GECIANE MATURINO, que contaram, ainda, com a atuação criminosa do Juiz SÉRGIO HUMBERTO, MÁRCIO DUARTE, AMANDA SANTIAGO, RICARDO TRÊS e VALDETE STRESSER.

Já a segunda denúncia (APN nº 986/DF) aplacou os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro da organização criminosa integrada pela Desembargadora ILONA REIS, e os advogados MARCELO JUNQUEIRA, FABRÍCIO BÔER e JÚLIO CÉSAR, que operaram, pelo menos, entre setembro de 2019 e dezembro de 2020, com o objetivo de obter vantagens econômicas no patamar de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), com pagamentos efetivos na ordem de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) em dinheiro vivo, com o objetivo de não deixar pistas da vinculação criminosa entre os seus integrantes.

Em arremate, a última denúncia (APN nº 987/DF) imputou a Desembargadora LÍGIA MARIA RAMOS CUNHA, JÚLIO CÉSAR CAVALCANTI FERREIRA, ARTHUR GABRIEL RAMOS BARATA LIMA, DIEGO FREITAS RIBEIRO, RUI CARLOS BARATA LIMA FILHO e SÉRGIO CELSO NUNES SANTOS, em tese, a prática dos crimes de constituição e integração a organização criminosa, no período compreendido entre agosto de 2015 até dezembro de 2020, e obstrução à investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

Ao fim, é mister asseverar que, em desfavor das Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA pesam atos graves,

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que abalam a ordem pública e a normal colheita de provas,

contemporâneos e cuja única resposta para sua cessação é a prisão preventiva.

II. DA NOVA ROUPAGEM DO ART. 316 DO CCP E SEUS REFLEXOS NA APN Nº 940/DF

Como é cediço, a Lei nº 13.964/19 deu nova formatação ao art. 316 do Código de Processo Penal, determinando que o julgador, periodicamente, reavalie a situação prisional daquele que estiver custodiado em virtude de decisão de sua esfera de atuação, a evitar, assim, o injustificável prolongamento prisional, in verbis:

“Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das

partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da

investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá

o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal” (Grifou-se)

Por certo, relevante é a preocupação legislativa para as prisões preventivas indefinidas, sobretudo para os acusados sem defensores constituídos, espalhados pelos rincões do Brasil, que ficavam esquecidos no cárcere, sendo valiosas as lições de IGOR PINHEIRO:

“8. Da reapreciação automática da prisão cautelar.

Ainda no campo das prisões cautelares, o Legislador fixou o prazo de 90 (noventa) dias para reapreciação automática das prisões decretadas na respetiva unidade judiciária. Nestas condições, tenha a prisão sido decretada ou não pelo juiz da respectiva unidade judiciária, o fato é que a cada 90 (noventa) dias o magistrado deverá reanalisar os fundamentos da prisão preventiva, a fim de verificar se a necessidade da prisão ainda subsiste.

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O objetivo, por óbvio, é evitar que os presos provisórios permaneçam de forma indefinida nos estabelecimentos penais sem a respectiva condenação definitiva.”2 (Grifou-se)

No mesmo sentido, merece exortação o escólio de PEDRO TAVARES:

“12.5.2 CONTROLE PERMANENTE DA MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA (ART. 316, PARÁGRAFO ÚNICO)

O novel parágrafo único do art. 316 prevê que a cada 90 dias o magistrado responsável pela prisão deverá realizar o controle de necessidade da mesma, sob pena de tornar a prisão ilegal, passível de relaxamento imediato.

Segundo os ditames do dispositivo, a decisão deve ser fun-damentada e tomada de ofício, sem necessidade de provo-cação das partes. Note-se de logo que o PAC trouxe mais um instrumento de limitação da discricionariedade judicial, bem como uma arma concreta contra o aumento das prisões cautelares no Brasil.

Sabe-se que essa espécie de prisão é responsável por grande parte da população carcerária. Um dos fato-res, excluindo propositadamente a análise crimi-nológica – que não é objeto deste trabalho –, é o alto índice de decisões cautelares não revistas, quando seus fundamentos já decaíram. O PAC, nesse ponto, parece ter andado bem novamente.

Apenas a título de menção, é bem provável que o art. 316, parágrafo único tenha tido sua inspiração na Resolução Conjunta no 1 do CNJ/CNMP, em que se exige do Poder Judiciário a monitoração efetiva da situação cautelar dos réus a cada 1 ano. Essa monitoração aplica-se tanto à prisão preventiva quanto às demais medidas cautelares di-versas da prisão.

