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1º Seminário Nacional de Pós-Graduação em Relações Internacionais. 12 e 13 de julho de Brasília, DF

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1º Seminário Nacional de Pós-Graduação em Relações Internacionais 12 e 13 de julho de 2012 - Brasília, DF

Políticas Nacionais e Cooperação em Segurança Regional: América Latina SI – Segurança Internacional

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E COMBATE AO NARCOTRÁFICO: COMO COOPERAM ESTADOS COM GRANDES ASSIMETRIAS DE PODER?

Luiz Antônio Correia de Medeiros Gusmão Instituto de Relações Internacionais – Irel/UnB

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RESUMO

A produção e o tráfico de drogas ilegais é um dos grandes problemas de cooperação entre estados. Diversas convenções internacionais estabelecem parâmetros de orientação e coordenam os governos em seus esforços de implantar políticas para controle das drogas em seus territórios. Neste trabalho, desenvolvemos um modelo de barganha e cooperação entre estados com grandes assimetrias de poder, em que um estado hegemônico e um estado periférico devem decidir como serão distribuídos os custos e os benefícios da cooperação. A questão principal é saber o nível de incentivos (sanções ou recompensas) em relação ao nível de harmonização das políticas públicas domésticas que os estados podem assumir para alcançar efetivamente a cooperação numa relação assimétrica de poder. Nossa hipótese estabelece que o estado mais poderoso possui margem grande (mas nunca absoluta) para impor ao estado mais fraco os termos em que serão distribuídos os benefícios obtidos com a cooperação em uma questão internacional. Depois de analisar os equilíbrios e as proposições derivadas do modelo, concluímos com uma discussão sobre algumas de suas implicações teóricas e empíricas.

Palavras-chave: Cooperação internacional; Assimetrias de poder; Combate ao narcotráfico; Teoria dos Jogos e Escolha Racional.

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3 Introdução

A produção e o tráfico de drogas ilegais é um dos grandes problemas para as sociedades contemporâneas, tanto no campo da segurança pública doméstica quanto no da política internacional. O tema é matéria de diversas convenções internacionais que estabelecem parâmetros de orientação e coordenam os governos em seus esforços de implantar políticas para controle das drogas. Devido à abrangência internacional do problema, muitas das medidas para combate à produção e ao tráfico de drogas têm sido desenhadas e financiadas por meio de programas de cooperação bilaterais e multilaterais para promover projetos de desenvolvimento alternativo e de assistência militar. Por meio deles, recursos são canalizados para atividades eminentemente militares e repressoras (capacitação de efetivos policiais ou militares no combate ao narcotráfico, por exemplo) ou para a assistência técnica ou econômica (programas de desenvolvimento alternativo, desenvolvimento de lideranças locais, incentivos econômicos e concessão de preferências comerciais). A Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID, na sigla em inglês), o Programa para Controle de Drogas das Nações Unidas e vários governos europeus têm proporcionado financiamento e assistência técnica, mas o balanço geral dos programas é negativo.

É nesse contexto que se inserem Bolívia, Colômbia e Peru, os maiores produtores da folha de coca (em verdade, os únicos em que seu cultivo assume proporções realmente significativas), de onde é extraído o alcalóide cloridrato de cocaína. Esses países têm sido o foco principal da malfadada Guerra Contra as Drogas que foi lançada pelo governo norte-americano na década de 1970 e que busca extirpar o problema na sua fonte. Os recursos provenientes programas dos programas de cooperação internacional têm sua principal fonte na relação com os EUA, especialmente na Colômbia. A predominância dessa via de cooperação relação entre estes países implica a conservação de políticas de erradicação forçada, a marginalização dos cocaleiros e, consequentemente, o acirramento das tensões e da instabilidade doméstica. No caso da Bolívia, a política de “cocaína zero”, lançada pelo governo Morales, tem sido duramente criticada pelo governo dos EUA. No

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4 Peru, a aproximação dos EUA para a obtenção de ganhos comerciais, tem fortalecido o condicionamento da liberação de recursos para projetos de desenvolvimento alternativo à eliminação de cultivos de folha de coca.

