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e-Ágora : métodos e algoritmos para a construção da opinião pública no contexto da teoria da democracia deliberativa

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação

Tiago Novaes Angelo

e-Ágora: Métodos e Algoritmos para a

Construção da Opinião Pública no Contexto da

Teoria da Democracia Deliberativa

Campinas

2019

(2)

e-Ágora: Métodos e Algoritmos para a Construção da

Opinião Pública no Contexto da Teoria da Democracia

Deliberativa

Tese apresentada à Faculdade de Engenha-ria Elétrica e de Computação da Universi-dade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Engenharia Elétrica, na Área de Engenharia de Computação.

Orientador: Prof. Dr. Romis Ribeiro de Faissol Attux Co-orientador Prof. Dr. César José Bonjuani Pagan

Este exemplar corresponde à versão final da tese defendida pelo aluno Tiago Novaes Angelo, e orientada pelo Prof. Dr. Romis Ribeiro de Faissol Attux

Campinas

2019

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CNPq, 162115/2014-8 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7730-0082

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura Elizangela Aparecida dos Santos Souza - CRB 8/8098

Angelo, Tiago Novaes,

An43e Ange-Ágora : métodos e algoritmos para a construção da opinião pública no contexto da teoria da democracia deliberativa / Tiago Novaes Angelo. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

AngOrientador: Romis Ribeiro de Faissol Attux. AngCoorientador: Cesar José Bonjuani Pagan.

AngTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.

Ang1. Democracia deliberativa. 2. Processamento de linguagem natural (Computação). 3. Mineração de dados (Computação). I. Attux, Romis Ribeiro de Faissol, 1978-. II. Pagan, Cesar José Bonjuani, 1962-. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: e-Ágora : methods and algorithms for the construction of public

opinion in the context of deliberative democracy

Palavras-chave em inglês:

Deliberative democracy

Natural language processing (computing) Data mining (computing)

Área de concentração: Engenharia de Computação Titulação: Doutor em Engenharia Elétrica

Banca examinadora:

Romis Ribeiro de Faissol Attux [Orientador] Christiano Lyra Filho

Denise Bértoli Braga Diogo Coutinho Soriano Cristiano Cordeiro Cruz

Data de defesa: 22-02-2019

Programa de Pós-Graduação: Engenharia Elétrica

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Candidato: Tiago Novaes Angelo 046797 Data de defesa: 22 de fevereiro de 2019

Título da dissertação: “e-Ágora: Métodos e Algoritmos para a Construção da Opinião Pública no Contexto da Teoria da Democracia Deliberativa”

Prof. Dr. Romis Ribeiro de Faissol Attux (Presidente, FEEC/UNICAMP) Prof. Dr. Cristiano Cordeiro Cruz (FFLCH/USP)

Prof. Dr. Diogo Coutinho Soriano (CECS/UFABC) Prof. Dr. Christiano Lyra Filho (FEEC/UNICAMP) Profa. Dra. Denise Bertoli Braga (IEL/UNICAMP)

A ata de defesa, com as respectivas assinaturas dos membros da Comissão Julgadora, encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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(6)

Antes de tudo, agradeço à Deus.

A conclusão deste doutorado marca um fim de um ciclo de muito estudo e trabalho, mas também de muitos bons momentos que ficarão para sempre em minha memória.

Meu primeiro e mais sincero agradecimento vai para a Unicamp, esta Univer-sidade abençoada, uma mãe gentil, que me acolheu há 13 anos atrás e me mostrou quão maravilhoso é o mundo do conhecimento, da ciência e, principalmente, da sabedoria.

Nestes 13 anos, vivenciei as mais marcantes experiências de minha vida. Fui estudante, fui empresário na 3E-Unicamp, militei no Centro Acadêmico, fui esportista nas aulas da FEF, fui conselheiro no CONSU e tantas outras coisas que só uma verdadeira universitas pode proporcionar.

E quem faz a Universidade são as pessoas que nela estão. Professores, funcio-nários e alunos possuem minha mais nobre gratidão.

Além disso, também fui privilegiado pelas pessoas que conheci e convivi, e que me ajudaram a construir quem hoje eu sou.

Agradeço aos meus pais, Sonia e Abelardo, pelo carinho, apoio, amor e com-preensão que recebi, e venho recebendo, por toda a minha vida. Tenho muito orgulho e gratidão por saber que vocês não mediram esforços para tornar mais fácil minhas escolhas, não só acadêmicas, como de vida. Este trabalho só existe porque nos momentos difíceis vocês fizeram, com muito amor, o possível e o impossível para que eu me sentisse confiante e seguro para dar um passo além.

Agradeço também a toda a minha família, em especial a minha tia Tereza Carlota, minha principal referência do que é ser um cientista e que, desde criança, com muito amor, paciência e dedicação, me ensinou e mostrou as maravilhas do mundo das ciências.

Agradeço aos meus amigos Totós, Anderson, Arthur, Eliezer, Fábio, Geraldo, Karen, Matheus, Raquel e Victor (coloque em ordem alfabética para mostrar que eu não tenho preferência!) que me acompanham (e aguentam) desde a graduação e são, com certeza, a família que eu pude escolher.

Agradeço a tantos outros amigos que marcaram minha vida. Em especial gos-taria de lembrar dos gordiços Fabi, Yashmin, Capitão e Edgar e outros que sempre terei no meu coração: Maurício, Daniel, Carol e Malogro.

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Agradeço ao meu orientador Romis Ribeiro de Faissol Attux, por toda a dedi-cação, paciência e encorajamento para eu perseguir esse meu sonho. Sua simplicidade me ensinou que a humildade é uma das maiores virtudes do ser humano, e sua inteligência e visão do mundo me mostrou que, mesmo em tempo sombrios, não devemos nunca desistir de lutar por dias melhores.

Agradeço ao meu co-orientador César José Bonjuani Pagan, que me acompa-nha desde a miacompa-nha iniciação científica, orientando e motivando meus passos acadêmicos, sendo um amigo e uma referência não só profissional, como também ética e cidadã. Sua experiência de vida, sabedoria e alegria sempre me motivaram, mesmo nos momentos mais difíceis, e deram luz para que eu pudesse plantar sementinhas que fizessem do mundo um lugar melhor.

Ao Professor Léo Pini, que com muita paciência e dedicação me ensinou a nobre arte da docência e a construir o amor pela Unicamp.

Aos amigos do laboratório DSPCOM, pelo apoio acadêmico e pelos momentos divertidos que pudemos desfrutar.

Aos professores que participaram da defesa, pelas sugestões e cuidadosa revisão que puderam contribuir com o aprimoramento do trabalho.

Por fim, agradeço ao CNPq pela oportunidade concedida e por todo o apoio financeiro.

(8)

urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde. E que a universidade nos ajude. Ela pode, vós podeis.” (José Saramago)

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Resumo

As novas Tecnologias de Comunicação e Informação vêm transformando a sociedade nos últimos anos, em especial com o advento da internet, a qual estabeleceu formas de relação mais virtualizadas, dinâmicas e rápidas. Estas transformações não só estabeleceram um novo paradigma nas relações sociais, como também trouxeram a possibilidade de ressig-nificar as relações entre os sujeitos e as instituições políticas, gerando uma demanda de atualização das práticas democráticas, em especial com um papel mais ativo dos cidadãos. É neste sentido, de pensar a democracia em um novo momento social, que esta Tese tratou das possibilidades tecnológicas de aproximar o cidadão dos negócios públicos. Fundamen-tados na teoria da democracia deliberativa, a qual apresenta-se como uma alternativa de atuação política a uma democracia em crise, os projetos propostos tiveram como obje-tivo estabelecer um processo de construção da opinião pública, em que o cidadão seja o protagonista. No âmbito do projeto e-Ágora, esta Tese trata do desenvolvimento de três propostas: a Ágora, a qual consiste na criação de uma plataforma virtual de participação política e consulta da opinião pública; o Extrator de Opinião Pública (EOP), o qual trata da criação de algoritmos de mineração de textos para extração de temas e conteúdos re-levantes a partir de relatos dos participantes de uma comunidade; e da Metodologia da Ação Comunicativa (MAC), a qual estabelece um procedimento de consulta da opinião e avaliação do consenso utilizando a Ágora e o EOP. Os três projetos foram implementados e avaliados nos mais diversos contextos. A Ágora e a MAC foram testadas em uma consulta da opinião pública com a comunidade da Unicamp. Já o EOP foi avaliado e validado como uma ferramenta de extração de temas e conteúdos relevantes, e utilizado em uma tarefa de análise de discurso. Os resultados mostraram que o EOP, nas atividades de extração das palavras-chave e conteúdo relevante, forneceu resultados próximos, ou até superiores, a outras ferramentas que executam as mesmas tarefas. Em relação a Ágora e a MAC, foi possível construir a opinião da comunidade consultada, porém questões como participa-ção e tempo acarretaram em uma nova proposta de implementaparticipa-ção da plataforma e da metodologia.