Logo, segundo a resolução do CNJ/CNMP, a cada 1 ano o magistrado responsável pela decretação da medida, mais ou menos gravosa, deveria reanalisar o caso para verificar se a medida ainda se mantém necessária, adequada e pro-porcional. O prazo com PAC diminuiu para 90 (noventa)

dias!”3 (Grifou-se)

2 PINHEIRO, Igor Pereira et al. Lei Anticrime Comentada. São Paulo: JH Mizuno, 2020,

p. 358.

3 TAVARES, Pedro Tenório Soares Vieira e LIMA NETTO, Estácio Luiz Gama, Paraná:

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http://www.apmppr.org.br/noticia_interna/associado-Outro não é o posicionamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos – CorteIDH, como detalha CAIO PAIVA:

“Assim, para a CorteIDH, os juízes não têm que esperar até oi momento da sentença para decidir sobre a manutenção de uma prisão preventiva decretada anteriormente, devendo valorar periodicamente “(...) se as causas e os fins

que justificaram a privação de liberdade se mantêm, se a medida cautelar ainda é absolutamente necessária para a consecução dos fins é proporcional”, concluindo, “Em qualquer momento que a medida cautelar careça de alguma destas condições, deverá se decretar a liberdade.

De igual forma, ante cada solicitação de liberação do detido, o juiz tem que motivar, ainda que seja de forma mínima, as razões pelas quais considera que a prisão preventiva deve ser mantida” (Exceções

preliminares, mérito, reparações e custas, § 117).” 4

(Grifou-se)

De outro lado, absolutamente, diferente, vênia concessa, é a situação das Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, as quais já tentaram, frise-se, por essencial, dentro dos 90 (noventa) dias que estão presas, o abrandamento da custódia preventiva, sem, no entanto, lograr êxito.

Fincadas tais premissas, parece evidente que a decisão judicial que decretou a prisão preventiva das Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, tem presunção de legalidade, podendo elas dela recorrerem ou levarem fato novo ao conhecimento judicial, ao passo que, intocada a situação fática, em absoluto respeito a alteração legislativa vigente, a manifestação ministerial é no sentido de que seja proclamada, judicialmente, que a situação delas não se alterou.

Por derradeiro, deve ser repisado que há fundamento

lanou-livro-sobre-o-pacote-anticrime-2654. Acesso em 19 mar. de 2021.

4 PAIVA, Caio Cezar. Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos. 2. ed. Belo

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concreto para a prisão cautelar, consubstanciada no fato

Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA integrarem associação criminosa complexa e especializada no cometimento de corrupção e lavagem dinheiro, motivação que justifica a medida extrema, diante da necessidade de interromper a autuação criminosa e garantir o transcurso normal da instrução criminal.

Nessa direção, caminha o Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL DA DECISÃO QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. CONFIGURADOS. GARANTIA. ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA. CONTEMPORANEIDADE. VALORES OCULTOS. REITERAÇÃO DELITIVA. RISCO. ASSEGURAR. APLICAÇÃO LEI PENAL. DISPONIBILIDADE DE RECURSOS NO EXTERIOR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NÃO DEMONSTRADO.

MEDIDAS CAUTELARES. PRISÃO DOMICILIAR

HUMANITÁRIA. REQUISITOS. NÃO PREENCHIDOS.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - O agravo

regimental deve trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão vergastada por seus próprios fundamentos. II - No presente agravo regimental, verifica-se que o recorrente limitou-se a repetir, ipsis litteris, os mesmos argumentos já lançados na inicial do recurso ordinário e no pedido de tutela provisória, sem deduzir quaisquer fatos novos que justifiquem a revisão do entendimento adotado no decisum agravado. III - A decisão que

decreta a prisão preventiva deve revelar a presença de um ou mais fundamentos da medida, elencados no art. 312 do Código de Processo Penal, quais sejam, garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal. IV - No presente caso, verifica-se a gravidade concreta dos crimes reconhecidos em sentença condenatória, visto que o recorrente teria praticado, em período de aproximadamente 5 (cinco) anos, de modo sistemático, habitual e profissional, crimes contra a Administração Pública, os quais haveriam resultado em prejuízos ao erário de cerca de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais). Ademais, os valores ilícitos, por seu turno, não foram recuperados, evidenciando o risco concreto de reiteração delitiva pela prática de novos crimes

