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ERA UMA VEZ A INFLUÊNCIA DOS CLÁSSICOS NA FORMAÇÃO ESCRITORA

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Academic year: 2021

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ERA UMA VEZ A INFLUÊNCIA DOS CLÁSSICOS NA FORMAÇÃO ESCRITORA

Heloisa Helena Deschamps (FURB)

(heloisa.deschamps@gmail.com)

Este artigo analisa dados parciais da pesquisa integrante do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Letras Português na Universidade Regional de Blumenau – FURB. O subprojeto de Letras tem por objetivo analisar textos produzidos por alunos dos anos finais do ensino fundamental. Para a coleta de dados, no segundo semestre do ano de 2011, foi aplicado um comando em três turmas na escola E.E.F. Padre Theodoro Becker (Brusque – SC), um sexto ano, uma sétima e uma oitava série. O comando consistia em uma curta série de quadrinhos e solicitava que os alunos elaborassem uma história baseando-se em tais ilustrações. Após a coleta, os bolsistas do PIBID Letras analisaram os textos e concluíram haver uma forte influência de contos de fada e fábulas no modo de escrever dos alunos do sexto ano e é esta influência que se pretende estudar no presente artigo. Na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a contação de fábulas e clássicos, como A formiga e a cigarra, A lebre e a tartaruga, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, entre outros faz parte das atividades cotidianas das crianças e o contato sistematizado com esses gêneros parece refletir nas produções escritas dos alunos nos anos finais. Para compreensão da utilização dos diferentes gêneros textuais em sala de aula os estudos se nortearão no viés enunciativo e do letramento no Brasil. A análise realizada pelos bolsistas evidencia que os alunos não percebem claramente a diferença entre os diversos gêneros. Pretende-se, diante desse cenário, aqui, a possível influência dos clássicos da literatura infantil na formação escritora dos alunos participantes da pesquisa.

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa faz parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Letras Português na Universidade Regional de Blumenau – FURB. O projeto do curso de Letras visa analisar textos produzidos por alunos dos anos finais do ensino fundamental para descobrir as dificuldades de aprendizado enfrentadas pelos alunos; para atingir tal objetivo, foi aplicado um comando com três turmas na escola Theodoro Becker (Brusque – SC), um sexto ano, uma sétima e uma oitava série. Após a coleta dos textos, os alunos do PIBID Letras analisaram os textos e concluíram haver uma forte influência de contos de fada e fábulas no modo de escrever dos alunos do sexto ano. Partindo dessa análise inicial, foram escolhidos três textos dessa turma para serem estudados no presente artigo.

Solicitamos que os alunos escrevessem uma narrativa partindo de uma série de cinco quadrinhos, onde um menino plantava duas árvores e no final amarrava uma rede entre as árvores e descansava (ANEXO 1). Nos três textos escolhidos encontramos elementos de contos de fadas, clássicos que fazem parte da infância das crianças como o “Era uma vez...”, a fórmula de abertura de contos de fadas.

Para entendermos melhor o processo de leitura das crianças, abordaremos brevemente nesse artigo algumas concepções de letramento e também decorreremos sobre a influência dos clássicos na formação escritora dos alunos.

LETRAMENTO

A língua é um sistema que tem como centro o uso social que faz da linguagem através de textos ou discursos, falados ou escritos, utilizando palavras, desenhos e sinais para que aconteça a comunicação. Segundo Terra (1997) chama-se de linguagem todo o sistema de sinais convencionais que nos permite realizar a comunicação, como a linguagem dos surdos, as placas de trânsito, gestos corporais e a língua que as pessoas falam.

Pensando na fala e sua relação com a escrita, falaremos brevemente sobre o surgimento do termo letramento no Brasil e no mundo, além de abordarmos o entendimento dado pelos professores na sociedade brasileira.

Na reunião da Anped Nacional de 2003, realizada em Poços de Caldas (MG), Soares (2004) apresentou uma releitura de seus escritos sobre o tema letramento, neste trabalho a autora aborda o surgimento do conceito de letramento e suas diferentes compreensões. No Brasil, o termo surgiu em meados dos anos 1980.

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Nos Estados Unidos e na França, o letramento passa a ser entendido como um processo que deve ser intrínseco à alfabetização. Não há como ensinar uma criança a ler sem que ela seja capaz de participar de eventos sociais de letramento, se ela está alfabetizada, também estará letrada.

No Brasil os professores separaram os dois processos com termos e práticas diferenciados, alfabetização e letramento, e tinham dificuldades em compreender se deveriam alfabetizar ou letrar seus alunos, quando o dois termos deveriam caminhar juntos. Felizmente esta realidade vem sendo alterada a passos largos, e baseados nos documentos oficiais os professores vem alterando sua prática e suas concepções sobre alfabetização.

Importante ressaltar que atualmente o letramento vem sendo considerado de forma plural, pois existem vários letramentos, como por exemplo, o letramento digital, o matemático, entre outros. O letramento escolar, no qual está incluída a aprendizagem da decodificação dos símbolos, é apenas um dos letramentos. Há uma busca para a substituição da dúvida entre os termos alfabetização e letramento, ou ainda, alfabetização ou letramento, pela ideia de alfabetização com letramento. Na realidade essa discussão entre as palavras alfabetização e letramento ocorre somente no Brasil, pois letramento é um neologismo criado para descrever o que se esperava do processo de alfabetização: que o alfabetizado estivesse inserido nas práticas de uso social da leitura, escrita e oralidade.