(10)

The new technologies of Communication and Information have been transforming society in recent years, especially with the advent of the internet, which has established more virtualized, dynamic and fast forms of relationship. These transformations not only es-tablished a new paradigm in social relations, but also have brought the possibility of re-signifying relations between subjects and political institutions, generating a demand for updating democratic practices, especially with a more active role of citizens. It is in this sense, thinking democracy in a new social moment, that this thesis dealt with the technological possibilities of bringing the citizen closer to public affairs. Based on the theory of deliberative democracy, which presents as an alternative of political action to a democracy in crisis, the projects proposed in this work objective to establish a process of construction of public opinion where the citizen is the protagonist. Named textit e-Agora Project, this thesis deals with the development of three proposals: the Ágora, which consists of the creation of a virtual platform for political participation and consultation of public opinion; the Public Opinion Extractor (POE), which deals with the creation of text mining algorithms for extracting relevant themes and contents based on reports from participants in a community; and the Communicative Action Methodology (CAM), which establishes a procedure for consultation of opinion and evaluation of consensus us-ing Ágora and POE. The three projects have been implemented and evaluated in the most diverse contexts. Ágora and CAM were tested in a public consultation with the Unicamp community. The POE has been evaluated and validated as a tool for extracting relevant themes and contents, and has used in a discourse analysis task. The results showed that EOP, in the extraction activities of the relevant keywords and content, provided results close to or even superior to other tools that perform the same tasks. In relation to Ágora and CAM, it was possible to build the opinion of the consulted community, but issues such as participation and time led to a new proposal to implement the platform and methodology.

(11)

Lista de ilustrações

Figura 1 – Etapas do processo KDD. . . 58

Figura 2 – Etapas do processo KDT. . . 61

Figura 3 – Esquema de integração das três frentes do projeto e-Ágora: os usuá-rios responderão à questões discursivas e participarão de debates. O conteúdo gerado será processado pelo EOP, o qual extrairá temas e in-formações relevantes. Este conteúdo será validado a partir de votações cujo objetivo será determinar o consenso das proposições. Por fim, a opinião pública é expressa pelo conteúdo consensual. . . 79

Figura 4 – Fluxograma apresentado as etapas de desenvolvimento da Ágora, se-gundo o modelo iterativo e incremental. . . 90

Figura 5 – Arquitetura estrutural da Ágora segundo o modelo Cliente-Servidor. . . 92

Figura 6 – Arquitetura do modelo MVC. . . 93

Figura 7 – Página de Administração criada pelo Django para o gerenciamento do banco de dados. . . 98

Figura 8 – Exemplo de um objeto Usuário mostrando a forma de armazenamento da senha. Note que a senha não é armazenada “crua”, mas sim cripto-grafas através do algoritmo PBKDF2. . . 99

Figura 9 – Página de login da Ágora. . . 100

Figura 10 – Página inicial da Ágora contendo as consultas abertas. . . 101

Figura 11 – Header da página da Etapa 1. . . 102

Figura 12 – Exemplo de um objeto tipo “Questão”. . . 103

Figura 13 – Exemplo de um objeto tipo “Artigo”. . . 103

Figura 14 – Exemplo de um objeto tipo “Debate”. . . 104

Figura 15 – Exemplo de um objeto tipo “Relatório”. . . 105

Figura 16 – Página de configuração da Ágora. . . 105

Figura 17 – Página “Meu Espaço” de feedback do usuário. . . 106

Figura 18 – Fluxograma da proposta teórica para Metodologia da Ação Comunicativa.108 Figura 19 – Fluxograma da proposta prática para Metodologia da Ação Comuni-cativa. . . 110

Figura 20 – Exemplo de uma Questão Propositiva. . . 112

Figura 21 – Exemplo de um grafo simples com 𝑁 = 6 e 𝑀 = 7. . . 117

Figura 22 – Exemplo de um multi-grafo com 𝑁 = 6 e 𝑀 = 10. . . 117

Figura 23 – Exemplo de uma rede com pesos. . . 119

(12)

mostram a quantidade de grupos obtidos pelo método de aglomeração hierárquica. No primeiro corte são obtidos 4 grupos: (1,2,3,4), (5), (6,7)

e (8). No segundo corte são obtidos 3 grupos: (1,2,3,4), (5,6,7) e (8). . . 126

Figura 26 – Rede regular de 5 nós e grau 4. . . 128

Figura 27 – Redes aleatórias geradas a partir do modelo Erdös-Rényi com número de nós igual a 8 e diferentes probabilidades. . . 129

Figura 28 – Procedimento de formação de redes com 𝑁 = 8 segundo o modelo mundo pequeno. A primeira rede, onde 𝑝 = 0, é uma rede regular de grau 4. Na segunda rede alguns nós e arestas foram escolhidos para se reconectarem aleatoriamente com probabilidade 𝑝. Na terceira rede todos os nós foram reconectados aleatoriamente, formando uma rede aleatória onde p = 1. . . 130

Figura 29 – Rede de co-ocorrência de palavras do poema “No Meio do Caminho” de Carlos Drummond de Andrade. Neste exemplo, as palavras do texto foram lematizadas e foram retirados os termos de pouco significado semântico (stop-words). A espessura das arestas representa a frequência do bigrama. . . 134

Figura 30 – Relação entre os módulos no processo de extração de opinião do EOP. A passagem pelo módulo 5, que extraí subtemas, é opcional no algoritmo.139 Figura 31 – Fluxograma das atividades do módulo 1. . . 140

Figura 32 – Fluxograma das atividades do módulo 2. . . 142

Figura 33 – Exemplo de um relatório dos resultados do módulo 2. . . 143

Figura 34 – Fluxograma das atividades do módulo 3. . . 144

Figura 35 – Fluxograma das atividades do módulo 4. . . 146

Figura 36 – Exemplo de um histograma gerado após procedimento KDE. O eixo horizontal indica o índice de potenciação e o eixo vertical o número de vértices em cada grupo. A largura das barras é de 0,1. . . 147

Figura 37 – Fluxograma das atividades do módulo 4. . . 149

Figura 38 – Fluxograma das atividades do módulo 6. . . 151

Figura 39 – Exemplo de geração e avaliação de uma proto-frase. . . 152

Figura 40 – Representação gráfica das medidas. O resultado obtido pelo sistema encontra-se na elipse, enquanto que o conjunto validado encontra-se em todo o retângulo. As medidas expressam a relação entre o resultado obtido e o resultado esperado. . . 162

Figura 41 – Rede de co-ocorrência de palavras formada a partir dos 50 tweets. . . . 174

Figura 42 – Gráfico de dispersão entre o índice de relevância e o índice de potenci-ação das palavras avaliadas na pesquisa. . . 178

(13)

Figura 43 – Tabela de “Frequências das Justificativas dos Deputados ao Votar”, retirada do artigo “EM NOME DO PAI Justificativas do voto dos de-putados federais evangélicos na abertura do impeachment de Dilma Rousseff”. Fonte: Prandi e Carneiro (2017), p. 9. . . 188 Figura 44 – Rede linguística de co-ocorrência formada a partir do banco de dados. . 191 Figura 45 – Gráfico de dispersão entre o índice de potenciação (eixo horizontal)

e o número de deputados (eixo vertical) que usaram as justificativas equivalente aos temas apresentados na Tabela 15. . . 199 Figura 46 – Gráfico de dispersão entre o índice de potenciação (eixo horizontal)

e o número de deputados (eixo vertical) que usaram as justificativas equivalente aos temas apresentados na Tabela 16. . . 200 Figura 47 – Rede linguística de co-ocorrência formada a partir do banco de dados

da etapa 1. . . 206 Figura 48 – Histograma de distribuição dos nós da rede de co-ocorrência segundo o

valor do índice de potenciação. A faixa de distribuição é de 0,3. . . 207 Figura 49 – (a) Resultado da votação dos tópicos. O eixo y apresenta o número

absoluto de votos e o eixo x o tópico, cuja legenda está na parte (b) -Tópico. (b) Relação entre os tópicos e os temas determinados para o debate. . . 211 Figura 50 – Resultado final da avaliação das propostas para o tema “infraestrutura”. 214 Figura 51 – Resultado final da avaliação das propostas para o tema “Questão da

Mulher”. . . 214 Figura 52 – Resultado final da avaliação das propostas para o tema “Policiamento”. 215 Figura 53 – Resultado final da avaliação das propostas para o tema “Assaltos e

Roubos”. . . 215 Figura 54 – Nova proposta para a Metodologia da Ação Comunicativa. . . 222

(14)

Tabela 1 – Requisitos funcionais da Ágora. . . 87 Tabela 2 – Temas e trechos extraídos pelos juízes humanos. NT e NP

referem-se, respectivamente, ao número de vezes que o tema e o trecho foram escolhidos. . . 172 Tabela 3 – Características do banco de dados formado pelos 50 tweets antes e

depois do pré-processamento. . . 174 Tabela 4 – Métricas da rede de co-ocorrência de palavras formada após o

pré-processamento dos 50 tweets. . . . 175 Tabela 5 – Comparação entre as métricas da rede obtida pelo EOP e as métricas

esperadas caso a distribuição das arestas seguisse um modelo de rede regular e de rede aleatória. Para os cálculos, utilizou-se as métricas da Tabela 4 . . . 176 Tabela 6 – Comparação entre os resultados da pesquisa e dos sistemas de extração

de temas/palavras-chave. As palavras selecionadas pelos sistemas que coincidem com as palavras selecionadas pelos juízes humanos estão destacadas em negrito. . . 177 Tabela 7 – Comparação dos resultados da extração de palavras-chave/temas pelos

diferentes sistemas usando as métricas precisão, revocação e medida-F. 177 Tabela 9 – Comparação dos trechos selecionados pelos juízes e extraídos pelo EOP.