Diante desse quadro, podemos nos perguntar: quais são os fatores que influenciam os governos a adotarem marcos mais próximos da militarização ou da legitimação? Que efeito sobre os atores sociais como grupos armados e movimentos cocaleiros produzem sobre as escolhas feitas na arena internacional pelos líderes governamentais? Que papel a cooperação internacional com os EUA desempenha na indução das estratégias e políticas de combate ao narcotráfico nos países andinos? Essas são as questões que balizam nossa pesquisa. Para respondê-las, neste artigo, procuramos desenvolver um modelo para analisar interações entre atores com grandes assimetrias de poder.

Revisão da literatura

Os primeiros estudos a aplicar pressupostos da Escolha Racional na análise de interações estratégicas entre atores das relações internacionais preocupavam-se, principalmente, com a questão da possibilidade de cooperação sustentável entre estados em um ambiente anárquico. Essa primeira geração de pesquisadores começou a publicar trabalhos a partir da década de 1970, no intuito de compreender porque estados soberanos criavam e se comprometiam com acordos internacionais, ainda que não houvesse uma autoridade superior a lhes impor a obrigação de cumpri-los (Gilligan e Johns 2011).

Nesse contexto, a Teoria da Estabilidade Hegemônica de Kindleberger (1986 [1973]) oferece uma explicação que vários pesquisadores, posteriormente, tentaram desenvolver em termos mais formais (Snidal 1985). O argumento básico de Kindleberger (1986 [1973]) parte do pressuposto de que a provisão e aplicação de acordos de cooperação internacional são um bem público e, por isso mesmo, sua oferta está abaixo do nível ótimo. Segundo essa teoria, devido a seu grande tamanho e a diversidade conexões com diversos países, o país hegemônico seria o maior demandante da estabilidade internacional.

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5 Dessa forma, ele poderia incorrer nos custos de sua produção e de punição ao comportamento desviante.

A Teoria da Estabilidade Hegemônica suscitou muitas críticas e revisões. Dentre elas, destaca-se a contribuição de Keohane (2005) que argumenta que independentemente da existência de um hegemon, regimes internacionais seriam produzidos quando houvesse interesses complementares ou comuns percebidos ou capazes de serem percebidos pelos atores políticos. Um hegemon poderia fornecer incentivos (prêmios e sanções) para fornecer um bem comum em troca de deferência, contudo, mesmo na sua ausência, incentivos semelhantes poderiam ser fornecidos se as condições o favorecessem.

Outros pesquisadores dedicaram-se a identificar condições em que, interações repetidas ao longo do tempo, produziriam incentivos para que atores racionais e egoístas se engajassem em estratégias cooperativas sustentáveis. Na obra The Evolution of Cooperation, Axelrod (1984) demonstrou, por meio de simulações em programa de computador, a importância das interações repetidas para criar essas condições: em um jogo do dilema do prisioneiro iterativo, se os atores descontarem os retornos que podem obter no futuro a taxas muito grandes, os atores irão aderir à cooperação. Nos termos de Axelrod (1984), a cooperação em um mundo anárquico emergirá como estratégia vencedora se a “sombra do futuro” é grande o suficiente para que eles atribuam maior valor aos ganhos de cooperação no presente.

Parte da literatura dedicou-se à questão específica de como instituições internacionais podem resolver problemas de ação coletiva por meio monitoramento e aplicação multilateral dos acordos (Oye 1986). Ao fornecer canais para circulação de informação, elas facilitam a reciprocidade, induzindo a adesão. Analiticamente, como num jogo do dilema do prisioneiro repetido, um equilíbrio cooperativo pode ser sustentado com estratégias retributivas (do tipo “olho por olho”) se o comportamento dos jogadores for transparente. Quando falta informação sobre o comportamento dos atores, a deserção pode deixar de ser punida com sanções enquanto a adesão pode não ser recompensada, perturbando a estabilidade do equilíbrio cooperativo (Dai 2005).

