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ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO /

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Academic year: 2021

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  1.615  S2­C2T2  MINISTÉRIO DA FAZENDA 

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS 

SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO    Processo nº  12448.721981/2014­66  Recurso nº         Voluntário  Acórdão nº  2202­003.737  –  2ª Câmara / 2ª Turma Ordinária   Sessão de  15 de março de 2017  Matéria  Imposto de Renda Pessoa Física  Recorrente  GILBERTO SAYÃO DA SILVA  Recorrida  FAZENDA NACIONAL   

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA ­ IRPF 

Ano­calendário: 2010, 2011 

GANHO  DE  CAPITAL.  FATO  GERADOR.  ALIENAÇÃO  A  PRAZO.  DECADÊNCIA. 

O  fato  gerador  do  IRPF  incidente  sobre  o  ganho  de  capital,  no  caso  de  alienação  a  prazo,  somente  se  completa  quando  do  efetivo  recebimento  do  valor referente à venda do bem ou direito, momento a partir do qual se inicia  a  contagem  do  prazo  decadencial  para  o  lançamento  do  crédito  tributário,  exceto  no  caso  de dolo, fraude  ou  simulação,  em  que  a contagem  do  prazo  decadencial tem início no primeiro dia do  exercício subsequente àquele em  que o lançamento poderia ter sido efetuado. 

COISA  JULGADA  ADMINISTRATIVA.  FATOS  GERADORES 

DISTINTOS. 

Constituem  fatos  geradores  distintos  do  IRPF  incidente  sobre  o  ganho  de  capital  os  recebimentos  de  valores  referentes  à  venda  do  bem  ou  direito  ocorridos  em datas diferidas, não havendo necessariamente a vinculação  da  decisão  administrativa  relativa  ao  IRPF  incidente  sobre  o  recebimento  ocorrido  em  um  mês  à  futura  apuração  do  IRPF  relativo  ao  recebimento  ocorrido em outro mês. 

CAPITALIZAÇÃO  DE  LUCROS  E  RESERVAS.  MÉTODO  DE  EQUIVALÊNCIA  PATRIMONIAL.  IMPOSSIBILIDADE  DE  MÚLTIPLO  PROVEITO DO MESMO LUCRO. OMISSÃO DE GANHO DE CAPITAL  NA ALIENAÇÃO DE AÇÕES. 

É indevida a capitalização de lucros apurados na empresa investidora através  do  Método  de  Equivalência  Patrimonial,  quando  este  mesmo  lucro  permanece  inalterado  na  empresa  investida,  disponível  nesta  como  lucros  e/ou  reservas  de  lucros  tanto  para  que  se efetuem  capitalizações  como  para  retiradas pelos sócios. 

  

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Constatada  a  majoração  artificial  do  custo  de  aquisição  da  participação  societária  alienada,  mediante  a  capitalização  indevida  de  lucros  e  reservas  oriundos  de  ganhos  avaliados  por  equivalência  patrimonial  nas  sociedades  investidoras,  devem  ser  expurgados  os  acréscimos  indevidos  com  a  conseqüente tributação do novo ganho de capital apurado. 

MULTA QUALIFICADA. EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. 

A  divergência  na  qualificação  jurídica  do  fato  não  pode  ser  equiparado  ao  evidente  intuito  de  fraude  para  efeito  de  aplicação  da  multa  qualificada  prevista no artigo 44, II da Lei nº 9.430/96. 

JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. APLICABILIDADE  A  obrigação  tributária  principal  compreende  tributo  e  multa  de  ofício  proporcional.  Sobre  o  crédito  tributário  constituído,  incluindo  a  multa  de  ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.  

 

 

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. 

Acordam  os  membros  do  colegiado,  por  maioria  de  votos,  rejeitar  as  preliminares, vencidos os Conselheiros Martin da Silva Gesto, Dilson Jatahy Fonseca Neto e  Theodoro  Vicente  Agostinho  (Suplente  Convocado),  que  acolheram  as  preliminares  de  decadência e de existência de coisa julgada administrativa. No mérito: a) por maioria de votos,  negar provimento ao recurso quanto à infração de Omissão/Apuração Incorreta de Ganhos de  Capital,  vencidos  os  Conselheiros  Martin  da  Silva  Gesto,  Dilson  Jatahy  Fonseca  Neto  e  Theodoro Vicente Agostinho (Suplente Convocado), que deram provimento ao recurso; b) por  unanimidade de votos, desqualificar a multa de ofício, reduzindo­a ao percentual de 75%; c)  por  maioria  de  votos,  manter  a  incidência  dos  juros  sobre  a  multa  de  ofício,  vencidos  os  Conselheiros  Junia  Roberta  Gouveia  Sampaio  (Relatora),  Martin  da  Silva  Gesto  e  Theodoro  Vicente  Agostinho  (Suplente  Convocado),  que  a  excluíram.  Foi  designado  o  Conselheiro  Marco Aurélio de Oliveira Barbosa para redigir o voto vencedor, na parte em que foi vencida a  Relatora. O Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto informou que apresentará declaração de  voto. 

(Assinado digitalmente) 

MARCO  AURÉLIO  DE  OLIVEIRA  BARBOSA  ­  Presidente  e  Redator  designado.  

(Assinado digitalmente) 

JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO­ Relatora 

Participaram  da  sessão  de  julgamento  os  conselheiros:  Marco  Aurélio  de  Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto,  Rosemary  Figueiroa  Augusto,  Martin  da  Silva  Gesto,  Cecilia  Dutra  Pillar,  Marcio  Henrique  Sales Parada e Theodoro Vicente Agostinho (suplente convocado).  

   

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Trata­se de lançamento de crédito tributário do Imposto de Renda da Pessoa  Física – IRPF relativo aos anos­calendário 2010 e 2011, efetuado por meio do Auto de Infração  lavrado em 14/03/2014 (fls. 105/112), em face do contribuinte acima identificado, no montante  de R$ 19.093.142,47, sendo R$ 6.839.742,96 de imposto, R$ 1.993.785,07 de juros  de mora  calculados até 03/2014 e R$ 10.259.614,44 de multa proporcional calculada sobre o principal. 

Consistiu  a  infração  apurada na  Omissão/Apuração  Incorreta  de  Ganhos  de  Capital na Alienação de Ações/Quotas não Negociadas em Bolsa de Valores, cujo respectivo  Imposto de Renda exigido refere­se aos anos de 2010 e 2011. 

A ação fiscal teve como escopo a análise da operação de alienação das ações  do Banco Pactual S/A, CNPJ nº 30.306.294/0001­45, de propriedade do sócio Gilberto Sayão  da  Silva,  precedida  por  reorganização  societária  ocorrida  entre sociedades  holdings,  as  quais  detinham todas as ações do Banco Pactual. 

Conforme  relata  a  Recorrente,  as  mencionadas  ações  foram  alienadas  ao  grupo UBS pelo preço total de R$ 1.111.647.540,24, do qual a primeira parcela foi recebida em  2006,  a  segunda  em  2009  e  o  saldo  restante  do  preço  foi  pago  em  quatro  parcelas  de  R$  39.335.344,69, recebidas nos meses de março e setembro de 2010 e março e julho de 2011. O  presente  lançamento  se  refere  às  parcelas  recebidas  nos  anos  de  2010  e  2011.  Os  valores  recebidos  em  2006  foram  objeto  do  Auto  de  Infração  lavrado  em  16.12.2009  (Processo  nº  12898.002335/2009­31)  e  a  parcela  de  2009  também  foi  objeto  de  outro  auto  de  infração  lavrado em 23.10.2011 (Processo nº 12448.735359/2011­92)  

A  referida  reorganização  consistiu  na  extinção  das  holdings  que  detinham  participação societária no Banco, por meio de sucessivas incorporações às avessas, culminando  com  a  alienação  das  ações  do  Banco  Pactual  diretamente  pelos  acionistas  pessoas  físicas  da  instituição.  

De acordo com o relatório fiscal, verificou­se majoração ilícita do custo das  ações  alienadas,  gerando,  como  conseqüência,  a  redução  indevida  do  ganho  de  capital  tributável obtido pelo acionista pessoa física. 