Em negrito estão os trechos que foram considerados equivalentes. . . . 178 Tabela 8 – Resultado da apuração das questões: MRe refere-se à quantidade de

res-postas "Muito Relevante"; Rel, "Relevante"; PRe, "Pouco Relevante"; e Irr, "Irrelevante". IR é o Índice de Relevância e IP é o Índice Potenci-ação gerados pelo EOP. . . 182 Tabela 10 – Comparação dos resultados da extração de trechos relevantes entre os

diversos sistemas sumarizadores e o EOP a partir das métricas precisão, revocação e medida-F. . . 183 Tabela 11 – Características do banco de dados. . . 191 Tabela 12 – Quantidade de palavras nos clusters gerados e selecionados após

exe-cução algoritmo de clusterização KDE. A faixa representa a banda do índice de potenciação das palavras do cluster. . . 192 Tabela 14 – Tabela com os resultados finais do EOP. Das 47 palavras selecionadas,

20 foram classificadas como temas e as demais como subtemas. Na tabela, subtemas de baixa representatividade não foram colocados. Os núcleos extraídos apresentam índice de representatividade local maior do que 0,8. Núcleos repetidos foram omitidos. . . 192

(15)

Tabela 13 – Ranking ordenado pelo índice de potenciação (IP) das 47 palavras con-tidas nos clusters selecionados. . . 195 Tabela 15 – Resultado completo da comparação entre os temas extraídos pelo EOP

e a análise de Prandi e Carneiro (2017). Os dados das colunas 1 e 2 referem-se à ordem de frequência na Tabela 14 e Figura 43 respectiva-mente. IP indica o índice de potenciação do tema (ou o maior índice de potenciação quando há temas agrupados) e N o ao número de de-putados (ou ao maior número de dede-putados quando há justificativas agrupadas). . . 198 Tabela 16 – Resultado da comparação entre os temas extraídos pelo EOP e a análise

de Prandi e Carneiro (2017) considerando apenas as justificativas que equivalente exatamente ao tema. Os dados das colunas 1 e 2 referem-se à ordem de frequência na Tabela 14 e Figura 43 respectivamente. . . . 199 Tabela 17 – Acessos à Ágora e participações nas diferentes etapas da consulta. . . . 205 Tabela 18 – Parâmetros do EOP utilizados no processamento dos dados da pesquisa.205 Tabela 19 – Características do banco de dados formado pelas 53 respostas. . . 206 Tabela 20 – Ranking ordenado pelo índice de potenciação (IP) das 27 palavras

con-tidas nos clusters selecionados. . . 208 Tabela 21 – Resultado do agrupamento em temas e subtemas após execução do

algoritmo de Girvan e Newman. . . 209 Tabela 22 – Conteúdo extraído: foram selecionadas duas ou mais extrações de

al-tíssima representatividade para cada tema (IR > 0,8). . . 210 Tabela 23 – Resultado da extração pelo EOP do conteúdo relevante do banco de

dados do tema “Policiamento”. . . 211 Tabela 24 – Resultado da extração pelo EOP do conteúdo relevante do banco de

dados do tema “Questão da Mulher”. . . 212 Tabela 25 – Resultado da extração pelo EOP do conteúdo relevante do banco de

dados do tema “Infraestrutura”. . . 212 Tabela 26 – Resultado da extração pelo EOP do conteúdo relevante do banco de

dados do tema “Assaltos e Roubos”. . . 213 Tabela 27 – Comparação entre os 𝐼𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 e o 𝐼𝐶 de todas as propostas avaliadas. . 217

(16)

BD Banco de Dados

BDR Banco de Dados Relacionais

CRF Conditional Randon Fields (Campos Aleatórios Condicionais) CSS Cascading Style Sheets (Folhas de Estilo em Cascata)

EN Entidades Nomeadas

EOP Extrator de Opinião Pública ES Engenharia de Software EW Engenharia Web

FCM Fuzzy C-means

GRASP Greedy Randomized Adaptive Search Procedure (Procedimento de Busca Gulosa Adaptativa Aleatória)

HMM Hidden Markov Models (Modelos Ocultos de Markov)

HTML HyperText Markup Language - Linguagem de Marcação de Hipertexto HTTP Hypertext Transfer Protocol (Protocolo de Transferência de Hipertexto) IC Índice de Consenso

IE Information Extraction (Extração de Informação) IP Índice de Potenciação

IR Índice de Representatividade

KDD Knowledge Discovery in Databases (Descoberta de Conhecimento em Dados Estru-turados)

KDE Kernel Density Estimators (Estimativa de Densidade Kernel)

KDT Knowledge Discovery in Texts (Descobrimento de Conhecimento em Textos) LDA Latent Dirichlet Allocation

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LSA Latent Semantic Analysis (Análise Semântica Latente) MAC Metodologia da Ação Comunicativa

MT Mineração de Textos MVC Model-View-Controller

NLTK Natural Language Toolkit (Conjunto de Ferramentas para Processamento de Lin-guagem Natural)

P Precisão

PNL Processamento de Linguagem Natural

R Revocação

RF Requisitos Funcionais RI Recuperação de Informação

ROUGE Recall-Oriented Understudy for Gisting Evaluation

SGBDR Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados Relacionais SQL Structure Query Language (Linguagem de Consulta Estruturada) SVM Support Vector Machines (Máquinas de Vetores de Suporte) TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TF-IDF Term Frequency - Inverse Document Frequency (Termo-Inverso da Frequência nos Documentos)

(18)

1 Introdução . . . 23 1.1 Objetivos e Contribuições . . . 26 1.2 Organização da Tese . . . 28

I

Fundamentos Teóricos

31

2 Democracia . . . 32 2.1 Nascimento da Democracia . . . 32

2.2 Democracia Liberal Representativa e o Capitalismo . . . 34

2.3 A Democracia no Século XX e a Crise da Representatividade . . . 36

2.4 Democracia Deliberativa de Jürgen Habermas . . . 40

2.4.1 A Esfera Pública . . . 41

2.4.2 Conceito de Democracia Deliberativa . . . 43

2.4.3 A Teoria da Ação Comunicativa . . . 44

2.5 A Democracia Deliberativa e as Possibilidades Futuras . . . 46

2.6 A Internet e a Esfera Pública . . . 47

2.7 As Redes Sociais e a Esfera Pública na Era da Informação . . . 49

2.8 Conclusão do Capítulo . . . 53

3 Mineração de Textos . . . 55

3.1 A Descoberta de Conhecimento . . . 55

3.1.1 Descoberta de Conhecimento em Dados Estruturados . . . 56

3.1.2 Descoberta de Conhecimento em Dados não Estruturados . . . 60

3.2 A Mineração de Textos e o Processo KDT . . . 60

3.2.1 Etapa de Representação dos Textos . . . 61

3.2.2 Etapa de Pré-Processamento . . . 64

3.2.3 As Técnicas de Mineração de Textos . . . 66

3.2.3.1 Técnicas de Clusterização . . . 66

3.2.3.2 Técnicas de Classificação . . . 67

3.2.3.3 Técnicas de Extração de Informação . . . 69

3.2.4 Etapa de Pós-Processamento . . . 71

3.3 Aplicações em Mineração de Textos . . . 72

3.4 Conclusão do Capítulo . . . 75

II Projeto e-Ágora

77

4 Projeto e-Ágora: a Ágora e a Metodologia da Ação Comunicativa . . . 78

(19)

