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ACIDENTE DE TRABALHO RESPONSABILIDADE TERCEIROS

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0516742

Relator: FERREIRA DA COSTA Sessão: 08 Maio 2006

Número: RP200605080516742 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: AGRAVO.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

ACIDENTE DE TRABALHO RESPONSABILIDADE TERCEIROS

COMPETÊNCIA TRIBUNAL

Sumário

Ocorrendo um acidente de trabalho, a responsabilidade dos (companheiros ou) outros trabalhadores, ou de terceiros, é apurada em acção a propor nos

termos da lei geral, sendo competente o tribunal comum, uma vez que as

normas constantes das alíneas c) e d) do art. 85º da Lei Orgânica (Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro) respeitam apenas aos acidentes de trabalho ou doenças profissionais e às questões de enfermagem ou hospitalares.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

Por apenso a estes autos emergentes de acidente de trabalho em que figuram como sinistrada B... e como entidade responsável Companhia de Seguros X..., S.A., veio esta seguradora intentar acção para efectivação de direitos de terceiro conexos com acidente de trabalho contra C..., S.A., pedindo que esta seja condenada a pagar-lhe as importâncias que despendeu com o acidente de trabalho em causa, no montante de € 28.361,96 e ainda

condenada a restituir-lhe tudo quanto vier a despender no decurso da presente acção por causa do mesmo acidente, bem como os juros de mora sobre a quantia referida, desde a citação até efectivo e integral pagamento. Alega, em síntese, que através de contrato de seguro de acidentes de trabalho, D..., S.A. tinha transferido para ela, ora A., a responsabilidade por

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trabalhadores, tendo por via disso despendido as quantias que ora reclama da R. – C..., S.A. – e pagas à sinistrada – B... – trabalhadora daquela D..., S.A. [empresa de trabalho temporário] e que por causa de um alegado contrato de trabalho para cedência temporária, no dia 2002-09-19 sofreu o acidente de trabalho objecto dos autos principais, quando trabalhava sob a autoridade e direcção da R. C..., S.A. [empresa utilizadora]. Imputa o acidente à trabalhadora da R. C...,S.A., D. E..., formadora, a título de negligência, sendo certo que aquela dava ordens e instruções a esta, mediante remuneração, pelo que enquanto seguradora desfruta do direito de regresso contra a R. – C..., S.A..

O Tribunal a quo, entendendo que a acção se funda em responsabilidade civil extracontratual, considerou-se incompetente em razão da matéria e absolveu a R. da instância.

A A. – Companhia de Seguros X..., S.A. - irresignada com o assim decidido, veio interpor recurso de agravo, pedindo a revogação do despacho, tendo formulado a final as seguintes conclusões:

1 - Nos presentes autos, suscita-se a apreciação do direito da autora a obter o recobro de importâncias referentes a serviços e prestações que efectuou e pagou em benefício da sinistrada de acidente de trabalho a que se referem os autos principais.

2 - Sem que nesta acção se ponha em causa a responsabilidade já definida nos autos principais nem a existência e caracterização do acidente de trabalho, 3 - para se conhecer do direito da recorrente há que apurar das circunstâncias de tempo lugar e modo em que o mesmo acidente ocorreu.

4 - A conexão da questão suscitada nestes autos com o acidente de trabalho é íntima e manifesta, como resulta da petição.

5 - Assim, por ter considerado o Tribunal do Trabalho incompetente em razão da matéria para conhecer deste pleito, o Tribunal recorrido violou expressa e frontalmente as alíneas c) e d) do art.° 85.° da Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais.

6 - O Tribunal recorrido também interpretou indevidamente, e de forma demasiadamente restritiva, violando-o, o teor do art.° 154 do Código de Processo do Trabalho,

7 - pois o processo de que a autora lançou mão, é o adequado ao presente caso e a presente acção deverá correr por apenso ao processo principal no qual se qualificou o sinistro e se definiu a entidade responsável,

8 - em obediência ao princípio do forum conexitatis.

O Tribunal a quo admitiu o recurso e sustentou o seu despacho.

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sentido de que o agravo não merece provimento.

Nenhuma das partes tomou posição quanto ao teor de tal parecer. Cumpre decidir.