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de corrupção e lavagem de dinheiro, voltados a ocultar e dissipar o produto do crime. V - A probabilidade de reiteração e persistência na prática de atividades ilícitas, evidenciados, tanto na decisão que decretou a prisão preventiva, como no acórdão que denegou o habeas corpus, consubstanciam o requisito da garantia da ordem pública, densificando-o diante das singularidades da situação concreta. VI - A disponibilidade de recursos financeiros no exterior aponta a relevante possibilidade de o recorrente se furtar à aplicação da lei penal. VII - Verifica-se, em

face dos múltiplos riscos à ordem pública, com a ressalva de que a situação do recorrente não destoa da de outros investigados, sendo impossível supor a desagregação natural do grupo criminoso ou da sequência de atos delitivos sem a segregação cautelar dos personagens mais destacados, que não é viável substituir a prisão preventiva por medidas cautelares. VIII - Não há lógica em deferir ao condenado

o direito de recorrer solto quando permaneceu segregado durante a persecução criminal, se persistentes os motivos para a preventiva. Desse modo, não havendo modificação das circunstâncias fático-processuais que subsidiaram a decretação da prisão preventiva, no período decorrido entre o seu estabelecimento e a sentença condenatória, não se vislumbram razões para a sua revogação ou substituição por medidas cautelares alternativas. IX - As declarações prestadas pelo filho do recorrente, Douglas Campos Pedroza de Souza, nos autos da Ação Penal n. 5036808-86.2018.4.04.7000, deverão ser objeto de cognição ampla e exauriente do juízo natural daqueles autos, após a devida instrução processual. Assim, inviabiliza-se sua análise por esta Corte, visto que sua valoração, na forma em que pretende a Defesa, exigiria aprofundado revolvimento de fatos e provas que sequer estão na presente ação penal, o que de todo é vedado. X - A substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar humanitária por motivo de saúde, nos termos do art. 318, inciso II, do Código de Processo Penal, submete-se aos

requisitos específicos de extrema debilidade e

impossibilidade de realização do tratamento necessário na unidade prisional, condições cuja presença não foi

comprovada pela Defesa. Agravo regimental desprovido.”5

(Grifou-se)

No mesmo diapasão, posiciona-se o Supremo Tribunal

5 STJ, 5a T., RHC n°110.812, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Convocado do TJ/PE), DJe

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Federal:

“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. RECURSO ORDI-NÁRIO. FURTO À SEDE DO BANCO CENTRAL EM FORTA-LEZA/CE. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. PRE-VENTIVA MANTIDA NA SENTENÇA CONDENATÓRIA.

AU-SÊNCIA DE ALTERAÇÃO DOS FATOS QUE ENSEJARAM A DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA, BASEADA EM ELEMENTOS CONCRETOS. GA-RANTIA DA ORDEM PÚBLICA. JURISPRUDÊNCIA PA-CIFICADA. ORDEM DENEGADA. 1. A utilização promíscua

do habeas corpus como substitutivo de recurso ordinário deve ser combatida, sob pena de banalização da garantia constitucional, tanto mais quando não há teratologia a eli-minar, como no caso sub judice, em que a fundamentação do decreto de prisão se fez hígida e harmônica com a ju-risprudência desta Corte. 2. A remissão, na sentença, aos fundamentos do ato que implicou a prisão preventiva, dada a ausência de alteração do quadro fático-processual desde a data da decretação da medida não configura ilegalidade. Precedentes: HC 98771/RS - Relator: Min. DIAS TOFFOLI, 1ª Turma, DJ de 23/4/2010; HC 88709/RS, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA Julgamento: 10/04/2007 Segunda Turma, DJ de 28/6/07; HC 86019/RS, rel Min. Carlos Britto, 1ª Turma, DJ de 7/4/2006. 3. A custódia preventiva vi-sando a garantia da ordem pública legitima-se quando pre-sente a necessidade de acautelar-se o meio social ante a concreta possibilidade de reiteração criminosa. Preceden-tes: HC 104699/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, Julgamento: 26/10/2010, Primeira Turma; HC 99497/PE, rel. min. Eros Grau, Julgamento: 11/05/2010, Segunda Turma. 4. In casu, a prisão do paciente foi mantida mediante

fun-damentação idônea, a revelar a real necessidade da medida, máxime diante de dados concretos extraídos dos autos informando a prática de novos crimes – homicídio e lavagem de capitais. Deveras, o Superior Tribunal de Justiça, com ampla cognição fático-pro-batória, asseverou que: “2 - No caso, a custódia do paciente acabou por ser decretada, após a revogação nesta Corte, em razão da superveniência de fatos justificadores da sua imposição, notadamente a ga-rantia da ordem pública, dado o recrudescimento, se-gundo o Ministério Público Federal, de indícios de que o paciente ainda estaria, principalmente por meio de agiotagem, "operacionalizando mecanismos de lavagem de dinheiro oriundo do furto ao Banco Central". 5. Circunstâncias pessoais favoráveis, como

pri-mariedade, residência fixa e profissão definida não elidem a prisão provisória se presentes os requisitos do art. 312