Isso  porque,  os  sócios  pessoas  físicas  providenciaram  uma  reestruturação  societária  no  ano­calendário  2006,  mediante  incorporações  às  avessas  das  holdings  controladoras do Banco, para permitir que a transferência das ações do Banco Pactual S.A. ao  UBS AG fosse feita diretamente pelos sócios pessoas físicas

Em  28/12/2004  e  em  31/12/2005,  foram  realizados  os  aumentos  do  capital  social  de  Pactual  Participações  Ltda  nos  montantes  de  R$  210.000.000,00  e  R$  130.000.000,00, respectivamente, passando de R$ 125.000.321,05 para R$ 335.000.321,71 em  28/12/2004  e  R$  465.000.320,61  em  31/12/2005,  mediante  capitalização  de  parte  dos  lucros  retidos na conta lucros acumulados da sociedade. 

Em  31/12/2005  a  Pactual  Participações  Ltda  é  incorporada  por  Pactual  Participações  S/A,  cujo  capital  social  passou  de  R$  26.969.514,00  para  R$  70.118.786,40  (aumento  de  R$  43.149.272,40).  Posteriormente,  a  Pactual  Participações  S/A  transformou­se  em Nova Pactual Participações Ltda. 

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Em  13/10/2006,  foi  realizado  o  aumento  do  capital  social  da  Nova  Pactual  Participações Ltda no montante de R$ 686.000.000,00, passando de R$ 70.118.786,40 para R$  756.118.786,40,  mediante  capitalização  dos  créditos  detidos  pelos  sócios  quotistas  contra  a  sociedade. 

Em 13/10/2006 a Pactual Holdings S/A, aumentou seu capital social em R$  202.500.000,00,  mediante  a  capitalização  de  créditos  detidos  contra  a  sociedade  e  a  capitalização da reserva legal da Companhia.  

Em  13/10/2006  a  Pactual  Holdings  S/A  é  incorporada  por  Pactual  S/A,  passando  o  capital  social  da  incorporadora  de  R$  34.498.190,25  para  R$  64.248.147,47.  Também  nesta  data,  a  Nova  Pactual  Participações  Ltda  é  incorporada  por  Pactual  S/A,  cujo  capital social passou de R$ 64.248.147,47 para R$ 97.841.295,93. 

Em  01/11/2006,  o  capital  social  da  Pactual  S/A  foi  aumentado  em  R$  3.862.542,92,  passando  para  R$  101.698.838,85,  com  a  conseqüente  emissão  de  duas  ações  preferenciais  subscritas  pelos  acionistas  André  Santos  Esteves  e  Gilberto  Sayão  da  Silva  e  integralizadas mediante a capitalização de créditos por eles detidos contra a sociedade. 

Em  03/11/2006  a  Pactual  S/A  aumenta  seu  capital  social  em  R$  996.087.876,00, passando este para R$ 1.097.786.714,85, mediante a capitalização de créditos  detidos pelos acionistas contra a Companhia.  Em 01/12/2006 a Pactual S/A é incorporada pelo Banco Pactual S/A, sendo  vertido para o incorporador o patrimônio líquido da incorporada, de R$  1.149.597.660,18. A  partir deste último evento societário, os acionistas pessoas físicas passaram a ter participação  direta no Banco Pactual S/A, detendo as ações que, posteriormente, foram alienadas. 

Observa­se  um  padrão  nos  eventos  societários.  Após  o  incremento  dos  respectivos Patrimônios Líquidos das companhias em decorrência dos ajustes de equivalência  patrimonial  originados  pelo  lucro  do  Banco  Pactual  S/A,  todas  as  companhias  Investidoras  (Nova Pactual Participações Ltda, Pactual Holdings S/A e Pactual S/A) tiveram seus lucros e  reservas capitalizados e posteriormente foram incorporadas pelas suas Investidas. 

De acordo com a fiscalização, nos processos de incorporação reversa houve  majoração irregular no custo das ações alienadas, tendo em vista que o processo de extinção  das holdings Pactual Participações Ltda, Nova Pactual Participações Ltda e Pactual Holdings  S/A,  com  a  anterior  capitalização  de  dividendos  nos  valores  de  R$  210.000.000,00,  R$  130.000.000,00,  R$  43.149.272,40,  R$  202.500.000,00,  R$  686.000.000,00,  não  poderiam  gerar  o  aumento  no  custo  das  ações  alienadas  do  Banco  Pactual  S/A,  uma  vez  que,  posteriormente,  houve  acréscimo  cumulativo  do  custo  das  aludidas  ações  alienadas  com  a  incorporação do acervo líquido da Pactual Holdings S/A e da Nova Pactual Participações Ltda  e, mais tarde, a capitalização dos dividendos da companhia Pactual S/A, anteriormente à sua  incorporação pelo Banco Pactual S/A, no montante de R$ 1.063.293.524,60, que representa a  soma  das  parcelas  R$  29.749.957,22,  R$  33.593.148,46,  R$  3.862.542,92  e  R$  996.087.876,00. Com o evento de incorporação, todo o acervo líquido da Pactual S/A (PL), no  montante de R$ 1.149.610.206,41, foi incorporado pelo Banco Pactual S/A. 

As  ações  ou  quotas  recebidas  pelo  sócio  ou  acionista,  em  decorrência  do  aumento de capital subscrito pela sociedade fundida, incorporada ou cindida, continuam sendo  basicamente as mesmas de antes, ainda que qualitativamente tenha sofrido alteração, da mesma  forma como se aceitaria indiscutivelmente como inalterada a participação societária dos sócios  ou acionistas que participavam em uma sociedade que tenha incorporado patrimônio de outra. 

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Conclui­se que o custo da ação alienada por cada acionista tem como base a  participação  de  cada  um  deles  no  capital  social  da  Pactual  S/A,  em  01/12/2006.  Todavia,  o  contrato firmado na compra e venda do Banco Pactual S/A determinava que, entre a data da  celebração do negócio e a data da efetivação do mesmo, os lucros auferidos seriam objeto de  distribuição  aos  antigos  proprietários,  de  tal  forma,  que  em  22/02/2007,  os  acionistas  alienantes,  àquela  época  ex­acionistas,  receberam  de  dividendos  o  montante  de  R$290.754.000,06. Tal montante, portanto, refere­se a lucros auferidos até 01/12/2006 e, para  que pudessem ser distribuídos deveriam estar incluídos no patrimônio líquido da Pactual S/A.  Por isso, esta parcela deve ser deduzida do custo de aquisição apurado.  Com isso, chega­se ao custo das ações alienadas pelo Contribuinte, que é de  R$ 183.194.183,97, correspondente a 21,20% do total da sociedade.  O que evidencia a irregularidade é que o sujeito passivo recebeu novas ações  em troca das extintas, por ocasião da extinção da Nova Pactual Participações Ltda, mantendo  assim, em sua propriedade a mesma parcela que detinha indiretamente do Banco Pactual S/A,  entidade que concentrava a efetiva riqueza econômica e financeira do grupo empresarial, como  também aumentou o custo de aquisição de tais ações por meio de dividendos não distribuídos.  Os  dividendos  capitalizados  são  os  mesmos,  na  medida  em  que  as  Reservas  e  Lucros  capitalizados  por  Nova  Pactual  Participações  Ltda  e  Pactual  S/A  nada  mais  são  do  que  o  Resultado da Equivalência Patrimonial do Banco Pactual S/A. 

O  cerne  do  trabalho  fiscal  reside  no  fato  de  que  as  operações  engendradas  pelas  citadas  sociedades  empresariais,  em  relação  à  questão  da  incorporação  de  lucros  e  dividendos, somente encontra lastro jurídico­contábil­financeiro relativamente àqueles gerados  pelo Banco Pactual S/A, com repercussão na controladora Pactual S/A. Isso porque, eventuais  ajustes promovidos pelo Banco Pactual S/A em função de acréscimos patrimoniais ocorridos  nas sociedades Pactual Participações Ltda e Nova Pactual Participações Ltda nada mais eram  do que a própria riqueza gerada pelo Banco Pactual S/A, as quais já haviam sido consignadas  no patrimônio de Pactual S/A. 

Diante  de  todo  exposto,  conclui  a  fiscalização  que,  em  razão  dos  procedimentos  acima  descritos,  os  ex­acionistas  informaram  no  Demonstrativo  de  Ganho  de  Capital  de  suas  Declarações  de  Ajuste  Anual  o  custo  majorado  de  suas  ações,  inserindo  elementos  inexatos  com  o  fim  de  pagar  menos  imposto  de  renda,  conduta  que  se  insere  no  contexto de fraude à fiscalização tributária, sendo o tipo doloso.  

