TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R E L A T O R
CONFL. COMP. : 0006326-83.2014.8.19.0000
- 4ª CÂMARA CÍVEL
SUSCITANTE : VRG LINHAS AÉREAS S/A
SUSCITADO - 1 : JUÍZO DE DIREITO DO 21º JUIZADO ESPECIAL
CÍVEL DA CAPITAL
SUSCITADO - 2 : JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA EMPRESARIAL
AÇÃO
: INDENIZAÇÃO
RELATOR
: DES. REINALDO PINTO ALBERTO FILHO
D E C I S Ã O
E M E N T A: Conflito de Competência Positivo. Recuperação Judicial da VARIG S/A. Arguição apresentada por VRG LINHAS AÉREAS S/A, Arrematante da Unidade Produtiva da Sociedade Recuperanda.
I - Indenização ajuizada no Juizado Especial em face da VARIG S/A. Falha na prestação do serviço, consubstanciada em Overbooking. Procedência.
II - Unidade Produtiva da Sociedade Recuperanda arrematada em leilão. Alienação livre de ônus, além do que não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive de natureza tributária. Exegese do parágrafo único do artigo 60 da Lei n.° 11.101/05.
III - Indemne de dúvida e sobre qualquer outra R. Decisão prevalece o preconizado pela atual Lei de Quebras. Possível é a apreciação da presente matéria, em sede de Conflito de Competência originário, vez que mesmo com a possibilidade de preclusão do R. Julgado proferido no Juizado Especial, não revoga o anterior da Vara Empresarial e deste Egrégio Órgão Fracionário que a manteve por inúmeras vezes.
IV - Evidente risco de dano irreparável, frente à possibilidade de existência de sucessivas R. Decisões totalmente com a do Juízo competente para apreciar a Recuperação Judicial. Posição diversa seria relegar ao desdém o já solucionado e mantido por esta Colenda Câmara.
REINALDO PINTO ALBERTO FILHO:000005204
Assinado em 18/02/2014 17:16:01V - Juízo em que tramita a Recuperação é o competente para adotar todos os atos ao bom andamento do processo, inclusive decidir sobre eventuais obrigações oriundas de decisões judiciais de responsabilidade da arrematante da unidade produtiva da Sociedade Recuperada. Precedentes do STJ.
VI - Argüição em tela que se encontra em sonância com texto expresso de lei. Aplicação da norma jurídica inserta no parágrafo único do artigo 120 da Lei de Ritos Civil. Procedência, para declarar a competência do Segundo Juízo Suscitado, qual seja, a 1ª Vara Empresarial, para decidir sobre a responsabilidade da Sociedade Suscitante quanto ao passivo da VARIG S/A.
VRG LINHAS AÉREAS S/A. suscitou Conflito
Positivo de Competência, alegando, em síntese, como causa de pedir:
1) que arrematou a Unidade Produtiva da Varig, por
intermédio de Leilão prevendo que o patrimônio alienado não implicaria
assunção de qualquer outro passivo da aludida Sociedade, que se
encontrava em Recuperação Judicial;
2) que, extrapolando a competência da Vara
Empresarial, o 211º Juizado Especial Cível da Capital, em sede de Ação
Indenizatória, reconheceu a sucessão entre a VARIG S/A e Suscitante, em
evidente descompasso com as normas vigentes e a jurisprudência do STJ;
3) que, assim, o aludido Juizado Especial obrigou a
Suscitante a assumir um passivo não previsto no Edital de Aquisição da
Unidade Produtiva antes mencionada, ignorando R. Julgado já prolatado
pelo Juízo Empresarial, caracterizando incompatibilidade entre duas R.
Decisões, inexistindo obrigação, desta forma, de suportar as obrigações
da Sociedade Recuperanda, motivo da presente arguição.
É o RELATÓRIO.
D E C I D O.