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6 A primeira geração de estudiosos produziu avanços significativos na análise dos processos de conflito, barganha e institucionalização das relações internacionais, contudo padecia de algumas deficiências. Em primeiro lugar, eles não se desvencilharam do impasse teórico a que chegou o debate entre correntes neorrealistas e neoliberais sobre a preferência dos atores por ganhos relativos ou por ganhos absolutos e os limites da cooperação internacional (Gilligan e Johns 2011). Outro problema com esses estudos é que suas premissas reduziam os problemas de cooperação internacional a uma questão de definir se a matriz de retornos (payoffs) em certa área se assemelhava uma Guerra dos Sexos, um jogo do Covarde (problemas de coordenação de estratégias como, por exemplo, desenvolvimento de padrões técnicos) ou a um Dilema do Prisioneiro (problema da “tragédia dos bens comuns” como, por exemplo, proteção ambiental). Dessa forma, frequentemente ignorava-se o fato de que, em qualquer área que seja da política internacional, há um contínuo de acordos e barganhas que se podem ser feitos, distribuindo-se benefícios desigualmente entre os atores envolvidos.

Uma terceira deficiência dessa literatura é que ela dá pouca atenção a efeitos de assimetrias de poder sobre processos e resultados de interações na arena política internacional. Com efeito, a linguagem da teoria dos jogos oferece alguma dificuldade quando se trata de incorporar capacidades de poder dos atores e como elas moldam suas preferências e estratégias. Se por um lado, as matrizes de retornos simétricas ou a alternação de movimentos sequenciais obscurecem desequilíbrios de poder fundamentais em algumas interações, por outro, artifícios desenvolvidos para introduzir essas diferenças de capacidade (como, por exemplo, conceder o poder de agenda para um dos atores) trazem o risco de superdimensionar diferenças de poder ou enviesá-las em um direção (Drezner 2007). Uma quarta deficiência teórica consistia no pressuposto de que diferentes questões e áreas das relações internacionais (comércio, finanças, controle de armas, meio ambiente, etc.) tinham uma estrutura estratégica específica, i. e., os atores possuíam ordens de preferências que variavam segundo a matéria em negociação. As ordens de preferência determinariam se a situação em que os atores interagiriam seria de um Dilema do Prisioneiro, Jogo do Covarde, Guerra dos Sexos, Coordenação Pura etc. Isso afetaria

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7 assim a natureza dos problemas específicos que os estados deveriam superar para alcançar um acordo (Fearon 1998).

É devido a essa última característica que as funções de utilidade definidas por esses modelos eram exógenas, ou seja, parâmetros dados que definiam os retornos que os estados obtinham com cada resultado. No mundo real, contudo, as utilidades resultam de uma barganha entre estados que deve ser concluída antes que o acordo seja posto em prática. Em vista disso, estudiosos preocupados em explicar como os estados definem os termos dos acordos de cooperação e definem a distribuição de seus benefícios (sem recorrer ao deus ex machina de um estado hegemônico estabilizador) desenvolveram modelos de barganha em que as utilidades dos atores são geradas endogenamente (Gilligan e Johns 2011).

Considerando que os problemas de cooperação internacional possuem uma estrutura estratégica comum, qualquer que seja a questão substantiva ou área de cooperação, Fearon (1998) elaborou um modelo de negociação em dois estágios: primeiro, uma fase de barganha para definir a distribuição dos benefícios de um possível acordo; segundo, uma fase de execução modelada como um Dilema do Prisioneiro repetido. Para Fearon (1998) praticamente todos os esforços de cooperação internacional possuem características de uma barganha: (a) referem-se a situações em que uma variedade e acordos ou resultados autoimpositivos que duas ou mais partes prefeririam a acordo algum; (b) desenvolvem-se ao decorrer do tempo, seja em sequências de ofertas e contraofertas, seja com uma suspensão da decisão quando um ou ambos atores ficam à espera de que sua contraparte faça concessões e (c) costumam envolver incerteza ou informação privada sobre o qual é o verdadeiro limite mínimo da contraparte e, com isso, sobre as possibilidades de blefe e engodo.

