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Trabalho, educação e reprodução ampliada da vida: doces amarguras do trabalho associado no campo.

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Academic year: 2021

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Página 1 Título:

Trabalho, educação e reprodução ampliada da vida: doces amarguras do trabalho associado no campo.

Sonia de Melo Souza – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (PPGE)

Eixo temático 6: Pesquisa, Educação, Movimentos Sociais e Novos Protagonistas.

Categoria: Pôster

Introdução

A partir de fundamentos teórico-metodológicos do materialismo histórico, nosso objetivo é analisar as dimensões educativas da experiência de trabalho de um grupo de trabalhadores e trabalhadoras que se associam para garantir a reprodução ampliada da vida. Trata-se de homens e mulheres que, em 1993, com aproximadamente 200 famílias, haviam ocupado a Fazenda Capelinha, situada em Conceição de Macabu (Estado do Rio de Janeiro).

No contexto da crise do complexo sucroalcooleiro, esta região assistiu à falência das usinas e a um enorme contingente de trabalhadores desempregados, sendo identificadas várias áreas que poderiam ser consideradas improdutivas. Depois de cerca de um ano de acampamento, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST conseguiu a desapropriação da terra e o assentamento de 139 famílias na Fazenda Capelinha. Desde então, no âmbito da Associação de Trabalhadores Rurais, os assentados têm desenvolvido atividades econômico-culturais que podem ser consideradas como atividades da economia popular.

Na pesquisa de campo, destacamos o plantio de hortaliças, criação de animais, produção de cachaça e derivados de leite, além de atividades comunitárias, necessárias para assegurar a reprodução ampliada da vida (saúde, educação, lazer, etc.) no âmbito da comunidade. Como vivem e sobrevivem os trabalhadores e trabalhadoras do Assentamento Capelinha? Para eles, o que ensinam as experiências do trabalho de produzir a vida associativamente? Tendo em conta as mediações de

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Página 2 segunda ordem do capital, quais são as limites e desafios do trabalho associado no campo?

O presente projeto tem como objetivo refletir sobre as dimensões educativas, da experiência de trabalho de um grupo de trabalhadores e trabalhadoras, que se associaram para produzir a vida numa antiga fazenda de cana de açúcar no norte fluminense. Este estudo objetiva uma tentativa de pensar um espaço ético e político na perspectiva da formação humana, não idealizada, mas produzida no seio das contradições da sociedade capitalista em que vivemos.

Sobre as características morfológicas a principal constatação é que o rio que corta o assentamento é o Rio do Meio, seu único recurso hídrico, afluente do Rio Macabu. Desprovido de mata ciliar, o fluxo do rio se altera em função do período e da quantidade de chuvas que por ele escoa.

No âmbito das questões socioeconômicas, apresentam-se na área do assentamento instalações como a sede, uma creche municipal, uma casa de farinha, e um campo de futebol onde se realizam torneios e integração com outras comunidades rurais. A Associação de Trabalhadores Rurais da Fazenda Capelinha I e II é composta por um grupo de mulheres que se reuniram na associação com o objetivo de reproduzir a vida associativamente e pretendem imprimir uma nova gestão à associação dos trabalhadores rurais.

Para além da mobilização dos antigos trabalhadores desempregados pela usina, foram mobilizados moradores da periferia de Conceição de Macabu e também de cidades vizinhas. A partir dessa iniciativa, nos perguntamos qual a concepção de trabalho existente na inserção produtiva dessas mulheres que vieram do meio urbano e se deslocaram por forças econômicas e políticas no sentido de garantir sua sobrevivência? Será que o trabalho humano é visto apenas como uma atividade econômica inserida numa determinada estrutura social, com características tipicamente utilitaristas? O trabalho não é visto em seus aspectos lúdicos, simbólicos, ou seja, em sua imaterialidade?

