MAT0311 – C´alculo Diferencial e Integral V Prof. Daniel Victor Tausk
10/08/2013
Exerc´ıcio 1. Sejam V1,V2, . . . , Vn espa¸cos vetoriais (todos reais ou todos complexos), munidos de normas k · ki :Vi → R, i= 1,2, . . . , n. Seja dada tamb´em uma norma k · kem Rn que seja monotˆonica, isto ´e:
|xi| ≤ |yi|, i= 1,2, . . . , n=⇒ kxk ≤ kyk, para quaisquer x, y∈Rn. Mostre que a igualdade:
|k(v1, . . . , vn)|k=
kv1k1,kv2k2, . . . ,kvnkn
, vi∈Vi, i= 1,2, . . . , n, define uma norma |k · |kno espa¸co produto V1×V2× · · · ×Vn.
Exerc´ıcio 2. Uma forma bilinear num espa¸co vetorial real V ´e uma apli- ca¸c˜ao h·,·i:V ×V →R que ´e linear em cada vari´avel, i.e., tal que:
hx+x0, yi=hx, yi+hx0, yi, hx, y+y0i=hx, yi+hx, y0i, hλx, yi=hx, λyi=λhx, yi,
para todos x, y, x0, y0 ∈V,λ∈R.
(a) Dada uma matrizA= (aij)n×n∈Mn(R), mostre que a igualdade:
(1) hx, yi=xtAy, x, y∈Rn,
define uma forma bilinear emRn, onde em (1) vetores de Rn est˜ao sendo identificados com matrizes coluna n×1 e xt denota a trans- posta da matrizx. Verifique tamb´em que:
hx, yi=
n
X
i=1 n
X
j=1
aijxiyj,
para todos x, y∈Rn e que aij =hei, eji, para todos i, j= 1, . . . , n, ondeei denota oi-´esimo vetor da base canˆonica de Rn.
(b) Dada uma forma bilinearh·,·iemRn, tomandoaij =hei, eji, mostre queh·,·i´e dada por (1) se a matriz A´e definida porA= (aij)n×n. (c) Uma forma bilinear h·,·inum espa¸co vetorial V ´e dita sim´etrica se
hx, yi = hy, xi, para todos x, y ∈ V. Mostre que a forma bilinear h·,·iem Rn definida em (1) ´e sim´etrica se e somente se a matriz A
´e sim´etrica.
1
(d) Seja A ∈ Mn(R) uma matriz sim´etrica. Sabemos ent˜ao que existe uma baseB = (v1, . . . , vn) de Rn, ortonormal com respeito ao pro- duto interno canˆonico, de modo que cada vi ∈ Rn ´e um autovetor de Aassociado a um autovalor λi ∈R. Seh·,·i´e definida como em (1), mostre quehvi, vji= 0 para i6=j e quehvi, vii=λi, para todo i= 1, . . . , n. Conclua que:
hx, yi=
n
X
i=1
λix0iy0i,
para todosx, y∈Rn, onde (x01, . . . , x0n), (y01, . . . , yn0) s˜ao, respectiva- mente, as coordenadas dex e dey na base B.
(e) Uma forma bilinear sim´etrica h·,·inum espa¸co vetorial V ´e ditade- finida positiva sehx, xi>0, para todox∈V n˜ao nulo. Recorde que um produto interno ´e precisamente uma forma bilinear sim´etrica definida positiva. Dada uma matriz A ∈Mn(R), mostre que a for- ma bilinearh·,·i definida em (1) ´e um produto interno em Rn se e somente seA´e sim´etrica e possui todos os autovalores positivos.
Exerc´ıcio 3. Sejak · k:V →Ruma semi-norma num espa¸co vetorial (real ou complexo)V.
(a) Mostre que:
N =
x∈V :kxk= 0
´e um subespa¸co deV.