Cientificado  do  Lançamento  em  18/03/2014,  conforme  Aviso  de  Recebimento dos Correios de fl. 143, o Contribuinte, por meio de seu advogado, apresentou  Impugnação em 11/04/2014 (fls. 1237/1297), trazendo, em síntese, as seguintes alegações: 

a) Preliminares 

A Impugnante, ora Recorrente, alegou duas preliminares: 

a.1)  Decadência  do  lançamento,  pois  no  caso  de  tributos  sujeitos  a  lançamento por homologação, a decadência se dá no prazo de 5 anos contados da ocorrência do  fato gerador. Como o fato gerador do IRPF incidente sobre ganho de capital é a alienação do  bem ou direito; e esta ocorreu em 01/12/2006; teriam decorridos mais de 7 anos entre esta data  e a da ciência pelo Impugnante do Lançamento, em 18/03/2014. Seria irrelevante, para fins de 

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contagem do prazo decadencial, que o pagamento do preço de venda tenha sido feito de forma  parcelada ou à vista. 

Alega, ainda, que o crédito tributário exigido estaria extinto por decadência  mesmo que caracterizada fraude, dolo ou simulação, hipótese em que o termo inicial do prazo  decadencial  é  deslocado  para  o  primeiro  dia  do  exercício  seguinte  ao  do  fato  gerador,  nos  termos  do  art.  173,  I,  do  CTN.  Isto  porque,  o  prazo  decadencial  ter­se­ia  iniciado  em  01/01/2007 (primeiro dia do exercício seguinte ao do fato gerador, que ocorreu em 01/12/2006)  e terminado em 01/01/2012. 

a.2)  Existência  de  Coisa  Julgada  Administrativa,  uma  vez  que,  em  16/04/2012,  a  2ª  Turma  Ordinária  da  1ª  Câmara  da  2ªSeção  do  CARF,  por  unanimidade  de  votos,  deu  provimento  ao  recurso  voluntário  apresentado  pelo  Impugnante,  tendo  cancelado  integralmente o Auto de Infração de 2009, por entender que a apuração do ganho de capital na  venda das ações foi realizada nos exatos termos da Lei.  

De acordo com a Impugnante, o Acórdão n° 2102­01.938 tornou­se definitivo  em 29/11/2012 e fez coisa julgada administrativa, encerrando a discussão quanto à apuração do  ganho  de  capital  auferido  na  alienação  dos  investimentos  do  Impugnante,  uma  vez  que  a  situação  versada  nos  Autos  de  Infração  de  2009,  2011  e  no  presente  é  uma  só:  o  ganho  de  capital auferido pelo Impugnante na venda das ações, realizada em 2006.  

b) Mérito 

Em relação ao mérito, a Impugnante, ora Recorrente aduz o seguinte: 

b.1) O Grupo Pactual era composto por diversas holdings, existentes há mais  de 10 anos e constituídas em uma época em que os acionistas sequer cogitavam alienar seus  investimentos  no  Banco  Pactual.  Os  objetivos  das  holdings  eram  exclusivamente  os  de  organizar o exercício do controle do Banco Pactual e propiciar uma distribuição adequada de  seus  resultados.  Dessa  forma,  a  alienação  do  Banco  Pactual  a  terceiros  faria  com  que  as  holdings se tornassem totalmente desnecessárias. 

b.2)  O  caminho  trilhado  pelos  acionistas  para  se  tornarem  vendedores  do  Banco  Pactual  foi  o  mais  lógico,  rápido  e  econômico  dentre  todos  disponíveis,  sendo  o  acréscimo  do  custo  de  seus  investimentos  mera  consequência  de  aplicação  das  normas  em  vigor. 

b.3) A Lei n° 6.404/1976 (LSA) define, em seu art. 227, a incorporação como  a  operação  pela  qual  uma  ou  mais  sociedades  são  absorvidas  por  outra,  que  lhes  sucede  em  todos os direitos e obrigações. Como regra, cabe à incorporadora aumentar seu capital social,  sendo  o  aumento  realizado  pelo  patrimônio  líquido  da  incorporada  e  tocando  aos  acionistas  desta última as ações representativas desse aumento de capital (art. 224, inciso I). 

b.3) A parcela do patrimônio líquido da incorporada representada por lucros  ou reservas de lucro, por exemplo, transforma­se em capital da incorporadora no processo de  incorporação. Por essa razão, é indiferente que, antes da incorporação, os lucros da incorporada  sejam ou não capitalizados. 

b.4)  As  capitalizações  de  lucros  verificadas  antes  das  incorporações  não  representaram mero artifício para elevação do custo dos investimentos dos acionistas, pois (i)  essa  elevação  ocorreria  independentemente  da  capitalização  prévia  dos  lucros  e,  no  caso  concreto, (ii) era essencial à adequada distribuição dos lucros de Participações. 

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b.5) Em se tratando da alienação de quotas ou ações e em sendo o alienante  uma  pessoa  física,  o  custo  de  aquisição  corresponde  ao  custo  original  do  investimento  acrescido do montante dos lucros e reservas de lucros capitalizados, nos termos do § 1º do art.  130 e do art. 135 do RIR. As distorções apresentadas através dos quadros demonstrativos do  TVF decorrem do texto da lei.   b.6) Os ganhos de equivalência patrimonial integram o resultado do exercício  da investidora e, conforme estabelece o §6° do art. 202 da LSA, os lucros do exercício devem  ser integralmente distribuídos, ressalvada a possibilidade de serem retidos, nos termos dos arts.  193 a 197 da mesma lei. 

 b.7)  O  art.  22  da  Lei  n°  9.249/95,  admite  que,  nas  extinções  de  pessoas  jurídicas,  os  bens  de  sua  propriedade  sejam  restituídos  a  seus  sócios  ou  acionistas  pelos  correspondentes valores contábeis. 

c) Nulidade do lançamento 

Alega ainda que a base de cálculo utilizada no lançamento está incorreta, pois  o montante dos lucros capitalizados soma­se o custo dos investimentos  a que correspondem,  ainda  que  eles  tenham  sido  reconhecidos  em  razão  da  aplicação  do  MEP.  Assim,  após  a  capitalização dos lucros existentes em Participações, o custo dos investimentos do Impugnante  atingiu  R$  287.834.315,41.  Esse  é,  pois,  o  valor  que  deveria  ter servido  de  ponto  de  partida  para quantificação do ganho de capital auferido na venda das ações do BANCO, caso os efeitos  da Reestruturação fossem negados. 

d) Redução da multa de 150% 

Alega ainda a inexistência de dolo ou fraude , pois a Reestruturação não foi  realizada  com  o  propósito  exclusivo  de  economia  fiscal  e  seria  levada  a  efeito,  independentemente  desta.  O  Auto  não  nega  efeitos  à  Reestruturação,  apenas  rejeita  um  dos  efeitos  fiscais,  qual  seja,  o  cômputo  no  custo  dos  investimentos  dos  lucros  capitalizados  por  Participações. Assim, não há que se falar em fraude à lei, abuso de forma ou ilícito semelhante,  mas sim em aplicação inadequada das normas legais que versam sobre a determinação do custo  de investimentos, para efeitos de determinação de ganhos de capital.  Como conseqüência requer a redução da multa de 150%, pois sua aplicação  só justifica­se quando há evidente intuito de fraude, ou seja, quando o contribuinte age de má­ fé e com claro propósito de violar conscientemente a lei.  e) Não incidência da multa sobre juros 

Por  fim,  alegou  a  Impugnante  ser  descabida  a  incidência  de  juros  sobre  a  multa porque isso implicaria numa indireta majoração da própria penalidade e não se pode falar  em mora na exigência de multa. 

A  Delegacia  da  Receita  Federal  de  Julgamento  no  Rio  de  Janeiro  julgou  improcedente a impugnação (fls. 1416 à 1453) em decisão cuja ementa é a seguinte: 

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA 

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ENQUADRAMENTO LEGAL GENÉRICO. 

O fato de constarem do auto de infração vários dispositivos  legais concernentes a aspectos gerais relativos à tributação  dos  rendimentos  de  ganho  de  capital  não  macula  o  lançamento,  quando  restar  caracterizado  que  não  houve  prejuízo  ao  contribuinte,  seja  porque  a  descrição  da  infração  lhe  possibilita  ampla  defesa,  seja  porque  a  impugnação  apresentada  revela  pleno  conhecimento  da  infração imputada.  GANHO DE CAPITAL. FATO GERADOR. ALIENAÇÃO A  PRAZO. DECADÊNCIA.  O fato gerador do IRPF incidente sobre o ganho de capital,  no caso de alienação a prazo, somente se completa quando  do efetivo recebimento do valor referente à venda do bem  ou direito, momento a partir do qual se inicia a contagem  do  prazo  decadencial  para  o  lançamento  do  crédito  tributário, exceto no caso de dolo, fraude ou simulação, em  que  a  contagem  do  prazo  decadencial  tem  início  no  primeiro  dia  do  exercício  subsequente  àquele  em  que  o  lançamento poderia ter sido efetuado. 

