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Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder. Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

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Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

A influência da família e da escola na formação do comportamento das mulheres de elite e de classe média do Vale do Itajaí entre 1920-1960

Nivia Feller (FURB/ COMPASSO)

Palavras-chave: família, educação, mulheres.

ST 27 - Reconfigurações do público e do privado e os limites do protagonismo feminino

1.1 Trabalhos permitidos para as mulheres na época

Este artigo pretende abordar a representação do papel feminino em relação ao trabalho permitido para as mulheres da elite e da classe média do Vale do Itajaí entre 1920-1960. Ele será elaborado tendo por base as entrevistas realizadas entre novembro, dezembro de 2001 e janeiro de 2002. Utilizamos como técnica a história oral como forma de resgatar a trajetória de vida de algumas mulheres pertencentes à elite e à classe média da região, tomadas como padrão.

Muitas respostas relativas ao tipo de trabalho permitido para as mulheres, na época, foram associadas à experiência concreta de cargos já ocupados por mulheres no Vale do Itajaí na década de 1940. Três de nossas entrevistadas prepararam-se para assumir cargos administrativos nas empresas locais, o que não era comum até então. A educação escolar, os cursos profissionalizantes, cursos em língua estrangeira, no caso de nossa região, a língua alemã, e em especial, a própria influência social dos pais fez com que três mulheres que entrevistamos ocupassem espaços nas indústrias que anteriormente eram apenas ocupados por homens.

Quando fizemos a pergunta sobre quais os trabalhos permitidos para as mulheres na época, podemos dizer que as respostas dadas estão totalmente relacionadas com a condição social das mulheres na época, ou seja, com a classe social que elas pertenciam.

Aquelas que pertenciam à elite como América H. Schroeder, Carmem Renaux e Norma Schaefer não trabalharam fora de casa. As que pertenciam a classe média – Renate Rish, Carla Siwert, Teresinha Merico, Beriana Kurt e Odette Brandes - ou seja, as mulheres filhas de funcionários públicos e comerciantes, trabalharam em serviços administrativos, de escritório, loja ou ainda como professora.

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“Mais o magistério e uma ou outra secretária, como eu que fui secretária também. Eu justamente fui fazer um curso para ser secretária. Aqui tinha o pessoal que sempre trabalhou na fábrica.” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – O B.)

“Olha, eu acho que o fundamental era o balcão. E uma coisa muito importante também na época assim era ser bilingüe, se soubesse pelo menos falar um pouco em alemão porque para aquela época era essencial. Eu ingressei mesmo, eu acho que uma grande oportunidade que eu tive foi porque eu falava um pouco de alemão porque tinham muitas pessoas que vinham fazer compras e só falavam em alemão.” (Entrevista realizada pela 07/12/01 – R. R.)

“Depois de casadas as mulheres não podiam trabalhar fora de casa.” (Entrevista realizada pela autora em 07/12/01 – C. R.)

“Foram surgindo professoras. Porque veja, como eu já falei hoje de manhã, quando eu entrei na escola era a escola alemã, não havia professora para ensinar, vamos dizer, um curso em português. Eles importavam professores. No Cônsul o diretor era um alemão. A minha primeira professora era alemã que veio direto da Alemanha e duas vezes por semana nós tínhamos então, português com uma professora de Brusque. Mas havia falta de professores em português, aí começou a chegar uma turma de professoras de Florianópolis formadas normalistas.” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – C.S.)

“Quando eu estava estudando já começaram a fazer o contador a noite e trabalhar em escritório1. Foi uma abertura assim, muito tímida. Duas ou três no escritório da Schlöesser, outras duas ou três no escritório da Renaux. Era assim uma elite de meninas que trabalhavam nestes escritórios. Eram umas meninas muito queridas, muito especiais... Então aquelas duas ou três mocinhas que faziam parte ou eram sobrinhas ou eram filhas de alguém daquele grupo e aí isso foi. Depois, lá pelas tantas eu senti que tinha mais moças. Mais na totalidade era o magistério. E também elas trabalhavam de balconistas, isso em lojas, lógico que já tinha. Mais em escritório esse tipo de coisa. E aí começou mesmo, as mulheres começaram a sair para trabalhar mais.” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – T. M.)

“Vamos dizer, advogadas, médicas se é que tinha eu não me lembro que tivesse advogadas. Existiam professoras e funcionárias de banco. No momento eu não me lembro de mais alguma profissão.” (Entrevista realizada pela autora em 29/11/01 – N. S.)

A entrada de mulheres em escritórios nas fábricas da região ocorria principalmente, quando estas tinham algum parente trabalhando nas empresas.