4.2 Fundamentos Teóricos e Filosóficos da Ágora . . . 80

4.3 Desenvolvimento de Sistemas Web e a Engenharia Web . . . 83

4.3.1 O Processo de Desenvolvimento de Sistemas Web . . . 84

4.3.2 Fase de Comunicação . . . 85

4.3.3 Fase de Planejamento . . . 86

4.3.3.1 Descrição do Sistema . . . 86

4.3.3.2 Requisitos Funcionais . . . 87

4.3.3.3 Requisitos não Funcionais . . . 88

4.3.4 Processo de Desenvolvimento da Ágora . . . 89

4.3.5 Tecnologias Web . . . 89

4.3.5.1 Tecnologias para Estrutura da Aplicação e Back-end . . . 90

4.4 Fase de Modelagem . . . 91

4.4.1 Arquitetura ou Estrutura da Aplicação . . . 92

4.4.2 Arquitetura do Back-end . . . . 93

4.4.3 Arquitetura do Front-end . . . 94

4.5 Fase de Implementação . . . 95

4.5.1 Implantação do Back-end . . . 96

4.5.2 Implementação do Front-end . . . . 99

4.6 A Metodologia da Ação Comunicativa . . . 104

4.6.1 Metodologia da Ação Comunicativa: uma Proposta Teórica . . . 106

4.6.2 Metodologia da Ação Comunicativa: uma Proposta Prática . . . 109

4.7 Conclusão do Capítulo . . . 112

5 Projeto e-Ágora: o Extrator de Opinião Pública . . . 114

5.1 O Extrator de Opinião Pública: Definições e Hipóteses . . . 115

5.2 Redes Complexas . . . 115

5.3 Conceitos Básicos . . . 116

5.3.1 Definição Matemática de Redes . . . 116

5.3.2 Representação Matemática de Redes . . . 117

5.3.3 Redes com Pesos . . . 118

5.3.4 Redes Direcionadas . . . 119

5.4 Medidas de Redes Complexas . . . 121

5.4.1 Coeficiente de Agrupamento . . . 121

5.4.2 Comprimento Médio do Caminho . . . 122

5.4.3 Métricas de Centralidade . . . 122

5.4.4 Medidas de Clusterização . . . 125

5.5 Modelos de Redes . . . 127

5.5.1 Redes Regulares . . . 127

5.5.2 Redes Aleatórias . . . 128

(20)

5.6 As Redes Linguísticas . . . 132

5.6.1 Redes de Co-ocorrência de Palavras . . . 133

5.7 O Extrator de Opinião Pública . . . 135

5.7.1 O Problema, Objetivos e as Hipóteses . . . 135

5.7.2 Considerações Iniciais . . . 136

5.7.3 Abordagem KDT no Contexto do EOP . . . 137

5.7.4 Implementação do Extrator de Opinião Pública . . . 139

5.7.5 Módulo 1: Preparo do Banco de Dados . . . 140

5.7.6 Módulo 2: Pré-Processamento . . . 141

5.7.7 Módulo 3: Rede Complexas . . . 143

5.7.8 Módulo 4: Seleção dos Temas . . . 144

5.7.9 Módulo 5: Seleção dos Subtemas . . . 148

5.7.10 Módulo 6: Extração dos Trechos Representativos . . . 150

5.8 Conclusão do Capítulo . . . 153

III Avaliação e Prática

155

6 Avaliação do Extrator de Opinião Pública . . . 156

6.1 Avaliação de Sistemas de Processamento de Linguagem Natural e Recupe-ração da Informação . . . 156

6.2 Diretrizes e Princípios Gerais da Avaliação de Sistemas de PLN . . . 157

6.2.1 Formas de Avaliação . . . 158

6.2.2 Juízes Humanos . . . 158

6.2.3 Avaliação de Resultados Intermediários e Finais . . . 159

6.2.4 Comparação com Outros Sistemas que Realizam as Mesmas Tarefas 159 6.3 Métodos e Métricas da Avaliação Intrínseca . . . 160

6.3.1 Precisão, Revocação e Medida-F no Contexto da Recuperação da Informação . . . 161

6.3.1.1 Precisão . . . 161

6.3.1.2 Revocação . . . 162

6.3.1.3 Medida-F . . . 163

6.4 A Metodologia de Avaliação do Extrator de Opinião Pública . . . 163

6.5 O Processo de Avaliação . . . 164

6.5.1 O banco de dados para os testes . . . 164

6.5.2 Etapa 1: Pesquisa de validação dos Dados do EOP e Construção do Conjunto-referência . . . 165

6.5.3 Etapa 2: Validação dos Resultados da Extração dos Temas . . . 166

6.5.4 Etapa 3: Validação dos Resultados da Extração dos Trechos . . . . 168

(21)

6.6.1 Implementação e Configuração do EOP . . . 170

6.6.2 Pesquisa de Validação do EOP . . . 171

6.6.3 Procedimento de Extração do EOP e a Caracterização da Rede . . 173

6.6.4 Avaliação da Extração de Temas e Trechos . . . 177

6.7 Conclusão do Capítulo . . . 184

7 Experimento: Análise dos Discursos dos Deputados Federais na Abertura do Impeachment da Presidente Dilma Rousseff . . . 186

7.1 Análise dos Discursos dos Deputados Federais na Abertura do Impeach-ment da Presidente Dilma Rousseff . . . 187

7.2 Experimento . . . 189

7.2.1 Considerações Iniciais . . . 189

7.2.2 Procedimento Experimental . . . 190

7.2.3 Resultados . . . 190

7.2.4 Análise e Comparação dos Resultados . . . 194

7.3 Conclusão do Capítulo . . . 200

8 A Consulta da Opinião Pública . . . 202

8.1 Problema, Hipóteses e Objetivos da Pesquisa . . . 202

8.2 A Consulta . . . 203 8.2.1 Preparo da Consulta . . . 203 8.2.2 As Etapas da Consulta . . . 204 8.3 Análises e Resultados . . . 205 8.3.1 Tempo e Participação . . . 205 8.3.2 Etapa 1 . . . 205 8.3.3 Etapa 2 . . . 208 8.3.4 Etapa 3 . . . 209 8.3.5 Etapa 4 . . . 213 8.3.6 Etapa 5 . . . 217

8.3.7 Análise dos Resultados . . . 217

8.3.8 Proposta de Modificação da Metodologia da Ação Comunicativa . . 219

8.4 Conclusão do Capítulo . . . 222

Conclusão . . . 224

Referências . . . 229

Apêndices

244

(22)

ANEXO A Parecer Consubstanciado do CEP-Unicamp para Pesquisa de Va-lidação dos Resultados do EOP . . . 249 ANEXO B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Pesquisa de

Va-lidação dos Resultados do EOP . . . 255 ANEXO C Parecer Consubstanciado do CEP-Unicamp para Consulta de

Opi-nião . . . 259 ANEXO D Termo de Consentimento Livre e Esclarecido na Consulta de Opinião269 ANEXO E Relatório final da Pesquisa de opinião . . . 274

(23)

23

1 Introdução

Em 1997, Amartya Sen, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 1998, ao ser questionado sobre qual foi o mais importante acontecimento do século XX, respon-deu sem hesitar: a ascensão da democracia. Não que estivesse negando outras ocorrências importantes: o século XX testemunhou a ascensão e queda do nazismo e do fascismo; o aparecimento e fim do comunismo representado pelo bloco soviético; assistiu a duas gran-des guerras mundiais. Porém, afirma Sen, num futuro distante “quando as pessoas olharem para o que aconteceu no século passado, será difícil não concordarem na emergência da democracia como a mais aceitável forma de governança” (SEN, 1999, p.4).

No século XX, a democracia passou a assumir um lugar central no campo po-lítico mundial. Segundo o The Economist Intelligence Unit’s index of democracy (UNIT; BRITAIN, 2017), em 2017, dos 167 países cobertos pelo índice, 115 eram considerados regimes democráticos (ainda que alguns sejam classificados como uma democracia imper-feita ou regime híbrido), enquanto 52 apresentavam regimes autoritários, o que implica em 66,4% da população mundial vivendo sob governos identificados como democráticos pelos autores do estudo.

Regimes democráticos não são novos na história da humanidade. As primeiras práticas datam mais de 2500 anos na cidade-Estado de Atenas. Liderados por Clístenes, os atenienses estabeleceram o que é considerado a primera experiência democrática em 508-507 a.C. Ao longo da história, o pensamento e a prática democráticas passaram por profundas mudanças, desde seu desaparecimento quase completo durante o Império Romano, até seu ressurgimento no início da Idade Moderna, com o resgate das ideias da democracia clássica grega, porém com modelos adaptados a uma nova sociedade (HELD, 2006).

A democracia como conhecemos hoje é fruto de um longo processo sócio his-tórico que envolveu rupturas com tradições fortemente estabelecidas e implicou em uma ressignificação da sua prática. Porém, ao longo dos anos, seu real sentido foi esvaziado e reduzido ao de simples modelo de seleção de representantes através do voto, sem par-ticipação efetiva da sociedade como um todo. Santos (SANTOS, 2002) alerta que este modelo, oriundo do século XVII, precisa se transformar e rapidamente responder à nova realidade social, renovando suas instituições para não perder a essência de seu conceito: “poder do povo” ou “poder que emana do povo”.