Com intuito de investigar um grupo que pudesse me ajudar a compreender como alguns trabalhadores e trabalhadoras vem se organizando através do trabalho associado na atual sociedade capitalista, me deparei com a experiência dessas mulheres excluídas do trabalho dito "formal", tentando entender os motivos que as levaram a este tipo de

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Página 3 experiência conhecida como economia popular, alternativa, ou informal dentre tantas outras denominações.

Trabalho de campo:

“ O melhor adubo da terra é o suor de quem nela trabalha”.

Cansadas do descaso e da falta de compromisso da gestão anterior, o novo grupo que detém atualmente a liderança da associação, relatou que deseja construir uma nova experiência de gestão. A partir de trabalho de campo, percebemos que desejam construir uma nova história de vida, vinculada ao mundo do trabalho através de uma experiência associativa. Esses trabalhadores e trabalhadoras têm planos de retomar o antigo projeto de produção artesanal de farinha e açúcar mascavo que foi paralisado pela administração passada.

Dona Regina é a Presidente da Associação e possui uma plantação de hortaliças que já comercializa na cidade de Macaé. Concilia esta atividade com as questões burocráticas da associação, o que a obriga a vir seguidas vezes ao Rio de Janeiro para acompanhar o processo junto ao INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

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Página 4 Dona Luzinete, outra liderança com 17 anos de vivência no assentamento, possui uma gleba de 12 hectares que divide com o filho mais novo.

Nascida no estado da Paraíba, migrou na década de 60 para o Rio de Janeiro, para o município de Duque de Caxias na Baixada Fluminense depois viveu em bairros do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro até chegar em Conceição de Macabu em 1996. Atualmente, vive da sobra de sua aposentaria e da venda de sacas de açaí, produzidas em seu sítio, para a comunidade paraense de Macaé.

Sua filha Audinete, é mais uma liderança local. Com 17 anos de vivência no assentamento, mora no sítio ao lado da mãe.

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Página 5 Sua gleba tem também tem 12 hectares. Cria animais: Peru, pato, galinha e porco para subsistência, comercializando apenas o excedente. Já trabalhou como empregada doméstica em Macaé e como agente de saúde da Prefeitura de Conceição de Macabu. Hoje em dia, divide seu tempo em cuidar dos afazeres domésticos e de um salão de cabeleireiro no município de Quissamã. Seus filhos não vivem mais no assentamento, uma vez que foram seduzidos pela vida da cidade.

Com intuito de investigar um grupo que pudesse me ajudar a identificar o processo de trabalho numa perspectiva da formação humana, não idealizada, mas produzida no seio das contradições da sociedade capitalista, me deparei com a experiência desses trabalhadores e trabalhadoras no assentamento rural da fazenda Capelinha I e II. De acordo com Tiriba (2007, p.20) o associativismo relaciona-se a categoria produção associada, que pode ser entendida como: a)Trabalho associado ou processo em que os trabalhadores se associam na produção de bens e serviços. b) Unidade básica da sociedade dos produtores livres associados.

Fischer e Tiriba (2011), neste movimento, nos apontam através dos estudos elaborados por Tiriba (2011) que as estratégias associativas de trabalho e de sobrevivência, fundadas em relações de doação, cooperação e reciprocidade, têm sido fundamentais para a preservação de melhoria da qualidade de vida de um grande contingente da classe trabalhadora.

A experiência (Thompson,1981) que é a base material de produção de tanto saberes, resulta da totalidade de experiências e culturas do trabalho de uma classe, em

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Página 6 constante formação. A totalidade espiralada dessas experiências de trabalho, inclusive de trabalho associado, faz parte da luta das classes trabalhadoras.

E é a partir desta perspectiva que pretendo apreender como manifestam parte das contradições inerentes a este modo de produção através da economia política. E nos perguntamos: porque trabalham juntas? Como trabalham? O que produzem?