COISA  JULGADA  ADMINISTRATIVA.  FATOS  GERADORES DISTINTOS. 

Constituem  fatos  geradores  distintos  do  IRPF  incidente  sobre  o  ganho  de  capital  os  recebimentos  de  valores  referentes  à  venda  do  bem  ou  direito  ocorridos  em  datas  diferidas,  não  havendo  necessariamente  a  vinculação  da  decisão administrativa relativa ao IRPF incidente sobre o  recebimento  ocorrido  em  um  mês  à  futura  apuração  do  IRPF relativo ao recebimento ocorrido em outro mês.  CAPITALIZAÇÃO  DE  LUCROS  E  RESERVAS.  MÉTODO 

DE  EQUIVALÊNCIA  PATRIMONIAL. 

IMPOSSIBILIDADE  DE  MÚLTIPLO  PROVEITO  DO  MESMO  LUCRO.  OMISSÃO  DE  GANHO  DE  CAPITAL  NA ALIENAÇÃO DE AÇÕES. 

É indevida a capitalização de lucros apurados na empresa  investidora  através  do  Método  de  Equivalência  Patrimonial,  quando  este  mesmo  lucro  permanece  inalterado  na  empresa  investida,  disponível  nesta  como  lucros  e/ou  reservas  de  lucros  tanto  para  que  se  efetuem  capitalizações como para retiradas pelos sócios. 

Constatada  a  majoração  artificial  do  custo  de  aquisição  da  participação  societária  alienada,  mediante  a  capitalização  indevida de lucros e reservas oriundos de ganhos avaliados por  equivalência patrimonial nas sociedades investidoras, devem ser  expurgados  os  acréscimos  indevidos  com  a  conseqüente  tributação do novo ganho de capital apurado. 

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MULTA QUALIFICADA. EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE.  É  aplicável  a  multa  qualificada  quando  restar  caracterizado  o  evidente intuito de fraude do Contribuinte no sentido de impedir  ou retardar, total ou parcialmente a ocorrência do fato gerador  do  Imposto  de  Renda,  ou  a  excluir  ou  modificar  as  suas  características essenciais. 

JUROS  MORATÓRIOS  INCIDENTES  SOBRE  MULTA  DE  OFÍCIO. 

Considerando  que  a  multa  de ofício  é  classificada como  débito  para  com  a  União,  decorrente  de  tributos  e  contribuições  administrados  pela  Secretaria  da  Receita  Federal  do  Brasil,  é  correta a incidência dos juros de mora sobre os valores da multa  de ofício não pagos, a partir de seu vencimento. 

Cientificado  (fls.  1455)  da decisão,  o  contribuinte  apresentou  o  competente  Recurso Voluntário, no qual reitera as alegações feitas quando da sua impugnação. 

A  Procuradoria  da  Fazenda  Nacional  apresentou  contra­razões  ao  Recurso  Voluntário  reiterando  as  alegações  expostas  pela  fiscalização  e  pela  Delegacia  da  Receita  Federal de Julgamento.   O Recorrente juntou parecer do Prof. Heleno Torres datado de julho de 2016,  em virtude da qual requereu que o processo fosse retirado de pauta.   É o Relatório.    

Voto       

  Conselheira Relatora JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO 

O  recurso  está  dotado  dos  pressupostos  legais  de  admissibilidade,  motivo  pelo qual, dele conheço.  

1­ PRELIMINARES 

Conforme  exposto  no  relatório,  o  Recorrente  alega  duas  preliminares:  Decadência e existência de coisa julgada administrativa em relação ao fato gerador objeto do  presente lançamento. Analisaremos cada uma delas a seguir.  

1.1) DECADÊNCIA.  

Em  relação  a  alegação  de  decadência  suscitada  pela  Recorrente  é  fundamental  que  se investigue qual  o  momento  da ocorrência  do  fato  gerador nas  operações  relativas ao ganho de capital da pessoa física.  

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De  acordo  com  a  Recorrente,  o  fato  gerador,  nesse  caso,  ocorreria  no  momento da alienação, pois trata­se de fato gerador instantâneo, no qual o tributo é devido no  momento em que o sujeito passivo pratica a conduta típica.  

A DRJ, por sua vez, entendeu que, em razão do regime de caixa aplicável às  pessoas  físicas,  o  aspecto  temporal  do  fato  gerador  ocorreria  no  momento  do  efetivo  recebimento.  

Ao  analisar  a  jurisprudência  deste  Conselho,  constata­se  que  a  Câmara  Superior de Recursos Fiscais, na sessão de 16 de fevereiro de 2016, Acórdão 9202­003.770,  firmou  o  entendimento  de  que o  ganho  de  capital,  nas  hipóteses  de  venda a  prazo,  se  dá no  momento do efetivo recebimento dos valores por parte da pessoa física:  

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA 

IRPF 

Exercício: 2006, 2007, 2008, 2009 

DECADÊNCIA  OMISSÃO  DE  RENDIMENTOS  GANHO  DE CAPITAL. 

Ganho de capital auferido na alienação do imóvel rural o  fato gerador se dá no momento do efetivo ganho de capital.  Em  sendo  o  pagamento  parcelado  o  fato  gerador  também  será tomado a cada parcela separadamente.  

Nesse sentido, merece transcrição o voto da Conselheira Relatora Ana Paula  Fernandes: 

Ora, estamos tratando de ganho de capital, desse modo, por uma  questão  deinterpretação  lógica  e  respeitando  a  interpretação 

sistemática do conjunto de normas que compõem o arcabouço 

legal aplicável ao caso, não resta dúvida, se o pagamento  ocorre a prazo o ganho de capital também ocorre a prazo e  conseqüentemente  o  fato  gerador  se  "renova"  a  cada  parcela, observe­se os arts. 2 e 21, § 2 da Lei 7.713/88.    LEI Nº 7.713, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1988.  Art. 2º O imposto de renda das pessoas físicas será devido,  mensalmente, à medida em que os rendimentos e ganhos de  capital forem percebidos.  Art. 3º (...)  § 2º Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o  resultado da soma dos ganhos auferidos no mês, decorrentes  de  alienação  de  bens  ou  direitos  de  qualquer  natureza  considerando­se  como  ganho  a  diferença  positiva  entre  o  valor de transmissão do bem ou direito e o respectivo custo  de  aquisição  corrigido  monetariamente,  observado  o  disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei. ... 

Art.  21.  Nas  alienações  a  prazo,  o  ganho  de  capital  será 

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considerando­se  a  respectiva  atualização  monetária,  se  houver. 

Não há dúvidas de que a tributação do IRPF segue o regime de  caixa  –  o  fato  gerador  ocorre  na  medida  do  recebimento  de  rendimentos.  De  modo  que  assiste  razão  a  fazenda  nacional  quando  alega  que  a  ocorrência  do  fato  gerador  ou  fato  imponível  faz  nascer  a  obrigação  tributária.  A  alienação  de  bens,  por  si  só,  não  faz  nascer  a  obrigação  de  pagar  tributo,  portanto, somente a alienação não constitui fato gerador. É fato  gerador o recebimento de rendimentos decorrentes de ganho de  capital  produzido  na  alienação.  Portanto,  o  fato  gerador  não  ocorre  na  data  de  alienação,  mas  sim,  quando  do  recebimento  das parcelas que representam o ganho de capital 

Da mesma forma que a decisão supra transcrita, entendo que o legislador, ao  adotar o regime de caixa, elegeu como aspecto temporal do fato gerador no caso do imposto de  renda  pessoa  física o  momento  do  efetivo  recebimento.  Sendo  assim,  rejeito  a  preliminar  de  decadência.  

1.2) EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA ADMINISTRATIVA.  

Ainda  no  âmbito  das  preliminares  ao  mérito,  o  Recorrente  requer  o  reconhecimento  da  existência  de  coisa  julgada  administrativa  em  seu  favor,  uma  vez  que  a  situação versada nos  Autos de Infração de 2009, 2011 e, no presente, é  uma só: o  ganho de  capital auferido pelo Impugnante na venda das ações, realizada em 2006.  

Verifica­se que o pressuposto essencial para o reconhecimento da existência  de coisa julgada aplicável a esses autos é o mesmo utilizado para a primeira preliminar, qual  seja,  o  de  que  a  ocorrência  do  fato  gerador  na  apuração  do  ganho  de  capital  se  daria  do  momento  da  alienação,  ocorrida  em  2006,  ainda  que  o  pagamento  tenha  ocorrido  de  forma  parcelada.  