A barganha ocorre em um espaço unidimensional em que os estados possuem preferências conflitivas sobre os pontos de acordo. Fearon (1998) modela essa fase como uma “guerra de atrito” em que há um custo de conflito e cada ator escolhe um momento para sair. Perde aquele que se retirar primeiro. Cada jogador possui informação privada sobre seu próprio custo para permanecer na disputa. Dessa forma, o ator com menor custo para adiar estará sempre mais

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8 disposto a esperar a saída do outro e estará apto para receber seu resultado preferido.

O modelo de Fearon (1998) traz uma inovação importante com relação ao parâmetro da taxa de desconto, i. e., a “sombra do futuro”. Se, na fase de execução as taxas de desconto devem ser altas o bastante para que os atores se comprometam com um acordo, altas taxas de desconto tornam a fase de barganha mais difícil, pois os atores com taxas maiores poderiam esperar mais tempo para que sua proposta seja aceita. Portanto, à medida que a sombra do futuro cresce, ambos atores escolhem estratégias de barganha mais duras, provocando atrasos cada vez maiores até a cooperação iniciar. Dessa forma, quando estados se preocupam com seus retornos futuros, o benefício esperado a longo prazo de se obter o melhor acordo é muito grande. Com isso, os benefícios potenciais de esperar aumentam. Paralelamente, quando um ator valoriza os retornos futuros tanto quanto os retornos correntes, fazer concessões hoje torna-se pouco melhor do que fazer concessões no futuro, de forma que os custos de adiar a decisão.

Uma vez que os termos de um acordo são estabelecidos, a próxima fase consiste em implantá-lo, monitorá-lo e aplicá-lo. Como as partes precisam incorrer em custos para efetivamente por o acordo em prática, é razoável supor que elas reconhecerão a existência de incentivos para renegar de diversas formas termos pactuados e, por isso, elas montam estruturas de governança – instituições ou regimes – de complexidade variável para lidar com esse problema. Diante disso, um determinado acordo que sai da barganha será tanto mais executável quanto maior for a sombra do futuro (ou seja, valor que os atores atribuem aos retornos futuros), quanto melhor for a tecnologia para monitoramento e resposta a violações, quanto menores forem os benefícios de curto-prazo da estratégia de deserção e quanto maiores forem os custos da não-cooperação.

O modelo de Fearon (1998) permite formalizar interações assimétricas por meio da manipulação de seus parâmetros. Os custos da não cooperação servem como indicador da importância que um estado atribui a um acordo: quanto mais poderoso um ator, menos importante lhe é a cooperação e mais resistente ele é aos custos da não cooperação. Portanto, quanto menos

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9 poderoso for um estado, tanto mais propenso ele estará a conviver com um acordo assimétrico que lhe deixa em desvantagem por que a opção da não-cooperação é relativamente pior.

Um modelo formal de cooperação internacional assimétrica

Como forma de fazer uma abordagem inicial do problema, formalizamos a interação entre dois países na arena internacional com capacidades de poder assimétricas em um jogo sequencial, com informação completa. Com base no modelo elaborado Fearon (1998) e adaptado por Uperlainen (2010), procuramos analisar a interação entre dois países com grandes assimetrias de poder, de forma que o mais poderoso possui margem grande (mas nunca absoluta) para impor ao estado mais fraco os termos em que serão distribuídos os benefícios obtidos com uma cooperação sobre determinada questão internacional. Segundo Uperlainen (2010), para fazer valer acordos de cooperação internacional, os estados precisam assegurar a capacidade de aplicar sanções (e recompensas) ao mesmo tempo em que previnem abusos de poder. Caso estados poderosos não restrinjam sua capacidade de aplicar sanções, os estados fracos anteciparão a obtenção de ganhos mínimos com a cooperação e se recusarão a negociar.

O jogo possui duas fases como ilustrado na figura 1, abaixo. Na primeira, antes de por em prática a cooperação, dois estados com assimetrias de poder devem decidir qual acordo implementar dentre um conjunto de acordos possíveis. A sequência de movimentos é a seguinte:

1) Um estado hegemônico (H) propõe um acordo P (x’, y’), pelo qual exige que um estado mais fraco ajuste seu sistema de normas jurídicas a um ponto x’ e, em troca, concede-lhe incentivos em um nível y’.