Também como não era qualquer menina que podia ser professora na época, pois para exercer essa profissão tinha que ter o “Curso Normal”, o qual passou a existir em Brusque apenas em 1954.

Antes disso, para ser professora as meninas de Brusque, tinham que estudar nos colégios da região: elas iam, principalmente, para Blumenau, Florianópolis e Rio do Sul. Todos esses colégios eram particulares. Portanto, os pais tinham que ter um determinado poder aquisitivo para pagar o estudo das filhas.

Três das mulheres que entrevistamos – Carmem Renaux, Norma Schaefer e Grete Medeiros - disseram que na sua juventude, por volta de 1930, que não era comum existir mulheres trabalhando fora de casa. Se por ventura elas trabalhassem, era em profissões consideradas femininas, como as de

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Em meados da década de 1940 já era permitido que as mulheres de classe média do Vale do Itajaí exercessem uma profissão, tanto que uma mulher que entrevistamos – Carla Siewert - começou a trabalhar justamente nesse período. Vejamos a referência de duas de nossas entrevistadas em relação à formação escolar que tiveram, diretamente voltada para o exercício de uma profissão.

“A Escola Normal que eu freqüentei, a Escola Normal de Rio do Sul, ela direcionava completamente para o magistério. As professoras, as nossas professoras da Escola Normal eram todas freiras que vinham de São Paulo, que era o Instituto Santa Inês de São Paulo. A nossa formação era completamente voltada para o magistério, direcionada...” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – T. M.)

“Aprendi inglês, francês, latim, professores de gabarito porque nosso diretor trouxe professores assim, de categoria mesmo, nós aprendemos, foi uma formação olha assim, muito boa. Tanto é que quando eu terminei o Ginásio lá da fábrica Renaux eles pediram que mandassem três alunos e eu então, também fui indicada para ir lá. Eu, aos 14 anos, fui logo aproveitada para ser secretária do diretor técnico da Renaux...” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – O. B.)

Apesar desta formação escolar voltada para o exercício de uma profissão, uma de nossas entrevistadas, Carla Siwert, ao começar a trabalhar numa indústria têxtil tradicional de Brusque, a Schöloesser, onde permaneceu trabalhando durante cinqüenta anos, nos contou que apesar do reconhecimento dos proprietários e dos diretores da empresa, os seus colegas de trabalho, do sexo masculino, não admitiam que ela tivesse um cargo superior a eles, e acima de tudo, não admitiam que ela tivesse capacidade para exercê-lo. Por isso, muitas vezes, ela admitiu que negou a sua identidade, pois traduzia textos em língua alemã de modo impecável, mas quem assinava era um colega de trabalho. Portanto, ninguém ficava sabendo que a autora destes trabalhos era ela. Esses depoimentos mostram que apesar de adentrar no mundo do trabalho, as mulheres sofriam muito preconceito.

Como mencionado anteriormente, e de acordo com as respostas dadas pela entrevistada, em relação ao trabalho permitido para as mulheres, podemos afirmar que este era influenciado pela classe social da qual ela fazia, e ainda faz parte e por ela ter ou não trabalho fora de casa antes de casar-se. Desde a colonização desta região, sempre existiram mulheres trabalhando fora do espaço doméstico, mas o trabalho feminino na “elite” começou a ser desvalorizado a partir do início da década de 1920, como nos mostrou a historiadora Maria Luiza Renaux, quando o ideal das mulheres pertencentes a esta classe passa a ser apenas ligado às funções do lar e as tradicionais tarefas atribuídas às mulheres como a caridade, por exemplo.

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Portanto, podemos dizer que apenas as mulheres das famílias menos abastadas trabalharam fora de casa. Aquelas que eram filhas de empresários ou de famílias bem sucedidas não exercerem uma profissão.

1.2 Casamento, trabalho ou a conciliação de ambos?

Para sabermos o verdadeiro desejo das mulheres entrevistadas e quais eram seus ideais, perguntamos às mesmas se elas queriam apenas casar ou pensavam somente em trabalhar fora ou ainda, se pensavam em casar e conciliar o trabalho fora do espaço doméstico. Vejamos alguns depoimentos delas:

“Bom, eu sempre trabalhei em casa, eu nunca trabalhei fora porque o meu marido fazia artefatos de couro, de montaria, chinelo, cinto, carteira e eu ajudava ele a costurar.” (Entrevista realizada pela autora em 29/11/01 – D. D.)

“Não, eu não tive que me preocupar. Talvez se eu tivesse tido filhos, talvez eu ia pensar duas vezes se eu ia continuar trabalhando. Sei lá, com o primeiro filho é difícil ainda trabalhar fora.” (Entrevista realizada pela autora em 31/01/02 – B. K.)