Sendo  assim,  ao  adotar  a  premissa  de  que  a  ocorrência  do  fato  gerador  do  imposto  de  renda  da  pessoas  físicas  ocorre  no  momento  do  efetivo  recebimento,  há  que  se  admitir a existência de fatos geradores distintos para os distintos recebimentos.  

Como  já  demonstrado  no  tópico  relativo  à  decadência,  no  presente  lançamento, foram glosados os ganhos de capital apurados em março e setembro de 2010 e em  março  e  julho  de  2011,  ao  passo  em  que  no  processo  12898.002335/2009­31  discutia­se  a  parcela  recebida  à  vista  pelo  contribuinte  em  virtude  alienação  das  ações  do  Banco  Pactual.  Dessa  forma,  não  há  identidade  invocada  pelo  Recorrente  como  apta  a  caracterizar  a  mencionada “coisa julgada administrativa”. Há fatos geradores distintos, como distintas bases  de cálculo e aspectos temporais de ocorrência.  

Ademais, como bem ressaltado pela Procuradoria da Fazenda, há que se ter  em  mente  que  a  Administração  não  pode  simplesmente  deixar  de  exercer  o  controle  de  legalidade dos seus atos. A coisa julgada administrativa a que faz menção o recorrente apenas  importa  no  não  cabimento  de  recurso  na  própria  via  administrativa.  Assim,  esgotados  as  instâncias de discussão relativamente ao processo 12898.002335/2009­31, não mais é dado à  administração  alterar  o  que  ali  ficara  decidido.  A  decisão  proferida  pela  turma  julgadora 

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naquele  processo,  relativamente  à  situação  específica  ali  tratada,  é  irretratável  para  a  administração, pois exauridas todas as possibilidades de recurso.  

Todavia,  coisa  distinta  é  pretender  que  a  administração  não  tenha  mais  a  possibilidade de apreciar situação que lhe seja correlata, mas não a mesma, no âmbito de um  outro processo administrativo fiscal. Em face do exposto, rejeito a preliminar: 

 2) MÉRITO 

2.1) INTERPRETAÇÃO DO  ARTIGO 135 RIR E AS CIRCUNSTÂNCIAS  FÁTICAS DO 

PROCESSO 

A controvérsia exposta se refere qual a interpretação a ser dada ao artigo 135  do  RIR/99.  Isso  porque,  tanto  as  alegações  do  Recorrente,  quanto  as  razões  expostas  pela  fiscalização e pela DRJ giram em torno do alcance do referido dispositivo legal que está assim  disposto: 

Art.  135.  No  caso  de  quotas  ou  ações  distribuídas  em  decorrência  de  aumento  de  capital  ou  incorporação  de  lucros  apurados  a  partir  do  mês  de  janeiro  de  1996,  ou  de  reservas  constituídas com esses lucros, o custo de aquisição será igual à  parcela  do  lucro  ou  reserva  capitalizado,  que  corresponder  ao  sócio  ou  acionista  (Lei  nº  9.249,  de  1995,  art.10,  parágrafo  único). 

Como  já  exposto  pelo  próprio  Recorrente,  a  reestruturação  societária  realizada por ele e demais sócios do Banco Pactual foi objeto de diversas autuações. Alguns  processos  decorrentes dessas autuações já  foram  julgados pela Câmara Superior de Recursos  Fiscais, a qual, por unanimidade de votos, negou provimento ao Recurso Especial interposto  pelo contribuinte. Nesse sentido, cite­se, exemplificativamente, o decidido no Acórdão 9202­ 003.700: 

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA 

IRPF  ANOCALENDÁRIO:  2006,  2009  JUROS  MORATÓRIOS  INCIDENTES  SOBRE  A  MULTA  DE  OFÍCIO. TAXA SELIC. 

 A  obrigação  tributária  principal  surge  com  a  ocorrência  do  fato  gerador  e  tem  por  objeto  tanto  o  pagamento  do  tributo  como  a  penalidade  pecuniária  decorrente  do  seu  não  pagamento,  incluindo  a  multa  de oficio  proporcional.  O  crédito  tributário  corresponde  a  toda  a  obrigação  tributária  principal,  incluindo  a  multa  de  oficio  proporcional,  sobre  a  qual,  assim,  devem  incidir  os  juros  de mora à taxa Selic. 

OMISSÃO DE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE  AÇÕES.  DUPLICIDADE  DE  CAPITALIZAÇÃO  DE  LUCROS E RESERVAS. 

Constatada a majoração artificial do custo de aquisição da  participação societária alienada, mediante a capitalização  de  lucros  e  reservas  oriundos  de  ganhos  avaliados  por  equivalência  patrimonial  nas  sociedades  investidoras,  seguida de incorporação reversa e nova capitalização, em 

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inobservância da  correta interpretação a ser dada ao art.  135 do Decreto no 3.000, de 1999, devem ser expurgados os  acréscimos  indevidos  com  a  conseqüente  tributação  do  novo ganho de capital apurado. 

EXCLUSÃO  DE  MULTA  E  JUROS  DE  MORA  POR  APLICAÇÃO  DE  NORMA  INFRALEGAL.  INOCORRÊNCIA. 

Somente é cabível a exclusão da imposição de penalidades  e  da  cobrança  de  juros  de  mora  quando  há  comprovada  aplicação do disposto em normas complementares às leis.  Hipótese em que a alegada observância da Instrução Normativa  SRF  n°  84,  de  11  de  outubro  de  2001,  não  tem  o  condão  de  afastar  essa  imposição,  porque  tal  normativo  não  trata  especificamente do caso discutido nos autos e, consequentemene,  não  pode  dar  suporte  à  interpretação  do  art.  135  do  RIR/99  defendida pela autuada  

O  voto  do  conselheiro  relator  Luiz  Eduardo  de  Oliveira  Santos,  merece  transcrição pela clareza e completude com que aborda a questão. Antes de fazer a análise das  alegações do Recorrente, o conselheiro faz a delimitação do problema, nestes termos: 

Com base nesse dispositivo, o aumento de capital, realizado por  uma  pessoa  jurídica,  por  incorporação  de  lucros,  implica  o  aumento  proporcional  do  custo  de  aquisição  da  participação  societária de seus proprietários. 

Para  exemplificar  essa  determinação,  considere  uma  participação  societária  correspondente  a  100%  do  capital  de  uma  pessoa  jurídica  (detida  por  dois  sócios,  pessoas  físicas),  adquirida por R$ 1.000,00. Considere, também, que essa pessoa  jurídica, em seguida, tenha auferido um lucro de R$ 100,00 e o  tenha  capitalizado.  Considere,  por  fim,  que  os  sócios  tenham  alienado  essa  participação  societária  a  terceiros  por  R$  1.500,00. 

Nesse  caso,  em  que  pese  os  sócios  terem  adquirido  a  participação  societária  por  R$  1.000,00  e,  posteriormente,  a  alienado por R$ 1.500,00, o ganho de capital apurado não seria  de R$ 500,00, mas apenas de R$ 400,00. Isso porque os lucros  de R$ 100,00, capitalizados, têm o condão de aumentar o custo  de aquisição da participação societária e, conseqüentemente, de  diminuir o ganho de capital.  Dessa forma, de uma maneira simples e apressada, poder­se­ia 

concluir  que  qualquer  capitalização  de  lucros  implicaria  um  aumento  do  custo  da  correspondente  participação  societária.  Ocorre que essa interpretação, no entender deste conselheiro, é  literal  e,  considerando  exclusivamente  o  parágrafo  único  do  art. 10 da Lei n° 9.249, de 1995, gera incoerências no sistema  jurídico e disfuncionalidades na tributação de operações. 