2) A potência menor (E) decide aceitar ou rejeitar a proposta. Caso a proposta seja rejeitada, o jogo se encerra e ambos atores recebem um retorno pela manutenção do status quo (S). Caso E aceite a proposta, o jogo continua para a etapa de execução.

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10 Figura 1. O jogo da cooperação assimétrica

Os atores possuem preferências conflitantes quanto ao ponto de acordo. A magnitude dos retornos (payoffs) dos atores e, portanto, suas respectivas ordens de preferências são definidas endogenamente, ou seja, dependem da distância que a combinação de incentivos e criminalização apresentada pelo ator hegemônico assumir dos pontos ideais de cada um dos atores. Na exposição abaixo, por uma questão de simplicidade, consideraremos que o jogo não é repetido e assumimos que consideramos que os pontos ideais de cada ator são políticas que eles efetivamente implementam.

Na fase de barganha, o estado hegemônico tentará obter o máximo de ajuste à suas políticas preferidas com o mínimo de incentivos; por sua vez, o estado mais fraco tentará obter o máximo de incentivos oferecendo o mínimo de concessões. A figura 2, em anexo, ilustra a configuração mais antagônica que essa situação estratégica pode assumir. Neste exemplo, o ator 1 prefere obter

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11 o máximo de criminalização e conceder o mínimo de incentivos enquanto o ator 2 prefere o conceder mínimo de criminalização e obter o máximo de incentivos.

Figura 2. Barganha em espaço bidimensional

Os benefícios obtidos com a cooperação são dados pela razão entre aquilo que se ganharia com a implantação do acordo e aquilo que deveria ser concedido para que o acordo fosse executado. Em termos mais formais:

Os custos da cooperação são definidos como di, que é a distância entre o

ponto ideal do ator i ∈ {1, 2} do ponto de acordo P (x’, y’). Formalmente, temos:

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12 Resultados e retornos em um jogo sem repetição

Se 2 recusa a proposta P apresentada por 1, a disparidade entre seus pontos ideais permanece e ambos recebem o retorno do status quo (Q). O ator 1 continuará a suportar a diferença de escala. Seu retorno no status quo (Q1)

pode ser definido como a diferença entre seu ponto ideal de criminalização (x1)

e o ponto ideal de criminalização do ator 2 (x2). O ator 2, por sua vez,

continuará a sofrer o desnível entre os incentivos ideais e aqueles atualmente dados pelo ator 1. Seu retorno no status quo (Q2) é definido como a diferença

entre o seu ponto ideal de benefícios (y2) e o ponto ideal de benefícios do ator

1. Em termos formais:

Se o ator 2 aceita a proposta P (x’, y’) apresentada pelo ator 1, ambos passam ao estágio de execução do acordo. Essa fase da interação é formalizada aqui como um jogo 2×2 em forma estratégica, ou seja, ambos atores possuem duas opções (cooperar ou desertar) e cada um escolhe sua estratégia sem saber qual o outro ator está escolhendo. Cada combinação possível dessas estratégias resulta em um retorno específico para cada ator. Se ambos decidem cooperar (CC), então recebem uma recompensa pela cooperação mútua (P); se um ator coopera enquanto o outro deserta (CD ou DC), então aquele que coopera recebe o prêmio do otário (O) e o que deserta recebe o prêmio da tentação (T); se ambos desertam (DD), a cooperação não se concretiza e nenhuma parte obtém os benefícios desejados e ambos acabam recebendo uma punição pela deserção mútua (P).

A magnitude dos retornos obtidos para cada resultado nesta fase é definida a seguir. A deserção mútua não produz nenhuma alteração no status quo. Assim punição (Pi) obtida por cada um dos atores é ponderada pela razão entre aquilo

que o ator ganha com a manutenção do status quo e aquilo ele deixa de ganhar. Em termos formais:

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13

A cooperação unilateral produz o prejuízo máximo que um ator pode receber: ele deixa de receber os benefícios que esperava e ainda deve incorrer nos custos de ajustar seu sistema jurídico aos padrões do outro ator. O retorno neste caso é o valor negativo da distância algébrica entre o ponto ideal e o ponto de acordo. Em termos formais:

