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Identificação de emoções básicas a partir de fala de conteúdo neutro entre portadores de deficiência visual e videntes

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Academic year: 2021

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Identificação de emoções básicas a partir de fala de conteúdo neutro

entre portadores de deficiência visual e videntes

Palavras Chave : emoções; portadores de deficiência visual; voz

As características vocais e a expressão facial carregam grande parte do conteúdo afetivo da comunicação humana. Considera-se que 80% das informações perceptivas das pessoas sejam coletadas por meio da visão (1). Estima-se que somente 35% do significado da mensagem seja transmitida verbalmente e 65% pela comunicação não verbal (2).

Cada emoção apresenta características próprias, o que permite identificá-las pela voz. Identificar emoções pela voz é um aspecto importante na comunicação, mais ainda para deficientes visuais que não são beneficiados pela informação visual da expressão facial e gestos do falante.

Objetivo: 1. Verificar como portadores de deficiência visual e videntes de diferentes faixas etárias identificam as emoções básicas de alegria, surpresa, medo, desgosto, tristeza e raiva em uma frase de conteúdo neutro, emitidas por um ator e uma atriz; 2. Analisar a influência do sexo do falante na identificação das emoções.

Metodologia: O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de Estudos da Voz nº 1014/06, atendendo aos critérios éticos da Portaria 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, no que se refere à pesquisa que envolve seres humanos. Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Para realização do estudo, foram selecionados 200 indivíduos, sendo 100 portadores de deficiência visual e 100 videntes, com faixa etária entre 20 e 70 anos, que foram distribuídos em cinco grupos etários com 20 sujeitos cada (10 videntes e 10 deficientes visuais), a saber: 20 /-/ 30 anos, 31 /-/ 40 anos, 41 /-/ 50 anos, 51 /-/ 60 anos e 60 /-/ 70 anos.

O critério de inclusão para o grupo de deficientes visuais foi apresentar cegueira ou baixa-visão até 10% de visibilidade, e ter deficiência visual há pelo menos 5 anos. Os videntes apresentavam auto-relato de acuidade visual normal. Todos os participantes apresentavam limiares auditivos compatíveis com a audição social.

Uma frase neutra: “Escuta aquela música”, foi gravada por um ator e uma atriz, nas emoções básicas de raiva, alegria, tristeza, medo, surpresa e desgosto. Foi solicitado aos ouvintes que escutassem as frases e identificassem a emoção contida na mesma.

Para o tratamento estatístico foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for

Social Sciences, versão 13.0), para a obtenção dos resultados. Adotou-se o nível de

significância de 5% (0,050) para a aplicação dos testes estatísticos. Os resultados obtidos foram submetidos ao teste estatístico de Análise Multivariada Inter-sujeitos, utilizado para verificar o efeito das variáveis-controle sobre as variáveis de interesse. Para comparação

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entre falantes femininos e masculinos, por faixa etária, foi aplicado o Teste dos Postos Sinalizados de Wilcoxon. Para comparação entre as faixas etárias, houve aplicação do Teste de Kruskal-Wallis, com o intuito de verificar possíveis diferenças entre as faixas etárias, quando comparadas concomitantemente umas com as outras.

Resultados: os principais dados estão nas tabelas 1 e 2 .

Tabela 1. Acertos das seis emoções de acordo com a faixa etária em anos, para os grupos de videntes e deficientes visuais e por emoção

Emoção 20 /-/ 30 31 /-/ 40 41 /-/ 50 51 /-/ 60 61 /-/ 70 TOTAL N % N % N % N % N % N % Videntes Raiva Total 39 20 37 18 34 18 39 20 37 20 186 93 p 0,371 0,564 0,414 0,317 0,157 Desgosto Total 23 29 17 22 9 12 14 18 13 17 76 38 p 0,035 0,007 0,257 0,014 0,763 Alegria Total 25 21 19 17 23 19 24 20 23 16 114 57 p 0,739 0,705 0,02 0,021 0,018 Tristeza Total 22 21 20 20 17 17 22 22 17 17 98 39 p 0,012 0,008 0,527 0,052 0,763 Medo Total 31 25 25 22 17 14 22 19 20 17 115 58 p 0,317 0,102 0,035 0,02 0,096 Surpresa Total 23 18 26 20 20 16 24 19 29 24 122 61 p 0,366 0,011 0,705 0,48 0,059 TOTAL 163 22 144 20 120 17 145 21 139 19 711 59 p 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 Deficientes Visuais Raiva Total 40 20 40 20 40 20 40 20 40 20 200 100 p >0,999 >0,999 >0,999 >0,999 >0,999 Desgosto Total 17 23 19 25 20 27 11 15 8 11 75 38 p 0,18 0,096 0,021 0,763 0,157 Alegria Total 27 20 26 19 26 19 24 18 31 23 134 67 p 0,096 0,008 <0,001 0,002 0,739 Tristeza Total 18 15 19 16 27 23 27 23 28 24 119 60 p >0,999 0,132 0,366 0,705 >0,999 Medo Total 26 20 24 19 28 22 30 23 20 16 128 64 p 0,001 0,011 0,021 0,157 0,002 Surpresa Total 30 21 27 18 30 21 31 21 28 19 146 73 p 0,102 0,317 0,203 0,739 0,011