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Para  ilustrar  a  questão,  vejamos  uma  situação,  em  tudo  semelhante à anterior, porém em que os sócios tenham decidido  criar uma holding controladora da pessoa jurídica operacional,  que por sua vez, passaria a ser subsidiária integral da holding.  Nesse caso: inicialmente teríamos os sócios, como proprietários  da Holding, e esta reconhecendo em seu ativo uma participação  societária  na  pessoa  jurídica  operacional,  avaliada  em  R$  1.000,00  por  equivalência  patrimonial;  em  seguida,  com  a  pessoa  jurídica  operacional  auferindo  lucros  de  R$  100,00,  a  Holding (por equivalência patrimonial) iria refletir esse lucro no  valor  de  sua  participação  societária,  o  que  resultaria  no  reconhecimento  de  lucros,  também  no  valor  de  R$  100,00;  prosseguindo,  a  holding  capitalizaria  o  lucro  por  ela  reconhecido  por  equivalência  patrimonial  e, consequentemente,  os proprietários atualizariam o valor da participação societária,  para  R$  1.100,00;  em  momento  posterior,  a  pessoa  jurídica  operacional incorporaria a holding, mantendo porém os lucros,  de  R$  100,00,  em  seu  patrimônio  líquido  e,  somente  então,  capitalizaria  esses  lucros,  permitindo  que  os  proprietários  atualizassem, mais uma vez, o valor da participação societária,  agora para R$ 1.200,00;por fim, com os proprietários alienando  sua  participação  societária  por  R$  1.500,00,  seria  apurado  um  ganho de capital de apenas R$ 300,00. 

Repare  que,  em  que  pese  os  sócios  terem  adquirido  a  participação  societária  por  R$  1.000,00  e,  posteriormente,  alienado essa participação societária por R$ 1.500,00, o ganho  de capital apurado não foi de R$ 500,00, nem de R$ 400,00, mas  de apenas R$ 300,00. 

Isso  ocorreu  porque  os  lucros  de  R$  100,00,  reconhecidos  na  Holding  por  equivalência  patrimonial  foram  capitalizados,  aumentando  o  custo  de  aquisição  da  participação  societária  e,  posteriormente, os mesmos lucros de R$ 100,00, auferidos pela  pessoa  jurídica  operacional,  em  função  de  suas  atividades,  também foram capitalizados, aumentando mais uma vez o custo  de aquisição da participação societária. 

Consequentemente, vemos aqui o ganho de capital reduzido duas  vezes.Ora, essa situação é – em essência – igual à anterior: (a)  uma  participação  societária  adquirida  por  mil  reais,  (b)  a  correspondente empresa – operacional – que aufere 100 reais de  lucro e (c) a venda dessa participação societária por mil e 500  reais. Mas apenas pela interposição de uma holding na estrutura  societária  do  grupo  econômico,  o  ganho  de  capital  ficaria  reduzido.  E  o  pior,  se  –  ao  invés  de  uma  holding  –  existissem  duas ou mais, o ganho de capital seria mais reduzido ainda.  Portanto,  essa  aplicação  direta  do  parágrafo  único  a  qualquer  incorporação de lucros leva à incoerente conclusão de que, em  se existindo várias holdings interpostas entre os proprietários e  a pessoa jurídica, o ganho de capital pode ficar artificialmente  reduzido, até a zero ou ainda a valores negativos.(grifamos)   

Esclarecida  a  operação,  o  conselheiro  passa  a  descrever  a  finalidade  dos  institutos  da  capitalização  de  lucros  prevista  no  artigo  135,  bem  como  do  método  de  equivalência patrimonial, nesses termos:  

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Com  efeito,  a  capitalização  de  lucros  nada  mais  é  do  que  uma  operação  que  substitui  o  seguinte  procedimento:  (i)  a  distribuição do lucro, pela pessoa jurídica a seus proprietários,  (ii)  o imediato aumento  de  capital da  pessoa jurídica,  no valor  do  lucro  distribuído  e  (iii)  a  subscrição  e  integralização  do  aumento  de  capital,  por  esses  mesmos  proprietários,  com  os  recursos antes recebidos a título de distribuição de lucro. 

Por  outro  lado,  o  método  da  equivalência  patrimonial  tem  por  objetivo  refletir  no  patrimônio  de  uma  pessoa  jurídica  controladora  (ou  coligada)  de  outra,  o  patrimônio  e  conseqüentemente o resultado da investida. Com efeito, ele serve  para  refletir  a  situação  da  investida  no  patrimônio  da  investidora. 

(...)   

A propósito, lembramos que, no procedimento de consolidação,  para  apresentação  da  efetiva  situação  patrimonial,  os  lucros  refletidos  por  equivalência  patrimonial  no  patrimônio  das  investidoras devem ser eliminados. 

Realizaremos,  agora,  a  análise  jurídica  da  legislação,  sem  perder de vista essas características ontológicas (a) da operação  de  capitalização  de  lucros  e  (b)  do  método  da  equivalência  patrimonial. 

(...)   

Repara­se  aqui  a  coerência  dos  dispositivos  acima  referidos.  Como,  na  época,  a  distribuição  de  lucros  era  tributada,  a  capitalização  do  lucro  não  alterava  o  custo  de  aquisição  da  participação societária. Assim, quando a participação societária  fosse  alienada,  o  valor  do  lucro  capitalizado  seria  alcançado  pelo ganho de capital. 

Ora, a partir de 1996, temos uma clara mudança de tratamento  na distribuição de lucro, que passou a não ser tributada, nem na  fonte,  nem  na  declaração  de  ajuste,  nos  termos  do  disposto  no  art.  10,  da  Lei  n°  9.249,  de  1995.  Assim  o  lucro  distribuído  deixou  de  ser  tributado;  e  consequentemente,  o  custo  de  aquisição  das  participações  societárias  passou  a  ser  alterado  quando  da  capitalização  de  lucros  distribuíveis  pela  pessoa  jurídica, inclusive no caso de distribuição de ações bonificadas,  cujo  valor  de  aquisição  devia  ser  considerado  igual  ao  desse  lucro capitalizado. 

(...) 

Repara­se,  da  mesma  forma  que  no  sistema  vigente  anteriormente,  a  coerência  dos  dispositivos  acima  referidos.  Como  a  distribuição  de  lucros  deixou  de  ser  tributada,  a 

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aquisição  da  participação  societária.  Assim,  quando  a  participação  societária  fosse  alienada,  o  valor  do  lucro  (distribuível  isento  e  capitalizado)  não  seria  alcançado  pelo  ganho de capital. 

Portanto,  conhecendo  a  razão  histórica  do  surgimento  da  legislação,  (que  foi  a  alteração  de  tributação  para  não  tributação  da  distribuição  de  lucros),  para  compreensão  da  legislação,  (a)  afastamos a  aplicação da interpretação  literal  e  (b)  entendemos  como  mandatória  a  aplicação  da  interpretação  histórico/teleológica  (acima  discutida)  e,  sobretudo,  da  interpretação sistemática dos dispositivos relativos ao método da  equivalência  patrimonial,  à  distribuição  e  à  capitalização  de  lucros.  Ressalte­se  aqui  que  todos  esses  métodos  de  interpretação convergem. 

Especificamente quanto à interpretação sistemática é muito fácil  perceber  que  não  se  deve  considerar  somente  a  leitura  do  parágrafo,  mas  também  (e  sobretudo)  a  leitura  do  caput  do  próprio  artigo  10  da  Lei  n°  9.249,  de  1995.  Aliás,  essa  é  uma  regra  hermenêutica  básica,  o  parágrafo  deve  sempre  se  referir  ao  caput,  sendo  que  sua  consideração  em  separado  gera  problemas de contexto e, o que é pior, gera a famosa falácia de  ênfase em que, se acentuando um aspecto da realidade, acaba­se  por negar a própria realidade. Ora, no caput, é referido que os  lucros  ou  dividendos  pagos  ou  creditados  é  que  não  estarão  sujeitos  à  incidência  do  imposto  de  renda.  Portanto,  interpretando  o  parágrafo  nos  limites  do  que  dispõe  o  caput,  concluímos  facilmente  que  a  capitalização  de  lucros  que  tem  o  condão  de  alterar  o  custo  de  aquisição  de  participações  societárias  é  aquela  referente  a  lucros  passíveis  de  efetiva  distribuição aos sócios ou acionistas sem tributação. 

Por seu turno, conforme já colocado no início desse voto, temos  que  o  método  da  equivalência  patrimonial  teve  por  objetivo  o  reconhecimento  de  lucros  de  investidas,  mesmo  antes  de  sua  distribuição. 

Não se está aqui negando a existência de um lucro decorrente do  ajuste de equivalência patrimonial, mas não podemos deixar de  levar em conta o fato de o lucro não é efetivamente distribuído  mais  de  uma  vez.  Com efeito, o  lucro  decorrente  do ajuste  por  equivalência patrimonial, é somente o reflexo do lucro auferido  pela  pessoa  jurídica  operacional  (investida),  esse  último  sim,  passível de efetiva distribuição. 

Comprovando a conclusão acima, sabemos que a distribuição de  lucro,  registrado  em  decorrência  do  ajuste  de  equivalência  patrimonial  implica  a  necessidade  de  contratação  de  empréstimos  ou  distribuição  de  recursos  aportados  a  título  de  capital. 