Estão provados [para além do seguinte] os factos constantes do relatório que antecede:

a) No processo principal, tendo as partes discordado apenas do resultado do exame médico singular, procedeu-se a exame por Junta Médica e, proferida sentença, que transitou em julgado, Companhia de Seguros X..., S.A. foi condenada a pagar a B..., com início em 2003-11-11, a pensão anual de € 4.387,10, com base na incapacidade permanente parcial de 40%, considerada absoluta para o exercício da profissão habitual, bem como as quantias de € 12,50 e de € 2.923,29 a título de, respectivamente, despesas com transportes e subsídio por situações de elevada incapacidade permanente – cfr. fls. 186 a 189 e segs. do processo principal, cujo teor aqui se dá como reproduzido. O Direito.

Sendo pelas conclusões do recurso que se delimita o respectivo objecto [Cfr. Abílio Neto, in Código de Processo Civil Anotado, 2003, pág. 972 e o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 1986-07-25, in Boletim do Ministério da Justiça, n.º 359, págs. 522 a 531], como decorre das disposições conjugadas dos Art.ºs 684.º, n.º 3 e 690.º, n.º 1, ambos do Cód. Proc. Civil, ex vi do disposto no Art.º 87.º, n.º 1 do Cód. Proc. do Trabalho, a única questão a decidir neste recurso de agravo consiste em saber se o Tribunal a quo é competente em razão da matéria para conhecer o pedido de reembolso das quantias despendidas pela seguradora na reparação do acidente de trabalho, objecto do processo principal.

Vejamos.

A A. Companhia de Seguros X………., S.A., ora agravante, imputa o acidente à trabalhadora da R. C..., S.A., D. E..., formadora, a título de

negligência, sendo certo que aquela dava ordens e instruções a esta, mediante remuneração, pelo que enquanto seguradora desfruta do direito de regresso contra a R. – C..., S.A.. Configura a acção como sendo a regulada no Art.º 154.º do Cód. Proc. do Trabalho, para efectivação de direitos de terceiro conexos com o acidente de trabalho, pois dá ao pagamento da pensão, despesas com transportes e subsídio por situações de elevada incapacidade permanente e juros, a qualificação de despesas hospitalares e assistenciais. No entanto, pretendendo discutir o acidente, a sua imputação a título de

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negligência à formadora e, por comissão, à R. C..., S.A. e determinar outra entidade responsável pela reparação, para aí fazer assentar o seu direito de regresso, está a ultrapassar o âmbito da acção do Art.º 154.º do Cód. Proc. do Trabalho, que apenas permite discutir a questão conexa em si, como refere Alberto Leite Ferreira, in Código de Processo do Trabalho Anotado, 1989, págs. 581 e 582.

Aliás, a A., ora agravante, lança mão da acção do Art.º 154.º do Cód. Proc. do Trabalho, para efectivação de direitos de terceiro conexos com o acidente de trabalho, como se ela fosse terceiro em tal acidente. Na verdade, terceiros, em relação ao acidente de trabalho, são todas as pessoas ou entidades a quem não cabe nenhuma obrigação no cumprimento das reparações a que houver lugar, mas que, de qualquer forma, concedem prestações, regra geral, em espécie, necessárias ao socorro, restabelecimento do estado de saúde e recuperação para a vida activa da vítima, como ipsis verbis refere Carlos Alegre, in Processo Especial de Acidentes de Trabalho, 1986, pág. 236.

Ora, a recorrente é parte no processo principal, foi condenada como a única -responsável pelo acidente, como se vê do facto acima assente e não é, como sucede habitualmente neste tipo de acções, um hospital ou instituição

congénere [Havendo seguro, as dívidas hospitalares são executadas contra a seguradora respectiva, como decorre do disposto no n.º 2 do Art.º 6.º do Decreto-Lei n.º 194/92, de 8 de Setembro]. Daí que esteja fora de causa o uso do tipo de acção invocada.

No entanto, pretendendo a agravante realmente obter a efectivação da responsabilidade de terceiro, nos termos gerais, como ela própria afirma, estamos no âmbito da responsabilidade civil extracontratual, pelo que a

competência para conhecer tal acção cabe aos tribunais comuns. Na verdade, trata-se de situações em que o acidente é qualificável como de trabalho e simultaneamente de viação, por exemplo, em que confluem a responsabilidade objectiva e a responsabilidade por factos ilícitos, em que há duas formas de indemnizar [embora o sinistrado não tenha direito a dupla reparação, pelo mesmo facto danoso], a apurar em processos diferentes e em tribunais de diversa competência.