Ora, se a democracia se coloca num lugar de construção dialética com a so-ciedade, é paradoxal a resistência à atualização das suas instituições e tecnologias, visto uma nova realidade do século XXI. A ideia de que uma assembleia seria capaz de

(24)

re-presentar as tendências dominantes do eleitorado ainda faz parte da prática democrática contemporânea. Este modelo, pensando no século XVII e conhecido como democracia representativa, vem apresentando fortes sinais de desgaste, em especial na questão da efetiva representação.

A proposta de representação começou a tomar força no século XVII, época em que a democracia clássica grega era posta como impraticável, visto a impossibilidade de exercer a democracia direta em uma sociedade complexa e numerosa. Hanna Pitkin (1967), em um análise da construção do conceito de representação na teoria política, destaca que uma primeira concepção de representação é reconhecida na obra de Thomas Hobbes, O Leviatã (a quem Pitkin atribui o fato de ser inaugurador da ideia de representação na política moderna). Corval (2015, p. 247) afirma ainda que Hobbes desenvolveu uma “inovadora argumentação política na qual, a um só tempo, reconhece a persistência do poder soberano, a sua localização democrática no povo e - aí sua inovação - a transferência desse poder para o representante legítimo do povo: o monarca mais uma vez.”.

John Stuart Mill, ainda no século XIX, um dos principais teóricos da ideia de representação, defendia que, apesar de o ideal ser a participação efetiva de todos na socie-dade, o elevado número de habitantes tornava impossível a efetivação de uma democracia direta. Desta forma, completa o autor (MILL, 1980, p. 38), “como, nas comunidades que excedem as proporções de um pequeno vilarejo, é impossível a participação pessoal de to-dos, a não ser numa proporção muito pequena dos negócios públicos, o tipo ideal de um governo perfeito só pode ser o representativo.”

Com o advento do liberalismo1, as ideias democráticas passaram a se expressar

através de um modelo de democracia liberal, o qual consiste em uma democracia repre-sentativa, em que a capacidade dos representantes eleitos para tomar as decisões políticas se encontra sujeita ao Estado de Direito, normalmente intermediado por uma constituição que regula a proteção dos direitos e das liberdades individuais e coletivas. Segundo Santos (2002), nesta concepção liberal, o representante não representa seus eleitores, mas sim a própria razão universal, a vontade geral, a verdade e o bem comum, sendo certo que os representantes eleitos são meros executores desta prática.

Segundo Schumpeter (1967), o domínio da democracia liberal entrelaça-se com o desenvolvimento do capitalismo e modifica profundamente a prática democrática. A representação como suporte da igualdade política passa a ser posta em xeque, já que há uma prevalência de grupos políticos financiados pelo capital e a favor deste, tornando o Estado um mero representante do poder econômico, esvaziando quase completamente a

1 Segundo Outhwaite (1996), o liberalismo refere-se a uma filosofia política fundamentada nos conceitos

de liberdade individual e igualitarismo. Dentre os principais pontos de vista defendidos pelos liberais (apesar de existir uma ampla gama de pensamentos) estão as eleições democráticas, os direitos civis, as liberdades de imprensa, religiosa e de expressão, o livre-comércio, a igualdade de gênero, o estado laico, a liberdade econômica e a propriedade privada.

(25)

Capítulo 1. Introdução 25

efetiva participação e representação dos mais diversos grupos sociais. Schumpeter (1967) aponta que a democracia perde seu caráter de “governo do povo, pelo povo e para o povo” para ficar limitada a um conjunto de regras, em que partidos passam a concorrer pelos votos dos eleitores, assim como vendedores em busca de cliente. Desta forma, o governo da maioria passou a ser uma atividade de minorias de valores elitistas, abrindo uma profunda crise de representatividade.

Habermas (2006) observa que, no atual contexto histórico, a essência demo-crática está garantida apenas no plano jurídico e indaga se a participação dos cidadãos na vida política ainda tem alguma função. Bonavides (1976), nesta mesma linha de raciocí-nio, vislumbra, ainda no século XX, uma profunda crise institucional democrática que se aprofundará no século XXI, onde os interesses populares estão distorcidos em detrimento aos grupos de poder dentro do capitalismo, os quais, através de lobbies, financiamento de campanha, manipulação midiática e corrupção, esvaziam os valores democráticos2 a favor

de seus interesses particulares.

Diversos são os teóricos (SCHMITT, 1988; VALENTE, 2004; MAGALHÃES, 2013; KÖCHLER, 1987) que vêem a atual crise de representatividade, própria das demo-cracias liberais, como de difícil solução. Porém, face a uma nova realidade social, é possível observar um movimento em direção ao resgate da participação popular, em especial após o advento da internet e o aparecimento de Tecnologias de Informação e Comunicação, as quais estão se consolidando como instrumentos de proliferação da opinião, estabelecendo um novo espaço de decisões políticas. Pensadores contemporâneos, como Lévy (2004) e Chester (2007), vislumbram na internet uma possibilidade de revolução e teorizam o mundo virtual como um espaço plural e inclusivo para explorar a prática democrática em um novo modelo denominado ciberdemocracia.

O uso da tecnologia como forma de aprimorar a democracia passa pelo debate sobre se a tecnologia de fato traz avanços sociais, podendo ser um potencial caminho para solução da crise democrática, ou apenas reforçar uma ideologia já imposta. Em Dialética do Esclarecimento, Adorno (1985) mostra-se desencantado em relação ao avanço científico ao afirmar que na sociedade contemporânea capitalista a humanidade caminha no sen-tido da barbárie, uma vez que a ciência serviria como um instrumento, manipulada pelo processo global de produção e condicionada pelo pensamento dominante. Marcuse (1964) afirma que a racionalidade tecnológica também mostra sua natureza política quando se torna um veículo de dominação, atuando contra o empenho para libertação da realidade posta, porém propõe um caminho de enfrentamento através de uma nova consciência crí-tica, em especial de uma juventude norteada por valores como liberdade, beleza, felicidade e paz, de onde emergiria uma nova definição de ciência, inovadora e com técnicas originais, não dócil à ideologia posta.

(26)

Desta forma, pensamos que a busca de soluções para a crise democrática, quando estas soluções utilizem instrumento da tecnologia da informação, passa neces-sariamente por um diálogo entre as ciências sociais e as ciências exatas. Habermas, em sua obra Técnica e Ciência como ideologia (HABERMAS, 1987), defende que a natureza de dominação da ciência está muito mais na aplicação errônea das ciências naturais nas questões sociais do que na ciência em si, e acredita que a ciência, ao se infiltrar nos es-paços institucionais da sociedade, é capaz de modificar tais instituições, fazendo ruir as legitimidades existentes.

Marshal McLuhan, teórico da comunicação considerado o profeta da internet por tê-la vislumbrada trinta anos antes de ser inventada, já esboçava esta cisão entre as ciências sociais e as tecnologias ao dizer que a política lida com os problemas de hoje com as ferramentas de ontem. Entusiasta da revolução tecnológica, McLuhan acreditava que a tecnologia seria o caminho para o estabelecimento de uma nova forma de sociedade inclusiva e participativa (MCLUHAN et al., 1994).

Mais recentemente, temos assistido rápidas transformações no uso das tecnolo-gias de informação e comunicação como instrumentos mediadores de práticas democráti-cas. A internet tem possibilitado o surgimento de espaços de discussão, debate e expressão da vontade popular, em especial através do uso de redes sociais como Facebook, What-sApp e Twitter. Estes novos elementos, ainda pouco compreendidos academicamente, têm se apresentado como poderosas ferramentas de pressão política, mas vêm também reve-lando uma face antidemocrática ao facilitarem a manipulação e esvaziarem o debate de ideias. Exemplos recentes, como no uso de redes sociais para a disseminação de fake news como forma de manipular a vontade popular, alertam para a necessidade de se compreen-der melhor este fenômeno e, principalmente, reverter efeitos que possam vir a enfraquecer os valores democráticos.

Desta forma, é no sentido de aproximar as ciências sociais e as ciências exatas que este trabalho pretende tratar a questão da tecnologia e democracia. Partindo de uma nova consciência inspirada no olhar marcusiano (MARCUSE; REBUÁ, 1967) e tendo como principal desafio trazer para o campo da engenharia parte da responsabilidade de transformação e aprimoramento das práticas democráticas, esta Tese propõe, além de contribuir com o desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas, estabelecer um diálogo crítico e reflexivo sobre o papel da democracia na Era da Informação.