Pois  bem,  devemos  nos  lembrar  de  que  a  própria  operação  de  capitalização  de  lucros  foi  concebida  como  um  atalho  para  substituição do complexo procedimento de (i) a distribuição do  lucro,  pela  pessoa  jurídica  a seus  proprietários,  (ii) o  imediato  aumento  de  capital  da  pessoa  jurídica,  no  valor  do  lucro  distribuído  e  (iii)  a  subscrição  e  integralização  do  aumento  de 

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capital,  por esses  mesmos proprietários, com os recursos  antes  recebidos a título de distribuição de lucro. 

(...) 

Agora,  a  partir  do  que  se  encontra  acima  colocado,  é  possível  chegarmos  a  uma  conclusão  quanto  ao  procedimento  de  aplicação  da  legislação,  no  tocante  à  atualização  do  custo  da  participação  societária,  em  função  da  capitalização  de  lucros  pela pessoa jurídica. 

Considerando que a efetiva distribuição de lucros deve se dar a  partir da pessoa jurídica operacional, essa distribuição, seguida  de subscrição de aumento de capital nas empresas componentes  de  um  grupo  econômico  (a  pessoa  jurídica  operacional  e  suas  holdings)  deve  ter  por  efeito  patrimonial  o  aumento  de  capital  em toda a cadeia de entidades relacionadas societariamente. Por  óbvio não é possível distribuir mais de uma vez o mesmo lucro (o  lucro  e  seus  reflexos  por  equivalência  patrimonial),  portanto  também  não  deve  ser  aceitável,  pelo  menos  para  fins  fiscais,  capitalizá­lo  mais  de  uma  vez  A  conclusão  acima  é  inevitável,  porque:as  disponibilidades  passíveis  de  distribuição  estão  no  patrimônio  da  pessoa  jurídica  operacional,  que  somente  pode  distribuir  o  lucro  para  sua  proprietária  direta,  a  holding;  já  a  holding, somente pode distribuir o lucro aos acionistas, pessoas  físicas,após  o  recebimento  dos  recursos  da  pessoa  jurídica  operacional;os acionistas, por sua vez, somente podem aumentar  capital  na  holding,  em  que  possuem  participação  direta;  e  por  fim,  a  holding,  com  os  recursos  recebidos,  poderá  aumentar  capital da pessoa jurídica operacional. 

Ora, conseqüentemente, somente haverá capitalização de lucros  efetivamente  distribuíveis  caso  todas  as  pessoas  jurídicas  da  cadeia  societária  (holdings  e  empresa  operacional)  realizem  a  capitalização. Ao contrário, caso ocorra apenas a capitalização  dos lucros de  holdings,  o parágrafo  único do  art.  10  da  Lei  n°  9.249,  de  1995,  não  incide,  devendo  ser  mantido  o  valor  da  participação societária pelos proprietários, até mesmo porque os  efetivos lucros da pessoa jurídica operacional ainda poderão ser  distribuídos  sem  tributação  (para  os  próprios  sócios)  ou  para  futuros adquirentes. 

A exposição acima transcrita, deixa claro que a interpretação literal do artigo  135  do  RIR  pretendida  pelo  Recorrente,  na  situação  dos  autos,  não  encontra  respaldo  no  arcabouço  normativo  que  lhe  serve  de  suporte  além  de  criar  um  benefício  fiscal  sem  causa.  Como  bem  observou  a  Procuradoria  da  Fazenda,  a  adoção  da  interpretação  literal  pretendia  pelo Recorrente teve como conseqüência o aumento do custo de aquisição das ações do Banco  Pactual em 233,71% quanto patrimônio líquido do Banco aumentou em 84,45%. 

2.2) DA BASE DE CÁLCULO ADOTADA NO LANÇAMENTO 

Alega ainda o Recorrente que a base de cálculo utilizada no lançamento está  incorreta,  pois  o  montante  dos  lucros  capitalizados  soma­se  o  custo  dos  investimentos  a que  correspondem,  ainda  que  eles  tenham  sido  reconhecidos  em  razão  da  aplicação  do  MEP. 

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Assim, após a capitalização dos lucros existentes em Participações, o custo dos investimentos  do Impugnante atingiu R$ 287.834.315,41. 

Entendo, todavia, que a referida alegação não merece prosperar. Isso porque,  como já demonstrado, o lucro existente no grupo Pactual era um só, produzido pelo Banco e  refletido  nas  demais  empresas  em  razão  do  MEP.  No  entanto,  tal  lucro  ainda  não  tinha  sido  distribuído e estava integralmente contabilizado no Banco Pactual, podendo servir de base para  distribuição de dividendos ou de capitalização no próprio Banco, o que de fato ocorreu.  

O  lucro  do  Banco  Pactual  foi  distribuído  entre  os  acionistas  da  empresa,  beneficiando,  inclusive,  os  próprios  alienantes  e  autuados.  Constou  do  contrato  de  venda  do  Banco  Pactual  que  os  antigos  acionistas  receberiam  dividendos  provenientes  do  lucro  produzido  pelo  Banco  no  ano  de  2006.  Dessa  forma,  se  o  lucro  do  Banco  Pactual  serviu  de  fundamento  para  distribuição  de  dividendos  a  seus  acionistas  não  poderia  ser  utilizado  em  capitalizações realizadas nas holdings, que não têm receita própria, mas apenas refletem, pelo  MEP, o lucro gerado pelo próprio Banco.  

2.3) DA MULTA QUALIFICADA 

O Recorrente se insurge, também, quanto a aplicação da multa qualificada de  150% por entender que: a) não foi comprovado o "evidente intuito de fraude", uma vez que não  foram  identificados  documentos  inidôneos;  b)  todas  as  operações  foram  escrituradas  e  declaradas; c) a divergência na interpretação de dispositivo legal (art. 135 do RIR) não poderia  ser qualificada como fraude. 

Nesse  ponto,  entendo  correta  a  alegação  do  Recorrente.  Por  mais  que  se  reconheça a prática de planejamento fiscal não oponível ao fisco, uma vez que a Recorrente se  abrigou  na  literalidade  normativa  para  obter  efeitos  fiscais  em  oposição  da  teleologia  dos  institutos  jurídicos  analisados,  entendo  que  não  está  configurada  a  fraude  penal  necessária  a  aplicação  da  multa  agravada.  Como  esclarece  MARCO  AURÉLIO  GRECO  em  sua  obra  planejamento fiscal: 

Outra observação a ser feita é a de que a incidência do inciso II  do artigo 44 da Lei nº 9.430/96, que leva à multa mais onerosa,  supõe a ocorrência inequívoca do intuito fraudulento. 

Vale  dizer,  não  é  toda  e  qualquer  hipótese  de  falta  de  pagamento,  etc.  prevista  no  inciso  I  que  vai  levar  a  multa  em  dobro.  

Se não houve o intuito de enganar, esconder, iludir, mas se, pelo  contrário,  o  contribuinte  agiu  de  forma  clara,  deixando  explícitos  seus  atos  e  negócios,  de  modo  a  permitir  a  ampla  fiscalização pela autoridade fazendária, e se agiu na convicção e  certeza  de  que  seus  atos  tinham  determinado  perfil  legalmente  protegido ­ que levava ao enquadramento em regime ou previsão  legalmente mais favorável ­ não se trata de caso regulado pelo  inciso II do artigo 44, mas sim de divergência de qualificação  jurídica dos fatos; hipótese completamente distinta da fraude a  que se refere o dispositivo.   A multa agravada só tem cabimento se o elemento subjetivo do  tipo for a fraude no sentido de enganar, esconder, iludir etc.  Hipóteses de razoável e justificável divergência de qualificação  jurídica não configuram a "fraude" a que se refere o incido II. 

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Poderão em tese configurar fraude civil ou fraude à lei, mas esta  não está alcançada pelo inciso II. (grifamos) 

 

Além disso, o artigo 112 do Código Tributário Nacional é claro ao dispor que  "  A  lei tributária  que  define infrações,  ou  lhe  comina  penalidades,  interpreta­se  da  maneira  mais  favorável  ao  acusado,  em  caso  de  dúvida  quanto à  capitulação  legal  do  fato".  Nesse 

caso, entendo que a dúvida quanto a correta compreensão do alcance do artigo 135, II do RIR  pode ser constatada a partir da decisão proferida no processo 12898.002335/2009­31 no qual  foi dado provimento ao recurso do contribuinte, por unanimidade de votos.   Em face do exposto, entendo que a multa de ofício deverá ser reduzida para o  percentual de 75%.  2.4) DA EXCLUSÃO DA MULTA SOBRE JUROS  Discorda a recorrente da aplicação de juros de mora sobre a multa de ofício,  os quais pede, caso não seja cancelado o crédito tributário, sejam excluídos. 