Tal decorre do disposto no n.º 1 do Art.º 31.º da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro [LAT], que dispõe:

Quando o acidente for causado por outros trabalhadores ou terceiros, o direito à reparação não prejudica o direito de acção contra aqueles, nos termos da lei geral. Tal norma foi antecedida pela Base XXXVII, n.º 1 da Lei n.º 2127, de 1965-08-03, de igual teor, apenas tendo sido alterada a expressão

companheiros da vítima por outros trabalhadores. Não definindo tais leis o conceito de terceiro, já o § 1.º do Art.º 7.º - norma correspondente àquelas dos

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diplomas posteriores - da Lei n.º 1942, de 1936-07-27, o define, nos seguintes termos:

Para os efeitos desta lei consideram-se terceiros todos aqueles que não sejam companheiros ou a entidade patronal por si e nas pessoas de quem a

represente na direcção do trabalho.

[A agravante demanda a R. C..., S.A. como se ela fosse terceira, quando ela é a entidade empregadora da sinistrada, na medida em que é a empresa utilizadora de mão-de-obra, sendo a D..., S.A. a empresa de trabalho temporário. Ora, se o acidente for imputável à R. C..., S.A. a título de culpa, dado o acto praticado pela sua comissária, a formadora D. E..., sua trabalhadora subordinada, ela - R. C..., S.A. - deveria responder em

primeira linha e por pensão agravada, respondendo a seguradora

subsidiariamente pela pensão normal, atento o disposto no Art.º 37.º, n.º 2 da LAT, devidamente interpretado no sentido constante do Art.º 303.º, n.º 3 do Cód. do Trabalho {o qual não entrou em vigor, mas constitui um elemento importante de interpretação daquele normativo da LAT}. Mas, se assim fosse, a seguradora, ora A. e agravante, não podia ter discordado apenas do

resultado do exame médico efectuado na fase conciliatória do processo principal, como o fez, antes deveria ter invocado a culpa da empresa

utilizadora ou da empresa de trabalho temporário, provocando a abertura da fase contenciosa do processo para determinação da existência de culpa, vindo ela a responder, no caso de procedência de tal questão, apenas

subsidiariamente].

Ora, a R. não é terceira em relação ao acidente de trabalho dos autos, tanto mais que a A. lho pretende imputar a título de culpa.

Seja como for, certo é que a responsabilidade dos [companheiros ou] outros trabalhadores ou de terceiros, é apurada em acção a propôr nos termos da lei geral, sendo competente o tribunal comum, uma vez que as normas constantes das alíneas c) e d) do Art.º 85.º da Lei Orgânica [Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro] respeitam apenas aos acidentes de trabalho ou doenças profissionais e às questões de enfermagem ou hospitalares [os quais não integram a hipótese dos autos], como desde há muito se vem reconhecendo.

[Cfr. A. Veiga Rodrigues, in ACIDENTES DE TRABALHO, ANOTAÇÕES À LEI N.º 1942, págs. 65 e 66, José Augusto Cruz de Carvalho, in ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS, 1980, págs. 130 e 131, Feliciano Tomás de Resende, in ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS

PROFISSIONAIS, 1988, págs. 64, Vitor Ribeiro, in ACIDENTES DE

TRABALHO Reflexões e Notas Práticas, 1984, págs. 227 a 232, Carlos Alegre, in ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS, 2.ª edição, 2000, págs. 149 e 150 e o Acórdão da Relação de Lisboa de 1998-07-09, in

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Colectânea de Jurisprudência, Ano XXIII-1998, Tomo IV, págs. 165 a 167]. Tal significa que o despacho recorrido, entendendo que a competência para a presente acção pertence ao tribunal comum, assim afastando a competência do Tribunal do Trabalho em razão da matéria, é de manter, pelo que

improcedem as conclusões do recurso. Decisão.

Termos em que se acorda em negar provimento ao agravo, assim confirmando o despacho recorrido.

Custas pela agravante. Porto, 8 de Maio de 2006

Manuel Joaquim Ferreira da Costa Domingos José de Morais

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