O prêmio da tentação (Ti), por sua vez, é inversamente proporcional à distância

(di) entre o que foi proposto e o ponto ideal do ator, ou seja, quanto mais

próximo o ponto de acordo estiver do ponto ideal, maior a tentação de um ator para desertar enquanto o outro coopera. Em termos formais:

Finalmente, a recompensa pela cooperação mútua (Ri) é amplificada pela

razão entre os custos em que se têm incorrer para cumprir a proposta e os benefícios obtidos. Em termos formais:

Discussão

Dadas as funções de utilidade acima, em que condições a cooperação mútua é possível? Para que o resultado (C, C) seja o equilíbrio dessa interação, a utilidade esperada de cada ator em cooperar deve ser maior que a utilidade esperada de desertar. Matematicamente, as utilidade de ambos atores devem,

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14 simultaneamente, satisfazer a seguinte condição . Dessa forma, dada uma certa probabilidade p do ator 2 cooperar, o ator 1 escolherá cooperar se:

( ⁄ )

( ⁄ ) ( ⁄ )

Por semelhança, dada uma probabilidade q de que o ator 1 coopere, o ator 2 escolherá cooperar se:

( ⁄ )

( ⁄ ) ( ⁄ )

Para simplificar, aplicando-se a notação padrão para os resultados (R, T, P, S) e manipulando algebricamente os termos para solucionar em Ri, tem-se que,

em estratégias mistas o equilíbrio em cooperação será alcançado quando simultaneamente:

[ ]

[ ]

Assim, para o equilíbrio cooperativo seja alcançado quando os atores empregam estratégias mistas, é necessário que a magnitude do prêmio pela cooperação mútua de um ator (Ri) seja maior que os benefícios esperados do

prêmio da tentação (pT1 e qT2), descontando-se a obtenção dos retornos

acumulados do prêmio do tolo (Si) e da punição pela deserção mútua (Pi), na

razão da probabilidade de que a outra parte coopere. Disto derivamos a seguinte proposição:

Proposição 1. Dadas as probabilidades de cooperação p e q, ocorrerá cooperação se, e apenas se, os benefícios esperados com a cooperação mútua de cada ator (pR1 e qR2) superarem os benefícios esperados de

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15 uma deserção unilateral descontados dos benefícios esperados com a cooperação unilateral ou a deserção mútua.

Alternativamente, em termos de custos para os atores, podemos expressar as equações anteriores da seguinte forma:

( )[ ]

[ ]

Por estas expressões, pode-se deduzir que a estratégia de cooperação será escolhida quando, considerando os termos entre colchetes constantes, a distância entre os pontos ideais de cada ator e o ponto de acordo for, para o jogador 1, maior do que aquilo que é obtido na homogeneização das políticas de criminalização ( ) e, para ojogador 2, maior do que aquilo que é obtido na escala de incentivos , ambas quantidades em razão de uma probabilidade de o adversário coopere. Disto derivamos a seguinte proposição:

Proposição 2. Dadas as probabilidades de cooperação p e q, a dificuldade em executar a cooperação aumenta a medida que a proposta do ator 1 se aproxima próxima dos pontos ideais de qualquer um dos atores.

Especificações alternativas para o modelo

O modelo apresentado acima pode ganhar mais realismo ao custo de maior complexidade com especificações alternativas que incorporem repetições do jogo ao longo do tempo, modificações nas funções de utilidade para incorporar efeitos de assimetrias de poder e o efeito de atores domésticos sobre os equilíbrios. Uma especificação alternativa deste modelo poderia ter ambos estágios repetidos em rodadas indefinidamente. Em jogos repetidos indefinidamente, criam-se oportunidades para que as estratégias de cooperação sejam reforçadas por estratégias endógenas de punição dependentes de um parâmetro de desconto do futuro (δ). Nesse caso, a deserção pode ser desestimulada por “gatilho sombrio” (grim trigger), que consiste em mudar a estratégia de “cooperar sempre” para “desertar sempre”