“Não, não podia. Não porque eu comecei a namorar com 13 anos com esse meu atual marido.” (Entrevista realizada pela autora em 29/11/01 – N. S.)

“Eu sempre pensei em conciliar as duas coisas. Parar de trabalhar não estava na minha programação. Não porque eu via assim a minha mãe, apesar de ganhar pouco ela era independente financeiramente, aquela independência dentro dos seus limites de professora primária. E eu sempre achei que a mulher tem que trabalhar fora também para a vida ser mais interessante. E o magistério me deixava conciliar bem isso. Porque até os meus filhos estarem no Ginásio eu trabalhava só um período. Um período eu ficava com eles. Eu ia trabalhar eles iam para o colégio, para o jardim, então eu estava um período com eles. Sempre pude conciliar bem isso. Nas férias ficávamos todos juntos. Houve uma época em que eu fazia vitrine, então todos me ajudavam a preparar vitrine e eles me ajudavam a enfeitar. Tinha determinadas lojas que eu fazia assim, vitrines de natal, de carnaval, de páscoa. Mas eu fiz isso numa época por complemento financeiro, então os meninos me ajudavam e a renda das vitrines, nós comprávamos o que estávamos planejando para aquela época. Todo mundo ganhava um sapato novo, ganhava... Mas, eu trabalhar sempre foi uma meta.” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – T. M.)

“Já com 15 anos eu tinha o meu primeiro namorado que gostei muito, mas com 16 já conheci o meu marido e aí nunca pensei em trabalhar fora.” (Entrevista realizada pela autora em 07/12/01 – C. R.)

“Eu sempre tive essa preocupação de casar e trabalhar. E foi muito importante porque o meu

marido era gerente de banco e o pessoal vinha e dizia para mim “ih, ele é gerente de banco e a sua mulher trabalhando”. Sabe, eles não concebiam. Achavam assim que a mulher só devia acompanhar o marido em sociedade assim. E foi muito bom porque depois o meu casamento não deu certo e daí eu tinha o meu trabalho. Eu também não sabia ficar só em casa não. Isso não batia com a minha cabeça.” (Entrevista realizada pela autora em 22/11/01 – O B.)

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Disto resultou a dicotomia entre algumas respostas. Enquanto que algumas entrevistadas, entre elas, Terezinha Merico e Odette Brandes, dizem que sempre estiveram preocupadas em conciliar o trabalho fora do lar com o casamento e o cuidado com os filhos outras, como Carmem Renaux, Norma Schaeffer e América H. Schroeder, nem chegaram a pensar que um dia poderiam vir a trabalhar fora do espaço doméstico e mostraram, portanto, que a sua preocupação central era com o casamento e com os encargos provenientes deste.

Na verdade o que aconteceu foi o seguinte: quem trabalhava fora de casa antes do casamento como Teresinha Merico, Odette Brandes e Beriana Kurt não abriu mão de continuar trabalhando após casar-se e quem não trabalhava antes do casamento – América Schroeder, Dalbérgia Deuscher, Grete Medeiros e Carmem Renaux - permaneceu assim após casar-se.

A execução de um trabalho remunerado fez com que todas as mulheres que entrevistamos nascidas entre 1931 e 1946 pudessem ter segurança econômica, o que lhes deu autonomia e liberdade para tomar algumas decisões importantes em suas vidas. Como exemplo, podemos citar a decisão de Renate e Carla de não casar e, também, o divórcio de Odette e Beriana.

A divisão sexual dos papéis que Poster observara na família estrutural burguesa em meados do século XVIII também pôde ser observada em todas as entrevistas que realizamos. Teresinha Merico diz que após casar-se ela passou a trabalhar apenas meio período para que pudesse ter tempo para cuidar dos filhos. Norma Schaefer diz que o ideal é a mulher trabalhar fora apenas meio expediente e Carmem Renaux fala que na sua época – na década de 1930 – as mulheres não trabalhavam fora após o casamento.

Três das mulheres que entrevistamos – Carla, Renate e Odette – disseram que o fato de saber falar alemão devido ao cultivo da língua em casa pelos seus pais foi muito importante na ocupação profissional que elas tiveram.

Tudo isso proporcionou às mulheres ocupar espaços de liderança no trabalho e na comunidade em que estavam inseridas. Isto ocorreu com todas as mulheres que entrevistamos que nasceram entre 1931 e 1946 e portanto, houve mudança na vida das mulheres da elite e da classe média do Vale do Itajaí que entrevistamos, principalmente as que nasceram entre 1931 e 1946, fazendo com que o seu comportamento pudesse ser considerado “inovador”.

Referências

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