(b*) Considere o espa¸co vetorial quocienteV /N; para x∈V, denote por x+N ∈V /N a classe de equivalˆencia dex. Mostre que a igualdade:
|kx+N|k=kxk, x∈V, define uma norma emV /N.
Exerc´ıcio 4. Seja h·,·i : V ×V → R uma forma bilinear sim´etrica num espa¸co vetorial real V. Assuma que h·,·i seja semi-definida positiva, i.e., que:
hx, xi ≥0, para todox∈V.
(a) Mostre que vale a desigualdade de Cauchy–Schwarz:
(2) |hx, yi| ≤ kxkkyk,
para todosx, y∈V, ondekxk=p
hx, xi. Conclua que, dadox∈V, temoskxk= 0 se e somente sehx, yi= 0, para todoy ∈V.
(b) Mostre que k · k´e uma semi-norma em V.
(c*) DefinaN como no Exerc´ıcio 3. Mostre que a igualdade:
hhx+N, y+Nii=hx, yi, x, y∈V,
define um produto interno no espa¸co quociente V /N. Recorde que, na desigualdade de Cauchy–Schwarz para produtos internos, a igual- dade vale se e somente se os vetores s˜ao linearmente dependentes.
Conclua que vale a igualdade em (2) se e somente sex+N ey+N s˜ao linearmente dependentes (i.e., se e somente se existem a, b∈R, n˜ao ambos nulos, comkax+byk= 0).
Exerc´ıcio 5. Dadop∈]0,+∞[, defina:
kxkp =Xn
i=1
|xi|p1p
, x∈Rn.
No Exerc´ıcio 6 apresentaremos um roteiro para vocˆe mostrar o fato (n˜ao trivial) de que a desigualdade triangular vale para k · kp se p ≥ 1. Para n≥2,p∈]0,1[, dˆe exemplo de vetoresx, y∈Rn tais que:
kx+ykp >kxkp+kykp.
Assim k · kp n˜ao ´e uma norma, para 0 < p < 1 (exceto se n= 1, em que k · kp coincide com o valor absoluto de n´umeros reais, para todop).
Exerc´ıcio* 6. O objetivo deste exerc´ıcio ´e mostrar que a desigualdade triangular vale para k · kp se p ≥ 1 (assim, k · kp ´e de fato uma norma em Rn — levando em conta que ´e muito f´acil verificar que valem as outras propriedades que aparecem na defini¸c˜ao de norma).
(a) Sejaf :I →Ruma fun¸c˜ao deriv´avel num intervaloI ⊂R. Suponha que a derivadaf0 seja crescente (i.e., quef0(x)≤f0(y), parax, y∈I comx≤y). Mostre que a fun¸c˜ao f ´econvexa, isto ´e, que:
f (1−t)x+ty
≤(1−t)f(x) +tf(y),
para todos x, y ∈ I, t ∈ [0,1]. (Sugest˜ao: fixe x, y ∈ I e defina g: [0,1]→Rfazendo:
g(t) =f (1−t)x+ty
− (1−t)f(x) +tf(y) .
Mostre que existec∈]0,1[ com g0(c) = 0 e queg0 ´e crescente.) (b) Usando o resultado do item (a), obtemos que a fun¸c˜ao exponencial
f(x) =ex ´e convexa. Usando esse fato, mostre que vale a desigual- dade entre as m´edias (ponderadas) aritm´etica e geom´etrica, isto ´e, mostre que dadosa, b≥0 e dados “pesos” α, β >0 com α+β = 1 ent˜ao:
aαbβ ≤αa+βb.
(c) Dado p∈]1,+∞[, defina q∈]1,+∞[ de modo que:
1 p+ 1
q = 1.
O n´umeroq ´e chamado o expoente conjugado de p. Usando o resul- tado do item (b), mostre que vale adesigualdade de Young:
ab≤ ap p +bq
q , para quaisquera, b≥0.
(d) Mostre que vale a desigualdade de H¨older:
n
X
i=1
|xi||yi| ≤ kxkpkykq,
para todosx, y∈Rn, ondep, q∈]1,+∞[ s˜ao expoentes conjugados.