1.1

Objetivos e Contribuições

O presente trabalho tem como objetivo principal o desenvolvimento de novas tecnologias que possam fomentar e aprimorar os valores democráticos, em uma tentativa

(27)

Capítulo 1. Introdução 27

de contribuir para uma participação cidadã mais ativa3 nos negócios públicos e para

reflexão sobre as práticas democráticas na Era da Informação e domínio da internet. Acreditamos que a crise democrática que vivemos nos dias atuais é essenci-almente uma crise de representação, a qual acarreta o desinteresse do cidadão no jogo político e, consequentemente, no descrédito das instituições, colocando em risco a própria democracia. Desta forma, urge aliar a tecnologia ao resgate da participação política.

As propostas deste trabalho baseiam-se na pragmatização de uma democracia deliberativa, ou seja, no desenvolvimento de ferramentas que possibilitem a comunicação e interação - sem mediações necessariamente institucionalizadas - dos cidadãos de forma racional e argumentativa, e que culmine na formação da opinião pública como instru-mento de pressão e orientação às deliberações políticas. Assim, a partir deste panorama, elencamos as possíveis contribuições desta tese:

∙ Realização de uma breve análise sócio-histórica da democracia, em especial na socie-dade contemporânea, sob a óptica da tecnologia como instrumento de transformação das práticas democráticas.

∙ Formulação de uma proposta de pragmatização do modelo de democracia delibera-tiva proposto por Habermas (2006).

∙ Proposição de um ambiente virtual de participação política fundamentado no con-ceito de esfera pública (HABERMAS et al., 1974).

∙ Proposição de uma metodologia de formação da opinião pública a partir de uma leitura pragmática da teoria da ação comunicativa (HABERMAS, 2012).

∙ Criação de um conjunto de algoritmos para mineração de textos que permita tornar conhecida a opinião de uma comunidade a partir da expressão dos seus membros em debates virtuais e/ou relatos sobre temas específicos.

Em relação às contribuições específicas para o contexto da área de processa-mento de linguagem natural e mineração de textos, é possível elencar:

∙ Proposição de um modelo de representação de textos, baseado na teoria de Redes Complexas, que possibilite a extração de informação relevante.

∙ Proposição de uma nova métrica de centralidade, denominada índice de potenciação, para avaliação dos nós de uma rede de textos, segundo a posição topológica de uma palavra.

3 Formas de participação democrática que vão além do direito ao voto, a exemplo de iniciativas como

(28)

∙ Apresentação de uma nova metodologia para a extração de informação em textos com base nos processos de Descobrimento de Conhecimento em Banco de Dados.

Para que seja possível a concretização destas contribuições, os seguintes obje-tivos específicos foram definidos:

∙ Realizar um estudo crítico sobre a democracia, contextualizando-a histórica e so-cialmente, em especial na sua relação com o atual momento do desenvolvimento tecnológico.

∙ Desenvolver uma plataforma virtual de consulta da opinião pública, denominada Ágora, na qual os sujeitos poderão participar de debates, responder a perguntas, enquetes e votações.

∙ Desenvolver uma metodologia de uso da plataforma, chamada de Metodologia da Ação Comunicativa (MAC), que possibilite a formação da opinião pública segundo os preceitos da teoria da ação comunicativa. Esta metodologia define o modo de uso dos elementos da Ágora e se utiliza dos algoritmos de mineração de textos para dar suporte à emergência da opinião pública com a mínima interferência humana. ∙ Desenvolver uma metodologia de extração da informação, denominada Extrator de

Opinião Pública (EOP), que se baseie no conceito de redes complexas para mode-lagem do problema de busca de conhecimento em documentos não estruturados. ∙ Desenvolver e aplicar uma metodologia de avaliação para o Extrator de Opinião

Pú-blica, segundo a abordagem de avaliação de sistemas de processamento de linguagem natural.

∙ Realizar uma consulta da opinião com a comunidade da Unicamp utilizando a Ágora e as metodologias desenvolvidas.

1.2

Organização da Tese

Este trabalho está organizado em 3 seções: a fundamentação teórica, a qual envolve os capítulos 2 e 3; o Projeto e-Ágora, o qual envolve os capítulos 4 e 5; e a Avaliação e Prática, a qual envolve os capítulos 6, 7 e 8. A Tese finaliza com o capítulo de conclusões e perspectivas futuras. A seguir, uma breve descrição de cada capítulo:

∙ Capítulo 2: apresenta a fundamentação filosófica e sociológica através de uma lei-tura histórica da democracia, a qual se inicia com o seu nascimento na Grécia Antiga e termina com os governos democráticos da contemporaneidade. Neste panorama, a democracia é analisada no contexto da sociedade capitalista, no que se denomina

(29)

Capítulo 1. Introdução 29

democracia liberal, possibilitando uma reflexão sobre sua prática e os limites da ci-dadania. Neste estudo, observou-se que a crise de representatividade nos governos contemporâneos é elemento propulsor de uma antítese das práticas democráticas, que se gesta em um ambiente social permeado por novas tecnologias e formas de re-lação. A partir desta leitura, é apresentada a teoria da democracia deliberativa como possibilidade de transformação das práticas democráticas em prol de participação mais ativa dos cidadãos.

∙ Capítulo 3: o segundo capítulo da fundamentação teórica apresenta as bases para o desenvolvimento dos algoritmos de extração da opinião. Como a proposta é extrair informação de textos, o capítulo aborda a grande área da mineração de textos, com foco nos processos de Descobrimento de Conhecimento em Banco de Dados não Estruturados (Knowledge Discovery in Texts). Outrossim, faz um paralelo com a área de processamento de linguagem natural e uma revisão do estado da arte sobre as principais técnicas utilizadas.

∙ Capítulo 4: este capítulo introduz a apresentação do projeto e-Ágora4, o qual

in-corpora todas as técnicas e ferramentas desenvolvidas neste trabalho, abordando duas frentes: A Ágora e a Metodologia da Ação Comunicativa. A primeira trata do desenvolvimento de uma plataforma virtual para ocorrência dos processos demo-cráticos segundo o conceito de Esfera Pública. Sua apresentação aborda desde os fundamentos teóricos e filosóficos até a implementação da plataforma, passando por todo o processo teórico e prático de desenvolvimento de sistemas web. A segunda frente, a Metodologia da Ação Comunicativa, trata da elaboração de um processo de construção da opinião pública segundo preceitos da teoria da democracia delibe-rativa. Duas propostas são apresentadas: a primeira estabelece uma pragmatização da teoria no que diz respeito à formação da opinião pública; e a segunda, baseada nesta pragmatização, estabelece um protocolo de uso da Ágora e dos algoritmos de mineração de textos para consulta da opinião pública.

∙ Capítulo 5: aborda a terceira frente do projeto e-Ágora: o Extrator de Opinião Pública, o qual consiste em um conjunto de algoritmos de mineração de textos usado para dar suporte à formação da opinião pública. Em essência, o EOP trata de uma metodologia de descobrimento de conhecimento, a qual extrai temas e conteúdos relevantes. A apresentação do EOP se inicia com a exposição da sua base teórica: as Redes Complexas. Em seguida, o problema, os objetivos e as hipóteses são descritos, e, por fim, a metodologia é detalhadamente apresentada.

4 Em toda a Tese estaremos citando o projeto e-Ágora e os seus subprojetos: a Ágora, o Extrator de

Opinião Pública (EOP), e a Metodologia da Ação Comunicativa (MAC). Gostaríamos de frisar que ao citarmos e-Ágora estamos nos referindo ao projeto geral, e ao citar Ágora estamos nos referindo a um dos seus subprojetos.

(30)

∙ Capítulo 6: este capítulo introduz a terceira seção deste trabalho - a Avaliação e Prática - iniciando com a apresentação do processo de avaliação e validação do Extrator de Opinião Pública. O capítulo divide-se em duas partes: a primeira aborda a avaliação de Sistemas de Processamento de Linguagem Natural e Recuperação da Informação, sendo apresentadas as diretrizes teóricas do processo avaliativo e as principais métricas de análise; e a segunda trata especificamente do processo de avaliação do EOP, o qual consistiu em uma pesquisa para validação dos resultados e uma análise comparativa com métodos que se propõem a fazer tarefas semelhantes. ∙ Capítulo 7: apresenta um experimento de análise de discurso utilizando o EOP. Neste experimento, os 512 discursos dos deputados federais na abertura do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff são analisados pelo EOP e seus re-sultados comparados com uma análise semelhante executada e publicada por dois sociólogos. No capítulo, inicialmente é descrito o método utilizado para análise, seguido pela apresentação da pesquisa dos sociólogos e, por fim, os resultados do experimento e a análise comparativa.