Este  Conselho  já  apreciou  a  presente  matéria,  no  Acórdão  nº  1102­00.060  (julgado  na  sessão  de  28/08/2009),  a  Conselheira  Sandra  Maria  Faroni,  bem  sintetiza  o  argumentação  que  permite  a  conclusão  não  incidência  dos  juros  sobre  a  multa  de  ofício,  vejamos: 

“A  obrigação  tributária  pode  ser  principal,  consistindo  em  obrigação  de  dar  (pagar  tributo  ou  multa)  e  acessória,  obrigação  de  fazer  (deveres  instrumentais).  De  acordo  com  o  art.  139  do  CTN,  o  crédito  tributário  decorre  da  obrigação  principal  e  tem  a  mesma  natureza  desta.  Portanto,  compreendem­se  no  crédito  tributário  o  valor  do  tributo  e  o  valor da multa.  

O Decreto­lei n° 1.736/79 determinou a incidência dos juros de  mora  sobre  o  "valor  originário"  ,  definindo  como  "valor  originário"  o  débito,  excluídas  apenas  as  parcelas  relativas  a  correção monetária, juros de mora, multa de mora e encargo do  DL 1.025/69. Ou seja, não previu a exclusão da multa de oficio.   O  art.  161  do  CTN  determina  que  o  crédito  não  integralmente  pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o  motivo  determinante  da  falta,  ressalvando  apenas  a  pendência  de consulta formulada dentro do prazo legal para pagamento do  crédito. Seu § 1° determina que, se a lei não dispuser de forma  diversa, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento  ao mês.   No caso de multa por lançamento de oficio, seu vencimento é no  prazo de 30 dias contados da ciência do auto de infração. Assim,  o valor da multa lançada, se não pago no prazo de impugnação,  sujeita­se aos juros de mora.  

Além  dos  artigos  2°  e  3°  do  DL  1.736/79,  tratam  dos  juros  de  mora os seguintes dispositivos de leis ordinárias: Lei 8.383/91, 

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art. 59; Lei 8.981/95, art. 13; Lei 9.430/96, art. 5°, § 3°, art. 43,  parágrafo único e art. 61, § 3°, Lei n° 10.522/2002, (cuja origem  foi a MP 1.621­31/98), arts. 29 e 30.  

O artigo 61 da Lei 9.430/96 regula a incidência de acréscimos  moratórios sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições  cujos  fatos  geradores  ocorrerem  a  partir  de  01  de  janeiro  de  1997,  não  alcançando,  pois,  a  multa  por  lançamento  de  oficio,  uma vez que:  

(a) a multa não decorre do tributo, mas do descumprimento do  dever  legal  de  pagá­lo;  (b)  entendimento  contrário  implicaria  concluir que sobre a multa de oficio incide a multa de mora.   O artigo 30 da Lei 10.522/2002 determina a submissão, a partir  de 10 de janeiro de 1997, a juros de mora calculados segundo a  Selic, dos débitos cujos fatos geradores tenham ocorrido até 31  de  dezembro  de  1994  e  que  não  tenham  sido  objeto  de  parcelamento, e dos créditos inscritos na Dívida Ativa da União.   Em  síntese,  em  se  tratando  de  débitos  de  tributos  cujos  fatos  geradores  ocorreram  a  partir  de  1°  de  janeiro  de  1995  só  há  dispositivo legal autorizando a cobrança de juros de mora à taxa  SELIC sobre multa no caso de multa lançada isoladamente; não  porém  quando  ocorrer  a  formalização  da  exigência  do  tributo  acrescida  da  multa proporcional.  Nesse caso, só  podem incidir  juros de mora à taxa de 1%, a partir do trigésimo dia da ciência  do  auto  de  infração,  conforme  previsto  no  §  1°  do  art.  161  do  CTN.” 

A fim de demonstrar o entendimento majoritário do CARF no sentido acima  exposto, colaciono a ementa de diversos julgados: 

JUROS  DE  MORA.  CRÉDITO  TRIBUTÁRIO.  TAXA SELIC.  —  É cabível, no lançamento de oficio, a cobrança de juros de mora  sobre  o  tributo  ou  contribuição,  calculados  com  base  na  variação acumulada da Taxa Selic. Referidos juros não incidem  sobre  a  multa  de  oficio  lançada  juntamente  com  o  tributo  ou  contribuição,  decorrente  de  fatos  geradores  ocorridos  a  partir  de  1/01/1997,  por  absoluta  falta  de  previsão  legal.  (Acórdão  202­16.397, sessão de 14.07.2005). 

JUROS  DE  MORA  SOBRE  A  MULTA  DE  OFICIO  ­  INAPLICABILIDADE  ­  Os  juros  de  mora  só  incidem  sobre  o  valor  do  tributo,  não  alcançando  o  valor  da  multa  aplicada.  (Acórdão 101­ 96.008, sessão de 1/03/2007).  

INCIDÊNCIA  DE  JUROS  SOBRE  MULTA  DE  OFÍCIO  ­  INAPLICABILIDADE ­ Não incidem os juros com base na taxa  Selic  sobre  a  multa  de  oficio,  vez  que  o  artigo  61  da  Lei  n.°  9.430/96 apenas impõe sua incidência sobre débitos decorrentes  de  tributos  e  contribuições.  Igualmente  não  incidem  os  juros  previstos no artigo 161 do CTN sobre a multa de oficio.(Acórdão  101­96.607, sessão de 06/03/2008). 

Inclusive  há  decisão  da  Câmara  Superior  de  Recursos  Fiscais,  conforme  se  verifica pelo Acórdão 9101­00.722 (1a. Turma da CSRF), julgado na sessão de 8 de novembro  de 2010, de relatoria da Conselheira Karem Jureidini Dias: 

(21)

RECURSO  ESPECIAL  –  CONHECIMENTO.  Não  deve  ser  conhecido o Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional  quando inexiste similitude fática entre o acórdão paradigma e o  acórdão  recorrido.  JUROS  DE  MORA  SOBRE  MULTA  DE  OFÍCIO ­ INAPLICABILIDADE ­ Os juros de mora só incidem  sobre o valor do tributo, não alcançando o valor da multa ofício  aplicada.  A fundamentação do referido acórdão da 1a. Turma da CSRF é de que a regra  veiculada pelo art. 61 da Lei n.° 9.430/96 refere­se à incidência de acréscimos moratórios sobre  ‘débitos decorrentes de tributos e contribuições’, sendo certo que a penalidade pecuniária não  decorre de tributo ou contribuição, mas do descumprimento do dever legal de declará­lo e/ou  pagá­lo, de onde se extrai a conclusão de ser inaplicável os juros de mora a taxa Selic sobre a  multa de oficio. Assim, a conclusão é de que a taxa SELIC só incidirá sobre multas isoladas,  aplicadas nos termos do art. 43 da Lei nº 9.430/97. 

Por  tais  razões,  afasto  a  incidência  dos  juros  aplicáveis  sobre  a  multa  de  ofício. 

3) CONCLUSÃO 

Em  face  do  exposto,  rejeito  as  preliminares  e,  no  mérito,  dou  parcial  provimento  ao  recurso  voluntário  para  reduzir  o  percentual  da  multa  para  75%  e  afastar  a  incidência dos juros sobre a multa de ofício.   (Assinado digitalmente)  Júnia Roberta Gouveia Sampaio.     Voto Vencedor  Marco Aurélio de Oliveira Barbosa ­ Redator designado  Em que pese o bem fundamentado voto da ilustre Conselheira Junia Roberta  Gouveia Sampaio, peço vênia para divergir, tão somente em relação aos juros de mora sobre a  multa de ofício.  Sobre essa questão, entendo que o §3º do art. 61 da Lei nº 9.430/1996, ao se  referir aos juros incidentes sobre os débitos para com a União, incluiu o tributo e a multa de  ofício, pois a multa também é um débito com a Fazenda Pública.   Art.61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e 

contribuições  administrados  pela  Secretaria  da  Receita  Federal,  cujos  fatos  geradores  ocorrerem  a  partir  de  1º  de 

janeiro  de  1997,  não  pagos  nos  prazos  previstos  na  legislação  específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa  de  trinta  e  três  centésimos  por  cento,  por  dia  de  atraso.  (Vide  Decreto nº 7.212, de 2010) 

Referências

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