(Sugest˜ao: comece reduzindo o caso geral ao caso que kxkp = 1 e kykq = 1. Use a desigualdade de Young.)
(e) Mostre que vale a desigualdade de Minkowski:
kx+ykp ≤ kxkp+kykp,
para todosx, y ∈ Rn, p ∈ [1,+∞[. (Sugest˜ao: para p >1, comece notando que:
kx+ykpp =
n
X
i=1
|xi+yi||xi+yi|p−1≤
n
X
i=1
|xi||xi+yi|p−1+
n
X
i=1
|yi||xi+yi|p−1,
e depois use a desigualdade de H¨older em ambos os somat´orios.) Exerc´ıcio* 7. Considere uma aplica¸c˜ao γ : [a, b]→ Rn (isto ´e, umacurva em Rn). Dada uma parti¸c˜ao P : a = t0 < t1 < · · · < tk = b do intervalo [a, b], definimos:
L(γ;P) =
k−1
X
i=0
kγ(ti+1)−γ(ti)k,
onde k · k=k · k2 denota a norma Euclideana de Rn. O comprimento (ou varia¸c˜ao total) de γ ´e definido por:
L(γ) = sup
P
L(γ;P)∈[0,+∞],
onde o supremo ´e tomado com respeito a todas as parti¸c˜oes P do intervalo [a, b]. A curva γ ´e ditaretific´avel (ou de varia¸c˜ao limitada) seL(γ)<+∞.
(a) Dada γ : [a, b]→Rn, verifique que:
kγ(a)−γ(b)k ≤L(γ).
(Sugest˜ao: tomeP ={a, b}.)
(b) Seja σ : [a0, b0] → [a, b] uma fun¸c˜ao mon´otona (isto ´e, crescente ou decrescente) e bijetora1. Mostre que, paraγ : [a, b]→Rn, vale que:
L(γ) =L(γ◦σ).
(c) Dada γ : [a, b]→Rn e dado c∈]a, b[, mostre que:
L(γ) =L(γ|[a,c]) +L(γ|[c,b]).
(Sugest˜ao: note que L(γ;P∪ {c})≥L(γ;P), para toda parti¸c˜ao P de [a, b]. Conclua que, na defini¸c˜ao de L(γ), ´e suficiente considerar parti¸c˜oes P com c∈P.)
(d) SejaM ⊂Rn um subconjunto e, parax, y∈M, denote por Ωxy(M) o conjunto de todas as curvas cont´ınuas e retific´aveisγ : [0,1]→Rn tais que γ [0,1]
⊂ M, γ(0) = x e γ(1) = y. Assuma que M seja conexo por arcos retific´aveis, isto ´e, que para todosx, y∈M vale que Ωxy(M) n˜ao ´e vazio. Definimos adistˆancia geod´esicad:M×M →R fazendo:
d(x, y) = inf
L(γ) :γ∈Ωxy(M) ,
para todosx, y∈M. Mostre qued´e uma m´etrica em M.
Observa¸c˜ao: ´e poss´ıvel mostrar que, se γ : [a, b] → Rn ´e de classe C1 por partes (isto ´e, se existe uma parti¸c˜ao P :a=t0< t1 <· · ·< tk=bde [a, b]
tal queγ|[ti,ti+1]´e de classe C1, parai= 0,1, . . . , k−1) ent˜ao γ ´e retific´avel e seu comprimento ´e dado por:
L(γ) = Z b
a
kγ0(t)kdt.
Veja, por exemplo, Cap´ıtulo II do curso de An´alise vol. 2, de Elon Lages Lima (Teorema 6,§4, pg. 100, na segunda edi¸c˜ao).
1Na verdade, o resultado tamb´em vale seσfor apenas mon´otona e sobrejetora, mas a demonstra¸c˜ao ´e um pouco mais chata.