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16 quando um ator detecta a deserção do adversário, ou por uma estratégia de “olho por olho”, quando um ator decide adotar na rodada atual a estratégia adotada pelo adversário na rodada anterior (Axelrod 1985). Neste caso, assume-se que os atores irão executar a cooperação enquanto a seguinte condição for atendida:

As funções de utilidade apresentadas acima ainda podem ser modificadas linearmente pela importância que cada ator atribui a uma questão e exponencialmente pela atitude ao risco que os atores vierem a assumir. Por meio, da manipulação desses parâmetros, podemos incorporar ao modelo assimetrias de poder. Assumimos que o ator hegemônico tende a valorizar ganhos na escala de criminalização em relação a mudanças na escala de incentivos e a adotar postura conservadora de aversão ao risco. Dessa forma, para o hegemon, a alteração unidades na escala de criminalização equivale a ( ) 1, em que π é uma constante. A utilidade obtida para cada resultado é modificada pela postura de aversão ao risco de forma que . O estado mais fraco, por sua vez, tende a valorizar ganhos na escala de incentivos em relação a modificações na escala de criminalização e a adotar uma postura propensa ao risco. Dessa forma, para a potência menor, a alteração de unidades na escala de incentivos equivale a ( ) 1. A utilidade obtida para cada resultado é modificada pela postura de propensão ao risco de forma que .

Uma terceira especificação consiste na incorporação de atores da arena política doméstica do estado mais fraco, aquele que terá de ajustar seu sistema jurídico aos padrões especificados no acordo, caso decida executá-lo. Isso implica lidar com grupos de interesse, tanto de instituições políticas (Legislativo, Judiciário, ministérios) como sociais (organizações e movimentos civis, organizações criminosas incrustadas no aparelho estatal). A diversidade de atores domésticos requer uma incorporação altamente restritiva e teoricamente informada, ou seja, que apenas aqueles cujas ações são

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17 necessárias e suficientes para produzir impactos na escolhas do governo sejam incluídos no modelo.

Implicações teóricas e empíricas

O modelo apresentado neste artigo segue a abordagem materialista-racional dos estudos sobre barganha coercitiva segundo a qual os resultados do processo de negociação refletem o contexto concreto em que os atores interagem definido pelos recursos de poder de cada lado, os custos e benefícios específicos na questão de interesse e fatores materiais que afetam a credibilidade dos compromissos de impor custos ou fornecer incentivos laterais. A principal diferença deste para os modelos mais difundidos de barganha em política internacional consiste na adoção de um espaço bidimensional de negociação. Esse artifício metodológico permite internalizar a imposição de sanções ou recompensas em uma escala de incentivos.

A possibilidade de que estados mais fracos optem por recusar propostas coercitivas (que demandem grandes concessões a um nível muito baixo de incentivos) já foi explorada por estudiosos dos efeitos da reputação e legitimidade. Drezner (2000) investigou a ineficácia da aplicação de sanções unilaterais para induzir à cooperação. Se um estado poderoso explorar um mais fraco, outros estados perceberão que o estado mais poderoso não hesita em incorrer em comportamento oportunista quando têm capacidade para tanto. Isso constrói uma reputação que gera desconfiança e induz terceiros a evitar fazer acordos e negociações com o estado poderoso. Os estados se preocupam com questões de legitimidade e procuram atuar por meio de certos critérios procedimentais. Se um estado fraco consente em cooperar, então é mais provável que outros aceitem mais facilmente (Uperlainen 2011).

O modelo permite incorporar a possibilidade de que o estado hegemônico não adote apenas medidas coercitivas para obter concessões. A viabilidade de uma coerção unilateral é influenciada pela importância e a urgência que o hegemon atribui a determinada questão. Se o problema de cooperação for visto como um interesse vital ou for considerado, de alguma forma, uma ameaça à segurança nacional, o estado hegemônico pode adotar posturas tanto mais flexíveis para

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18 concessão de benefícios em relação a homogeneização. Por outro lado, a disposição do estado mais fraco em oferecer concessões pode ser afetada por fatores externos ao modelo apresentado como a dinâmica da política interna que está fora da influência direta do hegemon.

Referências bibliográficas

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Referências

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