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do CPP, como ocorre no caso sub judice. Precedentes: HC 98157/RJ, rel. Min. Ellen Gracie. 2ª Turma, DJ de 25/10/2010; HC 98754/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJ de 11/12/2009; HC 99936/CE, rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJ de 11/12/2009; HC 84.341, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 04.03.2005; HC 98156/RJ, rel. Min. Ellen Gra-cie, 2ª Turma, DJ de 6/11/2009; HC 95704, rel. Min. Me-nezes Direito, 1ª Turma, DJ de 20/2/2009; HC 94416/MS, Rel. Min. Menezes Direito, DJ de 19/12/0208; HC 69060/SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª Turma, DJ de 6/12/1991. 6. Pa-recer pela denegação da ordem. 7. Habeas corpus

DENE-GADO.”6(Grifou-se)

III. DA INEXISTÊNCIA DE ALTERAÇÃO NO CONTEXTO FÁTICO DAS PRISÕES DECRETADAS NA PET Nº 13.972/DF

Superada a demonstração de que as acusadas ILONA REIS e LÍGIA CUNHA estão presas de maneira justificada, a segregação provisória delas é essencial para o desfecho do presente caso penal, reafirme-se numa roupagem em que estão cristalizados a prova da materialidade dos crimes e os indícios de suas respectivas autorias.

Desse modo, paira a prisão preventiva como única medida cabível para obstaculizar a transmudação da verdade pelas acusadas ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, cessar a permanente mecanização da lavagem de ativos e garantir a aplicação da lei penal, à luz do estabelecido no art. 312 do Código de Processo Penal.

Destarte, a legitimidade da medida excepcional persiste e será demonstrada, de maneira setorizada, de modo que ela é adequada e necessária ao acautelamento da fase processual. Mais uma vez, sobreleve-se que as acusadas acima indicadas virão a comprometer a atividade instrutória e credibilidade da Justiça, restando evidente que, somente com a segregação delas, sereno será o desfecho do processo e demais eixos investigatórios.

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Dessa maneira, tem-se a existência de atos

contemporâneos que legitimam a segregação cautelar das

Desembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, as quais, mesmo após

a deflagração da Operação Faroeste, continuaram sua escalada

criminosa, supondo desfrutarem de imunidade penal.

III.A. DA DENUNCIADA ILONA REIS

O Parquet requereu a prisão preventiva de ILONA REIS, defendendo a existência de fundamento concreto para a prisão cautelar, consubstanciada no fato de ILONA REIS integrar organismo criminoso complexo e especializado em negociações judiciais para a legitimação de terras no oste baiano, dentre outros, numa lógica necessária para interromper a autuação criminosa, acautelar o meio social e garantir o transcurso normal da instrução criminal.

Ao acolher a pretensão ministerial, V. Exa. foi preciso e comedido no v. decisum, abaixo transcrito, cujos fundamentos permanecem idôneos, ante a inexistência do surgimento de qualquer tipo fato novo. Confira-se:

“A situação de adulteração da placa do veículo foi confirmada pela autoridade policial, que constatou que o veículo HONDA HRV transitava com a placa PLV-TBSZ, pertencente, segundo o Sistema da Se-cretaria Nacional de Segurança Pública, a um veí-culo VOLKSWAGEN GOL, o que resultou a apreensão do veículo.

Como se percebe, com a evolução da Operação Faroeste, a Desembargadora ILONA MARCIA REIS, tem aparentemente procurado se afas-tar do julgamento dos processos que podem lhe incriminar, numa postura de ocultar as en-grenagens criminosas.

Esta postura de distanciamento dos processos que se tornam alvos da investigação criminal também foi adotada no curso do procedimento de Ação Controlada (Pet n° 13.192/DF), que

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buscava monitorar o recebimento de propina pela magistrada.

Naquela ocasião, conforme acima demonstrado, os relatos apontam que a representada recebeu a pri-meira parcela de R$ 200.000,00 em 13.11.2019, pouco antes da deflagração da fase ostensiva da Operação Faroeste. Mas, o pagamento da segunda parcela, no valor de R$ 500.000,00, que seria mo-nitorado pela Ação Controlada, foi suspenso.