O letramento é essencial para o convívio na sociedade atual, uma vez que praticamente tudo gira em torno de textos, palavras e compreensões destes. Aprender a ler e escrever é aprender a construir sentido para e por meio de textos escritos, usando experiências e conhecimentos prévios. E para que se torne possível o letramento, é necessário primeiro decodificar o sistema alfabético para então compreender a formação de palavras, frases e textos.

A necessidade de integrar conhecimentos e ensinamentos fica clara nos dizeres de Soares, transcritos por Rojo:

Um alfabetizador precisa conhecer os diferentes componentes do processo de alfabetização e do processo de letramento. Conhecer esses processos exige conhecer, por exemplo, as práticas e os usos sociais da língua escrita, os fundamentos do nosso sistema de escrita, as relações fonema/grafema que regem o nosso sistema alfabético, as convenções ortográficas […] exige ainda a apropriação dos conceitos de texto, de gêneros textuais […] Mas além de conhecer o objeto da aprendizagem, seus componentes linguísticos, sociais, culturais, o alfabetizador precisa também saber como é que a criança se apropria desse objeto, ter uma resposta para a pergunta: "como é que se

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aprende a ler e a escrever? A ler e produzir textos de diferentes gêneros?". Isso significa conhecer o processo de compreensão e produção de texto escrito, o processo de construção de sentido para um texto, o processo de desenvolvimento da fluência na leitura, o processo de aquisição e desenvolvimento de vocabulário, de que dependem a compreensão e a construção de sentido… O alfabetizador tem de conhecer o objeto da aprendizagem e também o processo pelo qual se aprende esse objeto - a língua escrita. Infelizmente, esses conhecimentos ainda não entraram na formação dos alfabetizadores. (Soares, 2005, p. 14 apud ROJO, 2006, p. 3).

O letramento envolve a questão das capacidades de leitura que as pessoas desenvolvem, tanto no contexto escolar quanto no contexto social. Não basta o indivíduo conseguir decodificar o código alfabético, é imprescindível que ele consiga compreender o que está lendo.

Na segunda metade da década de 1990, novas ideias passaram a ganhar espaço no território educacional brasileiro: a vertente sócio-histórica, representada pelo pensamento de Lev Vigotsky e seu grupo. As ideias de Vigotsky são baseadas no fato de que a apropriação do conhecimento se dá pelas relações do aluno com mediadores mais experientes ou não e tiveram grande impacto na educação nacional após a publicação dos documentos nacionais como os PCNs, baseados neste pensamento.

Na alfabetização, essas ideias resgataram o papel do professor no processo de apropriação da escrita por parte das crianças e a necessidade do mesmo direcionar sua prática para atuar sobre aquilo que a criança não consegue ainda fazer sozinha, mas conseguirá se alguém mais experiente a ajudar. A propagação das ideias propostas por Vigotsky fez com que muitos alfabetizadores tentassem aproximar teorias desse pensador com teorias de Ferreiro.

Muitos alfabetizadores se valem hoje do ideário de Ferreiro (2008) para acompanhar o desenvolvimento de suas crianças ao longo do processo de alfabetização: se estão em fases pré-silábicas (não associam as formas escritas que escrevem com os sons da língua), silábicas (usam um único grafema para representar sílaba inteira), silábico-alfabéticas (começam a ter maior atenção com a quantidade de grafemas necessários para representar os sons da fala) ou alfabéticas (quando já realizam correspondências entre fonemas e grafemas). Esses professores, no entanto, não organizam o seu fazer pedagógico a partir das contribuições teóricas de Ferreiro, tomam apenas as teorizações dessa autora sobre tais estágios para acompanhar como as crianças estão aprendendo. No mais, parecem ancorar sua ação em teorizações que se aproximam do ideário vigotskiano. Esse conhecimento de como a criança

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constrói o seu conhecimento é essencial para qualquer professor que se disponha a ensinar uma língua.

Conforme Geraldi (1999) três concepções de linguagem podem ser apontadas: a língua como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma de interação. A expressão do pensamento compreende os estudos tradicionais, a língua como código é um instrumento de comunicação e forma de interação expressa a interação entre interlocutores enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais, fenômeno social.

Travaglia (1995) afirma que a maneira como o professor concebe a linguagem e a língua altera em muito o como se estrutura o trabalho com a língua em termos de ensino. A língua é atividade constitutiva do homem e da sociedade, a escola é o meio responsável pela forma como será abordado o seu aprendizado. O professor tem o papel de leitor e não corretor ortográfico, as estratégias utilizadas em sala de aula para produção de textos devem ter uma finalidade para atrair o interesse do aluno e qualificar o seu trabalho.