Cuida-se de Conflito de Competência positivo
suscitado pela VRG LINHAS AÉREAS S/A, com precípua discussão
quanto à competência para decidir sobre sua obrigação de suportar o
passivo da VARIG S/A.
Conforme consta da R. Sentença, às fls. 181/182
dos autos principais (doc. 00040 do Anexo 1), a Suscitante foi condenada
ao pagamento de reparação a títulos de danos materiais e moral, haja vista
defeito na prestação de serviços, consubstanciado em Overbooking.
É fato público e notório que a VARIG S/A, bem
como suas coligadas, tiveram a Recuperação Judicial deferida, com a
determinação da venda de suas Unidades Produtivas, na forma da
nova Lei de Quebras, sendo certo que o seu artigo 60 parágrafo único
estabelece que alienação estará livre de ônus e não haverá sucessão
do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária.
Em assim sendo, indemne de dúvida e sobre
qualquer outra R. Decisão proferida prevalece o preconizado pela atual
Lei de Falências, que só pode ser revogado pelo Juízo da Primeira Vara
Empresarial, hoje responsável pelo acervo remanejado da Oitava Vara
Empresarial, em razão da sua extinção.
Enfatize-se que, possível é a apreciação da
presente matéria, em sede de Conflito de Competência originário, vez
que mesmo com a possibilidade de preclusão da R. Decisão do
Juizado Especial, tal não revoga a anterior do Juízo da Oitava Vara
Empresarial (atualmente Primeira Vara Empresarial), tout court, e, a
fortiori, a desta C. Quarta Câmara Cível que a manteve, por
inúmeras vezes em sucessivos agravos de instrumento.
Repita-se, ad nauseam, que a não se decidir desta
forma, estabelecendo precedente, ocorreria o risco de dano
irreparável e o mais conexo, em decorrência da possibilidade de
existência de R. Decisões totalmente conflitantes com a do Juízo
competente para apreciar a Recuperação Judicial e, sucessivamente,
a Falência.
De igual sorte, posição diversa seria relegar ao
desdém o já decidido por Juízo Competente e confirmado por esta
Câmara, no concernente ao processamento da Recuperação Judicial.
Neste sentido obra a jurisprudência do STJ, inter
PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA.
JUÍZO DE DIREITO E JUIZADO ESPECIAL CIVIL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MONTANTE APURADO. ART. 6º, § 4º, DA LEI N. 11.101/2005. RETOMADA DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE. CRÉDITO EXTRACONCURSAL.
PRECEDÊNCIA EM RELAÇÃO A QUAISQUER OUTROS. FATO
SUPERVENIENTE. CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA. HABILITAÇÃO NO JUÍZO FALIMENTAR E SUJEIÇÃO DOS CRÉDITOS AO CONCURSO DE CREDORES. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA EMPRESARIAL.
1. Com a edição da Lei n. 11.101, de 2005, respeitadas as especificidades da falência e da recuperação judicial, é competente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atos de execução, tais como alienação de ativos e pagamento de credores, que envolvam créditos apurados em outros órgãos judiciais, ainda que tenha ocorrido a constrição de bens do devedor.
2. Se, de um lado, deve-se respeitar a exclusiva competência do juizado especial cível para dirimir as demandas previstas na Lei n. 9.099/1995, de outro, não se pode perder de vista que, após a apuração do montante devido à parte autora naquela jurisdição especial, processar-se-á no Juízo da recuperação judicial a correspondente habilitação, consoante os princípios e normas legais que regem o plano de reorganização da empresa recuperanda.
3. A Segunda Seção do STJ tem jurisprudência firmada no sentido de que, no normal estágio da recuperação judicial, não é razoável a retomada das execuções individuais após o simples decurso do prazo legal de 180 dias de que trata o art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005.