Ademais, a representada só foi encontrada para cumprimento da ordem de prisão temporária por obra do acaso, já que ela não se encontrava nos endereços atribuídos a ela e, aparentemente, para se furtarão ação das autoridades, fazia uso de veí-culo com placa policial adulterada.

As provas carreadas aos autos indicam, por-tanto, que ILONA MARCIA REIS parece adotar comportamentos que visam a confundir a in-vestigação criminal, o que demonstra que sua liberdade pode colocar em risco a aplicação da lei penal e a instrução criminal.” (Grifou-se)

Por sua vez, não custa lembrar que ILONA REIS, foi monitorada, em Ação Controlada entabulada pela Polícia Federal, com manobras furtivas de adiamentos dos seus julgamentos e mudanças de entendimento, para obstar a descoberta da verdade, enquanto seu principal operador MARCELO JUNQUEIRA adotava atitudes similares às

comumente verificadas em organizações criminosas voltadas ao tráfico de entorpecentes e/ou assaltos, cuja única resposta para sucesso da

investigação é a manutenção da neutralização prisional dela, por estar no topo da cadeia alimentar criminosa.

Adicione-se a isso o fato de que, no cumprimento das medidas cautelares em endereços vinculados à investigada ILONA REIS, foram encontrados documentos em poder da mesma, que diagramam uma variedade de depósitos em espécie e fracionados, em período contemporâneo aos fatos posto em mesa, numa clarificação de possível mecanismo de lavagem de ativos para dissociar a origem criminosa de

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suas divisas.7

Em acréscimo, deve ser assinalado que, além de terem sido encontrados arquivos no computador de ILONA REIS contendo peças processuais do seu operador MARCELO JUNQUEIRA, foi descoberto em seu poder veículo com placa policial adulterada, a estampar estratégia de se ocultar do sistema de defesa social, movimentando-se pela

capi-tal baiana, sem possiblidade de rastreamento dela8.

Por fim, merece ser consignado que perícia elaborada pela Polícia Federal concluiu que a Desembargadora ILONA REIS tinha, de fato, veículo em seu poder com placa adulterada. Veja-se:

7 Relatório Circunstanciado de Cumprimento de Prisões Cautelares, encartado na

CAUINOMCRIM Nº 26.

8 Relatório Circunstanciado de Cumprimento de Prisões Cautelares, encartado na

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III.B. DA DENUNCIADA LÍGIA CUNHA

No mesmo sentido, revela-se salutar a manutenção da prisão preventiva de LÍGIA CUNHA para garantia da ordem pública, normal colheita de provas e aplicação da lei penal, numa óptica em que persistem válidos os motivos encartados no seu decreto prisional. Observe-se:

“Consoante acima demonstrado, a representada passou a adotar comportamentos ostensivos de destruição de evidências que possam incriminá-la, chegando a intimidar seus próprios servidores. Adicionalmente, restou assentado nos autos que a imputada descumpriu deliberadamente ordem ex-pressa de afastamento cautelar do exercício da fun-ção de Desembargadora ao tentar entrar em con-tato com testemunha protegida na forma da Lei n° 9.807/99, que é servidora de seu gabinete e sua as-sessora direta.

Nesse cenário, o estado de liberdade da De-sembargadora LÍGIA MARIA RAMOS CUNHA LIMA coloca em risco as investigações, já que a magistrada tem adotado a prática sistemá-tica de apagar os rastros deixados pelas apa-rentes atividades ilícitas empreendidas, alte-rando artificiosamente o cenário tático numa tentativa de ludibriar as autoridades incumbi-das da investigação, o que coloca em perigo a conveniência da instrução criminal e a garan-tia da ordem pública.

No presente caso, são gravíssimos os delitos aqui apurados, dentre eles, corrupção, organização cri-minosa e lavagem de capitais, delitos que se pro-traem no tempo e comprometem a credibilidade das instituições públicas locais e, como consequência, a paz social.

Assentado o fumus comissi delicti, o periculum in

mora caracteriza-se pelo fato de que eventuais

do-cumentos comprobatórios das práticas ilícitas po-dem ser destruídos pelas investigadas. O tipo de de-lito que se investiga, normalmente, tem suas “pistas” apagadas pelos seus autores.