Como lembra Célia Vendramini (2009,p.99), há o campo do agronegócio, da monocultura, dos transgênicos, da reserva de valor. Há também o campo do pequeno agricultor, o campo do sem terra, as crianças exploradas no trabalho, do trabalho escravo, da violência. Entre outros trabalhos, há também o campo da agroecológica, como proposta e prática de desenvolvimento de agricultura familiar sintonizada à preservação e biodiversidade.

A opção pelo materialismo histórico

Serão as categorias do próprio método dialético que serão utilizadas no processo de pesquisa. O método da reconstrução histórica, objetiva superar a lógica economicista, a lógica pós–moderna que ignoram a história como produção econômica e cultural da existência humana Ciavatta (2001). Através da categoria totalidade podemos compreender como o nosso objeto de pesquisa ao mesmo tempo em que manifesta é a manifestação das relações sociais mais amplas e presentes na atual conjuntura social das relações produtivas.

A categoria práxis nos auxilia mostrando que o conhecimento será produzido através do permanente e sempre crescente movimento do pensamento que vai do abstrato ao concreto pela mediação do empírico. Tendo em conta as mediações de segunda ordem do capital, quais são as limites e desafios do trabalho associado no campo?

Ao utilizarmos a categoria contradição, afirma Hegel; “ a totalidade sem contradição é inerte, vazia”, nada existe no mundo que não seja um estado intermediário entre o ser e o nada, mas não como “mistura ,mas enquanto relação ativa de contrários em busca de superação, mesmo que conservando o que cada um tem de determinado.

Neste sentido, nos questionamos como esses trabalhadores/as têm conseguido (re) produzir a sua existência material e imaterial.

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Página 7 Este projeto justifica-se a partir da premissa de que esse movimento inverso de migração permitiu que as famílias com históricos urbanos, sem um pensamento uniforme sobre os distintos sistemas da produção da vida no campo, conquistassem sua legitimação na ocupação do espaço rural e assim garantindo seu direito universal ao trabalho digno e associado que por sua vez é estranho a lógica excludente capitalista.

Surgem assim como principais atores marginalizados ou insurgentes frente ao sistema capitalista. É uma resposta ao que hoje assistimos no mundo do trabalho - o fenômeno mundial do desemprego. Mesmos os principais defensores do neoliberalismo não conseguem responder a todas as críticas que são feitas ao mundo do trabalho.

De acordo com Bartholo, o trabalho perdeu o seu sentido de atividade humana essencial, vital para que as pessoas sejam felizes neste mundo. Não é por acaso que se fala hoje em término do trabalho, em redução da jornada de trabalho, em automação. O trabalho passou a ser apenas um fardo. Mas não para todas as pessoas. Existem, ainda, pessoas que, sabem que o trabalho é mais do que uma obrigação social e meio de vida. São pessoas que tentam pautar sua vida por valores fraternos, solidários e amorosos. São pessoas que criam formas alternativas de trabalho, como cooperativas, centro de ajuda mútua e que buscam diminuir a importância do dinheiro e da riqueza material em seu coração, que não aceitam competitividade e produtividade como lema de vida. São pessoas devotas do trabalho. São pessoas que, afinal de contas, sabem que trabalhar é preciso. Neste sentido, nos questionamentos sobre como essas mulheres têm conseguido produzir a sua existência material e imaterial em meio ao novo bloco histórico que recebe o nome de globalização, reestruturação produtiva e que vem se forjando e assentando-se de um lado, na afirmação de seu caráter inevitável e, de outro, na naturalização de suas consequencias.

O estudo de caso dos trabalhadores e trabalhadoras reunidos na Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento da Fazenda Capelinha I e II pode permitir uma reflexão sobre esta realidade.

Objetivo geral:

Analisar as dimensões educativas da experiência de trabalho de um grupo de trabalhadores e trabalhadoras que se associam para garantir a reprodução ampliada da vida.

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Página 8 Objetivos específicos:

 Identificar o processo de trabalho de uma organização econômica associativa em um assentamento rural.