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TOTAL 158 20 155 19 171 21 163 20 155 19 802 67

p < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001

Tabela 2. Distribuição numérica dos acertos na identificação das seis emoções por faixa etária, em anos, e de acordo com o sexo do falante.

Faixa Etária Videntes p Deficientes Visuais p Falante Feminino Falante Masculino Total Falante Feminino Falante Masculino Total 20 /-/ 30 85 78 163 0,001 74 84 158 < 0,001 31 /-/ 40 73 71 144 < 0,001 67 88 155 < 0,001 41 /-/ 50 49 71 120 < 0,001 74 97 171 < 0,001 51 /-/ 60 66 79 145 < 0,001 76 87 163 < 0,001 61 /-/ 70 67 72 139 < 0,001 74 81 155 < 0,001

Considerando 1200 o número total de acerto para todas as emoções, observou-se 802 acertos (67%) para o grupo de deficientes visuais e 711 acertos (59%) para o grupo de videntes (tabela 1).

Pesquisas indicam que os ouvintes facilmente inferem a emoção contida na voz a partir de sentenças vocais (3-4--5) com uma média de acerto de 60% da emoção pretendida(3) .

Os achados dos trabalhos acima, com relação ao número de acerto das emoções, coincidem com os resultados obtidos nesta pesquisa. Nossos dados mostram um maior número de acertos no grupo de deficientes visuais do que nos videntes (tabela 1). Pode-se justificar este melhor desempenho no grupo de deficientes visuais, pois a perda do canal de informações visuais nos cegos resulta em maior ênfase em outras modalidades sensoriais

(7). Estudos experimentais sugerem que pessoas cegas compensam sua falta de visão com

melhor habilidade auditiva que pessoas com visão normal (10-11). Isto aconteceu, para todas as emoções, em nosso estudo, com um mínimo de acerto de 38% na emoção desgosto e máximo de 100% na emoção raiva. No grupo de deficientes visuais, todas as emoções, com exceção da emoção desgosto, obtiveram identificação maior que 60% no total de acertos.

O número de acertos para cada faixa etária foi maior para os deficientes visuais que para os videntes, à exceção da menor faixa etária, de 20 a 30 anos, na qual os deficientes visuais identificaram 158 e os videntes 163, de um total de 200 acertos possíveis. (tabela 1)

Este fato pode ser justificado pela grande estimulação auditiva que eles têm durante os anos. Existe uma comprovada superioridade ou facilidade de cegos congênitos (65% da população desta pesquisa) em localizar objetos no espaço, pela pista auditiva. (10-11).

No grupo de videntes, adultos idosos apresentaram redução na identificação correta da emoção pretendida, o que não aconteceu com os deficientes visuais (tabela 2).

A emoção raiva foi a mais identificada, com 200 acertos (100%) no grupo de deficientes visuais e 186 acertos (93%) no grupo de videntes. A emoção desgosto foi a

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menos identificada com 75 acertos (38%) para deficientes visuais e 76 (38%) para videntes (tabela 1). Surpresa foi a segunda emoção mais identificada com 122 acertos (61%) no grupo de videntes e 146 (73%) no grupo de deficientes visuais. Tristeza foi a segunda emoção com menor índice de identificação correta, com 98 acertos (49%) no grupo de videntes e 119 (60%) no grupo de deficientes visuais. As emoções mais e menos identificadas coincidem em ambos os grupos, apresentado porcentagem de acerto maior no grupo de deficientes visuais.

A maior identificação de raiva e surpresa pode estar relacionada ao fato destas apresentarem características marcantes e delimitadas, não gerando grandes confusões como pode ocorrer em caso de emoções como tristeza e desgosto, que são emoções mais contidas e com grandes semelhanças psicoacústicas (5-6).