Além disso, estamos a tratar de ilícitos praticados por pessoas com conhecimento jurídico, cuja obten-ção da prova é bastante difícil. A medida se mostra, assim, imprescindível em razão da necessidade de

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assegurar a preservação de elementos comprobató-rios de materialidade e autoria delitivas.” (Grifou-se) Dito isso, não se pode olvidar que, ao ser cumprida medida cautelar de busca em seu desfavor de LÍGIA CUNHA, foram encontra-dos diversos documentos relacionaencontra-dos à Operação Faroeste, com ano-tações e valores associados aos seus filhos e operadores RUI BARATA

e ARTHUR BARATA9.

Nesse particular, registre-se que, em relação às movimen-tações suspeitas da Desembargadora LÍGIA CUNHA e seus filhos AR-THUR BARATA e RUI BARATA, tem-se a movimentação em espécie de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), em 04/10/2018, de ARTHUR BA-RATA, ao passo que RUI BARATA foi sinalizado com R$ 430.000,00 (quatrocentos e trinta mil reais) suspeitos, entre 12/11/2015 a 25/09/2018.

Em outro vértice, pontue-se que foi feita cuidadosa análise bancária e fiscal de RUI BARATA pela Secretaria de Perícia, Pesquisa e

Análise da Procuradoria-Geral da República10, tendo seus rendimentos

apresentado significativo incremento após a nomeação de sua genitora LÍGIA CUNHA, como Desembargadora, no ano de 2015.

Tal situação reflete-se na evolução patrimonial de RUI BA-RATA, cujo saldo de seus bens e direitos saltou de R$ 718.642,96 (setecentos e dezoito mil, seiscentos e quarenta e dois reais e noventa e seus centavos), no início de 2013, para R$ 3.996.102,36 (três mi-lhões, novecentos e noventa e seis mil, cento e dois reais e trinta e seis centavos), no final de 2018, representando, por conseguinte, um incremento de, aproximadamente, 4,56 vezes, numa conclusão pericial

9 Relatório Circunstanciado de Cumprimento de Prisões Cautelares, encartado na

CAUINOMCRIM Nº 26.

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de ausência de disponibilidade financeira, recebimento de valores não declarados ou movimentação em nome de terceiros, numa fotografia compatível com a lavagem de dinheiro, ipsis litteris:

“Conclui-se, pois, que a evolução dos bens e direitos de Rui Carlos Barata Lima Filho foi suportada, em parte, pelo recebimento de lucros e dividendos no montante de R$2.726.400,00 do escritório de advocacia Ramos e Barata Advogados

Associa-dos e por recursos de origem desconhecida entre

2015 e 2018. No ano-calendário 2018, a disponibi-lidade financeira de R$855.808,47 foi insuficiente para fazer frente a sua variação patrimonial de R$1.055.735,05.

Por derradeiro, constatou-se que os créditos bancários efetivos movimentados por Rui Carlos

Barata Lima Filho superaram os seus rendimentos

líquidos11 declarados à Receita Federal de 2013 a

2018, com destaque para 2014, 2015, 2016 e 2018, quando os créditos movimentados representaram, aproximadamente, 1,43, 2,55, 1,79 e 1,47 vezes, respectivamente, os rendimentos líquidos, o que pode indicar recebimento de valores não declarados à Receita Federal ou movimentação de recursos de

terceiros.”12

Assim, se não há movimentação suspeita detectada em re-lação a LÍGIA CUNHA, verossímil é a possibilidade de caber a RUI BA-RATA a gestão financeira da sua ORCRIM, uma vez que, entre 02/05/2018 a 13/05/2019, foram taxados mais R$ 2.365.167,00 (dois milhões, trezentos e sessenta e cinco mil e cento e sessenta e sete reais), sendo que R$ 64.452,90 (sessenta e quatro mil, quatrocentos e cinquenta e dois reais e noventa centavos), em 17 (dezessete) mo-vimentações, ligadas a outro integrante da organização, DIEGO RI-BEIRO.

11 Rendimentos líquidos para fins de comparação com a movimentação financeira

credora: somatório dos rendimentos tributáveis, rendimentos isentos e não tributáveis e rendimentos sujeitos à tributação exclusiva na fonte, após exclusão do imposto de renda retido na fonte, contribuição previdenciária oficial e pensão alimentícia judicial.

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Some-se a isso o inusitado fato de LÍGIA CUNHA ter, nos documentos achados em seu poder, o nome de diversas autoridades anotadas, dentre elas do Desembargador LOURIVAL ALMEIDA, atual

Presidente do Tribunal de Justiça da Bahia13, a esboçar possível

patru-lhamento dos agentes do estado que, para ela, apresentassem possí-veis riscos aos planos criminosos de sua ORCRIM.