4. O crédito constituído no curso da recuperação judicial advindo de decisão proferida em ação proposta contra o devedor, inclusive de natureza indenizatória, por se inserir na categoria de crédito extraconcursal e, portanto, ter precedência em relação a quaisquer outros, deve submeter-se ao processo de recuperação, caso não tenha sido objeto de reserva, ao invés de ser perseguido por meio de medidas judiciais em juízos diversos, uma vez que implicaria oneração de bens da sociedade recuperanda, descontrole na negociação e no pagamento de credores e desestímulo para o equacionamento do estado de crise econômico-financeira.
5. Em razão de fato superveniente, isto é, decreto da falência da empresa mediante sentença - ato circunscrito à convolação da recuperação judicial em regime falimentar -, os créditos já submetidos ao processo de recuperação e aqueles constituídos até a data da quebra sujeitam-se ao concurso de credores, obsujeitam-servadas as regras aplicáveis à verificação e habilitação de créditos, bem como o disposto no art. 80 da Lei de Recuperação e Falência.
6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no CC 92.664/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/08/2011, DJe 22/08/2011).
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO
POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DE DIREITO E JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. PROCESSO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL (LEI N. 11.101/05). AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
DANOS MORAIS. VALOR DA CONDENAÇÃO. CRÉDITO APURADO. HABILITAÇÃO. ALIENAÇÃO DE ATIVOS E PAGAMENTOS DE CREDORES. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRECEDENTES DO STJ.
1. Com a edição da Lei n. 11.101/05, respeitadas as especificidades da falência e da recuperação judicial, é competente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atos de execução, tais como alienação de ativos e pagamento de credores, que envolvam créditos apurados em outros órgãos judiciais, inclusive trabalhistas, ainda que tenha ocorrido a constrição de bens do devedor.
2. Após a apuração do montante devido, processar-se-á no juízo da recuperação judicial a correspondente habilitação, sob pena de violação dos princípios da indivisibilidade e da universalidade, além de desobediência ao comando prescrito no art. 47 da Lei n. 11.101/05.
3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro (RJ). (CC 90.160/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 05/06/2009).
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. VASP. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO E HOMOLOGADO. EXECUÇÃO TRABALHISTA.
SUSPENSÃO POR 180 DIAS. ART. 6º, CAPUT E PARÁGRAFOS DA LEI 11.101/05.
MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTE DO CASO VARIG - CC 61.272/RJ. CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO. 1. A execução individual trabalhista e a recuperação judicial apresentam nítida incompatibilidade concreta, porque uma não pode ser executada sem prejuízo da outra.
2. A novel legislação busca a
preservação da sociedade empresária e a manutenção da atividade econômica, em benefício da função social da empresa.
3. A aparente clareza do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05 esconde uma questão de ordem prática: a incompatibilidade entre as várias execuções individuais e o cumprimento do plano de recuperação.
4. "A Lei nº 11.101, de 2005, não terá operacionalidade alguma se sua aplicação puder ser partilhada por juízes de direito e por juízes do trabalho." (CC 61.272/RJ, Segunda Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 25.06.07).
5. Conflito parcialmente conhecido para declarar a competência do Juízo da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo. (CC
73380/SP, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/11/2007, DJe 21/11/2008).
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. CONFLITO E RECURSO. A regra mais elementar em matéria de competência recursal é a de que as decisões de um juiz de 1º grau só podem ser reformadas pelo tribunal a que está vinculado; o conflito de competência não pode ser provocado com a finalidade de produzir, per saltum, o efeito que só o recurso próprio alcançaria, porque a jurisdição sobre o mérito é prestada por instâncias (ordinárias: juiz e tribunal; extraordinárias: Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal).
2. LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (Lei nº 11.101, de 2005). A Lei nº 11.101, de 2005, não teria operacionalidade alguma se sua aplicação pudesse ser partilhada por juízes de direito e juízes do trabalho; competência constitucional (CF, art. 114, incs. I a VIII) e competência legal (CF, art. 114, inc. IX) da Justiça do Trabalho. Conflito conhecido e provido para declarar competente o MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
(CC 61272/RJ, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/04/2007, DJ 25/06/2007, p. 213).