O ensino de Língua Portuguesa nos anos finais do Ensino Fundamental requer, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, que se considerem as características próprias do aluno adolescente, a especificidade do espaço escolar, no que se refere à possibilidade de constituição de sentidos e referências nele colocada, e a natureza e peculiaridades da linguagem e de suas práticas. O adolescente necessita de um fazer reflexivo, em que não apenas se opera concretamente com a linguagem, mas também se busca construir um saber sobre a língua e a linguagem e sobre os modos como as opiniões, valores e saberes são veiculados nos discursos orais e escritos.

A INFLUÊNCIA DO GÊNERO

Seguem primeiramente os três textos de alunos que serão discutidos nessa sessão. Foram escolhidos dois textos produzidos por crianças do sexo feminino e um do sexo masculino, para exemplificar que não são apenas as meninas que sofrem as influências dos clássicos. Os textos foram digitados conforme foi escrito pelas crianças, por isso podem haver erros gramaticais ao longo de cada texto.

F - 11 anos

Era uma vez um menino chamado Pedrinho, Pedrinho comprou uma rede, mais não tinha onde colocar. Então ele pensou - Vou ajudar a natureza e vou colocar minha rede para descansar.

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Então La foi ele plantou duas belas árvores cuidou delas até ficarem grandes e fortes. Quando isso aconteseu ele colou sua rede e descansou.

Viu alem de ajudar a natureza você pode fazer augo para você também !!!

M - 12 anos

Era uma vez um menino tava plantando 2 árvores, com o sol nasceu bem rápido e ele molhou e cresceu e ficou grande, e ele teve uma ideia buscou a rede para descansar, e colocou ela só cuando as árvores ficaram grandez e colocou a rede e buscou um suco e deitou na rede e dormio.

F - 11 anos

Era uma vez, um menino que adorava sair e plantas, molhar as plantas. Um dia ele saiu para ver a sua amiguinha árvore. Ela estava muito seca, então ele molhou, molhou e ela cresceu. Quando ela cresceu ele pegou uma rede e amarrou nela e na amiguinha dela. E ele ia todo dia la deitar na rede, converçar com as amiguinhas dele...E todos foram felizes para sempre.

Após realizar a leitura dos três textos, podemos perceber que a primeira criança utilizou elementos tanto dos contos de fadas quanto das fábulas ao criar uma espécie de moral da história, ressaltando a importância de ajudar a natureza.

Já no segundo texto, podemos perceber que o menino apenas utiliza apenas a fórmula inicial dos contos de fadas, sem aprofundar no fantástico nem criar elementos mágicos. Enquanto a terceira criança, além de utilizar a fórmula inicial de abertura “Era uma vez...”, que permite ao leitor se transportar para um mundo fantástico, diferente do mundo real onde os contos e fábulas são realmente possíveis, também acrescenta o elemento mágico ao acelerar o crescimento da árvore com a atenção do menino.

Além da abertura e do elemento mágico, a terceira criança também incluiu em seu texto a fórmula de encerramento “viveram felizes para sempre”, que permite que o leitor volte ao mundo real com a sensação satisfatória de ter vivenciado ele mesmo a aventura descrita, graças ao “Era uma vez...”.

Mas por que as crianças, sem nenhuma instrução para que criassem um conto, ou até mesmo um conto de fadas, escreveram histórias com essas fórmulas de abertura e encerramento?

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Podemos dizer que essa relação de história com contos de fadas venha da primeira infância, onde ocorreram os contatos iniciais com contos de fadas através de contações de história na escola ou também em casa. Pode ser considerado natural que, depois de anos ouvindo histórias que comecem assim, ao receberem o comando para escrever uma história, lhes tenha ocorrido escrever uma história que começasse assim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazendo uma análise não tão profunda foi possível perceber a forte influência dos clássicos de contos de fadas em praticamente todos os jovens. Notamos que antes mesmo da alfabetização eles recebem uma grande carga de literatura procedente dos pais, avós, familiares em geral. Esta bagagem cultural é de suma importância para o fomento do aprendizado. O criativo incentiva-os no letramento e alfabetização.

Tão logo eles descobrem os diferentes gêneros literários, começam a aplicá-los nas aulas. O letramento deles, inevitavelmente esta um passo a frente da alfabetização. Devemos agora unir ambos e usar desta vantagem para facilitar a alfabetização desde o início.

Os contos de fadas, fábulas e afins ainda são predominantes na educação e no convívio social. Provenientes de suas memórias afetivas, os jovens trazem para o presente toda a delicadeza, pureza e verdade.

O professor nesses casos deve fomentar a criatividade, de maneira que o aluno sinta-se livre para desenvolver. Muitas vezes o aluno sente-se podado por ainda não ter o domínio completo da alfabetização gramatical.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRO, E. TEBEROSKY, A., Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de Português. 2 ed. São Paulo: Ática, 1999.

ROJO, R. Alfabetização e letramento: sedimentação de práticas e (des)articulação de objetos de ensino. Florianópolis: Perspectiva, 2006.

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SOARES, M. B. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: Campinas: Autores Associados, n. 25, 2004.

TERRA, E. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1o e 2o graus. 5ed. São Paulo: Cortez, 1995.

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ANEXOS Anexo 1

Referências

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