Rememore-se, outrossim, que LÍGIA CUNHA, tomando ci-ência pela mídia, de eventual tratativa de acordo de colaboração no âmbito da Operação Faroeste, foi, pessoalmente e durante a noite, na residência da esposa do colaborador JÚLIO CÉSAR, frise-se, por rele-vante, sua assessora, para intimidá-la. Avive-se:

“[...] QUE, o evento que trouxe a depoente à esta unidade foi um encontro demandado pela Desembargadora junto com a depoente na noite do dia 04/02/20, nas dependências do prédio da última;

QUE, antes do encontro a Des. LIGIA ligou para a depoente e pediu que ela fosse à sua casa, mas a depoente informou que não poderia ir, considerando que estava em casa sozinha com sua filha menor; QUE, essa foi a primeira e única vez que recebeu a Des. LÍGIA em seu prédio...QUE, ela chegou sozinha, por volta das 20h:54min no seu próprio veículo, uma Mercedes Benz C180, placa PLX0I19, branca...QUE, no mesmo encontro a depoente

comentou com a Des. LÍGIA que todos os processos que ela pedia preferência eram fáceis de serem identificados no caso dela precisar, sendo que o assessor DANILO ARTHUR DE OLIVA NUNES mantinha, em seu computador, a listagem dos mesmos; QUE, ao saber de tal prática, ainda no encontro, a Des. Determinou que a depoente fosse no gabinete e apagasse tal lista da máquina do colega, sendo que deveria fazê-lo antes da chegada dos demais servidores; QUE, a Des. LÍGIA alegou

que tinha informação de que uma nova fase da 13 Relatório Circunstanciado de Cumprimento de Prisões Cautelares, encartado na

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operação FAROESTE estaria por ocorrer e que o gabinete poderia ser um alvo; QUE ela disse que a depoente deveria lhe mandar uma mensagem codificada para confirmar a execução da medida, tendo orientado que lhe mandasse uma mensagem pelo aplicativo WhatsApp com o conteúdo “JÁ FUI NO MERCADO”; QUE, na manhã seguinte, por volta

das 07h:00min a depoente mandou uma mensagem com o conteúdo “Já fui no mercado. Vou me arrumar e vou para o trabalho Dra! Comprei tudo!”; QUE a despeito de ter encaminhado a mensagem, a depoente não foi de fato ao local de trabalho, por absoluto temor de fazer algo errado e pior, de que efetivamente houvesse uma deflagração e fosse flagrada apagando dados no gabinete alvo da ação policial, situação que seria muito difícil de explicar;

QUE, de fato, foi ao gabinete por volta das 11h:00min, e apagou a lista do computador do DANILO, sendo que ficava na área de trabalho; QUE, antes de apagar, no entanto, fez uma cópia do arquivo, a qual se compromete a enviar....QUE, a Des. LÍGIA, ao que se sabe e pelo

que se comenta no Gabinete, não produz qualquer um dos seus votos e decisões, sendo tal tarefa repassada aos assessores, no entanto, em algumas ocasiões, a magistrada aparece com um voto/decisão logo após algum encontro ou, por exemplo, o horário de um almoço; QUE, o

comentário geral é que esses votos são passados ou de interesse de seus filhos homens, no caso, RUI BARATA LIMA FILHO e ARTHUR GABRIEL RAMOS BARATA LIMA; QUE, é comum a ida dos filhos no Gabinete e também é usual que a Des. LÍGIA sobre dos assessores, ainda na presença dos filhos, pelo andamento/decisão em processos nos quais eles guardam interesse, no mínimo de forma indireta; QUE, ainda no curso do encontro o dia 04,

a Des. LÍGIA comentou que iria receber uma lista

com a numeração de processos sob sua responsabilidade que estariam sendo objeto de atenção no STJ e pelos órgãos investigantes, sendo que tão logo a recebesse precisaria dar uma solução nos mesmos...QUE, ela comentou que não queria problemas com seu nome e que, pelo que ouviu, fala-se em problemas com “RUIZINHO”, mas que se ele tivesse feito alfo, que fosse ele a ser responsabilizado...QUE, uma

(21)

sentido de que qualquer processo relacionado ao advogado DIEGO LUIZ LIMA DE CASTRO, ex-Juiz do TRE-BA, fosse repassado para ela mesma, ou seja, tirado das mãos dos assessores; QUE, após uma consulta foi identificado um processo, que estava na carga de DANILO; QUE, a Des. LÍGIA determinou que o processo fosse entregue a depoente e que o voto fosse contrário ao que ele estivesse peticionando, sem mesmo tomar conhecimento do seu efetivo conteúdo, sob o argumento de que “ele está falando demais e precisa tomar umas porradinhas”...QUE, o comportamento da Des.

