IX CONGRESSO DA UNITA COMUNICADO FINAL
A União Nacional para a Independência Total de Angola - UNITA, esteve reunida em Viana, Luanda, de 24 a 27 de Junho de 2003 no seu IX Congresso Ordinário, para proceder a avaliação do estado da sua vida interna, desde o passamento físico do seu Presidente Fundador, o Saudoso Dr. Jonas Malheiro Savimbi, num momento particular em que as lágrimas ainda não enxutas, tornaram-se incapazes de retirar dos seus membros, a lucidez e o espírito inovador, para encetar internamente as transformações políticas capazes de situá-la no contexto Nacional e não só, numa referência
obrigatória e incontornável, capaz de guindar os Angolanos a dimensão dos povos do mundo amantes da Democracia e do Estado de Direito. Nesta conformidade os Delegados ao IX Congresso idos de todas as Províncias do País e da diáspora, debruçaram-se sobre os seguintes temas:
Situação política do País:
Revisão dos Estatutos do Partido;
Definição das Linhas Programáticas do Partido; Estado de Implementação;
A Política Externa;
A eleição do novo Presidente do Partido.
Organizado em Comissões de Trabalho o IX Congresso do Partido após exaustivos e construtivos debates chegou às seguintes conclusões:
SOBRE A SITUAÇÃO POLÍTICA DO PAÍS
O IX Congresso enaltece os esforços desenvolvidos pelo Partido e o Governo, em prol do processo de paz, e felicita o Povo Angolano pela forma sábia e inteligente como tem preservado este bem que nos é comum.
Exorta as partes consignatárias dos Acordos de Paz, a tudo fazerem para que o remanescente dele decorrentes sejam integralmente cumpridos, com a participação de todas as forças vivas da Nação e o apoio inestimável da Comunidade Internacional, a favor de uma Reconciliação efectiva e
dignificante de todos os Angolanos.
Apela as partes ainda em conflito no território de Cabinda, a cessação total e imediata das hostilidades com vista a salvaguarda das vidas humanas e a garantia da paz em todo o território nacional.
Convida o Governo à materialização dos pressupostos conducentes à realização de eleições livres e justas, o mais breve quanto possível para que se restitua a normalidade democrática no país, sendo que para o efeito é imperioso que Sua Excelência o Presidente da República, estabeleça um
calendário de consultas com todos os Partidos Políticos da Oposição. SOBRE OS ESTATUTOS:
Face a nova realidade em que o Partido se insere, procedeu-se à adequação dos Estatutos em conformidade com a Lei vigente dos Partidos Políticos, pontificando neles, a prática constante e permanente dos desideratos democráticos universalmente aceites.
SOBRE AS LINHAS PROGRAMÁTICAS:
O IX Congresso definiu para os próximos quatro anos, um conjunto de acções a desenvolver com vista a uma maior intervenção do Partido em todo o território nacional, de forma a torná-lo mais actuante na perspectiva da alternância do poder, por uma Angola de todos.
SOBRE O ESTADO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS ACORDOS DE PAZ:
O IX Congresso concluiu a existência de vários incumprimentos que urge serem resolvidos, a favor da consolidação da Paz e da Reconciliação Nacional, com ênfase para a Reinserção Social de todas as camadas vulneráveis da nossa população, o desarmamento da população civil, de entre outros, pelo que insta a Direcção do Partido a dar tratamento continuado, para a concretização exitosa dos mesmos, através do dialogo construtivo com o Governo, na sua qualidade de parceiro do Protocolo de Lusaka e dos Entendimentos do Luena.
SOBRE A POLÍTICA EXTERNA:
Desenvolver esforços tendentes ao incremento das relações com Partidos Políticos amigos e Organizações Internacionais na base do respeito e da reciprocidade de vantagens.
Envidar esforços para a dignificação dos Angolanos na diáspora. SOBRE A ELEIÇÃO DO PRESIDENTE DO PARTIDO:
Com vista ao preenchimento da vacatura do mais alto cargo da Direcção do Partido, realizou-se no dia 27 de Junho de 2003, o acto eleitoral num ambiente de grande civismo e respeito pelas
diferentes opções, levando a que a UNITA, marque para a Angola mais um importante passo para as grandes transformações democráticas que trarão inevitavelmente consigo, factores atinentes ao desenvolvimento integral e sustentável para o País.
Finalmente, o IX Congresso, felicita efusiva e calorosamente os militantes do Partido, pela forma serena e inteligente como souberam gerir a grande crise vivida pelo Partido desde o fatídico 22 de Fevereiro de 2002, o que permitiu que evoluíssemos para este conclave unidos e coesos. De igual modo, agradece a Sociedade Civil, as Igrejas, os Partidos Políticos, a Comunicação Social e todos amigos da UNITA dentro e fora do País pela maneira afável como incentivaram o Partido a sair-se airoso desta fase difícil.