∙ Capítulo 8: o último capítulo aborda um experimento que integrou todas as meto-dologias e ferramentas desenvolvidas neste trabalho. Este experimento, uma consulta da opinião pública, envolveu o uso da Ágora como ambiente de formação da opinião, através da aplicação da Metodologia da Ação Comunicativa e da utilização do EOP como instrumento de processamento da informação. A consulta foi realizada com a comunidade da Unicamp e teve como tema a segurança no campus e em Barão Ge-raldo. Apesar de atingir o objetivo de construção da opinião pública, o experimento revelou a necessidade de revisão da Metodologia da Ação Comunicativa.

∙ Conclusões: por fim, o último capítulo apresenta as conclusões gerais sobre o tra-balho e as perspectivas futuras.

(31)

31

Parte I

(32)

2 Democracia

2.1

Nascimento da Democracia

Foi na Grécia no Século V a.C. que a democracia passou a fazer parte do pensamento filosófico e político. Atenas, importante cidade-Estado do período clássico da Grécia Antiga (508 a.C. à 322 a.C.), estabeleceu o primeiro governo democrático conhecido sob o comando de Clístenes em 508 a.C. Este sistema permaneceu relativamente estável até 322 a.c., tendo atingido seu auge sob o comando de Péricles (444 a.C. à 429 a.C.), período que ficou conhecido como “Século de Péricles”. Platão e Aristóteles, pensadores da filosofia ocidental, refletindo sobre as principais questões políticas de suas épocas, redigiram importantes obras sobre a política e a democracia.

Uma obra de destaque de Platão para a ciência política é o diálogo socrático A República (PLATÃO, 2000), o qual descreve, dentre outras discussões, uma sociedade utópica governada por filósofos. Apesar de um tom essencialmente crítico, faz uma pro-funda análise das implicações de um governo democrático e conclui que um governo justo e bom só seria possível nas mãos dos mais sábios (e não do povo). Platão considerava que os filósofos eram os mais capacitados para serem governantes pois seriam os únicos co-nhecedores da realidade autêntica. Sua filosofia política desenvolve-se em torno da busca de uma forma eficaz de impedir que inaptos e aventureiros chegassem ao poder e de como selecionar os melhores para o governo da comunidade. Apesar das importantes reflexões a respeito da democracia, Platão, em especial na Carta VII, mostra-se desiludido a respeito da prática política. Em uma retrospectiva da sua contribuição na vida política, explicita de forma clara suas ideias, propondo que o pensamento político busque saídas através da racionalização da ação política.

Aristóteles, aluno de Platão e mentor de Alexandre, o Grande (RUSSELL, 2013), também investigou o pensamento político, tendo as suas ideias exercido grande influência nos regimes democráticos. Sua principal obra neste campo, A Política (ARIS-TÓTELES, 1969), escreve um extenso tratado sobre a natureza do Estado e suas funções, bem como as várias formas de governo, incluindo a democracia. Para Aristóteles, “o ho-mem é por natureza um animal político” e só se realiza vivendo em comunidade. Procu-rando conhecer a melhor forma de chegar a felicidade, realizou uma completa investigação das formas de governo até então existentes, estudando uma coleção de 158 constituições. Diferentemente de Platão, que em A República propôs uma forma de governo utópica, Aristóteles seguiu um caminho pragmático de conhecer na prática as formas de governo existentes para depois refletir sobre qual o melhor caminho da felicidade humana.

(33)

Capítulo 2. Democracia 33

Uma interessante constatação é que Aristóteles, em “A Política”, não consi-dera a democracia a melhor forma de governo. Pelo contrário, acreditava que ela fosse uma forma degradada de poder. Tendo por base reflexões sobre sua pesquisa, concluiu que existem três formas de governo e, para cada, uma degeneração de seus fins (quando está direcionada para interesses particulares e não para o bem comum). A primeira é a Monarquia, ou “governo de um só”, e sua degeneração é a tirania, voltada aos interesses do monarca. A segunda é a aristocracia, ou “governo dos nobres” e sua degeneração é a oligarquia, orientada aos interesses privados. A terceira forma é a politia ou “governo de muitos” e sua degeneração é a democracia, voltada aos interesses dos pobres. Aristóteles acreditava que a configuração mais próxima de um governo ideal estaria entre os extremos. Aplicando o “princípio da medianidade” na política, propôs que a melhor forma de go-verno deveria ser constituída por uma mistura de elementos democráticos e oligárquicos. Tal união aliviaria a tensão entre ricos e pobres, assegurando a paz social e a estabilidade. Porém, cabe aqui uma importante observação sobre a democracia na Grécia Antiga: a palavra democracia, do grego antigo δημοκρατία (d¯emokratía), foi criada a par-tir da união dos termos δῆμος (demos ou “povo”) e κράτος (kratos ou “poder”), o que em uma tradução literal remete a “governo do povo” (PINZANI, 2013). No entanto, tal concepção está muito distante da compreensão usual de “governo da maioria”. Explica-se: na Atenas clássica, os cidadãos (detentores dos direitos de participação política) só eram assim considerados se fossem indivíduos livres (não escravos) do sexo masculino, filhos de pais e mães atenienses, maiores de 18 anos e com serviço militar cumprido. Segundo Chamoux e Guerreiro (2003), em 432 a.C., havia 300 mil habitantes em Atenas e ape-nas 40 mil enquadravam-se como cidadãos. Pequenos comerciantes, lavradores, artesãos, escravos, estrangeiros, mulheres, os quais constituíam a maioria da população, estavam excluídos dos negócios públicos. Assim, a democracia ateniense estava muito mais próxima de um “governo da minoria”.

Apesar desta aparente contradição, era na prática política que estava a grande inovação do “poder do povo”, o qual era exercido de forma direta, sem intermédio de re-presentantes. As decisões eram tomadas na Ágora, ou praça de decisões, em Assembleias não representativas. Em Atenas, a mais importante delas era a Ekklésia (Assembleia do Povo), onde os cidadãos reuniam-se, sempre em um número mínimo de 6 mil pessoas, para decidir todos os assuntos públicos da cidade-Estado: decisões sobre guerras, cons-trução ou rompimento de alianças, promoção de leis, aplicabilidade etc; além de ser um espaço de prestação de contas e até de discussão e deliberação sobre assuntos privados dos cidadãos. Após longos debates, as deliberações ocorriam através de votações diretas com manifestação individual de voto (GLOTZ, 2013).

Com as guerras entre as cidades-Estado, as quais geraram uma divisão po-lítica conflituosa na Grécia, a Macedônia, liderada por Filipe II e, posteriormente, por

(34)

Alexrande, o Grande, apoderou-se da Grécia e eliminou o sistema democrático (BAP-TISTA, 2014). As ideias de democracia retornaram apenas no século XV com o advento do Renascimento e surgimento do pensamento humanista-republicano (LYRA, 2016). As monarquias absolutistas, que imperavam nos primeiros séculos da Idade Moderna, come-çaram a sofrer pressão da emergente classe burguesa que surgira com o fortalecimento capitalista, exigindo um regime político favorável a um estado liberal de direito que res-peitasse os direitos de propriedade e os contratos mercadológicos (KELSEN, 1993).

Nesta retomada, mais do que um ideário de participação popular, estava em jogo a inclusão da classe burguesa nas esferas do poder. Por este motivo, para compreen-der a nova prática democrática (que deu origem dos regimes democráticos atuais), faz-se necessário contextualizá-la historicamente com o próprio desenvolvimento capitalista e do pensamento liberal. Tão amalgamados estavam a democracia e o pensamento liberal-capitalista, que muitos autores denominam os regimes oriundos desta prática de democra-cias liberais representativas (HOLDEN, 1988; DUNLEAVY, 1987; HUBER; POWELL, 1994; MACPHERSON, 1978).

2.2

Democracia Liberal Representativa e o Capitalismo

O resgate do pensamento democrático a partir do século XV veio acompanhado de uma nova leitura política, agora sob o foco das ideias liberais e iluministas. Talvez a mais importante alteração sobre a prática democrática da Grécia Antiga, renomeada de democracia clássica, está no surgimento do conceito de Representatividade, onde a forma de participação política, que na Grécia Antiga era de uma cidadania ativa e direta, passa a ser passiva: o cidadão delega o exercício do poder a representantes eleitos. Rousseau, um dos principais pensadores da política moderna, acreditava que a democracia clássica era uma forma ideal de governo, mas que em impérios, ou mesmo Estados-nação, a organização social era demasiadamente complexa para a participação direta de todos cidadãos, sendo a melhor alternativa de governo algum tipo de despotismo com participação popular indireta (ROUSSEAU, 1983).