O falante masculino teve maior média de acertos para ambos os grupos (em todas as faixas etárias para o grupo de portadores de deficiência visual e a partir de 41/-/50 anos para o grupo de videntes (tabela 2). Comparando os grupos, o falante masculino teve maior número de identificação nos 2 grupos estudados nas emoções: raiva, desgosto, alegria e medo. Surpresa e tristeza, para ambos os grupos, tiveram maior acerto no falante feminino.

Diferenças anatômicas entre homens e mulheres geram vozes características com grandes diferenças acústicas percebidas por ambos os grupos. As modificações de alguns parâmetros vocais produzem diferentes impactos no ouvinte, tais como: qualidade vocal (normal ou alterada), projeção de voz, ritmo de fala, entonação, intensidade, pausas de respiração e articulação (12).

Em estudo sobre características acústicas de recursos vocais usados na simulação de emoções por um ator e uma atriz, encontraram-se similaridades e diferenças nas medidas acústicas das simulações dos dois atores nas emoções diferentes (13). Estas diferenças nas vozes (como por exemplo, freqüência fundamental mais grave e maior número de harmônicos nos homens) podem facilitar a identificação das emoções, o que contribui para que os trechos emitidos pelo falante masculino tivessem sido melhor identificados. Outra possibilidade refere-se ao nível de interpretação dos atores, o que não foi controlado no presente estudo.

A percepção das emoções é uma integração corpo e voz. Os deficientes visuais têm somente os aspectos vocais para analisar e identificar a emoção que está sendo passada, e por dependerem exclusivamente da audição, esta parece ter habilidade mais desenvolvida que em videntes, como mostram os resultados desta pesquisa.

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1. O grupo de portadores de deficiência visual tem porcentagem e média de acerto geral maior que os videntes e isto se mostra também em todas as faixas etárias com exceção de 20 /-/30 anos.

2. O falante masculino foi o melhor identificado em ambos os grupos.

3. A emoção mais identificada (raiva) e a menos identificada (desgosto) são percebidas da mesma forma por ambos os grupos.

Referências Bibliográficas

1. Organização Mundial de Saúde. Methods of assessment of avoidable blindness. Gen..1982; p. 42.

2. Gamble, T. K.; Gamble, M. Communication works. 2.ed. New York: Randon House; 1987.

3. Scherer, K. R., Scherer, U. Speech behavior and personality. In J. Darby (Ed.), Speech evaluation in psychiatry. Grune & Stratton; 1981.p. 115-135.

4. Scherer, K.R. Expression of Emotion in Voice and Singing. Journal of Voice, 1995; 9(3): 235-248. 5. Pittam J., Scherer K. R. Vocal Expression and Communication of Emotion. In. Lewis M., Haviland, J.M. (eds.) HandBook of Emotions. New York: Guilford;1993. p.185-198.

6. Cahn, J. E. The Generation of Affect in Synthesized Speech, Journal of the American Voice I/O Society, jul, 1990.

7. Starlinger I, Niemeyer W. Do the blind hear better? Invertigations on auditory processing in congenital or early acquired blindness. I. Peripheral function. University of Marburg, FRG.Audiology. 1981; 20: 503-509.

8. Morgan M., Sensory perception: supernormal hearing in the blind? Institute of Ophthalmology, University College, London Bath Street, London.1999; v.9 , n.2.

9. Lessard N, Paré M, Lepore F, Lassonde M. Early-blind human subjects localize sound sources than sighted subjects. Nature, 395: 278-280,1998.

10. Lessard N, Paré M, Lepore F, Lassonde M. Early-blind human subjects localize sound sources than sighted subjects. Nature.1998; 395: 278-280.

11. Weeks R, Horwitz B, Aziz-sultan A, Titan B, Wessinger CM, Cohen LG et al. A positron emission tomographic study of auditory localization of in the congenitally blind. J Neurosci. 2000; 1;20(7):2664-72.

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12. Behlau, M., Azevedo, R., Pontes, P. Conceito de Voz normal e Classificação das Disfonias. In: Behlau. M. (org.) Voz – O Livro do Especialista.Vol. 1.Revinter ; 2001. p. 61-62.

13. Whiteside, S. P. Acoustic characteristics of vocal emotion simulated by actors. Perceptual and Motor Skills. 1999; Dec. 89 (3 Pt 2):1195-1208.

Referências

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