Luanda aos 27 de Junho de 2003 O IX Congresso
UM OLHAR SOBRE A TRAJECTÓRIA POLÍTICA DA UNITA O CONGRESSO DA UNITA
DEFINICÃO
O Congresso é o órgão supremo da UNITA que se realiza de quatro em quatro anos, sob convocatória do Presidente do Partido, para a análise da situação do partido e do país em geral e estabelece as linhas gerais da política do partido. Revê e actualiza os Estatutos, elege e/ou renova a confiança ao Presidente do Partido e elege os membros do Comité Permanente e da Comissão Política. Desde a sua fundação em 1966, a UNITA realizou nove Congressos Ordinários e três Extraordinários:
BREVE HISTORIAL
UM OLHAR SOBRE A TRAJECTÓRIA POLÍTICA DA UNITA
1 – I CONGRESSO (Constitutivo)
Muangai que se tornou célebre é o nome de um riacho, sub - afluente do famoso e serpenteado Lunguebungu. Os portugueses baptizaram com esse nome o antigo posto colonial situado no coração da floresta densa do Moxico e que viria a ser abandonado em consequência das primeiras acções de guerrilha. Nessa histórica localidade teve lugar, no dia 13 de Março de 1966, o Congresso
Constitutivo, que marcou o nascimento da UNITA – União Nacional Para a Independência Total de Angola, na presença de dirigentes acabados de chegar da China Popular, autoridades tradicionais e populares da região. Nessa data, assistiu-se a entrada na cena politica angolana, de uma nova força, que veio a dar um novo impulso à luta de libertação nacional, através da participação directa dos seus dirigentes no interior do país.
2 – II CONGRESSO
Teve lugar em Setembro de 1969, em Sachimbanda, na Província do Moxico. Nesse evento de que tomaram parte dirigentes do partido a vários níveis e representantes do povo da região, foi definida a linha política interna e externa da UNITA e estabelecida a orgânica do Partido e das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola).
3 – III CONGRESSO
Realizou-se de 13 a 19 de Agosto de 1973, nas margens do rio Kutaho, na Província oriental do Moxico. 221 pessoas entre membros do bureau político, do comité central e delegados de
assembleias populares, presenciaram os trabalhos do III Congresso da UNITA, que pela primeira vez contou com a presença de observadores estrangeiros e de cinco jornalistas. No discurso proferido na ocasião o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, entre vários assuntos falou da necessidade de unidade entre todos os movimentos de libertação nacional e da luta contra as intrigas que em sua opinião eram veiculadas pelo colonialismo e pelo imperialismo. A auto – suficiência, os progressos feitos na agricultura, na educação e na saúde mereceram realce. Nessa reunião magna, a UNITA definiu-se como Movimento de Massas Oprimidas e decidiu-se a realização dos Congressos em cada quatro anos.
Teve lugar de 23 a 28 de Março de 1977 na Benda, a 80 quilómetros a Sul da cidade do Huambo. Representantes da UNITA no exterior (Jorge Sangumba e Jeremias Chitunda) e da imprensa
estrangeira estiveram presentes. Falando para mais de cinco mil pessoas das quais 722 delegados, o Dr. Savimbi centrou a sua análise sobre a conjuntura político – militar de então, resultante da invasão e ocupação das forças russo – cubanas. A transformação das forças de guerrilhas em unidades semi – regulares e regulares, o combate ao hegemonismo, ao tribalismo, regionalismo e ao analfabetismo, a dinamização da agricultura, do ensino livre e obrigatório para todo o povo e a criação dos serviços de justiça civil e militar foram as grandes decisões tomadas pelo IV Congresso que procedeu à revisão da Carta Constitucional adaptando-a a evolução do Movimento e à resistência nacional generalizada.
5 – V CONGRESSO
Ocorreu entre os dias 26 a 31 de Julho de 1982, em Mavinga - Província do Kuando Kubango sob a cobertura radiofónica da então Voz da Resistência do Galo Negro. Procedeu-se ao balanço da
implementação das decisões saídas do IV Congresso e à revisão da Carta Constitucional, adaptando-a às circunstâncias de então. A implementação das resoluções saídas do IV Congresso projectou a UNITA para a posição chave na solução do conflito na África Austral.
6 – Iº CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO
Teve lugar na Jamba, então bastião da Resistência Angolana ao expansionismo Sovieto - Cubano, na Província do Kuando Kubango, de 1 a 9 Novembro de 1984. Fez o balanço das vitórias alcançadas sobre as ofensivas militares lançadas pela coligação de forças do MPLA, russas e cubanas contra as áreas administradas pela UNITA.