LÍGIA não era assim antigamente, tendo o mesmo se revelado mais incisivo há mais ou menos um ano, com evolução notável após a operação FAROESTE.”14 (Grifou-se)

LÍGIA CUNHA, segundo relatado pela aludida assessora tinha uma agenda rosa, em que eram anotados todos os processos de interesse de sua ORCRIM, integrada por RUI BARATA, ARTHUR BARATA, DIEGO RIBEIRO e SÉRGIO NUNES, para que ela pudesse acompanhar a tramitação e quiçá projetar o aumento de seus recebimentos criminosos. No entanto, LÍGIA CUNHA, cada dia mais desesperada, destruiu as folhas que continham essas anotações, com a deliberada intenção de pairar fora do alcance da legislação penal.

“[...] QUE ela costuma andar sempre com uma agenda rosa na qual trazia lançamentos com números de processos e nomes das partes para as quais ela queria que a decisão fosse favorável; QUE,

depois da deflagração da FAROESTE ela rasgou várias páginas da referida agenda e, passado algum tempo, simplesmente não traz objeto consigo, não sabendo se o mesmo ainda existe ou

se foi descartado [...]”15 (Grifou-se)

14 Doc. 29 – Declarações da Declarante da Justiça baiana, encartadas na

CAUINOMCRIM Nº 26.

15 Doc. 29 – Declarações da Declarante da Justiça baiana, encartadas na

(22)

Em adição, deve-se descrever que LÍGIA CUNHA, segundo

relatado pela mencionada assessora16, permaneceu tentando alterar a

realidade probatória ao ser redor, ordenando que seus assessores mu-dem posicionamentos em processos, na certeza de que ficará impune.

Mas não é só. LÍGIA CUNHA, após sua prisão, tentou, data

máxima vênia, ludibriar a Corte Suprema, no Habeas Corpus nº

196084/DF, anunciando possível risco de infecção por CO-VID19, na ilusória tentativa de se valer novamente de uma prisão

do-miciliar, quando ela já tinha, recentemente, contraído a moléstia, numa lamentável postura dissociada dos pilares éticos mínimos exigí-veis a uma magistrada de sua envergadura.

Por certo, num país de economia liberal, acumular rique-zas, obviamente, não é crime, desde que sua matriz seja lícita, o que,

data máxima vênia, não parece ser o caso, visto que, contra as

De-sembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA pesa a imputação de cor-rupção de atos do Poder Judiciário e de lavagem de divisas.

Destarte, a liberdade das investigados ILONA REIS e LÍGIA CUNHA coloca em perigo a normal colheita de provas, na moldagem de uma verdadeira operação de inteligência financeira para movimen-tação e integração das divisas criminosas, sendo certo que livres elas

poderão apagar os rastros de seus crimes e a intimidar teste-munhas, obstando o sequenciamento da instrução processual e

pros-seguimento das investigações, especialmente diante do poderio e da proximidade delas com altas autoridades do poder público.

Transposta, enfim, a comprovação da legitimidade da manutenção das prisões, com o preenchimento do binômio necessidade versus adequação, para manter intocado e sereno o

(23)

desfecho dos outros eixos investigatórios, garantir a preservação da ordem pública e a intangibilidade da produção probatória, deve-se repisar que ILONA REIS e LÍGIA CUNHA que estão na alça de mira dessa medida objetivamente já tem contra si evidência de atuação com alteração da verdade e destruição de documentos, com absoluta complacência e contaminação do poder público estadual.

Portanto, existem provas que ILONA REIS e LÍGIA CUNHA se envolveram na prática habitual e profissional de crimes de

corrupção e de lavagem de dinheiro, numa formatação serial,

estendendo-se por vários anos, em total abalo à ordem pública. Em outras palavras, constata-se, no caso concreto, indícios de reiteração

delitiva em um contexto de corrupção sistêmica, o que coloca em

risco a ordem pública.

IV. CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO

FE-DERAL a manutenção da prisão preventiva em desfavor das

De-sembargadoras ILONA REIS e LÍGIA CUNHA, nos termos do art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal.

Brasília, data da assinatura eletrônica.

LINDÔRA MARIA ARAÚJO

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