 Identificar os sentidos do trabalho no campo para os trabalhadores e as trabalhadoras.

Procedimentos Metodológicos:

Destacamos que algumas informações já apresentadas no presente objeto resultam das visitas em campo. Continuando este procedimento, buscaremos mais dados para as investigações através de determinados procedimentos metodológicos:

 Observação da prática cotidiana, entrevista, questionário, conversas informais, análise de documentos /fotografias.

 Acompanhamento das notícias das experiências de trabalho associado pelas mídias sociais e tradicionais como: jornal impresso, revista, internet e de televisão.

 Acompanhamento das reuniões da Associação dos Trabalhadores Rurais do assentamento fazenda Capelinha I e II.

 Dialogar conversas com os trabalhadores e trabalhadoras na tentativa de tentar compreender como organizam a produção

Pretendemos através da categoria trabalho associado, compreender a centralidade do trabalho nas nossas vidas, e como mediação de primeira ordem como criador da condição humana e que recebe historicamente mediações de segunda ordem, que transforma o trabalho criador em alienação, mercadoria e exploração da força de trabalho. Buscaremos através das obras de autores como Marx. Engels, Saviani, Frigotto, Tiriba, Fischer, Hummert, Thompson, dentre outros, compreender a categoria trabalho e educação das mulheres produtoras no assentamento rural Capelinha I e II. Considerações finais:

Buscaremos ressaltar a dimensão educativa do trabalho de produzir a vida associativamente através dos estudos que serão realizados e do acompanhamento do

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Página 9 processo de trabalho dos produtores rurais que compõem o assentamento Capelinha I e II.

Pretendemos identificar os desafios e as possibilidades do novo espaço formativo que poderá se configurar como um espaço de reprodução da vida. Pergunta que fica? Quais os ganhos políticos, sociais e afetivos decorrentes da inserção produtiva desses trabalhadores no meio rural vivendo uma experiência de produzir a vida associativamente?

Referências Bibliográficas:

ANTUNES, Ricardo. Sentido do Trabalho; São Paulo Boitempo; Editoria 1999.

CALDART, Rosely (org). PEREIRA, Isabel Dicionário da Educação do Campo; 1 ed. São Paulo: Expressão Popular 2012

FRIGOTTO, Gaudêncio (org) Educação e crise do trabalho: perspectiva de final de século.11ª Ed Petrópolis :Vozes, 2010.

MACEDO, Marcelo Ernandez. Políticos locais e sindicatos. Uma Etnografia da representação dos trabalhadores rurais no Rio de Janeiros Disponível em :www.ifch.unicamp.br/ceres/ruris-3-1-mst_politicos_locais_sindicatos.pdf acesso em 18/06/2013

PEREIRA, Anny Pereira. Jovens músicos trabalhadores: Dimensões educativas do trabalho de produzir a vida associativamente. Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para aprovação no curso de Mestrado em Educação RJ ,2013

PORTO, Marcelo Filipo; BARTHOLO, Roberto (org) Sentidos do Trabalho Humano. Miguel Simoni Presença e inspiração. 1 ed. E-papers Serviços Editoriais 2006

Projeto Lumiar 1997 a 2000; ATES 2004 aos dias atuais. Disponível em cooperativacedro.blogspot.com/2010/02/iniciativas-de-destaque-na-transicao.html acesso em 18/06/2013

SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Ver Bras. Educ.v. 12, n.34,.Disponível em <http://www.scielo.br/scielo>

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Página 10 THOMPSON, Eduard P. A miséria da teoria ou um planetário de erros – uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1981.

VENDRAMINI, Célia R. Educação do campo: educação virada para o futuro? In: CANÁRIO, Rui; RUMMERT, Sonia (Org.). Mundos do trabalho e aprendizagem. Lisboa: Educa, 2009. v.14, p.98-105.

Referências

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