7 - VI CONGRESSO
Denominado o maior dos tempos, o VI Congresso da UNITA teve lugar em finais de Agosto de 1986, na Jamba - Kuando Kubango, sob o signo de “Ofensiva para a Paz”. A força interna e externa foi analisada. Foi inspirada a Plataforma da Paz e Reconciliação Nacional em Angola que entre vários pontos contemplou as negociações directas entre a UNITA e o Governo de Angola.
Teve lugar em Jamba – Kuando Kubango de 26 a 28 de Setembro de 1989. As formas de alcançar a paz constituíram o tema central do II Congresso Extraordinário. Um plano de paz de cinco pontos foi adoptado no final dos trabalhos: negociações directas entre a UNITA e o MPLA; cessar fogo;
formação de um governo de transição e de unidade nacional; revisão constitucional e eleições livres e justas.
9 – VII CONGRESSO
“O Congresso de Mudança” ocorreu em Março de 1991 na base Presidente Kwame Nkrumah, no extremo oriental da Província do Kuando Kubango. O VII Congresso preparou o Partido para a batalha política que se vislumbrava com o desfecho das negociações que decorriam em Portugal. Os delegados escolheram unanimemente o Dr. Jonas Malheiro Savimbi como candidato da UNITA às primeiras eleições presidenciais que viriam a acontecer em Setembro de 1992.
10 – VIII CONGRESSO
Teve lugar no Bailundo, Província do Huambo de 7 a 11 de Fevereiro de 1995. A busca de
unanimidade entre os membros do Partido com vista a implementação do Protocolo de Lusaka foi o maior objectivo. O aquartelamento, desarmamento e desmobilização das forças e a entrega do território administrado pela UNITA à administração central do Estado, foram as decisões tomadas durante o evento, contemplando ainda a incorporação dos generais nas FAA.
III CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO
Ocorreu entre os dias 20 a 27 de Agosto de 1996, no município do Bailundo- Província do Huambo. Debateu e recusou por votação da esmagadora maioria dos delegados a oferta da segunda vice – presidência ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi, tendo reafirmado o engajamento da UNITA na implementação do Protocolo de Lusaka. De referir que até a hora de votação da posição do Congresso sobre a segunda Vice – Presidência, não estavam definidas as competências que eventualmente viria a ter.
11 – IX CONGRESSO
Contexto
Outubro de 1999 a UNITA abandona o Andulo e Bailundo na sequência do reacender do conflito armado em Dezembro de 1998.
22 de Fevereiro de 2002 morre em combate o Dr. Jonas Malheiro Savimbi
03 de Março de 2002 morre o Engº António Sebastião Dembo, vice presidente da UNITA
04 de Abril 2002 assinatura do Memorando de entendimento do Luena, em Luanda, que estabelece uma série de actos que incluem o aquartelamento, desarmamento e desmobilização de mais de cem mil efectivos ex-militares e mais de 300 mil familiares.
· 08 de Outubro de 2002 a UNITA toma posse a nova comissão política, integrando membros idos da resistência, do exterior e os que permaneceram nas cidades.
03 de Fevereiro 3ª reunião da Comissão Política.
22 de Fevereiro 2003, homenagem ao Presidente fundador.
30 de Março data oficial do encerramento das áreas de acolhimento das ex–FMU e o consequente regresso às suas zonas de origem ou de destino de milhares de ex militares e suas famílias.
A reinserção social dos desmobilizados e deslocados.
Estes foram apenas alguns dos muitos assuntos que constituíram o pano de fundo do IX Congresso Ordinário da UNITA realizado em Luanda de 24 a 27 de Junho de 2003, sob o lema “UNITA mais forte por uma Angola de todos “. Mais de mil e quinhentos delegados oriundos das 18 províncias de Angola e do exterior, participaram da reunião magna do Partido, que pela primeira vez na história da UNITA se realizou na capital de Angola, sob o olhar silencioso e profundo do seu líder histórico Dr. Jonas Malheiro Savimbi, morto em combate no dia 22 de Fevereiro de 2002, na região do Moxico e na presença de altas figuras do Governo, de partidos políticos e de representantes do corpo diplomático acreditado em Angola. A consolidação da unidade e coesão do partido, o reforço das suas estruturas, a aprovação dos estatutos e programas, a eleição do próximo presidente do partido, foram as principais metas visadas com a realização do IX Congresso. Pretendeu-se e foi conseguido que com a realização do IX Congresso a UNITA fosse a única vencedora, saindo-se mais forte e reforçada para os desafios políticos que se avizinham, sendo ela o maior partido de oposição angolana com aspiração ao poder. Os delegados que em nome das suas bases participaram das discussões e decisões que passam a engajar o partido, regressaram com a noção exacta das responsabilidades assumidas até ao próximo Congresso.