Porém, a síntese de uma nova prática democrática, mais adaptada à nova re-alidade social, não era suficiente para garantir a existência de governos democráticos em uma sociedade onde imperava a monarquia absolutista. Apesar da retomada do pensa-mento democrático na política, a democracia ainda era vista com muita desconfiança pela aristocracia, que temia que a grande massa da população, formada basicamente por cam-poneses, trabalhadores urbanos e pequenos comerciantes, poderia colocar em risco suas riquezas e poder. Não obstante, já não era mais possível ignorar o fortalecimento de uma nova classe social, a burguesia. Segundo Bresser-Pereira (2011), o poder econômico paula-tinamente deslocava-se da aristocracia para a burguesia. Lucros e altos salários ganhavam

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Capítulo 2. Democracia 35

importância no enriquecimento das pessoas e a capacidade de gerar riquezas não estava mais voltada apenas à esfera do Estado através da arrecadação de impostos e aluguéis. Além do mais, o Estado Moderno, representado pelo Antigo Regime e seu controle ab-soluto com o uso da violência, era um forte empecilho no fortalecimento da nova elite econômica.

O empoderamento da classe burguesa forçou uma redefinição no papel do Estado, o qual abrandou suas práticas coercitivas e passou a criar condições para aumentar a acumulação de renda e financiar o crescimento econômico. As ideias liberais no seio do Estado atuaram como uma importante ponte para burguesia alcançar o poder, pois, ao ter seus direitos fundamentais reconhecidos, dentre eles a liberdade política, civil e a cidadania, a burguesia pode, em um longo processo histórico de revoluções liberais, chegar às esferas do poder. Apesar da extensão do direito de cidadania, o empoderamento da classe burguesa no século XIX não garantiu governos de fato democráticos, pois não reconheciam que os trabalhadores e camponeses tivessem pleno direito de voto (DAHL, 1989).

Bresser-Pereira (2011) cita 4 fatores históricos que levaram ao fortalecimento e domínio da democracia liberal representativa: o primeiro é a revolução capitalista, ali-mentada pelo aumento do poder econômico da burguesia, que permitiu à emergente classe social se contrapor aos regimes autoritários; o segundo é o aumento da capacidade organi-zacional dos trabalhadores, reivindicando e pressionando por direitos políticos; o terceiro é o gradual desaparecimento na elite econômica do medo da expropriação do poder por parte das massas mais pobres; e, por fim, o aparecimento de grandes classes médias que também pressionaram as elites por participação política. Estes movimentos, construídos ao longo da Idade Moderna e fruto da luta de classes, geraram importantes conquistas no campo do direito político, ampliando a participação democrática. Porém, não acar-retaram em grandes rupturas no campo econômico e nas esferas de poder, uma vez que a aliança entre a burguesia e aristocracia perpetuou o domínio das elites e possibilitou a disseminação das ideias liberais e capitalistas sem que houvesse a ascensão da grande massa de trabalhadores.

A constante tensão entre os detentores do capital e os interesses dos traba-lhadores, especialmente após a Revolução Industrial, colocou em dúvida a possibilidade de se estabelecer sociedades realmente democráticas em um contexto capitalista. Ainda no começo do século XX, em um ensaio sobre a situação das forças políticas liberais e a crise do regime czarista na Rússia, Max Weber já acreditava que havia uma contradição intrínseca entre capitalismo e democracia (RINGER, 2002 apud WEBER, 1995, p. 383):

It is ridiculous to ascribe to high capitalism (...) an elective affinity with "de-mocracy"or "freedom."The question can only be: under its domination, how are

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these things "possible"at all?1

2.3

A Democracia no Século XX e a Crise da Representatividade

Max Weber já alertara no começo do século XX que uma sociedade democrática era contraditória em um sistema capitalista. De fato, a tensão entre o capitalismo e a democracia permeia a história das sociedades contemporâneas desde a chegada da classe burguesa ao poder. Segundo Streeck (2011), ainda no século XIX e primeiras décadas do século XX, a burguesia e a direita política demonstravam temores de que a “regra da maioria”, implicando na supremacia dos pobres sobre os ricos, acabaria por extinguir a propriedade privada e os mercados livres. Por outro lado, a esquerda e a nova classe trabalhadora alertavam que os capitalistas poderiam se unir às forças reacionárias para abolir a democracia com o objetivo de se protegerem de ser governados por uma maioria ansiosa por políticas de redistribuição econômica e social.

O fortalecimento das novas classes sociais, em especial a classe trabalhadora, gerou uma intensa tensão entre os interesses capitalistas e os ideais democráticos. Este atrito político resultou em importantes conquistas como o sufrágio universal, eleições periódicas, entre outros, porém, não refletiu na substituição e muito menos na inclusão das classes trabalhadoras às esferas do poder. Pelo contrário, a elite econômica dominante viu na abertura de um jogo democrático a oportunidade de fortalecer o próprio capitalismo, reforçando sua própria perpetuação política e econômica.

Bresser-Pereira (2011) cita algumas condições que levaram a este movimento de aproximação entre a democracia e o capitalismo: em primeiro lugar, os capitalistas perceberam que um estado de direito, no qual liberdades e direitos individuais eram as-segurados, gerava um ambiente constitucional e legal estável para o livre exercício da atividade econômica. Em segundo, perceberam que o empoderamento das classes traba-lhadoras através de benefícios, direitos e participação política não era um jogo de soma zero, mas sim um jogo em que todos podem ganhar, uma vez que alivia a tensão entre as classes sociais, melhora a produtividade do trabalhador, garante os direitos indivi-duais de consumir, e, por consequência, leva ao aumento da atividade econômica e dos lucros da classe empresarial. Outrossim, não só a classe trabalhadora estava convencida de que a democracia poderia gerar ganhos para si, mas também a nascente classe média, composta pela pequena burguesia e profissionais liberais, a qual ansiava por instituições que possibilitassem o compartilhamento do poder político e a alternância ordenada de governo.

1 É ridículo acreditar que existe uma afinidade eletiva entre o grande capitalismo (...) e a “democracia”

ou “liberdade”. A questão verdadeira deveria ser: como essas coisas podem ser mesmo “possíveis” sob a dominação capitalista?

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Capítulo 2. Democracia 37

Assim, gradualmente, tanto os capitalistas quanto a classe trabalhadora per-ceberam que a democracia era a forma de governo mais favorável, tanto para garantia do lucro dos empresários, quanto para o bem-estar do trabalhador. Trabalhadores, capita-listas e as classes médias assinaram informalmente um novo contrato sócio-político que, apesar de pequenas crises ao longo da sua consolidação, representou por anos uma sig-nificativa estabilidade política. O intenso crescimento econômico mundial, especialmente após a segunda grande guerra mundial, levou a um período de trégua na tensão entre capitalismo e a democracia, esvaziando o debate de incompatibilidade. Essencialmente, essa trégua envolveu classes trabalhadoras organizadas a aceitar os mercados capitalistas e os direitos de propriedade em troca de conquistas no campo democrático, permitindo alcançar a segurança social e um aumento do padrão de vida (STREECK, 2011).

A relativa paz entre o capitalismo e a democracia, em especial no pós-guerra, foi reforçada pelo sentimento de solidariedade que tomou a vida social europeia após as intensas experiências de dificuldades das duas grandes guerras. Não obstante, as crises capitalistas da década de 70 e, anos depois, o aparecimento e fortalecimento das ideias neoliberais na Europa e nos EUA, reavivaram as tensões entre democracia e o capitalismo. Segundo Rosanvallon (2014, p.31), o capitalismo, principalmente o que se desenvolveu nos últimos 30 anos, “é uma máquina de fazer cercamentos, de privatizar, de isolar o indivíduo”. Essa intensa individualização trouxe uma crise da solidariedade que cimentava a comunidade política e, ao mesmo tempo, uma crise da representação política.

Destarte, a crise democrática transcende a discussão da luta de classes e, no século XXI, acrescenta-se a uma crise dos valores democráticos frente aos valores capi-talistas. Bauman (2004) analisa profundamente o impacto do capitalismo na sociedade contemporânea e observa que as relações do mercado agora são reproduzidas nas relações sociais, criando uma sociedade individualista, impulsiva e descompromissada. Denomina os tempos atuais de “modernidade líquida”, em que os valores, as ideias e as relações são fluidas e não duradouras, tal como deve ser um objeto no mercado: descartável e efêmero para dar movimento ao consumo. Nesta guerra entre capitalismo e sociedade, conclui Bauman, a primeira grande batalha perdida foi o fim da solidariedade.

Ora, a democracia como pensada em sua gênese na Grécia Antiga é essen-cialmente uma prática do bem comum. Em uma sociedade de valores individualistas e ausente de solidariedade, sua prática se esvazia e abre caminho para interesses escusos, apatia participativa, corrupção, entre outros. Além disso, a separação entre as esferas pú-blica e política reforça ainda mais estas características. Rosanvallon (2014) acredita que é mais do que urgente restabelecer os vínculos de solidariedade desfeitos nos últimos 30 anos para que possamos praticar uma democracia voltada para o bem comum e, para isto, sugere uma transformação na própria prática capitalista como o desenvolvimento da economia solidária e cooperativa. O autor também vislumbra na tecnologia, em especial

Referências

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